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Atenção, definida de modo simples, corresponde à seleção ou priorização no processamento de certas categorias de informação. Isto é, o sistema de pro­ cessamento de informações deve selecionar, a partir de uma miríade de estímulos presentes no ambiente, aqueles que receberão processamento mais intenso e que eventualmente exercerão controle sobre as ações do organismo. Concepções que enfatizam a seletividade dos processos atencionais direcionam esforços no conhecimento da arquitetura dos sistemas de processamento da informação; pressupõe-se que seja possível identificar os pontos do sistema de processamento em que a informação é selecionada. D iferentemente, concepções que priorizam a concentração intensiva numa tarefa, maximizando a eficiência do processa­ mento, enfatizam as tarefas desempenhadas por uma diversidade de estruturas de processamento específicas bem como as limitações da capacidade global do sistema. E videntemente, essas concepções geram diferentes predisposições para a abordagem experimental da atenção.

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Como vimos, o primeiro modelo sistemático sobre atenção enfatizava que a seleção ocorreria nos estágios iniciais do processamento da informação (Broadbent, 1958). D e acordo com esta proposta, haveria um filtro, localizado após os está­ gios perceptuais iniciais, que selecionaria estímulos com atributos particulares; então, a informação entraria nos sistemas de processamento. E m conflito com esta concepção, T reisman (1960) mostrou que pode haver processamento tam­ bém para eventos aos quais não se está atento, inclusive ao nível semântico; depreende-se, assim, que sistemas paralelos de processamento da informação estariam envolvidos neste estágio. E sse tipo de resultado levou à concepção de que os estímulos seriam plenamente processados e a seleção ocorreria “poste­ riormente” à análise perceptual e classificatória da informação; a seleção, neste

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caso, estaria relacionada à escolha de uma resposta ao estímulo (e.g., D eutsch e D eutsch, 1963).

Porém, a própria T reisman (1988) defendeu a existência de filtros percep- tuais que levariam ao descarte da maioria das informações não atendidas, mas deixariam passar informação não atendida, mas significativa para o sujeito. E ssa autora defendeu ainda a noção segundo a qual a análise de estímulos dependeria também do conhecimento prévio e expectativas da pessoa, i.e., de processos de controle “de-cima-para-baixo”; esses processos auxiliariam na rápida identifica­ ção de características esperadas em um estímulo alvo.

E m contraste, D uncan e Humphreys (1989) defenderam que informações submetidas a processamento pré-atencional competem pelo acesso a sistemas de processamento de capacidade limitada; dependendo das intensidades relativas das informações processadas nos sistemas pré-atencionais e da influência de expecta­ tivas sobre informações relevantes, ganhariam acesso a um sistema de capacidade limitada, tornando-se conscientes e contribuindo para o controle da resposta.

E sse debate sobre a ocorrência de seleção (1) nos estágios iniciais de processamento, antes do ingresso da informação nos supostos sistemas de capa­ cidade limitada, ou (2) no próprio sistema de capacidade limitada, pela escolba dos estímulos que influenciarão a resposta, enfatiza a existência de dois domínios de processamento. O primeiro parece operar em paralelo e requerer pouco ou nenhum esforço consciente; o segundo, operaria serialmente requerendo esfor­ ço e destinação de recursos de um sistema atencional de capacidade limitada. Aparentemente, em processamentos guiados pela especificação (expectativa) do objeto a ser selecionado, há seleção nos estágios iniciais (Cave e Wolfe, 1990). Também nesse sentido, Y antis e Johnston (1990) propuseram que há flexibilida­ de nas estratégias atencionais e que a seleção nos estágios iniciais ou posteriores de processamento dependem das demandas da tarefa e da estratégia desenvolvi­ da pelo indivíduo em decorrência de suas habilidades. Assim, os mecanismos de seleção devem depender do tipo de treinamento que a rede nervosa do sujeito recebeu. Por exemplo, informações retidas na memória (explícita e/ou implícita) e às quais o sujeito atribui relevância (e.g., o próprio nome) recebem prioridade no processamento e captam a atenção. Similarmente, mas talvez em nível de re­ levância diferente, o processamento de certos tipos de estímulos poderá ganhar mais ou menos prioridade no processamento em função da atividade que o su­ jeito desempenha num dado momento. Assim, durante o ato de dirigir um carro, estímulos como luzes vermelhas devem receber prioridade no processamento em relação ao mesmo tipo de estímulo, e.g., quando se joga tênis. E m termos neurais, o desempenho de certas atividades (ou talvez de forma mais ampla, o contexto) deve pré-ativar redes de modo que o fruto de seu processamento passa a ter prioridade para os sistemas atencionais. Neste caso, a “captação” da atenção dependerá do contexto em que o organismo se mserir (e.g., é provável que luzes vermelhas captem a atenção quando se dirige um carro, mas não quando se joga

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tênis). Como se os sistemas “superiores" tivessem condições de pré-ativar “de- cima-para-baixo” sistemas de processamento dando maior ou menor prioridade para os resultados do seu processamento em função do contexto. Neste caso, se aquele estímulo específico aparecer no ambiente, haverá a “captação” da aten­ ção para ele, “de-baixo-para-cima”, mas por pré-ativação “d e-cima-para-bai xo ”. T alvez a escolha de certas características específicas para filtragem (e.g., um retângulo vertical entre retângulos horizontais ou uma cor específica entre outras cores) envolva processos similares. D a mesma forma que isso parece possível em relação a estímulos específicos do ambiente, também ocorre em relação ao espa­ ço e ao tempo. Neste caso, o engajamento da atenção envolveria sua “captação” prévia à estimulação, em função da expectativa do sujeito de que algo relevante ocorrerá numa porção do ambiente ou num futuro próximo; seguramente, pro­ cessos “de-cima-para-baixo” estão envolvidos.

E sse tipo de conceituação permitiria explicar tanto processos de seleção nos estágios iniciais de processamento como nos estágios finais, além de uma diversidade de fenômenos atencionais.

R esta pois identificar quais demandas de tarefa determinam a adoção de quais estratégias individuais.

Sobre a c a p a c id a d e de processamento dos sistemas