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Teoria Crítica e cultura de massa

No documento O admirável Mundo das Notícias (páginas 172-175)

5.2 Abordagens clássicas

5.2.1 Teoria Crítica e cultura de massa

Este tipo de abordagens foi frequentemente desenvolvido de uma forma que estabelece uma relação entre processos comunicacionais e os processos de dominação nomeadamente nos estudos de raiz marxista e neo-marxista da escola de Frankfurt. Esta acolheu autores com uma importância relevante para reflexões com impacto na área: Horkheimer, Adorno, Benjamin, Mar- cuse, Löwenthal entre outros. Apesar de não se tratarem de estudiosos do jornalismo, a Escola de Frankfurt deu um importantíssimo contributo para o estudos dos media que se repercutiu no jornalismo.

Para os teóricos reunidos em torno da Teoria Crítica da Escola de Frank- furt, a massa afirmava-se como uma multiplicidade de consumidores anóni- mos, submetidos aos ditames da irracionalidade vigente na sociedade e trans- mitida pela indústria cultural. Deste modo, na forma de sociabilidade chama- da de massa, a comunicação pública é hierarquizada, dirigista e estratificada, sendo muito menos os produtores do que os receptores de opiniões; a res- posta imediata é impossível; a transformação da opinião em acção apenas se realiza de modo heterónomo, através da penetração na massa, de agentes da instituição revestidos de autoridade (Therborn, 1994). Ou seja, existe pouca interacção ou troca de experiência entre os respectivos membros que a inte- gram. Neste sentido, a massa constitui-se em um conjunto de indivíduos que são diferentes, independentes e anónimos e que actuam em resposta às suas próprias necessidades.

A forma de cultura dominante analisada pelos críticos da Escola de Frank- furt adequa-se ao tipo de sociabilidade designado por massa que implementa e reforça formas de interacção que favorecem o conformismo, a apatia, o iso- lamento e a privacidade atomista do anonimato gregário que lhe é próprio. Trata-se da produção organizada de uma cultura que apela às emoções e dese- jos primários dos indivíduos, dirigindo os seus destinatários para um confor- mismo que conduziria ao apagamento de qualquer voz discordante.

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Cultura e Instrumentalismo

A Teoria Crítica pressupõe, como premissa geral para a existência do capita- lismo moderno, a burocratização expressa na contabilidade racional do capital como norma para todas as grandes empresas lucrativas. De acordo com esta concepção weberiana, o capitalismo fundamenta-se numa modalidade da ra- zão dirigida. Esta modalidade da razão, típica do capitalismo, apoia-se no desenvolvimento de operações susceptíveis de serem contabilizadas, abran- gendo todos os escalões das esferas de negócios. O universo mediático apa- rece aos olhos dos seus críticos como o lugar onde a cultura, de modo mais evidente, é atingida pelo triunfo da racionalidade administrativa enquanto mo- dalidade de organização social. Nesse sentido, a exigência da administração em relação à cultura surge como algo tensional em relação a esta, na medida em que o que é cultural passa a ser medido por critérios alheios à cultura. Na indústria cultural, nomeadamente no jornalismo, encontram-se presentes tendências homogeneizantes, ligadas à estrutura burocrática das organizações que se ocupam dos media como, por exemplo, os jornais. Deste modo, a fórmula da linha de montagem é trazida para o interior da cultura:

Time e Newsweek levaram a sua especialização ao extremo; os seus escritores nem sequer assinam os seus artigos que, de facto nem são, propriamente, seus pois a reunião de dados é feita por um corpo especializado de pesquisadores e correspondentes e o artigo final, muitas vezes, tanto resulta do lápis azul e da refor- mulação do director, quanto dos esforços originais do autor. (Mc- Donald, 1973: 84)

O termo “indústria cultural” foi utilizado pela primeira vez por Adorno e Horkheimer na Dialéctica do Iluminismo, substituindo o termo «cultura de massa» ainda utilizado nas notas preparatórias do livro. O objectivo foi precisamente evitar qualquer interpretação que conotasse este fenómeno com uma cultura que florescesse espontaneamente a partir das massas. Nesta pers- pectiva, “a indústria cultural é a integração deliberada a partir do alto dos seus consumidores” (Adorno, 1987, p. 287).

Marcuse, na mesma linha, destaca como a racionalização científica e tec- nológica se manifesta através da unidimensionalidade da linguagem mediáti- ca. Esta linguagem é vista como destituída de poder crítico, assumindo uma Livros LabCom

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dimensão ritualista e afirmativa, gerando uma fórmula quase hipnótica que se traduz numa espécie de sintaxe do poder marcada pela repetição estratégica de frases estereotipadas que se assemelham a palavras de ordem.

A ideia já fora apresentada por Walter Benjamin, a propósito do jorna- lismo em contraposição com a narração. Benjamin recorda que a linguagem da informação tem que ser plausível e explicativa, compreensível por si pró- pria, algo que se comprova de imediato, por oposição à narração: “quase nada nos chega sem que esteja impregnado de explicações”, comenta (Benjamin, 1987, p. 125).

A massificação da audiência

Sob o pano de fundo da reflexão teórica da Escola de Frankfurt fizeram-se trabalhos que se referiam explicitamente ao jornalismo. Através da ideia de indústria cultural, o esquema organizador da linha de montagem é trazido para o interior da análise da produção noticiosa. Chama-se a atenção para a perda de criatividade e estandardização das narrativas em função das necessidades organizacionais e empresariais. A necessidade de obtenção de retornos rápi- dos do investimento efectuado conduz à criação maciça de produtos baseados na exploração fácil da emoção seguindo fórmulas simplistas e seleccionados, apresentados e distribuídos segundo critérios de rentabilidade. Os assuntos políticos, económicos e sociais, as causas mobilizadoras são substituídas pe- los fait divers, pelas notícias de rosto humano, eventos sociais, acidentes, cor- rupção, entretenimento.

A tendência para a homogeneização das mercadorias reforçaria a integra- ção ideológica dos agentes sociais. As audiências são reduzidas a um a papel de recepção passiva e de concordância conformista limitando-se a reproduzir da forma regulamentar os estereótipos criados pela indústria cultural. A inter- venção mediática traduz-se na redução da capacidade crítica e em formas de alienação e de apatia colectivas. A sociedade administrada e a sua indústria cultural geram o fim do indivíduo e encoraja a conformidade; onde a cultura outrora cultivou o indivíduo, a produção em massa das indústrias culturais erradica a individualidade, isto é, minimiza a autonomia e a racionalidade in- dividuais e produz uma sociedade que só tolera a “pseudo – individualidade” (Marcuse, 1984).

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No documento O admirável Mundo das Notícias (páginas 172-175)