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CASO 1: EMPRESA DE REFERÊNCIA: EMPRE-

12. Sistema Nacional de Parques Tecnológicos

2.3.2 Teoria da Agência

No contexto das organizações, caracterizadas tanto como de pro- priedade privada ou de propriedade pública, vários poderão ser os cami- nhos que contribuem para fundamentar e orientar suas ações de governo, considerando teorias reconhecidas e consagradas.

Por um lado, tem-se a Teoria da Agência (Agency Theory), definida por Jensen e Meckling (1976, p. 5) como um contrato de relacionamento entre uma ou mais pessoas (principal) com o(s) agente(s) para o desen- volvimento de atividades do interesse do primeiro envolvendo delegação para a tomada de decisão por parte do segundo. Outra abordagem apoia- -se na Teoria da Escolha Pública, permitindo compreender os problemas comportamentais na direção dos interesses comuns na esfera das organi- zações públicas, suportados pelo pressuposto de que todos os envolvidos estarão sempre maximizando todas as suas ações (BHATTA, 2003, p. 8). Neste caso, as ações são aplicadas com vistas à tomada de decisão cole- tiva (SHAW, 2008, p.1). Além destas, pode-se cotejar este contexto com a Teoria do Equilíbrio ou Teoria das Partes Interessadas (Stakeholders

Theory), que pressupõe o atendimento dos interesses de todos os atores

envolvidos com a organização (cada stakeholder com seu próprio inte- resse). Silveira (2004, p. 39-42) argumenta as dificuldades da Teoria dos

Stakeholders quando da tomada de decisão por parte dos gestores, pois

“múltiplos objetivos significa não ter objetivos”, advogando razões que a tornariam incongruente ou, pelo menos, contraditória.

Este trabalho abordará prioritariamente a Teoria da Agência, tan- to por razões de contemporaneidade como por apresentar ponto focal na relação principal-agente, fundamento maior na questão da Governança Corporativa. Neste contexto, as dificuldades que surgem entre o principal e o agente são devidas à eventual expropriação da riqueza por parte dos gestores, onde estes tomam decisões com o intuito de maximizar seus interesses pessoais e não a riqueza dos acionistas (SILVEIRA, 2002, p. 13). Jensen e Meckling (1976, p. 6) sustentam que, se ambas as partes têm suas ações voltadas para a maximização de seus interesses pessoais, existirá uma boa possibilidade de que o agente não atue sempre com o ob- jetivo de atender ao interesse do principal. Para enfrentar estes conflitos, as empresas estabelecem mecanismos de monitoramento e controle com vistas à minimização de divergências. De acordo com os mesmos autores, ficam assim identificados como `Problemas de Agência`, incorrendo em custos para o seu controle, chamados, por sua vez, de ‘custos de agência’, e definidos como a soma de:

• Custos de monitoramento das despesas por parte do principal; • Custos do estabelecimento de mecanismos de relacionamento

(contratos, por exemplo) entre as partes – principal e agente; • Custos realizados pelo próprio agente para mostrar ao principal

• Custos devido a perdas residuais em face à tomada de decisão do agente que não tenha maximizado o interesse do principal.

Silveira (2002, p. 14) expõe o problema de agência dos gestores dentro do contexto da Governança Corporativa, caracterizando a relação do principal com os agentes, os fluxos de tomada de decisão dos agentes e os consequentes custos de agência, ilustrados pela Figura 8.

A partir dos estudos originais de Coase (1937), e de acordo com Zingales (1998a), Silveira (2002, p. 15) e Jensen e Meckling (1976), a no- ção de governança corporativa está intrinsecamente vinculada à definição e aos conceitos da ‘firma’, além da forma contratual de relacionamento entre os seus diversos atores. Caso fosse possível prever a totalidade das contingências futuras e, além destas, aquelas não previstas, não haveria a necessidade da profunda discussão que atualmente ocorre sobre este tema. Tal contexto, previsível, não converge com o mundo atual, emer- gente, dinâmico e hipertextual, de acordo com a obra de Ludwig von Bertalanffy (1973) e a contemporânea evolução das organizações nos dias atuais.

Principais (Shareholders)

fluxo de remuneração

fluxo de serviços

Tomada de Decisão que Maximiza a Riqueza dos Principais

Custos de

Agência

investimentos em mecanismos de monitoramento e controle

Tomada de Decisão que Maximiza os Interesses dos Agentes Governança Corporativa conjunto de mecanismos que visa harmonizar a relação entre os principais

e agentes em contexto de separação de propriedade e controle Mecanismos Internos - conselho administrativo - conselho fiscal - gestão - sistema de remuneração - estrutura de propriedade Mecanismos Externos mercado: - de aquisição hostil - de trabalho competitivo relatórios: - contábeis - sociais - auditoria Agentes (Gestores) 1 2

Figura 8 - O Problema de Agência dos gestores e a governança corporativa Fonte: Silveira (2002, p.14), adaptado pelo autor.

De acordo com Coase (1937) apud Jensen e Meckling (1976, p. 7-8), a ciência econômica não tinha uma teoria para determinar as frontei- ras da firma. Coase caracterizava a firma como um campo de trocas sobre o qual o sistema de mercado estava suprimido e onde a alocação de recur- sos era realizada preferencialmente pela ação da autoridade e pela estra- tégia. Ainda de acordo com Jensen e Meckling (1976, p. 8), as relações contratuais são a essência da firma, não somente com os empregados, mas também com os fornecedores, clientes e credores, além de outros atores.

Rajan e Zingales (1997) e Zingales (1998b) argumentam o fato da ‘firma’ ser um nexo para investimentos específicos. Conforme citado por Silveira (2002, p. 14), a firma é um nexo de contratos entre clientes, trabalhadores, executivos e fornecedores de recursos e capital. Assim, a firma é o foco da temática de governança, sustentada pela inviabilida- de de se garantir contratos que possam ser completos e definitivos, pois muitos dos problemas são difíceis de serem descritos e previstos anteci- padamente (SILVEIRA, 2002, p. 14). Em face disto, os atores contratuais – principal(is) e agente(s) – têm que introduzir direitos e deveres residu- ais, de monitoramento e controle, conferindo autoridade para a tomada de decisão, para o caso dos eventos não previstos em contrato.

Esta margem para tomada de decisão por parte do agente, princi- palmente em casos não previstos, pode evidenciar comportamento geren- cial que não atenda aos interesses do principal. De acordo com Shleifer e Vishny (1997, p. 746), estudos de eventos no mercado de capitais, a partir da oscilação das ações, comprovam tais fatos. Silveira (2002, p. 16; 2004), em seu estudo sobre desempenho e valor na governança corporati- va em empresas do mercado bursátil, cita as principais ocorrências pelas quais os executivos podem não atender aos interesses dos principais e, com isto, causar a expropriação de sua riqueza, podendo ser sintetizadas como descrito a seguir:

• Diversificação excessiva da empresa;

• Crescimento maior que o desejado, com investimentos em projetos não-agregadores de valor;

• Elevada remuneração para si próprios (agentes); • Expropriação dos lucros;

• Designação de pessoas desqualificadas para posições gerenciais; • Empreendimento de projetos orientados por seu próprio interesse e

não segundo estudos fundamentados de viabilidade técnica; • Permanência excessiva na função, mesmo quando não mais com-

petentes e habilitados para a atividade.

As tipologias de contratos possíveis entre principal e agente po- dem ser variadas, dependendo de seu objeto principal: o comportamento do agente ou os resultados por ele alcançados. Para ambos os casos, o acompanhamento e a mensuração se fazem necessários, ressaltando-se assim a importância da contabilidade na governança corporativa (Silvei- ra, 2002, p. 17) e do método organizacional adotado para controle com vistas ao monitoramento do comportamento e a recompensa do desem- penho (Mello, 2006, p. 20). Com este intuito, Ensenhardt (1989, p.63)

advoga que seria mais adequado o equilíbrio entre a mensurabilidade dos resultados e o seu uso em contratos de empregados.

Tendo a governança corporativa origem na firma e, em grande par- te também na firma privada, onde as relações de agência se fazem presen- tes, faz-se oportuno situar a firma pública, tendo o Estado como principal, dentro deste contexto. Segundo Slomski (1999, p. 27; 2003, p. 432; 2005, p. 30), “é pertinente afirmar que as entidades públicas devem ser vistas sob a perspectiva da teoria da agência” a partir das complexas relações de contratos que representam o relacionamento do principal (Estado) com seus inúmeros agentes. Este fato fica configurado a partir do atendimento de condições sugeridas, conforme citado por Mello (2006, p. 20), quais sejam:

• O agente (público) dispõe de vários comportamentos possíveis de serem adotados;

• A ação do agente (público) influencia o bem-estar das partes en- volvidas;

• As ações do agente (público) não são facilmente observáveis pelo principal (Estado enquanto cidadão).

Ainda neste caso, a eventual falta de visibilidade das ações do agente por parte do cidadão reflete a assimetria informacional entre as partes, não permitindo saber se a decisão do agente está na direção do interesse do cidadão. O paralelo com a ‘firma’ privada é pertinente e vá- lido, conferindo também importância às relações de agência a partir da assimetria informacional existente. Para outras organizações, situadas intermediariamente entre estes dois campos, público e privado, pressu- põem-se também relações similares, objetivando o foco de abordagem deste trabalho.