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A teoria semiótica tem como principais raízes as escolas europeia e norte-americana, mas também encontramos estudos no campo da Semiótica no leste europeu. Valendo-nos do risco em se resumir Semiótica, o mesmo que fez Merrell (2012, p. 13), definimos Semiótica como estudo da semiose, isto é, estudo da ação dos signos na cultura e na natureza. Mas esta definição não reflete o contributo semiótico da abordagem linguística. Em alguns casos, as teses semiológicas e semióticas são contraditórias, bem como o recorte epistêmico estabelecido para elas. O objetivo desta seção é expor a concepção da teoria dos signos, em especial, a de origem peirceana pois esta engendra conceitos centrais sobre a problemática da linguagem, nesse sentido, pode oferecer subsídios ao estudo dos conceitos intercambiados com a Organização do Conhecimento.

Contudo, é necessário rever algumas posições semióticas estabelecidas, em especial, a linha estruturalista. A Linguística de Saussure institui uma malha de conceitos dificilmente repudiados em um pensamento diádico. As dicotomias, língua e fala, significante e significado, sincronia e diacronia, paradigma e sintagma, além dos conceitos de valor linguístico, tão caro a Semântica Estrutural, fundamentaram a perspectiva estruturalista para além da Linguística e inserindo-se nas ciências humanas e sociais. A própria forma de perceber a cultura se deve, em parte, às análise das instituições frente as ações individuais, ecoando a dicotomia entre língua e fala.

O que subjaz ao pensamento semiológico é o conceito de sistema enquanto um código sígnico que contempla um repertório de opções de signos juntamente com suas regras de utilização. O principal exemplo reside no conceito de língua. A língua é um sistema de signos ou uma estrutura articulada composta de signos com normas de utilização e emprego das palavras nos sintagmas. Esse sistema enfatiza as relações entre os elementos muito mais do que os próprios elementos. Não é sem razão que Saussure enfatizou o papel da língua.

A Semiologia preconiza uma dualidade nos fenômenos (ambos mentais). Em sua versão mais genérica, “A Semiologia, de acordo com sua definição mais ampla, iria incorporar todos os modos de comunicação encontrados nas sociedades humanas, incluindo tanto expressões linguísticas e mecanismos não verbais tais como gestos e sinais bem como veículos não linguísticos.” (Merrell, 2012, p. 29).

A perspectiva de Saussure tornou-se presente em seu projeto semiológico, assim como acentua Noth (2005, p. 17), é considerado projeto porque não correspondia a um avanço nos estudos efetivos dos signos produzidos pelo homem na cultura, mas era uma intenção de investigação somente materializada nos trabalhos de Barthes sobre a Semiologia do discurso publicitário e de Greimas sobre a Semiótica discursiva.

Em muitos casos, a literatura especializada expõe que a concepção de Semiótica tradicional é a estruturalista e a vertente alternativa é a peirceana. Conforme ressalta Merrell (2012) “[...] na Europa, América Latina, África, Austrália e Ásia e mesmo em muitas áreas do saber nos Estados Unidos, quando o tópico dos signos é evocado, frequentemente o primeiro nome nos lábios de todos os observadores é o de Saussure e não o de Peirce.” (p. 28).

Como o entendimento de Semiótica compreende todos os estudos dos signos, seja da linha estruturalista ou não, muitas correntes assumem a Semiótica como um campo de estudos guarda- chuva que compreende muitas teorias e correntes. Nesse sentido, incluímos também as teorias da linguagem de Hjelmslev, Jakobson, Eco e Morris. A despeito de a disparidade, as teorias desses autores inserem-se confortavelmente sob a rubrica teoria dos signos.

A Semiótica nasce de uma profunda discussão de Peirce com os filósofos anteriores, como Descartes e Kant, relaciona-se com as categorias fenomenológicas primeiridade, secundidade e terceiridade. Tais categorias também chamadas da consciência, procuram tratar das aparências dos fenômenos determinando as linhas mais tênues que as caracterizam. Outro aspecto da Semiótica é seu vínculo estreito com a proposta de esclarecer as ideias com o Pragmatismo.

Segundo Peirce (2000), “Em seu sentido geral, a lógica é, como acredito ter mostrado, apenas um outro nome para semiótica […], a quase-necessária, ou formal, doutrina dos signos”(p. 45). Quase-necessária porque observamos as características gerais dos signos, e somos levados a afirmações, a respeito de como devem ser todos os signos, porém afirmações falíveis e por isso não necessárias.

De acordo com Liszka (1996),

Semeiotic, as a branch of philosophy, is a formal, normative science the is specifically concerned with the question of truth as it can be expressed and known through the medium of signs, and serves to establish leading principles for any other science which is concerned with signs in some capacity (p. 14).

A Semiótica seria esta ciência capaz de estabelecer princípios gerais a outras ciências e no conjunto das ciências de Peirce, estaria agrupada como um ramo da Filosofia. Como ciência filosófica, recebe as diretrizes gerais dos fenômenos da Fenomenologia, a ciência das aparências, de como os fenômenos aparecem em uma mente. A Fenomenologia estabelece as categorias gerais do pensamento e da experiência de modo a tornar o mundo inteligível. A Semiótica estuda os fenômenos sígnicos e suas ações, ou semiose. Assim como registra Silveira (2007),

À Semiótica que Peirce nesse momento se propõe elaborar, preocupam os caracteres comuns de todos os signos, determinando os traços gerais da conduta dos seres inteligentes que são capazes de

aprender com a experiência. Seu objeto será, portanto, como deve ser toda semiose e esta começará a se esclarecer em suas características na última parte desta unidade (p. 22).

Em síntese, a Semiótica de Peirce, estuda a semiose no seu sentido mais geral, registrando os elementos mínimos que determinam os signos, as formas utilizadas pelo signo para que ele seja capaz de se transformar em outros signos e como uma mente pode atingir a verdade, mesmo que aproximativa, na representação do objeto.

Para tanto, a Semiótica de Peirce está dividida em três campos. O primeiro deles, a Gramática Especulativa, uma ciência que estabelece as tonalidades e caracteres mínimos do relacionamento dos signos com eles mesmos, além de estabelecer uma taxionomia geral dos signos. O segundo ramo é a Lógica, ou Lógica pura, que estuda os tipos de argumentos enquanto complexos de signos diagnosticados unitariamente na Gramática Especulativa. Em terceiro, a Retórica Especulativa, ou a ciência que estuda a relação do signo com o interpretante e como eles se originam. “Seu objetivo é o de determinar as leis pelas quais, em toda inteligência científica, um signo dá origem a outro signo e, especialmente, um pensamento acarreta outro.” (Peirce, 2000, p. 46).

É notório que as principais explicações da Semiótica no campo da Organização do Conhecimento não descrevem essas distinções, o que causa um estranhamento e desconhecimento ainda maior com as teorias semióticas. A análise da divisão da Semiótica de Peirce aponta para a Gramática Especulativa como a seara que mais recobre os temas do campo da organização do conhecimento. As diversas camadas de signos dispostas triadicamente relacionam os tipos de signos (qualisigno, sinsigno, legisigno, ícone, índice, símbolo, rema, dicente e argumento, embora hajam outros mais) e as classes de signos (qualisigno, sinsigno icônico, sinsigno indicial, sinsigno dicente, legisigno icônico, legisigno indicial, legisigno dicente, símbolo icônico, símbolo dicente e argumento).

Partimos, agora, para a análise da presença desses conceitos no campo da Organização do Conhecimento.