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RACIONALIDADE INSTRUMENTAL RACIONALIDADE SUBSTANTIVA Elemento Definição Elemento Definição

3.2. Tipo de Pesquisa

A pesquisa proposta teve uma abordagem interpretativa e apresenta uma posição epistemológica predominantemente subjetivista salientando a construção social da realidade organizacional. Diferenciando a abordagem interpretativa da crítica, cita-se o trabalho de Burrel e Morgan (1979) que mostra que o que marca a diferença entre o funcionalismo e essas duas vertentes principais é fundamentalmente, a idéia de que interpretacionismo questiona o objetivismo arraigado na doutrina funcionalista, enquanto a vertente crítica combate sua inclinação à regulação e à manutenção da ordem social, ou seja, a sua falta de engajamento em prol da mudança social. Segundo Burrel e Morgan (1979, p. 22) os paradigmas da análise organizacional são:

MUDANÇA RADICAL

SUBJETIVO

Humanismo Radical Estruturalismo Radical

OBJETIVO Interpretativo Funcionalismo

REGULAÇÃO

Figura 1 - Paradigmas na Análise Organizacional. Fonte: (BURRELL & MORGAN, 1979, p. 22).

Segundo Vergara e Caldas (2005, p. 67) a essência da crítica interpretacionista foca-se no objetivismo exacerbado, e até certo ponto limitante, do funcionalismo. Para os funcionalistas, as organizações são objetos tangíveis, concretos e objetivos. Para os

45 interpretacionistas, as organizações são processos que surgem das ações intencionais das pessoas, individualmente ou em harmonia com outras. Elas interagem entre si na tentativa de interpretar e dar sentido ao seu mundo. A realidade social é, então, uma rede de representações complexas e subjetivas. Esta é a realidade que a pesquisa buscou captar e por isso a opção pela abordagem interpretativista. Vale ainda ligar esta concepção à constatação já trabalhada no referencial teórico de que a racionalidade subjacente permite entender o surgimento de um fenômeno, posto que, no caso do fenômeno organização, sua origem deve- se à racionalidade dos que a criaram e, portanto, o fenômeno está condicionado às ações intencionais de tais indivíduos.

O estudo também foi realizado dentro da perspectiva weberiana do estudo da ação social que considera que a principal tarefa do pesquisador da cultura é a compreensão (Verstehen) ‘hermenêutica’ ou interpretativa dos significados humanos (WEBER, 2004).

A premissa ontológica é a do idealismo/nominalismo. O nominalismo afirma que a realidade existe de forma meramente abstrata e que os universais (ou seja, conceitos) são simples convenções para a compreensão dos objetos a serem conhecidos. Por sua parte, o idealismo considera o sentido e inteligibilidade de um objetivo de conhecimento dependente do sujeito que o compreende, o que torna a realidade cognoscível dependente do sujeito que a compreende, carente de autosuficiência e necessariamente redutível aos termos ou formas ideais que caracterizam a subjetividade humana (KANT, 1997). Vale frisar novamente que a pesquisa trabalhou com a premissa central de que a identificação da racionalidade por trás de uma ação permite entender o surgimento e disseminação do fenômeno, no sentido de suas causas ou fundamentos.

Os dados foram coletados em um ponto do tempo, baseados em uma amostra selecionada para descrever uma população em um determinado momento, constituindo-se, portanto, a pesquisa, em estudo transversal, segundo Richardson (1999, p. 148), o mais utilizado em estudos sociais.

Esta pesquisa foi do tipo descritivo, de natureza estritamente qualitativa, e se valeu da análise de conteúdo, analise categorial e de ferramentas desenvolvidas por Miles e Huberman (1994), para estabelecer relações entre variáveis que pudessem explicar um processo de formação sócio-organizacional e buscou regularidades que permitiram inferências relevantes e

46 generalizações consistentes, considerando as limitações naturais de pesquisas qualitativas neste respeito.

Neste caso as observações qualitativas foram usadas como indicadores do funcionamento da estrutura social que se pretendeu estudar. Conforme Richardson (1999, p. 82) no estudo qualitativo utilizado para a explicação do funcionamento das estruturas sociais, é preciso reconhecer as implicações que diferentes concepções teóricas imprimem à análise da sociedade.

Por se constituir em uma pesquisa qualitativa, sua análise voltou-se especialmente para a compreensão dos significados presentes em um determinado fenômeno (RICHARDSON, 1999) - neste caso o surgimento e a disseminação da responsabilidade social corporativa. Além disso, a pesquisa teve como pressuposto a existência de uma relação dinâmica e de interdependência entre o mundo real, o objeto da pesquisa e a subjetividade do sujeito pesquisador (SANTAELLA, 2001), que interfere tanto na escolha e na operacionalização dos procedimentos analíticos quanto na construção do referencial teórico de embasamento da análise (TRIVIÑOS, 1987). Foram identificadas neste estudo características que Triviños (1987), recuperando Bogdan, utiliza para caracterizar a pesquisa qualitativa:

a. O ambiente foi considerado como um espaço que reúne elementos, situações e relações

que interferem nas condições de produção da mensagem;

b. O estudo considerou os processos, além dos resultados e produtos finais;

c. A interpretação é feita de forma indutiva, isto é, os significados surgem a partir da

observação do fenômeno num dado contexto;

d. Primeiro foram coletados os dados e a partir destes foi elaborada a “teoria de bases”, um

conjunto de conceitos e princípios a partir do qual os dados foram analisados;

e. A pesquisa foi descritiva, conforme dito acima.

Para aprofundar a descrição da pesquisa a ser realizada, utilizou-se a classificação elaborada por Richardson (1999) e tem-se que tal estudo assume um caráter descritivo por se propor a identificar as características observadas em um determinado objeto de análise. Neste trabalho foram objeto de análise as ações de responsabilidade social das empresas alvo do estudo, conforme consignado em seus discursos.

O que foi realizado depois foram reflexões sobre o tema central da mensagem, suas condições de produção e outros conceitos, buscando utilizar tais características como a base para a comparação entre os dados empíricos, e suas análises de discurso e categorial, por onde se chegou às inferências e generalizações pretendidas.

47 A seguir, são apresentadas as técnicas de pesquisa utilizadas para a coleta dos dados e a descrição do método e das técnicas de pesquisa utilizadas para a análise dos dados. Ressalte- se que na visão de Triviños (1987), nas pesquisas qualitativas a separação entre a coleta e a análise dos dados é artificial já que estas constituem uma etapa ou duas fases de uma mesma etapa que se retroalimentam constantemente.