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4 OS (DES)CAMINHOS DA DEMOCRACIA: O ESTADO GERENCIAL

4.1 Tocqueville e a democracia na América: Participação, Igualdade e

O construtor conceitual de democracia em Tocqueville (Paris/França, 1805-1859) se fundamenta em uma pesquisa, entre os anos de 1831-32, período no qual o autor percorreu algumas cidades dos EUA, a fim de realizar uma observação direta da sociedade, considerada um bastião do novo modelo sócio-político da época, democracia republicana. Tocqueville realiza um estudo comparativo entre Inglaterra e EUA (aristocracia vs democracia, para entender a revolução democrática radical americana); e, França e EUA (investigando os impactos da ruína aristocrática sobre a sociedade francesa, comparando-a com a democracia não revolucionária americana). (FURET, 1993).

Mas, a formulação da concepção democrática tocquevilliana, retomando as discussões sobre conceitos, está imersa em seu tempo histórico, pois,

Os homens fazem a sua própria história; contudo, não a fazem de livre e espontânea vontade, pois não são eles quem escolhem as circunstâncias sob as quais ela é feita, mas estas lhes foram transmitidas assim como se encontram. A tradição

de todas as gerações passadas é como um pesadelo que comprime o cérebro dos

vivos, exatamente nessas épocas de crise revolucionária, eles conjuram temerosamente a ajuda dos espíritos do passado, tomam emprestados os seus nomes, as suas palavras de ordem, o seu figurino, a fim de representar, com essa

venerável roupagem tradicional e essa linguagem tomada de empréstimo, as novas

cenas da história mundial. (MARX, 2011b [1852], p. 25-26, grifo nosso).

A afirmação de Marx sobre os homens, a história, a ordem e a liberdade contribuem para compreender que a reflexão de Tocqueville é contemporânea a um momento histórico que opõe “aristocracia vs democracia”, “liberdade vs igualdade”, “proletariado vs burguesia”, “nobreza vs povo” etc. Deste tempo-espaço, ele não consegue escapar, seja por sua origem aristocrática, seja por sua filiação a ideologia germanista, manifestada durante a

Querela das duas raças – polêmica de fins do século XVII88.

Uma das características da subversão da ordem política durante as Revoluções

88 Nesta contenda os germanistas ligavam a origem dos nobres franceses aos povos francos e o povo aos gauleses; distintamente os romanistas atribuíam ao povo francês, como um todo, uma origem romana comum, reforçando o poder do rei, não mais como primus inter paris (“primeiro entre iguais”), e sim representante da França em sua totalidade. (GAHYVA, 2006, 2012).

Americana e Francesa esteve associada à prática democrática, no que tange a permeabilidade do político pelo social.89 Tocqueville, emerge como pensador que refletiu sobre esse movimento, além de distanciar-se da perspectiva maquiaveliana da política como o ato fundador da sociabilidade – ontopositividade da política. Para Tocqueville (1977 [1835]) a tradição, os hábitos, os costumes estão na gênese dessa sociabilidade.

Tocqueville pensou a democracia não como predominância do social sobre o político, mas na dualidade sócio-política imersa na história. Ao associar o escrutínio político- sociológico à investigação histórica ele pensou a democracia sobre dois prismas: como forma política, cuja raiz tinha por lastro as formas de governo desenvolvida entre os gregos antigos; e, como État social (Estado social) - organicidade específica da sociedade. (CASSIMIRO, 2018).

Para Tocqueville a democratização não se encerra na ascensão de uma classe social, ela é um Estado social com sentido histórico em contínua construção. No caso americano, essa cadeia histórica estaria ligada a própria formação dos EUA, quando do processo de colonização, pois, ao aportarem na América os colonos, segundo Tocqueville, possuíam como característica básica a igualdade: condições sociais niveladas em termos de riqueza como igualdade de intelecto, participação na vida política e expressiva unidade moral e ética – muitos eram puritanos a busca de uma terra para viver sua fé em liberdade, fugindo das perseguições religiosas na Inglaterra. (TOCQUEVILLE, 1977 [1835]).

No pensamento tocquevilliano há uma tensão entre liberdade e igualdade. A liberdade foi compreendida a partir da relação com os valores germânicos e com a tradição feudal. Esta liberdade, portanto, estava associada à concepção de desigualdade (paradoxo tocquevilliano). Se para Rousseau (1991 [1762]) a realização da liberdade é ligada à igualdade social e à efetividade da vontade geral, para Tocqueville esta independe da condição social, ela corresponde a uma modalidade do agir político, é própria dos espíritos elevados.

89 O que estava em questão não seria mais a preservação da antiga ordem aristocrática, mas a liberdade

democrática ou o despotismo democrático. A caixa de Pandora, que liberou as ondas revolucionárias dos

séculos XVIII-XIX, necessitava ser fechada. As políticas de conciliação dos valores positivos da Revolução – liberdade, descentralização e heterogeneidade; e, a supressão/combate dos valores negativos – igualdade, centralização e homogeneidade – (GAHYVA, 2012), eram a chave desta ação. Os valores positivos seriam assimilados, não como ruptura radical, mas como um processo de longue durée (“longa duração”), um desenvolvimento progressivo da sociedade selado pela consolidação de um regime representativo constitucional. Supera-se, nessa esteira, as interpretações ligadas a histoire événemntielle (“história do evento”) – a democracia seria uma tendência inconclusa, em contínua evolução. (CASSIMIRO, 2018). A onda revolucionária que varreu a Europa entre os séculos XVIII-XIX projetou uma associação da palavra democracia aos princípios republicanos jacobinos ou ao cesarismo bonapartista, que resultou em uma polissemia da ideia de democracia, afastando-a dos conceitos teorizados pelos pensadores iluministas. Em plena era das nações (século XIX) os espíritos ainda estavam perturbados, seja pelos movimentos sociais ou pelo pauperismo urbano, ensejando desde a escrita de obras desiludidas a concepções utópicas, além de excitar os debates entre a ordem tradicional e o liberalismo burguês.

(TOCQUEVILLE, 1989 [1856], p. 160).

Para Tocqueville, se a aristocracia abdica da tarefa de educar as massas, no processo inevitável da democracia, o povo seria entregue aos instintos selvagens (TOCQUEVILLE, 1977 [1835], p. 12). Tocqueville fez questão de ressaltar em um discurso proferido na Câmara dos Deputados no início do ano de 1848: “Pensai, senhores, na antiga Monarquia; ela era mais forte que vós, por sua origem; apoiava-se melhor do que vós em antigos costumes, usos, crenças; era mais forte que vós e, no entanto, caiu no pó.” (TOCQUEVILLE, 1991 [1859], p. 43).

Em sociedades de fortunas móveis e instáveis, compostas por indivíduos orientados pela moderna ética do trabalho, os valores da liberdade tendem a sucumbir em face da crescente mercantilização das relações sociais:

Preocupados unicamente com fazer fortuna, não percebem mais o vínculo estreito que une a fortuna particular de cada um deles a prosperidade de todos. O exercício de seus deveres políticos lhes parece um contratempo incômodo que os distrai de sua indústria. [...] Essa gente crê seguir a doutrina do interesse, mas só têm dela uma idéia grosseira e, para zelar melhor pelo que chamam seus negócios, negligenciam o principal, que é permanecer donos de si mesmos. (TOCQUEVILLE, 1977 [1835], p. 172).

A aristocracia constituía o corpo intermediário apto a participar da vida pública, fazendo valer os hábitos e costumes, preservando a liberdade, atuando como amortecedor entre os súditos e o soberano. Assim, assegurava os pré-requisitos fundamentais da liberdade: a participação política e o pluralismo. Mas, a ideia/valor da igualdade invadira o Ocidente, assumindo um caráter universal, duradouro; ao passo que a liberdade, teria um valor fugaz, sujeito a ameaças. Nessa acomodação liberdade-igualdade, a esperança tocquevilliana de controlar o avanço da igualdade desvaneceu durante as jornadas revolucionárias de 1848.

Em Lembranças de 1848, Tocqueville (1991 [1859]) alerta que se havia “assegurado às pessoas pobres que o bem dos ricos era de alguma maneira produto de um roubo cujas vítimas eram elas e foi-lhes dito que a desigualdade de fortunas era tão contrária à moral e à sociedade quanto à natureza.” (p. 150). Desta feita, a rafameia galo-romana desafiava definitivamente a tradição franca ao contestar o “fundamento de nossa ordem social” (p. 95), o direito de propriedade. Em outros termos, a democracia opunha-se ao liberalismo. Daí o aplauso de Tocqueville ao fim das Jornadas: “elas livraram a nação da opressão dos operários de Paris e a recolocaram de posse de si mesma.” (p. 173). À vista da alternativa, o desafio adquire ares de missão: igualdade sem liberdade se transforma, necessariamente, em servidão.

atuação de uma força externa (Estado) – neste aspecto Tocqueville se opõe à conceituação idealizada de Estado em Hegel, uma vez que a chave para a superação dos conflitos encontra- se na própria sociedade, no exercício da liberdade política na esfera pública, com seus interesses privados. Este problema estava presente no Acordo de MayFlower (1620), analisado por Tocqueville, segundo Vianna (1993, p. 169-170): “como enfrentar essa cisão [entre as esferas pública e privada], longe das tentações holísticas de submissão do indivíduo e do seu interesse a um Estado que encarne a vontade geral da sociedade.”

À semelhança de Hobbes e Rousseau, Tocqueville avalia que o Estado nasce do pacto social, mas distintamente dos contratualistas ele discorda da tese do sacrifício da liberdade individual em prol da pacificação social, por meio de um Estado sobreposto à sociedade; e, além disso, Tocqueville situa o pacto no espaço-tempo, ele é um fato histórico: no caso dos anglo-americanos, é o século XVII com o Acordo de MayFlower: “Em nome de Deus. Amém. Nós [...] súditos leais [...] nos reunimos e combinamos a nós mesmos como um

corpo político e civil, para nossa melhor ordem e preservação [...] para o bem geral da

Colônia”. (TOCQUEVILLE, 1977 [1835], p. 53, grifo nosso).

Foi a igualdade de condições, para Tocqueville, que possibilitou a constituição da democracia nos EUA: "o princípio da igualdade que torna os homens independentes uns dos outros, os faz contrair o hábito e o gosto de não seguirem em suas ações privadas, senão sua própria vontade." (TOCQUEVILLE, 1977 [1835], p. 53). Essa condição social, em consonância ao Acordo de MayFlower, teria impulsionado os americanos a desenvolverem uma relação de independência diante das autoridades instituídas e sua percepção sobre a noção de liberdade. A igualdade e a liberdade, uma vez insufladas pela prática sócio-política e econômica americana, garantiu que constitucionalmente a soberania não repousasse nas mãos de um só.

Nesse ponto específico pode-se recorrer às concepções federalistas de Hamilton, Madison e Jay (1993 [1787-1788]), quando estes discorrem sobre o princípio de que uma representação genuína de todas as classes do povo composta por pessoas de todas as classes é inteiramente visionária. A noção deveria ser formada tendo por colunas sua riqueza: o comércio e a preservação da propriedade. Tendo esta compreensão político-econômica, Hamilton pondera ao analisar as relações sociopolíticas que, por exemplo, mecânicos e manufatores tem conhecimento e clareza que o comerciante é seu benfeitor e amigo natural, daí porque pode representá-los.

A maior soberania, portanto, seria esse poder nas mãos do povo, por meio de seus representantes eleitos para governar por mérito, por sua capacidade, qualidade essa que o

povo não possui. Hamilton (In HAMILTON; MADISON; JAY, 1993 [1787-1788], p. 255) sustenta que mecânicos e manufatores:

[...] sabem que seus hábitos de vida não têm sido os mais adequados para lhes dar aqueles dotes adquiridos sem os quais, numa assembléia deliberativa, as maiores habilidades naturais seriam em grande parte inúteis; sabem ainda que a influência, o peso e os conhecimentos superiores dos comerciantes os tornam mais competentes para uma luta conta qualquer tendência contrária aos interesses da manufatura e do comércio que venha a se insinuar nos conselhos públicos.

Nesse sentido, artesãos e manufatores muito mais que votarem, reconhecem a soberania que lhes é inalienável e que lhes garante valor cívico e moral: estarem dispostos a dar seus votos aos comerciantes e aos indicados por eles. Madison sustenta que o objetivo de toda a organização política é, ou deveria ser, em primeiro lugar “obter como governantes os homens dotados da maior sabedoria para discernir o bem comum e da maior virtude para promovê-lo; em segundo lugar, tomar as mais efetivas precauções para conservar tais homens virtuosos quanto mantêm sua responsabilidade pública” (MADISON, in HAMILTON; MADISON; JAY, 1993 [1787-1788], p. 376).

A soberania, aspecto essencial para a distinção entre forma de governo e Estado social na democracia tocquevilliana deve ser compreendida, primeiro, como o exercício pleno na vida política: participação na elaboração das leis, mesmo que nem sempre seja possível ou viável realizar a consulta popular de forma ampla, direta ou indiretamente, segundo princípios legais. Isso implica ser possível a ampliação da força da lei (TOCQUEVILLE, 1977 [1835]), o que garantiria legitimidade à lei, contribuindo para a formação das virtudes cívicas, logo, estabilidade democrática – pode-se conjecturar, portanto, que para Tocqueville “a democracia se define a partir da sociedade civil.” (BORON, 1994, p. 128).

O segundo aspecto refere-se à descentralização do poder, que projeta ao autogoverno, a tensão entre a busca da igualdade e o respeito à liberdade – pública e privada. Para Tocqueville não é possível que uma nação possa prosperar, sem uma forte descentralização governamental. Ainda, sublinha: “Creio, porém, que a centralização administrativa só serve mesmo para enfraquecer as nações que a ela se submetem, pois tende incessantemente a diminuir entre elas o espírito de cidade” (TOCQUEVILLE, 1977 [1835], p. 74), a organização comunal – o associativismo. E, o autor prossegue exaltando a descentralização administrativa americana, embora destaque a baixa capacidade em administrar:

Entre os americanos, a força que administra o Estado é bem menos regulada, menos esclarecida, menos sábia, mas cem vezes maior que na Europa. Não há um país no

mundo onde os homens façam, em definitivo, tantos esforços para criar o bem-

estar social. Não conheço mesmo um povo que tenha chegado a fundar escolas tão

numerosas e tão eficazes; templos mais adequados às necessidades religiosas dos habitantes; estradas comunais mantidas em melhores condições. (TOCQUEVILLE, 1977 [1835], p. 77, grifo nosso).

No autogoverno, portanto, os cidadãos constituem associações para promoção da segurança, do comércio, da indústria, da educação, garantidores da igualdade civil e da liberdade política, materializados na possibilidade de autodeterminação dos indivíduos em deliberar sobre os assuntos de seu próprio interesse ao assumirem responsabilidades e competências de decisão. Tocqueville busca demonstrar que liberdade e democracia não resultam de constituições, mesmo que estas sejam relevantes para o amadurecimento destas conquistas.

Uma democracia real não pode prescindir de uma estrutura comunal que se interponha entre o cidadão e o Estado, viabilizando o pleno exercício da cidadania no processo de participação e descentralização. O associativismo é resultado da “grande liberdade política [que] aperfeiçoava e vulgarizava em seu seio a arte de se associar”. (TOCQUEVILLE, 1977 [1835], p. 412). Este instrumento associativo, contrapõe-se à tirania da maioria, bem como, em sua constituição moral (valor cívico e de representatividade) acumula um poder que se opõe ao poder instituído, em sua verve autoritária ou centralizadora.

Mas o poder da maioria não é exercido automaticamente, ao contrário, “quando começa a se estabelecer, faz-se obedecer pela coerção; somente depois de se ter vivido muito tempo sob suas leis é que se começa a respeitá-lo.” (TOCQUEVILLE, 1977 [1835], p. 290). Em íntima confluência com a coerção, está o controle que se opera nos mais diversos níveis da sociabilidade: “Creio firmemente que a Universidade deve ser o lugar principal dos estudos, e que o Estado deve conservar os direitos de vigilância das escolas que não dirige”. (carta de Tocqueville a Bouchitté, 4 de fevereiro de 1844, in GIBERT, 1977, p. 182, grifo nosso).

Para além da coerção e do controle ou vigilância, existe, a questão cultural, os costumes, o império da moral da maioria que impõe a submissão dos indivíduos às decisões majoritárias, ou as ideias que foram legitimadas pela maioria: “Quando um homem ou um partido sofrem uma injustiça nos Estados Unidos, a quem você quer que ele se dirija? À opinião pública? [...] Ao corpo legislativo? [...] Ao poder executivo? [...]. À força pública? A

força pública não passa da maioria sob as armas. [...]”. (TOCQUEVILLE, 1977 [1835], p.

296, grifo nosso).

física: a força do medo da exclusão social, a força do jugo dos valores e da cultura etc. – são amarras invisíveis que subjugam a alma, consciência “sob o governo absoluto de um só, o despotismo, para chegar à alma, atingia-se grosseiramente o corpo; e a alma, escapando desses golpes, se elevava gloriosa acima dele” (TOCQUEVILLE, 1977 [1835], p. 299), mas

[...] nas repúblicas democráticas, não é assim que a tirania procede; ela deixa o corpo e vai direto à alma. O amo não diz mais: ‘pensará como eu ou morrerá’. Diz: ‘Você é livre de não pensar como eu; sua vida, seus bens, tudo lhe resta; mas a

partir deste dia você é um estrangeiro entre nós. [...] Você permanecerá entre os homens, mas perderá seus direitos à humanidade. Quando se aproximar de seus

semelhantes, eles fugirão de você como de um ser impuro, e os que acreditarem em sua inocência, mesmo estes o abandonarão, porque os outros fugiriam dele por sua vez. Vá em paz, deixo-lhe a vida, mas deixo-a pior, para você, do que a morte. (TOCQUEVILLE, 1977 [1835], p. 299, grifos nossos).

Diante do exposto, torna-se inevitável a problemática: o progresso da civilização tende à igualdade, que Tocqueville chama de democracia? Ele está correto ao afirmar que está longe de crer que os norte-americanos “tenham encontrado a única forma de governo que a democracia pode construir; mas é suficiente que [...] a causa geradora [a igualdade] das leis e dos costumes seja a mesma [?]” (TOCQUEVILLE, 1977 [1835], p. 50-51). Mas, nesse movimento da causa geradora – a igualdade e o avanço do Estado social chocam-se, inexoravelmente, com uma velha-nova ordem que lhe resiste.

A democracia na América não superou as limitações impostas pela própria dinamicidade e contradições reinantes na sociedade. Os valores de liberdade e igualdade se formaram e se desenvolveram de forma restritiva, pois nunca estiveram apartados da noção de preservação da propriedade privada como fundamento e razão de existência. A ordem republicana impôs-se à democracia e, esta, incorporou os mecanismos de depuração da participação e opiniões do povo. Este afastamento do povo das esferas democráticas de poder é compreendido em tonalidades multifacetadas por Marx, quando este teoriza sobre a cisão do humano com o cidadão.