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Tomates pro Jantar

No documento EXERCÍCIOS DE DRAMATURGIA (páginas 138-153)

Tomates pro Jantar

Paloma Arantes

(para um par)

Três passos entre os meus pés e os seus, que dançavam cinco, seis, sete e oito, debaixo das luzes elétricas. Mas não vamos romantizar o óbvio.

Vamos pensar nos dias antes de chegar até aqui, e não me pergunte mais uma vez o motivo das roupas encharcadas, nem o porquê de ter escolhido galochas amarelas. Pouco importa. Vamos nos sentar ali, e preparar o jantar.

As cebolas já estão picadas dentro da geladeira. Você só precisa fatiar os tomates e

Mais nada? todo o resto.

Mas não precisa. Pode ir trocar suas roupas primeiro.

Se eu te estendesse o braço você me estenderia o seu? Seu eu delimitasse o caminho com fita

adesiva, você daria o primeiro passo?

Vou me trocar. A sua toalha está na segunda gaveta.

É sempre assim. Nunca responde, e deixa sempre o disco passando debaixo da agulha. É sempre assim. Essa conversa arranhada.

O que? Por que você nunca me conta por onde veio?

Porque nem os carros com os pára-brisas molhados, as crianças, os homens e as mulheres com guarda-chuvas abertos, os postes acesos, as gotas que despencam dos cabos de energia, os canos e as enxurradas, nem toda beleza da cidade sob água, me fazem fraquejar os joelhos.

p. 138 Porque não foi a chuva que me trouxe aqui.

Porque nem sempre o caminho importa. Se eu te peço fatias finas deste tomate e você

coloca a faca no meio dele, isso diz muito sobre o resultado final.

Se me atropelassem no asfalto molhado, sobre a faixa de pedestre e ainda assim eu chegasse até aqui, que diferença faria? Pra nós?

Nenhuma.

Para o trânsito ao seu redor, o tempo, e o tempo meu amor, é tudo quando o

si n al está aberto.

Parar o tempo nem sempre é possível, a não ser que te atropelem.

Posso trocar o disco? Como preferir.

Se eu te estender o meu braço você me estende o seu? Se eu cruzar a fronteira você

arrisca o giro de olhos fechados?

Eu vou subir as escadas e vou abrir a segunda gaveta pegar a toalha e o único par de roupas que não levei. Vou secar primeiro os meus cabelos

depois irei até o banheiro e lá tirarei toda a roupa molhada e tomarei um banho quente

enquanto eu termino de picar os tomates,

coloco a água pra ferver até perceber

o barulho único do seu volume descendo a madeira das escadas

penso que respirar debaixo d’água é um privilégio, que as sementes de um tomate sobrevivem dentro da fruta

Porque não foi a chuva que me trouxe aqui. Porque nem sempre o caminho importa. Se eu te peço fatias finas deste tomate e você

coloca a faca no meio dele, isso diz muito sobre o resultado final.

Se me atropelassem no asfalto molhado, sobre a faixa de pedestre e ainda assim eu chegasse até aqui, que diferença faria? Pra nós?

Nenhuma.

Para o trânsito ao seu redor, o tempo, e o tempo meu amor, é tudo quando o

si n al está aberto.

Parar o tempo nem sempre é possível, a não ser que te atropelem.

Posso trocar o disco? Como preferir.

Se eu te estender o meu braço você me estende o seu? Se eu cruzar a fronteira você

arrisca o giro de olhos fechados?

Eu vou subir as escadas e vou abrir a segunda gaveta pegar a toalha e o único par de roupas que não levei. Vou secar primeiro os meus cabelos

depois irei até o banheiro e lá tirarei toda a roupa molhada e tomarei um banho quente

enquanto eu termino de picar os tomates,

coloco a água pra ferver até perceber

o barulho único do seu volume descendo a madeira das escadas

penso que respirar debaixo d’água é um privilégio, que as sementes de um tomate sobrevivem dentro da fruta

porque antes disso respiraram debaixo da terra

e a sua presença me inundando, como se você trouxesse

pra dentro de casa

a chuva que te molhou lá fora

e nós respiramos sobre a terra porque respiramos primeiro

dentro d’água. Deixei seus discos separados.

Quais? Aquela coleção com as capas azuis.

Posso deixar com você. Acho melhor não.

Como preferir. Você não tira as sementes? Não. Acho que fica mais saboroso assim.

Lembra dessa música? Lembro! Até o moço do carreto

pediu pra você parar de cantar. Aí você parou mas começou a carregar as coisas dançando.

Foi quando nos mudamos pra essa casa. Foi.

Não sei o que aconteceu pra gente chegar até aqui. Percorremos o caminho.

Está pronto. Pode servir.

Você tem certeza disso?

(silêncio)

Eu paro aqui

porque atravessamos todos os limites.

Eu paro aqui porque esqueci a contagem.

p. 140

(Sem título)

(Sem título)

Paulo André

não.

quase não.

na maioria das vezes. penso.

penso que se falasse diria o que penso. e o que penso é o que agora falo. não.

na maioria das vezes. falo.

hoje vamos ao parque. penso.

lá faz frio à noite.

vamos passar pelo lixo e encontrar um lugar limpo para ficar. nós sentaremos na grama.

longe das pessoas que correm. ouviremos os estrondos ao longe. falo. lá? é? o parque? vê o cachorro sarnento? os velhos a mendigar? a água podre na fonte? temos comida no bolso. falo.

e balas de goma que fiz. penso.

não.

quase não.

o que penso é o que agora falo. temos água na bolsa.

lá compraremos cigarros. e talvez um café.

me dê sua mão. vamos ficar aqui.

há pouca gente por perto. penso.

falo.

hoje vamos correr. correr.

parece que vai chover. ontem estava tão quente. na maioria das vezes. penso.

p. 142 um pedaço de poema.

quantas viagens não feitas. paisagens não vistas. um foguete.

clareou a noite.

vi todos os detalhes ocultos pela escuridão. e tudo ficou escuro novamente.

novamente. palavra estranha. falo. não. quando? diremos? adeus? penso. outro foguete. clareou a noite.

vi todos os detalhes ocultos pela escuridão. e tudo ficou escuro novamente.

penso.

quero uma bebida quente. novamente.

quero uma bebida quente. não era para estar aqui. não.

quase não.

na maioria das vezes. penso.

nunca voltar à casa antiga.

nunca mais o quarto de uma só janela. nunca mais a guilhotina da vidraça. nunca mais o sol.

penso. nunca.

não era para estar aqui. chove.

ouvi um estrondo ao longe. falo.

vamos correr.

pisar no lixo molhado. longe da água da fonte. lá tem abrigo pra chuva. correr.

não.

quase não.

o que penso é o que agora falo. na maioria das vezes.

um pedaço de poema. quantas viagens não feitas. paisagens não vistas. um foguete.

clareou a noite.

vi todos os detalhes ocultos pela escuridão. e tudo ficou escuro novamente.

novamente. palavra estranha. falo. não. quando? diremos? adeus? penso. outro foguete. clareou a noite.

vi todos os detalhes ocultos pela escuridão. e tudo ficou escuro novamente.

penso.

quero uma bebida quente. novamente.

quero uma bebida quente. não era para estar aqui. não.

quase não.

na maioria das vezes. penso.

nunca voltar à casa antiga.

nunca mais o quarto de uma só janela. nunca mais a guilhotina da vidraça. nunca mais o sol.

penso. nunca.

não era para estar aqui. chove.

ouvi um estrondo ao longe. falo.

vamos correr.

pisar no lixo molhado. longe da água da fonte. lá tem abrigo pra chuva. correr.

não.

quase não.

o que penso é o que agora falo. na maioria das vezes.

penso.

me colaram no tempo. um pedaço de poema. falo.

limitado ao norte pelos sentidos. outro foguete.

clareou a noite.

limitado ao sul pelo medo. e tudo ficou escuro novamente. novamente.

vi todos os detalhes ocultos pela escuridão. penso.

não era para estar aqui. penso.

vi um vulto na noite. estava escuro mas vi. foi para atrás do capim.

acendeu um cigarro no escuro. vi a luz do isqueiro.

senti o cheiro daqui. luz som cheiro. penso.

frio. onde?

passaremos? a noite?

ontem estava tão quente. o cheiro do tabaco. o sol através da vidraça. não a antiga casa. lá?

vê?

a marquise? penso.

lá tem casais a foder. e um forte cheiro de mijo. ouvi um estrondo ao longe. lá abrigaremos da chuva. vamos passar pelo lixo. longe da água da fonte. falo.

frio. fome.

temos pão no bolso. não.

quase não.

e bala de goma não há. havia.

p. 144 penso. lembra? aquela? canção? falo. lembra? aquela? canção?

..."I must remember to forget you"...* a canção que esquecemos?

..."you are honest, even when you lie"...*

a canção que se desmancha cada vez que lembramos dela. ..." I must remember to reject you"...*

a canção que se desmancha como aquela blusa de seda que encontramos no armário velho do seu quarto branco.

..."I must remember you can’t seem to"...* a velha bola de couro do cachorro morto. ..."you are honest "...*

e o recorte do jornal com o anúncio vendo casa de cachorro usada. falo.

não.

parou de chover.

os casais estão dormindo agora. ouvi um estrondo ao longe. pode dormir se quiser. não vou dormir esta noite. penso.

um forte cheiro do lixo. e da água podre da fonte. não.

quase não.

o que penso é o que agora falo. quero uma bebida quente. novamente.

quero uma bebida quente. não era para estar aqui. penso.

vi outro vulto na noite.

vi outro vulto e agora eram dois. estava escuro mas vi.

fumavam do mesmo cigarro. vi a brasa daqui.

aquele ponto vermelho sempre movendo no ar. penso.

estava escuro mas vi. silêncio.

um silêncio invisível.

penso. lembra? aquela? canção? falo. lembra? aquela? canção?

..."I must remember to forget you"...* a canção que esquecemos?

..."you are honest, even when you lie"...*

a canção que se desmancha cada vez que lembramos dela. ..." I must remember to reject you"...*

a canção que se desmancha como aquela blusa de seda que encontramos no armário velho do seu quarto branco.

..."I must remember you can’t seem to"...* a velha bola de couro do cachorro morto. ..."you are honest "...*

e o recorte do jornal com o anúncio vendo casa de cachorro usada. falo.

não.

parou de chover.

os casais estão dormindo agora. ouvi um estrondo ao longe. pode dormir se quiser. não vou dormir esta noite. penso.

um forte cheiro do lixo. e da água podre da fonte. não.

quase não.

o que penso é o que agora falo. quero uma bebida quente. novamente.

quero uma bebida quente. não era para estar aqui. penso.

vi outro vulto na noite.

vi outro vulto e agora eram dois. estava escuro mas vi.

fumavam do mesmo cigarro. vi a brasa daqui.

aquele ponto vermelho sempre movendo no ar. penso.

estava escuro mas vi. silêncio.

um silêncio invisível.

porque insistimos em sonhar os nossos sonhos e vivê-los também.

um pedaço de poema. uma pena não ter ouvido.

uma pena não ter visto no parque o seu rosto que agora dorme. uma pena não ter mais um foguete para clarear a noite e ver todos os detalhes ocultos pela escuridão.

e tudo ficar escuro novamente. novamente.

uma pena não ter agora uma bebida quente. não era para estar aqui.

não.

quase não.

na maioria das vezes. quando?

diremos? adeus?

ouvi um estrondo mais perto. os casais estão a correr. vamos correr também. correr.

vamos correr até lá. penso.

lá esconderemos no mato. vamos juntar uns gravetos. e um tanto de lixo também. vamos fazer uma fogueira.

lá verei o seu rosto iluminado pelo fogo. lá dançaremos abraçados.

lá beijaremos na boca.

como naquela noite no escuro do seu quarto branco. o cachorro ainda era vivo.

penso.

você beijava macio.

sussurrava algumas palavras. pedaços de poema.

danço, rio e choro, estou aqui, estou ali, desarticulado. você abraçando com força.

quão? longe? podemos? chegar?

o hálito quente de quem acordou. quão?

alto? podemos? voar?

via você pelo espelho. a vela quase no fim.

p. 146 na maioria das vezes.

não.

quase não.

na maioria das vezes.

os gravetos estão molhados. penso.

falo.

não vamos acender o fogo. ouvi outro estrondo mais perto. ainda há casais a correr.

frio.

dou meu casaco a você. vamos andar mais um pouco. atravessar todo lixo.

do outro lado tem vozes. e fogueira pra aquecer. não.

nunca mais a casa velha. e o sol pela vidraça.

e tudo ficou escuro novamente. quero uma bebida quente. vi mais um vulto na noite. e outro e outro e mais um. eram muitos agora.

estavam todos de preto. estava escuro mas vi. não era fácil enxergá-los. penso.

às vezes se vê o isqueiro que risca. e as brasas dos cigarros que fumam. falo.

não.

quase não.

e tudo ficou escuro novamente. fome.

frio.

não temos mais pão no bolso. não há mais água na bolsa. bala já não havia.

havia.

na maioria das vezes. penso.

o mundo vai mudar a cara. um pedaço de poema.

a morte revelará o sentido verdadeiro das coisas. tudo transparecerá.

um pedaço.

na maioria das vezes. não.

quase não.

na maioria das vezes.

os gravetos estão molhados. penso.

falo.

não vamos acender o fogo. ouvi outro estrondo mais perto. ainda há casais a correr.

frio.

dou meu casaco a você. vamos andar mais um pouco. atravessar todo lixo.

do outro lado tem vozes. e fogueira pra aquecer. não.

nunca mais a casa velha. e o sol pela vidraça.

e tudo ficou escuro novamente. quero uma bebida quente. vi mais um vulto na noite. e outro e outro e mais um. eram muitos agora.

estavam todos de preto. estava escuro mas vi. não era fácil enxergá-los. penso.

às vezes se vê o isqueiro que risca. e as brasas dos cigarros que fumam. falo.

não.

quase não.

e tudo ficou escuro novamente. fome.

frio.

não temos mais pão no bolso. não há mais água na bolsa. bala já não havia.

havia.

na maioria das vezes. penso.

o mundo vai mudar a cara. um pedaço de poema.

a morte revelará o sentido verdadeiro das coisas. tudo transparecerá.

um pedaço.

vi um clarão atrás da montanha de lixo.

parece haver fogo por lá. vamos aquecer nossos pés. não.

quase não.

não há ninguém no caminho. quase não.

penso.

do outro lado uma fogueira. a terra toda mexida.

vi um animal morto.

de longe parecia um cavalo. um cavalo.

vamos olhar daqui.

nem um passo mais perto. penso.

o cavalo estava morto no chão.

vários cachorros comiam a carne do cadáver do bicho que fedia. senti o cheiro daqui.

a terra toda mexida.

nem um passo mais perto. onde?

estão? as pessoas? penso.

os casais que fodiam? os casais que dormiam? os casais que corriam? de quem? é? o cavalo morto? de quem? quando? diremos? adeus? penso.

não era para estar aqui. na maioria das vezes. digo o que penso. falo.

um cheiro de carne podre e queimada. me dê sua mão.

em silêncio. lentamente.

vi vários vultos na noite. estava escuro mas vi.

marchavam para escuridão. ouvi os pés que marchavam. marchavam para escuridão.

p. 148 novamente. estamos cansados. estamos todos. não. quase não.

na maioria das vezes.

ouvi um estrondo bem perto. penso.

nunca mais a casa antiga.

nunca mais seu quarto branco de uma só janela. nunca mais a guilhotina da vidraça.

nunca mais o sol através do vidro.

nunca mais a poeira dançando no faixo de luz. nunca mais.

quero uma bebida quente.

nunca mais nossa música agora completamente esquecida. nunca mais seu rosto.

nunca mais seu beijo. quando?

diremos? adeus?

vi um vulto na noite. estava escuro mas vi. vi vários vultos na noite. outro estrondo bem perto. corriam para todos os lados. corriam em grande desordem

devíamos ter ficado em casa imaginando o que aqui vemos? um poema.

onde estaríamos hoje?

uma pena não ter visto essas árvores. uma pena não ter ouvido outra música. uma pena não ter estudado esta história. uma pena não ter sentido essa chuva. uma pena não ter lido esse poema. uma pena não ter sido um bom filho. uma pena não ter tido tantos amigos. tantos encontros.

outro estrondo mais perto.

tantas tardes na praia de areia morna.

tantos cafés na xícara bem quente tirada da água fervente. tantas caminhadas sob a chuva.

tantas noites insones pensando só em você. você.

tantas doces manhãs ao seu lado.

tantas fomes matadas com bolos feitos só de açúcar. tantos cigarros.

novamente.

estamos cansados. estamos todos. não.

quase não.

na maioria das vezes.

ouvi um estrondo bem perto. penso.

nunca mais a casa antiga.

nunca mais seu quarto branco de uma só janela. nunca mais a guilhotina da vidraça.

nunca mais o sol através do vidro.

nunca mais a poeira dançando no faixo de luz. nunca mais.

quero uma bebida quente.

nunca mais nossa música agora completamente esquecida. nunca mais seu rosto.

nunca mais seu beijo. quando?

diremos? adeus?

vi um vulto na noite. estava escuro mas vi. vi vários vultos na noite. outro estrondo bem perto. corriam para todos os lados. corriam em grande desordem

devíamos ter ficado em casa imaginando o que aqui vemos? um poema.

onde estaríamos hoje?

uma pena não ter visto essas árvores. uma pena não ter ouvido outra música. uma pena não ter estudado esta história. uma pena não ter sentido essa chuva. uma pena não ter lido esse poema. uma pena não ter sido um bom filho. uma pena não ter tido tantos amigos. tantos encontros.

outro estrondo mais perto.

tantas tardes na praia de areia morna.

tantos cafés na xícara bem quente tirada da água fervente. tantas caminhadas sob a chuva.

tantas noites insones pensando só em você. você.

tantas doces manhãs ao seu lado.

tantas fomes matadas com bolos feitos só de açúcar. tantos cigarros.

tantas ressacas.

tantas pupilas dilatadas. tantas drogas tomadas. tantas noites dançantes. um foguete.

clareou a noite.

vi todos os detalhes ocultos pela escuridão. vi o seu rosto.

seus olhos tão claros. vi seu cabelo no vento.

balançava com o deslocamento do ar. e tudo ficou escuro (explosão)

...

1 grande quarto branco de uma casa antiga 1 só janela com vidraça de guilhotina

1 luz do sol atravessa a vidraça 1 grande cômoda ao lado da janela 4 grandes gavetas da cômoda

1 jarro com bacia de porcelana em cima da cômoda usado para lavar o rosto 1 toalha de linho ao lado do jarro

1 escova de cabelo perto da toalha 1 espelho de mão

1 garrafa com água sobre a cômoda 2 copos ao lado da garrafa

3 porta retratos com fotografias de uma época distante 1 estante de livros com poucos livros ao lado da cômoda 1 grande armário antigo com espelho na porta

1 mesa pequena ao lado do armário 1 caderno sobre a mesa

1 copo com lápis e canetas ao lado do caderno 1 cadeira com assento de palhinha perto da mesa 1 cabideiro

1 chapéu de palha pendurado no cabideiro

1 cadeira de assento de veludo verde e gasto pelo tempo embaixo do cabideiro

1 cama

2 travesseiros 1 lençol

1 tapete ao lado da cama

1 cachorro dorme sobre o tapete

p. 150 2 pessoas que dormiam na cama acordam e começam a se mover. eles

dançam. executam uma coreografia. coreografia de ações cotidianas.

acordam. lavam o rosto. bebem água. trocam de roupa. penteiam o cabelo. escovam os dentes. se beijam. arrumam a cama. escrevem. leem livros. brincam com o cachorro. abrem o armário velho. abrem as gavetas da

cômoda. sempre a dançar. começam a se molhar com a água da garrafa. com o jarro. com a bacia do jarro. molham tudo que está no quarto. molham a cama. os travesseiros e o lençol. o colchão. o tapete. o cachorro. a velha bola de couro. molham o armário. o interior do armário. molham a cômoda. as gavetas. os livros. a estante. os papéis. o copo com lápis e canetas. o chapéu e o cabideiro. as cadeiras. a mesa pequena. as paredes. a vidraça da janela. molham a luz do sol projetada no assoalho. molham todo o chão. molham sempre a dançar. a dançar e a molhar. até que tudo fique completamente encharcado de água. nos últimos três minutos da coreografia ouve-se uma música**. eles continuam a dançar e a molhar enquanto a luz vai caindo lentamente.

* a ballad to forget - soulwax

** le rappel des oiseaux - jean-philippe rameau (arr. I. Friedman for piano) - joseph banowetz

2 pessoas que dormiam na cama acordam e começam a se mover. eles dançam. executam uma coreografia. coreografia de ações cotidianas.

acordam. lavam o rosto. bebem água. trocam de roupa. penteiam o cabelo. escovam os dentes. se beijam. arrumam a cama. escrevem. leem livros. brincam com o cachorro. abrem o armário velho. abrem as gavetas da

cômoda. sempre a dançar. começam a se molhar com a água da garrafa. com

No documento EXERCÍCIOS DE DRAMATURGIA (páginas 138-153)