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5. O ESTUDO DOS CASOS

5.2 Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro

Implantação/formalização/objeto

O Núcleo de Assessoria Técnica em Ações Judiciais da Saúde (NAT) do Estado do Rio de Janeiro é o que tem a implantação mais antiga do Brasil, visto que fora formalizado em fevereiro de 2009 por meio de um termo de cooperação com a Secretaria de Saúde do Estado, denominada naquele momento de SEDESC (Secretaria de Saúde e Defesa Civil)32.

Por apresentar uma constituição mais consolidada, a experiência do Rio de Janeiro permite contar com alguns estudos que já analisaram o funcionamento daquela iniciativa, como a pesquisa de mestrado de Kátia Regina Tinoco Ribeiro de Castro (2012) desenvolvida junto a Fundação Getúlio Vargas, que muito contribuiu para esta análise.

O Núcleo está localizado dentro do prédio do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e segundo notícia divulgada pelo Conselho Nacional de Justiça, em 2011, com dois anos de existência o mesmo já havia emitido cerca de 2800 pareceres e contava com uma equipe de 26 profissionais, dentre farmacêuticos, enfermeiros, nutricionistas, médicos e servidores da área administrativa do TJRJ, que conseguiriam fazer uma análise e produção de laudo em prazo de 48 horas (CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 2011).

Balanço divulgado recentemente constatou que o chamado Núcleo de Assessoria Técnica (NAT) na área de saúde, criado há dois anos no Rio de Janeiro por meio de parceria entre a secretaria estadual de Saúde e Defesa Civil e o Tribunal de Justiça daquele estado (TJRJ), já concedeu cerca de 2.800 pareceres ao longo desse período. O núcleo tem o objetivo de subsidiar os magistrados em suas decisões sobre as demandas de saúde e, dessa forma, dar tranqüilidade aos juízes nos momentos das decisões relacionadas ao tema, bem como evitar fraudes neste tipo de solicitação judicial.

Além de ter sido a primeira experiência do gênero instalada num tribunal brasileiro,

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―A Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro – SES/RJ é o órgão do Governo do Estado responsável por formular, implantar e gerenciar as políticas de saúde, o que inclui o assessoramento aos municípios, a programação, o acompanhamento e a avaliação das ações e atividades de saúde‖. Texto disponível em: http://www.rj.gov.br/web/ses/exibeconteudo?article-id=142819. Acesso em 10/01/2017.

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o NAT também inspirou ideias semelhantes, como o sistema de plantão judiciário voltado especificamente para as demandas de saúde do Tribunal de Justiça da Bahia (TJBA). De acordo com o presidente do TJRJ, desembargador Manoel Alberto Rebelo dos Santos, o sucesso do núcleo pode ser constatado pelos números: em 2009, foram produzidos 987 laudos e, em 2010, 1.448 destes. Sendo que, nos primeiros três meses de 2011 já foram elaborados mais de 400 laudos. (CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 2011)

Já uma notícia divulgada pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro em 2015 informa que a estrutura está composta por 73 servidores das áreas de Medicina, Farmácia, Nutrição e Enfermagem e, que apesar de estar na capital, o NAT atende ao Judiciário em todo o Estado (TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO DE JANEIRO, 2015).

Além disso, informa que o NAT passou a funcionar nos prédios do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, da Defensoria Pública do Estado e que estava sendo implantado também na Seção Judiciária da Justiça Federal (TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO DE JANEIRO, 2015).

Na oportunidade assim declarou o subsecretário jurídico de saúde do Rio de Janeiro, Alex Linhares:

Essa estrutura permite um relacionamento institucional extremamente sadio entre os poderes Executivo e Judiciário, a partir do momento em que atendemos às ordens da Justiça e oferecemos estrutura necessária para que a judicialização na saúde tenha eficiência (TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO DE JANEIRO, 2015).

Para Ferreira e Costa (2013) a iniciativa do TJRJ foi pioneira e tem servido de inspiração aos demais tribunais do país.

A equipe é multidisciplinar, composta por funcionários administrativos responsáveis pelas rotinas do núcleo; farmacêuticos; nutricionistas; e enfermeiros, além de uma coordenação formada por farmacêuticos e médicos. Esses profissionais devem emitir pareceres isentos de quaisquer critérios que não se relacionem ao binômio ―necessidade/utilidade‖, visto que não devem ser considerados aspectos como laboratório, fabricante, entre outros pontos distintos dos critérios de atendimento da necessidade do cidadão em questão, eficácia no tratamento e menor custo diante do benefício pretendido (FERREIRA; COSTA, 2013, p.221).

Apesar de estar na capital, é informado pelo Tribunal que o NAT atende ao Judiciário em todo o Estado.

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As instituições centrais envolvidas no projeto do NAT do Rio de Janeiro são o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e a Secretaria de Saúde e Defesa Civil (SESDEC), estando suas responsabilidades definidas no termo de cooperação.

Ao TJRJ coube a responsabilidade pela infraestrutura física necessária para o desenvolvimento da atividade, devendo providenciar e manter o espaço físico para funcionamento do NAT, e permitir o livre acesso dos técnicos da SESDEC nas dependências do fórum no mesmo horário que os servidores do TJRJ.

Castro (2012) resume as atribuições e responsabilidades do TJRJ:

Resumindo, entre as obrigações previstas para o Tribunal de Justiça estão: a) Espaço físico para os profissionais de saúde exercer suas atividades; b) Liberação de ingresso dos técnicos nas dependências do fórum; c) Mobiliário, material de escritório e linha telefônica;

d) Computadores, impressoras, internet e rede de lógica; e) Serviço de limpeza;

f) O Tribunal deve arcar com os custos de concessionárias de água e esgoto, energia e telefonia;

g) Informações e esclarecimentos sempre que os profissionais de saúde assim necessitarem para execução do trabalho e;

h) Os técnicos poderão manusear os processos judiciais que tenham ação direta em relação a compelir o Estado do Rio de Janeiro a fornecer qualquer insumo ou tratamento na área de saúde (CASTRO, 2012, p.42).

Já à SESDEC coube o fornecimento de técnicos na área da saúde com a responsabilidade das despesas por estes profissionais bem como de prestar informações e esclarecimentos sempre que solicitada.

Aqui, diferente da experiência do TJMG os profissionais pareceristas que são consultados pelos magistrados nas demandas de saúde integram o quadro de servidores da Secretaria Estadual de Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro, tendo todos os custos financiados por este órgão mas contando também com a infraestrutura fornecida pelo TJRJ.

Funcionamento/dinâmica

Como já anunciado anteriormente, o NAT tem suas atividades desenvolvidas dentro da sede do TJRJ abrangendo, segundo estudo de Castro (2012), 13 Varas da Fazenda Pública e 20 Câmaras Cíveis, além das comarcas do interior do Estado conforme anunciado no ano de 2015.

O NAT é um órgão consultivo, e por essa natureza os juízes não estão obrigados a submeter seus casos à opinião do NAT, e nem mesmo seguir a opinião exarada como

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fundamento de sua decisão final, cabendo então a sua discricionariedade a utilização ou não daquela assessoria técnica (CASTRO,2012; FERREIRA;COSTA, 2013).

Faz-se ainda, necessário observar que os núcleos não tomam o lugar do magistrado nem vinculam sua decisão, pois somente o magistrado, nos casos em que o medicamento ou tratamento não estiverem disponíveis em lista do SUS, poderá concedê-lo ou não, mesmo diante de parecer expedido pelo NAT, que demonstre a procedência ou improcedência da prestação em questão (FERREIRA; COSTA, 2013, p.222)

Em 2014, com cinco anos de existência foi anunciado pelo TJRJ que os magistrados que atuavam no Plantão Judiciário também poderiam contar ―com um importante aliado antes de tomar decisões referentes a pedidos de internação em hospitais públicos em caráter de urgência ou emergência‖. E assim o NAT passou a ter um espaço próprio na área onde funciona o plantão com sete médicos, um para cada dia da semana a disposição dos juízes plantonistas (TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO DE JANEIRO, 2014).

Grande parte das solicitações feitas durante o Plantão Judiciário é de assuntos ligados à área da saúde. A maior parte destes pedidos é de internação em clínicas e hospitais públicos em caráter emergencial. Com o início das atividades do NAT no plantão, diminui consideravelmente a possibilidade de um juiz plantonista deferir uma liminar em favor de uma internação em um CTI de um paciente cujo diagnóstico dispensa a urgência no caso (TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO DE JANEIRO, 2014).

Relevante são os dados apresentados por Castro (2012, p.43) no sentido de que nenhum advogado possui acesso permitido o NAT dentro do TJRJ para que não haja risco de conhecimento pessoal da situação por meio do relato de defensores.

O NAT tem o prazo de 48 horas para emitir o parecer, o que pode ser prorrogado por mais 48 horas em casos complexos ou que versem sobre vários pedidos de serviços de saúde dentro de um mesmo procedimento.

Os pareceres tem como premissa identificar se o medicamento faz parte da listagem do SUS e se tem autorização pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e estas verificações são feitas em tempo real dado a interligação do Núcleo com a Secretaria Estadual de Saúde.

Feitas essas verificações, o parecerista identifica se é possível tratamento no caso apresentado e a avaliação do serviço pleiteado a partir de aspectos subjetivos do autor, como a idade do paciente e a quantidade de medicamento permitida pra consumo.

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- A análise dos medicamentos inclui, ainda, avaliação do benefício do medicamento, isso abrange saber se a quantidade pedida é compatível com o tempo em que o paciente fará uso do mesmo. Leva-se em contas para essa análise a idade do paciente, a quantidade permitida do consumo do medicamento e o período de tratamento. A busca aqui é evitar a compra desnecessária e o desperdício, além do mau uso do fármaco. Muitas vezes, o Núcleo se depara com pedidos que excedam a quantidade máxima permitida de uso ou com pedidos de quantidade inferior ao uso necessário para eficácia do tratamento (CASTRO, 2012, p.44).

Avaliada a necessidade/utilidade do serviço pleiteado é confeccionado o parecer com informações acerca da moléstia, tratamento, utilização e viabilidade do serviço pleiteado encaminhando-se ao magistrado da causa que poderá ou não vincular-se ao parecer para sua decisão.

Segundo Castro (2012), após receber o laudo da avaliação feita pelo NAT o magistrado pode mandar fazer o cadastro do medicamento, para assim incluí-lo na listagem de fármacos do Estado, como ainda pode determinar busca e apreensão de medicamentos no âmbito do Estado e Município do Rio de Janeiro, ou ainda desconsiderar o parecer exarado.

Especialidades relevantes/destaques

Considerando que no Tribunal do Rio de Janeiro a inciativa de assessoramento vem operando desde o ano de 2009 já é possível perceber algumas expansões de atividades, como por exemplo a extensão do assessoramento para os Plantões judiciários, isto é, são disponibilizados profissionais para emissão de pareceres mesmo em dias de recesso forense em atenção às demandas de urgência.

Além disso foi criado também uma Câmara de Resolução de Litígios de Saúde (CRLS) com o objetivo de buscar soluções administrativas para as demandas de saúde.

Mediação – Para evitar o aumento no número de processos abertos, também foi

criada há dois anos a Câmara de Resolução de Litígios de Saúde (CRLS), um projeto de cooperação que reúne as Procuradorias Gerais do Estado e do Município do Rio de Janeiro, além das secretarias estadual e municipal de Saúde, as Defensorias Públicas estadual e da União, e o Tribunal de Justiça do Estado. A ideia é buscar soluções administrativas para o atendimento de cidadãos que precisam de medicamentos, exames, internações, tratamentos e transferências do SUS, evitando o ajuizamento de ações.

Por meio dessa iniciativa, entre setembro de 2014 e setembro de 2015, foram realizados 12.101 atendimentos, evitando 4.477 ações judiciais. ―Se levarmos em consideração que uma ação na Justiça Estadual custa em média R$ 2.500,00, com essas mediações, a economia aos cofres públicos chega a mais de R$ 11 milhões de reais em processos não abertos‖, argumenta o subsecretário da SES.

O índice de acordos realizados na Câmara de Resolução de Litígios em Saúde chega a 80% em requisições de exames e consultas; 60%, de cirurgias; e 50%, de transferências. (TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO DE JANEIRO)

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