• Nenhum resultado encontrado

Um novo modelo educacional: Escola da Ponte (Portugal)

2. PROJETOS E PROPOSTAS DE ENSINO E APRENDIZAGEM:

2.2. PROJETOS INTERDISCIPLINARES

2.2.2. Um novo modelo educacional: Escola da Ponte (Portugal)

Amorim Lima (Brasil)

É da natureza de qualquer projeto estar sempre em fase instituinte. E na educação, está sempre quase tudo por fazer.(José Pacheco, in www.escola2000.org.br)

O Projeto Educacional da Escola da Ponte, situada na Vila de Aves, em Portugal, é reconhecido mundialmente pela sua ousadia e inovação. Em entrevista concedida a Marangon (2004) para a Revista Nova Escola, o diretor José Pacheco revela que “até 1976, a escola era igual a qualquer outra de 1.ª a 4.ª série”, pois seguia um currículo tradicional, caracterizado pela fragmentação disciplinar e pelo isolamento dos professores em suas salas de aula. A ousadia, portanto, começou em 1976, quando, diante da demanda de 90 alunos para 3 professores, em vez de dividir as turmas, optou-se por integrá-las.

A partir dessa primeira experiência, a escola transformou-se totalmente; as salas de aula convencionais foram substituídas por espaços de aprendizagem, que incluíam espaços fechados ou abertos, e os professores passaram a trabalhar em função dos projetos dos alunos e não apenas em função de conteúdos disciplinares. Nessa nova formatação, os alunos não eram classificados por séries ou níveis de aprendizagem, mas agrupados de acordo com os interesses comuns para desenvolver projetos de pesquisa. Essa mudança não foi deliberada apenas pelo desejo dos educadores da escola, mas discutida junto à comunidade que apoiou e

defendeu o projeto, uma mostra de que um projeto educacional só se sustenta quando é significativo para a comunidade na qual a escola está inserida.

O Projeto Educativo da Escola da Ponte (2003, p. 2), denominado “Fazer a Ponte”, traz como valor matricial a necessidade de constituição de uma equipe coesa e solidária, cuja intencionalidade educativa oriente-se para:

a formação de pessoas e cidadãos cada vez mais cultos, autónomos, responsáveis e solidários e democraticamente comprometidos na construção de um destino colectivo e de um projeto de sociedade que potenciem a afirmação das mais nobres e elevadas qualidades de cada ser humano.

O projeto (2003, p. 04) destaca o fato de que as experiências de escolarização e o trajeto de desenvolvimento de cada aluno são singulares, e considera que todo conhecimento significativo é autoconhecimento. Nesse sentido, são valorizadas:

as aprendizagens significativas numa perspectiva interdisciplinar e holística do conhecimento, estimulando permanentemente a percepção, a caracterização e a solução de problemas, de modo que o aluno trabalhe conceitos de uma forma consistente e continuada, reelaborando-os em estruturas cognitivas cada vez mais complexas.

Nessa estrutura, o professor é considerado um promotor da educação, na medida em que precisa co-orientar o percurso educativo de cada aluno e apoiar os seus processos de aprendizagem. A organização do trabalho na Escola da Ponte gravita em torno do aluno, é o sujeito da aprendizagem quem está em destaque e não os conteúdos formais que esse possa vir a aprender.

Nesse sentido, a adoção da metodologia de projetos é coerente com os propósitos da escola, uma vez que o aluno empenhará seus esforços em busca da construção de conhecimento sobre um assunto de seu interesse e encontrará nos professores, orientadores e não apenas avaliadores. A avaliação, segundo o Projeto Educacional da Escola da Ponte (2003, p. 04), é um “processo regulador das aprendizagens, orienta construtivamente o percurso escolar de cada aluno, permitindo-lhe em cada momento tomar consciência, pela positiva, do que já sabe e do que já é capaz”.

Perpassa o projeto “Fazer a Ponte” uma visão de conhecimento como construção fundamentada na experiência do sujeito da aprendizagem e que necessita de uma orientação acertada para alavancar esse desenvolvimento. Trata-se de uma orientação construtivista que busca dar mais significado à aprendizagem escolar, fugindo às estratégias de cópias ou repetições que sempre caracterizaram o ensino tradicional.

No Brasil, a EMEF Amorim Lima tem sido reconhecida pela mídia por seguir a trilha da Escola da Ponte. Trata-se de uma experiência que ganhou forma a partir da assessoria da psicóloga educacional Rosely Sayão, fundamentada na pedagogia desenvolvida por José Pacheco. Segundo reportagem de Almeida (2004), o educador português chegou a visitar a escola, em julho de 2003, local em que relatou sua experiência pedagógica. Em entrevista concedida ao folheto Cidadania (FUNDAÇÃO BUNGE, 2006), José Pacheco comenta sobre a escola: “em uma escola brasileira, os professores prescindiram do refúgio na sala de aula. Onde antes estava uma parede que dividia está, agora, uma passagem que une.”

A expressão “passagem que une” faz referência ao próprio conceito de educação defendido pela Escola da Ponte e à opção da EMEF Amorim Lima de seguir a mesma trilha. O projeto educacional da Escola da Ponte foi adaptado à realidade e às possibilidades da escola brasileira e implicou também na derrubada de paredes que dividiam algumas salas. A mudança estrutural era apenas o início do resultado de uma mudança na forma de pensar e fazer a educação na escola.

Em 2003, o projeto foi desenvolvido apenas com os alunos do primeiro ano do Ciclo I e Primeiro ano do Ciclo II. As oficinas culturais que estavam fora do horário curricular foram incluídas no currículo oficial e os alunos se revezavam entre a classe e as oficinas. Atualmente o projeto se expandiu para todas as séries, pois como a própria diretora afirmou em reportagem concedida à Almeida (2004) para a Folha de São Paulo: “Vimos que não dá para ter duas escolas em funcionamento ao mesmo tempo. Ou é para todos, ou não é para ninguém”.

Durante o processo de seleção de escolas para a presente pesquisa, nós visitamos a EMEF Amorim Lima, com a pretensão de conhecer um pouco mais sobre seu projeto educacional, principalmente por sua característica interdisciplinar. Entretanto, a diretora, Ana

interagir com os professores e perceber, em seus discursos, concepções, práticas e resultados da interdisciplinaridade, pois o projeto ainda estava em processo de construção.

De qualquer forma, foi uma pena não podermos conferir de perto o projeto em seu sucesso e suas limitações. A perspectiva de que a escola segue a experiência da escola da Ponte faz-nos pressupor uma reorganização curricular totalmente diferente, com a mudança na concepção de espaço e tempo educativo, principalmente porque, na experiência portuguesa, “todos os professores são professores de todos os alunos e todos os alunos são alunos de todos os professores” (ESCOLA DA PONTE, 1996). Trata-se de um projeto extremamente inovador que, se bem fundamentado e com apoio político e social, tem possibilidades de sucesso também na realidade brasileira. Esperamos que a escola brasileira consiga seu intento e possa, futuramente, divulgar suas ações.

É preciso ressaltar que, ao encetar a pesquisa, não esperávamos encontrar nos projetos desenvolvidos um sucesso pleno, mesmo porque este não é tributário apenas da epistemologia ou metodologia aplicada, mas também dos fatores sociais, econômicos e institucionais. Não existe perfeição na Educação; existe o interesse, a tentativa e a luta em busca de transformações que garantam a qualidade de ensino e a formação de uma sociedade mais justa. Os educadores da Escola da Ponte e da escola brasileira, mais do que reconhecerem a necessidade de mudança na forma de conceber e encaminhar o processo de ensino e aprendizagem, demonstraram coragem para iniciar a mudança.

2.3. ESTUDOS SOBRE INTERDISCIPLINARIDADE EM DISSERTAÇÕES E TESES: