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“Cognição, área da psicologia que descreve como adquirimos,

2. PSICOLOGIA COGNITIVA

2.4. UMA FUNÇÃO CEREBRAL QUE ATRIBUI SIGNIFICADOS

Ao olharmos para uma paisagem, como por exemplo a vista da torre do Castelo de Sintra (fig. 3), conseguimos ver toda a vila de Sintra, que no entanto irá parecer-nos tão pequena quanto uma imagem no ecrã de um computador. Contudo, sabemos que as coisas são na verdade muito maiores. Este é um exemplo do complexo processo de perceção. A perceção é o conjunto de processos pelos quais reconhecemos, organizamos e compreendemos as sensações provenientes dos estímulos ambientais. Esta consiste na tentativa de o cérebro dar sentido aos diversos estímulos que são projetados na retina do olho. No entanto, a perceção não consiste apenas desta projeção, sendo o processo, muito mais complexo do que isso. Todos os estímulos visuais são processados pelo cérebro, dando-lhes um significado e interpretando-os (Sternberg 2016).

Uma das formas de estudar a perceção, passa por uma estrutura criada por James Gibson, onde esta teoria, apresenta quatro conceitos, como o objeto distal (externo), o meio informacional, o estímulo proximal e o objeto percetual. Começando por falar no objeto distal, Gibson define-o, como um elemento do mundo externo e que está ligado ao meio informal. No entanto, podendo este ser composto por ondas de som ou luz refletida, moléculas químicas ou informações táteis vindas do ambiente (Sternbeg 2016).

“Por exemplo, quando a informação das ondas de luz entra em contato com os recetores sensoriais oculares apropriados, ocorre o estímulo proximal (próximo).” (Sternberg 2016, p.71)

Figura 3 | Vista da torre do Castelo dos Mouros, Sintra. [Disponível em: https://www. albumdeviagens.com/2013/04/ sintra-e-o-castelo-dos- mouros.html (Acedido a 21 de março de 2019)]

Os comprimentos de onda da luz são absorvidos pela retina, passando informações através do sistema nervoso até ao cérebro, onde é “construída” a imagem observada. Como qualquer ato de perceção, é sempre a conversão em impulsos magnéticos que são conduzidos ao cérebro que os irão descodificar, de forma a decifrar a informação. Podemos assim, considerar que a memória tem um papel importante na definição das perceções. No entanto, conforme os cinco sentidos do Ser humano, a visão, olfato, tato, paladar e audição, os processos de perceção variam (tab.1).

Segundo Sternberg (2016), as qualidades de estimulação estão concentradas dentro das sensações. Enquanto que, a identidade, a forma, o padrão e o movimento se relacionam com a perceção. Com isto, pode-se afirmar que, a cognição ocorre quando todas as informações, referidas nos parâmetros apresentados na Tabela 1, são utilizadas para determinar resultados adicionais. Contudo, para Sternberg, “Não podemos ver, ouvir, saborear ou sentir o mesmo conjunto de propriedades de estímulos vivenciados anteriormente.” (2016, p.72) ou seja, cada novo objeto projeta na retina uma nova imagem, mesmo que este seja de aparência idêntica a outro.

Tabela 1 | Tabela demonstrativa das diversas propriedades dos objetos distais, do meio informacional, dos estímulos proximais e dos objetos preceptivos em relação aos sentidos (Adaptado de Sternberg 2016, p.71).

Tabela 1.

Modalidades Objeto distal Meio informacional Estímulo proximal Objeto perceptual

Visão - ver O rosto da avó

Luz refletida no rosto da avó (ondas eletromagnéticas visíveis)

Absorção de fótons nos bastonetes e cones da retina, a superfície receptora na parte posterior do olho

O rosto da avó Audição - som Árvore caindo Ondas sonoras geradas pela queda da árvore

Condução de onda de som para a membrana basilar, a superfície receptora dentro da cóclea do ouvido interno

Árvore caindo Olfato - cheiro Bacon fritando Moléculas liberadas pela fritura do toucinho

Absorção molecular nas células do epitélio olfativo, a superfície receptora na cavidade nasal Bacon fritando Paladar - sabor

Sorvete Moléculas do sorvete libertadas no ar e dissolvidas em água

Contato molecular com as papilas gustativas, as células receptoras na língua e no palato mole, combinadas com estimulação olfativa

Sorvete Tato - temperatura e pressão Teclado de computador Pressão mecânica e vibração no ponto de contato entre a superfície da pele e o teclado Estimulação de várias células receptora na derme, a camada mais profunda da pele

Teclado de computador

“Como alcançamos a estabilidade perceptual diante de tanta instabilidade em relação aos receptores sensoriais?” (Sternberg 2016, p.72)

Esta é uma questão fundamental no mundo da perceção, onde, é essencial a variação nos recetores sensoriais para a existência desta. Quanto à adaptação sensorial, para que haja uma mudança na estimulação, é necessária uma adaptação das células recetoras a esta. Por meio desta adaptação, pode-se interromper a capacidade de detetar a presença de um estímulo.

A perceção visual, para Sternberg (2016), é estudada a partir de imagens estabilizadas. Estas imagens ao contrário de outras, que se projetam na retina, acompanham apenas o movimento dos olhos. Com a utilização desta técnica, pode-se comprovar a veracidade da hipótese: as estimulações contínuas das células da retina dão a sensação de que a imagem existente desaparece. Isto é, quando os olhos são expostos a um campo uniforme de estímulos, o Ser humano pára de receber tal estímulo depois de algum tempo, acabando por visualizar um campo cinzento. Tal acontece, devido ao olhar se ter adaptado a esse mesmo estímulo. A este campo visual uniforme dá-se o nome de Ganzfeld05. O acontecimento referente à adaptação sensorial, assegura a mudança frequente da informação sensorial, que acontece, a partir de movimentos sacádicos06. Estes movimentos permitem a mudança de localização frequente na imagem projetada dentro do olho. Assim, a variação de estímulos é um atributo essencial para a perceção (Sternberg 2016).

A representação mental, segundo Sternberg (2016), assume duas posições, a representação centrada no observador e a centrada no objeto, enquanto que, o posicionamento, é referente à representação centrada no observador, consistindo na memorização do indivíduo sobre a forma de como o objeto lhe chama a atenção ao nível da sua aparência. “Os formatos dos objetos mudam, dependendo do ângulo que olhamos.” (Sternberg 2016, p.90).

Contudo, o cérebro para reconhecer um objeto, armazena diversos fragmentos de imagem deste, possibilitando ao indivíduo visualizá-lo mentalmente e ajustando a imagem da memória à imagem apresentada no momento, levando-o a reconhecer o objeto. O posicionamento, é referente à representação centrada no objeto, independentemente da aparência que tem para o indivíduo. Neste caso, o observador, mantem armazenada uma representação fiel aos diferentes eixos e orientações do objeto.

Estas duas posições mentais referem-se à representação do objeto e das suas partes, onde as principais diferenças, correspondem à representação do objeto e as características em relação ao indivíduo (centrada no indivíduo) e, noutra perspetiva, a relação do objeto como um todo, independentemente da própria posição do indivíduo (centrada no objeto).

Contudo, segundo Sternberg (2016), a posição à qual o indivíduo se empenha é na representação centrada no observador. Posteriormente, surgiu 05 Palavra alemã que significa

campo inteiro.

06 Pequenos e rápidos

uma terceira orientação, referente à representação centrada num marco. Aqui a informação recolhida é caracterizada pela relação com um item relevante.

A habilidade de agrupar objetos semelhantes é uma consequência da ação, que é da origem e coerência para a perceção do ser humano. Como tal, existe uma redução da quantidade de ações que necessitam ser processadas. Ou seja, existe uma organização dos objetos numa dada disposição visual em grupos coerentes.

No início do sec. XX na Alemanha, fora desenvolvida por Kurt Koffka, Wolfgang Köhler e Max Wertheimer, uma abordagem gestaltista para perceção da forma. Esta abordagem provém da capacidade do indivíduo para a compreensão de grupos de objetos ou partes integrantes destes, que formem objetos completos. Esta abordagem teve como base na sua descoberta, a convicção de que “o todo difere da soma das partes individuais” (Sternberg 2016, p.91).

No entanto a lei mais abrangente da Gestalt, segundo Sternberg (2016), foi a lei de Prägnanz, em que esta tende a compreender qualquer combinação visual simples e que organize os diferentes elementos de forma estável e coerente. Assim, a tendência do indivíduo é compreender a figura principal e outras sensações à medida que formam o fundo da imagem evidenciada.

A Gestalt é também composta por outros princípios que suportam a lei de Prägnanz, dos quais é incluída a “percepção da figura-fundo, proximidade, semelhança, continuidade, fechamento e simetria” (Sternberg 2016, p.91), (fig. 4 e 5 pág. 24). Todos estes elementos pretendem demonstrar a compreensão entre qualquer disposição visual dos elementos dispares, de uma forma corrente, estável e simples (tab. 2 pág. 24).

Concluindo, segundo Sternberg (2016), os princípios da Gestalt provocam conhecimentos descritivos importantes na perceção da forma e padrão.

Figura 4 | Efeito figura- fundo (Sternberg 2016, p.93).

Figura 5 | Princípios da Gestalt como demonstrativos na lei de Prägnanz (Adaptado de Sternberg 2016, p.92).

Tabela 2 | Tabela demonstrativa dos princípios gestaltistas que auxiliam na perceção das formas (Adaptado de Sternberg 2016, p.92).

Tabela 2.

Princípios

gestaltistas Princípio Imagem que ilustra o princípio

Figura-fundo Quando percebemos um campo visual, alguns objetos (figuras) parecem destacados e outros aspectos do campo recuam no fundo.

A figura 2 apresenta um vaso de figura-fundo, no qual um modo de perceber as figuras destaca a perspectiva ou um objeto, ao passo que o outro modo destaca outro objeto diferete ou perspectiva, relegando o primeiro plano anterior ao fundo.

Proximidade Quando percebemos uma variedade de objetos, a tendência é ver os que estão próximos como um grupo.

Na figura 3 (a), a tendência é ver três colunas feitas de duas colunas de círculos.

Semelhança A tendência é agrupar objetos com base na semelhança.

Na figura 3 (b), a tendência é ver seis linhas de circulos, nao seis colunas de círculos. Continuidade A tendência é perceber formas

que fluem de modo regular ou contínuo, em vez de formas interrompidas ou não contínuas.

Na figura 3 (c), percebemos uma letra S completa, mesmo que ela seja interrompida por uma tira.

Fechamento A tendência é fechar ou completar objetos que, na realidade, não são completos.

A figura 3 (d) apresenta apenas segmentos de linha desarticulados e misturados, que o observador fecha para observarmos um cubo. Simetria A tendência é perceber

objetos como se formassem imagens de espelho ao redor do próprio centro.

Por exemplo, quando vemos a figura 3 (e), uma configuração de colchetes, observarmos a variedade formando três conjuntos de colchetes, em vez de seis itens individuais, porque os elementos simétricos se integram em objetos coerentes.