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3 SOBERANIA INTERNACIONAL E GLOBALIZAÇÃO

3.4 GLOBALIZAÇÃO

3.4.2 União Europeia

A União Europeia foi constituída inicialmente como Comunidade Econômica Europeia, em Roma, em 1957, inicialmente com seis países (Itália, França, Bélgica,

“Os Estados americanos reafirmam os seguintes princípios: […]

g) Os Estados americanos condenam a guerra de agressão: a vitória não dá direitos; […].” (ibid., p. 160).

300 Estas duas últimas se retiraram a partir de 1951, e a França retirou-se em 1966.

301 “Um ataque feito com foguetes na cidade portuária de Mariupol, Ucrânia, este final de semana, pode ser

investigado como um crime de guerra, afirmou nesta segunda-feira o subsecretário-geral das Nações Unidas para Assuntos Políticos, Jeffrey Feltman.

De acordo com Feltman, monitores da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa examinaram as crateras deixadas pelo ataque e chegaram à conclusão de que ele partiu da região controlada pelos rebeldes pró-Rússia.

Mariupol é uma cidade estratégica, e seu controle pode fornecer um corredor terrestre entre a Rússia e a recém anexada região da Crimeia. Segundo o subsecretário-geral, o ataque destruiu prédios e matou ‘dezenas de pessoas, incluindo mulheres e crianças’” (EXAME.COM. Mundo. Ataque na Ucrânia pode ser crime de guerra, diz ONU. São Paulo: Exame, 26 jan. 2015. Disponível em: <http://exame.abril.com.br/mundo/noticias/ataque-na-ucrania-pode-ser-crime-de-guerra-diz-onu>. Acesso em: 28 jan. 2015).

Alemanha, Luxemburgo e Holanda), número esse que foi aumentando até chegar aos atuais 28 Estados. Em 2004, também em Roma, foi assinado o tratado para a Constituição Europeia, por 25 Estados membros. Devido ao caráter jurídico do contrato ser entre Estados soberanos, cada um desses Estados teria que ratificá-lo internamente; na França e na Holanda, submetido a referendum popular, o tratado não foi aprovado. Então, efetivamente, a vigência do contrato foi adiada sine die, e pode-se dizer que, juridicamente, a União não existe, embora, politicamente e na prática, se aja no sentido de sua existência. Nas palavras de Friedman Wendpap e Rosane Kolotelo:

De jure, não há união, no sentido estrito de um ente dotado de personalidade jurídica internacional que titulariza uma federação de Estados. Contudo, a doutrina, a jurisprudência, a imprensa, acompanhando a retórica política, referem-se à União como um fato concreto. Na verdade, não posam os olhos sobre a situação presente, mas sobre o que desejam para o futuro. As utopias podem criar realidades políticas.302

A União Europeia é uma união de 28 Estados europeus, com aproximadamente 500 milhões de habitantes. Foi estabelecida com este nome pelo Tratado de Maastricht, em 1992 (ou Tratado da União Europeia, mas muitos aspectos desta união já existiam desde a década de 1950). A União tem sedes em Bruxelas, Luxemburgo e Estrasburgo. Destacam- se como instituições importantes o Conselho da União Europeia, o Tribunal de Justiça da UE, o Banco Central Europeu e o Parlamento Europeu. Estados membros: Alemanha Áustria, Bélgica, Bulgária, Chipre, Croácia, Dinamarca, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estônia, Finlândia, França, Grécia, Hungria, Irlanda, Itália, Letônia, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Países Baixos, Polônia, Portugal, Reino Unido, República Checa, Romênia e Suécia. Países Candidatos: Albânia, Islândia, Macedônia, Montenegro, Sérvia e Turquia.

A soberania cedeu espaço à globalização na União Europeia, conforme explanado por José Souto Maior Borges:

[...] um nacionalismo estreito não tem mais vez. Daí a crise do conceito de soberania. Em decorrência de sua positivação em sede constitucional (CF,

302

WENDPAP, Friedman; KOLOTELO, Rosane. Direito Internacional. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007, p. 177.

art. 1º, I), a soberania não mais suporta a sua caracterização tradicional como um poder uno, absoluto, incontrastável e irrenunciável. De duas, uma: ou (i) a soberania conviverá com a integração interestatal comunitária, devendo, portanto, os Estados-membros abrir mão de seus poderes soberanos, requisito incontornável para a institucionalização da comunidade (e assim sendo a soberania não seria mais absoluta e indivisível), ou (ii) a soberania persiste absoluta, incontrastável e irrenunciável e nesse caso não seria possível a instituição de normas comunitárias que vinculassem os Estados-membros e fornecessem suporte jurídico para a integração. Soberania compartilhada ou repartida não mais seria soberania. Mas a soberania é no Brasil uma categoria constitucional e, pois, de direito positivo, por isso mesmo revestida de âmbito de validade limitado, dado que não há conceito jurídico-positivo submetido a regime de ilimitação na sua abrangência de significado normativo. Uma coisa é a soberania no sentido ideológico (absoluto e ilimitado) outra, bem diferente, é o seu sentido jurídico-constitucional (limitada).303

O Conselho da União Europeia pode ser considerado o centro do Poder e é composto por um Ministro do Governo representando cada Estado membro. Essa representação não é fixa, ela depende do tema a ser tratado, sendo várias as possibilidades: Assuntos Gerais e Relações Externas; Assuntos Econômicos e Financeiros; Emprego, Política Social, Saúde e Proteção dos Consumidores; Competitividade, Transportes, Telecomunicações e Energia; Agricultura e Pesca; Ambiente; Educação, Cultura e Juventude. Trimestralmente, os Chefes de Governo reúnem-se no Conselho para tratar de assuntos não solucionados nas sessões ordinárias dos Ministros.

As deliberações do Conselho, dependendo da sensibilidade da matéria, podem ser tomadas por: a) maioria dos Estados Membros; b) maioria de dois terços; c) unanimidade.

Compete ao Conselho da União Europeia:

a) legiferar, em conjunto com o Parlamento Europeu ou de modo isolado, conforme as regras sobre competência material e processo legislativo; b) coordenar as políticas econômicas dos Estados membros; c) celebrar tratados entre a União e entes externos; d) resolver, em conjunto com o Parlamento, sobre o orçamento da União; e) articular a política externa e de segurança de cada um dos Estados membros da União; f) gerir a cooperação entre os tribunais e as polícias dos Estados membros em matéria penal. As duas últimas atribuições estão no campo das matérias

303 BORGES, José Souto Maior. Curso de Direito Comunitário. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 69-70.

que os Estados Membros reservaram para si, limitando-se o Conselho a gerenciar a cooperação, sem capacidade decisória impositiva. Nas demais competências o Conselho da União delibera de modo imperativo.304

Acrescente-se, ainda, que há ponderação do voto de acordo com a população do Estado correspondente, porém balanceada aos Estados de pequena população.

O Parlamento Europeu tem por atribuições: a) nomear os membros da Comissão Europeia; b) censurar a comissão; c) deliberar sobre as contas da União, após parecer do Tribunal de Contas. As eleições de seus membros são diretas, o mandato é de cinco anos e o número máximo de deputados é de 750.

A Comissão Europeia tem atribuições:

– legislativas – enviando propostas ao Parlamento e ao Conselho, sempre no sentido de resultados para o conjunto dos Estados (princípio da subsidiariedade) respeitando a soberania interna de cada um deles;

– executivas – em relação às políticas públicas da União – como a concorrência, a concentração econômica, os subsídios a empresas, o interesse dos consumidores, a política agrícola, os programas de educação, as parcerias produtivas interestatais, os incentivos a regiões menos desenvolvidas, os transportes, as telecomunicações;

– de direito comunitário – assegurando a aplicação dos Tratados, enviando ao Tribunal de Justiça os casos não solucionados na via administrativa;

– de representação da União – diante de Estados e Organizações Internacionais como a ONU e a OMC.

O Tribunal de Justiça da União Europeia está localizado em Luxemburgo e é composto por um juiz de cada Estado, funcionando em seção plena por 13 juízes e turmas de três ou cinco juízes. Ao Tribunal de Justiça da União Europeia cabem recursos para:

304

WENDPAP, Friedman; KOLOTELO, Rosane. Direito Internacional. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007, p. 172.

– “assegurar a uniformidade da interpretação e aplicação das normas da União”305 – equivalente à análise da sua constitucionalidade ou não;

– solucionar litígios entre os Estados membros, entre entidades autárquicas da União, entre pessoas (simples ou coletivas), sobre controvérsias entre as legislações locais e as da União.

Há, ainda, outros Tribunais de Justiça, criado em 1989, o Tribunal de Primeira Instância julga processos de pessoas físicas ou jurídicas, privadas ou públicas contra órgãos da União e, ainda, temas sobre concorrência e propriedade industrial. Há, ainda, o Tribunal da Função Pública da União Europeia, que julga matérias relacionadas ao estatuto dos funcionários.

Nem todos os Estados membros da União Europeia adotaram o euro como moeda. O Banco Central Europeu é responsável pela condução da política monetária em toda a comunidade para os países que aceitaram a moeda (dentre os 28 Estados-membros da União Europeia, apenas 19 adotam o Euro como a moeda oficial), estando sediado, atualmente, em Frankfurt, Alemanha.