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3.4 Características urbanísticas do Residencial Vista da Serra I: o onde e o como

3.4.3 Unidades habitacionais no RVS I

Dentre os parâmetros sugeridos por Ferreira (2012), para se analisar um empreendimento imobiliário do ponto de vista da escala da unidade habitacional (UH), consideramos apenas o referente ao dimensionamento da UH, incluindo na discussão as características referentes aos aspectos construtivos.

84 Tendo em vista a discussão sobre o que e como se constitui o espaço social, subentende-se que, nesse momento, o autor não se refere aos conjuntos apenas em termos de espaço físico, mas, e principalmente, aos grupos ou classes sociais.

Desde a política habitacional do período do BNH, tem sido recorrente a construção de conjuntos habitacionais caracterizados pela uniformização das UHs, pela padronização dos projetos, que, na maioria dos casos, são de grandes dimensões em relação ao porte da cidade e pela localização predominante nas periferias, desprovidas de serviços urbanos e de infraestrutura. Já constatamos que essas mesmas características, que dizem respeito às escalas da inserção urbana e à implantação dos empreendimentos, permaneceram nos projetos do PMCMV. Assim, vemos que, nesse contexto, repetem-se os mesmos erros e problemas urbanísticos produzidos na época do SHF/BNH, como ressalta Campos (2011).

As implicações dessa padronização cada vez maior dos projetos habitacionais, por parte das construtoras, e a formação de espaços socialmente homogêneos se apresentam nitidamente na paisagem, pois, como ressalta Rodrigues (2001; 2007), as desigualdades socioespaciais são visíveis até para os olhares menos atentos. Esse fato se confere no conjunto RSV I, onde a paisagem é monótona e repetitiva, tendo em vista a ausência da diversidade de usos do espaço e a presença de casas idênticas na forma e nos aspectos construtivos. Vale salientar que essa mesma paisagem também se verifica em seu entorno imediato, já que nele se apresentam os mesmos elementos descritos, como podemos observar nas Figuras 18 e 19 (p. 139, tópico 3.1).

Como já discutimos no Capítulo 02 (tópico 2.2), corroborando Shimbo (2011, p. 53), essas características advêm da padronização das tipologias habitacionais, das medidas delas e dos materiais e dos componentes construtivos empregados, que definem a lista de fornecedores, também padrão. Lembremos que esse processo de padronização chega até o processo de gestão da produção. Desse modo, mesmo a terra-mercadoria sendo responsável pela maior parte do valor imóvel, as construtoras maximizam seus lucros através dos processos construtivos, incluindo, é claro, a obtenção da mais-valia com o emprego de numerosa mão de obra.

Vale salientar que essa padronização não representa, necessariamente, mais qualidade construtiva das UHS. No RSV I, identificamos casas que, com menos de um ano de uso, já apresentaram rachaduras nas paredes, no gesso do teto e na cerâmica do piso, além das reclamações dos moradores em relação às esquadrias (portas e janelas), que não ofereciam segurança. Assim, não por acaso, a modificação mais frequente realizada nas casas pelos moradores foi a substituição das portas.

Quanto ao dimensionamento das UHs, 82,6% dos moradores entrevistados no RSV I afirmaram que estão satisfeitos com o tamanho das casas, contudo, paradoxalmente, esses mesmos moradores expressaram o desejo de ampliar a casa e o número de cômodos, bem

como a insatisfação específica com algum desses, sendo a cozinha o mais mencionado. Entendemos que a maioria dos que se mostraram satisfeitos moram em casas com número reduzido de pessoas, e a insatisfação em relação à cozinha partiu, predominantemente, das mulheres, “donas de casa”, que reclamaram que não havia espaço para algo mais além da geladeira e do fogão, fato que levou alguns moradores a quebrarem o balcão que dividia o espaço entre a sala e a cozinha, mesmo não sendo permitido pela CEF, pelo menos nos cinco primeiros anos de uso85.

Baseando-se nos questionários aplicados durante a pesquisa de campo, vieram à tona duas suposições oriundas da relação que fizemos da quantidade de moradores com o tamanho das UHs, bem como dos relatos obtidos no momento em que perguntamos sobre a renda mensal da família e sobre a satisfação com o tamanho da casa. A primeira suposição é de que o problema do adensamento habitacional se reproduz também nos conjuntos habitacionais, e a segunda é de que o PMCMV tem promovido diretamente a reprodução do capital imobiliário e financeiro e outras frações do capital através da criação do cartão “Minha Casa Melhor”.

No que diz respeito à reprodução do problema de adensamento habitacional no RSVI, alguns dados são pertinentes. No referido conjunto habitacional, calculamos uma média de três habitantes por domicílio. No entanto, essa média camufla a realidade, na medida em que se observam os números absolutos, visto que quase metade das UHs (43 das 98) onde realizamos entrevistas havia de quatro a nove moradores86. Segundo seus relatos, um dos principais motivos apontados para o elevado número de pessoas em uma mesma casa era a coabitação familiar87. Nesses casos, a família residente recebia parentes que estavam aguardando também ser atendidos pelo PMCMV, já que haviam feito o cadastro no programa há muito tempo. Assim, há uma reprodução de um dos componentes do déficit habitacional brasileiro no conjunto habitacional em questão. Esse problema agrava-se ainda mais devido ao tamanho das casas em que vivem essas famílias.

No RSV I, embora os lotes sejam de 200 m², as UHs construídas têm 32 m² de área interna. Assim, se considerarmos a média de 3 hab./domicílio, teremos a disponibilização de 10,7 m² para cada morador. Contudo, se projetarmos essa mesma realidade para as casas em

85 Para a faixa 01 do Programa Minha Casa Minha Vida, que usa os recursos do OGU, FDS e FAR, não há cobrança de seguro, no entanto há coberturas por morte ou invalidez permanente (MIP) e danos físicos do imóvel (DFI). Daí a importância de não realizar nenhuma modificação na estrutura do imóvel por um período de tempo. Sobre as disposições acerca desses seguros, consultar o suporte eletrônico do presente texto.

86 Identificamos 22 casas com quatro moradores; nove, com cinco; oito, com seis; três, com oito; e uma, com nove.

87 De acordo com o IBGE (2010), a partir de 2007, passou-se a considerar coabitação apenas as famílias

que há uma quantidade maior de moradores (Quadro 06), a situação torna-se ainda mais preocupante. Primeiro, porque há restrições por parte da CEF para fazer modificações na casa, onde só é permitido realizar alguma modificação nas paredes internas depois dos cinco anos do seguro ou da cobertura por danos físicos do imóvel (DFI), garantido pelo referido banco. Segundo, porque as condições econômicas das famílias não possibilitam a ampliação da casa imediatamente, embora tenhamos verificado que, em algumas delas, já houve ampliação com a construção de novos cômodos, situação em que a mão de obra utilizada é a do próprio dono e/ou dos familiares.

Quadro 06: Média de m² por quantidade de moradores nas Unidades Habitacionais do

RSVI Quantidade de moradores Morador/m² 01 32 m² 02 16 m² 03 10,7 m² 04 8 m² 05 6,4 m² 06 5,3 m² 08 4 m² 09 3,5 m²

Fonte: Pesquisa de campo em fevereiro de 2014.

Elaboração própria.

Essa situação nos remeteu à leitura de Engels (1985 [1845], p. 117), que, ao mencionar os problemas oriundos do adensamento da classe trabalhadora em vilas operárias e em cortiços, afirma que, “se, em geral, a população das cidades já é demasiado densa, é a eles [aos pobres], sobretudo, que forçam a concentrarem-se num pequeno espaço”. Mesmo que essa realidade descrita se refira ao contexto europeu do Século XIX, ainda hoje é possível observá-la nas cidades brasileiras, onde se localizam as favelas, as vilas, os cortiços, e nos conjuntos habitacionais. Não por acaso, observamos que, em Patos, os locais de maior densidade habitacional coincidem com as áreas onde habitam as famílias de rendimento mais baixo (Mapas 09 e 10, p. 148 e 149).

Em relação à segunda suposição, em que afirmamos que o PMCMV tem promovido também a reprodução de outras frações do capital, além do financeiro e do imobiliário, vale salientar que alguns relatos de moradores do RSV I, somando-se ao apelo midiático88 em meio televisivo para o uso do cartão “Minha Casa Melhor”89, foram fundamentais. Essas

informações nos permitiram entender a relação que o PMCMV tem assumido com diversos capitais e nos ajuda a compreender quais os seus efeitos até à escala da UH. Também nos indica o papel cada vez mais importante desse programa na economia nacional, ao mesmo tempo em que mostra como o problema habitacional tem sido percebido, visto que, nesse caso, as péssimas condições de moradia são associadas estritamente às possibilidades de consumo de bens, e não, às dificuldades de acesso a terra e aos serviços urbanos.

Alguns moradores do RSV I nos revelaram que todos os que assinaram o contrato do financiamento da casa na CEF receberam a proposta para fazer o cartão “Minha Casa Melhor”, o que permite que o morador vá a alguma loja de móveis e eletrodomésticos, que seja credenciada no PMCMV, e compre o que considere necessário para melhorar suas condições de moradia. Muitos moradores assim o fizeram. Contudo, foram várias as reclamações feitas após a realização das compras, entre elas, uma estava relacionada à entrega dos boletos de pagamento, pois os moradores afirmaram que, na CEF, foram informados de que receberiam o boleto na própria casa. A questão é que a área ainda não é atendida pelo serviço de Correios, o que ocasionou a não entrega dos boletos por cerca de três meses (em alguns casos, por mais tempo), o que resultou no acúmulo de parcelas e, consequentemente, em juros. De acordo com os moradores, os boletos só foram entregues quando cada um que se encontrava nessa situação compareceu ao banco, solicitando a impressão e a entrega dos boletos atrasados. Até o período em que concluímos a pesquisa de campo, alguns desses moradores ainda não haviam comparecido à CEF para solicitar o boleto, justificando que, com o acúmulo de parcelas, não tinham condições de realizar o pagamento no momento, inclusive, muitos deles demonstraram ter receio de perder a casa devido ao ocorrido.

Sabemos que o problema da impressão e do recebimento do boleto poderia ser facilmente resolvido com o acesso ao site da CEF no link90 que dispõe as informações sobre o

88 Consultar o suporte eletrônico deste trabalho.

89O cartão Minha Casa Melhor é um crédito oferecido pela CEF à pessoa que comprou uma casa através do PMCMV, a ser utilizado em lojas de móveis e eletrodomésticos que estejam devidamente cadastradas no Programa. Com esse cartão, a pessoa que já adquiriu uma casa pelo PMCMV pode realizar compras no valor de até R$ 5.000,00 a ser pago em 48 meses (quatro anos). No site da CEF, pode ser encontrada a lista dos 14 tipos de móveis e eletrodomésticos que podem ser financiados.

cartão. Porém, as observações feitas pelos moradores nos indicam que eles desconheciam esse recurso.

Entendemos que a criação e a difusão do cartão “Minha Casa Melhor” inserem-se em um contexto em que a forma, o tamanho e as funções da habitação têm sido redefinidos pelas transformações ocorridas com o avanço do capitalismo. Sobre essa questão, Villaça (1986) destaca que a diversificação e a especialização cada vez maior das atividades econômicas difundidas pelo avanço tecnológico e movidas pela crescente necessidade do consumo também transformam a habitação. Assim,

[...] a habitação vem sendo crescentemente esvaziada das inúmeras funções que abrigava [...] nos primórdios do capitalismo. Assim serviços que outrora eram prestados sem servirem para extrair mais valia produzida nos setores produtivos, passam a sê-lo, e produtos que eram domesticamente produzidos como valores de uso, passaram a ser produzidos como valores de troca, como mercadorias. (VILLAÇA, 1986, p. 38)

O autor assegura, ainda, que, embora essas mudanças tenham ocorrido mais rapidamente na classe média, “processo semelhante, mesmo que por razões diversas, tende também a ocorrer nas classes subalternas” (VILLAÇA, op. cit, p. 38). Nessa perspectiva, Abramo (1986), ao discutir sobre os efeitos da mudança da acumulação concorrencial para a produção fordista nos padrões de consumo de modo geral e no acesso à terra urbana, assevera que

[...] a potencialização da capacidade de produzir bens e o crescimento da massa salarial e dos salários reais permitiu o surgimento de um mercado de consumo de massa onde a relativa estandardização dos bens permitiu produzir mais a custos mais baixos. Esse verdadeiro círculo virtuoso entre a produção e o consumo massivo de bens modificou os padrões de consumo dos assalariados com a introdução de uma quantidade significativa de novos objetos no cotidiano doméstico identificados como bens duráveis familiares. Porém, a possibilidade de acumulação familiar desses bens impunha uma modificação importante nas formas tradicionais de moradia. [Assim] O espaço da moradia deveria ampliar-se91 para obrigar a acumulação privada

de bens de consumo. (ABRAMO, 1986, p. 182, grifo nosso)

Como mostram os autores supracitados, a necessidade de consumir bens duráveis atinge o trabalhador assalariado, que vive, unicamente, de sua força de trabalho. Apesar disso,

91 O autor menciona essa necessidade de ampliação do espaço da moradia em relação aos imóveis de aluguel que foi a forma rentista predominante no capitalismo concorrencial.

sabemos que ele não tem a possibilidade de ter acesso a uma moradia condizente com essa necessidade imposta pela sociedade de consumo, já que Abramo (1986) fala sobre a necessidade de uma moradia de espaço amplo. As casas dos conjuntos habitacionais, por exemplo, que abrigam famílias mais numerosas, as quais também são inseridas nessa lógica de consumo, são construídas de maneira subdimensionada, portanto, não condizem com o padrão de consumo que passam a adotar.

Se tomarmos como exemplo a realidade pesquisada do RSV I, em que a renda mensal das famílias é muito baixa (Gráfico 02, p. 142), compreende-se que esse modo de consumir a moradia descrito por Abramo (op. cit), estimulado mundialmente e reforçado pela associação entre capital e Estado, é insustentável para a classe trabalhadora, cuja fonte de renda provém, unicamente, de sua força de trabalho, porque, nesse caso, a única forma é comprometer a renda mensal da família por um longo período de tempo, já que, tomando o caso do PMCMV, somando-se às parcelas do financiamento da casa, têm-se as parcelas do financiamento dos bens duráveis adquiridos. Entendemos que, nessa lógica, “somente os que desfrutam de determinada renda ou salário podem morar [...] em casas com certo grau de conforto” (RODRIGUES, 2001, p. 12) sem comprometer o atendimento das demais necessidades básicas.

Um fato que também nos chamou a atenção foram as reclamações de alguns moradores em relação a outros, relacionadas ao uso indevido do cartão “Minha Casa Melhor”. Segundo os relatos obtidos em campo, entre os que fizeram o cartão, alguns moradores realizaram a compra de móveis e eletrodomésticos depois de terem recebido a proposta por parte de outras pessoas para trocar esses bens por uma motocicleta. Isso nos indica que, nesse caso, obter um meio de transporte para locomoção, ao invés de equipar ou melhorar as condições de vida no interior da casa, era mais importante. O que nos remete novamente ao debate sobre acessibilidade como ponto de suma importância a ser considerado na questão habitacional.

Assim, essas questões relacionadas à escala da unidade habitacional reforçam a ideia discutida no capítulo 1 do que é o problema da habitação e de como ele é tratado, principalmente pelo Estado. Percebemos que, mesmo depois de tantos avanços na compreensão do que é esse problema, com a estruturação da PNH e suas diretrizes, bem como a criação do PlanHab, que entendem a moradia como um direito à cidade e não apenas a um abrigo, a provisão apenas da casa tem sido o principal termômetro de eficiência da atual política habitacional, através do PMCMV. Além disso, o cartão Minha Casa Melhor vem reforçar um padrão de consumo condizente com as novas formas de morar que surgem com a

diversidade cada vez maior de produtos imobiliários, mas que não condizem com a moradia e as condições socioeconômicas dos moradores de conjuntos habitacionais voltados para a população de baixa renda.

Nessa conjuntura, esquece-se que o problema da habitação, na verdade, é a cidade, pois, afinal, como afirma Maricato (2004, p. 54), “ninguém mora apenas na sua casa, mas mora na cidade. A cada unidade corresponde um pedaço de cidade. O problema da moradia é o problema da cidade, da infraestrutura, dos serviços e, em especial, do solo urbano”. Entendemos que a ação estatal desenvolvida a partir da compreensão distorcida do problema habitacional acentua as desigualdades socioespaciais, que se tornam visíveis nas diversas escalas sob as quais se pode analisar o espaço intraurbano. Esse rebatimento é resultado de processos mais gerais, principalmente quando se trata de reprodução do capital global, mas que também encontra particularidades em nível local, o que nos faz entender que os efeitos socioespaciais de um programa de alcance nacional, como PMCMV, repercute de maneira diferente nos diversos tipos de cidade, como analisamos a partir de algumas cidades paraibanas, em especial, Patos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Terminada esta pesquisa, temos a certeza de que ainda há muito a ser investigado sobre a realidade urbana de que tratamos e sobre as questões teóricas levantadas. Portanto, a conclusão deste trabalho nos proporcionou muito mais que a constatação e a análise dos processos de conformação das cidades médias, de configuração da atual política habitacional e da produção do espaço urbano da cidade de Patos. Apontou novas possibilidades de se investigar sobre esse tipo de cidade, principalmente no contexto paraibano, à medida que identificamos a atuação de diversos agentes, além do Estado e do capital imobiliário, as particularidades dessa atuação nos espaços urbanos em questão e suas implicações nas práticas socioespaciais e no espaço que produzem.

Como já foi mencionado logo no início desta dissertação, para alcançar o objetivo geral da pesquisa, que consistiu em analisar os efeitos da implantação do PMCMV na cidade de Patos referente às recentes transformações desse espaço urbano, sobretudo no que diz respeito aos espaços de moradia, o texto ora concluído foi dividido em três capítulos. Cada um foi construído com o intuito de atender a objetivos específicos, contudo, completam-se na medida em que permitem a apreensão da realidade pesquisada nos momentos históricos sobre os quais nos detivemos (período de vigência do BNH e de criação e implantação do PMCMV) e sob a perspectiva da discussão teórico-conceitual empreendida.

Apesar de a problemática centrar-se no momento atual (implantação do PMCMV), a discussão teórica desenvolvida no primeiro capítulo, por meio do debate sobre o problema habitacional e como sua compreensão regeu (como ainda rege) a ação estatal frente a esse problema, forneceu elementos para apreendermos o papel e a ação do Estado como agente produtor do espaço e subsidiou a compreensão de como se desenhou a política habitacional no Brasil, sobretudo na segunda metade do Século XX. Por meio dessa discussão, foi possível entender como se deu a produção do espaço urbano patoense nesse período e de que maneira o Estado atuou nesse processo. Para isso, foi preciso discutir não só sobre as políticas habitacional e urbana, mas também sobre as políticas de desenvolvimento regional, devido ao papel que a cidade de Patos apresentava naquela época, frente ao processo de urbanização, por causa de sua centralidade regional no sertão paraibano.

Ao analisar a produção do espaço urbano de Patos no período supracitado, considerando o modelo geográfico de crescimento dessa cidade e os fatores e agentes que influíram nesse processo, pudemos vislumbrar que estratégias permaneceram na política habitacional vigente, quais as que se modificaram ao longo do tempo e as implicações

socioespaciais das lógicas de produção do espaço, tanto as que permaneceram como as que se transformaram. Essas questões foram discutidas e analisadas nos capítulos 2 e 3.

Vale salientar que a análise desenvolvida ao longo do texto não só permitiu que entendêssemos a cidade de Patos, em particular, como também possibilitou a apreensão de um cenário que se conforma em nível nacional e que se insere no atual momento do processo de urbanização brasileira e de reprodução do capital. Nesse sentido, as pesquisas que têm se dedicado aos estudos das cidades médias têm sido muito importantes para aprofundar a compreensão do quadro que se forma. Contudo, algumas características típicas de muitas dessas cidades trazem algumas dificuldades para a realização das pesquisas acadêmicas, por exemplo, o que identificamos na/sobre a cidade de Patos, como o escasso material bibliográfico, no que diz respeito ao espaço urbano, à pouca preocupação (em alguns casos)

com o arquivamento de sua história e documentos oficiais por parte dos órgãos públicos de administração, além dos problemas relacionados à sistematização e à disponibilização de dados e informações, como os relacionados à produção habitacional.