• Nenhum resultado encontrado

Velha informalidade e informalidade pobre

No documento Direito ao trabalho na rua (páginas 63-66)

2 O MUNDO DO TRABALHO

3.3 O trabalho informal

3.3.1 O fenômeno do trabalho informal sob as perspectivas econômica, sociológica e normativa

3.3.1.1 Velha informalidade e informalidade pobre

A velha informalidade “visa a explicar a „informalidade‟ de uma economia em

transição, que gera desempregados, subempregados ou empregados „informais‟ nos centros

urbanos industrializados, muitos deles recém-migrados de áreas rurais”. (NORONHA, 2003, p. 119).

Nessa perspectiva, nos anos 1970, a informalidade foi uma circunstância constatada a partir da análise comparativa entre a situação dos países desenvolvidos, que viviam uma situação de pleno emprego, e a dos que se encontravam na periferia do capitalismo, como o Brasil, que não desfrutavam da condição salarial alcançada nos países centrais. (CASTEL, 1998). Assim, a dicotomia formal/informal tem a mesma raiz de outras, tais como centro/periferia, desenvolvimento/subdesenvolvimento, etc.

Realiza-se um raciocínio analógico para a constatação da informalidade, tendo como parâmetro as condições de trabalho alcançadas pelos EUA e por alguns países europeus, especialmente nos 30 anos gloriosos do capitalismo no século XX, que corresponderam ao curto período do Estado de Bem-Estar Social. “Nestes países do „pleno emprego‟, não havia

informalidade pois, conforme afirma Machado da Silva, admiti-lo seria perder a referência”. (DRUCK, 2011, p. 89).

A “velha informalidade” defendia o ponto de vista de que os trabalhadores informais

seriam pouco a pouco absorvidos pelo mercado de trabalho formal, na medida em que o processo de industrialização fosse se consolidando. Em outros termos, maiores investimentos

poderiam dar conta de gerar a formalização dos trabalhadores. “Os informais eram associados aos excluídos (do mercado de trabalho regulado), [...], onde a dinâmica industrial „tardia‟ e

subordinada do Brasil favorecia apenas um segmento pequeno que poderia se tornar maior

com o avanço da indústria [...]”. (DRUCK, 2011, p. 89). Como ainda lembra Druck, “nos médios e longos prazos, todos seriam „formais‟!” (2011, p. 89). “Essa era uma abordagem

típica no Brasil dos anos 1960 e 1970, a qual frequentemente classificava o trabalho informal

como subemprego”. (NORONHA, 2003, p. 118).

A explicação da “velha informalidade”, embora razoável, não parece completamente convincente no momento. Apesar de todos os investimentos que o Brasil tem recebido desde 1970, a questão do subemprego não foi resolvida, mesmo nas principais regiões metropolitanas, como é o caso de Belo Horizonte. Logo, o “processo de informalização” não parece ser algo transitório. Porém, há que se admitir que a explicação para o fenômeno da

informalidade, baseada no modelo de industrialização nacional, que se extrai da “velha informalidade”, pode nos fornecer elementos importantes para a compreensão do momento a

partir do qual o trabalho informal começou a se tornar mais expressivo nos grandes centros urbanos do Brasil.

A “informalidade pobre”, por sua vez, “inclui diversos tipos de trabalhos „pobres‟ sob o mesmo conceito, sendo, portanto, mais empírica que a „velha informalidade‟”.

(NORONHA, 2003, p.119). Noronha explica que esta abordagem parte de tentativas da OIT, como se demonstrou neste trabalho, também nos anos 1970, de “criar conceitos capazes de

incluir as „informalidades‟ dos vários países e das tentativas de se adaptar a tese da „velha informalidade‟ aos novos trabalhos precários”. (2003, p. 119).

Embora a OIT tenha reformulado sua posição sobre a informalidade, parte das suas explicações atuais sobre o conceito ainda guardam relação com a abordagem da

A informalidade explica-se também por um determinado número de outros factores socio-económicos. A pobreza limita toda a oportunidade e possibilidade real de trabalho digno e protegido. Rendimentos baixos e irregulares e, frequentemente, a ausência de políticas públicas impedem o indivíduo de investir na sua educação e adquirir as qualificações que lhe permitiriam melhorar a sua empregabilidade e a sua produtividade, e de contribuir de forma continuada para um regime de segurança social. A falta de instrução (primária e secundária), que permite ser eficaz na economia formal, e o não reconhecimento das qualificações adquiridas na economia informal constituem obstáculos suplementares à entrada na economia formal. A escassez de actividades remuneradas no meio rural compele as populações a migrar para a cidade ou para o estrangeiro e a integrar a economia informal. A pandemia do HIV/SIDA, devido à doença, à discriminação ou à morte do apoio da família, empurra famílias e comunidades inteiras para a miséria e obriga-as a enveredar por actividades informais para sobreviver. (ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO, 2006b, p. 12).

Nessa mesma linha, a OIT relaciona informalidade, pobreza e trabalho infantil:

A economia informal oferece um ambiente que favorece o desenvolvimento do trabalho infantil. O trabalho infantil, componente fundamental da economia informal, mina as estratégias de criação de empregos e de redução da pobreza, os programas de educação e de formação e as perspectivas de desenvolvimento dos países. O trabalho infantil existe igualmente nos países industrializados. A erradicação deste flagelo requer lutar contra a pobreza, garantir uma boa governação, um controlo efectivo e um melhor acesso à educação universal e à protecção social. Os parceiros sociais devem também empenhar-se e cooperar no âmbito da promoção dos direitos fundamentais e do programa que visa a integração dos trabalhos informais na economia formal. Para conseguir abolir o trabalho infantil, é essencial criar mais empregos de qualidade para os adultos. (ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO, 2006b, p. 13).

A economia informal também é uma opção concreta para as mulheres pobres:

A feminização da pobreza e a discriminação baseada em questões de sexo, idade, origem étnica ou incapacidade significam também que os grupos mais vulneráveis e marginalizados são mais susceptíveis de integrar a economia informal. Em geral, as mulheres devem conciliar múltiplas responsabilidades como garantir a subsistência da família, tratar das tarefas domésticas e cuidar dos idosos e das crianças; além disso, vêem-se confrontadas com uma discriminação em matéria de acesso à educação e à formação, bem como a outros recursos económicos. Arriscam-se, assim, mais do que os homens, a ter de optar pela economia informal. (ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO, 2006b, p. 12).

A partir da análise desses trechos, é possível constatar, como faz a OIT, uma profunda relação entre pobreza e informalidade.

No documento Direito ao trabalho na rua (páginas 63-66)

Outline

Documentos relacionados