• Nenhum resultado encontrado

3.2 EXEMPLOS DE PROPOSTAS IMPLANTADAS NO BRASIL

3.2.6 Vera Cruz – Rio Grande do Sul Programa Protetor de Água

correspondente ao pagamento ficou em R$ 329,51.

De acordo com o Grupo Boticário, no ano de 2014, dezesseis proprietários participavam do programa no município de São Bento do Sul, os quais receberam, no início do mês de junho, a parcela da premiação financeira referente às ações desenvolvidas no período.

3.2.6

Vera Cruz – Rio Grande do Sul - Programa Protetor de

Água

O município de Vera Cruz, localizado no Vale do Rio Pardo, apresenta um projeto de PSA pioneiro no Estado do Rio Grande do Sul, sendo o único reconhecido pela ANA. Tem o objetivo de preservar e proteger nascentes e matas ciliares em áreas pertencentes à sub-bacia hidrográfica Arroio Andreas37, responsável pelo abastecimento de 70% da água

utilizada no município.

A iniciativa foi lançada em 2011 contando com a participação voluntária de 67 peque- nos agricultores do município, em um total de 144 hectares a serem preservados através de ações conservacionistas. Cada agricultor recebe por ano R$ 325,00 por hectare preser- vado, mais um bônus de R$ 200,00 pela adesão ao programa, não levando em consideração a área da propriedade ou área a ser preservada38.

De acordo com Delevati et al. [75], o projeto de PSA teve início em meados do ano de 2011. Nos primeiros meses foi dado prioridade para a realização de um diagnóstico sobre a área localizada sob a bacia hidrográfica com base em visitas nas cerca de 80 propriedades

35De acordo com a Lei nº 1486, de 23 de dezembro de 2005, em seu artigo 1º, a Unidade Fiscal Municipal de São Bento do Sul corresponde a uma representação em reais de um determinado valor servindo como parâmetro ou elemento indicativo para o cálculo de tributos, créditos tributários, administrativos e fiscais, multas ou penalidades de qualquer natureza, sendo seu valor atualizado de acordo com o Índice Geral de Preços Médios – IGP, divulgado pela fundação Getúlio Vargas, sempre no mês de janeiro, com base no percentual que corresponde à variação acumulada deste índice nos 12 meses anteriores.

36Em julho de 2015, conforme Decreto Municipal nº 1002, de 01 de julho de 2015, o valor de cada UFM no Município de são Bento do Sul corresponde a R$ 3,4794.

37A sub-bacia do Arroio Andréas pertence à Bacia Hidrográfica do Rio Pardo, representando uma área total de 86,66 Km², em uma extensão de 21 Km, dos quais, 10,17 hectares são de área alagada e 127,25 hectares representam Áreas de Preservação permanente ao longo do Arroio Andréas, tendo um déficit de mata ciliar estimado em 57%.[75]

CULTURA VALOR/HA/ANO

Tabaco R$ 10.000,00

Milho R$ 1.500,00

Arroz R$ 2.250,00

Estimativa de custo de oportunidade a partir da margem líquida de 20%

Tabaco R$ 2.000,00

Milho R$ 300,00

Arroz R$ 450,00

Tabela 3.13: Valores utilizados para calcular o custo de oportunidade das áreas agrícolas do município de Vera Cruz.

Adaptado de [75]

que fazem parte do território. Foram encontradas em torno de 150 nascentes, sendo algumas classificadas como perenes39, mas, a maioria delas, classificadas como nascentes

intermitentes40.

Depois do diagnóstico, foram definidas as áreas estratégicas para a produção de água a serem incorporadas ao projeto e passou-se a negociar com os proprietários quais as áreas que deveriam ser preservadas. Por se tratar de pequenas propriedades, nem sempre os produtores apresentam-se interessados em aderir, devido, principalmente a esta área representar boa produtividade, necessitando de negociação sócio- ambiental para que a adesão seja voluntária [75].

Na segunda etapa houve o cercamento das áreas de interesse para evitar o acesso de animais e, consequentemente, a contaminação da água e degradação da área e, quando a propriedade apresenta diferentes pontos com mananciais, são feitos passadores para que os animais dos proprietários possam circular em busca de água [75].

Delevati et al. [75] destaca que o custo de oportunidade da utilização dessas áreas rurais pode ser estipulado a partir da renda gerada pela lavoura de tabaco, milho e arroz, pois são estas as predominantes e representam as principais atividades agrícolas geradoras de renda. Partindo-se da renda bruta média do município em relação a cada uma dessas culturas agrícolas e estipulando-se uma margem líquida por hectare sobre a renda bruta gerada de 20%, chegou-se a um custo de oportunidade utilizado para valorar os serviços ambientais e fazer o pagamento para os agricultores. Estes valores estão representados na Tabela 3.13.

Ao se chegar a estes valores, observa-se que o potencial agrícola para o cultivo do tabaco é bastante alto, tornando o custo do projeto também elevado e inviabilizando a incorporação dessas áreas. As áreas para o cultivo de arroz também apresentam custo elevado, porém ainda é possível utilizá-las, desde que sejam como áreas de conservação aquelas consideradas estratégicas ou necessárias para o bom andamento do projeto e não

39Nascentes perenes são as que, de modo geral, se manifestam durante o ano todo, porém com sua vazão variando ao longo dos meses.[76]

40Nascentes intermitentes são as que fluem apenas durante a estação chuvosa e secam durante a estação seca.[76]

muito extensas. Já o custo de oportunidade das áreas que apresentam potencial para a produção de milho é bem menor, ficando em torno de R$ 300,00 ha, mas não podem ser utilizadas para a produção de tabaco, ou o custo aumenta [75].

De acordo com os autores, as áreas com características inapropriadas para atividades agrícolas, como as que têm muita declividade ou são alagadas, apresentam um valor inferior aos R$ 300,00/ha. Assim, estabeleceu-se como preço final um valor de R$ 325,00 para cada hectare preservado e, como forma de incentivo aos que aderiram ao programa no seu primeiro ano, um valor de R$ 200,00 no momento da adesão, independente da área a ser preservada em sua propriedade.

Delevati et al. [75] aponta que pode-se utilizar também o cálculo de valoração que varia em função da presença, do tamanho/idade ou do cuidado com florestas nativas ou plantadas no entorno das nascentes como uma forma de complementação ao valor total a ser pago. De acordo com o percentual de restauração necessário, esse valor poderia representar um acréscimo de R$ 25,00/ha, R$ 50,00/ha, R$ 75,00/ha, R$ 100,00/ha ou R$125,00/ha. Este último valor para os casos onde há a presença de florestas nativas adultas que se encontram preservadas e onde não se tem gastos com o custo de restauração, apenas com a construção das cercas.

Para os autores, podem ser incluídas no cálculo as seguintes variáveis:

1 – Declividade: acréscimo no preço para áreas com maior declividade;

2 – Risco de erosão: acréscimo no preço quanto maior for à diferença entre o risco de erosão antes e depois da aplicação da prática conservacionista (de proteção ao solo ou a nascente). Adicionalmente, também poderá ser uti- lizado o critério de abatimento (grau antes e depois) de risco de erosão variando de 1 (mínimo) a 10 (máximo), utilizado principalmente para locais com cultivo e/ou pas- tagens e/ou áreas degradadas [75].

Para Delevati et al. [75], a grande variabilidade em relação a área a ser preservada e ao valor a ser recebido, se deve ao tamanho das propriedade e das áreas que o proprietário considera apta a “abandonar”. As áreas onde há lavouras ou potreiros são difíceis de nego- ciar, além disso, no Brasil não há uma legislação relacionada diretamente ao pagamento por serviços ambientais. Isto fez com que os pagamentos, para serem realizados, tiveram que ser vistos através do modelo prestador de serviços. Modelo este convencionalmente aceito, incidindo taxas de imposto de renda e do Instituto Nacional da Previdência Social. Mesmo sabendo-se que o PSA não apresenta nenhuma relação com prestação de serviços, foi à maneira encontrada para driblar a burocracia e efetivar o pagamento.

Para o início do programa, a equipe técnica selecionou cinco nascentes consideradas estratégicas e que apresentavam necessidade imediata de recuperação. Estas se encontra-

vam sem condições para a utilização humana e, mesmo assim, representavam as únicas fontes de abastecimento para as propriedades [75].

A partir de uma avaliação feita do projeto, percebe-se que houve alguns avanços. Em 2011, quando se realizou o diagnóstico preliminar para sua implantação, 44% dos pontos avaliados apresentavam águas pertencentes as classes 1 e 2, consideradas de melhor qualidade para o consumo, inclusive humano. Já no início de 2015, a partir de análises laboratoriais da água captada nos mesmos pontos, houve um aumento de qualidade que chegou a 70% , sem falar na conservação das nascentes e matas ciliares41.

O projeto, em sua primeira fase, foi financiado pela Fundación Altadis, entidade ligada a Empresa Imperial Tobacco e Universal Leaf Tabacos, promovendo a preservação de 127,25 hectares de área42. Depois de cinco anos de implantação e com o encerramento do ciclo

inicial, o projeto teve sua eficiência comprovada através de uma avaliação conduzida por Dionei Minuzzi Delevatti, professor da Universidade de Santa Cruz do Sul, e por técnicos da empresa Universal Leaf. O projeto será implementado com a participação de novos parceiros e seu escopo ampliado através da inclusão de ações que visam também a conservação do solo.

O Projeto Protetor de Águas passou a ser considerado como uma política pública de pagamento por serviços ambientais pela Prefeitura de Vera Cruz e pela ANA em 2015. Como forma de reconhecimento de sua importância, a prefeitura criou uma lei que isenta os proprietários participantes do projeto do pagamento da tarifa de água. Para continuar a receber este benefício, devem continuar com as ações conservacionistas, verificadas através de vistoria anual nas propriedades43.