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6.2 PROCESSOS GERENCIAIS EMPREENDEDORES

6.2.1 Visualizar

Segundo Filion (1991), visão é definida como a imagem projetada no futuro do espaço de mercado a ser ocupado pelos produtos e o tipo de organização para

2 Atividades que a empresa executa particularmente bem e que contribuem para os aspectos que criam valor de uma vantagem competitiva.

se alcançar isso. O interesse do empreendedor em um setor de negócios específico pode ter origem em fontes diversas. Ele é provocado por um dos três níveis de relações (primária, secundária e terciária). Quanto mais novo for o empreendedor no início do processo, maior será a influência do ambiente familiar (relações primárias).

Quanto mais velho for o empreendedor, maior será a influência dos contatos com o meio de negócios (relações secundárias) ou da experiência prévia e das atividades de aprendizagem, freqüentemente ligadas ao trabalho (relações terciárias) (FILION, 1989). No processo de construção da visão, o interesse em uma área em particular é um tanto vago, mas tende a tornar-se mais claro com o passar do tempo.

Filion (1989) também cita que quanto mais completo for o conhecimento do empreendedor e, ainda, sua imagem e entendimento de um setor de negócios, tanto mais realista será sua visão. É difícil visualizar um nicho de mercado a ser ocupado no futuro sem um claro entendimento dos espaços já ocupados por outros no setor.

Pelo menos seis elementos estão envolvidos nesse processo: a capacidade intelectual e o nível de instrução do empreendedor, a posição ocupada quando a informação foi adquirida e a razão desta aquisição, o quanto o empreendedor conhece o setor e, finalmente, o tempo gasto para se inteirar sobre o setor. Sobre este último item, normalmente os empreendedores mais novos e menos experientes necessitam de mais tempo para entender como o setor funcionava.

Seguindo esta base teórica, verifica-se que a empresa Alfa apresentou fortes influências de relações secundárias de negócios, pois a totalidade dos empreendedores já habitava a região e praticava de forma isolada o seu negócio. O principal motivo que impulsionou os empreendedores pioneiros na região a se dedicarem à horta convencional está ligado mais a questões de subsistência do que implantação organizada, com cunho capitalista. O processo de visualização do novo modelo de horta orgânica foi desenvolvido pela SPVS e seus parceiros. No início dos processos, os empreendedores não tinham muita noção dos benefícios que este tipo de horta poderia propiciar, mas à medida que as comunidades passaram a se organizar e o projeto começou a ganhar corpo, o processo de visualização tornou-se bem mais claro. Para a SPVS, a iniciativa foi muito benéfica, pois auxiliou seus objetivos de desenvolvimento sustentável na região, e para os empreendedores também acabou tornando-se um processo muito positivo, pois passaram de um

modelo de subsistência bem extrativista para um modelo cooperado e empresarial, que opera de forma mais organizada e com melhor visão de futuro.

Levando em consideração os conhecimentos individuais dos empreendedores da região, verifica-se que o grau de escolaridade é bastante reduzido, derivado do fato de não existir uma tradição familiar de enviar filhos para estudar em centros maiores, pela limitação financeira de poder pagar estes estudos, pelo fato de os filhos ajudarem nos trabalhos operacionais desde o início da adolescência e também em virtude da localização das comunidades, que estão afastadas dos grandes centros educacionais. Neste aspecto, é importante salientar que a falta de educação formal abre espaço para uma educação prática, conhecendo desde cedo as potencialidades e peculiaridades da região, pois muitas das culturas nativas tinham seus conhecimentos transmitidos entre pais e filhos. A idade média dos empreendedores comunitários da região é bem variada, pois muitas vezes atuam mais de um membro da mesma família.

No caso dos três empreendedores que se associaram e praticamente comandam o negócio de horta orgânica na região, a idade é um diferencial, pois são filhos de antigos moradores da região que aprenderam na prática as principais técnicas de cultivo e também não apresentam uma educação formal, tomando decisões baseadas em experiências próprias e de membros mais antigos da comunidade. Segundo as respostas do instrumento de coleta de dados, os empreendedores ainda não têm uma noção muito clara do futuro deste tipo de mercado, pois nitidamente a humanidade caminha para situações mais focadas em sustentabilidade. Mas será que todos efetivamente podem pagar o preço por produtos diferenciados ou vai ser apenas um modismo de mercado?

No caso da empresa Beta, a influência dos negócios pode ser caracterizada como relações secundárias, por se tratarem de empreendedores com muita experiência e conhecimentos sobre plantação e processamento de bananas. Cabe salientar que estes empreendedores detinham conhecimento a respeito da plantação nativa de bananas nativas da região, mas ainda não tinham visualizado o mercado de banana orgânica. Da mesma forma que o estudo de caso da empresa Alfa, já existia empreendimentos na região, mas de caráter familiar, voltado à cultura

extrativista do produto, sem qualquer resquício de planejamento estratégico, recursos humanos ou outras ferramentas de gestão. Existe uma diferença entre o nível de instrução dos empreendedores que participam das cooperativas de produtores em relação aos gestores do negócio. Os empreendedores que trabalham em sistema cooperativado apresentam, de um modo geral, baixo nível de instrução formal, mas também aparecem casos de empreendedores que efetuaram curso técnico em áreas que poderiam auxiliar os negócios na região. Os empreendedores da indústria de processamento de banana apresentam uma situação escolar mais privilegiada, pois um dos sócios é técnico em Contabilidade e o outro sócio é graduado em Administração de Empresas. Outro aspecto interessante é que estes empreendedores conhecem com profundidade a região, o que facilita uma análise ambiental mais profunda das potencialidades do negócio.

Os empreendedores também têm uma visão de futuro em relação ao mix de produtos comercializados, principalmente pelo fato de abastecer o mercado europeu, que é extremamente exigente em relação às normas de qualidade e padronização.

O estudo de caso da empresa Gama demonstra que as atividades de aprendizagem estão ligadas diretamente à experiência prévia e ao trabalho, característicos de um modelo de relações terciárias, pois a maioria dos apicultores da região aprendeu o ofício com seus pais ou parentes próximos. A identificação do setor de negócios ocorreu em função das características propícias da região e também pelo baixo valor de investimento necessário para o início do empreendimento. Os empreendimentos iniciais, similares aos outros casos, também eram caracterizados por pequenas unidades produtivas isoladas e de caráter familiar, que trabalhavam com mais de uma espécie de abelha e praticamente todas com ferrão. O mel produzido destinava-se à venda nas estradas e pequenos estabelecimentos da região, mas não conseguia desenvolver-se no mercado por inúmeros fatores: baixo volume, gestão completamente familiar e de porte muito reduzido, produto final de qualidade similar ou inferior aos concorrentes. A região ainda é caracterizada pela produção artesanal dividida em pequenas unidades, porém, o que mudou é o fato de atualmente existir uma cooperativa de produtores

que centraliza a produção para envio à unidade produtiva local, que envasa, rotula e distribui os produtos para mercados de pequeno porte na região.

Outro aspecto que mudou muito em relação à produção artesanal anterior foi a padronização da espécie de abelha para polinização, sendo utilizada abelhas sem ferrão, em um processo denominado melipolicultura. Esta oportunidade de negócios nasceu a partir do apoio de entidades como a SPVS, que forneceram treinamentos e orientações de como proceder na implantação do novo negócio. A estimativa atual é de um produto com ciclo de vida elevado, em virtude de ser um produto ecologicamente correto e de qualidade superior.

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