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A tentativa de conceitualização das Representações Sociais

CAPÍTULO II: FORMAÇÃO PEDAGÓGICA E DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE

2.3. Teoria das Representações Sociais: primeiras aproximações

2.3.3. A tentativa de conceitualização das Representações Sociais

Uma das principais colaboradoras de Moscovici é a psicóloga Denise Jodelet, de quem tomamos a definição de representações sociais:

é uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, com um objetivo prático, e que contribui para a construção de uma realidade comum a um conjunto social. Igualmente designada como saber de senso comum ou ainda saber ingênuo, natural, esta forma de conhecimento é diferenciada, entre outras, do conhecimento científico. Entretanto, é tida como um objeto de estudo tão legítimo quanto este, devido à sua importância na vida social e à elucidação possibilitadora dos processos cognitivos e das interações sociais (JODELET, 2001, p. 22).

Diante disso, percebemos o lugar de centralidade que o conhecimento do senso comum ocupa no campo da Teoria das Representações Sociais. Este saber não é considerado menor, inferior, ilegítimo, mas um gérmen do pensamento científico. A perspectiva é que a ciência parta do senso comum para o desenvolvimento científico e, por conseguinte retraduza este conhecimento em saber popular, do senso comum (SOUZA SANTOS, 2010).

Moscovici enfatiza a importância de se conhecer as representações sociais dos grupos:

Sem conhecer as raízes do pensamento dos grupos e, por conseguinte, dos sujeitos – o que remete à sociedade como um todo e seus múltiplos recortes – torna-se impossível chegar à compreensão do seu processo de construção da realidade, de elaboração do conhecimento na vida diária (ARRUDA, 2009, p. 746).

Mediante estudo das representações sociais é possível conhecer-se o cotidiano das pessoas, os contextos nos quais vivem e se constituem. Na TRS o social é inseparável e indistinguível do indivíduo, constituindo-se assim num todo híbrido, que Arruda (2009) intitula individuossociedade. Continua a autora, declarando que

“as pertenças das pessoas se atravessam, se articulam e negociam entre si”

(ARRUDA, 2009, p. 748 – 749).

Para Moscovici, é impossível se separar as coisas, as dimensões psicológicas e sociológicas dos fenômenos. De onde os fatos sociais para serem investigados

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necessitam recorrer às noções psicológicas, como também as teorias sociais lançam mão dessas noções, embora não reconheçam isto (ARRUDA, 2009).

No entanto, objetividade e subjetividades são dois elementos que interagem de forma solidária na constituição do fenômeno (ARRUDA, 2009), o que mais uma vez confirma que a TRS está condizente com um paradigma científico, colocado para além das falsas dicotomias que articula e reconhece as diferentes modalidades do saber, em especial aqueles saberes que são construídos na relação dos sujeitos sociais com o mundo.

A adoção da Teoria das Representações Sociais, no ato de desvelar a realidade das relações estabelecidas entre o setor/serviço da assessoria pedagógica nos processos de desenvolvimento profissional de professores da educação superior, que atuam numa faculdade privada do estado da Bahia, justifica-se pela condição do campo teórico, ao se reconhecer a TRS como uma teoria do senso comum e do conhecimento do cotidiano (RATEAU, 2012).

A despeito da assunção da condição de teoria do senso comum adotada pela TRS, destacamos a sua vocação pelo estudo da realidade social. Assim, a representação social é germinada pela necessidade dos indivíduos e grupos entenderem e explicarem o mundo ao seu redor. Tal realidade é constituída por inúmeras situações e eventos, bem como por uma diversidade de indivíduos e grupos (RATEAU, 2012).

Isto porque, nós somos a todo o tempo solicitados a decidir e opinar sobre situações e fatos cotidianos. O esforço feito pelos indivíduos e grupos é na direção de tornar o não-familiar, familiar, fazendo frente ao desconforto das pessoas quando são perguntados sobre algo ou alguma coisa que não conhecem e não têm opinião formada à respeito de determinado fenômeno (RATEAU, 2012).

Rateau (2012) assevera acerca de como as representações sociais são formadas.

Para o autor, desde muito cedo somos compelidos a assimilar uma maneira de ver o mundo e a elaborar uma visão particular das coisas, trabalho exercido pelas instituições sociais. Por este processo, adquirimos e transmitimos “conhecimentos, crenças e valores que nos permitem compartilhar uma concepção comum das coisas e dos outros” (RATEAU, 2012, p. 02).

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Então, os estudos referentes à maneira como uma teoria científica é retraduzida em uma teoria do senso comum, dar-se-á através da investigação das representações sociais que indivíduos e grupos constroem no sentido de transmutar o não-familiar, em conhecido, em familiar (RATEAU, 2012). No caso particular desta investigação, o esforço feito por professores de uma faculdade privada do estado da Bahia em conhecer e compreender a proposta do setor/serviço de assessoria pedagógica e o seu trabalho na direção do desenvolvimento profissional dos professores da educação superior.

Em se tratando da compreensão da TRS como uma teoria do conhecimento cotidiano, o autor declara:

Antes de ser uma teoria da crença ou da opinião, a TRS é, antes de tudo, uma teoria do “senso comum”, uma vez que contabiliza a maneira pela qual o senso comum é formado, como é estruturado e como se liga às preocupações e à inserção social das pessoas que o utilizam (RATEAU, 2012, p. 13).

Por ser uma teoria que se debruça e elege como matéria de análise o senso comum, a TRS carrega consigo um elemento de centralidade, o conhecimento cotidiano. Daí, a teoria ser frequentemente aplicada à comunicação, pelo que os sujeitos e grupos dizem a respeito de determinado fato, fenômeno, conceito. Além disto, o autor trata as relações entre representações e comportamento, à medida que o senso comum age como guia de quantidade considerável de comportamentos e interações cotidianos, realizadas pelos indivíduos em contexto sociais, de grupo (RATEAU, 2012).

Por fim, o autor justifica a compreensão da TRS como teoria do conhecimento cotidiano quando revela que o estudo das representações sociais se constitui numa forma de conhecermos o que está por detrás de decisões e comportamentos dos indivíduos e grupos. Conhecer as motivações dos indivíduos e grupos na tomada de decisões e na expressão de determinados comportamentos possui lugar de centralidade nos estudos desenvolvidos pela Teoria das Representações Sociais (RATEAU, 2012).

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