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Conceito de assessoria pedagógica

CAPÍTULO III: O CAMINHAR METODOLÓGICO DA INVESTIGAÇÃO

4.3. O papel da Assessoria Pedagógica no desenvolvimento profissional dos professores

4.3.1. Conceito de assessoria pedagógica

Recentemente, temos observado uma preocupação crescente, das instituições de educação superior e dos pesquisadores das áreas da Didática e da Pedagogia Universitárias, em discutir a formação pedagógica dos docentes do magistério superior. Esta situação tem sido provocada pelas novas exigências feitas ao ensino universitário e à prática dos professores da educação superior, no tocante à docência.

Consideramos que a formação pedagógica dos professores da educação superior está na ordem do dia, nos programas das instituições, nas políticas públicas, nas publicações da área. Neste estudo, investigamos o papel desenvolvido pela assessoria pedagógica em atividades de formação pedagógica de professores da educação superior, tomando-a como referente ao desenvolvimento profissional.

Neste veio, consideramos oportuno conhecer as representações dos professores da faculdade sobre o conceito de assessoria pedagógica e o papel protagonizado pela ASPED na formação pedagógica dos docentes da IES investigada.

A respeito do conceito de assessoria pedagógica, os professores depuseram:

É um órgão, uma unidade intermediária entre uma coordenação pedagógica, uma diretoria, mas não uma diretoria administrativa e sim uma diretoria de ensino e o professorado, que é quem está na base do ensino (Clara).

Um ponto de apoio, o espaço que o professor tem para estar trabalhando as suas questões, as suas dificuldades. Lógico que não dá para ser algo tão individual, é uma assessora pedagógica para a faculdade toda, mas dá um suporte bom assim, é um lugar que você tem para recorrer diante de alguma dificuldade (Lívia).

A professora Clara diz que a assessoria pedagógica funciona como uma instância intermediária entre a diretoria de ensino e o professorado. Clara faz questão de destacar que quando ela se refere à direção da faculdade, ela não está se referindo à direção administrativa, mas sim, à direção de ensino. Em seu depoimento, a docente parece sugerir que a direção administrativa da faculdade não se envolve

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com as questões pedagógicas e acadêmicas. A depoente ainda declara que o professorado é quem está na base do ensino.

A professora Lívia objetiva a assessoria pedagógica como um “ponto de apoio”, um local aonde os professores vão buscar subsídio para as suas dúvidas e solicitar apoio no gerenciamento dos conflitos em sala de aula. A depoente se refere à ASPED como um local de atendimento individualizado, e acha que também precisa ser coletivo, revelando aparente contradição em sua representação, indicando que nesse processo de mudanças, as respostas dos sujeitos sociais aparecem de forma coerente, completa, mas, muitas vezes, prenhes de contradições, como indicam Aguiar e Ozella (2013).

Fica forte no depoimento da professora que ela percebe a ASPED como um suporte, um apoio a quem se pode recorrer em momentos de dificuldade. Destaque para a questão de que a professora, em nenhum momento, cogita a possibilidade de a ASPED atuar no desenvolvimento profissional dos docentes da faculdade, pela a promoção de atividades de formação pedagógica.

As representações das professoras Clara e Lívia concordam com a definição de assessoria pedagógica proposta por Lucarelli (2002), quando considera o assessor pedagógico como “Ator-chave nas ações de supervisão, entendidas estas não como formas de fiscalização, mas como formas de orientação, apoio ou ajuda às práticas cotidianas dos docentes” (p. 140). Ao cotejarmos os depoimentos das professoras com a perspectiva de Lucarelli (2002) fica evidente a atuação da assessoria pedagógica como espaço de interlocução, de negociação, de escuta, de apoio, de aconselhamento.

Considerando a centralidade dos fenômenos da ancoragem e objetivação na Teoria das Representações Sociais, constructo teórico a partir do qual nos propomos a realizar esta investigação, captamos as representações dos professores depoentes.

Uma depoente relata a sua representação de assessoria pedagógica, demonstrando um evidente movimento de ancoragem:

Eu vejo a assessoria mais ou menos com um RH de uma empresa, assim sabe? Porque você fica entre gestores maiores, os coordenadores

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e os professores e você está ali, intermediando essas relações. Então tem muita coisa que vêm de cima para baixo. Então você tem que fazer desse jeito, mesmo sabendo que isso desagrade ou você já sabe que isso não vai funcionar, porque você já conhece um pouco dos seus professores, dos seus coordenadores (Lívia).

A professora Lívia descreve o serviço da assessoria pedagógica da faculdade como o setor de recursos humanos de uma empresa, atribuindo à ASPED o papel de intermediador das relações entre professores, coordenadores e “gestores maiores”.

Lívia se refere às deliberações que vêm “de cima para baixo”, cabendo à assessoria pedagógica acompanhar a implementação das deliberações, mesmo reconhecendo que algumas delas não são compatíveis à realidade da instituição, conforme relato da depoente.

A professora Lívia, continua, falando que algumas dessas deliberações, que vêm “de cima para baixo” e ficam a cargo do acompanhamento da ASPED, algumas vezes, são medidas que desagradam o coletivo de professores e coordenadores de cursos e que as assessoras, de antemão, já sabem que “não vão funcionar”, mas mesmo assim, colocam-se na interlocução entre a instância administrativa e a esfera acadêmica e pedagógica da faculdade.

Quanto às tentativas de objetivação, do papel desempenhado pela assessoria pedagógica da faculdade, os professores revelaram: a “ASPED como a mão direita”, conforme declarado por Tiago e “como um recheio do sanduíche”, manifestado pela professora Lívia. As duas formas de objetivação da assessoria pedagógica nos remetem à identificação da ASPED como uma instância que intermedia, realiza a interlocução entre os diversos sujeitos que constituem e protagonizam as vivências nas instituições de educação superior.

Consideramos necessário reafirmar o que já dissemos anteriormente, a respeito do papel da assessoria pedagógica no desenvolvimento profissional de professores da educação superior, destacando a imprescindibilidade desse serviço abandonar as práticas espontaneístas e amadoras, avançando na direção de uma atuação conscientemente intencional, planejada e profissionalizada (CUNHA, 2014).

Além disso, faz-se necessário enfatizar que a constituição e o papel da assessoria pedagógica em instituições de educação superior é um tema bastante controverso, incorporando diferentes conceitos e perspectivas de ação. Essa situação ganha

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relevo ao pensarmos sobre a relação que, historicamente, as instituições de educação superior e os professores dos graus mais elevados de escolaridade mantiveram com a Pedagogia e a Didática. Ademais, a docência universitária só recentemente, vem recebendo a atenção que necessita ao ser considerada uma profissão que enseja conhecimentos específicos para o seu exercício. É deste lugar que nos propomos a analisar o objeto em epígrafe.

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