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As TDIC no Ensino Superior a Distância

CAPÍTULO 1 AS TECNOLOGIAS E A MÚSICA

1.2 As TDIC no Ensino Superior a Distância

Neste tópico discuto o uso das principais TDIC no ensino superior à distância. O modelo de EaD a ser analisado aqui será o do Curso de Licenciatura em Música da UEMA, ligado à Universidade Aberta do Brasil (UAB). Segundo o site da MEC, o programa UAB busca ampliar e interiorizar a oferta de cursos de graduação e pós- graduação, por meio da EaD. A prioridade do programa e o de oferecer formação aos professores em exercício na educação pública, que ainda não possuam uma graduação, além de oferecer a formação continuada aos já possuem, e ofertar cursos a gestores e outros profissionais da educação pública. Um outro intuito da UAB é reduzir as desigualdades na oferta de cursos de ensino superior, além de desenvolver um amplo sistema nacional de educação superior na modalidade EaD. A UAB possui polos espalhados por todo o Brasil, que auxiliam o desenvolvimento de atividades pedagógicas online e presenciais. Nesses polos os discentes podem ter contato com os tutores e professores, além de ter acesso a bibliotecas, laboratórios de informática e de ciências.

Uma das principais propostas da Universidade Aberta do Brasil é formar professores e outros profissionais da educação nas áreas da diversidade. O foco é a disseminação e o desenvolvimento de metodologias educacionais de inserção dos temas de áreas como educação de jovens e adultos (EJA), educação ambiental e patrimonial, educação para os direitos humanos, para as relações étnico-raciais, e orientação sexual, temas presentes no cotidiano atual do ensino público e privada.

O termo “digital” refere-se, de forma geral, à tecnologia de transmissão, recepção, processamento e armazenamento de dados que se utiliza de valores binários discretos (descontínuos). A lógica binária consiste no fato de que toda informação é convertida no formato de dois dígitos, sendo estes 0 (zero) ou 1 (um). É daí que surge a denominação

“digital”, isto é, que provém de dígitos. Sendo assim, a “Tecnologia digital” corresponde a um conjunto de tecnologias que permite, principalmente, a transformação de qualquer tipo de informação em linguagem binária, isto é, em zeros e uns (0 e 1). Entretanto, o

“digital” não é apenas uma ação binária, pois o conceito perpassa a mudança de ações, valores, comportamentos etc. Nesse contexto, teorias da informação, avanços na

38 cibernética e na área da programação, seguidos por inúmeros fenômenos sociais, políticos e artísticos, se tornaram aspectos fundamentais para o surgimento de uma nova cultura, predominantemente digital.

Neste estudo, o que interessa realmente são as Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDIC). Segundo os autores Soares, Bueno, Calegari, Lacerda e Dias (2015), as TDIC são uma gama de tecnologias digitais que possibilitam, a partir de equipamentos, softwares e mídias, a associação de diversos ambientes virtuais e sujeitos em redes online, facilitando a comunicação e interação entre os indivíduos, ampliando as ações e possibilidades já garantidas pelos meios tecnológicos.

A digitalização de conteúdos analógicos foi possível pelo microprocessamento, facilitando que diversos tipos de “mídias” assumissem o formato digital. Isso permitiu que distintos conteúdos na sua forma física, funcional e estética funcionassem em conjunto, tornando possível discutir conceitos contemporâneos de multimídia, como o hipertexto, por exemplo.

Vários foram os acontecimentos históricos que possibilitaram uma série de infraestruturas da comunicação, da informação e do ciberespaço. Essas infraestruturas definiram várias fases até os dias atuais. As formas de relações do ser humano com as máquinas digitais trouxeram consigo inúmeras mudanças no modo como o homem se relaciona com a informação, a comunicação e o conhecimento. Mas à frente irei discutir sobre a cultura digital e a sua relação com a Música.

Vale ressaltar que a EaD, no início, utilizava outros meios, como os materiais impressos, correio, VHS, televisão etc. Para esta pesquisa, Educação a Distância ou EaD é uma modalidade de educação mediada por tecnologias em que discentes e docentes estão separados espacial e/ou temporalmente, ou seja, não estão fisicamente presentes em um ambiente presencial de ensino-aprendizagem (MORAN, 2002).

Em geral, o material físico impresso nos cursos EaD não existe, já que o mais comum é o uso de ebooks e hipertextos. Ebook, livro digital ou livro eletrônico é um formato digital, semelhante a um livro, que pode conter ilustrações e textos. O termo se refere a textos que agregam, além do texto propriamente dito, outras formas de informação, como imagens, áudios, vídeos ou mesmo outros textos complementares. Isso se dá através de links e referências específicas, os quais, no ambiente digital, são chamados hiperligações. Estas aparecem destacadas no corpo do texto principal e possuem a função de interconectar e completar as informações. Segundo o filósofo e sociólogo estadunidense Ted Nelson (1973), a ideia de “linkar”, isto é, “ligar” textos foi

39 criada em 1960 pelo próprio Theodor Holm Nelson, tendo sido influenciada pelas ideias do sociólogo e filósofo francês Roland Barthes.

É lido em equipamentos eletrônicos como computadores, tablets, celulares e leitores de livros digitais, incluindo o Kindle, por exemplo. Geralmente, esses ebooks são de autoria ou organizados pelos próprios professores que ministram as disciplinas.

Costumam condensar, cronologicamente, todo o conteúdo a ser abordado pelo docente.

Os ebooks podem ser escritos no formato tradicional, isto é, com texto ou texto com ilustrações, ou podem apresentar o formato hipertexto.

Dentre as TDIC, encontramos dois grandes grupos, as síncronas e as assíncronas.

Segundo Silvério (2018), as ferramentas digitais síncronas são aquelas em que ocorre a interação entre os sujeitos em tempo real, ou seja, no mesmo instante e no ambiente virtual. Logo, os sujeitos devem estar conectados no mesmo momento e interagindo entre si. Diferentemente das ferramentas síncronas, as ferramentas assíncronas são, segundo o autor, aquelas desconectadas do momento atual, isto é, não necessitam que os sujeitos estejam conectados ao mesmo tempo e interagindo entre si em tempo real, pois a interação se dá em diferentes momentos para cada sujeito. São exemplos de ferramentas de comunicação assíncronas as videoaulas, fóruns, blogs e e-mails.

As videoaulas não são uma novidade da atualidade, já que elas são utilizadas desde 1980. Vale a pena lembrar das videoaulas do Telecurso Segundo Grau, programa transmitido pela TV Educativa e que tinha como foco ensinar as disciplinas do atual Ensino Médio. Já nos anos de 1990 houve uma explosão das videoaulas dos mais variados temas. Estas eram comercializadas no formato VHS e assistidas no aparelho de videocassete. Posteriormente surgiu o formato digital DVD. As videoaulas usadas atualmente no Ensino Superior têm como novidade o fato de não necessitarem de uma mídia física, considerando que elas são produzidas, armazenadas e compartilhadas em formato digital, em geral no formato MP4. Uma grande vantagem desse formato de armazenagem e compartilhamento é o fato de o aluno poder assistir a videoaula no dia e horário que lhe for mais conveniente, além de poder parar, retomar e assistir ao conteúdo quantas vezes desejar, bastando apenas estar conectado à internet, não necessitando fazer o download do conteúdo.

Outra ferramenta assíncrona muito popular nos cursos superiores a distância é o chamado “Fórum” ou “Fórum de Discussão”. Este nada mais é que uma espécie de chat temático, pelo qual o professor da disciplina propõe um tema. Geralmente, é proposta uma discussão sobre alguma problemática. É comum o fórum possuir um enunciado, que

40 contextualiza o problema, e terminar com uma questão, geralmente em forma de pergunta, que deve ser comentada, debatida e discutida por todos os alunos da disciplina. Resta lembrar que o chat é uma forma de comunicação digital a distância que utiliza dispositivos conectados à internet. No chat, mensagens são postadas e ficam disponíveis para a leitura de todos os participantes. É possível interagir respondendo ou comentando as postagens, ou mesmo publicando novas mensagens. Além disso, também é possível compartilhar links de páginas da internet, com textos, áudios ou vídeos. Aqui é importante comentar que, no modelo de EaD da UAB, apesar do professor da disciplina (professor conteudista) ser capaz de ler e interagir com os alunos, isso, geralmente, não ocorre. É mais comum, nesses casos, termos a figura do tutor interagindo com os alunos. Segundo Godoy (2020), diferentemente do professor conteudista, o tutor não é responsável pela formulação do conteúdo do curso, mas é a figura que auxilia os alunos no que for necessário. Na prática, o tutor é aquele que tira dúvidas e é responsável por manter os alunos motivados dentro do fórum. No intuito de alcançar essa motivação, o tutor precisa ficar atento à participação e interação dos alunos.

É papel do tutor incentivar a participação dos alunos, além de fomentar a discussão amigável e respeitosa no interior do fórum, fazendo links entre os comentários dos discentes, promovendo a interação e, em especial, procurando incentivar a cooperação e a colaboração dos participantes na construção coletiva do conhecimento em torno da questão principal e da temática proposta. É importante dizer que esse tipo de organização da EaD vai depender de cada IES. Na UAB existem as figuras do tutor e do professor conteudista. Já em outras instituições, como a Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), a Centro de Ensino Unificado de Brasília (CEUB), e a Open University, essas funções não existem. O fórum como ferramenta assíncrona de comunicação digital tem se mostrado de grande valor na aprendizagem dos alunos em torno de temas específicos.

A maior parte dos cursos EaD tem um ou dois encontros desse tipo entre o professor conteudista e os alunos da disciplina. Essas videoconferências costumam acontecer em programas como o Google Meet, Zoom, Microsoft Teams, dentre outros.

Em alguns casos, a própria plataforma virtual da IES proporciona esse tipo de comunicação, sem necessitar da utilização de programas externos.

Diferentemente das videoaulas pré-gravadas, as aulas por videoconferências não são temáticas, costumam abordar vários temas ou, ainda, podem ter como assunto um resumo do conteúdo geral da disciplina. Em alguns casos, podem se configurar como

41 apresentação ou introdução da disciplina. É oportuno lembrar que essa organização das videoconferências dependerá das diretrizes de cada IES. As aulas por videoconferência costumam ser mais longas em relação às videoaulas assíncronas, tendo, em média, uma hora ou mais de duração. Comumente apresentam o seguinte roteiro: primeiramente, o docente expõe o conteúdo com o uso de slides e, ao final da exposição, é aberto um espaço para que os alunos façam perguntas, tirem dúvidas ou formulem questões ao professor sobre o que foi exposto.

Especificamente no ensino superior de Música a distância existe também um outro formato de aula por videoconferência, que são as aulas práticas de instrumentos musicais.

Aqui, bem diferente do formato expositivo da aula descrita anteriormente, o professor de instrumento demonstra exercícios, escalas, arpejos e peças. Os alunos repetem sempre um de cada vez, pois a latência ainda hoje apresentada pela internet impossibilita a execução simultânea sincronizada de todos os alunos. Vale ressaltar que esse tipo de aula prática se destina a um número pequeno de participantes, de modo que o professor consiga observar cada aluno individualmente e fazer as correções necessárias. Ainda espero ver todo o potencial dessa ferramenta digital sendo largamente utilizado no ensino superior de Música a distância nacional, assim como tem sido usado no ensino superior de Música em instituições estrangeiras, como será visto mais à frente.

Outras ferramentas digitais utilizadas no ensino superior dizem respeito às atividades propostas para os alunos, como a produção de textos digitais e hipertextos, gravação de podcasts temáticos, produção de vídeos com entrevistas e estudos, organização de seminários online etc. Todo o material produzido pelos alunos é compartilhado entre eles e alguns se tornam públicos na internet. Mais recentemente, alguns docentes do ensino superior também têm se utilizado das redes sociais, em especial do Facebook, como ferramenta de ensino-aprendizagem, e do app de mensagens instantâneas WhatsApp. Todavia, não irei abordar o uso desses recursos no ensino superior, pois, até onde esta pesquisa alcançou, nenhum deles teve a sua utilização institucionalizada por nenhuma IES, ao contrário das outras ferramentas descritas anteriormente.