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As Tecnologias Digitais no Ensino Superior de Música no Brasil e no Exterior

CAPÍTULO 1 AS TECNOLOGIAS E A MÚSICA

1.3 As Tecnologias Digitais no Ensino Superior de Música no Brasil e no Exterior

41 apresentação ou introdução da disciplina. É oportuno lembrar que essa organização das videoconferências dependerá das diretrizes de cada IES. As aulas por videoconferência costumam ser mais longas em relação às videoaulas assíncronas, tendo, em média, uma hora ou mais de duração. Comumente apresentam o seguinte roteiro: primeiramente, o docente expõe o conteúdo com o uso de slides e, ao final da exposição, é aberto um espaço para que os alunos façam perguntas, tirem dúvidas ou formulem questões ao professor sobre o que foi exposto.

Especificamente no ensino superior de Música a distância existe também um outro formato de aula por videoconferência, que são as aulas práticas de instrumentos musicais.

Aqui, bem diferente do formato expositivo da aula descrita anteriormente, o professor de instrumento demonstra exercícios, escalas, arpejos e peças. Os alunos repetem sempre um de cada vez, pois a latência ainda hoje apresentada pela internet impossibilita a execução simultânea sincronizada de todos os alunos. Vale ressaltar que esse tipo de aula prática se destina a um número pequeno de participantes, de modo que o professor consiga observar cada aluno individualmente e fazer as correções necessárias. Ainda espero ver todo o potencial dessa ferramenta digital sendo largamente utilizado no ensino superior de Música a distância nacional, assim como tem sido usado no ensino superior de Música em instituições estrangeiras, como será visto mais à frente.

Outras ferramentas digitais utilizadas no ensino superior dizem respeito às atividades propostas para os alunos, como a produção de textos digitais e hipertextos, gravação de podcasts temáticos, produção de vídeos com entrevistas e estudos, organização de seminários online etc. Todo o material produzido pelos alunos é compartilhado entre eles e alguns se tornam públicos na internet. Mais recentemente, alguns docentes do ensino superior também têm se utilizado das redes sociais, em especial do Facebook, como ferramenta de ensino-aprendizagem, e do app de mensagens instantâneas WhatsApp. Todavia, não irei abordar o uso desses recursos no ensino superior, pois, até onde esta pesquisa alcançou, nenhum deles teve a sua utilização institucionalizada por nenhuma IES, ao contrário das outras ferramentas descritas anteriormente.

42 através de cópias de partituras inicialmente feitas à mão pelos chamados “copistas” e, posteriormente, impressas. O trabalho dos copistas exigia um longo período de aprendizagem e prática. Segundo Zuben (2004, p. 8), “A fixação da obra musical na partitura tornou-se um meio para sua gravação e, consequentemente, preservação ao longo dos séculos”. A partitura, isto é, a notação musical “moderna” foi, desde sua criação pelo monge beneditino Guido d'Arezzo (aprox. 992 – aprox. 1050), até bem pouco tempo atrás, a principal ferramenta da educação musical tradicional, sendo ainda usual em algumas instituições de ensino musical formal.

Na contramão do ensino formal de Música, com base na leitura e escrita das partituras, a aprendizagem informal, principalmente a de música popular, segue outras dinâmicas. Autodidatas em sua maioria, os músicos populares aprendem a tocar um instrumento musical tentando emular performances contidas em gravações de áudio. Foi assim até a popularização das gravações em vídeo, quando o “aprendiz” podia, além de emular os sons, copiar os movimentos dos músicos que assistia. Inúmeros instrumentistas da música popular, muitos deles reconhecidos mundialmente, não sabem ler ou escrever partituras e não expressam sentir falta dessa habilidade, pois o seu aprendizado se deu, principalmente, através dos sons e das imagens, sem a necessidade de dominar os signos da notação musical. É claro que a troca de experiências entre músicos de diferentes níveis também é parte significativa da aprendizagem musical em contexto informal.

Conteúdos de natureza teórica, histórica e filosófica podem se adaptar sem maiores problemas ao modelo de ensino a distância. Entretanto, começo a me questionar a respeito de disciplinas de caráter mais prático, como o ensino de instrumentos musicais, no qual a prática instrumental é a essência fundamental do aprendizado. A partir dessas reflexões críticas, surgiu a seguinte questão: “Como os professores estão utilizando as tecnologias digitais para lecionar Música no ensino superior?”, essa questão será respondida ao longo do trabalho. No que se refere à educação a distância, não devemos perder de vista que esta tem:

[...] se constituído e se firmado ao longo da história, por uma modalidade de ensino que necessariamente não se dá face a face com o professor, ao contrário do modelo tradicional. Isso não quer dizer, no entanto, que o mesmo é dispensável no processo. Resumindo, a EaD é a modalidade de ensino/aprendizagem que se dá mediante a mediação tecnológica, estando seus atores geograficamente separados (ARAÚJO;

ARAÚJO apud BENASSI; VICTORIO, 2014, p. 02).

Não posso deixar de comentar os aspectos socioeconômicos envolvidos na escolha da modalidade a distância. Os problemas mais recorrentes são as longas distâncias

43 geográficas, o alto custo do deslocamento, a incompatibilidade e indisponibilidade de tempo etc. Em muitos casos, a EaD se torna o único meio pelo qual essa população pode ter acesso ao ensino superior de Música, público e gratuito. Os autores Benassi e Victorio (2014, p. 14) corroboram os argumentos expostos e completam:

Devido à freneticidade dos eventos cotidianos, em muitos casos a educação formal regular presencial se torna inviável. Com o avanço da tecnologia e a rapidez na transmissão de dados proporcionados pela rede mundial de computadores, a educação não podia ficar indiferente a essas novas possibilidades. A EAD tem se mostrado uma ótima forma flexível que pode contemplar o sujeito que não dispõe de tempo ou de recursos para um deslocamento geográfico.

Como modalidade de ensino superior de Música, a EaD leva a profissionalização aos sujeitos que não teriam como se qualificar de outra maneira.

Não posso deixar de comentar que as publicações científicas e pesquisas acadêmicas nacionais sobre as TDIC e o ensino superior de Música são bastante escassas.

Ainda mais raras são as investigações que se dedicam ao ensino-aprendizagem de instrumentos musicais com as TDIC. Autores como Dammers (2009), Riberio (2013a), Ruthmann e Dillon (2012), ao abordarem o ensino de Música com as tecnologias digitais em instituições de ensino superior internacionais, costumam agrupar essas IES em três grandes grupos com diferentes abordagens didático-pedagógicas.

No primeiro grupo de instituições estão escolas de música, conservatórios e universidades que adotaram um sistema 100% online em seus cursos superiores de Música. Nesse caso, a ferramenta mais adotada para o ensino-aprendizagem de música é a videoconferência, um método de comunicação síncrono que permite a interação em tempo real entre o docente e os discentes. Dessa forma, o professor de instrumento ministra a sua aula online para um determinado número de alunos que residem em diferentes locais. Durante a transmissão ao vivo, os discentes podem interagir com o docente em tempo real, fazendo perguntas e tirando dúvidas, como se fosse uma aula de música “tradicional”. O evento é sempre registrado, ficando disponível a seguir em formato audiovisual (videoaula) para os alunos que não puderam assistir a aula no dia e horário determinados, e, também, para aqueles que, por quaisquer motivos, gostariam de rever o conteúdo, para revisão, fixação, tirar dúvidas etc.

A grande vantagem dessa ferramenta é a possibilidade de alcançar sujeitos distantes, espalhados geograficamente, além de diminuir os custos com deslocamento do professor, que pode lecionar da sua própria residência, sem depender de um espaço físico destinado a isso, e dos alunos, que não necessitam se encaminhar para a universidade

44 onde têm aula todos os dias. É obvio que essa ferramenta, para ser eficiente, depende de uma estrutura tecnológica adequada, como uma conexão de alta velocidade e dispositivos conectados à internet (computadores, tablets ou smartphones, no caso dos alunos, e webcam, microfone e computador, no caso do professor). Um exemplo de instituição estrangeira que já disponibiliza cursos superiores de Música totalmente online é a Berklee College of Music, de Boston, Massachusetts-EUA.

Já o segundo grupo de instituições internacionais de ensino superior de Música decidiu também oferecer uma segunda opção aos seus alunos, isto é, um método de ensino híbrido (blended learning), que mistura ensino presencial e ensino online. Nesse caso, são mantidas as aulas presenciais de Música, porém, essas aulas são complementadas com eventos, atividades e avaliações no AVAM (ambiente virtual de aprendizagem musical).

Uma instituição estadunidense que oferece cursos superiores de Música na modalidade híbrida é a Juilliard School, localizada em Nova Iorque.

Ainda existe um terceiro grupo de instituições estrangeiras, que são as IES, as quais não adotaram nenhum dos dois modelos de ensino referidos anteriormente. Esse grupo se mantém no tradicional modelo “conservatório”, com aulas de música presenciais e individuais, em relação às aulas práticas de instrumentos musicais. Considero motivo de investigação científica a conservação dessa modalidade de educação musical por essas instituições de ensino superior, já que tal formato requer a gestão e manutenção permanente de muitos recursos humanos, físicos e logísticos, tornando-se bastante complexo e altamente dispendioso financeiramente para as próprias universidades. Um bom exemplo de instituição internacional que se manteve fiel ao ensino tradicional de música é o Conservatoire National Supérieur de Musique et de Danse de Paris, na França.

Segundo Oliveira-Torres (2012) e Ribeiro (2013b), devido às limitações estruturais e tecnológicas, tais como internet de baixa qualidade, dificuldade de aquisição e alto custo de equipamentos de ponta, dentre outros problemas, as aulas de música via videoconferência ainda não haviam se tornado comuns nas IES brasileiras antes da pandemia, assim como nas instituições internacionais mencionadas anteriormente. No modelo UAB, é mais corriqueiro encontrarmos o ensino superior de Música, denominado

“semipresencial”. Considero essa terminologia imprecisa, já que a maior parte do conteúdo é disponibilizado e trabalhado online, enquanto a parte presencial se restringe a alguns poucos encontros, nos polos das universidades, entre os discentes e a tutoria, para execução de algumas atividades e/ou aplicação de avaliações. No caso da Universidade

45 Estatual do Maranhão (UEMA), a IES disponibiliza o Curso de Licenciatura em Música nas duas modalidades, EaD e presencial.

Da mesma forma que ocorre internacionalmente, em território brasileiro podemos encontrar instituições de ensino superior de Música que não adotaram a modalidade EaD em seus cursos de graduação, mantendo-se firmes no ensino tradicional presencial. A Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), de onde sou egresso, é um exemplo desse tipo de instituição.

Não encontrei, dentre os cursos superiores de Música das IES nacionais, algum que já tivesse adotado de forma curricular e institucional a modalidade de ensino híbrido.

Todavia, vale ressaltar que, segundo o MEC, cada curso de graduação atualmente pode destinar parte da carga horária para ser lecionada à distância, chegando até a 40%.

Pondero ainda que, mais relevante que a modalidade de educação praticada ou idealizada, é o engajamento de professores e gestores, bem como o comprometimento, disciplina e motivação dos alunos. Benassi e Victorio (2014) completam que é evidente que nesse processo deve haver um comprometimento de ambas as partes, de modo que os objetivos propostos para professor e aluno sejam alcançados.