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EM TEMPOS DE COVID-19

Geliana Dáfini da Silva38 Rosane Teresinha Carvalho Porto39

RESUMO: O presente artigo objetiva analisar os prováveis crescimentos em ocorrências de violência no âmbito familiar durante a pandemia, trazendo uma abordagem mundial, nacional e estadual, bem como os fatores influentes e legislações especificas e políticas públicas para o enfrentamento.

Desse modo, parte-se da seguinte problemática: Houve aumento nos índices em casos de violência doméstica? Há implementação de políticas públicas na busca pela diminuição de tais eventos? Para o desenvolvimento da presente pesquisa, adotou-se o método de abordagem dedutiva. Quanto ao método de procedimento, o bibliográfico.

Palavras-chave: Covid-19. Índice de violência. Lei 14.022/20. Políticas Públicas.

INTRODUÇÃO

Ao pensarmos em algum ambiente seguro, logo nos remete a ideologia de nossa casa. Porém, em virtude da Pandemia, lugar este que deveria ser seu refúgio das vítimas, se torna seu principal cárcere.

Ademais, o maior índice de agressões é proveniente de companheiros ou ex-companheiros, no âmbito doméstico e com quem possui contato diariamente. Ou seja, quem esta escolheu para conviver e amar, se torna seu principal inimigo.

Em virtude disso, o presente trabalho tem o fito de investigar se houve aumento nos índices de violência doméstica, considerando o convívio acentuado durante o isolamento social, tal como se existe alguma condição determinante que levou a tal e se houve promulgação de alguma legislação específica no amparo das vítimas. A partir do exposto, tem-se o questionamento: Houve aumento nos índices em casos de violência doméstica? Há implementação de políticas públicas na busca pela diminuição de tais eventos?

No primeiro capítulo, tenciona-se analisar dados referentes a violência doméstica, comparando os anos 2019-2020 em diferentes cenários do mundo em tempos de Pandemia.

Já no segundo capítulo, parte-se da verificação acerca dos fatores que influenciam o provável aumento, com ênfase no ciclo da violência.

No derradeiro capítulo, pretende-se expor as medidas adotadas, políticas públicas e as legislações vigentes, com ênfase na Lei 14.022/20, a qual torna o atendimento às vítimas de violência doméstica serviço essencial, sendo que este não poderá ser interrompido enquanto durar o estado de calamidade pública ocasionado pelo Coronavírus.

1 A COVID-19 E A VIOLÊNCIA NOS LARES: O QUE OS ÍNDICES NOS DIZEM

O presente capítulo visa investigar os índices relativos a violência doméstica durante a covid-19 em diversas esferas, seja internacional, nacional e estadual, bem como, de que forma a Pandemia influenciou para tal.

38 Graduanda em Direito pela Universidade de Santa Cruz do Sul, Brasil. Integrante do grupo de pesquisa do mestrado e doutorado em Direito da UNISC, Políticas públicas e inclusão Social. E-mail: gedafini@hotmail.com.

39 Doutora em Direito pela UNISC. Estágio de Pós-Doutoral em Direito pela Universidade La Salle. Mestre em Direito na área de concentração e políticas públicas de inclusão. Professora na UNIJUÍ, lecionando na graduação em Direito e Programa de

Atualmente, fomos acometidos por uma pandemia, decorrente de um vírus. Até o momento, visando o achatamento da curva de contágio e a superlotação de hospitais, houve a adoção de medidas sanitárias, entre elas, o distanciamento social. Outrossim, se por um lado houve deliberações no intuito de diminuir a propagação do vírus, de outro, houve um aumento expressivo em índices de feminicídio.

Ademais, trouxe consigo diversas transformações no modo como nos relacionamos, vivemos e laboramos. As informações se modificam a todo tempo, ao passo que muitas vezes, nos faltam respostas. O impacto atinge a todos, seja direta ou indiretamente. Porém, no mundo das incertezas, uma afirmação é cristalina: os grupos mais vulneráveis, como o das mulheres, são os mais atingidos, eis que perdurarão mais tempo e com maior inquietude. (OLGA, 2020)

A violência, bem como o convívio acentuado, a incerteza do momento em que vivemos, combinado com a tensão e o distanciamento de familiares e amigos, concorre para o aumento da violência doméstica. (MAZZI, 2020)

Ademais, em vários países do mundo, como China, Estados Unidos, Espanha, Itália, dentre outros, avaliar os danos, entretanto, se torna desafiador ao passo que as vítimas estão confinadas com seus ofensores, resultando em uma vasta dificuldade em denunciar através de órgãos públicos.

A nível internacional, como na Itália, houve adoção de medidas rigorosas de isolamento social com o fito de conter o vírus, o que em primeiro momento, demonstrou uma diminuição drástica de 43%

em ocorrências de violência doméstica. Tal diminuição decorreu da ausência de políticas adotadas para o amparo das vítimas, pois a maioria destas, não obteve êxito em realizar denúncias, seja por receio do ofensor ou por dificuldade em sair de suas residências. (FÓRUM DE SEGURANÇA PÚBLICA, 2020)

Conforme a Folha de São Paulo (2020, <https://gazetaweb.globo.com/>) dos 93% dos casos analisados pelo Instituto Nacional de Estatísticas (Istat), foi no âmbito doméstico o principal local onde a violência contra a mulher ocorreu na quarentena. E, de acordo com relatos de 75% das vítimas, as agressões ocorriam há anos. Os levantamentos oficiais acerca do período de confinamento ainda não foram integralizados, mas estima-se que sucederam ao menos 11 feminicídios, considerando os dados apresentados pela imprensa italiana.

A nível nacional, através de dados disponibilizados pelo Fórum de Segurança Pública, notou- se um crescimento de 22,2% em relação aos feminicídios, correspondente a 143 mulheres, em comparação aos meses março/abril de 2019 e 2020.

Porém, houve uma diminuição no número de medidas protetivas concedidas, considerando a mesma limitação de tempo (2019/2020). No Acre, por exemplo, ocorreu uma queda de 31,2%, já no Rio de Janeiro, 28,7%.

Na mesma senda, também ocorreram reduções nas denúncias quanto as lesões corporais dolosas resultantes de violência doméstica, equivalente a 25,5%, em relação ao mesmo período do ano de 2019, o que confirma o protótipo verificado em outros países como na Itália e no Estados unidos, ou seja, dificuldade em realizar as denúncias. O Estado do Maranhão, por sua vez, foi o mais atingido, com uma redução de 97,3%. (FÓRUM DE SEGURANÇA PÚBLICA, 2020)

Além disso, conforme o Comitê Parlamentar de Violência contra as mulheres, houve diminuição de 652 pareceres policiais em virtude de agressões no âmbito doméstico, delimitando os 22 primeiros dias de março, em comparativo com igual período em 2019. O Telefone Rosa, conhecido como o principal método de comunicação para a realização das denúncias, informou que as chamadas diminuíram em 55%. Neste contexto ilusório, ainda que houve uma redução, esta, não condiz com a veracidade, mas com a enorme dificuldade que as vítimas enfrentam em realizar as denúncias durante o período de confinamento. (FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA, 2020)

A maioria das mulheres não denuncia o seu agressor ainda. Vivemos em uma sociedade muito machista e patriarcal que culpabiliza a mulher pela agressão, pelo fim de uma relação, especialmente se envolver filhos, e que desestimula essa mulher a denunciar. O convívio intenso, nesse momento de muita ansiedade e tensão, tem piorado os casos. Uma pessoa que nunca bateu, por exemplo, pode ter descambado para a violência física (MAZZI, 2020, <https://oglobo.globo.com/>)

Para exemplificar a questão, apresenta-se abaixo duas tabelas com o balanço geral do Rio Grande do Sul referente a violência doméstica – ameaça, lesões corporais - respectivamente, compreendendo o ano de 2019/2020.

Tabela 1. Monitoramento dos indicadores de violência contra as mulheres no Rio Grande do Sul referente aos meses de março a agosto de 2019.

MÊS AMEAÇA LESÃO CORPORAL

MAR/2019 3.457 1.949

ABR/2019 3.085 1.719

MAIO/2019 2.893 1.499

JUNHO/2019 2.799 1.589

JUL/2019 2.739 1.364

AGO/2019 3.004 1.460

Fonte: Secretaria de Segurança Pública

Tabela 2. Monitoramento dos indicadores de violência contra as mulheres no Rio Grande do Sul referente aos meses de março a agosto de 2020

MÊS AMEAÇA LESÃO CORPORAL

MAR/2020 2.853 1.813

ABR/2020 2.218 1.305

MAIO/2020 2.391 1.226

JUNHO/2020 2.388 1.248

JUL/2020 2.364 1.160

AGO/2020 2.551 1.359

Fonte: Secretaria de Segurança Pública

Em resumo, podemos concluir que houve uma queda significativa no número de ocorrências, o que demonstra uma vasta subnotificação, posto que os índices de feminicídio consumado aumentaram, ou seja, os casos se agravaram e chegaram ao ápice da violência antes mesmo de chegarem a uma delegacia. Vejamos um comparativo:

Tabela 1. Monitoramento dos indicadores de violência contra as mulheres no Rio Grande do Sul referente aos meses de março a abril de 2019.

MÊS FEMINICÍDIO CONSUMADO

MAR/2019 11

ABR/2019 6

Fonte: Secretaria de Segurança Pública

Tabela 2. Monitoramento dos indicadores de violência contra as mulheres no Rio Grande do Sul referente aos meses de março a abril de 2020.

MÊS FEMINICÍDIO CONSUMADO

MAR/2020 11

ABR/2020 10

Fonte: Secretaria de Segurança Pública

Nota-se que houve uma variação de 66,7% em comparação ao mês de abril de 2019 e 2020 e no total, um aumento de 23,5%.

Assim, conforme CUNHA (2020), a subnotificação quanto aos índices apresentados a respeito das ameaças e lesões corporais deriva de vários fatores, entre eles: a ocupação com os filhos e a

residência, considerando que os mesmos estão sem frequentar a escola, ocasionando um obstáculo em se afastar e proceder com a denúncia, e ainda a carência de deslocamento por transporte público diante da dependência financeira do ofensor, associado com o medo de contrair o vírus.

Realizada a abordagem acerca dos índices de violência, necessário faz-se explanar os fatores que levam a tal para podermos visualizar os mecanismos necessários para a intervenção e cessação.

2 A COVID-19 COMO GATILHO PARA A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

De grande relevância para a compreensão do trabalho, ao tecermos sobre o assunto, mostraremos os prováveis gatilhos que levam as vias de fato e como o ciclo da violência pode explicar os acontecimentos nos lares durante o período de isolamento.

Em tempos de Pandemia, a violência intrafamiliar, é uma temática de grande relevância, tendo em vista que o atual conjunto socioeconômico tende a aumenta-la. (BIANQUINI, 2020)

Ademais, o desemprego afeta principalmente as mulheres, que é onde há grande acúmulo no setor de serviço, ou seja, o mais abalado pela crise. Outrossim, a informalidade é mais comum em mulheres do que em homens. Estima-se que mais de 90% de funcionários domésticos expostos são mulheres e a porcentagem chega a 70% em relação a negras, o que só demonstra a vulnerabilidade no ofício destas. Além disso, em outras crises econômicas ocorridas anteriormente no Brasil, como em 2010, houve mais demissões de mulheres do que de homens. (BIANQUINI, 2020)

Cumpre ressaltar que muitas destas mulheres, são trabalhadoras domésticas, em virtude do isolamento social estão afastadas de seus trabalhos e sem nenhuma perspectiva de renda para sustento próprio e de sua família. Para estas, resta somente duas alternativas: se arriscarem à contaminação em busca de renda; ou se manterem em isolamento e conviverem com as consequências do desemprego.

(OLGA, 2020, <https://thinkolga.squarespace.com/>)

Através deste panorama, a mulher se torna mais dependente financeiramente do marido, ocasionando uma relação forçada, onde a mesma não possui escolhas a não ser conviver diariamente com medo do ofensor. (BIANQUINI, 2020)

Outro ponto importante é o distanciamento dos familiares, amigos e a tensão, em virtude do momento em que vivemos, desencadeando o ciclo da violência, o qual é subdividido em três fases:

a) Acumulação da tensão; b) Explosão; c) Lua-de-mel. Durante a fase de acumulação da tensão, que dura, normalmente, bastante tempo, dá-se uma escalada gradual da violência. O início dessa fase é marcado, em geral, por agressões verbais, provocações e discussões, que podem evoluir para incidentes de agressões físicas leves. Nessa fase, a despeito das tentativas de a mulher evitar a violência assumindo uma atitude submissa, a tensão vai aumentando até fugir ao controle e dar ensejo a uma agressão física grave, em um ataque de fúria, que caracteriza a fase de explosão. Por vezes, na fase de explosão, a vítima chama a polícia, denuncia a violência na delegacia, ou foge para um abrigo.

Contudo, a maioria das mulheres agredidas não procura ajuda durante este período, a menos que as lesões sofridas sejam tão graves que demandem cuidados médicos. Situação em que a vítima pode aguardar vários dias até pedir auxílio, se o fizer. Passado o incidente agudo de violência, começa a fase de lua-de-mel, em que o agressor, arrependido, passa a ter um comportamento amoroso e gentil, tentando compensar a vítima pela agressão por ele perpetrada. É durante essa fase que a vitimização da mulher se completa, uma vez que, em alguns dias, ela passa de zangada, solitária, assustada e magoada, a um estado de ânimo mais alegre, confiante e amoroso. (WALKER, 2009, p.06)

Em pesquisa realizada pelo Instituto Olhar/Netquest/Crisp da UFMG no mês de abril de 2020 acerca dos conflitos gerados pela tensão no ambiente confinado, o aumento da tensão (primeira fase do ciclo da violência) dentro dos lares durante a fase de isolamento, foi classificado e teve classificação de 0 a 10. As mulheres do Estado de Minas assinalaram como média 6,42 para o estresse domiciliar, em comparativo com 6,38 da média nacional feminina. Já os homens afirmaram 5,69, superando média masculina brasileira de 5,59. Tais números foram determinantes para as residências onde houve formas de violência durante o isolamento social. (PARREIRAS, 2020)

Além disso, em lares que a agressão nunca ocorreu, a mesma desencadeou, em razão da crise no emprego, em casos de renda diminuída ou porque estavam desempregados. O aumento da intensidade em agressões ocorreu entre jovens de 16 a 29 anos. Também, foi necessário a implementação de

indicadores para avaliar, tendo em vista que muitas já naturalizaram ameaças, agressões psicológicas entre outras, não percebendo como formas de violência e dessa forma, não considerando um fator para a pesquisa. (PARREIRAS, 2020)

Foram utilizados como indicadores:

...trocas de insultos, pessoas levadas a chorar por medo ou ofensa, ameaças de se atirar objetos ou de os usar para bater, o cumprimento dessa hostilidade, empurrões, bofetadas e chutes, espancamentos, ameaças com armas de fogo ou lâminas e agressões armadas (PARREIRAS, 2020,

<https://www.em.com.br>).

A permanência no ambiente doméstico em um vultuoso espaço de tempo, acaba intensificando o ciclo e o tornando sem lógica e confusa, visto que os mesmos acontecem rapidamente. Desse modo, cada vivência das fases, se torna mais agressiva, principalmente do ciclo da explosão - onde nesse momento de Pandemia, o auxílio tem se tornado mais limitado, seja de pessoas próximas ou de órgãos competentes. A consequência, é um final amedrontador: o feminicídio, expondo a fragilidade da mulher e a cultura machista que ainda é tão presente na sociedade. (MAGALHÃES, 2020)

No mesmo sentido, apesar da existência da Lei 11.340/2006, “a tendência das mulheres (e de todas as pessoas que se identificam com o gênero feminino e que sofram violência em razão disto) ainda é suportar um longo período dentro de casa até pedir ajuda. ” (MAGALHÃES, 2020)

Assim, se faz necessário uma presteza das autoridades e um alerta a vizinhos, familiares, conhecidos de que o problema não é somente entre vítima e ofensor, mas de todos, uma vez que a mulher acaba se calando por receio. É necessária uma atenção primária e ágil do Poder Judiciário, cessando com violência pela “raiz” e devolvendo a segurança para as vítimas. No próximo capítulo, será elencado sobre as políticas de enfrentamento para vítimas de violência doméstica durante a Pandemia.

3 A LEI 14.022/20 E AS POLÍTICAS PÚBLICAS NO ATENDIMENTO DAS VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA EM TEMPOS DE COVID-19.

Esse capítulo visa expor as políticas públicas adotadas, legislações específicas promulgadas durante o estado de calamidade Pública, como a Lei 11.022/20.

Internacionalmente, houve a adoção de medidas de contenção. Na França, por exemplo, as vítimas podem realizar denúncias pela internet, onde estas possuem um chat para dialogarem diretamente com policias, possuindo um botão de emergência que, ao ser acionado, a página é fechada e a conversa excluída. Também foi criado uma espécie de senha para pronúncia ao adentrarem nas farmácias, despertando o sistema de alerta. Há pagamento de quartos de hotéis para as vítimas e abertura de centros de orientação. Na Espanha, houve a criação de dispositivo para denúncia por mensagem através de geolocalização por WhatsApp e também apoio psicológico para as que optarem por ficar em suas residências. (BIANQUINI, 2020)

No Brasil, também houve a implementação de canais de atendimento as denúncias, através do aplicativo Direitos Humanos BR. Outrossim, OFÍCIO-CIRCULAR Nº 1/2020/DEV/SNPM/MMFDH encaminhado aos Organismos Governamentais de Políticas para Mulheres, recomenda, além de outras normas, a instalação de comitês de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres no âmbito da COVID-19, assim como promoção de campanhas com o fito de repassar a relevância da denúncia em situações de violência doméstica. (ANESP, 2020)

Se sucedeu recentemente a sanção da Lei nº 14.022, de 7 de julho de 2020 que alterou a Lei nº 13.979, de 6 de fevereiro de 2020 a qual dispõe sobre as medidas de enfrentamento à violência doméstica e familiar contra a mulher, como também de crianças, adolescentes, pessoas idosas e pessoas com deficiência durante a o estado de calamidade Pública, possuindo como principais tópicos: I- Para prazos, apreciações de matérias, atendimentos aos envolvidos e concessão de medidas protetivas que foram relacionadas à violência domésticas não haverá suspensão; II- Os registros poderão ser realizados por meio eletrônico ou através de um número telefônico específico fornecido pelos órgãos de segurança; III- Os processos que tratam da referida lei serão de natureza urgente; IV- Deverão ser

implementadas as devidas medidas para o atendimento presencial em que as vítimas se encontrarem em situação de violência; caso não seja viável, deverá ser garantido, obrigatoriamente, para os crimes: feminicídio, lesão corporal de natureza grave, lesão corporal dolosa de natureza gravíssima, lesão corporal seguida de morte, ameaça praticada com uso de arma de fogo, estupro, estupro de vulnerável, corrupção de menores, estupro, estupro de vulnerável, corrupção de menores, satisfação de lascívia mediante presença de criança ou adolescente, descumprimento de medidas protetivas de urgência, os dispostos na Lei nº 8.069,/90 e na Lei nº 10.741/03); V- Deverá ter prioridade a realização de exame de corpo de delito quando tratar-se de violência doméstica ou contra criança, adolescente, idoso ou pessoa com deficiência; VI- Deverá ocorrer a disponibilização de canais de comunicação para possibilitar o compartilhamento de documentos, contando que sejam sem custos e com a possibilidade de utilização em dispositivos eletrônicos, o que não exime o Estado de prestar atendimento presencial; VII- Deverá viabilizar o requerimento de medidas protetivas de urgência por meio eletrônicos (atendimento online), podendo ainda, valorizar provas coletadas eletronicamente, concedendo ao Poder Judiciário, a escolha de intimação da decisão judicial por meio eletrônico ; VIII- As medidas protetivas deferidas serão prorrogadas automaticamente enquanto perdurar o estado de emergência, o que será informado ao ofensor por meios eletrônicos; IX- Denúncias que foram recebidas pelas centrais e Atendimento como Ligue 180, Disque 100, deverão ser entregues com prontidão aos órgãos competentes (prazo de 48 horas). (BRASIL, 2020)

Nos Estados do Brasil, também existem diversas medias de enfrentamento. No Distrito Federal, há uma campanha denominada “Mulher, você não está só”, que durante a Pandemia, ocorrências que já estavam sendo acompanhadas, mantiveram amparo por tele atendimento. Em casos mais delicados, o atendimento presencial se manteve, porém com horário reduzido. (ANESP, 2020)

Há também a campanha “sinal vermelho”, lançada nacionalmente pelo Conselho Nacional de Justiça, onde estimula as vítimas a se deslocarem até uma farmácia e mostrar um “X” vermelho na palma da mão, onde um atendente, ao perceber, irá mobilizar a polícia.

Outra inciativa pioneira no Estado do Espírito Santo, mas acolhida por outros estados é o botão do Pânico, que consiste em um dispositivo eletrônico, acompanhado de GPS e gravador de voz, que após a realização da medida protetiva, se a vítima optar por utilizar e acionar, a segurança pública prontamente identifica o local em que a esta se encontra e demanda viaturas para o local. (ARAÚJO; PICCINI, 2020)

Já no Policiamento de Prevenção Orientada à Violência Doméstica Familiar (Provid) como meio de obstar a propagação do coronavírus, é realizado um contato prévio por telefone e posteriormente caso seja imprescritível o atendimento presencial, este é efetuado fora das residências. Além disso, cumpre ressaltar que o órgão federal encarregado de sistematizar as políticas esbarra em cortes orçamentários que dificultam os devidos retornos para a descendência da curva de violência em casos específicos e difíceis como é o caso do Covid-19, aguardando um olhar mais atento do Governo Federal para o momento vivido, acompanhado de um plano de abordagem integral, visando a prevenção, como Previsto na Lei 11.340/2006. (ANESP, 2020)

No Rio Grande do Sul, a Patrulha da Maria da Penha, diligência adotada pela Brigada Militar buscando acompanhar o cumprimento das medidas protetivas, encarregada de 84 municípios do Estado do Rio Grande do Sul também é grande colaboradora no combate.

O Tribunal do Estado do Rio Grande do Sul também recebeu aliados na campanha Quarentena sem violência onde “busca, agora, levar informação sobre canais de denúncia através de cartazes fixados em supermercados e farmácias do Estado”. (CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 2020, <https://www.cnj.jus.br/>)

Em Porto Alegre/RS, uma operação denominada Quarentena, no combate à violência foi deflagrada pela 1ª Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher de Porto Alegre, onde, de acordo com a Delegada responsável “a operação é uma ofensiva à violência contra a mulher, principalmente os delitos de descumprimento de medidas protetivas de urgência e feminicídios ocorridos durante esse período de quarentena e distanciamento social”. (O SUL, 2020, < https://www.osul.com.br>)

A nível municipal, a universidade de Santa Cruz do Sul/RS, mobilizou um projeto, intitulado

“Tele Maria da Penha”, o qual disponibiliza atendimentos gratuitos por meio telefônico às vítimas, repassando orientações das medidas a serem tomadas e as instruindo de maneira correta para órgãos públicos da rede de proteção da mulher agredida. Assim, o atendimento é sigiloso e impede uma exposição ao contágio do vírus. (GAZ, 2020)

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