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O solidarismo jurídico no constitucionalismo contemporâneo brasileiro: aplicações práticas

No documento UNIO E-book Workshop CEDU/UNISC 2016 (páginas 182-186)

Não haveria sentido em se construir todo um arcabouço teórico em torno do princípio da solidariedade sem que houvesse uma forma de aplicação prática de toda esta construção.

No que tange à seara contratual, a solidariedade remodela a função social do contrato, que deixa de revelar um caráter estritamente patrimonial e passa a abarcar também um viés social. O contrato não é mais visto como um instrumento de

egoísmo” e passa a ser observado como instrumento de justiça social. Os contratantes passam a ter o dever de se conduzir de maneira cooperativa, de forma que o núcleo da obrigação deixa de ser a vontade e passa a ser o respeito à dignidade das partes20.

Não se quer dizer que a vontade das partes tenha sido suprimida, mas sim que há um equilíbrio entre vontades e dignidade sob esta perspetiva constitucionalizada.

No âmbito da responsabilidade civil, Maria Celina Bodin de Moraes21 menciona que o fundamento da responsabilidade objetiva é encontrado na conceção solidarista inaugurada pela Constituição Federal de 1988 que protege qualquer pessoa que tenha sido, de maneira injusta, lesada. De acordo com a autora, “em decorrência do princípio

19 Cfr. Maria Celina Bodin de Moraes, “O Princípio da Solidariedade”.

20 Eros Belin de Moura Cordeiro, “Repersonalização, Solidarismo e Preservação do Contrato: em busca do papel contemporâneo da revisão contratual”, Constituição, Economia e Desenvolvimento: Revista da Academia Brasileira de Direito Constitucional 2 (2010).

21 Maria Celina Bodin de Moraes, “A constitucionalização do direito civil e seus efeitos sobre a responsabilidade civil”, Direito, Estado e Sociedade 9,29 (jul/dez 2006).

constitucional de solidariedade social, pois, distribuem-se as perdas e estende-se o mais amplamente possível as garantias à integridade psicofísica e material de cada pessoa humana”.

Outro exemplo de aplicação do princípio da solidariedade foi a desapropriação de um imóvel rural localizado no Pantanal Mato-Grossense. Esta decisão teve como base a imposição decorrente da função social de utilização adequada de recursos e de preservação do meio ambiente do local. Neste caso, o Supremo Tribunal Federal entendeu que o respeito ao meio ambiente constitui um direito de terceira geração que espelha o princípio da solidariedade22.

Os direitos relacionados ao ideário solidarista, chamados de direitos de “terceira geração” direcionam-se, por vezes, ao próprio gênero humano e não a um ou outro indivíduo. Entre estes direitos se pode mencionar o direito à paz internacional, ao desenvolvimento, à comunicação, ao meio ambiente entre outros23.

Percetível, portanto, que a conceção solidarista é uma conceção que ultrapassa os limites dos direitos individuais e amplia os horizontes do Direito para uma perspetiva coletiva. Até mesmo os direitos das futuras gerações estão abarcados por esta lógica.

Enfim, estes breves apontamentos buscam traças uma rápida ideia acerca do Direito Constitucional contemporâneo e da solidariedade como um marco qualitativo deste constitucionalismo.

5. Considerações finais

Na sequência do exposto, impõem-se algumas considerações a título de conclusão. A primeira delas é a de que é papel do operador do Direito estar atento às transformações sociais que inevitavelmente conformarão a leitura do ordenamento jurídico. Perceba-se que um olhar menos apurado pode levar o intérprete do Direito a tomar conclusões equivocadas.

O princípio da solidariedade, insculpido como princípio fundamental da República Federativa do Brasil traz ao ordenamento jurídico uma perspetiva

22 Cfr. Maria Celina Bodin de Moraes, “O Princípio da Solidariedade”.

23 Cfr. Maria Celina Bodin de Moraes, “O Princípio da Solidariedade”.

transindividual que se espalha por todos os institutos jurídicos. Assim, seja em questões ambientais, seja no âmbito familiar, seja nos contratos ou em qualquer outro ramo do Direito, há que se ter em mente esta perspetiva que coloca o bem comum acima dos interesses puramente individuais.

Por fim, é preciso lembrar que a textura aberta das normas constitucionais conclama os intérpretes do Direito a atribuir o seu sentido e o seu alcance. Desta forma há também um ônus a estes operadores jurídicos de esclarecer as razões pelas quais compreendem as disposições constitucionais da forma como compreendem, ou seja, decisões genéricas e fundamentações rasas não são apenas desaconselháveis como também se mostram incompatíveis com o sistema constitucional vigente e, portanto, são eivadas de inconstitucionalidade.

brasileiro e português

Juliana Machado Fraga* / Luiz Felipe Nunes**

RESUMO: O presente trabalho tem o escopo de abordar uma das maiores garantias do Estado Democrático de Direito, o pleno acesso às informações públicas. Assim, a transparência dos atos da administração pública evidencia-se como uma possibilidade de um mecanismo de combate à corrupção através da abertura de espaços democráticos para incidência de participação e consequentemente do exercício do controle social. Nesse sentido, tem-se que a nova matriz constitucional do Estado Democrático de Direito facilita a transparência e publicidade dos atos de gestão pública, assim, é importante a análise do papel da sociedade civil e dos “media” perante essa possibilidade de controle dos atos da administração pública.

Objetivou-se, então, uma análise quanto à realidade brasileira e portuguesa acerca da transparência na divulgação das informações públicas como forma de capacitar seus cidadãos ao exercício do controle social da corrupção, bem como seu papel perante a possibilidade de controle social. Empregou-se o método dedutivo para direcionar a pesquisa documental e bibliográfica sobre o direito ao acesso à informação pública enquanto instrumento no combate à corrupção.

PALAVRAS-CHAVE: Administração pública – controle social – corrupção – democracia – transparência.

ABSTRACT: This study has the scope to address one of the biggest guarantees of the democratic rule of law, full access to public information. Thus the transparency of the acts of public administration is evidenced as a possibility of a mechanism to combat corruption through the opening of democratic spaces for incidence of participation and consequently the exercise of social control. In this sense, there is the new constitutional matrix of Law Democratic State facilitates transparency and publicity of the acts of public management, so it is important to analyze the role of civil society and the “media” before the possibility of control of the acts public administration. The objective, then, an analysis on the Brazilian and Portuguese reality and transparency in the dissemination of public information in order to enable its citizens to exercise social control of corruption, as well as its role in the possibility of social control. the deductive method was employed to direct the documentary and bibliographical research on the right to access to public information as a tool in fighting corruption.

KEYWORDS: public administration – social control – corruption – democracy – transparency.

1* Doutoranda em Direito na Universidade de Santa Cruz do Sul - UNISC. Mestre em Direitos Sociais e Políticas Públicas pela UNISC e em Direitos Humanos pela Universidade do Minho.

2** Doutorando e Bolsista CAPES/Prosup na Universidade de Santa Cruz do Sul - UNISC.

1. Introdução

A efetiva transparência dos atos da administração pública demonstra-se como uma ampliação dos métodos de combate à corrupção por meio da participação cidadã e pela possibilidade do exercício do controle social. Com a nova matriz constitucional do Estado Democrático de Direito há uma facilitação dos mecanismos e políticas públicas voltadas à transparência e publicidade dos atos da administração pública, tornando a cultura do segredo, que vigorava até então, meramente uma exceção à nova perspetiva de publicização dos atos públicos.

Nesse tocante, é de extrema relevância que se aprecie o papel da sociedade civil e dos

media”, ou seja, a mídia possuem papel fundamental no controle dos atos da administração pública. O objetivo deste escorço é a análise das realidades brasileira e portuguesa quanto à transparência na divulgação das informações públicas como mecanismo de capacitação dos cidadãos para o controle social dos atos da gestão pública e consequentemente do combate à corrupção. Para tal feito empregou-se o método dedutivo direcionando a pesquisa documental e bibliográfica acerca do direito ao acesso à informação pública como forma de combate à corrupção através do controle social.

2. O Estado Democrático de Direito e sua nova matriz constitucional: a

No documento UNIO E-book Workshop CEDU/UNISC 2016 (páginas 182-186)