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CO-RESPONSABILIDADE CIVIL DOS ESTADOS fEDERADOS POR OMISSÃO NA PROTEÇÃO AMBIENTAL

No documento iniciais VOL-2.indd (páginas 64-67)

DOS ORGANISMOS GENETICAMENTE MODIfICADOS

3. CO-RESPONSABILIDADE CIVIL DOS ESTADOS fEDERADOS POR OMISSÃO NA PROTEÇÃO AMBIENTAL

... por força do art. 10, § 4o, da Lei n. 6.938/81, o licenciamento nes- tes casos é atribuição do IBAMA. O plexo licenciar-fiscalizar-punir é indivisível, por conseguinte, na hipótese de agressão ilícita ao meio ambiente, que tenha alcance nacional ou regional, caberá ao IBA- MA adotar as medidas repressivas na seara administrativa0. Muito embora seja a proposta dos irmãos Dino extremamente prática e ve- nha a evitar a constante superposição de exercício de competências com que os empreendedores têm que lidar na matéria ambiental, ouso contestá-la com base no art. 23 da CF/88 e na jurisprudência acima colacionada. Muito embora seja o IBAMA competente para licenciar certas atividades, seus impactos ambientais poderão afetar interesses ambientais dos Estados e/ou dos Municípios, razão pela qual estão esses entes constitucionalmente incumbidos do poder-dever de proteger o ambiente do seu território independentemente da atuação do IBAMA. Isso por- que as peculiaridades da biodiversidade dos Estados e Municípios são mais bem conhecidas por estes do que pelo IBAMA; certo ato de um empreendedor pode não ser considerado prejudicial ao ambiente nacional ou regional pelo IBAMA, mas o Estado e/ou o Município, com base nas regionalidades da biodiversidade do seu território, podem considerá-lo extremamente danoso.

Desta forma, advoga-se aqui a competência comum do Estado para a prote- ção do ambiente, especialmente no caso dos OGMs, não só como um poder desse ente mas na verdade como um dever que, no caso de omissão, como todo dever, gera responsabilidade civil2.

3. CO-RESPONSABILIDADE CIVIL DOS ESTADOS fEDERADOS POR OMISSÃO NA

O artigo 37 da CF/88 prevê que as pessoas jurídicas de direito público res- ponderão pelos danos que causarem, e a Política Nacional do Meio Ambiente ex- pressamente inclui as pessoas jurídicas de direito público no conceito de poluidor (direto ou indireto) expresso no seu artigo 3o, inciso IV3.

Sérgio Luiz Mendonça Alves, em recente obra, expôs as balizes da co-res- ponsabilização do Poder Público, inclusive citando valiosa lição do ilustre jurista Antônio Herman V. Benjamin:

Logo, a escolha do Legislador não deixa duvida: o particular e o Poder Público respondem pelo dano ambiental. O dever de pro- teção do meio ambiente é do particular, mas também do Poder Público, conforme expressamente firmado pela Constituição Fe- deral. Daí resulta que o Estado é co-responsável pelos danos daí advindos, podendo ser chamado a compor prejuízos individuais ou coletivos, tanto mais quando olvida seu dever-poder-fiscalizatório de fundo constitucional e legalmente imposto, cumprido por atos administrativos vinculados e, portanto, obrigatórios4.

Em recente acórdão5, os Ministros da Segunda Turma do STJ enten- deram que o Ministério Público Federal agiu corretamente ao incluir, como litisconsortes passivos em Ação Civil Pública, a União, o Estado e o Muni- cípio por co-responsabilidade objetiva e solidária pelos danos ambientais em razão da sua omissão na fiscalização das obras de construção de uma estrada. Esse acórdão é valioso precedente aos prof issionais da área e de- monstra como o Poder Judiciário tem reagido positivamente em defesa do meio ambiente; senão vejamos:

O Estado recorrente tem o dever de preservar e fiscalizar a pre- servação do meio ambiente. Na hipótese, o Estado, no seu dever de fiscalização, deveria ter requerido o Estudo de Impacto Ambiental e seu respectivo relatório, bem como a realização de audiências públicas acerca do tema, ou até mesmo a paralisação da obra que causou o dano ambiental.

O Estado do Paraná tentou se furtar da co-responsabilidade alegando que o IBAMA era o órgão responsável pelo licenciamento da atividade e, portanto, pela fiscalização (faço referência à tese acima refutada dos irmãos Dino), o que não foi acatado pelos Ministros com fundamento no art. 23 da CF/88 e em prévias manifestações do Tribunal6.

3 “Poluidor: a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por ativida- de causadora de degradação ambiental” (destaques adicionados)

4 ALVES, Sérgio Luís Mendonça Alves. Estado Poluidor. São Paulo: Ed. Juarez de Oliveira, pp. 62-63, 2003.

5 Recurso Especial no 604.725/PR, julgado em 2 de junho de 2005 e remetido ao STF em 28 de setembro de 2005.

6 Neste sentido, vide: (i) REsp no 37.354-9/SP de relatoria do Ministro Antônio de Pádua Ribeiro; (ii) REsp no 28.222/SP de relatoria da Ministra Eliana Calmon; e (iii) REsp no 467.22/RJ de relatoria do Ministro Luiz Fux.

O mestre Paulo Affonso de Leme Machado nos ensina que “para compelir, contudo, o Poder Público a ser prudente a cuidadoso no vigiar, orientar e ordenar a saúde ambiental nos casos em que haja prejuízo para as pessoas, para a proprie- dade ou para recursos naturais mesmo com a observância dos padrões oficiais, o Poder Público deve responder solidariamente com o particular”. Persevera Paulo Affonso, citando ensinamento de Armando H. Dias Cabral, que toda propriedade tem sua função ambiental que deve ser limitada pelo Poder Público, pois “não o fazendo, a Administração se torna civilmente responsável por eventuais danos sofridos por terceiros em virtude de sua ação (permitindo o exercício da atividade poluente, em desacordo com a legislação vigorante) ou de sua omissão (negligen- ciando o policiamento dessas atividades poluentes)”7.

Desta forma, não só podem mas devem os Estados Federados atuar na pre- venção de possíveis impactos ambientais negativos dos OGMs na biodiversidade brasileira, pois são os órgãos ambientais estaduais que possuem efetivo e profun- do conhecimento da fauna e flora do seu território. Essa conclusão decorre ainda do principio do Federalismo adotado pelos artigos o8 e 89 da CF/88.

Sendo assim, é no mínimo ingênua a eventual argumentação de que a CTNBio já realiza uma avaliação de risco antes de liberar certo OGM, sendo dispensável, portanto, a elaboração de EIA/RIMA; não se pode cogitar que um órgão federal tenha conhecimento profundo das particularidades ambientais de cada bioma estadual e local. Nossa biodiversidade, incluindo mas não se limi- tando ao Cerrado20, Pantanal, Floresta Amazônica, Mata Atlântica, Caatinga etc, é a mais rica do planeta e não pode ser profundamente conhecida por somente um órgão federal composto por 27 membros, por mais preparados que sejam tais Doutos de notório saber científico.

Caso os órgãos ambientais se limitem a uma atuação meramente repressi- va (fiscalização e imposição de sanções), como está previsto na Legislação de Biossegurança e vem ocorrendo atualmente em grande parte pelo IBAMA e pelo Ministério da Agricultura, estes órgãos, ao atuarem de forma não-preven- tiva e imporem penalidades aos empreendedores, estariam automaticamente re- conhecendo sua própria co-responsabilidade civil por eventuais danos ambien- tais, não importando as restrições pretendidas pela nova Lei de Biosseguranca à competência comum material outorgada pela CF/88 aos entes federados para a proteção do meio ambiente.

7 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: 0a ed., pp. 39-320, 2002.

8 “A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos estados e Municípios e do Distrito Federal...”.

9 “A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados o Distrito federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição”.

20 A Desembargadora Federal Selene Maria de Almeida cita na página 352 do voto proferido nos autos da Apelação Cível no 998.34.00.027682-0/DF, abaixo comentado, estudo de EITEN, G., 990, sobre a rica biodiversidade existente no Cer- rado. Este estudo corrobora o entendimento que cada Bioma subdivide-se em sub-biomas, sendo impossível a um único órgão da Federação possuir profundo conhecimento acerca de cada sítio de biodiversidade. Este estudo conclui que “os estudos sobre a vegetação do Cerrado identificaram uma grande variação nas características de cada sitio. Dependendo das condições locais e da ocorrência do fogo, aparecem onze tipos de fisionomias: mata ciliar, mata galeria, mata seca e Cer- radão, compondo as formações florestais; Cerrado sentido estrito, parque de Cerrado, palmeiral e vereda, correspondentes a formações savânicas; e campo sujo, campo rupestre e campo limpo, que são as formações campestres ... Estima-se que existam mais de 6.000 espécies de árvores e 800 espécies de aves, alem de outras formas de vida”.

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