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Socialistas e a luta pelos direitos trabalhistas

No documento Universidade do Estado do Rio de Janeiro (páginas 79-83)

2009). Dentre as vertentes anarquistas, aquela que se destacou no movimento operário foi a anarcossindicalista, que se tornou a grande defensora das causas do proletariado no Brasil naquele momento (HARDMAN; LEONARDI apud OLIVEIRA, 2009), especialmente no Rio de Janeiro, em São Paulo e no Rio Grande do Sul. Anos mais tarde, uma corrente comunista surgiu no interior do anarquismo e deu certo, tanto que, em 1922, foi criado o Partido Comunista do Brasil, agregando também socialistas de diversas vertentes.

O anarquismo, com as duras críticas que tecia em relação à sociedade burguesa, ao Estado e as instituições de controle, conquistou uma gama de inimizades. O movimento foi duramente perseguido pelo Estado, e os proprietários que temiam suas ações, bem como os efeitos de suas propagandas, o reprimiam com prisões e deportações. A Igreja, que se sentia ameaçada mediante as críticas que sofria, condenou duramente o movimento e apoiou, fosse de forma direta ou indireta, as ações de repressão aos anarquistas. Tiago Bernardon de Oliveira, em sua tese de doutoramento (2009), afirma que ser anarquista no país (e praticamente em todos os outros) não era tarefa fácil. Qualquer pessoa que se declarasse anarquista, ou mesmo simpatizante das causas libertárias, estava sujeita a uma série de inconvenientes. Diversos conflitos foram travados entre anarquistas e as forças do Estado. Em um deles, em 1898, no estado de São Paulo, o italiano Polinice Mattei foi assassinado durante uma manifestação, de forma que a “repressão aos vários momentos da ação direta promovida por anarquistas e outros foi caracterizada, no período, por uma íntima colaboração entre o Estado e os empresários, fenômeno que ocorria não somente no Brasil, mas na maior parte do mundo” (TOLEDO, 2015, p. 05). Ainda assim, permaneceu atuante até a década de 1930, quando o movimento foi duramente perseguido pelo governo Getúlio Vargas. É mister assinalar que um dos maiores feitos do anarcossindicalismo foi a primeira Greve Geral de 1917, ocorrida em São Paulo com trinta dias de duração.

mais clássica, isto é, mais genérica. É sabido que o socialismo não surgiu com Marx e Engels, todavia, foi a vertente que surgiu a partir deles (mais tarde chamada de socialismo científico) que se tornou mais popular, ou seja, alcançou um maior número de seguidores.

Foi com a obra O Manifesto do Partido Comunista (1848) que houve a inovação do ideário socialista. Os conceitos centrais do socialismo científico resultaram de análises e reflexões da sociedade industrial, que alcançava o seu auge naquele momento. Para o Manifesto, a sociedade industrial era dividida em duas classes sociais: os exploradores, donos dos meios de produção, isto é, os burgueses; e os explorados, não possuidores dos meios de produção, os proletários, aqueles que vendiam a mão de obra e sua força de trabalho para sobreviver. A sociedade industrial, e também extremamente desigual, foi o pano de fundo para a elaboração do pensamento de Marx e Engels.

No que concerne ao socialismo científico, destacam-se os seguintes pontos: o materialismo histórico e o materialismo dialético, a luta de classes, a revolução do proletariado, a doutrina da mais-valia e a teoria da evolução socialista (SPINDEL, 1991). São conceitos complexos e controversos, opto por não me ater à discussão pormenorizada de cada um, por entender que não se constitui no objetivo desta seção.

Quanto à introdução do socialismo no Brasil, o processo também ocorreu pela imigração europeia, especialmente com os imigrantes provenientes da Itália, Espanha e Portugal, no final do século XIX. A maioria desses imigrantes era constituída de trabalhadores, sobretudo rurais e analfabetos. Entre eles existiam elementos das diversas correntes socialistas que foram reproduzidas aqui posteriormente (SPINDEL, 1991). A entrada do socialismo deu-se, portanto, no início do movimento operário brasileiro. Foi na década de 1890 que ocorreu a fundação do Partido Operário ou Partido Socialista Brasileiro, no Rio de Janeiro. Nessa fase inicial, isto é, antes da virada do século XX, o movimento operário foi dominado por um movimento socialista de “caráter reformista, onde mesclavam- se idéias proudhonianas, saint-simonianas, cristãs e marxistas” (SPINDEL, 1991 p. 68). As reinvindicações dos primeiros partidos socialistas diziam respeito às questões de maior importância para a classe trabalhadora, por sinal muito explorada como qualquer outra na América Latina. Entre as pautas, constavam:

melhorias nas condições de trabalho, higiene e segurança; habitações mais higiênicas, confortáveis e baratas; contra as injustiças na cobrança de impostos, jornada de trabalho de oito horas (...) organização de um montepio para os operários, em caso de invalidez, velhice e morte; seis horas de trabalho para menores entre 14 e 16 anos e proibição do trabalho de menores de 14; descanso remunerado de um dia e meio por semana (VIANNA, 2008, p. 07).

O direito à educação gratuita, formal e profissional também era reivindicado pelos socialistas. Havia também reinvindicações para representantes no Parlamento, a fim de que os interesses do povo fossem manifestados para o governo federal. A essa altura já deve ter sido possível perceber que todas essas reinvindicações incomodaram, no mínimo, as elites econômicas, o Estado e a Igreja, o que custaria caro para os socialistas.

Foi no alvorecer do século XX que ocorreram as primeiras menções à revolução social, de acordo com a “ciência econômica e política, conquista do Poder Político pela classe operária, criação de cooperativas com instrumentos de trabalho em propriedade coletiva e abolição de todas as classes sociais” (SPINDEL, 1991 p. 71). A fundação do segundo Partido Socialista, em 1902, deixava transparecer de forma mais clara as doutrinas marxistas. O marxismo introduzido aqui se refere àqueles posteriores à Segunda Internacional (1889), que mediante as “vicissitudes das situações do movimento operário europeu passou por um período de ampla difusão e vulgarização” (VIANNA, 2008). O movimento marxista preconizava ainda a utilização das greves como arma na árdua luta econômica da classe operária, bem como “aceitava como elemento de sua atuação política a luta eleitoral. Em seu programa de reformas necessárias existem propostas no sentido da socialização da assistência médica, eletricidade, água e educação” (SPINDEL, 1991 p.72).

Com o intuito de disseminar as ideias socialistas para outros estados, pouco tempo depois foi criado, no estado de São Paulo, o Centro Socialista Internacional. A ele caberia a organização de cooperativas, ligas de resistência, greves e muitas outras formas de organização da classe trabalhadora. Ao longo do tempo, outros partidos menores foram sendo fundados, muitos deles sufocados pelo movimento anarquista, em ampla ascensão nas primeiras décadas do século XX, como já foi abordado anteriormente. Anos mais tarde, com o sucesso da Revolução Russa de 1917, as ideias comunistas ganharam espaço no interior do socialismo brasileiro, e em 1919, dado o crescimento do comunismo, foi fundado o Partido Comunista no Rio de Janeiro, em São Paulo e, posteriormente, no Rio Grande do Sul. Ao fundarem os partidos com vertentes diferentes, como dito, apresentavam-se como instrumento capaz de vencer as estruturas políticas, sociais e econômicas que sustentavam a exploração da população menos favorecida economicamente. Contudo, faziam questão de demarcar as diferenças que o distinguiam dos partidos até então dominantes (OLIVEIRA, 2009).

Entre os propagandistas do socialismo havia pessoas da classe operária, como José Veiga, França e Silva e Mariano Garcia, mas a maior parte delas pertencia às camadas médias urbanas, a exemplo dos professores Vicente de Souza e Eugênio Borba, do jornalista Gustavo

de Lacerda, do advogado Evaristo de Moraes e dos médicos Estevam Estrela, Silvério Fontes, Soter de Araújo e Carlos Escobar (VIANNA, 2008).

O investimento em propaganda via impressos também foi uma realidade. Diversos títulos foram criados na capital federal, em São Paulo e no Rio Grande do Sul. No Rio de Janeiro, por exemplo, foi fundado o jornal Voz do povo, editado por Gustavo de Lacerda.

Outros jornais foram o Eco Popular (1892), pertencente ao Partido Operário, cujo fundador foi Luiz França e Silva; o A questão social (1895), que pertencia ao Centro Socialista de Santos; e o Avanti! de Antônio Piccarolo (VIANNA, 2008).

Houve ainda o Revista Tipográfica (1888), O Operário e a Gazeta, ambos criados em (1881); o Operária (1883), O Artista (1883) e o Jornal dos Alfaiates (1885), ainda na década de 1880; e A Revolução (1881 -1882). Fora do eixo São Paulo-Rio, podem-se citar: O Operário (1882), publicado em Manaus; A Confederação Artística (1889 -1907), O Trabalho (1901- 1907) e O Socialista (1906-1907), em Belém do Pará; O Jornal dos Artistas (1908), no Maranhão; e o periódico O Artista (1891), no Ceará, com o mesmo título utilizado na Paraíba em 1893-1894 e no Piauí em 1902. Ainda no Nordeste, foi fundado em 1892 o A Fênix Caixeiral (PEREIRA, 1972), entre muitos outros títulos. Fica clara, portanto, a importância que os socialistas deram à imprensa periódica, que era um importante mecanismo de propagação dos ideais socialistas e sobretudo um meio de luta.

Assim como os anarquistas, embora em menor grau, os socialistas enfrentaram um período de repressão e perseguições por parte do governo. Prisões e expulsões de trabalhadores tornaram-se corriqueiras. Não era incomum que líderes do movimento operário - anarquista ou socialista -, quando presos, fossem desterrados para estados do Nordeste ou ganhassem passagem sem volta para o Acre (SPINDEL, 1991). E, como dito em outro momento, em caso de estrangeiros podiam ser expulsos do país.

Movimentos de esquerda, anarquistas e socialistas enfrentaram, cada um à sua maneira, o sistema capitalista, o Estado, a Igreja, mecanismos de opressão e, por que não, de exploração. No entanto, é mister afirmar que ambos não andavam juntos, embora compartilhassem ideias comuns. Havia uma animosidade entre os dois. Os socialistas buscavam deixar claro que não compactuavam com os ideais anarquistas e, conforme assinala Torres (2009), eram críticos e especificavam que não poderiam ser confundidos com os anarquistas. Poderiam essas rixas no interior da esquerda ter enfraquecido, de certa maneira, suas lutas e reinvindicações? Ou, ainda, seus detratores poderiam ter se aproveitado disso para perseguir e enfraquecê-los? É provável que sim.

No documento Universidade do Estado do Rio de Janeiro (páginas 79-83)