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Corpos consumidos: cultura de consumo gay carioca.

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Academic year: 2017

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C

ORPOS

C

ONSUMIDOS

:

CULTURA DE

CONSUMO GAY CARIOCA

Se v e r in o Joa qu im N u n e s Pe r e ir a* Edu a r do An dr é Te ix e ir a Ay r osa* *

Resumo

O

est udo de grupos socialm ent e m arginalizados, com o gays, negros e m oradores de favelas, ent re out ros, é de ext rem a relevância, um a vez que a t ais m inorias é prat icam ent e negado o st at us de m em br os de um a sociedade m oder na e de consum o ( BARBOSA, 2006) . O obj et ivo dest e ar t igo é invest igar com o o discur so associado à posse do cor po é ut ilizado por hom ens gays para adm inist rar o est igm a r elacionado à ident idade hom ossexual. Com o m é-t odos de coleé-t a de dados, foram adoé-t ados, ané-t es de é-t udo, um a obser vação par é-t icipané-t e de um gr upo gay da cidade do Rio de Janeir o e, post er ior m ent e, 20 ent r evist as sem iest r ut uradas com hom ens gays no per íodo com pr eendido ent r e os anos de 2005 e 2008. Os r esult ados suger em que: ( i) o cor po é um a const r ução e, sendo assim , é const r uído e m anipulado segundo os pa-dr ões est ét icos da cult ura gay; ( ii) o gr upo gay est udado const r ói o cor po de acor do com um ideal de hiper m asculinidade; e ( iii) os signifi cados associados ao cor po são usados com o for m a de dem ar cação na cult ura gay. Esses r esult ados evidenciaram um a im ensa gam a de ser viços est ét icos ligados a esse cult o ao cor po por par t e do gr upo. O cor po é, ent ão, um a “ insígnia” que faz daquele que o possui um vigilant e de si m esm o, o qual cont r ola, disciplina, dom est ica e apr isiona esse m esm o cor po, visando a at ingir “ a boa for m a” ou a for m a r equer ida pelo gr upo de que faz par t e.

Pa la v r a s- ch a v e : Consum o. Cult ura. Cor po. Hom ossexualidade. I dent idade.

Consumed Bodies: gay culture consumption in Rio

Abstract

T

he st udy of socially m ar ginalized gr oups, such as gays and blacks, am ong ot her s, is highly r elevant since t hese m inor it ies ar e vir t ually denied t he st at us of m em ber s of m oder n con-sum er societ y ( BARBOSA, 2006) . This st udy aim s t o invest igat e how possession of body is used by gay m en t o deal w it h t he st igm a of hom osexual ident it y. The st udy is based on par t icipant obser vat ion in a gr oup of gay m en in t he cit y of Rio de Janeir o, as w ell as 20 sem i-st r uct ur ed int er view s w it h gay m en conduct ed bet w een 2005 and 2008. The r esult s suggei-st t hat : ( i) t he body is const r uct , and as such is sculpt ed and m anipulat ed accor ding t o t he est het ic st andar ds of gay cult ur e ( ii) t he gr oup st udied seeks an ideal of hyper- m asculinit y and ( iii) t he m eanings associat ed w it h t he body ar e used as a for m of dem ar cat ion in gay cult ur e. These r esult s r eveal a w ide range of ser vices linked t o t his consum pt ion of t he body by t he gr oup. The body is used as an “ insignia” allow ing each per son t o cont r ol, discipline, dom est icat e and const rain his body t o at t ain “ good for m ”, or t he for m r equir ed by t he gr oup.

Ke y w or ds: Consum pt ion. Cult ur e. Body. Hom osexualit y. I dent it y.

* Dout or em Adm inist r ação pela Escola Br asileir a de Adm inist r ação Pública e de Em pr esas da

Fun-dação Get ulio Var gas - EBAPE/ FGV- RJ. Pr ofessor da Univer sidade Feder al Rur al do Rio de Janeir o – UFRRJ, Rio de Janeir o/ RJ/ Br asil. Ender eço: Pr aia de Bot afogo, 124/ 502, Bot afogo. Rio de Janeir o/ RJ. CEP: 22.250- 040. E- m ail: Bill.per eir a4@gm ail.com

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Introdução

O

s alim ent os que cozinham os em casa podem dizer de onde som os, as r oupas que vest im os podem r evelar o gr upo a que per t encem os, o car r o que dir igim os pode com unicar o nosso est ilo de vida; da m esm a for m a, indicam quem som os os livros que lem os, o perfum e que usam os, os bares e clubes que frequent am os e o lugar onde vivem os. Esses exem plos ilust ram de que m odo o consum o pode ser ut ilizado com o for m a não- ver bal de com unicar as nossas ident idades. For m a est a que pode t er um im pact o m uit o m aior no out r o, vist o que at ravés do consum o dizem os coisas que não ousar íam os ver balizar ent r e est ranhos.

Logo, o consum o t em im por t ant e papel na const r ução das ident idades dos suj eit os, com o ilust ra Belk ( 1988, p. 139) : “ Pelo m enos, em par t e, nós som os o que consum im os e o que nós consum im os som os nós”. Apesar dessa frase par ecer inicial-m ent e uinicial-m a apologia ao inicial-m at er ialisinicial-m o da sociedade cont einicial-m por ânea, na ver dade, ela vem t raduzir o que Slat er ( 2002) afi r m a ser a lógica de um a sociedade do consum o, para a qual o que possuím os m uit as vezes se sobr epõe ao que som os. No ent ant o, um a das for m as de “ r esist ir ” a isso ser ia quando o cidadão consum idor incor pora um obj et o ao seu “ eu”, r ecr iando, m odifi cando ou r essignifi cando um obj et o ou a posse de algo. Ao r ecr iar m os o que possuím os, est am os at r ibuindo a essa posse um a par t e de nós m esm os e, de cer t a m aneira, colocando o “ ser ” em algo que ser ia apenas um “ t er ”. Desse m odo, o que possuím os não só com unica quem som os ou a que “ t r ibos” per t encem os, m as, t am bém , pode ser ent endido com o um supor t e t ext ual que nos auxilia a const r uir as nossas ident idades no decor r er de nossa vida ( BELK, 1988) .

Nesse cont ext o, os est udos sobr e consum o se inser em na ár ea dos est udos cult urais, a qual ser ia defi nida com o um a ár ea int er disciplinar, cr ít ica e hist ór ica de invest igação de aspect os do cot idiano ( ARNOULD; THOMPSON, 2005) . Essa com pr e-ensão do que sej a o consum o e de qual o seu escopo é levant ada por Bar bosa ( 2006) :

At ualm ent e, o uso, a fr uição, a r essignifi cação de bens e ser viços, que sem pr e cor-r espondecor-ram a ex pecor-r iências cult ucor-rais pecor-r cebidas com o ont ologicam ent e dist int as, foram agrupadas sob o rót ulo de consum o e int erpret adas por esse ângulo ( BARBOSA, 2006, p. 23) .

Assim , o consum ir não est aria reduzido apenas à com pra, ao descart e e à fruição de um bem ou ser viço, m as, r elacionado, t am bém , ao signifi cado de um a exper iência ou a um a ident ifi cação com det er m inado gr upo.

Esse pont o é ilust rado por Firat e Venkat esh ( 1995, p. 254) : “ Não exist e um a dist inção nat ural ent re produção e consum o. Cada at o de produção est á relacionado a um at o de consum o e vice-versa”. Essa fort e ênfase nos aspect os sim bólicos do consum o t am bém pode ser observada no est udo de Arnould e Thom pson ( 2005) , que propõem um a t eoria da cult ura de consum o ( CCT) , a qual t eria com o escopo as relações dinâm icas ent re as ações dos consum idores, o m ercado e os signifi cados cult urais da sociedade. Mais do que sim plesm ent e um sist em a de signifi cados, o m undo dos bens nos ofer ece discur sos. Segundo Moit a Lopes ( 2003, p. 19) , “ t odo discur so pr ovém de al-guém que t em suas m arcas ident it árias específi cas que o localizam na vida social e que o posicionam no discur so de um m odo singular, assim com o os seus int er locut or es”. Dessa for m a, quando usam os a linguagem do que possuím os, não o fazem os com o sim ples usuário, m as com o, por exem plo, um hom em , branco, hom ossexual, brasileiro et c. As posses, assim , com unicam o que som os, a quais gr upos per t encem os, além de nossa r elação com esses gr upos e a sociedade.

Est e ar t igo t em com o obj et ivo invest igar com o o discur so associado à posse do cor po é ut ilizado por um gr upo específi co de gays m asculinos da cidade do Rio de Janeiro para enfrent ar o est igm a relacionado à ident idade hom ossexual. Mais especifi -cam ent e, pr et ende- se invest igar o papel do consum o nessa at r ibuição de signifi cados à est ét ica do cor po.

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for m a de r efor çar valor es m achist as no cont ext o de um a subcult ura de consum idor es da m ar ca Har ley Davidson ( SCHOUTEN; McALEXANDER, 1995) . Out r os abor dam o vest uário com o form a de expressão da cult ura funk do Rio de Janeiro ( MI ZRAHI , 2006) e o cor po com o signo da ident idade r egional car ioca ( GONTI JO, 2007) .

Vale r essalt ar que o cor po ser á aqui analisado com o um a const r ução cult ural im pregnada de signifi cados ( GOLDENBERG, 2007) . O corpo e o que o cobre, ent endidos aqui com o um a ext ensão dos indivíduos ( BELK, 1988) , ser ão alvos de análise. Assim , o cor po não é vist o apenas com o a biologia ou o invólucr o da m ent e, m as com o algo que o individuo const r ói, algo que com unica quem ele é e o posiciona na sociedade.

Na ver dade, o cult o ao cor po no Rio de Janeir o não se r esum e a gays ou a het er ossexuais, m as par ece fazer par t e da pr ópr ia cult ura car ioca e, at é m esm o, da pr ópr ia vida da cidade ( GONTI JO, 2007) . Cont udo, a pr oblem at ização da est ét ica do cor po para o gay par ece t er nor t eador es difer ent es, vist o que, para esse indivíduo, t al est ét ica pode ser usada t ant o com o for m a de r efor çar e com unicar a ident idade gay, com o m eio de escondê- la ou om it i- la.

No ent ant o, nos últ im os anos par ece t er ocor r ido um “ desper t ar ” na ár ea de or ganizações quant o à im por t ância de est udar a discr im inação sofr ida por esse gr upo no am bient e or ganizacional. Siqueira, Fer r eira e Zauli- Fellow s ( 2006) analisam por m eio de um a pesquisa bibliogr áfi ca de nove per iódicos int er nacionais - cobr indo um per íodo de 20 anos - a ident idade e a cult ura gay, visando a com pr eender a pr o-blem át ica r elacionada à discr im inação no t rabalho decor r ent e da or ient ação sexual. Siqueira e Andrade ( 2011) pr opõem um a pedagogia gay no am bient e or ganizacional com o for m a de com bat er o pr econceit o.

I r igaray ( 2007) analisa as est rat égias de sobr evivência de hom ossexuais no am bient e de t rabalho. Eccel e Saraiva ( 2009) analisaram as represent ações de m ascu-linidades ent r e gays no am bient e de t rabalho. Fer r eira e Siqueira ( 2007) analisam os efeit os de ser gay nas or ganizações cont em por âneas, r ealizando sua pesquisa em or-ganizações públicas, privadas e de econom ia m ist a at uant es em diferent es segm ent os.

A ár ea de com por t am ent o do consum idor e m ar ket ing par ece t am bém acom -panhar - em bora de for m a ainda t ím ida - o int er esse em est udar o consum idor gay. Exem plos disso são os t rabalhos sobr e as m udanças do consum o de gays m asculinos durant e a “ saída do ar m ár io” ( PEREI RA; AYROSA; OJI MA, 2006) e o consum o de luxo ent r e gays ( ALTAFI ; TROCCOLI , 2011) .

O est udo de gr upos socialm ent e m ar ginalizados, com o gays, negr os e usuár ios de dr ogas, ent r e out r os, não é fácil, por ém , de ext r em a r elevância para a ár ea de adm inist ração, especifi cam ent e, para a área de est udos do consum o. Aliás, esse pont o é cor r oborado por Bar bosa ( 2006, p. 08) , que afi r m a: “A det er m inados gr upos sociais, com o, por exem plo, o dos negr os, é negado prat icam ent e o st at us de m em br os de um a sociedade m oder na e de consum o”. Segundo a aut ora, a m aior ia dos est udos sobr e gr upos excluídos socialm ent e focam , basicam ent e, a dim ensão de m inor ia discr im inada e excluída, neut ralizando out ras dim ensões com o a de “ consum idor es”.

Faz- se necessár io, ent ão, ent ender com o se deu a const r ução discur siva da hom ossex ualidade, a consequent e ident idade r elacionada a essa cat egor ia e sua r elação com o desenvolvim ent o do que aqui cham am os de m er cado gay - bem com o do m ovim ent o social de dir eit os da com unidade LGBT ( Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais) - e o sur gim ent o do consum idor gay. Essa análise pode auxiliar a m elhor com preender com o o m ercado t ant o pode ser danoso aos direit os de grupos m arginais, com o os gays, quant o benéfi co aos m esm os, se usado de for m a cr ít ica e conscient e.

Do consumo do Corpo à Construção da

Identidade Estigmatizada Homossexual

O corpo como construção cultural

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i-dades, com o a fam ília e a igr ej a, é possível im aginar que m uit os indivíduos ou gr upos se apr opr iem dos signifi cados sim bólicos do consum o com o m eio de expr essão e const r ução ident it ár ia.

A im agem que as pessoas t êm do pr ópr io cor po é condicionada pelas r elações sociais nas quais est ão envolvidas, sej a at ravés dos r elacionam ent os sociais, sej a a part ir das ideias cult urais e dos valores m orais de aut ocont role e de disciplina. Num con-t excon-t o m acon-t er ial, o cor po pode ser viscon-t o com o um obj econ-t o m acon-t er ial separado do indivíduo, que, assim , lhe at r ibui signifi cado ( THOMPSON; HI RSCHMAN, 1995) . Nesse sent ido, o que aqui cham am os de consum o do pr ópr io cor po est ar ia r elacionado não apenas ao m odo com o os suj eit os at r ibuem signifi cados a par t es do cor po, com o o cabelo, m as t am bém à m aneira com o cobr em esse cor po por m eio de r oupas e ader eços. Segundo Belk ( 1988) , at ravés do paradigm a das posses, os indivíduos at r ibuem signifi cados ao cor po, o qual pode ser vist o t ant o com o um a ext ensão das vár ias ident idades que eles possuem , quant o um r efl exo dos vár ios gr upos sociais nos quais est ão inser idos. Assim , os indivíduos podem m odifi car a est ét ica do cor po por m eio de um a t at uagem ( ALMEI DA, 2006) , de cir ur gias plást icas ( THOMPSON; HI RSCHMAN, 1995) , de um a pint ura no cabelo ( BOUZÓN, 2008) , consum indo pr odut os de vest uár io r elacionado a gr upos funk car iocas ( MI ZRAHI , 2006) , ou passando horas num a academ ia, com o for m a de const r ução ident it ár ia.

A quest ão do cor po foi abor dada, t am bém , por Bour dieu ( 2009) , ao ar gum en-t ar que a r elação de disen-t inção esen-t á inscr ien-t a no cor po, sendo esen-t e um bem sim bólico que pode r eceber difer ent es valor es, dependendo do cont ext o onde est ej a inser ido. Segundo o aut or, o que denom inam os de est ilo, elegância e sofi st icação nada m ais ser ia do que um a m aneira legit im ada de apr esent ar o pr ópr io cor po com o for m a de dist inção social. Mauss ( 1974) afi r m a que é por m eio da im it ação que os indivíduos, em cada cont ext o cult ural, const r oem seus cor pos e com por t am ent os. Para ele, os hábit os, cr enças e valor es que const it uem a cult ura de um povo t am bém se r efer em ao cor po. Dessa for m a, há um a const r ução cult ural do cor po, com a ênfase de cer t os aspect os e at r ibut os em det r im ent os de out r os, fazendo com que haj a um cor po t ípico para cada cult ura. É dent r o dessa per spect iva que est e ar t igo se inser e.

Assim , o m undo social do qual cada pessoa faz par t e opera no sent ido de for çar e r efor çar o sist em a de signifi cados e pr át icas associados ao cor po. O r esult ado disso é um t ipo de socialização que faz com que o individuo int er nalize pr ofundam ent e a disciplina e a nor m at ização do pr ópr io cor po ( THOMPSON; HI RSCHMAN, 1995) . Logo, o cor po passa a signifi car para o consum idor um a pr isão que t er ia com o obj et ivo pr essioná- lo a se adequar aos padr ões dos gr upos sociais aos quais per t ence. Para um cer t o gr upo de gays, não é necessár io apenas possuir um cor po m usculoso, t er t raços defi nidos e apar ência j ovem , m as t am bém usar o cor po para r efor çar perant e a sociedade e os seus par es cer t o t ipo de m asculinidade. O cor po desej ado por esse gr upo não é apenas o cor po do out r o, m as o seu pr ópr io cor po, pois o cor po desej ado é espelho do seu, ou sej a, um cor po de hom em m asculino, het er ossexual e dom i-nant e. Ter um cor po com signos que r efor cem esse t ipo de m asculinidade é r esist ir ao est igm a que o desqualifi ca, pois o associa ao não- hom em , a quem t ransgr ide os papéis het er onor m at ivos designados aos hom ens. Assim , um a for m a de se r esist ir ao est er eót ipo ser ia a pr odução de um cor po que ext er nalizasse t oda a m asculinidade do hom em e dist anciasse o gay do est er eót ipo de que ele é um pár ia ent r e o m asculino e o fem inino. Esse cor po pr oduzir ia, de for m a posit iva, out ra espécie de est igm a cons-t icons-t uído por um a descr ição idencons-t icons-t ár ia que o difer encia de oucons-t r os gr upos gays.

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ou grupo social, há um ideal de m asculinidade; para cada ideal de m asculinidade, um corpo que est abelece, assim , um a relação ent re a ident idade de gênero e a const rução do corpo ( DUTRA, 2007) . Segundo Eccel e Saraiva ( 2009) , em bora as m asculinidades hom ossexuais se refi ram a m asculinidades subordinadas ao parâm et ro da represent ação da m asculinidade hegem ônica e het eronorm at iva, é possível observar desníveis de poder e de legit im ação ent re as diversas m asculinidades no m eio hom ossexual.

Assim , analisam os o cor po com o um a const r ução cult ural e não com o algo que é sim plesm ent e iner ent e ao indivíduo. Logo, o cor po é t rat ado com o vest im ent a que esconde e com unica, r efor ça e const r ói a casa que apr isiona e liber t a. O cor po é aqui vist o com o algo car r egado de signifi cado e que posiciona o indivíduo na sociedade ( GOLDENBERG et al., 2007) . O cor po é analisado com o algo const r uído no m undo gay com um a est ét ica e signifi cados pr ópr ios.

A construção discursiva da homossexualidade

A hom ossexualidade, o suj eit o hom ossexual ou, com o é m ais com um ent e de-nom inado na sociedade brasileira, o gay são “ invenções” do século XI X. At é ent ão, as relações afet ivas e sexuais ent re pessoas do m esm o sexo eram consideradas sodom ia, t idas com o com por t am ent o ver gonhoso ao qual qualquer pessoa poder ia sucum bir. A par t ir da segunda m et ade do século XI X, a pr át ica hom ossexual passou a defi nir um t ipo especial de suj eit o e, consequent em ent e, um a nova cat egor ia social que vir ia a ser m ar cada, est igm at izada e r econhecida pelo nom e de hom ossexual; cat egor izado e nom eado com o desvio da nor m a. Os indivíduos que se encaixassem , ou fossem for-çadam ent e encaixados nessa cat egor ia, passar iam a viver em segr edo, t endo o m edo com o nor t e e sendo obr igados a supor t ar as dor es da segr egação social ( FOUCAULT, 1988; FRY, 1982; SI LVA, 2006; TREVI SAN, 2000) .

Ao longo dos anos, m uit as vezes, a hom ossexualidade foi defi nida com o um a pat ologia ou, at é m esm o, um a per ver são. No ent ant o, deve- se obser var que à ideia de hom ossexualidade concer ne um t er m o que não designa um a r ealidade em si, m as algo que foi socialm ent e const r uído e é fr ut o de um discur so m oral da m oder nidade. Foucault ( 1988) afi r m a que exist iu um pr oj et o de ilum inação de t odos os aspect os do sexo. Cr iou- se um apar elho que, ao m ult iplicar os discur sos sobr e o sexo, visou pr oduzir, ou r epr oduzir, ver dades sobr e ele. No século XI X, t al pr oj et o alia- se a um pr oj et o cient ífi co, fat alm ent e com pr om et ido com o evolucionism o e com os racism os ofi ciais ( GAGNON, 2006) .

Dessa for m a, os m ecanism os de poder em r elação ao sexo se deslocam da I gr ej a e da Lei para a hegem onia da Educação e da Ciência. Ocor r eu, na pr át ica, o sur gim ent o de um a sciencia sexualis em que se pr oduzir ia a ver dade sobr e o sexo, sendo o t est em unho a t écnica m ais valor izada nessa pr odução. A hipót ese geral pr o-post a por Foucault ( 1988) é a de que a sociedade não se r ecusa a r econhecer o sexo, m as, pelo cont r ár io, aciona t odo um apar elho para pr oduzir o discur so “ ver dadeir o e legit im ador ” que t em obj et ivo disciplinat ór io.

At ravés dessa const r ução discur siva, foi classifi cado o nor m al e o nat ural com o a het er ossexualidade e, em cont rapar t ida, a hom ossexualidade foi classifi cada com o anor m al e desviant e. Segundo Foucault ( 1988) , o desenvolvim ent o da hist ór ia da sexualidade deve ser ent endido a par t ir de um a hist ór ia dos discur sos que, t am bém , est ar ia vinculada a r elações de poder e dom inação. Essa divisão ent r e hom ossexuais e het er ossexuais fez com que os indivíduos que se classifi cassem com o hom ossexuais passassem a ser vist os com o desviant es; sendo, assim , r elegados à m ar ginalidade. I sso ocasionou o sur gim ent o de gr upos e, consequent em ent e, de um a cult ura ho-m ossexual caract er izada por coho-m por t aho-m ent os, est ilos de vida e, pr incipalho-m ent e, por um a m aneira de viver, sent ir, desej ar, am ar, sofrer e vivenciar as diversas experiências da vida, e não sim plesm ent e um a lei univer sal da difer ença dos sexos ( GUI MARÃES, 2004; KATES, 1998, 2002; NUNAN, 2003) .

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a hist ór ia da sexualidade passou por grandes m udanças ao longo das quat r o pr im ei-ras décadas do século XX, com um m undo envolt o em um t ur bilhão de m udanças e quest ionam ent os sociais. É nesse cont ext o que, em 1938, Alfr ed Kinsey conduziu as suas pr im eiras ent r evist as e iniciou as suas pesquisas sobr e sexualidade, t endo sua obra O com por t am ent o sexual do hom em sido publicada em 1948. Na divulgação de suas conclusões, Kinsey t r ouxe à luz a sexualidade em seu sent ido m ais alt o, r evelado aber t am ent e e sem m eias palavras por m eio da m ídia da época ( GAGNON, 2006) .

Assim com o os t rabalhos de Kinsey, out r os est udos na ár ea das ciências sociais vinham para cont est ar os r ót ulos ligados à cat egor ia da hom ossexualidade, que passa por um a t ransfor m ação pr ofunda a par t ir de 1950 at é 1980 ( GAGNON, 2006) . Essa t ransfor m ação foi consequência do quest ionam ent o de vár ios m ovim ent os sociais, com o os dos defensor es dos dir eit os dos negr os, daqueles em pr ol das liber dades civis, as r evolt as est udant is, o m ovim ent o fem inist a e o m ovim ent o gay, ent r e out r os. Segundo Gagnon ( 2006) , as ciências sociais t iveram um a grande infl uência nesse pr ocesso, ao quest ionar em os dogm as da psicanálise os quais haviam for necido a j ust ifi cat iva m édica da per ver são hom ossexual. Os cient ist as sociais infor m aram que a hom ossexualidade era socialm ent e const r uída pela cult ura e pela hist ór ia, e não por fat or es biológicos ou dist or ções pr ecoces da per sonalidade.

Todo esse quest ionam ent o sobr e a hom ossexualidade e as pesquisas sociais acer ca desse gr upo par ece t er, de algum a for m a, acom panhado um a m aior liber dade sexual pr evalent e nas décadas de 1970 e 1980. Esse clim a de m aior liber dade, o sur gim ent o dos pr im eir os gr upos gays, de villages e em pr eendim ent os com er ciais dir ecionados para o público gay nessa época r efl et iam um a m aior visibilidade e liber-dade desses gr upos. Est es em igravam para os grandes cent r os ur banos, com o Nova York, Toront o, Los Angeles e Rio de Janeiro, ou, pelo m enos, essas cidades passaram a ser dest inos t ur íst icos e de t r ocas cult urais ent r e os gr upos ( ERI BON, 2007; HASLOP; HI LL; SCHI MI DT, 1998; KATES, 1998) .

No Brasil, a hom ossexualidade t eve um t rat am ent o análogo a países com o EUA e Canadá, sendo vist a com o doença a ser t rat ada ou elim inada. Em 1890, o Código Penal brasileir o pr evia punição para pr át icas hom ossexuais ent r e hom ens, m as as r efer ências no t ext o eram sut is, com a ut ilização de palavras com o “ at ent ado ao pu-dor ” e “ libidinagem ”, o que per m it ia vár ias int er pr et ações por par t e dos j ur ist as ( FRY, 1982; TREVI SAN, 2000) .

A for m a com o a sociedade brasileira via a hom ossexualidade foi se m odifi cando com o passar dos anos, em especial, quando do apar ecim ent o da Aids, nos anos 1980, que fez com que, m ais um a vez, a sociedade associasse um a doença à hom ossexuali-dade e a nom easse “ câncer gay”. Apesar disso, a epidem ia da Aids, t am bém , t r ouxe à t ona novas for m as de or ganização social do m ovim ent o GLBT ( Gays, Lésbicas, Bisse-xuais e TranseBisse-xuais) e um a m aior visibilidade e discussão desse t em a pela sociedade brasileira ( PEREI RA, 2004) . Em bora a m aneira de t rat ar a hom ossexualidade no Brasil t enha sofrido grandes m odifi cações, o t em a ainda é vist o com ressalvas pela sociedade e pelo Est ado. I nt oler ância, br incadeiras m aldosas, hom ofobia e at é violência física est ão ainda pr esent es na r ealidade dos hom ossexuais no Brasil.

Identidade homossexual

At ualm ent e, um a for t e infl uência sobr e a t eor ia social da ident idade é a cha-m ada per spect iva cult uralist a da ident idade. Nessa per spect iva, a ident idade est á r elacionada àqueles aspect os ident it ár ios que sur gem do per t encim ent o do suj eit o a gr upos ét nicos, raciais, linguíst icos, nacionais, ou sej a, a seu per t encim ent o a um ou m ais gr upos que par t ilham as m esm as at it udes, cr enças e valor es.

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com o um suj eit o unifi cado”. Esse pont o é cor r oborado por Baum an ( 2001, 2005) , que apont a a “ liquidez” da m oder nidade e, com o consequência, um a m udança dos signifi cados das inst it uições e um a fl uidez das ident idades. Segundo o aut or, a diver-sidade cult ural faz com que os indivíduos se depar em com m últ iplas ident idades que são negociadas, const ruídas e desconst ruídas no t ranscorrer da vida. Tais ident idades, t am bém , são m anej adas de acor do com os gr upos aos quais o indivíduo é afi liado e com as sit uações em que se encont r em no decor r er de sua vida.

Essa visão das ident idades com o algo fl uido e m ut ável est ar ia ligada às iden-t idades visiden-t as com o considen-t r uções sociais e, logo, discur sivas, j á que apr endem os a ser quem som os nos encont r os int eracionais do dia a dia ( BERGER; LUCKMAN, 2004; FOUCAULT, 1988; MOI TA LOPES, 2003) . Per cebe- se, assim , que as ident idades não são dadas ao hom em de form a im ut ável e est át ica, m as, sim , m anej adas e negociadas pelos gr upos e indivíduos por m eio das int erações sociais do cot idiano.

A ident idade, t am bém , est ar ia r elacionada com a difer ença e a oposição, pois aquilo que eu sou t am bém defi ne o que não sou. Pode- se, dessa for m a, dizer que a ident idade é socialm ent e const r uída e t em r elação com a difer ença. Segundo Woo-dwar d ( 2000) , a for m a com o a cult ura est abelece fr ont eiras e dist ingue as difer enças é essencial para a com pr eensão das ident idades. Esse pont o é ilust rado pela aut ora:

As ident idades são fabr icadas por m eio da m ar cação da difer ença. Essa m ar cação da difer ença ocor r e t ant o por m eio de sist em as sim bólicos de r epr esent ação, quant o por m eio de for m as de exclusão social. A ident idade, pois, não é o opost o da difer ença: a ident idade depende da difer ença ( WOODWARD, 2000, p. 39) .

Dessa m aneira, per cebem os que os suj eit os, ao const r uír em suas ident idades, buscam m ant er, de algum a for m a, a or dem social e acabam por desenvolver cer t o grau de consenso acer ca de com o classifi car o m undo social. Segundo Woodwar d ( 2000) , est a é a base da cult ura, pois é fundam ent alm ent e por sím bolos, r it uais e classifi cação que se dá a pr odução de signifi cados. Esse conceit o de cult ura pode ser com plem ent ado pelo que afi r m a McCracken ( 2003) sobr e a cult ura poder ser com pr e-endida com o as ideias e at ividades por m eio das quais m em br os de um a sociedade ou gr upo fabr icam e const r oem os signifi cados e os sent idos do m undo no qual vivem . Assim , é im port ant e ent ender o conceit o de cult ura e sua aplicação nas ciências sociais com o cam inho para se com pr eender o m undo dos signifi cados sim bólicos do consum o e as r elações t ant o ent r e as inst it uições que com põem a sociedade, com o ent r e as inst it uições e o indivíduo.

Essa const r ução de signifi cados cult urais e sist em as classifi cat ór ios binár ios de m ar cação de difer enças é, segundo Woodwar d ( 2000) , um m eio para se or ganizar a vida social. Assim , as posições sociais est ariam est abelecidas ent re insiders ( incluídos) e out siders ( excluídos) . Os grupos classifi cados com o excluídos são passíveis de cont role social segundo os padr ões do gr upo que dom ina e dit a a nor m alidade; nest e caso, o gr upo gay em r elação ao gr upo hegem ônico het er ossexual. No ent ant o, Foucault ( 1988) afi r m a que esse binar ism o, em r elação ao sexo, é fr ut o de um discur so m oral da m odernidade que t inha com o obj et ivo criar, disciplinar e cont rolar os suj eit os. Assim , enquant o esse binar ism o ( m asculino ver sus fem inino, hom ossexual ver sus het er os-sexual per durar ) , um dos lados, r epr esent ado por um a m inor ia, apesar de difer ent e e desviant e, ser á “ t olerado” pela sociedade hegem ônica ( SOUZA; CARRI ERI , 2010) .

Com o t em os abordado a perspect iva cult ural da ident idade, é necessário pensar, t am bém , num a im por t ant e dim ensão de pr odução de signifi cados do m undo social, qual sej a, o consum o, pois est e t am bém pode ser vist o com o um a form a classifi cat ória de se ident ifi car e const r uir as ident idades e difer enças.

Cu lt u r a do con su m o

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ou ouvindo um a m úsica, est ou, t am bém , m e “ const r uindo” por m eio dos signifi cados at r ibuídos aos pr odut os. Da m esm a for m a, os signifi cados at r ibuídos aos pr odut os e exper iências podem ser vist os com o a base m at er ial sobr e a qual se const r ói a cult ura. A cult ura ser ia, ent ão, com pr eendida com o as “ lent es” por m eio das quais t odos os fenôm enos são vist os, apr eendidos, int er pr et ados e assim ilados. Ser ia o plano de ação da at ividade hum ana que det erm ina as coordenadas da ação social, especifi cando os com por t am ent os e os obj et os que delas em anam ( McCRACKEN, 2003) .

Vale dest acar que esses signifi cados sim bólicos dos bens não são int r ínsecos aos m esm os, m as sim às qualidades e especifi cidades que lhes são at r ibuídas por det erm inado grupo social e que são, perm anent em ent e, ressignifi cadas e renegociadas no fl uxo da vida ( BARBOSA, 2006) . Da m esm a for m a, o m undo dos pr odut os, bens e serviços segue um sist em a de prát icas que os t ornam signifi cat ivos para det erm inados gr upos e indivíduos. São essas est r ut uras de at r ibuições de sent idos que or denam o m undo a nossa volt a e cr iam condições para que sej a est abelecido um sist em a de classifi cação do que é ou não um a m er cador ia, do que é ou não com est ível, do que é ou não vendável ( McCRACKEN, 2003) . No ent ant o, a cult ura não é com plet am ent e hegem ônica, vist o que cer t os indivíduos e gr upos podem ser capazes de int er pr et ar, t ransform ar, resist ir e m odifi car padrões cult urais previam ent e est abelecidos ( CERTEAU, 1984) . Um dos cam inhos para que isso possa ocor r er é pelo consum o. No ent ant o, o consum o não é t rat ado nest e ar t igo com o algo passivo em r elação a fat or es cult urais ext er nos, m as, sim , com um a das for ças const it ut ivas da cult ura ( WALLENDORF; ARNOULD, 1991) .

O consum o, por sua vez, é condicionado em t odos os seus aspect os por fat or es de car át er cult ural, confor m e apr esent ado a seguir :

O consum o com o usualm ent e é conhecido est ar ia r elacionado, ao m esm o t em po, a um pr ocesso social que diz r espeit o a m últ iplas for m as de pr ovisão de bens e ser viços e a difer ent es for m as de acesso a esses m esm os bens e ser viços; um m ecanism o social per cebido pelas ciências sociais com o pr odut or de sent ido e de ident idades, independent em ent e da aquisição de um bem ; um a est rat égia ut ilizada no dia a dia pelos m ais difer ent es gr upos sociais para defi nir diver sas sit uações em t er m os de di-r eit os, est ilo de vida e ident idade; e um a cat egodi-r ia cent di-ral na defi nição da sociedade cont em por ânea ( BARBOSA, 2006, p. 26) .

Aut or es com o Baum an ( 2001) e Slat er ( 2002) analisam o im pact o do consum o desenfr eado e de um a lógica det ur pada em um a sociedade na qual o consum o passa a dom inar a lógica das r elações sociais e o m er cado ser ve com o m ediador na cons-t r ução de signifi cados da sociedade; é a pr ocura pelas idencons-t idades fl uidas e m ucons-t áveis, a pr ocura do self, a pr ocura da pr ópr ia subj et ividade do indivíduo por m eio de um a sociedade de consum o, ou de consum idor es. Ser ia a vit ór ia do “ t er ” em r elação ao “ ser ”, a vit ór ia de um a sociedade hedonist a, a vit ór ia da m er cant ilização do suj eit o. Essa cult ura do consum o ser ia, ent ão, um ar ranj o social no qual as r elações ent r e a cult ura de um gr upo e seus r ecur sos sociais, e ent r e os signifi cados dos est ilos de vida e dos r ecur sos m at er iais e sim bólicos dos quais dependem são m ediadas pelo m er cado ( ARNOULD; THOMPSON, 2005) .

No ent ant o, aut or es com o Cer t eau ( 1984) defendem que ser ia um er r o supor que o consum o das ideias, bens e posses pelos “ desconhecidos” consum idor es do nosso cot idiano é um a pr át ica passiva, unifor m e, feit a de pur o confor m ism o às im po-sições do m er cado. O aut or advoga que no consum o exist em sem pr e apr opr iações e r essignifi cações im pr evisíveis, incont r oláveis, m odifi cadoras de pr et ensões pr evist as quando da pr odução das coisas. Essa ast úcia dos consum idor es, ao r essignifi car as posses, ser ia um a for m a de “ ant idisciplina” que, m aj or it ár ia na vida social, quase sem pr e apar ece com o “ r esist ência”.

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Assim , um a das m aneiras pela qual nos defi nim os é por m eio do que cham am os de nosso, com o a nossa fam ília, os gr upos a que per t encem os, a nossa cult ura e a nossa nação ( BELK, 1988) . O signifi cado at r ibuído às posses, t am bém , pode est ar r elacionado às ident idades gr upais que t em os. Essas ident idades podem est ar asso-ciadas a um a com unidade de m ar ca ( MUNI Z; O’GUI NN, 2001) , a um a subcult ura de consum o ( SCHOUTEN; McALEXANDER, 1995) , a ident idade de gêner o ( KATES, 2002) ou m esm o r elacionadas a um fã de um ser iado de TV ( KOZI NETZ, 2001) .

Por out r o lado, um a das for m as de se usar as posses para defi nir a ident idade gr upal é difer enciar o consum o int er no do gr upo do de out r os gr upos ou out sider s ( DI TTMAR, 1992) . Ber ger e Heat h ( 2007) ar gum ent am que, em cer t os dom ínios da vida social, os consum idor es, fr equent em ent e, t om am decisões que, por um lado, os difer enciam da m aior ia e, por out r o, r efor çam sua fi liação a det er m inados gr upos. Assim , gays ut ilizam os signifi cados sim bólicos do consum o para se difer enciar em de padr ões het er onor m at ivos, com o t am bém para com unicar em ou sinalizar em sua ident idade gay a seus par es. Essa r elação dicot ôm ica de difer enciação e com unicação pode ser vist a com o um a for m a de enfr ent ar o est igm a da hom ossexualidade.

Mercado, movimento LGBTS e o consumidor gay

Se o m er cado est á r ecor r ent em ent e associado a for ças explorat ór ias e danosas à sociedade e à liber dade individual dos suj eit os, em alguns casos, t am bém est á as-sociado ao cr escim ent o de m ovim ent os sociais ( KATES, 2002; PEÑALOZA, 1996) . O sur gim ent o do m ovim ent o hom ossexual depende, ent r e out ras coisas, da exist ência de locais/ espaços físicos segur os para que as ident idades baseadas em gêner o, com o a ident idade hom ossexual, possam em er gir ( GREEN, 2000) . Esses locais podem ser cent r os com unit ár ios, praças, igr ej as e/ ou est abelecim ent os com er ciais dir ecionadas para o publico hom ossexual.

Logo, para se ent ender o cont ext o at ual da cult ura gay no Brasil, é im pr es-cindível que se analisem a for m a com o a com unidade gay cr esceu, a infl uência dos m ovim ent os sociais e a sua r elação com o cr escim ent o do m er cado dir ecionado para esse consum idor.

O m er cado gay ou, com o denom inado por Peñaloza ( 1996) , t he dr eam m ar ket , m uit as vezes obser vado com o um fenôm eno r ecent e, na ver dade, cr esceu j unt o com o desenvolvim ent o da com unidade gay e do pr ópr io m ovim ent o pelos seus dir eit os. O pr ocesso de ur banização que t r ouxe um a nova est r ut ura social est á hist or icam ent e ligado ao cr escim ent o do m er cado gay, ao passo que, com o desenvolvim ent o das cidades, est as se t or naram o r efúgio dos hom ossexuais em r elação à vida no cam po, que m ant inha um a m ent alidade ext r em am ent e conser vadora quant o à sexualidade ( ALDRI CH, 2004; BRANCHI K, 2002) .

Se, na Am ér ica do Nor t e, o m ovim ent o gay est á associado ao event o de St o-newall, na m esm a época, o Brasil vivia os prim órdios da dit adura m ilit ar e o crescim ent o dos m ovim ent os polít icos de r esist ência. Tam bém , foi nessa época que os m ovim en-t os fem inisen-t as com eçaram a ganhar for ça e voz no m undo. O m ovim enen-t o gay par ece t er seguido essa t endência de r eivindicações j unt o com o m ovim ent o fem inist a. Em m eados da década de 1970, enquant o nos EUA hom ossexuais t om avam as r uas para pr ot est ar cont ra a per da de dir eit os ou cont ra assassinat os e violência, no Brasil, os m ovim ent os est udant is exigiam a anist ia dos pr esos polít icos. Nessa época, t am bém a cham ada “ im pr ensa alt er nat iva” ganhava for ça e se m ult iplicava rapidam ent e. Se-guindo essa t endência, sur giu o pr im eir o j or nal brasileir o segm ent ado para o público gay, cham ado Lam pião da Esquina, que t inha com o par t e da equipe edit or ial vár ios at ivist as do m ovim ent o gay nacional ( FRY, 1982; TREVI SAN, 2000; SI LVA, 2006; BRANCHI K, 2002) .

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praças e banheir os públicos, aquela década, m ar cada pela r ecuperação da liber dade polít ica, t am bém foi m ar cada por um a m aior liber dade de expr essão e consum o da com unidade gay ( TRI GO, 2008) .

A em ergência do HI V/ AI DS no cenário gay int ernacional de 1980 a 1990 provoca um a r econfi guração nesse cenár io e um a m aior pr eocupação da com unidade gay com a saúde e a assist ência aos infect ados. Na década de 1990, sur ge no Rio de Janeir o um a nova onda de ser viços dir ecionados para o consum idor gay com as cham adas fest as r aves, que são r ealizadas em locais diver sos na cidade e com per iodicidade var iável ( GONTI JO, 2007) .

Nesse cont ext o, apar ece a “ cult ura GLS ( Gays, Lésbicas, Sim pat izant es) ”, que t em sua m elhor r epr esent ação no Brasil nos fr equent ador es do t r echo da praia de I panem a, zona sul do Rio de Janeir o, em fr ent e à r ua Far m e de Am oedo, com o ilus-t ra Gonilus-t ij o ( 2007) , p. 55) : “ [ ...] se aglom eram , em ilus-t or no de um a bandeira com as cor es do ar co- ír is - sím bolo int er nacional do m ovim ent o gay - , um grande núm er o de hom ossexuais m asculinos, hiperviris e m usculosos” ( GONTI JO, 2007, p. 55) . Mem bros dessa nova im agem ident it ár ia gay, com um ent e cham ados de “ Bar bies”, seguem a m oda nor t e- am er icana da cult ura queer , denom inada GLS ( Gays, Lésbicas e Sim pa-t izanpa-t es) , no conpa-t expa-t o brasileir o.

Som ada a essa efervescência do m ercado gay, a I nt ernet rom pe barreiras e em erge com o um novo m eio de encont ros e relacionam ent os sociais discret os e seguros. A rede m undial de com put adores ( World Wide Web) abarcou os desej os e im aginários em sit es ousados e diret os. As cham adas salas de bat e- papos virt uais ( chat s) são um dos pont os de encont ros ent re gays, m uit o deles não assum idos e à procura de en-cont ros fort uit os e secret os. Nessa época, as viagens para o público gay j á eram um a realidade e um a exigência m ercadológica alt am ent e segm ent ada e lucrat iva. Toda essa ebulição do m ercado gay se est ende at é os dias at uais, com um fort e crescim ent o dos est abelecim ent os direcionados para o segm ent o gay e, consequent em ent e, um a m aior visibilidade desse público ( FRY, 1982; TREVI SAN, 2002; TRI GO, 2008) .

Método

Adot am os nest e est udo a per spect iva const r ucionist a de que os signifi cados do m undo social são const r uídos e m odifi cados a par t ir da int eração hum ana, fr ut os de um desenvolvim ent o hist órico e cult ural ( BERGER; LUCKMANN, 2004) . Nessa perspec-t iva, para se com pr eender a r ealidade é necessár io enperspec-t ender os signifi cados do m undo que a const it uem . Logo, o pesquisador pr ecisa elucidar o pr ocesso de const r ução dos signifi cados e esclar ecer o que e com o esses signifi cados são apr opr iados no discur so e na ação dos at or es e gr upos est udados ( SCHAU, 1998) .

Para se com pr eender a r ealidade do gr upo gay car ioca, é pr eciso ent ender a or ganização social e a cult ura em que os int egrant es desse gr upo int eragem , se com unicam , pr oduzem e m odifi cam os signifi cados do m undo em que vivem . Assim , adot am os a et nografi a com o m ét odo que se caract er iza t ant o por ser descr it ivo quan-t o inquan-t er pr equan-t aquan-t ivo. Descr iquan-t ivo, por que descr eve m inuciosam enquan-t e o fenôm eno a que se pr opõe analisar, e int er pr et at ivo, por que busca ent ender o pr ocesso de const r ução de signifi cados por par t e do gr upo. Com o afi r m a Hopkinson e Hogg ( 2006, p. 157) : “ O int er pr et at ivist a se pr eocupa em ent ender a r ealidade pela per spect iva dos suj ei-t os esei-t udados num conei-t exei-t o específi co, e explorar os signifi cados com os quais eles const r oem o m undo onde vivem ”.

Com esse int uit o, um dos aut or es dest e ar t igo inser iu- se no dia a dia do gr upo gay car ioca, de 2005 at é 2008, r ealizando obser vação par t icipant e, ent r evist as for-m ais e infor for-m ais. Durant e quat r o anos, o pesquisador foi ufor-m assíduo fr equent ador do t r echo da praia de I panem a em fr ent e à r ua Far m e de Am oedo. Passou a acom panhar e viver o dia a dia desse gr upo, com o obj et ivo de ent ender m elhor os signifi cados sim bólicos da cult ura no Rio de Janeir o.

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os pr ocedim ent os suger idos por Wallendor f e Belk ( 1989) , a saber : not as de cam po, t riangulação e m em ber check. As not as de cam po const it uíram - se a part ir dos regist ros das obser vações que um dos pesquisador es r ealizou durant e sua convivência com o gr upo pesquisado. A checagem dos r esult ados ( m em ber check) com os infor m ant es-chave foi ut ilizada cr it er iosam ent e com o for m a de r efl exão e análise dos r esult ados. Com o for m a adicional ao m ét odo et nogr áfi co, r ealizam os, t am bém , ent r evist as com 20 hom ossexuais m asculinos r esident es na cidade do Rio de Janeir o, a par t ir de um r ot eir o sem iest r ut urado ( McCRACKEN, 1988) . Para ser ent r evist ado, o infor m ant e dever ia ser assum idam ent e hom ossexual e fr equent ador de am bient es de consum o dir ecionados para o publico gay, com o bar es, boat es, cafés e praia. Para selecionar os suj eit os da pesquisa, ut ilizam os a t écnica snow ball sam pling ( ou am ost ragem por “ bola de neve” ) , pela qual um suj eit o ent r evist ado convida um dos seus am igos para par t icipar que, por sua vez, convida out r o am igo e assim por diant e. Essa t écnica foi ut ilizada por Kat es ( 1998) e Tr oiden ( 1989) em pesquisas com gr upos de gays. Vale dest acar que, nest e est udo, os nom es dos infor m ant es foram subst it uídos por pseu-dônim os, além de elim inada qualquer infor m ação que pudesse ident ifi cá- los.

Com o exist em diver sas for m as de análise do discur so ( AD) , ut ilizam os a AD francesa, m ais pr ecisam ent e a AD defi nida segundo os conceit os pós- est r ut urais de Michel Foucault . Para Foucault ( 1999, 2002, 2003) , o discurso é um a const rução social. Assim , o obj et o não pr é- exist e ao suj eit o, e am bos, suj eit o e obj et o, const it uem - se r ecipr ocam ent e. Desse m odo, não exist e para Foucault ( 1999, 2002) nada que possa ser considerado pr é- discur sivo, pois t odo discur so é for m ado por um cont ext o social que envolve inúm eras r elações de poder. Dessa for m a, para Foucault t odo discur so é um discur so hist ór ico, no qual quem fala não é o suj eit o, m as a pr ópr ia hist ór ia.

A par t ir desses pr incípios, a análise baseada em Foucault ( 2003) considera dois conj unt os. O pr im eir o, denom inado pelo aut or “ de cr ít ico”, aplica o pr incípio da inver são. Caract er iza- se por buscar for m as de exclusão, lim it ação e apr opr iação do discur so. I st o é, analisa os int er esses e necessidades que fundam ent am a for m ação dest e, invest iga com o esses int er esses e necessidades se m odifi cam e se deslocam e que for ça esse discur so exer ce sobr e essas m udanças. O segundo conj unt o, denom i-nado por Foucault de “ conj unt o genealógico”, visa pôr em pr át ica os pr incípios pr esen-t es no conj unesen-t o cr íesen-t ico: “ com o se for m aram , aesen-t ravés, apesar ou com o apoio desses sist em as de coer ção, sér ies de discur sos; qual foi a nor m a específi ca de cada um a e quais foram suas condições de apar ição, de cr escim ent o, de var iação” ( FOUCAULT, 2003, p. 60- 61) . Para ent ender m os m elhor com o o conj unt o cr ít ico e o genealógico se ar t iculam , devem os ent ender com o Foucault per cebe alguns conceit os, dent r e os quais se dest acam : acont ecim ent o discursivo, enunciado, prát ica discursiva, form ação discur siva e r upt ura.

Para Foucault ( 1999, 2002) , o som vocal não é o único elem ent o a ser levado em consideração na análise do discurso. A enunciação pode ocorrer de diversas m anei-ras, não se lim it ando apenas ao que é dit o por int er m édio da voz. Expr essões faciais, int er valos de silêncio, sinais cor porais, for m a de se vest ir, t om de voz e a ar quit et ura de um am bient e, dent r e out r os elem ent os, t am bém , são considerados for m as de enunciação. Além disso, t odo enunciado é um a pr odução social, cult ural e hist ór ica. Um a vez apr esent ados os pr incipais aspect os da m et odologia ut ilizada nest e est udo, a pr óxim a seção apr esent a a análise e a discussão dos dados.

Análise e Discussão dos Dados

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O corpo

O discur so a seguir m ost ra com o o cor po, no gr upo est udado, é obj et o de valo-r ização que deve sevalo-r cult uado, m oldado e m anej ado com o t al pavalo-ra se adequavalo-r t ant o à ident idade carioca ( GONTI JO, 2007) quant o aos padrões est ét icos de cert o t ipo de gays.

Em um a cidade com o o Rio de Janeir o, que é um a cidade balneár ia onde o cor po t em um a alt a valor ização, at é por que os encont r os na m aior ia das vezes são feit os à beira m ar, ent ão, você t em o t em po int eir o vendo, sendo vist o, com parando, se com -parando, e é nat ural que você acabe sofr endo um pouco, e você pensa: ” vam os cuidar um pouco do cor po”. Além disso, o gay t em um senso est ét ico m uit o m ais aguçado do que o het er o e exist e aquele cult o ao cor po aqui no Rio que é pot encializado no m undo gay. ( PAULO, 35 anos)

Esse cor po descr it o por Paulo, que hiper valor iza a im agem do “ m acho”, t ant o t em a função de com unicar que quem o possui se enquadra em det er m inado padr ão ident it ár io pr esent e na cult ura gay car ioca, com o, t am bém , pode ser vist o com o um cam inho para se enfr ent ar o est er eót ipo do gay fem inilizado. Vale dest acar, que nes-se t r echo o infor m ant e dest aca que a const r ução da est ét ica do cor po do nes-seu gr upo é feit a, t am bém , em r elação aos padr ões locais do Rio de Janeir o. No ent ant o, esse cor po m anipulado não quer dizer só liber dade. Ele igualm ent e signifi ca pr isão, disci-plina e cont r ole, pois ao m esm o t em po em que ext er na os signos dist int ivos int er nos e ext er nos do gr upo gay pesquisado, t am bém , im põe um a exigência de confor m idade aos m odelos sociais do gr upo. Assim , para se int egrar a esse novo gr upo é necessár io se adequar a um novo padr ão cult ural.

Apesar de nem t odo suj eit o ent r evist ado ou que faz par t e da cult ura gay car ioca aplicar em si esse padr ão est ét ico - vist o que dent r o da cult ura gay car ioca coexist e um a grande diver sidade de gr upos - , podem os dizer com bast ant e clar eza que essa est ét ica é um dos pont os m ais visíveis na cult ura do gr upo gay pesquisado. Durant e os anos de im er são nest a pesquisa, escut am os vár ias vezes, t ant o de gays quant o de het er ossexuais, frases com o: “ est á na cara que ele é gay, com esse cor po só pode ser gay” - com ent ár io feit o por um a am iga durant e um alm oço, r efer indo- se a um hom em sent ado na m esa ao lado. [ Not a de cam po, j aneir o de 2009] “ Você r econhece quem é gay pelos sinais, pelo olhar, pelo cor po” ( Car los, 32 anos) . A par t ir desse pont o, com eçam os a r efl et ir sobr e o que era o cor po para o suj eit o hom ossexual e com o o discur so associado a esse cor po era m anej ado por esse gr upo.

O cor po com o con st r u çã o cu lt u r a l

Em m uit os m om ent os da pesquisa, obser vam os o quant o o ideal de beleza do corpo m asculino é const ruído e negociado pelos inform ant es, conform e um ideal que valor iza o hom em m ásculo, m adur o ou j ovem , com apar ência saudável e, pr in-cipalm ent e, que t ranspar ece cer t o t ipo de m asculinidade que, aqui, cham ar em os de hiper m asculinidade. Com o cit ado ant er ior m ent e, não exist e um a m asculinidade, m as diver sas m asculinidades que são const r uídas a depender do cont ext o cult ural. Assim , com o ar gum ent a Eccel e Saraiva ( 2009, p.12) , exist e um a “ am biguidade de m asculinidades” ent r e os gays. De um lado, os que r epr esent am a si pr ópr ios com o m ais pr óxim os do ideal da m asculinidade dom inant e e, de out r o, os que dem onst ram a hom ossexualidade aber t am ent e, sendo agr essivos à sociedade. Para o pr im eir o gr upo, o silêncio e a invisibilidade são os m eios pelos quais conseguem m ais espaço. Essa concepção da est ét ica da hiper m asculinidade at ravés da m anipulação do pr ópr io cor po sur ge no discur so dos infor m ant es com o um a das for m as m ais claras da ident idade hom ossexual e, consequent em ent e, um a oposição à ant iga ident idade het er ossexual, confor m e pode ser obser vado nest e discur so:

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cui-dam m ais, são m ais bonit os. [ ...] Aí, eu ent r ei num a academ ia, com ecei a fazer diet a com um a nut r icionist a, fi z um a lipoaspiração; at é o cabelo eu m udei. Acho que essa m udança t oda est á ligada t am bém a você se gost ar m ais, at é m esm o a se conhecer e conhecer o seu cor po. Eu falo isso por que ant es de eu m e assum ir, eu não conhecia o m eu cor po. Eu vim a m e conhecer e conhecer o m eu cor po quando com ecei a sair com out r os hom ens, a aceit ar o que eu sou. ( DANI EL, 25 anos)

No t r echo ant er ior, Daniel m ost ra com o a t ransfor m ação do seu cor po est á for t em ent e associada à const r ução da ident idade hom ossexual e de um a nova m as-culinidade. Em um pr im eir o m om ent o, ele r enega a sua ident idade ant er ior com palavras com o “ m egagor dinho” e “ t ravado”. O que o “ t ravava” est á associado a um a ident idade que não condizia com o que ele era, ou sej a, a ident idade het er ossexual, algo que lhe foi im post o e, por isso, o im obilizava, não o deixava se conhecer. Em seguida, ele r elat a que a im agem do gay encont rada nesse gr upo era a de hom ens est et icam ent e m asculinos, o que não condizia com o est er eót ipo do gay com o um ser fem inino. Essa est ét ica encont rada em um am bient e de consum o gay signifi cava para ele t ant o o que era ser gay, com o t am bém a sua pr ópr ia m asculinidade. Há, por t ant o, um pr ocesso de r essignifi cação em cur so. Com o os hom ens que encont r ou par eciam “ m ais m asculinos que os pr ópr ios het er os”, ent ão, para ser gay, ele não pr ecisava deixar de ser m asculino, m as apenas r eint er pr et ar a m asculinidade. Esse pont o t raz duas quest ões r ecor r ent es durant e t oda a pesquisa: a r econst r ução do cor po por m eio do consum o de pr odut os e ser viços, visando pr incipalm ent e m oldá- lo e t udo que o cobr e confor m e os padr ões do gr upo gay pesquisado, e a const r ução de um novo t ipo de m asculinidade. Esse últ im o pont o vai de encont r o ao est udo de Eccel e Saraiva ( 2009) , segundo o qual exist em vár ias m asculinidades.

É int er essant e per ceber, t am bém , no discur so desse infor m ant e, que, para alcançar t al ideal est ét ico do cor po alm ej ado, ele t eve que passar a consum ir vár ios ser viços ligados à est ét ica e à t ransfor m ação do cor po, com o os de um a academ ia de ginást ica, de um cir ur gião plást ico e de um nut r icionist a. O m undo dos pr odut os e ser viços - do m er cado, enfi m - par ece dar supor t e a esse plano de m udança e aquisição de um a nova ident idade. Ao r ecor r er a t odos esses r ecur sos, ele const r ói um cor po confor m e os padr ões est ét icos de cer t o gr upo gay; padr ões est es que o “ dest ravam ” e o liber t am .

Na últ im a par t e do depoim ent o, Daniel fala com o o ideal est ét ico que escolheu, do qual é consum idor, vai de encont r o à im agem do gay fem inino, do gay que não é nem hom em e nem m ulher. Nesse m om ent o, ele m ost ra o quant o essa nova ident ida-de, e t odos os signifi cados associados a ela, são um a for m a de enfr ent am ent o, t ant o em nível pessoal com o social, do est igm a que o desqualifi ca socialm ent e ( GOFFMAN, 1988) . Ao ser quest ionado sobr e o por quê da im por t ância de ele t er um cor po m us-culoso e m alhado, o ent r evist ado r esponde:

[ ...] por que eu gost o de m e exibir, gost o de t irar a cam isa, gost o de t irar a cam isa na boat e, gost o de ser desej ado, gost o de seduzir, gost o de m e sent ir bem , gost o de ver as pessoas m e vendo, vendo e elogiando. Ent ão, ali é um m om ent o disso, m as, na ver dade, de m e t or nar um a cara int er essant e em pot encial dent r o do m eu m eio. E t em um a coisa: nenhum het er o vai usar um a r oupa daquela, um a gola V at é lá em baixo. A gent e quer m ost rar nosso peit o, nosso bust o. Quer em os ser desej ados e m ost rar que som os livr es.

O signifi cado do cor po para Daniel vai m uit o além da fi siologia. É, t am bém , m et afor icam ent e vist o com o um pr odut o que ele expõe para ser r econhecido pelo seu gr upo, para ser desej ado e para difer enciá- lo. No ent ant o, a const r ução desse cor po não se dá som ent e para difer enciá- lo dent r o do gr upo, m as, t am bém , em r elação à sociedade het er o- or ient ada. Ao afi r m ar que “ nenhum het er o vai usar um a r oupa da-quela”, ele est á se const r uindo e se difer enciando em r elação ao que ident ifi ca com o r efer ências het er ossexuais de consum o.

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A hipermasculinidade

O signifi cado do corpo para os inform ant es parece est ar int im am ent e ligado à est é-t ica m asculina desej ada e valorizada dené-t ro do grupo gay pesquisado. Na verdade, um a est ét ica ligada a um a hiperm asculinidade, ou sej a, ao hom em com m úsculos sobressa-lent es e defi nidos, j ovem ou m aduro, com com port am ent o m asculino e olhar desafi ador.

Exist e um a cobrança m uit o m aior no m undo gay do que no het er o, e com eça com o cult o ao cor po, que acho que o gay cuida m il vezes m ais que o het er o. Bast a você ver o cara na r ua que, m esm o que ele não t enha um cor po super m alhado, ele se cuida, ele não t em bar r iga, vest e um a r oupa que valor ize. É assim que você per cebe que o cara é gay; é a at it ude. ( MARCOS, 26 anos)

Para Mar cos, é por m eio do cor po que é possível ident ifi car se alguém é gay ou não, pois esse cor po m alhado, const r uído, é a m ensagem que com unica cer t o t ipo de m asculinidade, um código, um a m ensagem que apenas quem é gay vai conseguir decifrar. O cor po, assim , t em um a função de com unicar e localizar o out r o em um cont ext o ident it ár io gay.

Com o Marcos deixou claro, esse corpo, t am bém , afi rm a um t ipo de m asculinidade difer ent e da m asculinidade hegem ônica het er ossexual. Os discur sos dos infor m ant es descr evem um cer t o t ipo de m asculinidade m ais ligada à for m a de se vest ir, andar e se com por t ar. Na fala dos infor m ant es, essa m asculinidade é r epr esent ada pelos signifi cados sim bólicos que o gr upo at r ibui ao consum o.

Os infor m ant es se m ost raram ext r em am ent e cont r olador es de si m esm os e dos out r os gays, de for m a a se dissociar em do est er eót ipo do gay fem inino:

É que a cult ura gay t em m uit o a ver com o univer so m asculino. Mas acho que no univer so gay t udo é um pouco m ais exacer bado, por que você t em que vencer não só pr ofi ssionalm ent e, econom icam ent e, m as visualm ent e... E aí o gay, t alvez, ele acabe se t or nando um pouco fant asioso em r elação ao univer so m asculino, por que t udo par ece um pouco exagerado. Se ele não quer t er esse est igm a da bicha afet ada ou de fem inino, aí ele se t or na m ais m asculino e aí é quase um exager o t am bém . ( CRI STI ANO, 35 anos)

Cr ist iano, que é designer , faz um a int er essant e r elação ent r e a const r ução do corpo e da hiperm asculinidade por part e dos gays. Segundo ele, os gays pot encializam os sinais de m asculinidade vindos do cor po com o for m a de com bat er o est er eót ipo do gay fem inino e afet ado. Essa const r ução de um cor po hiper m asculino chega ao exager o e é, r ecor r ent em ent e, descr it a pelos infor m ant es com o fr ut o de exaust ivas horas em academ ias de ginást ica, consum o de suplem ent os alim ent ar es e, at é m es-m o, de est er óides. Esse r esult ado, ees-m par t e, apr oxies-m a- se da cat egor ia que I r igaray ( 2007, p. 09) denom inou de “ Machão”, que ser iam os suj eit os que, no am bient e de t rabalho, evit am a im agem do gay fem inino e, por out r o lado associam a sua im agem ao m acho lat ino e gr osso.

Dessa for m a, o cult o exacer bado ao cor po e à hiper m asculinidade não par ece ser apenas um consum o hedonist a de si m esm o, m as algo que vai m uit o além . Est á ligado à pr odução de um a ident idade hom ossexual que quebr e os est er eót ipos e super e o est igm a de que o hom ossexual é, com o expr esso nas ent r evist as, um ser assexuado ou ligado ao fem inino. Par ece que a m aneira que a cult ura gay encont r ou de t ent ar se legit im ar perant e a sociedade foi const r uindo um a ident idade hom osse-xual que est ivesse o m ais pr óxim a possível da ident idade het er osseosse-xual do hom em . Um a vez que o cor po é a em balagem usada para expr essar e com unicar, par ece ser nat ural que o m esm o sej a ut ilizado pelo gr upo gay com o for m a de const r ução dessa nova ident idade hom ossexual.

Corpo: divisão e estigma no mundo gay

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t am bém pode ser usado com o for m a de dem ar cação e hierar quização, vist o, assim , com o pr odut o e, com o t al, é consum ido. É o cor po cober t o de signos e sím bolos de dist inção, o cor po que com unica difer enças e r efor ça “ hierar quias”, com o dem onst ra o discur so a seguir :

Eu não fi co m ais ali no m eio da Far m e. As pessoas que est ão ali não t êm nada a ver com igo e nem eu t enho um cor po igual ao deles. Tenho 47 anos e não sou m alhado, ent ão, não fi co m ais ali. Não per t enço m ais a esse gr upo. ( JOÃO)

Est a frase é de João, um car ioca de 47 anos que, num a ent r evist a infor m al, feit a na praia, confi denciava com o se sent ia excluído de alguns gr upos gays no Rio de Janeir o. Apesar de não m alhar m ais, ainda m ant inha um a diet a r igor osa e um a ver dadeira fi xação com a sua est ét ica. Par ecia que t inha t r ocado a academ ia pelo consum o de pr odut os est ét icos e der m at ológicos que m ant ivessem a sua j uvent ude e apar ência saudável. Essa pr essão por confor m idade com esse ideal est ét ico não est á pr esent e apenas na cult ura gay da cidade do Rio de Janeir o, m as na pr ópr ia cult ura car ioca ( GONTI JO, 2007) . No ent ant o, no gr upo gay pesquisado sur ge, r ecor-r ent em ent e, com o um a foecor-r m a de dem aecor-r cação e de hieecor-raecor-r quização int eecor-r na do gecor-r upo, confor m e o t r echo a seguir :

É por que, assim , eu acho que, em geral, as pessoas gost am m uit o da coisa do r ót ulo. Todo m undo t em que se enquadrar, t em que se r ot ular de algum a for m a. Ent ão, no m eio gay, j á t em um r ót ulo, um grau de valor es onde o cara que é at ivo, m alhado e m ásculo é o m ais valor izado [ ...] . A bichinha est á no nível abaixo; ent ão, ela j á sofr e... É excluída no m eio dela. ( ALBERTO)

O r ót ulo descr it o por Alber t o ( 36 anos) ext er naliza os vár ios est er eót ipos r e-pr oduzidos pelos gays e ident ifi cados nas obser vações de cam po. O r ót ulo é um a das for m as classifi cat ór ias e est igm at izant es de um gr upo social ( CROCKER, 1998) e, no caso dest e est udo, est á for t em ent e r elacionado ao quão pr óxim o do ideal m asculino het er ossexual o indivíduo est á dent r o do pr ópr io gr upo. Alber t o, que est et icam ent e r epr oduz esse ideal da hiper m asculinidade em si, cr it ica a cult ura gay exat am ent e por ut ilizar esse ideal com o for m a de divisão e valoração hier ár quica int er na. Ser ia a r epr odução, por par t e do gr upo gay analisado, de um a lógica binár ia ( m asculino ver sus fem inino) ainda pr esent e em grande par t e da sociedade brasileira, onde o fem inino é est igm at izado, no caso dest e est udo, o gay m ais afem inado. Essa lógica binár ia pr oduz e r epr oduz o pr econceit o e a hom ofobia ( SOUZA; CARRI ERI , 2010) . Esse pont o é ilust rado, m ais um a vez, por esse infor m ant e:

[ ...] t odo m undo sofr e pr econceit o, nasceu com pr econceit o e, quando consegue algo, cont inua agindo com um a at it ude pr econceit uosa dent r o do seu pr ópr io m eio. Quer dizer, com o se ele esquecesse t udo aquilo que ele sofr eu. I sso é m uit o louco! A gent e se pega com at it udes pr econceit uosas e esquecendo que a gent e sofr eu t ant o pr econceit o! Você acaba acr edit ando que o m odelo cor r et o é o m odelo het er ossexual, e r epr oduz ele. ( ALBERTO)

O com ent ár io de Alber t o confi r m a o que, m uit as vezes, foi obser vado em cam po. Tant o a est ét ica do cor po hiper m asculino com o o grau de “ com por t am ent os m asculinos” são sím bolos delim it ador es int er nos do gr upo gay. Quant o m ais pr óxim o possível do est er eót ipo do gay afem inado, m ais est igm at izado o indivíduo pode ser. Muit os infor m ant es r elat aram que “ não se sent iam à vont ade” ( MARCOS, 26 anos) ou que “ esse t ipo de gay causa a visão pr econceit uosa cont ra a gent e” ( MARCELO, 39 anos) . Assim , t er am igos afem inados com o com panhia ser ia o m esm o que t er que “ sair do ar m ár io” para a sociedade.

Considerações Finais

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só-lidas ident idades, dando lugar a inúm eras ident idades dinâm icas e fl uidas, t endo os t radicionais m eios de pr odução dessas ident idades - por exem plo, a fam ília, a r eligião e o t rabalho - sido enfraquecidos.

Est e ar t igo m ost r ou que o gr upo est udado se engaj a em vár ias pr át icas de con-sum o, de m odifi cação e m anipulação do cor po. I sso im plica despender longas horas em academ ias de ginást ica, r ecor r er a cir ur gias plást icas, ao consum o de cosm ét icos e, at é m esm o, de est er óides, com o int uit o de acum ular o que aqui denom inam os ca-pit al est ét ico, fazendo com que o cor po sej a vist o com o um obj et o de valor, um bem , const r uído e possuído por seu dono. Nessa condição, o cor po é usado com o for m a de dist inção e ident ifi cação, dent r o ou fora do gr upo gay analisado.

Para o gay, o cor po deixa de t er um a dim ensão individual e pessoal, adquir indo um a dim ensão social e sim bólica for t e e m ut ável. Pode- se dizer que um cor po “ m a-lhado” e “ m asculino” const it ui um sinal de saúde, de vir ilidade e que, pr incipalm ent e, r efor ça um a ident idade hom ossexual “ m ais nor m al” ou, pelo m enos, que, segundo o gr upo analisado, é m ais aceit a pela sociedade. No ent ant o, essa pr ocura por um a “ nor m alidade” por par t e do gr upo gay pesquisado, at ravés da const r ução da est ét ica do cor po, pr ovoca, t am bém , um a for t e pr essão int er na nos indivíduos, que passam a se suj eit ar a pr át icas de consum o de pr odução do cor po e a um grande est r esse pessoal. Afi nal, t al est r esse at ende a um a nor m a int er na do gr upo que, ao m esm o t em po, os libera e os apr isiona, que lut a cont ra um est igm a espoliant e e const r ói um novo est igm a const it uidor do gr upo ( CROCKER, 1998; GOFFMAN, 1988) . A et er na pr ocura pela beleza e a inconfor m idade com o cor po t or na aquilo que poder ia ser um a for m a de legit im ação social um a font e de angúst ia e insegurança. O cor po, en-t ão, en-t or na- se um a “ insígnia” ( GOLDENBERG; RAMOS, 2007, p. 39) que faz com que aquele que o possua se t ransfor m e num vigilant e de si m esm o para cont r olar esse cor po, discipliná- lo, dom est icá- lo e apr isioná- lo, visando at ingir a “ boa for m a” ou a for m a r equer ida pelo gr upo.

O cor po passa, ainda, a ser vist o com o algo valorat ivo, com o um bem que pode ser m elhorado, classifi cado e post o à venda num m ercado de corpos. O corpo no m undo gay é um a m ar ca que posiciona o indivíduo em um “ m er cado”, que o posiciona e o dist ingue em r elação aos concor r ent es e que, t am bém , o r eduz e sim plifi ca.

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