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om
Est ilo de v ida e v u ln e r a bilida de socia l dos a dole sce n t e s n o Ba ir r o de Fe lipe Ca m a r ã o, N a t a l/ RN , 2 0 0 5 1
Est ilo de v ida y v u ln e r a bilida d socia l de los a dole sce n t e s e n e l Ba r r io de Fe lipe Ca m a r ã o, N a t a l/ RN , 2 0 0 5
St y le of h e a lt h fu l a n d socia l v u ln e r a bilit y of t h e a dole sce n t s in t h e Qu a r t e r of Fe lipe Ca m a r ã o, N a t a l/ RN , 2 0 0 5
Akem i I w at a Mont eir o I, Jovenal Dant as de Medeiros I I, Juliana Roque de Oliveir a I I I
RESUM O
Est e est udo descr eve o est ilo de vida e vulnerabilidade dos adolescent es do bairr o Felipe Cam arão em Nat al- RN, a fim de com pr eender seus com por t am ent os, conform e vulnerabilidades ident ificadas. Foram aplicados 145 quest ionár ios sem i- est r ut urados ent r e os adolescent es de 12 a 18 anos, no per íodo de j aneiro, a abril de 2005. O est ilo de vida descr it o, confor m e os dados colhidos, infor m a que 92,4% sabem da im por t ância de se alim ent ar bem , 86,9% t êm sono pr eser vado; 76,5% t êm boa r elação com seus pais. Por ém , 86,9% afir m ar am não haver ár ea de lazer / diver são no bair r o, enquant o os 31,0% não responderam sobre higiene corporal; 41,4% consom em dr ogas lícit as ( m aior ia álcool) , enquant o 37,9% , as ilícit as ( m aior ia cola) ; 51,7% dizem que não conver sam sobr e sexo, enquant o 30,3% conver sam com suas m ães; 38,0% est ão sexualm ent e at ivos, iniciados ent re 13 a 16 anos. Os com por t am ent os de alguns adolescent es est udados indicam um est ilo de v ida saudável, enquant o out r os dem onst r am j ust am ent e o cont r ár io, at r avés de pr át icas com o: pouca part icipação no lazer, por falt a de opção; consum o de drogas lícit as e ilícit as; a falt a de diálogo com os pais sobr e sexo; r elacionam ent o sexual pr ecoce, som ados às condições econôm icas e sociais desfavor ecidas que os expõem à adoção de um est ilo de vida que im plica em vulnerabilidade.
Pa la v r a s ch a v e : Análise de vulnerabilidade;
Est ilo de vida; Com por t am ent o do adolescent e.
ABSTRACT
This st udy it describes t he st yle of life and vulnerabilit y of t he adolescent s of t he quar t er of Felipe Cam arão in Nat al- RN, in order t o under st and it s behavior s, as ident ified vulnerabilit ies. The quest ionnaire half-st ruct uralized, w as applied in t he 145
adolescent s, bet w een 12- 18 year s, in t he per iod of j anuar y- apr il of 2005. The dr aw n st yle, as t he dat a had been 92.4% know of t he im port ance of if feeding w ell; 86.9% have pr eser ved sleep; 76.5% have good r elat ion w it h it s parent s. How ever , 86.9% had affir m ed not t o have leisur e area/ diversion in t he quart er. The 31.0% had not answ ered on cor por al hy giene; 41.4% consum e allow ed dr ugs ( m aj or it y alcohol) , w hile 37.9% ilíct as ( m aj or it y glue) ; 51.7% say t hat t hey do not t alk w it h nobody on sex, w hile 30.3% t alk w it h m ot hers; 38.0% are sexually act ive, init iat e bet w een 13- 16 year s. The behavior s of t he st udied adolescent s indicat e a st yle of healt hful life, w hile ot hers, not , such as: lit t le part icipat ion in t he leisure, due t o opt ion; consum pt ion of allow ed and illicit drugs; t he lack of dialogue w it h parent s on sex; pr ecocious sexual r elat ionship, added disfavor ed t he econom ic and social condit ions displays t hem in adopt ing a life st yle t hat im plies in vulnerabilit y.
Ke y w or ds: Vulner abilit y analysis; Life st yle;
Behavior of t he adolescent .
RESUM EN
Est o est udio describe el est ilo de vida y vulnerabilidad de los adolescent es del barrio de Felipe Cam ar ão, Nat al- RN, con la finalidad de
1Ar t igo const r uído a par t ir do desenvolv im ent o de t r abalho
de pesquisa de iniciação cient ífica apr esent ado à Univer sidade Feder al do Rio Gr ande do Nor t e com o t ít ulo: Per fil de adolescent es de um bair r o do m unicípio de Nat al.
I Enfer m eir a, Dr .em Enfer m agem , Pr ofessor a do
Depar t am ent o de Enfer m agem da Univer sidade Feder al do Rio Gr ande do Nor t e. Nat al- RN. E-m ail: ak em iiw at a@hot m ail.c
.br
I I Enfer m eir o do Hospit al de Macau- RN.
E-m ail: j ovenal.dant as@pop.com
.br
I I I Acadêm ica do 8º per íodo do Cur so de Enfer m agem da
com pr ender sus com por t am ient os, según vulnerabilidades ident ificadas. Fuer am aplicados 145 cuest ionarios sém e-est r uct ur ados, ent r e los adolescent es del 12- 18 años, en el período de enero- abril de 2005. El est ilo diseñado fue: El 92,4% saben de la im port ancia de alim ent arse bien; el 86,9 % t ienen sueño pr eser vado; el 76,5% t ienen buena r elación con sus padr es. Sin em bar go, el 86,9% afir m ar on no haber ár ea de ocio/ diversión en el barrio, m ient r as el 31% no cont est aron acerca de higiene corpor al; el 41,4% consum en drogas lícit as ( alcohol, la m ayoría) , m ient ras el 37,9% las ilícit as ( pegam ent o de zapat er o, la m ayor ía) ; el 51,7% dicen que no char lan con nadie acer ca de sexo, m ient r as el 30,3 % charlan con sus
m adr es; el 38 % est án sexualm ent e act ivas, em pezando ent r e 13- 16 años. Los com por t am ient os de algunos adolescent es est udiados indican un est ilo de vida saludable, m ient r as ot r os, no, t ales com o: poca par t icipación en el ocio, por falt a de opciones; consum o de drogas lícit as y ilícit as; falt a de diálogo con los padres acerca de sexo; r elación sexual pr ecoz, añadida a las condiciones económ icas y sociales desfavor ecidas los exponen al est ilo de vida que im plica en vulnerabilidad.
Pa la br a s cla v e : Análisis de vulnerabilidad;
Est ilo de vida; Com por t am ient o del adolescent e.
I N TROD UÇÃO
O pr esent e est udo foi desenvolvido na
Unidade Básica de Saúde da Fam ília, do Bairr o
de Felipe Cam ar ão, m unicípio de Nat al/ RN, em
quat r o m icr oár eas de abr angência dest e PSF.
Teve, com o pr opósit o, descr ever o est ilo de
vida dos adolescent es dessa ár ea, ident ificando
a vulnerabilidade social a qual est es j ovens
est ão expost os, o que per m it e t r açar um
diagnóst ico da sit uação, cont r ibuindo, assim ,
par a o planej am ent o e im plem ent ação de
ações de pr om oção à saúde desses
adolescent es.
Vale ressalt ar que a prom oção à saúde
const it ui, hoj e, um a per spect iva par a as ações
dest inadas à m elhor ia da qualidade de vida das
populações, o que com pr ova isso é a car t a de
Ot aw a, quando explicit a que " o pr ocesso de
capacit ação da com unidade par a at uar na
m elhor ia de sua qualidade de vida e saúde,
incluindo um a m aior par t icipação no cont r ole
dest e pr ocesso” ( 1). A pr om oção da saúde,
nesse pr ocesso, não é r esponsabilidade
exclusiva do set or saúde, pois vai par a além de
um est ilo de vida saudável, na direção de um
bem - est ar global. A saúde é o m aior r ecur so
par a o desenvolvim ent o social, econôm ico e
pessoal, assim com o um a im port ant e dim ensão
da qualidade de vida. Fat ores polít icos, sociais,
cult ur ais, am bient ais, com por t am ent ais e
biológicos podem t ant o favor ecer com o
pr ej udicar aquela ( 1).
Mas, par a que as ações de pr om oção à
saúde sej am im plem ent adas, é necessár io
conhecer a população em foco, que, na m aior ia
das vezes, m anifest a car act er íst icas pr ópr ias
do cont ext o social, com o é o caso dos
adolescent es. De acordo com a Or ganização
Pan- Am er icana de Saúde ( OPS) e a
Or ganização Mundial de Saúde ( OMS) , " a
adolescência const it ui um pr ocesso
fundam ent alm ent e biológico de vivência
or gânica no qual se aceler am o conhecim ent o
cognit ivo e a est rut uração da per sonalidade.
Abr ange a pr é- adolescência ( dos 10 aos 14
anos) e a adolescência ( dos 15 aos 19 anos) ”
( 2)
.
Por ém , esse pr ocesso de adolescer não
abr ange apenas m odificações de cunho
1 7 8 sexual, ideológico e vocacional, sendo esses
influenciados pela int er ação do adolescent e
com a fam ília, sociedade e em seus diversos
com ponent es ( econôm icos, inst it ucionais,
polít icos, ét icos, cult ur ais, físicos, am bient ais) .
Cer ca de 31 m ilhões de adolescent es
com põem a população brasileira ( 3). Eles
vivenciam r efor m ulações nos hábit os, conceit os
e valor es da sociedade, bem com o
m odificações na for m a de viver e enxer gar
quest ões, com o sexualidade e qualidade de
vida, influenciados pela sociedade, t am bém em
const ant e m udança. Deve- se aqui levar em
consider ação que a m aior ia dos adolescent es,
enquant o ser es cr ít icos/ r eflexivos t em a
capacidade de avaliar a incor por ação ou não de
t ais valor es e de m odificá- los de acor do com
suas pr ópr ias idéias.
Na adolescência, o perfil de m orbidade
m uda em relação à infância. Agora não são
m ais as doenças pr evalent es na infância que
vão car act er izar o per fil, m as um conj unt o de
doenças e agr avos decor r ent es, sobr et udo, do
com por t am ent o sexual, do uso ou não de
dr ogas e do convívio social, os quais com põem
o est ilo de vida de cada adolescent e. Segundo
Lar ousse ( 4), est ilo de vida é considerado “ o
conj unt o dos gost os, da m aneir a de ser de
alguém ; a m aneira pessoal de se vest ir, de se
pent ear , de se com por t ar , et c” . Pode ser
expr esso pelos com por t am ent os das pessoas e
pela m aneir a com o elas se r elacionam com os
out r os e com o am bient e.
Com o elem ent o det er m inant e da
pr om oção à saúde, o est ilo de vida pode
const it uir - se em significado im por t ant e no
pr ocesso de const rução de um a vida saudáv el
e com m ais qualidade de vida, a par t ir da
adoção de hábit os de vida saudáveis, t ais com o:
pr át ica de at ividade física, alim ent ação
saudável, de m odo que se possa enfr ent ar as
diver sas condições ou sit uações adver sas. As
r elações afet ivas solidár ias e de cidadania
devem ser est im uladas ent r e os adolescent es,
de m odo a levá- las a sent ir e est ar no m undo,
com o obj et ivo do bem viver . Nest e sent ido, a
qualidade de vida de um a pessoa é, na m aior ia
das vezes, or ient ada pelo est ilo que desenvolve
no seu dia- a- dia.
Nesse cenár io, a falt a de diálogo sobr e
sexualidade, uso de drogas e out ros pr oblem as
na fam ília, assim com o os t abus im post os por
est a e pela sociedade, levam o adolescent e a
iniciar a at ividade sexual pr ecocem ent e, par a a
qual, m uit as vezes, encont r a- se despr epar ado.
I sso gera um quadr o pr eocupant e,
car act er izado pelo aum ent o do núm er o de
adolescent es gr ávidas e a incidência cr escent e
de doenças sexualm ent e t ransm issíveis nest a
faixa et ária( 5) .
Out r os pr oblem as, com o a exposição ao
HI V/ AI DS e a pr át ica do abor t o, põem em r isco
a vida da adolescent e e do fet o. Aliados a est e
quadr o dest acam - se, ainda, agr avos
relacionados ao uso de drogas, acident es e
violência int r afam iliar . No que se r efer e a est a,
obser va- se que a violência est á pr esent e nas
diver sas classes sociais; ent r et ant o, a for m a de
violência m ais cr uel cont r a os adolescent es é a
violência física e psicológica, gerada pela
pr ost it uição( 6).
No Município de Nat al- RN, a explor ação
sexual e a prost it uição infant o- j uvenil t êm
r epr esent ado um sér io pr oblem a de saúde
pública, r equer endo ur gência na efet ivação de
ações sociais e educacionais consist ent es e
t ipo de com ércio que envolve os adolescent es
( 6)
.
Pode- se infer ir que o com por t am ent o
sexual dos adolescent es sofr e influência dir et a
da fam ília, da sociedade, de valores
t radicionais e conservadores, assim com o da
est r ut ur a econôm ica e social na qual est ão
inser idos. Nesse sent ido, o adolescent e é um
ser em pr ocesso de t r ansição, t ant o biológico
com o psicossocial, viv enciando um est ilo de
vida que necessit a de supervisão
dir et a/ indir et a de t odos os at or es sociais
envolvidos nesse pr ocesso: pais, educador es,
pr ofissionais de saúde, or ganism os sociais e
governam ent ais e a sociedade em geral.
Visualizar a m ult idim ensionalidade da
qualidade de vida desses j ovens não é um a
t ar efa fácil, pois é pr eciso obser var as
dim ensões físicas, psicológicas, o nível de
consciência, as r elações sociais, o m eio
am bient e e a espirit ualidade do indivíduo,
elem ent os, que com põem o seu est ilo de vida
( 7)
.
Assim , ent ende- se a prom oção da saúde
com o um elem ent o im prescindível par a
favor ecer um a m elhor qualidade de vida, a
par t ir dos det er m inant es da saúde, t ais com o:
est ilo de v ida; avanços da biologia hum ana;
am bient e físico e social e ser viços de saúde ( 7),
cam inhos que levam os pr ofissionais dessa
ár ea e educador es ao conhecim ent o do est ilo
de vida dos adolescent es do bair r o Felipe
Cam ar ão par a, a par t ir daí, com pr eender
m elhor a qualidade de vida dessa população.
Nesse sent ido, est ilo de vida deve ser
ent endido com o a for m a de ser e viver das
pessoas, suas escolhas r elacionadas à cult ura
da r egião, aos hábit os adquir idos no am bient e
fam iliar e social, ao longo do t em po.
Com preender a im port ância do est ilo de
vida para a saúde das pessoas é am pliar a
concepção de vida saudável e dar passos
im por t ant es no cam inho que leva à const r ução
dela. Por isso, adot ar hábit os de vida saudáv eis
é per seguir um par adigm a de saúde, no qual o
suj eit o at ivo é o pr ot agonist a do cont ext o
recriado. Dessa form a, ele cont ribui quando
part icipa da reform ulação e criação de polít icas
públicas que incidam posit ivam ent e na saúde
de t odos e, pr incipalm ent e, aperfeiçoando- se
para lidar com o m undo de um a form a posit iva
e conscient e.
Qualidade de vida não deve ser
cir cunscr it a a indicador es par a planej ar as
ações dos ser viços de saúde e sim aos “ ...
m odos de andar a vida, r evelador es de
sat isfações e dem andas, inclusões e exclusões,
com plexas int er ações colet ivas e par t icular es
com am bient es nat urais e sociais, incluindo
acesso a escolhas e m odos de sat isfazer
carências, possibilidades e lim it es do processo
de viver , além de const r uções cult ur ais e
sim bólicas sobr e est e m esm o pr ocesso” ( 2).
Por out r o lado, cont r apondo- se aos
conceit os de qualidade de vida e de pr om oção
da saúde, t em - se um a condição, denom inada
v ulnerabilidade, que pr edispõe o indivíduo a
sit uações que podem int er fer ir na busca de um
est ilo de v ida saudável e, por conseguint e,
num a qualidade de vida m elhor . O conceit o de
vulnerabilidade “ pode ser r esum ido j ust am ent e
com o esse m ovim ent o de consider ar a chance
de exposição das pessoas ao adoecim ent o
com o a r esult ant e de um conj unt o de aspect os
não apenas individuais, m as t am bém colet ivos,
cont ext uais, que acar r et am m aior
suscet ibilidade à infecção e ao adoecim ent o e,
1 8 0 disponibilidade de r ecur sos de t odas as or dens
par a se pr ot eger de am bos” ( 8). Assim é
pr em ent e a im por t ância de se consider ar a
disponibilidade ou a carência de recursos
dest inados à pr ot eção das pessoas.
Em out r a perspect iv a, v ulnerabilidade é o
“ r econhecim ent o da plur alidade e diver sidade
da vida hum ana e, por t ant o, do viver
adolescent e, e im põe a rupt ura com m odelos
de ações dir igidas a um suj eit o univer sal
inexist ent e, por pr oposições que par t am das
difer enças const ruídas, m ant idas e
t r ansfor m adas na vida social, incor por ando no
dir ecionam ent o da assist ência a discussão
sobr e est ilo de vida e agr avos à saúde, bem
com o de elem ent os que det erm inam a
necessidade de at enção m ais específica com o
educação, cult ur a, t r abalho, j ust iça, espor t e,
lazer , ent r e out r os” ( 2).
Out r o im por t ant e inst r um ent o conceit ual
par a os m odos de int er pr et ar , planej ar e
avaliar ações em saúde, confor m e Ayr es ( 8), é a
busca da sínt ese conceit ual,” t r azendo os
elem ent os abst r at os associados e associáveis
aos pr ocessos de adoecim ent o par a plano de
elabor ação t eór ica m ais concr et os e
par t icular izados, nos quais os nexos e
m ediações ent r e esses fenôm enos sej am o
obj et o pr opr iam ent e dit o do conhecim ent o” .
Nest e sent ido, a vulnerabilidade sob essa
per spect iva( 8) pode ser consider ada a par t ir de
t r ês planos analít icos básicos e int er ligados.
O individual que est á relacionado aos
com por t am ent os associados a m aior
vulnerabilidade, que im plica em qualidade da
infor m ação de que os indivíduos dispõem sobr e
o pr oblem a e a capacidade de elabor ar essas
infor m ações e as incor por ar aos seus
r eper t ór ios cot idianos e pelos gr aus de
consciência e poder de t r ansfor m ação
individuais em pr át icas pr ot egidas e pr ot et or as
( plano que inclui os fat or es biológicos) .
Já o social diz respeit o à avaliação das
colet iv idades, incluindo acesso à infor m ação e
sua ut ilização conscient e de m odo que haj a
m udanças pr át icas individuais que não
depende só dos indivíduos, m as aspect os com o,
acesso aos m eios de com unicação,
escolar ização, disponibilidade de r ecur sos
m at er iais, poder de influenciar decisões polít ica,
est ar em livr e de coer ções violent as,
invest im ent os na saúde, aspect os
sociocult ur ais ( com o a sit uação da m ulher ) ,
liberdade e direit o conquist ados e condições de
bem - est ar .
Finalm ent e, o pr ogr am át ico ou
inst it ucional, por sua vez, r em et e ao
desenvolvim ent o de ações inst it ucionais
volt adas a pr oblem as específicos, envolvendo
com prom issos oficiais, coalizão
int er inst it ucional, planej am ent o, qualidade,
ger enciam ent o, capacit ação, financiam ent o,
est r at égias de cont inuidade e avaliação.
Dessa for m a, com pr eende- se que o est ilo
de vida e a vulner abilidade coexist em na vida
cot idiana de t odas as pessoas e j am ais exist ir á
um cont r ole per feit o sobr e t ais aspect os, por
m ais que se t enha aum ent ado a qualidade de
vida. Dessa for m a, obj et iva- se analisar o est ilo
de vida dos adolescent es, em cont r aposição à
vulnerabilidade.
M ETOD OLOGI A
Tr at a- se de um est udo explor at ór io e
descr it ivo, com abor dagem quant it at iva,
r ealizado no bair r o de Felipe Cam ar ão, do
Município de Nat al/ RN. As quat ro m icro- áreas
da Unidade Básica de Saúde de Felipe Cam ar ão
est ão localizadas na per ifer ia da cidade.
Residem nele t r abalhador es que r ecebem de
um a dois salár ios- m ínim os, na sua m aior ia, os
quais se deslocam do seu bair r o par a t r abalhar
nos cent r os com er ciais da capit al.
O universo do est udo foi const it uído por
adolescent es, com idade ent r e 12 e 18 anos,
filhos desses t r abalhador es, per t encent es as
quat r o m icr o- ár eas de at uação das equipes da
Est r at égia de Saúde da Fam ília ( ESF) ,
ident ificados a par t ir de um levant am ent o feit o
no pr ont uário das fam ílias, baseando- se na
relação nom inal, por faixa et ária. Realizou- se
um processo de am ost ragem probabilíst ica
aleat ór ia sim ples, m ediant e sor t eio par a
seleção dos par t icipant es. A com posição da
am ost r a cor r espondeu a 145 ( 7% ) do t ot al de
2.069 adolescent es cadast r ados no r efer ido
pr ont uár io.
A colet a de dados foi feit a, m ediant e
ent r evist a individual, no dom icílio, pelos
aut or es da pesquisa, acom panhados pelo
Agent e Com unit ár io de Saúde ( ACS) da sua
ár ea de abr angência, no per íodo de j aneir o a
abr il de 2005. O inst rum ent o para a colet a foi
elabor ado e t est ado ant es da aplicação, a fim
de aj ust á- lo m elhor aos obj et ivos da pesquisa.
Est a foi const it uída de um quest ionár io sem
i-est r ut ur ado com per gunt as aber t as e fechadas,
r efer ent es à ident ificação dem ográfica,
condições sociais, econôm icas e am bient ais,
hábit o de vida, cidadania e qualidade de vida,
violência, saúde, afet ividade e sexualidade.
Foi resguardado o direit o ao anonim at o,
bem com o, o de desist ir da pesquisa a
qualquer t em po, sem que isso possa ocasionar
qualquer pr ej uízo ou const r angim ent o, a part ir
da assinat ur a do Ter m o de Consent im ent o
Livre e Esclarecido, com o est abelece a
Resolução 196/ 96 do Conselho Nacional de
Saúde ( CNS) , que dispõe sobr e a pesquisa
envolvendo ser es hum anos ( 9)
. O proj et o de
pesquisa foi apr ovado pelo Com it ê de Ét ica da
Univer sidade Feder a do Rio Gr ande do Nort e
sob r egist r o CEP- UFRN 92- 04.
Os dados for am analisados at r avés de
est at íst ica descrit iva e os result ados são
apr esent ados e discut idos sob form a per cent ual
e gr áfica, além de ser em analisados conform e
a lit er at ur a per t inent e.
RESU LTAD OS
Os r esult ados for am apr esent ados
inicialm ent e t razendo o perfil do grupo
est udado que inclui a ident ificação social,
econôm ica e am bient al e, post eriorm ent e,
r elat a- se o est ilo de vida que cor r esponde aos
hábit os cor r iqueiros; lazer violência; saúde;
afet ividade e sexualidade dos 145 adolescent es
ent r evist ados.
QUEM SÃO OS ADOLESCENTES?
São 145 j ovens, que se encont r am ent r e
12 a 18 anos, m or ador es do bair r o Felipe
Cam arão, do m unicípio de Nat al- RN, localizado
ent re as dunas que fazem part e das m argens
do r io Pot engi. Dist r ibuídos nas faixas et ár ias
de 12 e 13 anos, 33 ( 22,7% ) ; de 14 e 15 anos,
40 ( 27,6% ) ; de 16 e 17 anos, 50 ( 34,5% ) ; e
de 18 anos, 22 ( 15,2% ) . A am ost r a ficou
const it uída de 81 ( 55,9% ) par t icipant es do
sexo fem inino e 64 ( 44,1% ) do sexo
m asculino. Do t ot al de 145 par t icipant es, 128
( 88,3% ) são solt eir os. Quant o à sit uação de
est udo, obser vou- se que a gr ande m aior ia, 121
( 83,4% ) dos 145 adolescent es, est á
1 8 2 Ensino Fundam ent al, poucos est ão no 2º grau.
Dos adolescent es que est ão na escola, 50
( 34,5% ) r efer ir am gost ar de est udar .
Ent r et ant o, o bair r o não ofer ece o Ensino Médio
par a os j ovens que pr et endem dar
cont inuidade aos est udos. Além disso, a
localização do Ensino Médio não oferece m elhor
acesso aos adolescent es. A m aior ia vive em
casa de alvenar ia com quat r o a seis côm odos.
Dispõe de água encanada, ( provenient e da
r ede pública e é ut ilizada par a o consum o
hum ano) de ener gia elét r ica e de colet a pública
de lixo.
Sobr e at ividades desem penhadas pelos
adolescent es, obser vou- se que 16 ( 11,0% )
t r abalham , e 125 ( 86,2% ) aj udam seus pais
nos t r abalhos dom ést icos. É im por t ant e
salient ar que 73 ( 50,3% ) dos j ovens
ent r evist ados t êm ent r e 12 a 15 anos, faixa
et ár ia em que ainda não se concluiu os
est udos, enquant o apenas 22 ( 15,2% ) t êm 18
anos.
Sobr e as condições de m or adia, 80
( 55,2% ) r esidem em casas com 5 a 8 pessoas.
Os pais ou r esponsáveis por 99 ( 68,3% )
adolescent es t êm r enda ent r e 1 e 2 salár
ios-m íniios-m os; 5 ( 3,4% ) não r efer ir aios-m r enda
nenhum a, sendo que dest es, 4 ( 2,7% )
r ecebem doações e 3 ( 2,1) “ fazem bico” .
Tr int a e quat r o adolescent es ( 23,4% ) não
souber am r esponder . São,
por t ant o,caract er íst icas sociodem ogr áficas e
econôm icas t ípicas de per ifer ia de gr andes
cidades da r egião Nor dest e, não difer indo,
porém , das dem ais localidades do país ( 10).
Est ilo de v ida
Dent r e os aspect os que car act er izam o
est ilo de vida dos adolescent es do bair r o Felipe
Cam ar ão, os m ais obser váveis são os
HÁBI TOS, que se const it uem de alim ent ação,
higiene cor por al, sono, lazer / diver são, uso de
dr ogas, ent r e out r os, com o t am bém a par t e
AFETI VA, SEXUAL, e a SEGURANÇA. A
alim ent ação dos 134 ( 92,41% ) adolescent es é
baseada no consum o diár io de m assas, café e
fr ut as, no café da m anhã. No j ant ar , além das
m assas, há sopa e car ne. Já no alm oço, os
m ais cit ados for am : feij ão, ar r oz e car ne. Nos
lanches, novam ent e for am as m assas as m ais
cit adas, seguidas por suco e doce. Rar am ent e,
os adolescent es cit am ver dur as com o alim ent o
im por t ant e que deve fazer part e das suas
r efeições, o que denot a o desconhecim ent o
deles em r elação à sua necessidade nut r icional.
Esse fat o pode ser explicado pelas
pr ecár ias condições econôm icas e sociais nas
quais a m aior ia dos adolescent es est á inser ida.
É com um , ent r e os adolescent es, o excesso de
alim ent os gor dur osos e doces, o que t em
aum ent ado o núm er o de j ovens com doenças,
com o diabet es, hiper t ensão,
hipercolest erolem ia e obesidade. A alt eração
nut r icional pr edom inant e ent r e os adolescent es
é alert ada por alguns est udiosos ( 11).
Relacionados, com as condições sociais,
cult ur ais e econôm icas dos adolescent es e,
por t ant o, da sua r espect iva fam ília, os hábit os
alim ent ar es sofr em influência dir et a de t ais
condições.
HI GI ENE CORPORAL E SONO - Os
adolescent es est udados r efer em m ant er
higiene cor por al no cot idiano, com o se pode
obser var nos dados que seguem : 100 ( 69,0% )
referiram t om ar banho diário e 93 ( 64,1% )
escovar os dent es diar iam ent e. Ent r et ant o, 45
( 31,03% ) dos 145 adolescent es não
bucal, o que é m ot ivo para invest igar m elhor o
asseio cor por al e o est ado dent ár io desses
adolescent es. Quant o ao sono, 126 ( 86,9% )
referiram dor m ir bem à noit e, m ais de 8 horas
por dia, o que at ende à exigência biológica da
fase de aceler ação de cr escim ent o e
desenvolvim ent o ( 12).
LAZER/ DI VERSÃO- O bair r o não ofer ece
espaços e nem at ividades par a lazer / diver são
par a a m aior ia dos adolescent es, confor m e
r elat ado pelos par t icipant es do est udo. Dos
126 ( 86,9% ) adolescent es que afir m ar am não
haver ár ea de lazer / diver são no bair r o, 52
( 35,7% ) alegar am que falt a quadr a de
espor t es e 52 ( 35,7% ) pr aça, denot ando,
por t ant o, lacunas em duas for m as de
ent r et enim ent os básicos, indispensáveis à
população local.
Apesar das r espost as negat ivas, em
r elação ao lazer / diver são, foi per gunt ado sobre
sua par t icipação em algum a dessas at ividades.
Set ent a e quat r o ( 51,0% ) r esponder am que
não par t icipavam , por ém 40 ( 27,6% )
r elat ar am que gost am de sair par a passear ; 31
( 21,4% ) alegar am a falt a de t em po e a
ausência de lazer / diver são no bair r o.
DROGAS LÍ CI TAS - Álcool e cigar r os são
as principais drogas, dit as lícit as, consum idas
pela m aior ia dos 60 adolescent es que r eferir am
consum ir algum a dr oga lícit a, confor m e se
pode obser var no Gr áfico 01.
Gr á fico 0 1 : Tipos de drogas lícit as consum idas pelos adolescent es. Nat al- RN, 2005. n= 60
93,3% 100%
80%
60%
31,7% 40%
20%
3,3%
0%
Alcool Cigar r o Out r as
Os adolescent es que bebem expõem - se
aos r iscos e agr avos de for m a pr ecoce, pois a
ingest ão precoce de bebidas alcoólicas
cont r ibui par a a ocor r ência de violência ent r e
eles ( 13).
DROGAS I LÍ CI TAS - A facilidade dos
adolescent es em adquir ir as drogas ilícit as é
evident e pelas r espost as posit ivas; quando
quest ionados sobr e a facilidade de
consegui-las, 55 ( 37,9% ) r esponder am que j á
consum ir am t ais subst âncias. O Gr áfico 02
especifica as drogas ilícit as que os
adolescent es indicar am que t iveram acesso.
“ O acesso” r efer e- se à facilidade de adquirir
dr oga, por t ant o, não necessar iam ent e indica
Gr á fico 0 2 : Tipos de dr ogas ilícit as que os adolescent es t iver am acesso, Nat al- RN, 2005. n= 55
1 8 4 AFETI VI DADE E SEXUALI DADE - Nesse
t em a,foi abor dada a r elação afet iva dos
adolescent es com seus pais e par ceir os. Um
t ot al de 111 ( 76,5% ) r efer e t er boa r elação
com os pais, enquant o 7 ( 4,8% ) afir m am t er
péssim as r elações. Dest es últ im os, 2 ( 28,6% )
m encionaram o espancam ent o, provocado pela
m ãe, com o m ot ivo para t al pr oblem a. Essa
sit uação assem elha- se aos achados de out r os
est udos ( 13- 14) que t êm pont os com uns nas
sociedades per ifér icas, com o nas gr andes
cidades do país, em que o espaço dom ést ico
t em um for t e poder de r egulação social.
O Gr áfico 03 t em o propósit o de m ost r ar
as r espost as dos adolescent es ( n= 145) acerca
da for m a de r elacionam ent o sexual com seus
par ceir os.
Gr á fico 0 3 : For m a de r elacionam ent o com sexo opost o indicada pelos adolescent es. Nat al- RN,
2005. n= 145
Dos 54 ( 37,3% ) adolescent es que
r efer ir am pr efer ir “ ficar ” ao invés de nam or ar ,
15 ( 27,8% ) ar gum ent am que isso ocor r e
por que não quer em per der a liber dade, 37, 3%
25, 5% 25, 5% 11, 7%
0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40%
Fica Nam or a Nem nam or ou e
nem ficou Tem Com panheir o ( a)
Cocaina 3,6%
Lança per fum e 5,5%
Cr aque 12,7%
Loló 30,9%
Maconha 65,5%
Cola 74,6%
enquant o 10 ( 18,5% ) relat am não t er achado a
pessoa ideal par a nam or ar e 29 ( 53,7% )
pr efer ir am não r esponder .
No que se refere ao assunt o sexualidade,
dos 145, 44 ( 30,3% ) r efer ir am não t er
int er esse no assunt o, 101 ( 69,7% ) m ost r ar am
-no, sendo que dest es ( 101) , 33 ( 32,7% )
gost ariam de saber m ais sobre as Doenças
Sexualm ent e Tr ansm issíveis ( DST) e 29
( 28,7% ) sobr e m ét odos cont r acept ivos.
Acredit a- se que a idade ( m enor) dos
adolescent es pode t er influenciado na r espost a
negat iva.
O Gr áfico 04 m ost r a com quem os
adolescent es conver sam sobr e sexo.
Gr á fico 0 4 : Pessoa com quem os adolescent es conver sam sobr e sexo. Nat al- RN, 2005. n= 145
60%
51,7%
50%
40%
30,3% 30%
20,7% 20%
10%
3,5% 2,8%
3,5% 2,1%
1,4% 0%
C
o
m
a
m
ig
o
s
O gr áfico 04 apr esent a a r ealidade do
t em a sexo, com o e com quem ela é apr eendida
ent r e os adolescent es. Apenas 24,2% , dos
145, conver sam com os pais, especialm ent e,
com a m ãe; a m aior ia ( 51,7% ) não conver sa
com ninguém , agr avando, acent uadam ent e,sua
sit uação.
Tam bém se per gunt ou aos adolescent es o
que favor ecia o r elacionam ent o sexual pr ecoce.
Quar ent a e seis ( 31,7% ) não souber am
r esponder , 51( 35,2% ) afir m ar am que o desej o
favor ece e 15 ( 10,3% ) apont ar am a falt a de
or ient ação dos pais ou influência dos am igos. A
precocidade do relacionam ent o sexual é
dem onst r ada por 55 ( 38,0% ) adolescent es que
disser am ser sexualm ent e at ivos. Do t ot al, 90
( 62,0% ) confirm ar am que ainda cont inuam
inat ivos. Não se sabe se essa infor m ação é
fidedigna, t endo em vist a que esse t em a é
m uit o velado.
O Gráfico 05 especifica a idade em que os
55 adolescent es iniciar am sua vida sexual,
C
o
m
a
m
ã
e
C
o
m
p
a
is
Ir
m
ã
o
s
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(a
)
C
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m
n
in
g
u
é
m
T
ia
O
u
tr
o
dem onst r ando que a idade ent r e 13 a 15 anos foi a faixa et ár ia r elat ada com m ais fr eqüência.
Gr á fico 0 5 : I dade em que iniciou a vida sexual. Nat al- RN, 2005. n= 55
Não lem br a 7,3%
17 a 18 anos 7,3%
10,9% Menos de 13 anos
13 a 14 anos 34,6%
15 a 16 anos 40,0%
20% 30% 40% 50%
0% 10%
1 8 6 SEGURANÇA - Devido a o bairro ser
consider ado violent o, pr incipal pr oblem a
vivenciado por m uit as com unidades car ent es,
com o a de Felipe Cam ar ão, o qual apr esent am
núm er os alar m ant es de hom icídios sem anais,
os adolescent es t om am vár ias m edidas de
segur ança par a se sent ir em segur os.
As m edidas que os adolescent es r efer em
adot ar para se sent ir em m ais segur os est ão
r et r at adas no Gr áfico 06. O gr áfico dem onst r a
os r iscos aos quais os adolescent es est ão
expost os com o a violência dr oga/ t r áfico, real
pr oblem a que am eaça a segur ança pessoal,
além de const it uir um a lim it ação sim bólica,
r epr esent ada pelo sent im ent o de m edo.
Gr á fico 0 6 : Medidas adot adas pelos adolescent es par a se sent ir em segur os em seu bair r o. Nat
al-RN, 2005. n= 145
Ficar dent r o de casa 4,1%
Nada 5,5%
7,6% 32,4% Fechar as por t as
8,3%
Evit a sair a noit e Ter boas am izades 13,1%
Não ir a lugar es
29,7% per igosos
Out r os
Essa sit uação assem elha- se com os
com por t am ent os adot ados por m uit os
adolescent es de grandes m et rópoles,
Gonçalves ( 14) , o qual m ost ra a sit uação
caót ica dos j ovens em relação à sua segur ança
no Rio de Janeir o. Ent ret ant o, exist em 29,7%
dos adolescent es que r esponderam que não
fazem “ nada” . Pode- se concluir que, em
virt ude da violência urbana, esses são m ais
vulner áveis do que os out r os que dem onst r am
ser m ais conscient e ao ut ilizar algum m eio de
pr ot eção.
D I SCUSSÃO D OS RESULTAD OS
Os adolescent es das quat r o m icr o- ár eas
da ESF do bair ro pesquisado adot am bons
hábit os de higiene, sono adequado e est ão
inser idos no am bient e escolar . Por ém , na sua
preferência alim ent ar por m assas e poucas
ver dur as e fr ut as, associada a pouco exer cício
despor t ivo, t or nam - se vulner áveis aos
pr oblem as nut r icionais e físicos. Além disso, o
lazer , um a das at ividades im por t ant es no
pr ocesso de cr escim ent o e desenvolvim ent o
dos adolescent es par a for t alecer o cam inhar da
vida para a fase adult a, aparece com o um a
lacuna nas suas vidas, por falt a de
opor t unidade no bair r o. A esse r espeit o, Boff
( 15)
r esgat a a t r adição ocident al ligada à figur a
de Asclépio ( dos gregos) ou Esculápio ( dos
lat inos) , na qual se valor izava a dança, m úsica,
ginást ica, poesia, r it os e sono par a cur a das
doenças, dem onst r ando, com isso, a
im por t ância de lazer na vida cot idiana das
pessoas, j á naquela época.
Por out r o lado, esses adolescent es
gost am de consum ir álcool e t êm facilidade de
acesso às dr ogas ilícit as; dent r e as m ais
cit adas, est ão cola e m aconha. São at it udes de
r isco pr em ent e vislum br adas, na m aior ia das
vezes, por falt a de opção e per spect iva de
ascensão educacional e pr ofissional. I sso é
apont ado pelos adolescent es quando se
referem à falt a de colégio de nível m édio no
bairro.
Tam bém gost am de nam or ar e “ ficar ” ,
m as m uit os não falam sobr e sexo com
ninguém , o que é pr eocupant e. O
r elacionam ent o sexual ocor r e ent r e 13 a 16
anos, idade pr ecoce, com r isco par a a gr avidez
e a m at ernidade pr em at ura. Na m aior ia das
vezes, a adolescent e é solt eir a e sem condições
em ocionais, sociais e econôm icas par a cuidar e
educar seu filho, além do r isco de se expor em
a DST ( 16).
Quant o à segurança, prefer em
perm anecer m ais t em po em casa, com m edo
de violência. Ent r et ant o, a m aior ia deles gost a
do seu bair r o. Essa cont r adição é r eflet ida por
Maffesoli ( 17), quando afir m a que: “ o pr azer dos
sent idos, a vivência m inúscula, em r esum o, a
vida sem qualidades é o que garant e, em longo
pr azo, a m anut enção e o per durar societ ais” .
Ao cont inuar sua idéia, o aut or par t e de um a
hipót ese de que “ isso se dá por que o det alhe é,
de cer t o m odo, o m undo em súm ula, sua
condensação” .
Diant e de t al vulner abilidade expost a,
per gunt a- se de quem ser ia a r esponsabilidade
par a pr eveni- los e pr ot egê- los? E que t ipo de
t r abalhos educacionais est ão sendo feit os j unt o
a esses adolescent es, pelos set ores
r esponsáveis?
Acr edit a- se que é da responsabilidade da
sociedade com o um t odo, at r avés de ger ação
de pr ogr am as com unit ár ios que, dir ecionar iam
planos de ação que abar cassem as
necessidades da r ealidade a serem t r abalhadas
( 18)
. Ent ende- se que os pais são os pr im eir os
r esponsáveis por pr ot eger em os adolescent es.
1 8 9 esperada não é essa. A exclusão social dos que
não possuem bens m at er iais ocor r e de for m a
per ver sa, t or nando- os, t am bém , vít im as ou
r eféns desse esquem a capit alist a. Mor in ( 19)
r eflet indo sobr e a vida, aler t a que: “ at ingim os
o est ágio supr em o no desenvolvim ent o dos
m eios de t r ansform ação, subj ugação e
dest r uição da vida, e a quest ão da
r esponsabilidade hum ana em r elação à vida j á
não pode ser parcelada e dividida. Ao m esm o
t em po e corr elat ivam ent e, a vida da
hum anidade est á em j ogo na sua exist ência,
na sua qualidade, na sua finalidade” .
Nesse sent ido, é pr eciso que os pais,
pr ofissionais de saúde e educador es volt em os
olhar es par a esses adolescent es que est ão
m er gulhados nessa sociedade violent a, com
pouca opção e per spect iva. Que se
com pr eendam t odas as suas com plexidades
em t r ansfor m ação, definindo “ cont ext os
int ersubj et ivos geradores de vulnerabilidade e,
de m odo ar t iculado, cont ext os int er subj et ivos
favor áveis à const r ução de r espost as par a a
redução dessas vulnerabilidades” ( 19).
Const it ui, par a Ayr es ( 20), um dos m ais
novos e decisivos desafios par a a pr evenção,
a lut a por polít icas públicas volt adas
para o for t alecim ent o da fam ília, que par a o
aut or, é um a das saídas, j á que est a é o
espaço pr im eir o que sela o sent ido social de
t odos os seus com ponent es. A quest ão m aior ,
diant e desse est ilo de vida dos adolescent es, é
saber que est r at égias podem ser adot adas
pelos t r abalhador es de ser viços de saúde par a
se inst r um ent alizar em e r ecr iar em , r
e-apr opr iando- se dos inst r um ent os de ação.
A abor dagem dos adolescent es deve
par t ir dos t r ês pr essupost os t eór icos, a saber :
Fundam ent ais ( conceit o da saúde dos
adolescent es) , I nst rum ent ais ( est rat égias par a
a ação em saúde dos adolescent es) e Básicos
( est r ut ur ant es da ação em saúde dos
adolescent es)( 2)
. Os fundam ent ais baseiam - se
nos conhecim ent os sobr e adolescência; os
espaços do adolescer- fam ília, escola e m eio
social; pr ocesso saúde- doença ( 2). Os
inst r um ent ais são dir eit os e bioét ica, qualidade
de vida, pr om oção à saúde,vulner abilidade,
educação e saúde. Os básicos são polít icas
par a a j uvent ude, pr ocesso de t r abalho em
saúde e de enfer m agem e t ecnologia e
t r abalho em saúde. Ent ende- se que, ao
im plem ent ar os pressupost os, os pais,
educador es e pr ofissionais de saúde devem
r epensar o m odo com o se r elacionam e
int eragem , pois a vulnerabilidade t orna- se a
paut a do m om ent o hist ór ico e social, no qual
há dificuldade de se t er r econhecim ent o da
plur alidade e diver sidade da vida hum ana.
I sso significa que há um a exigência da
fam ília, das escolas e da sociedade par a um a
m aior com pr eensão e at enção a essa fase da
vida. Enquant o a at uação dos ser viços de
saúde ocorr e at r avés da ESF, exigindo, dos
pr ofissionais de saúde, a m udança de at it ude,
no sent ido de recriar para re- significar as
ações no seu pr ocesso de t r abalho. Os pais,
j unt o aos educador es e a equipe de ser viços
de saúde, devem est ar int egr ados, ar t iculados
e aguçados da “ [ ...] ação e da consciência
hum ana. Mas a consciência e a ação pr ecisam
de um pr incípio de conhecim ent o no qual o
hom em deixe de ser um m it o, um a abst r ação
ou um nada, par a apar ecer na nat ur eza de
Hom o com plex.” ( 19)
.
Cada vez m ais, há necessidade de
com pr eender e at uar com o adolescent e, na
singular e colet ivo, int erset orial,
m ult idisciplinar, pois, sem esse ent endim ent o
pode expô- los a r ealidade social, t am bém
com plexa e que não pára de invent ar novas
for m as de ex clusão.
CON CLUSÃO
Os adolescent es do bairro Felipe Cam arão
adot am um est ilo de vida com um , real e
passivo, expondo- se aos diver sos r iscos,
confor m e a condição ofer ecida pelo seu bair r o,
t ant o no pont o de vist a individual com o no
colet ivo.
Os hábit os de higiene cor por al e sono, da
m aior ia deles, são consider ados bons, com
exceção da alim ent ação, o que r em et e
diret am ent e à vulnerabilidade individual e
indiret am ent e à vulnerabilidade social.
I nver sam ent e à falt a de lazer , há um m aior
consum o de álcool e cigar r os. Enquant o isso, o
acesso ( porém não consum o) a drogas ilícit as
est á sem pr e pr esent e. Na sexualidade, há um
gost o pelo “ ficar ” , r elacionam ent o em que “ r ola
t udo” e, por t ant o, a iniciação sexual ocor r e
pr ecocem ent e. A falt a de diálogo sobr e sexo e
sexualidade com pessoas de cr edibilidade lev a
os adolescent es a um a vulner abilidade r eal que
j am ais poderia ser om it ida por fam iliares, por
educador es e pelas equipes de saúde.
Foi possível visualizar a ausência de
elem ent os, dit os essenciais, com o ensino
público de qualidade, lazer / diver são, am bient e
social ( t ipo pr aça e quadr as de espor t es,
bibliot ecas) , par a at ender à necessidade dessa
faixa et ária e à população com o um t odo, no
seu cam inhar cot idiano.
Diant e da análise, pode- se afir m ar que o
est ilo de vida adot ado pelos adolescent es t raz
conseqüências para a própria realidade de
qualidade de vida da sua fam ília, que j á é
pr ecár ia, e da sociedade. Ent r et ant o, ainda
levando em cont a que a pobreza é um
poder oso det er m inant e de vulner abilidade, é
pr eciso consider ar que, m esm o em populações
pobr es, há difer enças int er nas de ext r em a
relevância para a qualidade de vida, t ais com o
o gr au de escolar idade, cult ur a, r eligiosidade
de or igem ét nica, aspect os que, vist os na
dinâm ica confor m ador a de int er subj et ividade,
devem ser consider ados ( 20), necessit ando,
dessa for m a, de um a at enção volt ada, com
ênfase, para o m elhoram ent o global da
população do bair r o.
Essas reflexões conclusivas indicam que
há um a necessidade de que os pr ofissionais de
saúde inst rum ent alizem - se cada vez m ais,
adquir indo conhecim ent os e r ecur sos capazes
de operar, subsidiar e ou int erm ediar
t r ansfor m ações desej adas. Especificam ent e, o
t r abalhador de enfer m agem pr ecisa
com pr eender seu pr ocesso de t r abalho,
principalm ent e, seu inst rum ent o ou m eios de
t r abalho, que o capacit e na possibilidade de r
e-significação do t r abalho de enferm agem j unt o
a adolescent es, r ecr iando e r e- apr opr iando
inst r um ent os de ação, num a per spect iva
aut onom izant e do t r abalhador , de m odo que
possa const r uir os laços de solidar iedade e
com prom isso com a qualidade de vida dessa
população.
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Ar t igo r ecebido em 04.12. 06