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Conceito de missão em John Stott e René Padilla: Relação entre proclamação da palavra e a ação social

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO

CONCEITO DE MISSÃO EM JOHN STOTT E RENÉ PADILLA:

RELAÇÃO ENTRE PROCLAMAÇÃO DA PALAVRA E AÇÃO SOCIAL

POR

MARCOS AURÉLIO DA SILVA

São Bernardo do Campo, SP.

(2)

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO

CONCEITO DE MISSÃO EM JOHN STOTT E RENÉ PADILLA:

RELAÇÃO ENTRE PROCLAMAÇÃO DA PALAVRA E AÇÃO SOCIAL

POR

MARCOS AURÉLIO DA SILVA

Dissertação de Mestrado apresentada à banca examinadora, em cumprimento parcial às exigências do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo, para obtenção do grau de Mestre, sob a orientação do Prof. Dr. Jung Mo Sung.

São Bernardo do Campo, SP.

(3)

FICHA CATALOGRÁFICA

Si38c Silva, Marcos Aurélio da

Conceito de Missão em John Stott e René Padilla: relação entre

proclamação da palavra e ação social. Marcos Aurélio da Silva /-- São

Bernardo do Campo, 2012.

138fl.

Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) – Faculdade de Humanidades e Direito, Programa de Pós Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo

Bibliografia

Orientação de: Jung Mo Sung

1. Missão integral da Igreja 2. Igreja e sociedade I. Título

(4)

Relação entre Proclamação da Palavra e Ação Social”, elaborada por Marcos Aurélio da Silva, foi apresentada em 19 de março de 2012, perante a banca examinadora composta pelo Prof. Dr. Jung Mo Sung (Presidente/UMESP), Prof. Dr. Geoval Jacinto da Silva

(Titular/UMESP) e o Prof. Dr. Alberto Kenji Yamabuchi (Titular/Faculdade Teológica Batista de São Paulo).

________________________________________

Professor Dr. Jung Mo Sung

Orientador e Presidente da Banca Examinadora

________________________________________

Professor Dr. Leonildo Silveira Campos

Coordenador do Programa de Pós-Graduação

Programa: Ciências da Religião.

Área de concentração: Religião, sociedade e cultura.

(5)

Dedico ao

(6)

“Porque a raiz de todos os males é o amor ao dinheiro, por cujo desenfreado desejo alguns se afastaram da fé, e a si mesmos se afligem com múltiplos tormentos. 1 Timóteo 6.10

“Então Samuel tomou uma pedra e a colocou entre Masfa e Sem, e lhe deu o nome de Ebenezer, dizendo: até aqui Iahweh nos socorreu”. 1 Samuel 7.12

(7)

Agradeço e amo IAHWEH por ser “lâmpada para os meus pés e luz para o meu caminho”.

Ao Prof. Jung Mo Sung que me orientou e sempre se fez presente. Ao Prof. Geoval J. da Silva que me entrevistou no processo seletivo, foi examinador na banca de qualificação e na defesa desta dissertação.

Ao Prof. Lauri E. Wirth que foi examinador na banca de qualificação e suplente (UMESP) na defesa desta dissertação.

Aos professores examinadores externos: Alberto Kenji Yamabuchi

(titular/FTB.SP) e Ricardo Bitun (suplente/UPM) por aceitarem meu convite.

À Profa. Sandra D. de Souza que me entrevistou no processo seletivo e me auxiliou no preparo do projeto de qualificação.

Ao Prof. James R. Farris pelo incentivo para meu ingresso no mestrado. Ao Prof. Etienne A. Higuet e ao Prof. Rui de S. Josgrilberg por me acolherem nos grupos de pesquisa do Programa da Pós-Graduação.

Aos demais professores da Pós-Graduação com quem fiz o curso.

Às funcionárias da UMESP: Regiane (secretaria da coordenação), Camila e

Vanete (secretaria da Pós-Graduação), Rita (da biblioteca) e a Zélia (da Editora). Ao amigo Vitor C. de Souza, grande companheiro de estudos.

(8)

Proclamação da Palavra e Ação Social.138fl. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião – Religião, Sociedade e Cultura) — Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, 2012.

RESUMO

No presente estudo sobre o tema “Conceito de Missão em John R. W. Stott e C. René Padilla” procurei analisar a relação entre proclamação da palavra e ação social contextualizada no Evangelho. Esta dissertação desenvolvida no Programa da Pós-Graduação em Ciências da Religião, pertence à linha de pesquisa “Religião, Sociedade e Cultura”. A metodologia adotada na coleta de dados foi de uma revisão bibliográfica. O questionamento que norteou a pesquisa foi: qual o conceito de missão mundial em J. Stott e de missão integral em R. Padilla? Com as respostas obtidas, foi realizado um comparativo entre a teologia de ambos. No primeiro capítulo foi apresentado o conceito de missão mundial na teologia de J. Stott. No segundo capítulo, foi apresentado o conceito de missão integral na teologia de R. Padilla. Já no capítulo três, foi realizado um comparativo no qual ficou demonstrado que J. Stott em sua teologia da missão mundial prioriza a proclamação da palavra pela igreja, deixando o serviço de ação social para segundo plano, ao priorizar a necessidade da salvação da alma do pecador que se arrepende, mediante a aceitação Jesus Cristo como seu salvador. Em contrapartida, R. Padilla em sua teologia da missão integral coloca a proclamação da palavra e a prestação de serviço mediante a ação social de forma conjunta e indissociável para concretizar o anúncio do Reino de Deus na sociedade.

(9)

SILVA, Marcos Aurélio da. Conceito de Missão em John Stott e René Padilla: Relação entre Proclamação da Palavra e Ação Social.135fl. Thesis (Master’s Degree in Sciences of Religion – religion, society and culture) — São Paulo Methodist University, São Bernardo do Campo, 2012.

ABSTRACT

“The concept of Mission on John R. W. Stott and C. René Padilla” is a research that analyses the relation between the proclamation of the word and the social action as contextualized in the Gospel. This thesis, developed towards the granting of the Master’s Degree in Sciences of Religion, belongs to the “Religion, Society and Culture” research field. The bibliography revision was the methodology used for the data collection. The question that guided the research was: what is the concept of world mission in J. Stott and integral mission in R. Padilla? Among the answers it was possible to compare the theology of J. Stott and R. Padilla. In the first chapter, the concept of world mission in the theology of J. Stott was presented. In the second chapter, the concept of integral mission in the theology of R. Padilla was presented as well. In the third chapter, through a comparison it has been demonstrated that J. Stott emphasizes the proclamation of the word by the church, leaving the social service action as a second matter, because his priority is the need of salvation of the sinner, through repentance and the acceptance of Jesus Christ as the savior. On the other hand, R. Padilla sets the proclamation of the word and the service through social action in a joint way and making them inseparable in order to achieve the announcement of the Kingdom of God in society.

(10)

SIGLAS E ABREVIAÇÕES

ASTE > Associação de Seminários Teológicos Evangélicos

AT > Antigo Testamento

CIEE > Comunidade Internacional de Estudantes Evangélicos

CLADE > Congresso Latino‐Americano de Evangelização

EST > Escola Superior de Teologia (RS)

FTL > Fraternidade Teológica Latino‐Americana

FTL‐B > Fraternidade Teológica Latino‐Americana setor Brasil

NT > Novo Testamento

PL/74 > Pacto de Lausanne de 1974. Documento do Congresso Mundial de Evangelização.

(11)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 13

CAPÍTULO I – EVANGELHO E MISSÃO MUNDIAL EM J. STOTT 18

1.1 ‐ Breve biografia de John Stott 18

1.2 Evangelho e Missão Mundial em J. Stott 22

1.2.1 – Evangelho e o Paradoxo Humano 29

1.2.2 – Evangelho e a Liberdade Humana 32

1.2.3 – Evangelho ‐ Cristo e Sua Cruz 35

1.2.4 – Evangelho ‐ Cristo e Sua Ressurreição 38

1.2.5 – Evangelho – Jesus Cristo é Senhor 40

1.3 ‐ A MISSÃO MUNDIAL DA IGREJA 43

1.3.1 – Missão Holística da Igreja 50

CAPÍTULO II – EVANGELHO E MISSÃO INTEGRAL – R. PADILLA 59

2.1 ‐ Breve biografia de R. Padilla 59

2.2 – O Evangelho Integral e a Evangelização do Mundo 63

2.2.1– A Evangelização e a Separação do Mundo 68

2.2.2– A Evangelização e o Compromisso com o Mundo 73

2.3 – A MISSÃO INTEGRAL DA IGREJA – R. PADILLA 77

2.3.1– Missão da Igreja no Mundo Contemporâneo 78

(12)

CAPÍTULO III – O CONCEITO DE MISSÃO NO PENSAMENTO DE J. STOTT E DE R.

PADILLA 96

3.1 – Missão no Pacto de Lausanne de 1974 – J. Stott e R. Padilla 96

3.2 – Conceito de Evangelho na Teologia da Missão de J. Stott e de R. Padilla 108 3.3 – Conceito de Igreja na Missão de J. Stott e de R. Padilla 116

CONSIDERAÇÕES FINAIS 124

(13)

INTRODUÇÃO

Interessei-me em pesquisar na academia o tema objeto desta pesquisa,

“Conceito de Missão em John R. W. Stott e C. René Padilla: Relação entre

Proclamação da Palavra e Ação Social”, por tratar-se de um importante assunto no

campo da teologia da missão e por fazer parte do cotidiano das igrejas cristãs

evangélicas. A discussão sobre o tema tem um marco histórico no ano de 1974, por

ocasião do Congresso Internacional de Evangelização Mundial, em Lausanne, Suíça,

quando o debate da dicotomia “palavra e ação social” foi reacendido.

Neste congresso, em que J. Stott foi presidente da comissão de redação do

Pacto de Lausanne e também palestrante e em que R. Padilla foi palestrante, a questão

da missão mundial que apontava para a salvação das almas pela aceitação de Jesus

como salvador (conversão), proposta por J. Stott e outros teólogos, dentre eles Billy

Graham, sofreu um grande impacto com a visão da Teologia da Missão Integral

proposta por R. Padilla, Samuel Escobar e outros teólogos latino-americanos, que

apontaram para uma missão em que a proclamação da palavra e a ação social eram

indissociáveis.

Fazendo uma reflexão, eu me converti de forma consciente em 1984, aos 15

anos de idade, em uma igreja batista bíblica na periferia da zona sul de São Paulo, no

Jardim Ângela, onde congreguei até 1994, passando para outra igreja batista bíblica

em Santo André por motivo de mudança de residência. Desde sempre nas pregações

que ouvia, o foco era “aceitar Jesus” e com isso, estar eternamente salvo, sem uma

dimensão maior, isto é, sem ênfase nas obras. Minha vontade de alguns anos para cá

de compreender e refletir por meio de uma teologia sistemática e de dialogar com

autores e pessoas diferentes de minha confissão religiosa, livre de dogmas, foi a razão

principal de minha escolha pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião

e pelo tema aqui proposto.

A partir de minha experiência religiosa aliada a uma grande vontade de realizar

uma reflexão teológica imparcial, escolhi J. Stott, pastor anglicano que identifiquei

após realizar várias pesquisas e levantamentos junto à Biblioteca da Faculdade de

Teologia, à Biblioteca Ecumênica e do Programa de Pós-Graduação em Ciências da

(14)

escolhi R. Padilla, pastor batista por indicação do meu orientador, a quem sou grato

por me colocar em contato com este teólogo, importante no mundo e em especial na

América Latina.

Nesta pesquisa a problematização do objeto foi colocada sob dois pontos

centrais: (1) qual o conceito de missão mundial na teologia de J. Stott; e, (2) qual o

conceito de missão integral na teologia de R. Padilla. Com as respostas obtidas,

realizei um comparativo entre a teologia da missão de cada autor, podendo observar

distanciamentos e aproximações em seus conceitos de missão.

Para Popper (apud LAKATOS & MARCONI, 2007, p. 76) “toda investigação

nasce de algum problema teórico/prático sentido. Este dirá o que é relevante ou

irrelevante observar e os dados que devem ser selecionados”. Com as respostas

aproximadas obtidas nesta pesquisa, fiz um comparativo analítico entre as teologias da

missão de Stott e de Padilla, as aproximações de outros teólogos ao pensamento de

ambos e as principais diferenças na teologia da missão entre eles. A concepção destes

problemas de colocação precisa (exata) na pesquisa é na verdade, uma recolocação de

antigas discussões teológicas sobre a missão, à luz de novos conhecimentos e

interpretações que vão acontecendo sobre o evangelho.

A dissertação, entretanto, não tem por objetivo promover uma discussão com

vários autores que trataram da teologia da missão que não se relacione com a missão

integral, nem comparar com clássicos da missão transformadora como David Bosch,

por ser esta, uma dissertação delimitada com foco centrado na teologia da missão de

dois teólogos: J. Stott e R. Padilla. Meus referenciais teóricos foram: Padilla, Stott e

Bosch, mesmo estando o último, não relacionado com a missão integral.

O estudo e pesquisa sobre o tema “missão” no mestrado em Ciências da

Religião, elaborado de forma metodicamente científica é relevante, justifica-se por

poder contribuir para uma reflexão sobre a Teologia da missão mundial e integral,

sendo útil tanto para a consulta de professores, estudantes e pesquisadores de religião

e de teologia, como para missiólogos, missionários, líderes religiosos e leigos que de

alguma forma estejam envolvidos ou interessados na práxis da missão. A relevância

(15)

presente e justificada porque a missão de alguma forma está presente na igreja cristã

seja em maior ou menor grau, e sua prática e reflexão teológica são históricas.

O tema vem ocupando lugar de destaque no âmbito das igrejas evangélicas na

América Latina, mas passa a ter maior visibilidade a partir do Congresso Mundial de

Evangelização ocorrido em Lausanne em 1974, saindo de um reduto teológico

americano e europeu e passando a ser refletido por teólogos latinos e dos demais

países em desenvolvimento. Desde a retomada da reflexão teológica sobre as questões

do serviço social no evangelho, Padilla, dentre outros teólogos, tem se destacado por

sua contribuição ao pensamento de um evangelho integral.

O razão da escolha pelo pastor anglicano J. Stott para esta reflexão dissertativa

foi feita em decorrência de sua importância no trabalho evangélico que ele realizou

durante setenta e quatro anos de sua vida cristã. Fazendo aqui um breve resgate de seu

perfil pessoal e sua obra, informo que ele nasceu na Inglaterra, em abril de 1921, e

faleceu em julho de 2011. Era agnóstico até se converter ao cristianismo evangélico

quando tinha 17 anos. Foi ministro evangélico na Inglaterra desde 1945 até seu

falecimento, atuou como capelão da família real (de 1958 até 1991), foi escritor e

palestrante e durante sua vida permaneceu celibatário, um fato raro no meio

evangélico. Em 2005, a revista americana “Time” o indicou como uma das 100

pessoas mais influentes do mundo (Dias, 2011, p.3). No Brasil, por ocasião de seu

falecimento o Jornal “O Globo” anunciou o seguinte: “John Stott era considerado uma

das grandes lideranças mundiais evangélicas, que influenciou pastores, teólogos e

líderes cristãos em todo o mundo, especialmente na América Latina”.

Quanto à razão da escolha do pastor batista R. Padilla para essa dissertação

sobre a teologia da missão, ela se deve a sua importância no meio evangélico e a seu

trabalho em especial nos países latinos. Seu frutífero trabalho se desenvolveu em

várias frentes evangélicas, atuando ininterruptamente por sessenta e quatro anos.

Comentando brevemente sobre sua pessoa e obra, lembro que ele nasceu em um

humilde lar batista em Quito, Equador em 1932, (hoje com 80 anos) e se converteu

aos 15 anos de idade. Na adolescência morou na Colômbia e regressou para o

Equador. Estudou teologia, filosofia e fez mestrado nos Estados Unidos da América e

(16)

trabalhando com a Comunidade Internacional de Estudantes Evangélicos (CIEE),

pregando a palavra e realizando serviços sociais em presídios, estação de rádio, em

missões evangélicas e em sua igreja local. É escritor, editor e o fundador e cofundador

de importantes instituições paraeclesiásticas, como a FTL - Fraternidade Teológica

Latino-Americana (1971) – à frente da qual ainda está no campo das publicações – da

Rede Miquéias e da Fundação Kairós. Há muitos anos morando na Argentina,

atualmente integra a equipe de pregação da Igreja Batista de La Lucila em Buenos

Aires.

A relação entre a proclamação da palavra e o serviço prestado por meio da

ação social, contextualizada no evangelho na Teologia da Missão Mundial de J. Stott e

na Teologia da Missão Integral de R. Padilla, suas diferenças e semelhanças de

pensamento, se constitui no debate central nesta dissertação em que é analisada a

diferença de pensamento de cada teólogo.

A metodologia adotada para a realização desta pesquisa foi a de uma ampla

pesquisa bibliográfica. Dentre as principais obras de J. Stott, posso destacar as

seguintes: “Ouça o Espírito Ouça o Mundo”, “Cristianismo Básico” – traduzido para

mais de sessenta idiomas e que vendeu mais de dois milhões de exemplares – e

“Discípulo Radical”, escrito em 2009 e publicado em 2010, um ano antes de seu

falecimento por idade avançada (aos 90 anos). Quanto às obras de R. Padilla, posso

aqui destacar as mais importantes: “Missão Integral: Ensaio Sobre o Reino de Deus e

a Igreja”, “O que é Missão Integral” e “Deus e Mamom – Economia do Reino na Era

da Globalização”, este seu último livro publicado em 2011. Outros autores foram

citados nesta pesquisa em diálogo com J. Stott ou R.Padilla, com o objetivo de se

indicar para qual tendência apontava a teologia de cada um, se para a missão mundial

ou para a missão integral e se faziam distinção ou associação entre a proclamação da

palavra e o serviço social.

A pesquisa mostrou que Stott apontou para uma missão mundial, centrada na

pregação da palavra e que Padilla defende uma missão integral, em que palavra e ação

social não podem ser separadas ou colocadas numa escala de prioridade. O método

(17)

diferenças no modo de pensar e de realizar a missão cristã na Teologia da Missão

Mundial de J. Stott e na Teologia da Missão Integral de R. Padilla.

Nesta dissertação o objeto de estudo foi de analisar qual a relação entre o

anúncio da palavra e a ação social no conceito de missão de J. Stott e R. Padilla.

Considerando que a igreja por meio de seus discípulos deve se propor a realizar a

missão de Deus, anunciando o evangelho, eu me propus nesta dissertação a verificar e

analisar como se dá tal missão em termos de reflexão e ação, isto é, pela práxis,

usando o conceito de missão proposto por aqueles autores.

A dissertação está composta por três capítulos. No primeiro, apresento o

evangelho e o conceito de missão mundial na teologia de J. Stott. No segundo,

apresento o evangelho e o conceito de missão integral na teologia de R. Padilla. Já no

terceiro e último capítulo, apresento um estudo comparativo entre as teologias da

missão de J. Stott e de R. Padilla, indicando semelhanças e diferenças entre os autores,

nas questões relacionadas ao evangelho, igreja e discipulado no contexto da missão

cristã evangélica.

As considerações finais oferecem um resumo da análise quanto à relação entre

a proclamação da palavra e o serviço social apresentado na Teologia da Missão

Mundial de J. Stott e na Teologia da Missão Integral de R. Padilla, buscando indicar

algumas semelhanças e diferenças entre o pensamento de ambos.

Acredito que as diversas referências bibliográficas e os referenciais teóricos de

J. Stott e de René Padilla aqui presentes, poderão suscitar novas pesquisas no campo

(18)

CAPÍTULO I – EVANGELHO E MISSÃO MUNDIAL EM J. STOTT

1.1 - Breve biografia de John Stott

John Robert Walmsley Stott – teólogo evangélico de confissão anglicana, nasceu

na Inglaterra em 27 de abril de 1921 e faleceu em Londres aos 90 anos de idade no dia

27 de julho de 2011, às 3h15min horas. Sua morte se deu em decorrência da idade já

avançada. Ela lhe acarretou problemas de saúde que lhe traziam muitos desconfortos e

ele viveu acamado numa casa de repouso próximo a Londres, em seus últimos dias de

vida. Celibatário, ele nunca se casou nem teve filhos. Neste período, recebia visitas

frequentes de suas sobrinhas Caroline e Sarah e de seu amigo Phillip Herbert, aos quais

agradece em seu último livro “O discípulo radical” publicado em 2010 no Reino Unido,

com tradução para o português e publicação já em 2011.

Até seus 17 anos de idade, Stott foi agnóstico. Ao ouvir a palavra de Deus por

meio da mensagem do reverendo Eric Nasch em 1938 ele se converteu ao cristianismo

evangélico, fé que abraçou até sua morte. O ritual fúnebre de corpo presente, se deu na

Paróquia de All Souls Church (Igreja de Todas as Almas), mesmo tendo sido

disponibilizada para isso a Catedral de São Paulo, pelo bispo de Londres. A família de

Stott assim desejou porque foi em All Souls que o falecido exercitou sua vida religiosa

até sua aposentadoria. A liturgia anglicana do passamento, seguiu o “Livro de Oração

Comum” e o cortejo fúnebre seguiu para o País de Gales, onde ele foi enterrado no

terreno de sua casa no litoral daquele país, conforme divulgado pela Igreja Anglicana.

Ele era um destacado evangélico no cenário mundial, pastor da Igreja All Souls

Church em Londres desde sua posse e consagração em 1950. Também serviu por vários

anos à família real inglesa na condição de capelão durante longos anos. Foi um grande

exemplo de vida cristã para várias gerações de cristãos, em especial, mas não somente,

para os protestantes de diversas denominações. Sua característica marcante era a

centralidade na Bíblia.

Stott estudou línguas modernas na Trinity College Cambridge e se formou em

(19)

obteve o grau de mestre em 1947. Recebeu o título de doutor honorário de várias

universidades na Inglaterra, Estados Unidos da América e do Canadá.

No ano de 1982, fundou e foi presidente do London Institute for Contemporany

Christianity e até 2003 foi vice-presidente da International Fellowship of Evangelical

Students. Além de missionário, conferencista e pregador do Evangelho, também foi um

profícuo escritor cristão, escrevendo mais de quarenta livros. Em 1954 foi publicado seu

primeiro livro, Homens Com Uma Mensagem. Destaca-se entre outras a obras O

Discípulo Radical, seu último livro escrito em 2009, publicado em 2010 por

Inter-Varsity Press, Nottingham, Reino Unido, já traduzido para o português e editado pela

Ultimato em março de 2011. Nos agradecimentos deste livro, Stott (2011, p. 7, 8)

destaca o apoio da Universidade de Saint Barnabas que lhe proporcionou “um contexto

adequado à reflexão e à escrita”, ao ministro religioso Stephen Bowen da Igreja St. John

em Felbridge, que providenciava sua ida e volta aos cultos nos domingos, quando se

sentia forte o suficiente para deixar a casa de repouso e dirigir-se à igreja. Outra obra de

destaque foi Cristianismo Básico – o que significa ser um verdadeiro cristão, publicado

em 1958 pela Inter-Varsity Press. Teve sua primeira edição lançada no Brasil pela

editora Vida Nova em 1964 com várias reimpressões. Este livro foi traduzido para mais

de 60 línguas e vendeu mais de dois milhões de exemplares pelo mundo.

Merece destaque o fato de que Stott foi durante longos anos – de 1959 até 1991

– foi capelão da família real britânica e que no ano de 2005, quando estava com 84 anos

de idade, foi indicado pela revista “Time” como uma das cem pessoas mais influentes

do mundo. Foi um reconhecimento público importante, porque partiu de uma

publicação sem vínculo com qualquer igreja, o que demonstrou uma admiração além

dos círculos religiosos.

No Congresso Internacional de Evangelização Mundial em Lausanne, Suíça,

realizado em julho de 1974, Stott foi o presidente da comissão que redigiu o “Pacto de

Lausanne” um documento com quinze itens, considerado por muitos cristãos o mais

importante documento da fé evangélica da segunda metade do século XX (cf.

FERNANDES & VEIGA , 2011, p.3), congresso este que “lançou Stott . Em Lausanne,

ele atuou também como presidente do grupo de trabalho sobre teologia e educação para

(20)

uma abordagem cristã mais ampla, abrangendo a promoção do Reino de Deus na

dimensão espiritual e na transformação da sociedade a partir da ética e dos valores

cristãos”. Acredito que o termo “integral” tenha se acentuado em seu vocabulário pela

convivência com outros cristãos latino-americanos, como R. Padilla, sendo este a

pessoa que se destacou em Lausanne (mas foi “lançado” pela FTL) e que nesta pesquisa

será comparado a Stott com o objetivo de se verificar pontos de divergência e de

convergência entre a Teologia da Missão Mundial e a da Missão Integral.

Em uma retrospectiva histórica, Dias (2011, p. 2) procurou fazer uma síntese

sobre algumas questões do pensamento de Stott no que se refere aos temas Cristo,

igreja, história, unidade, amizade, cruz, discipulado e morte.

Cristo – não nos envergonhamos de Jesus, que é o centro e o cerne do cristianismo. Igreja – o propósito de Deus não é salvar indivíduos e perpetuar seu isolamento. Deus se propôs a edificar a igreja, uma comunidade nova e redimida. A igreja está no centro do plano de salvação. Cristo morreu não só para nos redimir de toda iniquidade, mas também para reunir e purificar para si mesmo um povo entusiasmado pelas boas obras. História – a vida não acontece por acaso. Para muitos, o curso da história é semelhante a pegadas de uma mosca numa folha de papel em branco. Mas não é assim. A vida não é aleatória, sem sentido, ou absurda. Deus tem planos para nós hoje. Unidade – hoje em dia muitos dos nossos cristãos evangélicos não hesitam em ceder a tendências patológicas de que temos de fragmentar-nos. Para tanto, nos refugiamos em nossas convicções sobre a unidade invisível da igreja, como se a sua manifestação visível não importasse […] a nossa desunião continua sendo um grande empecilho para o nosso evangelho. Amizade – pergunto-me se valorizamos suficientemente a dádiva de Deus que é a amizade. Deus faz uso da necessidade humana da amizade para consolar-nos. Cruz – Deus revelou seu amor e sua justiça através da cruz. E ninguém é mais digno de confiança do que o Deus da cruz. Discipulado – o fundamental em todo discipulado é a decisão de não somente tratar Jesus com títulos honrosos, mas o seguir seu ensino e obedecer a seus mandamento. E por último: Morte – a perspectiva do discípulo radical é ver a morte não como o término da vida, mas como a entrada para ela.

Entendo que no pensamento de J. Stott, encontramos uma forma de pensar

tradicional e muito comum nas igrejas cristãs evangélicas, levando sempre ao ponto da

salvação por meio de Jesus Cristo do Novo Testamento. Jesus é o cerne da questão e

sem ele o cristianismo não faz o menor sentido. A igreja é uma congregação de pessoas

salvas e, por serem assim, espera-se que se comportem conforme tal. A história da

(21)

cristãos precisa ser trabalhada sempre e creio que foi essa uma das razões de J. Stott ser

aceito por tão diferentes manifestações cristãs. É na amizade entre os homens que Deus

revela a necessidade que se tem da ajuda mútua. Foi na cruz que Deus revelou amor e

justiça e por isso devem os cristãos carregar cada qual a sua própria cruz e segui-lo. O

discipulado é se fazer um discípulo ao lado de Jesus para seguir e obedecer aos

ensinamentos do Mestre. E numa visão bastante reconfortante, a morte não se apresenta

como um fim, mas como o início de uma nova vida com Deus.

A repercussão da morte de J. Stott foi grande no mundo cristão, com impacto

para o setor evangélico. Vou destacar algumas destas manifestações públicas que Dias

(2011, p. 4) trouxe em seu artigo:

Billy Graham (evangelista): O mundo evangélico perdeu um de seus maiores porta-vozes. Eu perdi um amigo. Estou ansioso para vê-lo novamente quando eu for para o céu. N. T. Wright (teólogo anglicano):

dizer que devemos agradecer a Deus por ele é colocar em termos muito suaves. Todos nós somos enormemente beneficiados. Que possamos ser dignos desse legado. Russell Shedd (teólogo batista): Deus me deu várias oportunidades para ouvir e conversar com J. Stott. Sempre humilde, sempre cordial, sempre pronto para expor um texto da Palavra de Deus.

Harold Segura (teólogo colombiano): sou parte da geração de líderes evangélicos latino-americanos que foi estimulada pelos textos de J. Stott a pensar a fé de maneira integral e a compreender que o evangelho tem dimensões extra-eclesiásticas. Durvalina Bezerra (diretora do Instituto Bíblico Betel Brasileiro): Stott ficou célebre e respeitado no mundo porque soube equilibrar a academia com a simplicidade, a erudição teológica com a fé evangélica, preservou o saber da mente com o calor do coração. Ele continuará vivo através do legado dos seus escritos. Jornal O Globo: John Stott era considerado uma das grandes lideranças mundiais evangélicas, que influenciou pastores, teólogos e líderes cristãos em todo o mundo, especialmente na América Latina.

Podemos perceber que diante das declarações acima, J. Stott era respeitado e

querido em vários segmentos evangélicos por seu caráter de bondade, humildade e amor

à palavra de Deus. Desde os conservadores americanos, ingleses, inclusive muitos

latino-americanos, todos o consideravam uma pessoa especial, que tratou o evangelho

de forma modelar, sempre muito centrado na Bíblia. A mídia anunciou sua morte com

tom de respeito e reverência. Nas palavras de Segura (apud Dias, 2011, p. 4), podemos

perceber que “Stott se preocupava com o ser humano integral”, ou seja, as necessidades

tanto materiais quanto espirituais, mesmo deixando entrever por meio de seus livros que

(22)

destaque. Em sua Teologia da Missão Mundial não existe ausência do cuidado com a

pessoa, com as necessidades terrenas.

Stott tinha sua mente e coração voltados para uma vida humilde, como

comprova a consulta internacional sobre estilo de vida simples, que se realizou em

março de 1980 na Inglaterra, quando ele reuniu oitenta e cinco líderes evangélicos de

vinte e sete países. Em seu último livro publicado em vida, “O Discípulo Radical” ele

diz que a simplicidade é uma das características do discípulo de Jesus. Passo a destacar

alguns trechos de uma referida consulta, quando Stott diz (apud DIAS, 2011, p. 7):

Só quando a nova comunidade se mostra mais claramente distinta do mundo em seus valores, padrões e estilo de vida é que ela apresenta ao mundo uma alternativa radicalmente atraente, e assim exerce sua maior influência por Cristo. Tencionamos reexaminar nossa renda e nossos gastos, a fim de gastar menos, para que possamos doar mais. É impossível proclamar com integridade a salvação de Cristo se ele, evidentemente, não nos salvou da cobiça, ou proclamar seu senhorio se não somos bons mordomos de nossas posses; ou proclamar seu amor se fecharmos nossos corações para os necessitados. Quando os cristãos se importam uns com os outros, e com os pobres, Jesus Cristo se torna mais visivelmente atraente.

Para que a igreja de Cristo seja vista pelas pessoas de fora da mesma como

diferente e atraente, precisa que seus membros apresentem um estilo de vida simples,

amoroso e preocupado com os necessitados. Amar ao próximo é doar parte de nossos

recursos, bens materiais e tempo, em prol dos necessitados porque é na doação que

Jesus se revela como Deus. Aqui emprego a palavra doação no amplo sentido de amar a

Deus que se traduz em respeitar e amar ao próximo, pessoa presente em nosso derredor.

1.2 Evangelho e Missão Mundial em J. Stott

Feita esta breve biografia de Stott, vou tratar do evangelho e da missão mundial,

segundo a teologia deste autor.

A palavra evangelho é de origem grega e já era utilizada no Antigo Testamento.

Jesus e os escritores do Novo Testamento recorrem a esta palavra constantemente, ao

anunciarem as “boas novas”. Ely Eser B. Cesar (2008, p. 406) define e dimensiona o

(23)

A palavra evangelho, de origem grega, teve sua raiz utilizada antes do Novo Testamento, tanto na cultura hebraica quanto na grega. Nessas culturas, a boa notícia se referia a um evento que afetaria diretamente a vida das pessoas envolvidas. Em português, se adotou a expressão grega sem tradução. Jesus se vale dessa expressão concreta. Ele é o portador da enorme novidade do Reino de Deus que afetará a vida concreta de pessoas e comunidades e de seus horizontes de vida.

A vida concreta das pessoas, vivida em suas tarefas de sobrevivência pessoal e

familiar, possui uma conduta religiosa a que o evangelho cristão procura dar uma

dimensão de sentido a vida. O cristianismo apresenta o evangelho como algo em que as

pessoas devem buscar direção para suas atitudes concretas, planejar o futuro pessoal,

familiar e da igreja. As boas novas representam a esperança de se viver em paz, ter

coisas boas, ser consolado, e ser salvo desde agora. Pelo evangelho espera-se conquistar

vitórias, suportar provações e vencer os desafios que são naturais de nossa vida física, a

qual é indissociável da espiritual. A reflexão teológica pode atuar, muitas vezes de

forma crítica e reflexiva, mas sempre procuramos o bem para nossas vidas. O refugio se

dá na certeza de que Deus se envolve com nossa existência e nos ajuda a reorganizar a

vida, trazendo-nos a salvação.

Para Cesar (2008, p. 407), “em todos os evangelhos a missão de Jesus se

relaciona à presença de Deus, em Cristo, por meio de manifestações de amor na

realidade humana”. Vejo que é o amor de Deus, manifesto no evangelho por meio da

pessoa de Jesus Cristo, que promove e perpassa todas as esferas da vida do ser humano,

em sua individualidade e na vida coletiva, promovendo na vida, condições de

enfrentamento das lutas, dos desafios e de fraternidade na convivência humana. Este

amor irrestrito e incondicional, expresso na vida de Jesus, procura ser modelar para que

os homens ao menos tentem amar uns aos outros.

Ainda tratando um pouco sobre o amor, o evangelho o coloca como sentimento e

atitude central, porque Deus é amor e também fonte dele para todos aqueles que assim o

desejarem praticar. Carreiro (2008, p. 32) diz que: “O amor de Deus é aquela parte de

sua natureza que o move a doar-se a Si mesmo, em termos de afeição, e a manifestar

Seu interesse em atitudes de cuidado e autosacrifício pelo objeto do Seu amor”. A maior

manifestação do amor revela-se no envio por Deus de seu filho Jesus para morrer pelos

pecadores. O evangelho anuncia as boas novas, que nem sempre são prazerosas e

(24)

para conseguir praticar o evangelho em sua integralidade. Somos levados pelo

evangelho a praticar o amor entre os seres humanos e devemos incluir neste amor o

respeito à natureza e a toda criatura com vida. Quem verdadeiramente ama a Deus, ama

a seu próximo e este é um elemento que une proclamação da palavra e ação social na

prática da missão mundial cristã.

O evangelho da missão mundial nos conduz a refletir e agir, pensando no ser

humano por completo, com suas necessidades materiais diárias, as angústias da alma e

sua preocupação com a salvação no presente mundo e na final dos tempos. Ao tratar da

participação de Deus na obra missionária, Stott (2006-b, p. 426) afirma que “o chamado

de Deus é para participarmos de sua missão no mundo”, pois o evangelho é muito mais

que um conjunto de doutrinas religiosas. Ele ultrapassa a salvação a ser obtida no futuro

(vida eterna), porque precisa ser praticado neste instante. Isto somente será possível se

cada pessoa levar a sério o mandamento de Jesus (Mc. 12.33) de “amar a Deus sobre

todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”.

O evangelho cria as condições para a evangelização, a proclamação da boa

palavra, desperta a fé em outras pessoas de outras crenças ou até mesmo “sem religião”,

quando o cristão é um bom exemplo de vida concreta entre os homens. O evangelho

integral compreende viver de forma exemplar, isto é, amando ao próximo, temendo e

amando a Deus, refletindo isto em um estilo de vida que se preocupa com os

necessitados. Em sua grande maioria estes são os pobres no sentido de ausência de

recursos financeiros e dos meios básicos para a sobrevivência do corpo, como moradia,

vestimenta, alimentação, saúde e educação formal. Um estilo de vida simples permitiria

a muitos cristãos com maior poder aquisitivo participar mais da obra missionária e

assim (cf. STOTT, 2011, p. 61) “poder atender ao apelo de Deus no sentido de que

usem suas forças para defender os pobres, não para explorá-los”. Essa força se refere à

questão financeira e à capacidade de fazer justiça social.

Acredito também que o necessitado é aquele ser humano que precisa de cuidado.

Muitas vezes este é uma criança, por não saber prover suas próprias necessidades, o

idoso, por limitações físicas das mais variadas, o doente, por precisar de cuidados

(25)

ausência absoluta de recursos para sobreviver materialmente. Uma “teologia do

cuidado” se faz presente no núcleo da missão mundial proposta por Stott.

O evangelho deve nos transformar primeiro, em pessoas melhores, amáveis e

dispostas a doar, como exemplos de cristãos praticantes da palavra, proclamando e

anunciando o evangelho pela pregação e também pela preocupação e feitos concretos na

vida das pessoas, sem distinção ou acepção de qualquer natureza. O anúncio do

evangelho precisa necessariamente vir acompanhado de ações concretas, que

possibilitem a melhora de vida das pessoas necessitadas. Na obra da missão mundial

proposta por Stott (2011, p. 68) “quando os cristãos se importam uns com os outros, e

com os pobres, Jesus Cristo se torna mais visivelmente atraente”.

J. Stott, apresenta um “manifesto evangelístico” (2000-c, p. 379-382) aqui

compilado, que ele elabora com base em Romanos, que nos ajuda a compreender o

significado do evangelho em sua teologia. Vejamos:

A necessidade de evangelizar: é preciso evangelizar porque enquanto as pessoas não ouvirem e aceitarem o evangelho elas continuarão perdidas. O alvo do evangelismo: toda a raça humana tem de ter a chance de ouvir o evangelho. A natureza da evangelização: evangelizar é compartilhar com os outros a boa nova do Cristo crucificado e ressurreto. A lógica da evangelização: para evangelizar é preciso enviar evangelistas, a fim de que as pessoas possam invocar a Cristo e ganhar a salvação. O resultado da evangelização: o evangelismo traz àqueles que creem bênçãos tais que despertam ciúmes nos outros. A esperança da evangelização: só se pode esperar que a evangelização seja bem-sucedida se ela for baseada na eleição de Deus. O alvo da evangelização: a evangelização introduz os convertidos na comunidade do povo de Deus, trazendo assim glória para Deus.

Segundo sua teologia, todos os seres humanos precisam ser alcançados pelo

evangelho e para que isto se torne possível eles precisam ouvir a palavra de Deus, uma

tarefa missionária que precisa ser realizada por todos os cristãos. Este alcance

missionário compreende todo o mundo, sem exceção, e isto para Stott é aquilo que ele

classifica de “missão mundial”. Evangelizar é um ato de amor ao próximo, porque

caracteriza uma preocupação com o futuro e o presente das pessoas. A fé cristã é o elo

entre Deus e os humanos, por meio do evangelho. Aqui, a palavra ciúme caracteriza

uma vontade provocada nos que ainda não aceitaram o evangelho, pois, ao verem as

(26)

possuir aquilo que os outros já conseguiram. Movidos por este tipo de sentimento,

aderem aceitando ao cristianismo, visando à salvação. A evangelização pode ser feita

pelos missionários evangelistas de várias formas, dentre as quais a proclamação da

palavra de Deus, a oração de intercessão, o bom exemplo de vida cristã condizente com

o que está registrado nos evangelhos e principalmente no amor ao próximo e no temor a

Deus. Por último, a evangelização une (e aumenta) o povo de Deus, tendo como alvo

supremo a glória de Deus e a salvação da humanidade.

A Teologia da Missão Mundial para Stott, tem um fim escatológico bem

acentuado e relativa ênfase no cuidado imediato com os corpos dos necessitados. Pode

ser que seu ponto de vista missionário parta de uma visão de primeiro mundo, de um

local em que as pessoas já estejam com suas necessidades primárias satisfeitas, restando

portanto em maior grau a preocupação com a salvação de suas almas.

Stott (2006-b, p. 159) apresenta uma síntese muito interessante de sua “teologia

do evangelho”, na qual fica explícito seu modo de refletir teologicamente a missão

mundial: “toda a Bíblia é evangelho, pois seu propósito fundamental é dar testemunho

de Jesus Cristo e proclamar as boas novas e a nova vida daqueles que vierem a ele […]

mas qualquer teologia que não tenha como objetivo transmitir o evangelho tem muito

pouco valor”. Nesse recorte da obra, fica evidente que sua teologia está centrada no

evangelho e de forma especial, na proclamação da palavra. O verbete “teologia” não

aparece com frequência na obra de Stott, como pude constatar ao catalogar e vasculhar

mais de vinte obras de sua autoria. Isto, de certa forma, limita nossa compreensão do

significado do termo no seu pensamento.

O evangelho tem absoluto lastro com a missão e vice-versa. Deus chegou

primeiro aos lugares onde depois chegaram os missionários. Vou em seguida, analisar e

procurar compreender como se relaciona o evangelho com a missão mundial (termo

recorrente em Stott) em sua teologia.

Ao voltarmos nossa atenção para a questão da missão mundial na teologia de

(27)

Não existe incentivo maior para a missão mundial do que o senhorio de Jesus Cristo. Missão não é, nem uma interferência impertinente na vida privada de outras pessoas, nem uma opção dispensável que pode ser rejeitada. Pelo contrário, missão é uma dedução inevitável do senhorio universal de Jesus Cristo.

O senhorio de Jesus Cristo, ao qual Stott se refere, faz da missão um

compromisso mundial a ser aderido pelos cristãos na busca de evangelizar o mundo.

Como já observado, a questão da ação da responsabilidade social, o cuidado com o

corpo necessitado, não fica explícito como parte fundamental da missão mundial no

contexto teológico de Stott. Um apanhado geral sobre a questão do senhorio de Jesus,

sob a forma de síntese, é feita por Stott (1997, p. 110) da seguinte forma:

A princípio a afirmação dessas duas palavras – Kyrios Iesous – parecia completamente inofensiva. Mas nós vimos que ela tem ramificações que vão muito longe. Além de expressar nossa convicção de que ele é Deus e Salvador, ela também indica nosso radical comprometimento com ele. Esse compromisso tem dimensões intelectuais (submeter nossa mente ao jugo de Cristo), morais (aceitar seus padrões e obedecer às suas ordens),

vocacionais (gastar nossas vidas em seu serviço libertador), sociais

(procurar impregnar a sociedade com os seus valores) e globais (zelar pela honra e glória de seu nome).

Esta referência sintética de Stott ao senhorio de Jesus Cristo, coloca a missão

global (termo utilizado por ele) como um fim específico que precisa ser assumido pelos

cristãos, pois todos devem ser cristãos missionários. É uma visão dogmática sobre o

submeter o intelecto ao jugo de Cristo; ética, ao dizer que devemos obedecer seu

evangelho, inclusive na vida política; servo incondicional, ao dizer que estamos

vocacionados a gastar nossas vidas a serviço da libertação (salvar almas); influentes

socialmente, ao dizer que devemos procurar impregnar a sociedade com os valores do

evangelho; e globais, no sentido de zelar pela honra e glória de seu nome onde quer que

estejamos no mundo.

Stott, ao se referir a missão mundial, quer que os cristãos levem o nome de

Cristo pelo mundo para que influenciem a sociedade. Parece-me que fazer o serviço

libertador sem a dimensão missionária que contemple o homem integral, isto é, palavra

e ação social, não concretiza a missão em seu todo. Refiro-me à integralidade do ser,

dizendo que a proclamação da palavra e o compromisso com a responsabilidade social

precisam caminhar juntos, ou seja, não podem ser desassociados. Não se pode tratar o

(28)

priorizar uma em detrimento da outra, para que os recursos humanos, de tempo e

financeiros não venham a limitar de alguma forma a ação missionária. O social para

Stott ainda está centrado no campo dos valores espirituais, o que não se expressa como

prioritário nos corpos dos necessitados de vestimentas, alimentação, abrigo e outras

necessidades primárias, minimamente necessárias para a manutenção da vida dos

indivíduos.

O termo “missão mundial” foi utilizado por Stott em várias passagens de suas

obras e devo continuar fazendo referência ao mesmo, para tratar da teologia

compreendida pelo autor. A missão é um desafio evangelístico e deve ser levado a cabo

pelos cristãos. Para se evangelizar os povos é necessário que cada cristão se pareça em

seu modo de viver com o Jesus Cristo do evangelho. Isto implica uma vida concreta

vivida de acordo com os ensinamento e exemplos de Jesus. Assim (STOTT, 2011, p.

31) diz “o propósito de Deus é nos fazer como Cristo. E a forma como ele faz isso é nos

enchendo com o seu Espírito Santo”.

Para Stott, o evangelho a ser levado pela tarefa missionária compreende duas

partes: a proclamação da palavra e a ação social, mas ele faz questão de mostrar qual

das partes é prioritária: a proclamação da palavra. Esta inclusão da questão social como

um compromisso com os necessitados de bens materiais fica evidente em suas obras,

após o Pacto de Lausanne de 1974 (PL/74). Nem por isso, ele coloca em conjunto ação

social e evangelização e, sim, sobrepõe a proclamação da palavra (prioriza) no sentido

de “salvação das almas” à responsabilidade social. Ele faz menção ao PL/74 trazendo

para o lado da proclamação da palavra, ao escrever (2010, p. 43) “penso que devemos

concordar com a declaração de Lausanne de que na missão eclesiástica de serviço

sacrificial o evangelho é fundamental”. E continua – “e como podemos sustentar com

seriedade que a libertação política e econômica é tão importante quanto a salvação

eterna?”.

Logo, para Stott, a dimensão política e econômica, considerando-se a segunda

situação que define ter ou não necessidades das coisas materiais, ambas devem ser

objeto da missão. No entanto, a proclamação da palavra deve ser priorizada. Sobre

(29)

alguém tiver de escolher, a salvação eterna é mais importante que o bem-estar temporal.

Isso parece algo inquestionável para mim”.

O evangelho a ser pregado na trajetória da missão mundial, pode ser resumido

segundo Stott (2010, p. 53) “em uma simples palavra, a boa nova de Deus é Jesus. Ele é

o coração e a alma do evangelho”. Com efeito, nenhum cristão pode negar esta

afirmação da centralidade e razão de existir do evangelho, que é Jesus Cristo. Mas o que

se poderia acrescentar (penso eu) na Teologia da Missão Mundial de Stott são a

preocupação e uma prática mais acentuada com relação às ações de responsabilidade

social, o voltar-se para as carências expostas pelo sofrimento trazido pelo pecado

pessoal e social.

A apresentação do evangelho na obra missionária é uma responsabilidade que

precisa ser assumida por todos os cristãos, porque para Stott (1978, p. 45) é necessário

“apresentar (o evangelho) de forma completa (anunciando) a pessoa divina e humana de

Jesus Cristo, e sua obra de salvação, de modo que por meio desta pregação da palavra

de Deus, se desperte a fé no ouvinte”. Evangelizar para Stott é proclamar a palavra. Este

evangelho é trinitário porque (STOTT, 2006-b, p. 214) “foi Deus quem o concebeu, deu

origem e publicou o evangelho, ao passo que Cristo é a substância das boas novas”.

Com a descida do Espírito Santo, “a igreja está pronta para espalhar seu povo pelo

mundo” (STOTT, 1994, p. 139). Este mundo pode ter sua dimensão ampliada ao

máximo possível e este povo deve ser o representante da igreja cristã, indo por meio de

seus missionários levar o evangelho a todo ser humano, onde quer que ele esteja. É

sobre este alcance humano paradoxal, onde a missão mundial deve ser concretizada, que

passarei a refletir em seguida.

1.2.1 – Evangelho e o Paradoxo Humano

Para J. Stott, em um de seus principais livros – “Ouça o Espírito Ouça o Mundo”

(1997, p. 33), o evangelho tem uma origem divina por vir de Deus e uma relevância

humana por falar sobre e à nossa situação. Aponta para a direção de que o ser humano

precisa de um “realismo radical da Bíblia”. Para ele, o evangelho é superior a tudo,

estando acima de qualquer empreitada humana de natureza filosófica. O ser humano se

(30)

este ser humano, segundo nos relatam os evangelistas do Novo Testamento, como tendo

sua imagem maculada pelo pecado, decaído, que precisa da salvação que só pode ser

alcançada pelo resgate de Jesus Cristo. O evangelho é “boas notícias” e também

repreensão, convite para se levantar da queda pelo pecado (original) e se refazer como

um novo ser, o que nas palavras do evangelho é “nascer de novo”.

Stott (1997, p. 43) aponta esta ambiguidade humana de ser ao mesmo tempo

“bom” e “mau”, ao dizer sobre Jesus que:

Ele pregou o valor dos seres humanos, inclusive dedicando-se a servir a eles. Mas também ensinou que não valemos nada. Ele não negou que somos capazes de dar coisas boas aos outros, mas também acrescentou que, mesmo que façamos o bem, nem por isso deixamos de ser maus.

Stott procura apresentar um ser humano que nasceu ou foi corrompido pela

sociedade e que, independente de como sua natureza foi contaminada, a pessoa precisa

de um salvador, no caso Jesus Cristo. Vejo também que Stott tem a tendência de

valorizar a proclamação da palavra (evangelho) no sentido de salvar a alma da perdição

eterna, sem uma preocupação explícita com a dimensão da vida concreta, enraizada no

corpo humano. Não me refiro a uma ausência absoluta em Stott quanto à preocupação

do cuidado imediato com o corpo existente no mundo. Refiro-me sim, a uma prioridade

à salvação da alma (ou do espírito), uma preocupação maior, como disse, com a vida

eterna. Esta minha compreensão não se suporta apenas nas análises anteriores, mas tem

continuidade nas fundamentações seguintes.

O pecado apontado por Stott, é um evento humano que contraria o cumprimento

e aceitação do evangelho compreendido como o Antigo e o Novo Testamentos. Nesta

passagem, isto aparece assim (1997, p. 44): “Jesus resumiu os dez mandamentos em

termos de amor a Deus e amor ao próximo, e todo pecado é uma forma de revolta

egoísta contra a autoridade de Deus ou contra o bem-estar do nosso próximo”.

Compreendo que a palavra “pecado” tem para Stott uma dimensão pessoal e

estrutural (na sociedade) e que o indivíduo se responsabiliza por ambas as dimensões.

Dalferth (2008, p. 767) define pecado como sendo “a transgressão de normas até a

profundidade ontológica do ser humano”. Livrar-se da natureza pecaminosa é

impossível ao homem, tanto que deve sempre pedir perdão a Deus em suas orações e

(31)

condições de se relacionar com Deus e com o próximo pela graça do amor. Para isso, o

ser humano precisa ter fé e confiar em Deus. Deus é contrário ao pecado como se vê na

passagem do Antigo Testamento apontada por Dalferth, (2008, p. 767): “Quando viu o

sofrimento dos hebreus na escravidão do Egito e os conduziu para a liberdade, deu os

mandamentos para que, na memória da opressão, não oprimam como o fizeram os seus

opressores”. Lembrar-se que foi oprimido para que não oprima ao próximo, esta foi a

mensagem que Moisés revelou pelos mandamentos de Deus.

Jesus Cristo vem salvar o ser humano do pecado, porque “para Jesus, pecado é

infidelidade a Deus” (DALFERTH, 2008, p. 767), numa atitude que vem à tona pelo

desrespeito ao evangelho que se expressa na ausência de amor ao próximo, de amor

próprio, e na falta de amor e temor para com Deus. A opressão e a vontade de dominar o

próximo, por diversas maneiras – que podem se expressar na força física, na

intimidação psicológica, na corrupção humana pelo dinheiro, no poder ditador que

massacra e mata as pessoas em seus corpos, mentes e dignidade moral e ética – quase

sempre se apresenta sob a forma de um poder humano dominador. Isto, nas palavras do

citado autor neste parágrafo, mostra que “o pecado, em última análise, é sempre a

manifestação de um poder que tenta dominar o ser humano”. O domínio amarra e

imobiliza pela violência, o que é na verdade, um desamor.

Para Stott (1997, p. 45), os males do pecado vêm de dentro do ser. Ele lembra o

que Jesus disse: “o que nos torna impuros aos olhos de Deus não é o alimento que entra

em nós, mas o mal que sai de nós”. O remédio que cura do pecado e reconcilia o homem

com Deus é o perdão divino. Para recebê-lo, temos também que perdoar uns aos outros.

O paradoxo consiste em que o ser humano é digno em algumas situações e indigno em

outras, ou seja, possui a dupla possibilidade de ser bom ou mau. Para excluir o mau e

incluir o bem na vida do ser humano, o evangelho é a resposta para aqueles que desejam

a redenção do pecado. De maneira geral, os seres humanos preferem a justiça, a

liberdade, o amor e a paz, escolhas que nos levam a acreditar que a sociedade pode, sim,

ser boa.

Como se viu acima, Stott diz que o ser humano pode escolher fazer o bem ou o

mau para si próprio e ao próximo. Pela natureza humana, que tende a fazer geralmente o

(32)

resultar em amor ao próximo, manifesto na vida concreta do cotidiano das pessoas. O

maior exemplo prático de amor foi a vida vivida entre os homens, por Jesus Cristo. Esta

possibilidade de regeneração da vida em Deus, aparece em Stott (2011-b, p. 36): “as

pessoas são criadas à imagem de Deus. De fato, são seres decaídos, mas a imagem

divina não foi destruída”, restando com isto, a esperança no evangelho de Jesus Cristo, a

de mostrar ao homem que ele pode (e deve) preferir sempre o bem, tanto para si próprio

como para seu próximo.

Jesus Cristo, (STOTT, 2007, p. 79) “é apresentado (à humanidade) não só como

Senhor do céu, mas também como o Salvador dos pecadores”, o que permite oferecer

uma resposta concreta ao paradoxo humano e, ainda, oferecer a liberdade cristã por

meio da aplicação do evangelho nas vidas das pessoas, mediante as ações da missão

mundial, conforme veremos na sequência desta pesquisa.

1.2.2 – Evangelho e a Liberdade Humana

O evangelho deve promover a liberdade, proclamar a libertação aos cativos e

restaurar vidas. A conquista da liberdade não significa estar a pessoa livre para fazer

tudo o que bem entender, sem regras e sem prestar contas de seus atos a Deus e aos

homens. Para Stott, a liberdade começa com o perdão dado por Jesus, porque a verdade

nos liberta do pecado, pelo perdão dado por Deus. Em sua obra “Cómo comprender la

Biblia”, Stott (1977, p. 13) associa liberdade com salvação dizendo que “salvação é

liberdade. Sim, e também renovação de todo o cosmo”. Esta questão cósmica influencia

Stott ao ponto de utilizar em sua teologia da missão, o termo missão mundial, com

muita frequência.

Esta liberdade que o evangelho nos proporciona, possui uma dimensão cósmica

compreendida no seguinte espaço: com Deus, com o próximo e com a natureza. Stott

(2011, p. 43), quando trata sobre o cuidado com a criação relacionada à nossa liberdade,

(33)

A Bíblia nos diz que, na criação, Deus estabeleceu para os seres humanos três tipos fundamentais de relacionamento: primeiro com ele mesmo, pois ele fez o homem à sua própria imagem; segundo entre si, pois a raça humana é plural desde o princípio; e terceiro para com a boa terra e as criaturas sobre as quais ele os estabeleceu.

Sendo assim, podemos compreender que esta dimensão da liberdade humana,

para com Deus, o próximo e com a natureza – seus elementos naturais e os animais –

nos permite uma sensação de domínio pelas técnicas descobertas pela ciência. Ao

mesmo tempo, nos revela a fragilidade e a impossibilidade de agir com as forças

naturais que assolam a vida na terra. Fazer bom uso desta liberdade é ser

compromissado com a vida oferecida por Deus no espaço cósmico, amando e

respeitando tudo aquilo que nos foi confiado. Isto inclui o fazer missionário, como

exemplo de liberdade de proclamação da palavra e das ações sociais.

A liberdade para Heimann (2008, p. 575) é definida em seus aspectos gerais da

seguinte forma:

Nas ciências sociais sob aspectos gerais, concorda-se em definir liberdade, como a condição de um indivíduo não ser submetido ao domínio de outro, tendo o poder sobre si mesmo, sobre suas ações e decisões, pressupondo a ausência de coação ou constrangimentos externos; na filosofia, para Montesquieu, liberdade é o direito de fazer tudo quanto as leis permitem. Já Kant entendeu a liberdade como liberdade de consciência. Para Leibniz, somos livres porque Deus nos comunicou um grau de sua perfeição e de sua liberdade.

Em Stott, a liberdade verdadeira encontra-se em Jesus Cristo que nos liberta da

consciência da culpa, do ego e do poder do medo. Não existe para ele, um apontamento

direcionado para a libertação do corpo, dos males causados pela ausência de ações

sociais e da opressão política, do sofrimento quando a dor se reconhece na exposição de

corpos marcados pela violência, fome, miséria e descaso social. Assim, das definições

acima, as que mais se aproximam de Stott, segundo meu entendimento, são as

definições de Kant e de Leibniz, ao se aproximarem da consciência e da imagem de

Deus em nós.

Compreendo que a liberdade nesse sentido, seria uma acomodação “nos braços

de Jesus” (no sentido de descanso e liberdade), numa ação teológica refletida, e não

propriamente um estado de dormência, cuidando a pessoa mais de si, que se envolvendo

(34)

cristã, se envolvendo com as pessoas que fazem parte da igreja. Esta liberdade é, no

entanto, um chamado de Cristo para que os cristãos ultrapassem a linha demarcatória da

igreja e se relacionem, se envolvam com o mundo, no sentido de, cf. Stott (1997, p. 58)

“levar aos cativos a liberdade do evangelho”.

Stott enquadra a questão da liberdade no NT conforme a citação anterior e

adiciona que ela poderá ser alcançada pelo amor. }Ele faz um paralelo ilustrativo (1997,

p. 59): “se a água é o elemento em que os peixes se encontram como peixes, então o

elemento em que os humanos se encontram como humanos é o amor, as relações de

amor”. Ele coloca o amor sob um aspecto geográfico com se fosse um espaço físico de

encontro, sendo o amor o oxigênio que preenche este espaço, e a liberdade, como sendo

uma escolha, sem opção de outra, para assim ser livre. É no cuidado, na precaução de

nossas escolhas que devemos centrar nossa atenção e procurar fazê-las dentro do que é

transmitido pelo evangelho.

Refletindo sobre os pontos de liberdade, compreendo que não se deve agir sob o

manto da liberdade de forma irrestrita para depois procurar justificativas no “destino

divino” a fim de se isentar de suas ações negativas. Deve o homem, antes de agir,

consultar sua consciência e sendo religioso, acreditando em Deus, “deve orar antes e

agir depois” e não o contrário, isto é, agir primeiro e orar depois, porque a falta de

cuidado com a liberdade pode levar o ser humano a sérias consequências.

Na sequência da citação de Heimann (2008, p. 575), em se tratando do

compromisso da liberdade com a ética cristã, observa-se o que segue:

A ética cristã propõe decisões e ações que permitam ao indivíduo viver em harmonia consigo, com o próximo, com a natureza e com Deus. A fonte da ética cristã é a revelação de Deus aos humanos, encontrada nas escrituras sagradas. Está fundamentada em Cristo e na sua obra em favor da humanidade. A moralidade ou ética cristã, portanto, pode ser definida como a aceitação voluntária da vontade divina como norma, por personalidades humanas livres, com o objetivo e a finalidade de realizar esta vontade na vida individual bem como nas várias relações sociais. Portanto, o conceito de liberdade cristã brota do ser imagem de Deus em Cristo.

Comparando a questão da liberdade em Stott, com a citação anterior, percebi

semelhanças de conteúdo, por expressar a liberdade um sentido de vigilância do

(35)

cometidos, o cristão pode ser ético e restaurar sua imagem e semelhança de Deus em

Cristo Jesus. Pode recriar a possibilidade de uma vida pessoal e social pautada pelo

amor a Deus e ao próximo como a si mesmo, dando à liberdade uma forma de agir

consciente e respeitosa para com o ser humano, os seres vivos em geral e o meio

ambiente. Pela palavra do evangelho ela pode ser renovada a cada dia em nossas vidas,

permitindo a todos nós vivermos em liberdade com total responsabilidade.

Esta dimensão da liberdade de cuidado e zelo na vida cristã em toda sua

extensão cósmica deve e precisa ser levada a sério, porque é um elemento importante

para que o missionário, ao desempenhar a missão mundial, tenha suas atitudes e ações

práticas pautadas no evangelho. Quando Stott (1992, p. 58) nos lembra que “missão

quer dizer atividade divina que emerge da própria natureza de Deus. Ora, o Deus vivo

da Bíblia é um Deus que envia”, devemos ficar em alerta com os cuidados que

precisamos ter com nossa liberdade, pois ela teve de ser comprada por alguém. A

humanidade era escrava do “senhor” pecado e seu penhor foi pago com a vida de Cristo

na cruz, um preço elevado, incapaz de ser mensurado financeiramente, pois foi a preço

de sangue derramado na cruz de Cristo. Este é nosso próximo ponto a ser tratado nesta

pesquisa, dentro da perspectiva da missão mundial.

1.2.3 – Evangelho - Cristo e Sua Cruz

Para Stott (1997, p. 63), o evangelho concilia o passado com o presente. Ele

declara que “não somente Jesus salva, mas também que, para fazê-lo, ele morreu pelos

nossos pecados e ressuscitou da morte”. A cruz de Cristo é um símbolo de morte por

compaixão da humanidade. Stott, trata deste tema de forma trinitária, contextualizando

no evangelho, a palavra de Deus, a cruz de Jesus e o poder do Espírito Santo. Antes,

porém, de indicar a reflexão teológica de Stott, apresentarei os verbetes “Cristo” e em

seguida “cruz”, pelo viés do dicionário teológico, na busca de entender de uma mais

ampla forma “a cruz de Cristo”.

Para Stott, o evangelho é a verdade proveniente de Deus confiada a nós. Nossa

responsabilidade é a de apresentá-la às pessoas, para que o Espírito as ilumine e venham

a crer em Jesus como o Cristo de Deus, enviado ao mundo para promover a salvação.

(36)

ligadas à recusa intelectual – como a da filosofia grega que é um empecilho para a

propagação do evangelho, porque coloca a inteligência humana no lugar da palavra de

Deus – e a objeção religiosa (não cristã). Esta não aceita o evangelho como sendo

portador das boas novas, porque se refere a Jesus Cristo como filho de Deus ou até

mesmo por ser uma das unidades da trindade de Deus. Stott (1997, p. 71) afirma que “as

pessoas querem é um sincretismo fácil, uma mistura do que há de melhor em todas as

religiões. Mas nós, cristãos, não podemos abrir mão, nem da supremacia, nem da

unicidade de Jesus Cristo”. Com essa colocação, fica evidente que para o cristão a

confissão de que só Cristo salva, nos remete à tentativa de se ter um cristianismo puro

do sincretismo religioso. Isto não nos permite, porém, deixar de observar o respeito pela

cultura de cada sociedade onde o evangelho está sendo propagado.

Volta Stott a complementar sua teologia cristológica dizendo que “Ele (Jesus) é

o mediador – aliás, o único – entre Deus e a raça humana”. Outra objeção é a pessoal,

porque as pessoas têm arrogância ao expor suas ideias. Stott (1997, p. 72) afirma que

“ainda hoje não existe uma coisa que leve tanta gente a abdicar do reino de Deus quanto

o orgulho”. Pelo pesquisado nas obras dele, entendo que “Reino de Deus” aqui, se

refere a uma esfera escatológica, um reino nos céus, numa vida além.

Outra objeção que impede as pessoas de aceitarem a Jesus como Filho de Deus,

(ou como sendo o próprio Deus) está ligada à moral e aos costumes. Para Stott, muitas

atitudes tidas simplesmente como hábitos culturais, podem, à luz do evangelho, se

revelar como pecado, principalmente nas coisas que se referem ao sexo. Stott, foi

celibatário durante toda sua vida, fazendo uma opção não muito usual (diria até que

rara) entre os protestantes, mas que a meu ver, merece uma apreciação e

reconhecimento por ter se preocupado em servir a Deus de forma integral. Entendo que

sua teologia está centrada na proclamação da palavra. Ela poderia receber elementos

sociais, mas pode ser que, por estar num país de “primeiro mundo”, onde as pessoas

(principalmente as nativas) já têm suas necessidades básicas satisfeitas, isto faça com

que ele se volte para a pregação do evangelho centrado mais nas necessidades

espirituais que exatamente nas questões de ações sociais.

Para Stott, a política pode ser outra barreira a ser enfrentada numa nação que não

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de tal barreira. Quando Jesus Cristo anunciou (Jo. 18.36) que “havia chegado o Reino

de Deus”, isto naturalmente provocou os políticos governantes romanos. Como nos

mostra o evangelho, alguns dos judeus contrários a Jesus se aproveitaram da situação

para levá-lo ao governador na tentativa de incriminá-lo. A cruz de Cristo se ergueu no

ar, também sob pressão política.

A questão da cruz de Cristo é colocada assim por Stott (2006, p. 312): “por que

Cristo morreu?” e responde: “embora Judas o tivesse entregado aos sacerdotes, e estes a

Pilatos, e Pilatos aos soldados, o N.T indica que o Pai o entregou e que Jesus deu-se a si

mesmo por nós”.

Considerando que Jesus sofreu na cruz todo tipo de humilhação e sofrimento e

que sua crucificação contém elementos políticos e religiosos, temos uma ideia da

dimensão da dor terrível que ele passou. No evangelho, a cruz de Cristo lembra sua

morte ocorrida com requintes de crueldade extrema praticada por seus executores. Para

Stott e muitos outros, Jesus Cristo morreu para “pagar os pecados de toda humanidade”,

reconciliando o homem com Deus, por meio do Cristo crucificado e que posteriormente

ressuscitou. Pilatos não o considerou criminoso dizendo a seus acusadores, segundo o

evangelho de Lucas: “[…] tendo-o interrogado, nada verifiquei contra ele dos crimes de

que o acusais. Nem tampouco Herodes. É, pois, claro que nada contra ele se verificou

digno de morte”. Mas o clamor de seus acusadores prevaleceu e Pilatos o entregou à

vontade deles, que era a de crucificá-lo. Depois de percorrer o caminho do calvário e ser

crucificado, Cristo continua até o fim exercendo o ministério do perdão, ao dizer “Pai,

perdoa-lhes: não sabem o que fazem”. Ao crucificado, ofereceram dor, injustiça,

zombaria, escárnio e sofrimento que o levou à morte. Ele, em contrapartida, ainda preso

na cruz, ofereceu salvação, perdão e amor a todo ser humano, sem excluir os que o

maltrataram até a morte. Após a morte de Cristo crucificado, o centurião disse:

“realmente, este homem era justo!”.

Para Stott, o sacrifício de Cristo na cruz deve ser comunicado pelo Espírito

Santo às pessoas e assim promover a salvação. Stott (1997, p. 75) afirma: “afinal,

somente o Espírito Santo pode convencer as pessoas dos seus pecados e necessidades.

Abrir-lhes os olhos para enxergarem a verdade do Cristo crucificado, dobrar sua

Referências

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