• Nenhum resultado encontrado

Novas tecnologias e saúde do trabalhador: a mecanização do corte da cana-de-açúcar.

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2017

Share "Novas tecnologias e saúde do trabalhador: a mecanização do corte da cana-de-açúcar."

Copied!
15
0
0

Texto

(1)

N ovas t ecnologias e saúde do t rabalhador:

a mecanização do cort e da cana-de-açúcar

Ne w te chno lo g ie s and wo rke rs’ he alth:

me chanizatio n o f sug ar cane harve sting

1 Program a de Pós-Gradu ação em Sociologia, Un iversid ad e Estad u al Pau lista Jú lio d e Mesqu ita Filh o. Rod ovia Araraqu ara-Jaú , k m 01, Araraqu ara, SP 14800-901, Brasil. rosescop in h o@u n iu be.br 2 Departam en to de En gen h aria d e Prod u ção, Un iversid ad e Fed eral d e São Carlos (U FScar). farid @p ow er.u fscar.br 3 In stitu to de Econ om ia, Program a d e Dou torad o em Econ om ia, Un iversid ad e Estad u al d e Cam p in as. C. P. 6135, Cam p in as, SP 13083-970, Brasil. cefvian @eco.u n icam p.br 4 Departam en to de Econ om ia Ru ral – FCAV (sigla p or ex ten so), Un iversid ad e Estad u al Pau lista. Rod ovia Carlos Ton an n i, k m 05, Jaboticabal, SP 14870-000, Brasil.

5 Program a de Pós-Gradu ação em En gen h aria d e Prod u ção, Un iversid ad e Fed eral d e São Carlos (U FScar). Rod ovia Wash in gton Lu iz , k m 235, C. P. 676, São Carlos, SP 13565-905, Brasil. p arcos@fcav.u n esp.br

Rosem eire Ap arecid a Scop in h o 1 Farid Eid 2

Carlos Ed u ard o d e Freitas Vian 3 Pau lo Roberto Correia d a Silva 4,5

Abst ract In t h e con t ex t of reorga n iz a t ion of p rod u ct ion in t h e su ga r a n d a lcoh ol in d u st ry, m ech an iz ation of su gar can e h arvestin g h as been ju stified as a p rotective m easu re for th e en viron m en t an d w ork ers. Th is article focu ses on th e con sequ en ces of organ ization of w ork in m ech -an iz ation of su gar c-an e h arvestin g w ith regard to th e h arvester op erators’ h ealth . Based on d ata gath ered th rou gh in terview s an d d irect observation at th e w ork p lace, ch an ges im p lem en ted in t h e t ech n ologica l b a se a n d d iv ision of la b or a n d orga n iz a t ion w ere a n a lyz ed , id en t ifyin g t h e w ork load in h eren t to th e p rocess an d h ow it affects w ork ers’ h ealth . W h ile h arv esters h elp d e-crea se t h e p h ysica l, ch em ica l, a n d m ech a n ica l w ork loa d , t h ey in e-crea se t h e p h ysiologica l a n d p sych ological w ork load . Th ere is evid en ce of sign ifican t ch an ge in th e p attern of w ork -related accid en ts, en tailin g a d ecrease in th eir frequ en cy an d in crease in severity. Th e p attern of illn ess am on g h arvester op erators is sim ilar to th at of m an u al su gar can e cu tters, w ith a h igh ligh t on p sych osom atic illn ess related to th e organ iz ation of w ork in sh ifts an d in creased tem p o d u e to u se of m ach in ery.

Key words Occu p ation al Health ; Ru ral Work ers; Mech an ization ; Ep id em iology

Resumo N o con tex to d a reestru tu ração p rod u tiva su croalcooleira, a m ecan iz ação d o corte d a can a-d e-açú car tem sid o ju stificad a com o u m a m ed id a d e p roteção ao m eio am bien te e aos tra-balh ad ores. Este artigo an alisa as con seqü ên cias d a organ ização d o tratra-balh o n o corte m ecan iza-d o iza-d a can a p ara a saú iza-d e iza-d os op eraiza-d ores iza-d e colh eiza-d eiras. Com base em iza-d aiza-d os obtiiza-d os em en trevis-tas e observações d iretrevis-tas n o local d e trabalh o, an alisam -se as m u d an ças in trod u z id as n a base técn ica e n o m od o d e d ivisão e d e organ ização d o trabalh o, id en tifican d o as cargas laborais in e-ren tes ao p rocesso e a su a trad u ção em d esgaste n os trabalh ad ores. O u so d as colh ed eiras m ecâ-n icas, p or u m lad o, coecâ-n tribu i p ara d im iecâ-n u ir as cargas laborais d o tip o físico, qu ím ico e m ecâecâ-n ico; p or ou tro, acen tu a a p resen ça d aqu elas d o tip o p síqu ico e fisiológico. Há in d ícios d a ocorrên -cia d e m u d an ças sign ificativas n o p erfil d os acid en tes d e trabalh o qu an to à d im in u ição d a frqü ên cia e au m en to d a gravid ad e. O p erfil d e ad oecim en to d os op erad ores d e colh ed eiras é sem e-lh an te àqu ele d o cortad or m an u al d e can a-d e-açú car, sobressain d o os qu ad ros d e d oen ças p si-cossom áticas, relacion ad as à organ iz ação d o trabalh o em tu rn os e à in ten sificação d o seu ritm o através d o u so d as m áqu in as.

(2)

Introdução

A m ecan ização d o corte d a can a-d e-açú car n o Estad o d e São Pau lo, m ais p articu larm en te n a região d e Rib eirão Preto, está em estágio avan -çad o e tem gerad o d iscu ssões p olêm icas en tre os d iferen tes gru p os sociais en volvid os com as p rob lem áticas d o trab alh o, d a saú d e e, p rin ci-p alm en te, d o m eio am b ien te.

De u m lad o, os p rob lem as am b ien tais gerad os p ela p rogerad u ção gerad a can agerad eaçú car, gerad o açú -ca r e d o á lco o l (Ma rin h o & Kirch o ff, 1991; Szm recsán yi, 1994) an im am , p rin cip alm en te, o m ovim en to am b ien talista, o Min istério Pú b li-co e algu n s p arlam en tares n a d efesa d o fim , ou p elo m en o s d a regu la m en ta çã o, d a s q u eim a -d a s n o s ca n a via is. Um a vez q u e, -d o p o n to -d e vista d o ren d im en to e d a segu ra n ça n o tra b a -lh o, é p reju d icia l p a ra o tra b a -lh a d o r o co rte m an u al d a can a cru a, a altern ativa qu e se colo-ca é a m ecolo-can ização d essa ativid ad e lab oral. De ou tro lad o, as em p resas, valen d o-se d as atu ais exigên cias d o m ercad o e tam b ém d as p róp rias a ções d os m ovim en tos socia is con tra a s q u ei-m ad as e d as d en ú n cias e alertas q u e, d esd e as greves d e Gu arib a e Lem e, vêm sen d o feitas p a-ra ten tar resolver a q u estão social d o b óia-fria, m ecan izam as lavou ras, m as, cortan d o, p rin ci-p alm en te, can a q u eim ad a. Na região d e Rib ei-rã o Preto, sã o q u eim a d o s, a p roxim a d a m en te, 650.000 h ectares d e can a p or an o. Por ou tro lad o a in lad a , co m a crescen te in tro lad u çã o lad e co -lh ed eiras m ecân icas, os trab a-lh ad ores assalariad os ru rais, organ izad os ou n ão, ressen tem -se d a d im in u ição d os p ostos d e trab alh o (Veiga Filh o et a l., 1994), d a q u ed a n o va lo r rea l d o s salários (Nogu eira, 1992) e de u m a sen sível p io-ra n a q u a lid a d e d a s rela çõ es e co n d içõ es d e trab alh o (Scop in h o, 1995, 1996; Scop in h o & Va-larelli, 1995).

Alessi & Scop in h o (1994) verificaram q u e o p rocesso d e trab alh o d o cortad or d e can a-d eaçú car da região de Ribeirão Preto gera u m con -ju n to d e ca rga s la b o ra is q u e se tra d u zem em u m p ad rão d e m orb id ad e q u e, ap esar d e in es-p ecífico, está estreitam en te relacion ado ao m o-d o o-d e organ izar e realizar a ativio-d ao-d e. Scop in h o (1995, 1996) e Scop in h o & Valarelli (1995) acres-cen taram q u e o estad o geral d e saú d e d os tra-b a lh a d o res é a gra va d o p ela p reca ried a d e d o con ju n to d as con d ições d e vid a em ter m os d e, p or exem p lo, con dições de higien e e san eam en -to d o local d e m orad ia, grau d e in stru ção, faci-lid ad e d e acesso aos b en s d e con su m o coletivo em geral, existên cia d e esp aços in stitu cion ali-zad os ou n ão d e reivin d icação d e d ireitos etc.

H á q u em ju stifiq u e q u e a m eca n iza çã o d a colh eita d a can a, além d e trazer in ú m eras van

-ta gen s eco n ô m ica s e a m b ien -ta is, é -ta m b ém u m a form a d e elim in ar a in salu b rid ad e, a p ericu losid ad e e a p en osid ad e existen tes n as fren -tes d e trab alh o ru ral. En tretan to, cab e qu estio-n a r e iestio-n vestiga r a té q u e p o estio-n to a s m u d a estio-n ça s q u e estã o sen d o in tro d u zid a s n a b a se técn ica d o p ro cesso d e tra b a lh o d e co rte d a ca n a -d e-açú car p od em con trib u ir p ara reverter o p erfil d e ad oecim en to d os assalariad os ru rais.

Sco p in h o (1995), o b ser va n d o gu in ch eiro s qu e trab alh avam em tu rn os d e 24 h oras n o car-rega m en to d a ca n a e op era d ores d e colh ed ei-ras escalad os em tu rn os d e 12 h oei-ras, su p õe qu e a m ecan ização n a lavou ra can avieira p od e n ão estar, efetivam en te, con trib u in d o p ara san ear o s a m b ien tes d e tra b a lh o e reverter o p a d rã o d e d esga ste-rep rod u çã o d os tra b a lh a d ores, e, sim , a p en a s im p rim in d o a ele n ovo s p a d rõ es. Se, p or u m lad o, ocorre u m a certa d im in u ição d as cargas d o tip o físico, q u ím ico e m ecân ico, p o r o u tro, a s m á q u in a s a cen tu a m a p resen ça d e elem en tos qu e con figu ram as cargas d o tip o p síq u ico e fisio ló gico p o rq u e in ten sifica m o ritm o d o tra b a lh o. A a u to ra ch a m a a a ten çã o p ara a n ecessid ad e d e an alisar os p rocessos d e tra b a lh o m e ca n iza d o s n a la vo u ra ca n a vie ira p ara id en tificar as cargas lab orais e os p ad rões d e d esga ste-rep ro d u çã o q u e ela s co n tr ib u em p ara con d icion ar (Scop in h o, 1995).

Ba sea d o n a s q u estões leva n ta d a s p or Sco-p in h o (1995), o ob jetivo d este artigo é o d e an a-lisar as m u d an ças qu e ocorrem n a organ ização d o trab alh o d o corte d a can a-d e-açú car com a in trod u ção d as colh ed eiras e as con seqü ên cias p ara a saú d e d o assalariad o ru ral can avieiro.

Segu n d o Silva (1981), o p ro gresso técn ico n a agricu ltu ra, ao m esm o tem p o, su b ord in a as forças d a n atu reza e o trab alh o à lógica d e va-loriza çã o d o ca p ita l. Em b ora este a u tor ten h a frisa d o q u e a a p lica çã o d o p ro gresso técn ico n o p ro cesso p ro d u tivo n ã o é feita n o sen tid o d e co n tra ria r o u p reju d ica r o s tra b a lh a d o res, m as, p rin cip alm en te, p ara favorecer os cap ita-listas através d a elevação d a taxa d e lu cro, o fa-to é q u e, n a s a gro in d ú stria s su cro a lco o leira s, p ara os trab alh ad ores, as in ovações tecn ológi-cas têm sid o sin ôn im o d e d eterioração d as re-la çõ es e co n d içõ es d e tra b a lh o. Ou seja , n a a gro in d ú stria ca n a vieira , o d esen vo lvim en to d o p rogresso técn ico, p or u m lad o, tem sign ifi-cad o d esem p rego e, p or ou tro, a in ten sificação d o ritm o d e trab alh o, o q u e tem afetad o seria-m en te a saú d e e a segu ran ça n o trab alh o (Sco-p in h o, 1995, 1996; Sco(Sco-p in h o &am(Sco-p; Valarelli, 1995).

(3)

d e trab alh o d o corte d e can a-d e-açú car m ecan iza d o, id eecan tifica ecan d o a s ca rga s la b ora is (La u rell & No riega , 1989) n o civa s à sa ú d e e o p a -d rão -d e -d esgaste-rep ro-d u ção (Lau rell & Norie-ga , 1989) m a n ifesta d o p elo s tra b a lh a d o res, com p aran d o-o com o p rocesso d e trab alh o d o co rte m a n u a l d a ca n a -d e-a çú ca r, q u a n d o fo r p ossível e p ertin en te. Do p on to d e vista d as re-la ções d e tra b a lh o, a a n á lise en foca a s form a s con tratu ais, a d ivisão d as tarefas, as jorn ad as, o s m eca n ism o s d e co n tro le e su p er visã o d o trab alh o, as form as d e con trole d a p rod u ção e d e rem u n era çã o d o s tra b a lh a d o res, o s m eca -n ism os d e recru ta m e-n to e seleçã o, os p rocesso s d e trein a m en to / q u a lifica çã o d e o p era d o res d e colh ed eiras m ecân icas d e can ad eaçú -car. Do p on to d e vista d as con d ições em qu e se realiza o trab alh o, a an álise p rivilegia a recon s-tru ção d o p rocesso, con sid eran d o o ob jeto so-bre o qual se ap lica o trabalho, os tip os de m eios e in stru m en tos qu e são u tilizad os e com o a ati-vid ad e se realiza.

Utilizam -se, b asicam en te, d ad os ob tid os d e ob serva çã o d ireta d o p rocesso d e tra b a lh o d o corte m eca n iza d o d a ca n a -d e-a çú ca r e en trevista s co m tra b a lh a d o res e sin d ica lista s, em -p resários, técn icos agrícolas e ligad os à ad m in istra çã o d e recu rso s h u m a in o s em d u a s em -p resa s su croa lcooleira s loca liza d a s n o Esta d o d e Sã o Pa u lo. A u sin a A situ a -se n o cen tro d a regiã o ca n a vieira d e Rib eirã o Preto e, n a sa fra d e 1995-1996, m oeu 1.049.000 ton elad as d e can a, p rod u zican d o 1.540.000 sacas (50 kg) d e açú -car e 28.506.000 litros d e álcool, geran d o 1.855 em p rego s d ireto s, 1.475 d o s q u a is n o seto r agrícola. A u sin a B situ a-se n a região can aviei-ra d e Bau ru , sen d o con sid eaviei-rad a a m aior u sin a d o m u n d o em m oagem d e can a. Na safra 1995-1996, a u sin a B m o eu 6.113.750 to n ela d a s d e ca n a , p ro d u zin d o 7.367.120 sa ca s (50 kg) d e a çú ca r e 139.425.000 litro s d e á lco o l, gera n d o 8.956 em p rego s d ireto s, sen d o 6.340 n o seto r agrícola (GPA, 1996). Tam b ém foram en trevis-ta d o s p ro fissio n a is d a red e o ficia l d e sa ú d e e d a p revid ên cia social, resp on sáveis p ela assis-tên cia m éd ica e p elo sistem a d e in fo r m a çã o em acid en tes e d oen ças d o trab alh o.

O processo de t rabalho do cort e mecanizado da cana-de-açúcar

Sco p in h o (1995) m o stra q u e, n a regiã o d e Ri-b eirã o Preto, o s p ro jeto s d e m eca n iza çã o d a colh eita d a can a foram retom ad os em m ead os d a d éca d a d e 80, n o con texto d e u m con ju n to d e p ressões econ ôm icas e sociais relacion ad as às tran sform ações d os m ercad os in tern o e

ex-tern o, ao su p osto afastam en to d o Estad o n a re-gu lação d o setor su croalcooleiro, às con qu istas d e d ireitos sociais m ín im os p elos trab alh ad o-res ru rais, à em ergên cia d os m ovim en tos eco-lógicos e d a legislação q u e p rocu ra p roteger o m eio am b ien te con tra a qu eim a n os can aviais. Atu alm en te, estim a-se q u e a colh eita m ecan i-za d a a tin ge en tre 20% e 30% d a á rea p la n ta d a (Fo lh a d e Sã o Pa u lo, 1993; Jo rn a lca n a , 1993; Veiga Filh o et al., 1994). Tod avia, h á u sin as cu -jo s ín d ices d e m eca n iza çã o u ltra p a ssa m 60% (Veiga Filh o et al., 1994) e, segu n d o algu n s sin -d icalistas, h á u m caso exem p lar em q u e ele se a p roxim a d e 90%. A m eca n iza çã o d a co lh eita d a ca n a exige q u e seja m resp eita d a s a lgu m a s con d ições físicas, técn icas e d e p rod u tivid ad e p a ra ju stifica r o u so d a m á q u in a , sem h a ver o risco d e elevar o cu sto d a colh eita m ecan izad a p ara além d o cu sto d o corte m an u al. Resp eita-d as essas con eita-d ições, p ara o p roeita-d u tor, a u tiliza-ção d as colh ed eiras reverte-se em au m en to d a p ro d u tivid a d e e q u a lid a d e d a m a téria -p rim a , b em co m o em d im in u içã o d o s cu sto s d a p ro -d u çã o a gríco la , q u e rep resen ta m en tre 50% e 60% em relação ao cu sto total (Scop in h o, 1995). A m a téria -p rim a d o p ro cesso d e tra b a lh o d o corte m ecan izad o é, p red om in an tem en te, a can a-d e-açú car q u eim ad a. Geralm en te, o cor-te m ecan izad o d a can a cru a cor-tem sid o realizad o so m en te q u a n d o a p la n ta çã o lo ca liza -se n a s p eriferias d as cid ad es ou sob as red es d e en er-gia elétrica , em cu m p rim en to a o Decreto -Lei 28.895/ 88.

A form a d e p lan tar com su lcos rasos e esp a-çam en to m en or p erm ite m ecan izar o p rim eiro corte. No en ta n to, n o p rim eiro corte p rocu ra se evita r o u so d e co lh ed eira s p a ra n ã o co m p a cta r o so lo e ta m b ém p o rq u e a s ca n a s p o -d em -d an ificar a m áqu in a p or serem m ais viço-sas e p esad as. Segu n d o u m d os en trevistad os, a ten d ên cia é m ecan izar a colh eita d esd e o p rim eiro corte p orqu e d everá ocorrer u rim a ‘evolu -çã o’ d a tecn o lo gia n o sen tid o d e m in im iza r a com p actação e tam b ém u m au m en to d a p res-são d os am b ien talistas con tra as qu eim ad as.

(4)

q u eim a d a s n a s á rea s u rb a n a s, d esd e 1991 fo -ra m m ovid a s 86 a çõ es co n t-ra a s u sin a s em 13 m u n icíp io s d a regiã o. Dessa s a çõ es, 33 (38%) fo ra m ju lga d a s, e 24 (28%) fo ra m ga n h a s p e -las p rom otorias p ú b licas (Folh a d e São Pau lo, 1995). Mesm o com esta p ressão, as q u eim ad as con tin u am .

Parece, con tu d o, q u e existe u m a ten d ên cia de au m en to do corte m ecan izado da can a cru a, a lo n go p ra zo. Na verd a d e, o q u e está p o r trá s d esta ten d ên cia n ão é som en te a p reocu p ação co m o m eio a m b ien te o u co m o s tra b a lh a d o -res. Sob retu d o, h á van tagen s d e ord em econ ô-m ica – o p e ra cio n a is, in d u stria is e a gro n ô ô-m i-ca s – q u e m ovem a s u sin a s n a d ireçã o d o u so d e colh ed eiras m ecân icas p ara can a cru a (Sco-p in h o, 1995). Po r en q u a n to, (Sco-p o rém , (Sco-p o r u m a q u estão d e racion alização d o u so d a m áq u in a, p red om in a o corte d a can a q u eim ad a, m esm o com a p ressão social e legal con tra esta p rática e as van tagen s p rop orcion ad as p ela m ecan iza-ção d o corte d a can a cru a. Por exem p lo, verifi-ca-se, n a u sin a B, qu e o ren d im en to d as colh e-d eira s é e-d e, a p roxim a e-d a m en te, 30% su p erio r qu an d o a can a é qu eim ad a. Por isso, ap esar d e a m eca n iza çã o d o co r te esta r sen d o co lo ca d a com o u m a m ed id a d e p roteção am b ien tal, p arece q u e ela p ou co tem con tr ib u íd o p ara solu -cio n a r a p ro b lem á tica d a p o lu içã o p rovo ca d a p elas qu eim ad as. Ou seja, a p rática d a qu eim ad a n ão tem siad o u m a garan tia ad e oferta ad e em -p regos, e o u so d e colh ed eiras m ecân icas -p od e n ã o elim in a r a fa m igera d a q u eim a d o s ca n a -viais.

A q u eim a o co rre a lgu m a s h o ra s a n tes d o corte e n ão é raro as m áqu in as e os trab alh ad ores ad en trarem o talh ão d e can a qu an d o a tem -p era tu ra a in d a está eleva d a . Um geren te a grí-cola afirm ou q u e: “Ap ós a qu eim a d e im ed iato d á p ara en trar. Com o é u m fogo ráp id o a tem -peratu ra já n orm aliza logo em segu ida”. Ocorre qu e esses talh ões, logo ap ós serem qu eim ad os, receb em n ã o a p en a s a s m á q u in a s, o s eq u ip a -m en tos e os i-m p le-m en tos n ecessários ao corte d a can a-d e-açú car m ecan izad o q u e são m ovi-d os p or com b u stível líq u iovi-d o, com o tam b ém os d em ais veícu los tran sp ortad ores d e com b u stí-veis q u e lu b rificam e ab astecem tod os os m o-tores in loco. É evid en te o risco d e ocorrer u m a exp losão p rovocad a p or p ossíveis fagu lh as ou b raseiros d eixad os p ela qu eim ad a.

Mesm o n o corte m ecan izad o d a can a cru a, o risco d e in cên d io d u ran te a op eração é m u ito gra n d e. As p a lh a s se ca s q u e p e rm a n e ce m n o ta lh ã o p o d e m in ce n d ia r, se ja p o rq u e e n tra m em con tato com as p artes d a m áqu in a qu e, em virtu d e d o fu n cion am en to q u ase in in terru p to, estão su p eraqu ecid as, ou p orqu e p od em ser

al-vo, p or exem p lo, d e u m a p on ta d e cigarro ace-sa atirad a a esm o. Com o m ed id a d e p reven ção, p erm a n ece n o ta lh ã o u m ca m in h ã o -ta n q u e carregad o com águ a, q u e é u tilizad a p ara ap a-gar p ossíveis focos d e in cên d io e p ara lavar as p a rtes d a m á q u in a o n d e se a cu m u la m a s p a -lh as secas.

Além d o risco d e in cên d io e d e exp lo sõ es q u e p o d em a tin gir o s tra b a lh a d o res n o a m -b ien te d e tra -b a lh o, a s q u eim a d a s d a ca n a re-p resen tam u m risco am b ien tal d e gran d es re-p ro-p o rçõ es. A fu ligem esro-p a lh a -se ro-p ela s cid a d es cau san d o in côm od o às p op u lações p ela su jeira q u e d eixa n as resid ên cias. Parece tam b ém q u e a s p a rtícu la s resp irá veis d a fu ligem em m u ito co n trib u em p a ra a u m en ta r a in cid ên cia d e d oen ças resp iratórias q u e atin gem , p rin cip al-m en te, as crian ças e os id osos d u ran te o p erío-d o erío-d a safra (Fran co, 1992). A fau n a q u e h ab ita os can aviais tam b ém é p reju d icad a p elas qu ei-m a d a s. Dep o is q u e o fo go se a p a ga , à ei-m ed id a q u e a s m á q u in a s co rta m e retira m a ca n a , é p ossível ob serva r a s a ves d e ra p in a n a ca ça d a a o s p eq u en o s ro ed o res, co b ra s e o u tro s a n i-m ais p eçon h en tos qu e a qu eii-m ad a d izii-m ou .

O risco d e co n ta to d ireto o u in d ireto co m a n im a is p eçon h en tos existe n o corte m eca n i-zad o tan to qu an to n o corte m an u al, p rin cip al-m en te q u a n d o a ca n a n ã o fo i q u eial-m a d a e a s m á q u in a s n ã o p o ssu em ca b in a s co m sistem a d e ven tila çã o o u refrigera çã o q u e p o ssa m ser totalm en te ved ad as. Esse risco au m en ta n o d eco rrer d a jo rn a d a n o tu rn a , q u a n d o a s o p era -çõ es sã o in terro m p id a s e o s o p era d o res sa em d a cab in a d u ran te as p au sas p ara fazer as refei-ções ou os con sertos q u e ven h am a ser n eces-sários n os equ ip am en tos.

A exp osição d os op erad ores d e m áqu in as às in tem p éries d im in u i em relação ao q u e ocorre ao cortad or d e can a, p orq u e os p rim eiros, n as ca b in a s, fica m p ro tegid o s d a ra d ia çã o so la r, d os ven tos e d a ch u va, d o con tato m ais d ireto com an im ais p eçon h en tos e tam b ém d o ru íd o e d a p oeira q u e a circu lação d as m áq u in as p esad as p rovoca n o am b ien te. No en tan to, qu an -d o n ão existe sistem a -d e ven tilação e refrigera-ção, a tem p eratu ra n o in terior d as cab in as ele-va-se e, p ara d im in u ir o calor, o op erad or/ m o-torista trab alh a com os vid ros ab ertos, fican d o, assim , exp osto à p oeira e ao ru íd o p rovocad os p ela circu la çã o d a s m á q u in a s, b em co m o a o p erigo d e ser golp ead o p or p ed ras, tocos e p e-d aços e-d e can a.

(5)

Em b ora o jato m ais d en so d e p oeira e fu ligem saia d a p arte traseira d a m áq u in a, p róxim o ao ven tilad or q u e sep ara as p alh as d a can a an tes q u e ela seja jo ga d a n a ca ça m b a , u m a gra n d e q u a n tid a d e d e p a r tícu la s fica su sp en sa n o a r, qu an tid ad e esta qu e au m en ta à p rop orção qu e, ao lon go d o d ia, au m en ta o n ú m ero d e m áqu i-n as em m ovim ei-n to e d e m ai-n ob ras feitas. Além d a p o eira , o m ovim en to d a s m á q u in a s gera ta m b ém ru íd o e trep id a çã o q u e a feta m m a is d ireta m en te os m otorista s e os op era d ores d e m áqu in as. Ap esar d e n ão ter sid o ob jetivo d es-ta in vestiga çã o rea liza r m ed içõ es d o s risco s am b ien tais, ressaltase a n ecessid ad e d e qu an -tificar os n íveis d e ru íd o e p oeira existen tes n as fren tes d e tra b a lh o ru ra l m eca n iza d a s p a ra m elh or avaliar os efeitos d esses tip os d e cargas n a saú d e d os trab alh ad ores.

O corte m ecan izad o req u er a u tilização d e m eio s e in stru m en to s d e tra b a lh o, ta is co m o ca m in h õ es e tra to res reb o ca d o res, ca ça m b a s p ara con ter a can a cortad a, cam in h ões-oficin a, cam in h ões-tan qu e p ara águ a e p ara com b u stí-vel, além d as colh ed eiras. Essa p rática torn a-se eco n o m ica m en te viá vel so m en te co m a u tili-za çã o d e u m n ú m ero m ín im o d e co lh ed eira s: en tre três e cin co (Scop in h o, 1995).

De fato, n a u sin a A, o corte m ecan izad o es-ta va sen d o im p la n es-ta d o n a sa fra 96/ 97 co m a aq u isição d e três colh ed eiras com cap acid ad e p ara cortar, em m éd ia, 3.900 ton ./ d ia. Com o a p revisão d e m oagem d e can a n a referid a safra era d e, em m éd ia, 6.000 ton ./ d ia, isto sign ifica q u e o ín d ice d e m ecan ização d esta u sin a p od e ser d e, ap roxim ad am en te, 65%.

Na u sin a B, n a sa fra 95/ 96, a s q u a tro fren -tes d e co lh eita m ecâ n ica reu n ia m 36 m á q u i-n as, qu e colh iam , em m éd ia, 10.000 toi-n ./ d ia, o que sign ifica, ap roxim adam en te, 37,6% da m oa-gem d iária (em m éd ia, 26.581 ton ./ d ia). Nesta u sin a , a s m á q u in a s q u e co lh em ca n a p ica d a p ossu em u m ren d im en to d e 30 a 40 ton ./ h ora, e m m é d ia ; a s m á q u in a s q u e co lh e m ca n a in -t e ira -t ê m u m re n d im e n -t o m e n o r – e n -t re 25 e 30 t o n ./ h o ra –, p o rq u e e la s co n so m e m m a is tem p o em m an ob ras p ara se ad eq u ar à veloci-d aveloci-d e veloci-d o cam in h ão qu e receb e a can a cortaveloci-d a.

Além d a s co lh ed eira s, o u tra s m á q u in a s e eq u ip a m en to s sã o n ecessá rio s p a ra a rea liza -ção d o corte m ecan izad o. Um a d as exigên cias é a d e u m a in fra-estru tu ra m ecân ica d e ap oio, q u e co n siste n a p resen ça d e u m ca m in h ã o -tan qu e, p ara o ab astecim en to d e com b u stível e lu b rifican tes, e d e u m cam in h ão-oficin a eq u i-p a d o co m to d o s o s in str u m en to s e m a teria is (p ren sa, m acaco, fu rad eira, m orsa, óleo lu b rifi-can te, graxa, gerad or, oxigên io, acetilen o, sold a e t c.) n e ce ssá r io s p a ra a re a liza çã o d a m a n u

-ten ção e rep aro d as colh ed eiras in loco (Alves, 1992; Scop in h o, 1995).

As co lh ed eira s o p era m a co m p a n h a d a s d e u m veícu lo, q u e tra cio n a u m a ca ça m b a , q u e, p o r su a vez, receb e a ca n a co rta d a , in teira o u p icad a. Assim , o carregam en to d a can a cortad a p ara a u sin a é feito sim u ltan eam en te ao corte, disp en san do as carregadeiras m ecân icas (gu in ch o s) e o s seu s o p era d o res. Este veícu lo ta m -b ém p o d e ser u m ca m in h ã o co m ca rro ceria a d a p ta d a p a ra con ter os toletes d e ca n a . Ma s, p a ra evita r a co m p a cta çã o d o so lo, já estã o sen d o u tilizad os tratores m ais leves qu e acom -p an h am a colh ed eira d en tro d o talh ão e tracio-n am o q u e se ch am a d e tratracio-n sb ord o p ara receb er a can a cortad a. O tran sreceb ord o é u m a caçam -b a q u e, ao ser p reen ch id a, é levad a p elo trator ao cam in h ão tran sp ortad or, o q u al fica agu ar-d an ar-d o fora ar-d o talh ão. O cam in h ão tran sp orta-d or con orta-d u z u m a, orta-d u as ou até três (‘trem in h ão’) caçam b as rep letas d e can a cortad a até o p átio d e d escarregam en to d a u sin a.

Quan to aos cam in hões tran sp ortadores, eles realizam o qu e é ch am ad o n a u sin a B d e op e ra-ção b ate-e-volta. Esta op erara-ção en volve cam i-n h ões d o tip o ‘cavalo’, q u e p erm item o ei-n gate d e caçam b as (ou ‘ju lietas’) qu e receb em a can a d o tra n sb o rd o. En q u a n to o ca va lo tra n sp o rta a (s) ca ça m b a (s) p a ra o p á tio d e d esca rrega m en to d e ca n a n a u sin a , ou tra s ca ça m b a s va -zias estão sen d o p reen ch id as p elo tran sb ord o n o talh ão. No p átio, o cavalo tran sp ortad or d ei-xa a s ca ça m b a s ch eia s e volta p a ra a fren te d e tra b a lh o n a la vou ra com ou tra s ca ça m b a s va -zias, p ara d ep ois retorn ar com as ch eias, e as-sim p or d ian te.

(6)

u m con ju n to d e p rofu n d as tran sform ações n o m o d o d e o rga n iza r o tra b a lh o n o co rte d a ca -n a-d e-açú car, qu e são d iscu tid as -n a seqü ê-n cia, com eçan d o p elos recu rsos h u m an os n ecessá-rios p ara a realização d o corte m ecan izad o.

Na u sin a B, a s 36 co lh ed eira s o cu p a m 27 o p era d o res, três m ecâ n ico s d e m a n u ten çã o, u m en carregad o d a fren te (ch am ad o fren tista) e u m a tu rm a (ap roxim ad am en te q u aren ta tra-b alh ad ores) d e cortad ores-tra-b itu qu eiros. As m á-q u in as e os trab alh ad ores são d istrib u íd os em q u atro fren tes d e trab alh o; cad a u m a d as fren -tes p ossu i 20% a m ais d e p essoal p ara cob rir as folgas. Na u sin a A, as três colh ed eiras ocu p am sete op erad ores, q u atro m ecân icos, seis corta-d ores-b itu qu eiros e oito m otoristas.

A m eca n iza çã o d o co rte n ã o p rescin d e d o trab alh o d o cortad or e d o b itu qu eiro, qu e ago-ra tam b ém p od e ser u m m isto d e cortad or-d e-ca n a -b itu q u eiro (Alves, 1992). O b itu q u eiro é u m trab alh ad or cu ja fu n ção é d ar o acab am en to n o talhão, cortan do, am on toan do e recolh en -d o os p és -d e can a q u e a colh e-d eira n ão con segu iu co rta r, b em co m o o s to letes q u e esca p a -ram d a caçam b a. Na u sin a B, esses trab alh ad o-res n ã o p erten cem a u m a tu rm a fixa , u m a vez q u e realizam u m trab alh o com p lem en tar. São con tratad os aq u eles q u e resid em n as p roxim i-d ai-d es i-d as fren tes i-d e trab alh o, p ara racion alizar o tem p o e red u zir cu stos com tran sp orte.

Além d a p resen ça d e b itu q u eiros, p od e h a-ver tam b ém a p resen ça d e cortad ores m an u ais n os talhões, que trabalham on de a m áquin a n ão con segu e cortar p or cau sa d os acid en tes top o-gráficos. Segu n d o u m técn ico agrícola, evita-se ao m áxim o m istu rar os p rocessos d e corte m a-n u al e m ecaa-n izad o, e p rocu ra-se trab alh ar com a p ersp ectiva d e, em cu rto p razo, reform ar to-d o s o s ta lh õ es p a ra o co rte m eca n iza to-d o. Na u sin a B, a m aior p arte d os talh ões estão p roje-ta d o s p a ra o co rte m ecâ n ico, o q u e sign ifica qu e, em cu rto esp aço d e tem p o, a m ecan ização d o corte d everá gen eralizar-se n esta em p resa, visto qu e, p ela p róp ria d efin ição d o en trevista-d o, o p lan ejam en to n a agricu ltu ra can avieira é “u m processo qu e in icia-se h oje para realizar-se ao lon go d e u m fu tu ro d e ap rox im ad am en te cin co an os” (geren te agrícola).

A in tro d u çã o d a s co lh ed eira s m ecâ n ica s p rovo ca u m a gra n d e red u çã o d o n ú m ero d e p ostos d e trab alh o n a fase d o corte. Segu n d o o p re sid e n te d a So cie d a d e d o s Pro d u to re s d e Açú car e Álcool (Sop ral), n o Estad o d e São Pau -lo, a p roxim a d a m en te 60% d a á rea p la n ta d a com ca n a p od e ser im ed ia ta m en te m eca n iza-d a, en qu an to qu e 20% é m ecan izável, m as exi-girá in vestim en tos p ara a ad eq u ação d o terre-n o. Ap eterre-n as 20% terre-n ão é m ecaterre-n izável, o qu e exige

a m an u ten ção d o sistem a d e corte m an u al. Pa-ra ele, a m ecan ização total d as áreas can aviei-ras d o Estad o é u m p rocesso len to e qu e d everá o co rrer d en tro d o s p ró xim o s d ez o u 15 a n o s (Folh a d e São Pau lo, 1993; Jorn alcan a, 1993).

Em 1994, o In stitu to d e Econ om ia Agrícola (IEA) rea lizou u m a estim a tiva d a su b stitu içã o d e m ão-d e-ob ra p or colh ed eiras m ecân icas n a la vo u ra ca n a vieira . Segu n d o este estu d o, n o Estad o d e São Pau lo, até o an o 2000, p ara u m a área m ecan izável d e 46% d a área p lan tad a com can a, o u so d e colh ed eiras sign ificará u m a re-d u ção re-d e 38.569 p ostos re-d e trab alh o e u m a taxa d e d esem p rego d e 22,9%. Na regiã o d a a n tiga Divisã o Regio n a l Agríco la d e Rib eirã o Preto (Dira -RP), a té o a n o 2000, su p o n d o u m a á rea m eca n izá vel d e 60%, a p erd a a cu m u la d a d e p ostos d e tra b a lh o a tin girá 28.197. A va ria çã o d a taxa d e d esem p rego será d e 18% a 51%, en -tre 1994 e 2000 ( Ve iga Filh o e t a l., 1994). De acord o com as ob servações feitas p or Scop in h o (1995) em u m a u sin a-d estilaria d a região d e Ri-b eirão Preto, q u e op erava n o an o d e 1992 com duas m áquin as em p len o fun cion am en to e u m a terceira em fa se d e teste, u m a m á q u in a corta , em m éd ia, 40 ton ./ h ora e p od e, em con d ições id eais, op erar in in terru p tam en te 24 h oras p or d ia . Po rta n to, u m a m á q u in a p o d e co rta r 960 ton ./ d ia. Na m esm a u sin a, u m h om em , em jor-n ad a d e oito h oras, cortava, em m éd ia, 7 tojor-n ./ d ia . Pa ra co rta r 960 to n ./ d ia n o sistem a m a n u al, a u sin a n ecessitava d e, ap roxim ad am en -te, 137 h om en s. Esses d ad os m ostram q u e, em con dições de p len o fu n cion am en to, em u m d ia, u m a só m áq u in a p od eria su b stitu ir o trab alh o d e, ap roxim ad am en te, 137 h om en s ou três tu r-m as d e trab alh ad ores.

(7)

l-q u er tip o d e terren o, p o r isso o co rte m a n u a l sem p re existirá, ain d a q u e com o u m a ativid a-d e com p lem en tar à a-d a m áqu in a.

Um forte in d icad or d o au m en to n os ín d ices d a m eca n iza çã o n os p róxim os a n os sã o a s re-form as qu e estão sen d o feitas n os talh ões on d e é p ossível o u so d as m áqu in as. O u so d a colh ed eira req u er u m reed im en sio n a m en to ed o s ta lh ões e m od ificações n o sistem a d e p lan tio, en -tre ou tras (Alves, 1992; Scop in h o, 1995) q u e já p o d em ser d etecta d a s p o rq u e, lem b ra n d o a s p alavras d e u m geren te agrícola en trevistad o, o p lan ejam en to n a agricu ltu ra can avieira é “ u m processo qu e in icia-se em u m fu tu ro de, aproxi-m ad aaproxi-m en te, cin co an os”. Qu er d izer, com b ase n o n ú m ero d e ta lh õ es q u e estã o sen d o refo r-m ad os h oje, é p ossível p rojetar u r-m a ten d ên cia acen tu ad a d e crescim en to d o corte m ecan iza-d o iza-d a can a, o q u e é coeren te com a estim ativa d e Veiga Filh o et al. (1994) d e red u ção crescen -te d e p ostos d e trab alh o n a lavou ra can avieira em virtu d e d a m ecan ização d a colh eita ( Veiga Filh o et al., 1994).

O trab alh o n o corte m ecan izad o ap resen ta gran d es m od ificações em relação ao corte m a-n u a l, a-n o q u e se refere à s jo ra-n a d a s e à s fo rm a s de con tratação e de rem u n eração. No corte m a-n u al d a caa-n a, a coa-n tratação é d o tip o tem p orá-ria ; a jo rn a d a é exclu siva m en te d iu rn a , d e se-gu n d a a sá b a d o, co m o ito h o ra s d iá ria s m a is aqu elas u tilizad as in etn eri, e a form a d e rem u -n eração é p or p rod u ção.

Os lim ites d a força d e trab alh o h u m an a n ão p erm itiam qu e o trab alh o n a agricu ltu ra acom -p a n h a sse o ritm o in ten so d e fu n cio n a m en to d a s m o en d a s in d u stria is d u ra n te a sa fra . No co rte m eca n iza d o, a gra n d e m o d ifica çã o é a fo rm a d e o rga n iza r o tra b a lh o em tu rn o s n o -tu rn os e altern ad os. Na u sin a B, realizavam -se três tu rn os altern ad os d e oito h oras, com reve-zam en to sem an al. Cad a trab alh ad or fazia, em m éd ia, u m a e m eia h ora extra p or d ia. Na u sin a A, rea liza va m -se d o is tu rn o s a ltern a d o s d e 12 h oras com o segu in te sistem a d e revezam en to: sete jo rn a d a s d iu rn a s co m fo lga d e 48 h o ra s, segu id as d e sete jorn ad as n otu rn as.

Merece aten ção esp ecial o fato d e o p roces-so d e trab alh o d o corte m ecan izad o realizar-se em tu rn o s n o tu rn o s e a ltern a d o s. Esse m o d o d e o rga n iza çã o d o tra b a lh o b a seia se n a im -p la n ta çã o d e u m esq u em a d e rod ízio en tre os trab alh ad ores, d e tal form a q u e garan ta o fu n -cio n a m en to in in terru p to d a p ro d u çã o p a ra a lém d o exp ed ien te con ven cion a l, in clu sive à n oite e aos sáb ad os, d om in gos e feriad os, p res-su p on d o o trab alh o em h orários irregu lares e a su jeiçã o d o s tra b a lh a d o res a u m a esca la d e p lan tões. Do p on to d e vista d a em p resa, essa é

u m a estra tégia q u e p erm ite m a xim iza r o u so d os m eios e in stru m en tos d e trab alh o, p orq u e d im in u i em gran d e escala os seu s p eríod os d e o cio sid a d e. Esse m o d o d e o rga n iza r a p ro d u -ção tem com o con seq ü ên cia m aior a in ten sifi-cação d o ritm o d e trab alh o.

São con h ecid os os efeitos n ocivos qu e a in -ten sifica çã o d o ritm o d e tra b a lh o p o d e tra zer p ara a saúde dos trabalhadores. Os estudos exis-ten tes n a litera tu ra m ostra m q u e ta l form a d e organ izar o trab alh o p od e gerar d istú rb ios d iversos n o n ível d o son o, d a ord em tem p oral in -tern a d o organ ism o e d a vid a social d o in d iví-d u o, já q u e afeta o ch am aiví-d o ritm o circaiví-d ian o, p rovocan d o, en tre ou tros m ales, o agravam en to d e d oen ças em geral, o au m en to d a su scep -tib ilid ad e aos riscos em geral, o estresse, o so-frim en to p síq u ico, o en velh ecim en to p recoce, as alterações orgân icas de diversas orden s, p rin -cip alm en te n os sistem as card iovascu lar e gas-troin testin al (Ferreira, 1987; Fisch er, 1990).

Um o p era d o r d e co lh ed eira revelo u q u e sen tse p rision eiro d a escala d e serviços; d e-p lorou o fato d e n ão ter m ais a ‘lib erd ad e’ q u e tin h a d e faltar qu an d o trab alh ava n o corte m a-n u al. O ea-n trevistad o ia-n form ou q u e as faltas, as férias, os descon to de h oras, en fim , toda e qu al-q u er au sên cia d o trab alh o d eve ser p rogram a-d a co m a n tecea-d ên cia m ín im a a-d e 15 a-d ia s. Ele su geriu q u e, n o corte m ecan izad o, o trab alh a-d or p era-d eu au ton om ia em relação ao cortaa-d or m an u al d e can a. Neste caso, ap esar d a su p ervi-sã o d o s feito res e fisca is, d u ra n te a jo rn a d a o trab alh ad or é relativam en te m ais livre p ara fa-zer p equ en as p au sas p ara tom ar águ a, café, co-m er ou fu co-m ar. Na u sin a A, n o corte co-m ecan izd o, a jorn aizd a ch ega a ser izd e 11 h oras trab alh a-d a s a-d e fa to, registra a-d a s p elo s h o rím etro s q u e existem n as colh ed eiras. As p au sas p ara o d es-ca n so d o s tra b a lh a d o res n ã o estã o p revista s d u ra n te a jo rn a d a d e tra b a lh o, e a s refeiçõ es sã o feita s n o s m o m en to s em q u e, p o r m o tivo d e fa lta d e ca ça m b a o u q u eb ra d a m á q u in a , a op eração p aralisa-se.

Nas u sin as estu d ad as, a form a d e con tratação d o op erad or d e colh ed eira é p red om in an -tem en te d ireta e p erm an en te, em b ora, n a u si-n a B, seis m o to rista s e q u a tro tra to rista s esti-vessem con tratad os tem p orariam en te. Fica ca-d a vez m ais evica-d en te a ten ca-d ên cia ca-d e con trata-ção d ireta e p erm an en te n a lavou ra can avieira co m a in tro d u çã o d o p ro gresso técn ico, co n -form e ap on tam Alves (1992) e Cortéz (1993).

(8)

tiliza-d a p a ra in ten sifica r o ritm o tiliza-d o tra b a lh o. No corte m ecan izad o, o ritm o d o trab alh o é in ten -sifica d o p elo u so d a m á q u in a , o q u e p er m ite rem u n era r p o r tem p o e n ã o m a is p o r p ro d u -ção. Nas u sin as p esqu isad as, en con trou -se u m sistem a d e rem u n eração m isto com u m a p arte fixa (diárias) e ou tra variável (bon ificações, p rê-m ios). Na u sin a B, a rerê-m u n eração d o op erad or é feita d e acord o com as h oras trab alh ad as e é com p osta d e u m a p arte fixa e ou tra variável. A p arte variável som a os p rêm ios d e safra, as h o-ra s exto-ra s (ca d a o p eo-ra d o r rea liza , em m éd ia , u m a e m eia h oras extras p or d ia) e u m a b on ifi-cação qu e, n a verd ad e, é u m a p orcen tagem so-b re a p rod u ção d e can a cortad a. Os m otoristas d e cam in h ão tam b ém são h oristas, m as n ão re-ceb em n en h u m tip o d e b on ificação. Esta é u m fa to r d e in cen tivo p a ra o d esen vo lvim en to in in terru p to d a p rod u ção e fu n cion a com o u m d o s m eca n ism o s d e co n tro le d o d esem p en h o d o o p era d o r. To d a via , p o r ser o tra b a lh o d o o p era d o r d e co lh ed eira d e n a tu reza co letiva , ou seja, p or ele ser m em b ro d e u m coletivo d e tra b a lh o cu ja fin a lid a d e é o corte d a ca n a -d e-açú car, o seu ren d im en to d ep en d e tam b ém d e o u tro s fa to res, ta is co m o existên cia d e ca n a m adu ra p ara cortar, con dições clim áticas e p re-sen ça d e ou tra s m á q u in a s, p rin cip a lm en te os cam in h ões tran sp ortad ores d e can a. Por exem -p lo, se n ão h ou ver caçam b as d is-p on íveis -p ara o carregam en to d a can a cortad a, a colh ed eira p erm an ece p arad a p orq u e n ão h á on d e d ep o -sita r a ca n a . Este é u m d o s p r in cip a is fa to res qu e afetam a p arte variável d o salário.

Som ad os tod os esses iten s, o salário d ireto d o o p era d o r n a u sin a B p erfa z u m m o n ta n te en tre q u a tro e cin co sa lá rio s m ín im o s, o q u e rep resen ta, ap roxim ad am en te, o d ob ro d o sa -lá rio d e u m corta d or m a n u a l. No en ta n to, u m m ecân ico en trevistad o ch am ou a aten ção p ara o fato d e qu e o salário d o op erad or é m u ito b ai-xo, p orqu e o trab alh o exige m u ita resp on sab ili-d aili-d e. Com p õem ain ili-d a o sistem a ili-d e rem u n era-çã o n esta u sin a o s b en efício s so cia is b á sico s, ta is com o con vên io com a ssistên cia m éd ica e farm ácia, p or exem p lo. Na u sin a A, os trab alh a-d o re s sã o h o r ist a s; a b o n ifica çã o e st ip u la a-d a p ela u sin a n ã o está rela cion a d a com a p rod u -ção de can a cortada, p oden do con stitu ir-se, p or exem p lo, n o p agam en to d e h oras extras a m ais d o qu e as efetivam en te trab alh ad as. Du ran te a safra, as h oras extras são rem u n erad as, m as n a en tressa fra ela s sã o a cu m u la d a s e com p en sa-d as com p eríosa-d os sa-d e folga, além sa-d as fér ias re-gu la res, q u e p o d em d u ra r a té 15 d ia s. Nesta u sin a, a rem u n eração d o corte m an u al é d e u m sa lá rio m ín im o, em m éd ia , e, n o lim ite su p e -rior, o salário d o cortad or p od e ch egar a qu atro

salários m ín im os e o d o op erad or d e m áq u in a a oito.

A m ecan ização d a colh eita con trib u iu p ara red u zir a m éd ia sa la ria l d os corta d ores d e ca -n a . O u so d a s co lh ed eira s, a lém d e co -n trib u ir p ara aum en tar a oferta de m ão-de-obra n o m er-ca d o d e tra b a lh o, co n trib u i ta m b é m p a ra d im in u ir o ren d iim en to d o co rta d o r, p o rq u e so b ra m a s ca n a s d e p io r q u a lid a d e p a ra o s h o -m en s cortare-m , já qu e a -m áqu in a n ão op era e-m terren os aciden tados ou on de a can a, p or exem -p lo, cresceu tom bada. Um levan tam en to do IEA m ostra q u e o valor m éd io real d os salários p ago s en tre 1990 e 1992 (m o m en to d e p ro lifera -ção d o u so d as colh ed eiras) foi 54,9% m en or d o qu e n a d écad a d e 80 (Nogu eira, 1992).

Um op erad or d a u sin a A afirm ou q u e o seu salário é o d ob ro d o salário d e u m b om corta-d or corta-d e can a, m as ain corta-d a é in su ficien te, p orqu e a su a resp on sab ilid ad e au m en tou con sid eravel-m en te. Ele ob serva q u e h á a p en a s u eravel-m a seeravel-m e-lh an ça en tre os d ois sistem as d e rem u n eração: o s m eca n ism o s d e d im in u içã o d e ga n h o. No corte m an u al, as p rin cip ais form as d e con trole e d im in u içã o d o s ga n h o s sa la r ia is p o d em ser ob servad as n a m ed ição e n a p esagem d a can a (Ad issi, 1990; Alves, 1992; Pa ixã o, 1994; Eid , 1994; Silva, 1995). No corte m ecan izad o, ocor-rem ‘erros’ n o côm p u to d as h oras trab alh ad as e n o p a ga m en to d a s h o ra s extra s, q u e ra ra m en te é feito d e acord o com o qu e está estip u -la d o n a lei. Na u sin a A, o s o p era d o res fa zem tu rn o s d e 12 h o ra s m a s receb em a p en a s 11, p ois é d escon tad a u m a h ora p ara fazer a refei-ção qu e eles efetivam en te n ão fazem . Além d is-so, os op erad ores n ão receb em a h ora in etn eri, q u er d izer, viajam até u m a h ora e trin ta m in u -tos p a ra ch ega r a o loca l d e tra b a lh o e n ã o sã o rem u n erad os p or isso. En tão, n a verd ad e, a jor-n a d a efetiva d os op era d ores d esta u sijor-n a p od e ch egar a ser d e até 15 h oras d iárias.

(9)

-tro lad o, h á tam b ém os qu e afirm aram qu e fal-ta m ão-d e-ob ra n o corte m an u al p orqu e: “Hoje em d ia n in gu ém qu er cortar can a. Mu itos vão trabalh ar n as cidades com o vigilan tes, dom ésti-cos. Sem pre evitam cortar can a porqu e o salário é m u ito baixo e o serviço é pesado”.

Na u sin a B, os trab alh ad ores ru rais qu e m a-n ifestam ia-n teresse em op erar m áqu ia-n as agrícolas são su b m etid os, p rim eiram en te, a u m con -ju n to d e testes p sicológicos, qu e p rocu ram m e-d ir a p tie-d ões e h a b ilie-d a e-d es p sicom otora s, cog-n itiva s e d e p erso cog-n a lid a d e; secog-n d o a p rova d o s, p assam p ara a fase d e trein am en to. Nesta u si-n a, asi-n teriorm esi-n te o treisi-n am esi-n to era oferecid o p elo s in stru to res d o fa b rica n te d e m á q u in a s, m a s, a tu a lm en te, a p ró p ria u sin a p o ssu i u m a o ficin a -esco la p a ra ca p a cita r o s in teressa d o s em fazer carreira n o setor d e m ecan ização.

Segu n d o u m técn ico agrícola, o trein am en to é feito em d u a s eta p a s. A p rim eira con tem -p la ativid ad es teóricas com au las qu e ab ord am p rin cíp ios gerais d e m ecân ica. Ten d o d ian te d e si o con ju n to d as p eças q u e com p õem os d iferen tes tip os d e m áqu in as, os trein an d os ap iferen -d em sob re o fu n cion a m en to -d os m otores e a s fo rm a s d e u so m a is a d eq u a d a s p a ra evita r o seu d esga ste d esn ecessá rio. A segu n d a eta p a co n siste em u m a p ren d iza d o d e ca rá ter m a is p rá tico. É rea liza d a n o ca m p o e os trein a n d os têm a o p o rtu n id a d e d e o p era r a s m á q u in a s com o acom p an h am en to d e u m in stru tor. Um a vez trein ad os, os virtu ais op erad ores agu ard am o su rgim en to d e va ga s n os p ostos d e tra b a lh o d o setor d e m ecan ização. Dep ois d e trein ad o e, h aven d o vagas, o trab alh ad or in icia op eran d o m áq u in as d e p eq u en o p orte até q u e d esen volva h abilidade su ficien te p ara op erar as de gran -d e p orte, tais com o as colh e-d eiras.

Assim , é p ossível fazer carreira n o setor d e m áqu in as agrícolas, p ois h á u m a h ierarqu ia d e cargos, em cu jo topen con tram -se os op erad o-res d e co lh ed eira s, d e esteira s e d e m á q u in a s com p n eu s d e gran d e p orte. Um op erad or en -trevistad o con firm ou , relatan d o o seu p róp rio caso, a existên cia d a p ossib ilid ad e d e ascen d er d o corte m an u al p ara o m ecan izad o, d esd e qu e o co rta d o r d em o n stre in teresse e vo n ta d e d e a p ren d er. Este en trevista d o co rta ca n a d esd e os 16 an os e p assou p or várias em p resas can avieira s. Na u sin a B, ele m a n ejo u o p o d ã o d u -ran te q u atro an os, e h á d ois an os op era as co-lh ed eiras.

O corte m an u al é u m serviço m u ito bru to. Qu em está lá sem pre dá u m jeitin h o de sair. Foi qu e n em eu fiz. Eu estava trabalh an do lá, saí de aju d an te. Con segu i m e livrar.(...)é u m a ch an -ce. É u m con h ecim en to qu e a gen te tem com u m en carregad o, talvez u m teste qu e faz. As u sin as

agora, tod as elas faz em , têm escolin h a p ara qu em qu iser. En tão vai lá, faz u m teste com a p sicóloga e, se p assar n o teste, aí en tão, assim qu e estiver p recisan d o, eles vão lá ch am ar. N o tem p o qu e eu en trei era con h ecim en to, agora tem a escolin h a.” (Op erad or)

No en tan to, este m esm o op erad or con fessa q u e receb eu ap en as u m trein am en to in form al e estrita m en te p rá tico p a ra tra b a lh a r co m a s colh ed eiras. Ele relatou com o foi o trein am en -to, sen tin d o -se o rgu lh o so p o r ter a p ren d id o p raticam en te p or si só: “N ão, o m áxim o qu e de-ram foi u m a ex p licação. Ficou u m op erad or aqu i ju n to com igo u n s três ou qu atro d ias, en -tão a gen te vai apren den do.(...)“É, foi pratican -d o e ap ren -d en -d o.Ap esa r d e u m técn ico a grí-co la a firm a r q u e h á u m trein a m en to fo rm a l oferecid o p ela coop erativa, os op erad ores afir-m a ra afir-m q u e o in icia n te a p ren d e co afir-m o s afir-m a is a n tigos. Na u sin a A, u m op era d or a va liou q u e os con teú d os m in istra d os n os trein a m en tos e q u e d izia m resp eito a n o çõ es gera is d e m eca-n ização h id ráu lica foram tratad os d e m aeca-n eira in su ficien te, gen érica e su p erficial, d eixan d o a d esejar, u m a vez qu e n ão h ou ve d em on stração p rática d os p rin cíp ios e m ecan ism os d a colh e d eira . A ch a m a d a p a r te p rá tica d o cu rso co n -siste n o trein a m en to d a a tivid a d e d e o p era r a colh ed eira n o can avial.

A p ro p ó sito, o s o p era d o res d e co lh ed eira s en trevista d os revela ra m , u n a n im em en te, q u e go sta m e o rgu lh a m -se d o q u e fa zem . Co m o a gran d e m aioria é p roven ien te d o corte m an u al, qu e é u m trab alh o m ais árd u o d o p on to d e vis-ta d o esfo rço físico, d e rem u n era çã o m en o r e q u e ain d a tem u m b aixíssim o valor social, eles co n sid era m q u e a scen d er p a ra a co n d içã o d e op erador de m áqu in as p esadas é u m p asso b as-ta n te sign ifica tivo n a ca rreira . A m eca n iza çã o d a colh eita está sen d o en ten d id a p elos corta -d o res m a n u a is co m o u m a o p o r tu n i-d a -d e -d e sair d a con d ição d e b óia-fria, u m a d esign ação gen érica e carregad a d e sign ificad o social p ejo-rativo (p ob re, m iserável, an alfab eto e sem qu a-lificação, d oen te, m igran te q u e n ão tem p ara-d eiro certo p orqu e o seu trab alh o é tem p orário etc.). Mas h á casos em qu e os trab alh ad ores re-to rn a m p a ra o co rte m a n u a l p o rq u e n ã o se a d a p ta m à o rga n iza çã o d o tra b a lh o n o co rte m ecan izad o.

Do p on to d e vista d o esforço qu e o trab alh o n o co rte m eca n iza d o exige e d o d esga ste q u e p rovoca, u m d os en trevistad os afirm ou :

(10)

despreo-cu p ad a, n ão corre n en h u m tip o d e risco. Se ele falar eu n ão vou trabalh ar am an h ã ele n ão vai, se ele falar qu e n ão vai tam bém depois de am a-n h ã ele a-n ão vai, a-n ão tem qu e dar satisfação pa-ra n in gu ém . Agopa-ra, n ós n ão.(...) Serviços d eles são bru tos, m as o n osso tam bém é bru to. Nu n ca ou vi falar qu e m orreu u m cortador de can a cor-tan d o can a. N o serviço n osso já ou vi falar d e m u itos acid en tes, gen te qu e socorreu gen te qu e perdeu o braço, gen te qu e está paralítico até h oje. Eu ach o qu e n ão tem diferen ça n en h u m a en -tre os dois. Talvez a pessoa qu e trabalh a n o cor-te de can a, eles ach am qu e o n osso é m u ito dife-ren te do deles. Mas, aí ele passa a trabalh ar e vai ver qu e n ão tem diferen ça n en h u m a.

A fa la a n terio r revela ta m b ém u m a cer ta fru stração d a exp ectativa d e qu e o trab alh o se-ria m ais leve n o corte m ecan izad o. O en trevis-tado con sidera qu e, n o corte m ecan izado, o tra-b alh o é tão p en oso qu an to n o corte m an u al. O fato d e u m trab alh o ser ou n ão p en oso está d i-retam en te relacion ad o ao grau d e con trole qu e o trab alh ad or tem sob re o p rocesso. Com o afir-m a Sa to (1993), o tra b a lh o é p en o so q u a n d o : “...o trabalh ad or n ão tem con h ecim en to, p od er e in stru m en tos p ara con trolar os con tex tos d e trabalh o qu e su scitam vivên cias de descon forto e d esp razer, d ad as as características, n ecessid a-d es e lim ite su bjetivo a-d e caa-d a trabalh aa-d or. Ou seja, o trabalh o é p en oso qu an do o trabalh ador n ão é o su jeito da situ ação...” (Sato, 1993).

Ain d a n a fala tran scrita an teriorm en te, d es-taca-se u m trech o q u e, m ais u m a vez, su gere a d iferen ça fu n d am en tal en tre o corte m an u al e o m ecan izad o: n o p rim eiro, ap esar d a existên cia d e n orm as e d a su p ervisão, o h om em con -trola o p rocesso d eterm in an d o o ritm o d e trab a lh o ; n o segu n d o, é a m á q u in a – sa trab er a cu -m u lad o d o h o-m e-m – qu e-m co-m an d a o p roces-so im p on d o-lh e o seu ritm o.

A ativid ad e d o corte é sem p re realizad a em d u p la: o op erad or d e m áqu in a e o m otorista d o cam in h ão ou trator q u e tracion a o tran sb ord o qu e receb e a can a colh id a. Neste asp ecto, a ati-vid a d e n o co rte m ecâ n ico é m u ito d iferen te d aq u ela n o corte m an u al, q u e é u m a ativid ad e in d ivid u a l. No co rte m a n u a l, em b o ra exista m as regras sob re com o d eve ser feito o trab alh o e a su p ervisão d os feitores e fiscais, n a verd ad e, é o h o m em q u e im p õ e o r itm o n a a tivid a d e, p od en d o d ecid ir sob re a rea liza çã o d e p a u sa s p ara tom ar u m café e fu m ar, ou com er u m a rfeição, acelerar ou retrair o p asso, levar u m d eterm in a d o n ú m ero d e ru a s d o ta lh ã o etc. En -fim , a tarefa está sob o d om ín io d o cortad or, o qu e sem p re p erm ite u m lastro d e tem p o m aior p a ra o d esen vo lvim en to d e a tivid a d es livres. No corte m ecan izad o, o op erad or d a colh ed

ei-ra e o m otorista d o cam in h ão ou tei-rator d irigem os veícu los m oven d o-os p aralelam en te p ara a fren te, até atin girem o fin al d as ru as. En qu an to se m ovem , d evem m an ter u m esp aço d e, ap ro-xim ad am en te, três m etros en tre o cam in h ão e a colh ed eira e, sob retu d o, d evem sin cron izar a velocid ad e d os veícu los d e tal form a q u e a ca-n a co lh id a ca-n ã o seja d esp eja d a p a ra fo ra d o tran sb ord o. Ao ch egarem ao fin al d a ru a d o ta-lh ã o, a m b o s m a n o b ra m p a ra reto rn a r p elo m esm o ca m in h o. Este é o u tro m o m en to q u e ta m b ém exige a ten çã o e sin cro n ia , p o is q u a l-qu er m ovim en to im p revisto feito p or l-qu all-qu er u m a d a s p a rtes p o d e p rovo ca r u m a co lisã o e/ ou tom b am en to. Am b os com u n icam -se p or m eio d e sin ais feitos com as m ãos e d o u so d a b u zin a. Segu n d o u m op erad or, evitar acid en tes d ep en d e ta m b ém d o m o to rista d o ca m in h ã o, qu e n ão p od e d istrair-se ou coch ilar.

(11)

d o s m ecâ n ico s q u e a co m p a n h a m u m a fren te d e trab alh o m ecan izad a.

Sab e-se qu e u m a certa rotação n os cargos e a d iversificação n as ativid ad es é p ositiva p ara o trab alh ad or, p orq u e p ossib ilita com b ater a re-p etitivid ad e, a m on oton ia n a realização d as ta-refas etc., aju d an d o n o d esen volvim en to d o racio cín io e m o tiva n d o p a ra o tra b a lh o. No en -ta n to, a s m ú ltip la s exigên cia s d a co n d içã o d e trab alh ad or p olivalen te associad as ao ritm o in ten so e q u a se in in terru p to d e tra b a lh o n a la -vo u ra ca n a vieira m eca n iza d a p o d em leva r o trab alh ad or ao estresse. Talvez a m aior exigên cia req u erid a n o co rte m eca n iza d o seja a ten -çã o e co n cen tra -çã o p a ra q u e a sin cro n ia d o s m ovim en tos e velocid ad es seja q u ase exata. O op era d or e o m otorista d o ca m in h ã o q u e ca rrega a can a cortad a d evem estar sem p re aten -to s a o s m ovim en -to s d a s m á q u in a s, m a s ca b e ao op erad or d a colh ed eira p erceb er a velocid a-d e a-d o cam in h ão e aa-d equ ar-se a ela: “...eu estou ven d o qu al m áqu in a qu e an d a m ais, qu al qu e an d a m en os. En tão, ele p rocu ra con trolar sem -pre o ritm o e a gen te vai n o ritm o dele”.

Já está d em o n stra d o q u e a a ltern â n cia d e tu rn os e o trab alh o n otu rn o afetam as fu n ções cogn itiva s em gera l, p rin cip a lm en te a m em ó -ria, a aten ção e a con cen tração, e qu e isto p od e sign ifica r u m a d im in u içã o d a segu ra n ça n o tra b a lh o (Fisch er, 1990; Ma u r y & Qu ein n ec, 1993; Meijm a n et a l., 1993). No co rte m eca n i-za d o d a ca n a , u m p eq u en o d esvio d a a ten çã o p od e trad u zir-se em acid en tes, com o colisão e tom b am en tos d e veícu los p esad os, com graves co n seq ü ên cia s p a ra o s o p era d o res e m o to ristas. Este tip o d e risco é avaliad o d e form a con -traditória p or u m dos op eradores, p ois, ao m es-m o tees-m p o, ele n ega e ap on ta o p erigo q u e está p resen te: “N ão, n ão tem p erigo. A gen te traba-lh a ju n to já, en tão eu sei a h ora qu e ele p assa, ele sabe a h ora qu e eu vou passar. Mas, sem pre é bom ter cu idado”.

Em su m a, a m ecan ização d o corte d a can a rep resen ta u m im p ortan te p asso n a d ireção d a su b o rd in a çã o rea l d a a gricu ltu ra à in d ú stria su croalcooleira, in clu sive p od en d o a p rim eira ad otar o ritm o in ten so e qu ase in in terru p to d e fu n cio n a m en to d a segu n d a , o u seja , 24 h o ra s p o r d ia d u ra n te a sa fra . Pa ra o s ca p ita lista s, a in ten sificação d o ritm o d e trab alh o n a lavou ra can avieira sign ifica au m en to d a p rod u tivid ad e d o trab alh o com m elh oria d a qu alid ad e d a m a-téria-p rim a, d im in u ição d e cu stos d e p rod u ção e m aior agilid ad e n a am ortização d o cap ital in -vestid o em in ova çõ es tecn o ló gica s. Já p a ra o s trab alh ad ores ru rais, a in ten sificação d o ritm o d e tra b a lh o p o d e sign ifica r a d eter io ra çã o d a saú d e e d a segu ran ça n o trab alh o. Na seq ü ên

-cia, an alisa-se com o o con ju n to d as cargas la-b o ra is in eren tes a o p ro cesso d e tra la-b a lh o n o corte m ecan izad o p od e p reju d icar a saú d e d os trab alh ad ores.

As cargas laborais do processo de t rabalho do cort e mecanizado e o desgast e dos operadores de colhedeiras

A an álise d o p rocesso d e trab alh o d o corte m e-can izad o d a e-can a-d e-açú car d em on stra qu e os op erad ores d e colh ed eiras estão su b m etid os a u m con ju n to d e cargas lab orais qu e p od em ser classificadas con form e Laurell & Noriega (1989): • ca rga s física s: a ra d ia çã o so la r, a s m u d a n -ças b ru scas d e tem p eratu ra, u m id ad e p rovoca-d a p ela ch u va ou seren o; ru írovoca-d o e vib rações p ro-vocad as p elo m ovim en to d as m áqu in as, ilu m i-n ação d eficiei-n te i-n o tu ri-n o i-n otu ri-n o;

• cargas qu ím icas: p oeira d a terra, fu ligem d a can a qu eim ad a, n eb lin as e n évoas d ecorren tes das m u dan ças de tem p eratu ra, resídu os de p ro-d u tos q u ím icos u tilizaro-d os n os tratos cu ltu rais d a can a;

• cargas b iológicas: p icad as d e an im ais p eço n h en tos e con tam in ação b acteriológica p or in -gestão d e águ a e alim en tos d eteriorad os; • cargas m ecân icas: aciden tes de trajeto e aci-d en tes em geral p rovocaaci-d os p elo m an u seio aci-d e m áqu in as d e p equ en o e d e gran d e p orte, p elos d iversos tip os d e eq u ip am en tos, im p lem en tos e ferram en tas, risco d e in cên d io e d e exp losão; • cargas fisiológicas: p ostu ras in corretas, m o-vim en tos rep etitivos, trab alh o n otu rn o e alter-n âalter-n cia d e tu ralter-n os;

• ca rga s p síq u ica s: a ten çã o e co n cen tra çã o con stan tes, su p ervisão com p ressão, con sciên -cia d a p ericu losid ad e e au sên -cia d e con trole d o tra b a lh o, ritm o s in te n sifica d o s, a u sê n cia d e p au sas regu lares, su b ord in ação aos m ovim en -tos d as m áq u in as, m on oton ia e rep etitivid ad e, resp on sabilidade, ausên cia de trein am en to ad e-qu ad o, am eaça d e d esem p rego e d e red u ção n o valor real d o salário, en tre ou tras.

(12)

a-ran h ad a, o op erad or p od e con fu n d ir as ru as e sair d a reta, p orq u e a visib ilid ad e é m u ito m e-n o r. Em b o ra a s m á q u ie-n a s p o ssu a m sistem a s esp ecia is d e ilu m in a çã o d ia n teiro e tra seiro, o b ser va -se q u e o risco d e o co rrên cia d e a ci-d en tes, com o, p or exem p lo, colisão ci-d e veícu los e p icad a d e an im ais p eçon h en tos, é red ob rad o n a jo rn a d a n o tu rn a . O ca m p o d e visib ilid a d e fica lim itad o e n u b lad o p orq u e, além d e a ilu m in ação ser in su ficien te, a safra ocorre n o in -vern o, estação em q u e a m ad ru gad a é cob erta d e n eb lin as e n évoas. Ad em ais, a m on oton ia e a rep etitivid ad e d os m ovim en tos p od em fazer d orm ir n o volan te os op erad ores e m otoristas. As m ed id as d e p roteção con tra essas cargas sã o p recá ria s e in su ficien tes. A co n cep çã o d e p ro te çã o à sa ú d e q u e p re va le ce é a q u e la q u e está cen trad a n a aten ção in d ivid u al e cu rativa. Prim eiram en te, ad m itse p ara o trab alh o ap e-n as aq u eles q u e p ossu em coe-n d ições satisfató-rias d e saú d e e n ão correm o risco d e ter o seu esta d o a gra va d o p elo tra b a lh o. Qu a n d o o tra b alh ad or ad oece, as p ráticas são, p red om in an -tem en te, cu rativas e d irecion ad as m ais p ara a recu p era çã o d o in d ivíd u o en q u a n to fo rça d e trab alh o d o q u e p ara a p roteção d e su a saú d e. O u so d e equ ip am en tos d e p roteção in d ivid u al (EPIs) é con sid erad o a form a m ais eficien te d e con trole e m on itoram en to d os riscos am b ien -tais e, p raticam en te, a ú n ica m an eira d e p roteger o tra b a lh a d o r co n tra o s a cid en tes e d o en -ças d o trab alh o.

Os tra b a lh a d o res en trevista d o s revela ra m ter feito exa m e m éd ico a p en a s n a o ca siã o d a ad m issão. Nen h u m d eles se referiu à realização d e exa m es p eriód icos, a p esa r d a exp osiçã o à s cargas an teriorm en te m en cion ad as, p rin cip alm en te ao ru íd o, p oeiras, vib rações, alm ovialm en to s rep etitivo s, tra b a lh o em tu rn o s, en tre o u -tra s. Os e q u ip a m e n to s d e p ro te çã o co le tiva , com o, p or exem p lo, os extin tores con tra in cên -d io, n em sem p re são en con tra-d os n os veícu los e, q u an d o existen tes, n em sem p re o con d u tor sab e se fu n cion am e com o u tilizá-los em caso d e a cid en te. E n em m esm o o s EPIs m a is ele -m en ta res, co -m o fo n e d e o u vid o e -m á sca ra s, e vestim en ta s b á sica s, com o b on é e b otin a , sã o freq ü en tem en te u tiliza d o s p elo s tra b a lh a d o -res. Geralm en te, as lu vas são u tilizad as ap en as q u an d o h á n ecessid ad e d e con sertar a m áq u i-n a . As co lh ed eira s m a is m o d eri-n a s p o ssu em cin to d e segu ra n ça q u e d ificilm en te sã o u tili-zad os p elos trab alh ad ores. Qu an d o in terroga-d o sob re o p orq u e terroga-d e n ão u sar o fon e terroga-d e ou vi-d o, u m op eravi-d or resp on vi-d eu : “Já acostu m ei sem ele. É bem d ifícil, eu n ão u so”. A su a resp o sta su gere q u e o eq u ip a m en to é in cô m o d o e in a -d equ a-d o p ara o u so p or tem p o p rolon ga-d o. E o

m esm o tra b a lh a d o r, a o resp o n d er so b re q u e o u tro s tip o s d e eq u ip a m en to s d everia u sa r, m ostrou tam b ém q u e d escon h ece as regras d e segu ra n ça e p ro teçã o rela tiva s a o seu tra b a -lh o:“...eu ach o qu e só o fon e.

Verifica-se qu e, n o p rocesso d e trab alh o d o co rte d a ca n a -d e-a çú ca r m eca n iza d o, o co rre u m a certa d im in u ição d as cargas d o tip o físico (ra d ia çã o so la r, m u d a n ça b ru sca d e tem p era -tu ra, calor, frio) e qu ím ico (p oeira, fu ligem ) em rela çã o a o co rte m a n u a l, em virtu d e d e u m a certa p roteção oferecid a p ela cab in a d a m áqu i-n a (p rii-n cip alm ei-n te q u ai-n d o ela p ossu i sistem a d e ven tilação e refrigeração). No en tan to, se a m áqu in a n ão d isp õe d e cab in a, a p oeira con ti-n u a seti-n d o u m sério elem eti-n to d e risco. Coti-n for-m e o d ep o ifor-m en to d e u for-m tra to rista : “...as víti-m as víti-m aiores d a p oeira sovíti-m os n ós...”, p o rq u e p ersistem a tosse, a d or n a cab eça e n a gargan -ta e u m resfria d o crô n ico co n s-ta n tem en te a gra va d os p ela in a la çã o d e p oeira s e fu ligen s. Tod a via , su rgem tam b ém n ovos elem en tos d e risco, com o o ru íd o e as vib rações p rovocad as p elo m ovim en to d as m áq u in as. Os op erad ores d e m á q u in a s q u eixa m -se co m freq ü ên cia d e d ores lom b ares, em razão d a p osição p red om i-n ai-n tem n te sn tad a em q u e trab alh am ; q u ei-xa m -se ta m b ém d e d o res d e ca b eça e “z oeira n o ou vido”, p or cau sa d o ru íd o e d a trep id ação.

(13)

essa é u m a coisa até en graçada. A gen te alm oça n a h ora qu e vai abastecer a m áqu in a... talvez n a h ora em qu e qu ebra u m a coisa, u m a h ora qu e dá u m in tervalo porqu e n ão tem cam in h ão. É a h ora qu e a gen te alm oça e às vezes está aca-ban d o d e alm oçar e já ch ega cam in h ão, já gu arda a com ida ali, tom a u m café ali e volta a trabalh ar de n ovo”.

No te-se q u e o s o p era d o res d e m á q u in a s agrícolas con tin u am sen d o b óiasfrias, n o sen -tid o m ais p op u lar q u e tem o term o, q u e é o d e d esign a r a q u ele tra b a lh a d o r q u e tra n sp o rta a su a p róp ria com id a (geralm en te o alm oço) em ca ld eirõ es o u m a rm ita s p a ra o lo ca l d e tra b a -lh o, on d e faz as refeições. Por terem qu e levar a ‘b óia’, estão tam b ém exp ostos ao risco d e u m a con tam in ação p or agen tes b iológicos q u e p o -d em p roliferar em razão -d o calor.

Os en trevistad os são u n ân im es em ad m itir a im p ossib ilid ad e d e con ciliação d o son o, p rin -cip a lm en te q u a n d o q u a lq u er in terco rrên cia d om éstica atrap alh a o h orário ou im p ed e o si-lên cio n ecessá rio p a ra a su a tra n q ü ilid a d e. O con vívio social e as ativid ad es d e lazer em ge-ra l fica m to ta lm en te p reju d ica d o s n a sa fge-ra . Qu an d o a jorn ad a é d iu rn a, o can saço im p ed e a diversão, além de o tem p o livre ser m u ito cu rto ; q u a n d o a jo rn a d a é n o tu rn a , a lém d o ca n -sa ço, fa lta co m p a n h ia , p o rq u e o tra b a lh a d o r d esca n sa en q u a n to o s o u tro s tra b a lh a m , sem con tar qu e ele se sen te p rision eiro d o com p ro-m isso d e ter q u e se ap resen tar n o local d e tra-b a lh o n o fin a l d a ta rd e. “Estad o d e n ervo, é o qu e m ais d á. Nossa! Talvez tem d ia qu e a gen te n ão p od e n em ... o m olequ e d a gen te vem brin -car com a gen te e a gen te n ão tem n em d isp osi-ção e já fica até bravo. É, u m do m aiores proble-m as da gen te é o estado de n ervo.

Qu a n to à s ca rga s m ecâ n ica s, Alessi & Sco-p in h o (1994) verificaram qu e, n o corte m an u al d a ca n a , p red o m in a m a cid en tes leves, co m tem p o d e a fa sta m en to m en o r d o q u e 15 d ia s, q u e n ã o req u erera m in tern a çã o e n ã o d eixa -ra m seq ü ela s. Qu a n to a o s ferim en to s, 80,50% a tin gira m p rin cip a lm en te o s m em b ro s su p e -rio res e in fe-rio res e fo ra m p rovo ca d o s p elo s in stru m en tos d e trab alh o. No corte m ecan izad o, p a rece q u e a in tro izad u çã o izad a m á q u in a p ro -voca u m a d im in u ição n o n ú m ero d e acid en tes e u m au m en to n a su a gravid ad e.

Para verificar essa h ip ótese, p rocu rou -se le-van tar o n ú m ero d e acid en tes e d oen ças registra d o s em Co m u n ica çã o d e Acid en tes d o Tra -b alh o (CAT), referen tes aos op erad ores d e m áq u in a s a gríco la s e co rta d o res d e ca n a . No en -ta n to, n o In stitu to Na cio n a l d o Segu ro So cia l (INSS) o sistem a d e in form ação em acid en tes e d oen ças, q u e d everia ser con stru íd o com b ase

n os d ad os registrad os n as CATs, é p raticam en -te in exis-ten -te. A -ten tativa d e in form atização foi feita, m as, segu n d o os p rofission ais en trevista-d o s, o s recu rso s m a teria is e h u m a n o s sã o es-ca sso s, a lém d e p a recer n ã o h a ver in teresse in stitu cio n a l em co n stru ir u m sistem a d e in fo rm a çõ es á gil e eficien te em sa ú d e d o tra b a -lh a d o r. Na regiã o d e Rib eirã o Preto, a sa ú d e p ú b lica é o setor estatal q u e tem tom ad o algu -m as in iciativas e-m ter-m os d e in for-m atização/ sistem atização d os d ad os registrad os n as CATs. A Divisão Region al d e Saú d e (DIR-18) in form a-tizou , em caráter exp erim en tal, os d ad os refe-ren tes a os a cid en tes d e tra b a lh o ocorrid os n o an o d e 1995 n os 24 m u n icíp ios p erten cen tes à su a region al. Porém , a form a d e sistem atização d o s d a d o s n ã o p erm ite a n a lisa r o registro d a ocorrên cia d e a cid en tes em term os d a fu n çã o exercid a p elo tra b a lh a d o r. Só é p o ssível o b ter este tip o d e d ad o p or m eio d o p rocessam en to m a n u a l d o s 4.429 d o cu m en to s em itid o s, p o r exem p lo, so m en te d u ra n te o a n o d e 1995, o q u e n ão foi p ossível realizar n o con texto d esta in vestiga çã o, p o r ca u sa d o s lim ites d e tem p o. O levan tam en to d esses d ad os p od erá ser ob je-to d e u m n ovo p ro jeje-to d e p esq u isa , u m a vez q u e o s d a d o s q u a n tita tivo s sã o im p o rta n tes p ara valid ar os d ad os q u alitativos ob tid os d os relatos e d as ob servações feitas.

(14)

grip e, u m a d or d e cabeça, u m a d or n as costas e n o estôm ago”.

Fin alm en te, é válid o d estacar q u e os resu l-tad os d esta in vestigação con firm am as h ip óteses levan tad as p or Scop in h o (1995), ap on tan -d o qu e a m ecan ização tem trazi-d o im p ortan tes m u d a n ça s n a s rela çõ es e co n d içõ es d e tra b a lh o n a lavou ra can avieira. Porém , tais m u d an ças n ão têm lograd o m elh orar su b stan cialm en -te as con d ições d e vid a e d e trab alh o d os assa-lariad os ru rais can avieiros.

Referências

ADISSI, P. J., 1990. A Med ição d o Trabalh o n a Lavou -ra Can aviei-ra. Rio d e Jan eiro: COPPE/ UFRJ. (m i-m eo.)

ALESSI, N. P. & SCOPINH O, R. A., 1994. A sa ú d e d o trab alh ad or d o corte d a can a-d e-açú car. In : Saú -d e e Trabalh o n o Sistem a Ú n ico -d e Saú -d e(N. P. Alessi, A. Palocci Filh o, S. A. Pin h eiro, R. A. Scop i-n h o & G. B. d a Silva, org.), p p. 121-151, São Pau lo: Ed . Hu citec.

ALVES, F. J. C., 1992. Progresso técn ico n a agricu ltu ra: m u d an ça n a organ ização e n o p rocesso d e trab a-lh o – o caso d a can a-d e-açú car. In : Ou tras Falas... em Processo d e Trabalh o (Esco la Sin d ica l 7 d e Ou tu b ro, org.), p p. 117-145, Belo Horizon te: Ed . Escola Sin d ical 7 d e Ou tu b ro.

CORTEZ, K. V. D., 1993. In ovações Tecn ológicas e Mu dan ças n a Organ ização do Trabalh o: O Su rgim en -to d e u m Novo Tip o d e Trabalh ad or n a Cu ltu ra Can avieira n a Região d e Ribeirão Preto. Disse r-tação d e Mestrad o, São Carlos: Dep artam en to d e En ge n h a ria d e Pro d u çã o, Un ive rsid a d e Fe d e ra l d e São Carlos.

EID, F., 1994.Econ om ie d e Ren te et Agro-In d u strie d u Su cre et d e l’Alcool au Brésil. Th ese d e Do cto ra t, Am ien s: Un iversité d e Picard ie Ju les Vern e.

FERREIRA, L. L., 1987. Tra b a lh o e m tu rn o s: te m a s p ara d iscu ssão. Revista Brasileira d e Saú d e Ocu -pacion al, 58:27-32.

FISCHER, F. M., 1990. Con d ições d e Trabalh o e d e Vi-da em Trabalh adores do Setor Petroqu ím ico. Tese d e LivreDocên cia, São Pau lo: Facu ld ad e d e Saú -d e Pú b lica, Un iversi-d a-d e -d e São Pau lo.

FOLH A DE SÃO PAU LO, 1993. Pre sid e n te d a So p ra l con firm a son egação: Lu ís An tôn io Rib eiro Pin to d iz q u e h á u sin as d a região q u e fazem op erações irregu lares com o açú car. Folh a de São Pau lo, São Pau lo, 29 ago. 1993, 11-6.

FOLH A DE SÃO PAULO, 1995. Pro m o to res a p resen -ta m sete a çõ es co n tra q u eim a d a ca n a : p ro p rie-tários desm atam o equivalen te a 17 estádios igu ais a o Bo ta fo go.Folh a d e São Pau lo, Sã o Pa u lo, 02 set. 1995, 7-2.

FRANCO, A. R., 1992. Asp ectos M éd icos e Ep id em io-lógicos d a Qu eim ad a d e Can aviais n a Região d e Ribeirã o Pret o.Rib e irã o Pre t o : Ce n t ro d e Est u -d o s Re gio n a is, Un ive rsd a -d e -d e Sã o Pa u lo. (m i-m eo.)

GPA (Gu ia d e Pro d u to res d e Açú ca r e Álco o l), 1996. Safra 95/96. Região Cen tro-Su l. Fran ca: EPK – Ed i-tora, Marketin g e Even tos Ltd a.

Agradeciment os

Referências

Documentos relacionados

In th is sen se, th e article exam in es th e in tersection of a series of elem en ts in th e above-m en tion ed cou n tries in ord er to exp lore h ow th ese diagn ostic tools

An dré an d Ricardo’s article focu ses p rim arily on clash es between Cobbe an d Ch arles Darwin over th e u se of an im als in scien tific exp erim en ts... Benchim

Th e scope of th is paper is to explore som e discourses on th e body, th e h um an m otor, an d en ergy (fatigue an d work) produced by Mosso, Tissié an d Lagran ge (in th e

Th e existin g in equ ality in each of th e geop olitical es- tablish ed areas w as clearly id en tified... On th e ep istem ology of risk: lan - gu age, logic an d social

Is th ere d iscrim in ation again st p eop le with HIV/ AIDS wh en th ey seek d en tal care?. X In tern a- tion al Con feren ce on AIDS ,

Th e im p ortan ce of gen etic in flu - en ces of growth in early ch ilh ood with p ar ticu lar referen ce to ch ild ren of Asiatic origin.. Ne w Yo rk: Vevey Raven

Based on th e cataly tic results and ch aracterization of th e solids, w e arg ue th at cataly st ef iciency is m ore related to F ePor disp ersion on th e sup p ort th an to th

Diet of th e Marsu p ial Micoureus dem erarae in Sm all Fragm en ts of Atlan tic Forest in Sou th eastern

£Θ¢Δ∆ 49 : °ΑîνöωµáαìλÝίåε÷ς áαîνôτáαîνáαëκìλáαóσôτéιëκïοàύ ▪ ÍΆµåεóσèη áαäδéιáαæφïοòρÝίáα ôτöωîν ëκïοòρñώîν óσôτïο æφöωôτéιóσµÞό ôτèη÷ς µéιáα÷ς, óσèηµáαÝίîνåεéι Þόôτéι ïο

Підходи до трактування поняття “основні засоби” згідно правового регулювання № з/п Нормативний документ Визначення 1 2 3 1 Положення стандарт бухгалтерського обліку 7