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Tecnologia e sociedade : relações de casualidade entre concepções e atitudes de graduandos do Estado de São Paulo

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

TESE DE DOUTORADO

TECNOLOGIA E SOCIEDADE:

RELAÇÕES DE CAUSALIDADE ENTRE CONCEPÇÕES E

ATITUDES DE GRADUANDOS DO ESTADO DE SÃO PAULO

Autor: Estéfano Vizconde Veraszto

Orientador: Prof. Dr. Dirceu da Silva

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

TESE DE DOUTORADO

TECNOLOGIA E SOCIEDADE:

RELAÇÕES DE CAUSALIDADE ENTRE CONCEPÇÕES E

ATITUDES DE GRADUANDOS DO ESTADO DE SÃO PAULO

Autor: Estéfano Vizconde Veraszto Orientador: Prof. Dr. Dirceu da Silva

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AGRADECIMENTOS

Todo o trabalho de elaboração desta tese não teria sido possível se não fosse pela existência, apoio e participação direta ou indireta de muitas pessoas. Talvez a memória possa me trair e alguns nomes não estarem presentes. Contudo, não posso deixar de apontar meus sinceros mais agradecimentos:

Ao Prof. Dr. Dirceu da Silva. Mais que um orientador, um grande amigo. Dono de um caráter ímpar e de uma lucidez inigualável. Se não fosse por você meu amigo, essa pesquisa não existiria.

Aos professores da banca de qualificação e de defesa, que contribuíram para o crescimento e o aperfeiçoamento da redação final deste trabalho. Todas as colocações foram muito pertinentes e contribuíram para a melhoria do texto. Obrigado ao Prof. Dr. Mauro Neves, Prof. Dr. Sérgio Ferreira do Amaral, Profa. Dra. Elisabete Barolli, Prof. Dr. Tel Amiel, Prof. Dr. David Bianchini, Prof. Dr. Jomar Barros Filho.

Ao Prof. Dr. Sérgio Ferreira do Amaral, por me proporcionar a experiência de vivenciar um ano de estudos em terras mediterrâneas. A confiança depositada no meu trabalho em Madrid não será esquecida jamais.

Ao meu pai, exemplo de vida, exemplo de homem. Esteve sempre do lado, apoiando, incentivando, compreendendo. Obrigado é uma palavra que deixa a desejar por não conseguir representar tudo aquilo que realmente sinto. Serei eternamente grato por cada momento da minha vida. Serei eternamente grato por toda a minha vida. É parte de tudo que eu sou.

À minha mãe (in memorian) por ter me ensinado o valor de ser homem e ter mostrado que tudo é possível quando se quer com vontade e tem a perseverança sincera.

À Lívia, mulher da minha vida, companheira, amiga. Obrigado pela compreensão, pelo apoio incondicional. É bom saber que você existe. Pra sempre juntos. Te amo muitão. Nosso filho ou filha está chegando. Já é amado e com certeza já herdou sua beleza e a manifestará em todos os aspectos.

À minha irmã, por todo o apoio e amizade ao longo de toda a vida. Não existe melhor pessoa para compartilhar alegrias e dramas. É mais do que bom ser seu irmão.

Ao Felipe Fernandes Fanchini, amigo, cunhado, companheiro para trocas de idéias. À Gabriela Vizconde Veraszto Fanchini, que ao longo dos seus três anos, mostrou como a pureza de um sorriso irradia alegria para dentro da alma. Titio te ama.

Aos amigos e irmãos, Ademar B. de Carvalho Jr., Alex Gonçalves Compri, Fabiano Ferreira Garcia, Leonardo M. Brito, Clayson Gelain, André Felipe Fernandes, Dênis Domingues Donadio, Rodrigo Bovolenta, Edmar Allan Pissinati, Carlos Alberto Baratella, Ricardo Scudeler, Henrique, Adriano Fonseca de Lima, Bruno Brandão Fischer, Páris Bógea, Shaista Lessa Fúrfuro, Maria Paula, Leila Cristina da Silva, Pelos momentos compartilhados. Pelas alegrias e segredos divididos. Pelas dores compartidas juntos. Por fazerem parte da minha vida. Não seria eu se não fossem vocês. Obrigado a todos meus importantes amigos que iluminaram minha vida.

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Aos grandes amigos, Nonato Assis de Miranda, Fernada Oliveira Simon, Jomar Barros Filho, Fabiano Correa da Silva, Priscila Aparecida Teixeira, Kátia Elaine da Silva. Obrigado pela ajuda sem igual que me deram. Obrigado pelo apoio ao longo de toda a pesquisa. Sem vocês não seria possível ter concluído o trabalho.

Aos familiares Magdalena Verasto, Fábio Dias Verasto, Jorge Verasto, João Verasto, Elaine Dia Verasto, Fernando Dias Verasto, Eliane Dia Verasto, Regina Maura Dias Verasto. Pela ajuda e torcida sempre amiga. A todos os familiares aqui não citados, também meus agradecimentos.

Ao apoio recebido de Marcos Antonio, José Antonio Filho, Maria Paula Chiarelli. Sem esse auxílio, a pesquesia não teria sido aplicada.

Aos professores Dr. Antonio Medina Rivilla (UNED) e Francisco García García (Universidade Complutense de Madrid) por me acolherem em Madrid e por contribuírem com o projeto no intercâmbio doutoral.

À Capes, pelo apoio financeiro parcial.

A todas as pessoas que passaram pela minha vida, meus sinceros agradecimentos. Todas, sem excessão, são parte do que sou hoje.

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À Lívia, ao meu pai, à minha mãe (in memorian),

à minha irmã e à Gabriela.

Pelo apoio incondicional e por acreditarem sempre.

Por darem sentido à minha existência.

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TECNOLOGIA E SOCIEDADE:

RELAÇÕES DE CASUALIDADE ENTRE CONCEPÇÕES E ATITUDES DE

GRADUANDOS DO ESTADO DE SÃO PAULO

RESUMO

Nos últimos anos o homem vem transformando o meio através da sua ação ao conceber e desenvolver novas tecnologias. De uma forma recíproca, as tecnologias emergentes modificam a sociedade, os hábitos e as formas como o homem se relaciona e adquire informações e conhecimento. Desta forma, este trabalho desenvolve um modelo de pesquisa com o objetivo de encontrar relações causais entre homem, sociedade, tecnologia e meio. Com esse modelo foi possível saber como a sociedade pode afetar as concepções que graduandos do estado de São Paulo têm acerca da tecnologia e também as suas crenças e expectativas em relação ao desenvolvimento tecnológico e o futuro do planeta. O modelo desenvolvido, bem como todas suas variações possíveis, foram testados através de Modelagem de Equações Estruturais (SEM) para mapear relações de causa e efeito entre as dimensões que denominamos de: dimensão social, concepções de tecnologia e atitudes e expectativas frente ao desenvolvimento tecnológico. A partir do modelo inicial a hipótese de pesquisa foi elaborada e confirmada estatisticamente. A análise mostrou que a sociedade exerce uma influência direta nas concepções e atitudes dos indivíduos pesquisados frente ao desenvolvimento tecnológico. Isso permitiu compreender melhor o que as pessoas pensam e sabem sobre tecnologia. E essa compreensão gerou subsídios e uma contribuição inicial para discussões futuras acerca de políticas públicas de educação, visando uma alfabetização tecnológica significativas, capaz de preparar novas estratégias de ensino que possibilitem educar cidadãos para uma sociedade plural, democrática e tecnologicamente avançada.

Palavras-chave: Tecnologia e Sociedade, Concepções de Tecnologia; Atitudes acerca de Tecnologia, Percepção Pública, Modelagem de Equações Estruturais.

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TECHNOLOGY AND SOCIETY:

CAUSALITY RELATIONS BETWEEN THE CONCEPTIONS AND

ATTITUDES OF THE SÃO PAULO STATE UNDERGRADUATE

STUDENTS

ABSTRACT

In recent years, the man has transformed the way through his action to design and develop new technologies. In a reciprocal manner, the emerging technologies have changed the society, the habits and the ways in which the man is connected and acquire information and knowledge. Thus, this paper develops a model of research with the aim to find causal relationships between man, society, technology and environment. With this model, it was possible to know how the society can affect the conceptions that the São Paulo State’students have about the technology as well as their beliefs and expectations about the technology development and the future of the planet. The model developed, and all its possible variations, were tested using the Structural Equation Modeling (SEM) to map the cause and effect relation between the dimensions that we named as: social dimension, technology and attitudes conceptions and technology development expectations. From the initial model, the research hypothesis was developed and confirmed statistically. The analysis showed that the society exercises a direct influence on the conceptions and attitudes of individuals studied front of technological development. This allowed better understand what people think and know about technology. That understanding led subsidies and an initial contribution to future discussions about public policy education to a significant technological literacy and capable of preparing new teaching strategies that allow citizens to educate a plural society democratic and technologically advanced.

Key-words: Technology and Society, Ideas about Technology; Attitudes about Technology, Public Perception, Structural Equation Modeling.

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TECNOLOGÍA Y SOCIEDAD:

RELACIONES DE CASUALIDAD ENTRE LAS CONCEPCIONES Y LAS

ACTITUDES DE LOS ESTUDIANTES UNIVERSITARIOS DEL ESTADO

DE SÃO PAULO

RESUMEN

En los últimos años el hombre ha transformado el entorno a través de su acción para diseñar y desarrollar nuevas tecnologías. En una manera recíproca, las tecnologías cambian la sociedad, los hábitos y las formas en que el hombre está conectado y adquirir información y conocimientos. Por lo tanto, este trabajo desarrolla un modelo de investigación con el fin de encontrar relaciones causales entre el hombre, la sociedad, la tecnología y el medio ambiente. Con este modelo es posible saber cómo la sociedad puede afectar a las concepciones que los estudiantes en el estado de São Paulo tienen sobre la tecnología y también sus creencias y expectativas con respecto a la evolución y el futuro del planeta. El modelo desarrollado, y todas sus posibles variaciones, se probaron utilizando los Modelos de Ecuaciones Estructurales (SEM) para trazar las relaciones de causa y efecto entre las dimensiones fueran llamadas de: dimensión social, concepciones de la tecnología y actitudes y expectativas hacia el desarrollo tecnológico. Desde el modelo inicial, la hipótesis de investigación fue desarrollada y confirmada estadísticamente. El análisis mostró que la sociedad ejerce una influencia directa sobre las concepciones y actitudes de los individuos estudiados frente del desarrollo tecnológico. Esto permitió comprender mejor el pensamiento y el conocimiento que tienen las personas acerca de la tecnología. Este entendimiento llevó subvenciones y una contribución inicial a los futuros debates sobre las políticas públicas de educación buscando una importante alfabetización tecnológica y capaz de preparar nuevas estrategias de enseñanza que permitan educar a los ciudadanos para una sociedad plural democrática y tecnológicamente avanzada.

Palabras-clave: Tecnología y Sociedad, Ideas acerca de Tecnología; Actitudes acerca de la Tecnología, Percepción del Público, Modelos de Ecuaciones Estructurales.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 1

Problema de pesquisa ... 2 Objetivos da pesquisa ... 2 Diretrizes da pesquisa ... 3

1. UMA PERSPECTIVA DA EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO CONCEITO DE

TECNOLOGIA ... 7

1.1. A origem do termo tecnologia ... 7

1.2. Nossos primeiros passos ... 9

2. CIÊNCIA, TECNOLOGIA E SOCIEDADE: BASES HISTÓRICAS E

ESTUDOS SOCIOLÓGICOS ... 17

2.1. O início do movimento CTS ... 18

2.2. As duas principais tradições CTS ... 21

2.3. Antecedentes dos estudos CTS ... 24

2.4. Tradição européia ... 27

2.4.1. A nova sociologia da ciência ... 28

2.4.2. Desvendando o meio onde a tecnologia é produzida (a caixa preta)... 29

2.4.3. Pontos de vista pós-modernos ... 30

2.4.4. Da ciência à tecnociência ... 32

2.5. Tradição americana... 35

2.5.1. As origens e os temas desenvolvidos na tradição americana ... 36

2.6. Uma terceira tradição: o fator econômico ... 44

2.6.1. Economia e gestão das C&T ... 45

2.6.2. As microinovações ... 47

2.6.3. As macroinovações ... 48

2.6.4. Gestão e política das C&T ... 48

3. AS FACETAS DA TECNOLOGIA: MITOS E REALIDADES ... 53

3.1. Concepção intelectualista da tecnologia ... 54

3.2. Concepção utilitarista da tecnologia (tecnologia como sinônimo de técnica)... 55

3.3. Concepção da tecnologia como sinônimo de ciência ... 56

3.4. Concepção instrumentalista (artefatual) da tecnologia ... 56

3.5. Concepção de neutralidade da tecnologia ... 57

3.6. Concepção do determinismo tecnológico: tecnologia autônoma ... 59

3.7. Concepção de universalidade da tecnologia ... 61

3.8. Otimismo e pessimismo tecnológico ... 62

3.8.1. Pessimismo tecnológico ... 63

3.8.2. Otimismo tecnológico... 63

3.9. Sociosistema: um novo conceito de tecnologia ... 64

3.10. Classificação e categorização das concepções acerca da tecnologia. ... 67

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4. OS DESAFIOS DA TECNOLOGIA NO CENÁRIO MUNDIAL

CONTEMPORÂNEO ... 77

4.1. Caracterizando os desafios da tecnologia ... 77

4.2. As contribuições da c&t no atual cenário globalizado ... 81

5. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA ... 91

5.1. Caracterizando a pesquisa ... 91

5.2. Modelos teóricos e hipóteses de pesquisa ... 93

5.3. Composição estrutural ... 96

5.4. Apresentando o modelo ... 97

5.5. Modelos de medidas... 101

5.6. Instrumento de pesquisa ... 102

5.7. Metodologia de elaboração dos indicadores do instrumento de pesquisa ... 103

5.7.1. Organização da análise ... 104 5.7.2. Codificação ... 105 5.7.3. Categorização ... 105 5.8. Estrutura do questionário ... 113 5.9. Modelos completos ... 116 5.10. Coleta de dados ... 121 5.11. Processo de amostragem ... 122

5.12. Etapas da análise de dados ... 124

5.12.1. Análise descritiva ... 125

5.12.2. Avaliação individual dos construtos ... 125

5.12.3. Unidimensionalidade dos construtos ... 126

5.12.4. Confiabilidade dos construtos (CC) ... 126

5.12.5. Medidas de ajustamento dos construtos ... 127

5.12.6. Avaliação do modelo integrado ... 129

6. RESULTADOS E ANÁLISES ... 131

6.1. Caracterização da amostra ... 131

6.2. Análise de freqüência de respostas aos indicadores ... 133

6.3. Validade dos construtos ... 141

6.3.1. Unidimensionalidade dos construtos ... 141

6.3.2 Confiabilidade ... 142

6.3.3. Medidas de ajustamento dos modelos ... 143

6.3.4. Avaliação do modelo integrado ... 149

6.4. Apresentação do modelo ajustado ... 150

7. TÉKHNÉ E POLITÉIA: CONSIDERAÇÕES FINAIS E PROJEÇÕES

FUTURAS ... 153

7.1. A importância da dimensão social como causa do fenômeno ... 154

7.2. As concepções de tecnologia: pontos de vista clássicos do senso comum ... 157

7.3. As atitudes frente ao desenvolvimento tecnológico ... 158

7.4. Perspectivas futuras... 159

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 163

APÊNDICE A: UMA BREVE PERSPECTIVA DA HISTÓRIA DA

TECNOLOGIA ... 185

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xvii

OS GRANDES IMPÉRIOS ... 187

AS TÉCNICAS MEDIEVAIS... 191

TEMPOS MODERNOS ... 194

OS DOIS ÚLTIMOS SÉCULOS E OS NOSSOS DIAS ... 199

APÊNDICE B: INSTRUMENTO DE PESQUISA ... 207

APÊNDICE C: Teste de Kolmogorov-Smirnov Gerado pelo SPSS ... 209

APÊNDICE D: Relatório gerado pelo sistema LISREL®: estimação pelo método

USL com antecedente DSO1 (Dimensão Social 1) ... 211

APÊNDICE E: Relatório gerado pelo sistema LISREL®: estimação pelo método

USL com antecedente DSO2 (Dimensão Social 2) ... 223

APÊNDICE F: Relatório gerado pelo sistema LISREL®: estimação pelo método

USL com antecedente CON1 (Concepções 1) ... 237

APÊNDICE G: Relatório gerado pelo sistema LISREL®: estimação pelo método

USL com antecedente CON2 (Concepções 1) ... 249

APÊNDICE H: Relatório gerado pelo sistema LISREL®: estimação pelo método

USL com antecedente ATI1 (Atitudes frente ao desenvolvimento tecnológico 1)261

APÊNDICE I: Relatório gerado pelo sistema LISREL®: estimação pelo método

USL com antecedente ATI2 (Atitudes frente ao desenvolvimento tecnológico 2)273

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INDÍCE DE QUADROS

Quadro 2.1: Diferenças entre as duas tradições ... 23

Quadro 3.1: Resumo referenciado das diferentes concepções acerca da tecnologia ... 68

Quadro 4.1: Questões ambientais contemporâneas colocas à ciência e à tecnologia ... 88

Quadro 5.1: Processo de elaboração dos indicadores da pesquisa. ... 105

Quadro 5.2: Indicadores Propostos para cada Dimensão do Estudo ... 112

Quadro 5.3: Questionário aplicado com relações entre variáreis e ordem das assertivas ... 114

Quadro 6.1: Construtos e respectivos indicadores do Modelo de Medida Ajustado. ... 150

INDÍCE DE DIAGRAMAS

Diagrama 2.1: A dimensão em cada uma das tradições. ... 24

Diagrama 5.1: Esquema de construção dos indicadores dos modelos ... 94

Diagrama 5.2: Relação Estrutural do Modelo DSO1: Influência da Sociedade. ... 98

Diagrama 5.3: Relação Estrutural do Modelo CON1: Concepções. ... 99

Diagrama 5.4: Relação Estrutural do Modelo ATI1: Atitudes. ... 99

Diagrama 5.5: Relação Estrutural do Modelo DSO2: Influência sobre a Sociedade ... 100

Diagrama 5.6: Relação Estrutural do Modelo CON2: Influência nas Concepções ... 101

Diagrama 5.7: Relação Estrutural do Modelo ATI2: Influência nas Atitudes ... 101

Diagrama 5.7: Modelo DSO1: Influência da Sociedade ... 118

Diagrama 5.8: Modelo CON1: Concepções. ... 118

Diagrama 5.9: Modelo ATI1: Atitudes... 119

Diagrama 5.10: Modelo DSO2: Influência sobre a Sociedade. ... 119

Diagrama 5.11: Modelo CON2: Influências sobre as Concepções ... 120

Diagrama 5.12: Modelo ATI1: Atitudes... 120

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xxi

INDÍCE DE TABELAS

Tabela 6.1: Freqüência de resposta dos estudantes aos indicadores propostos ... 134

Tabela 6.2: Índices Residuais Padronizados dos Construtos. ... 142

Tabela 6.3: Índices Residuais Padronizados dos Construtos. ... 142

Tabela 6.4: Confiabilidade Composta dos Construtos. ... 143

Tabela 6.5: Comparação das Medidas de Ajustamento do Modelo Original e os Rivais com o Método de Máxima Verossimilhança (MLE) ... 145

Tabela 6.6: Modelo completo estimado segundo Método MLE ... 149

INDÍCE DE GRÁFICOS

Figura 6.1: Distribuição da amostra por curso. ... 131

Figura 6.2: Distribuição da amostra segundo ano de ingresso no curso... 132

Figura 6.3: Distribuição da amostra segundo faixa etária. Fonte: elaborado pelo autor. ... 133

Gráfico 6.4: Q-Plot dos Resíduos Padronizados para o Modelo DSO ... 146

Gráfico 6.5: Q-Plot dos Resíduos Padronizados para o Modelo CON ... 147

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INTRODUÇÃO

O homem tem modificado constantemente o meio, exigindo a concepção e desenvolvimento de novas tecnologias e estas, por sua vez, acabam por modificar o homem, suas atitudes e a sociedade como um todo. Essa demanda por inovações pode ser fruto de bem intencionadas idéias de melhores condições de vida, ou podem ainda aparecer diante da intenção de ostentação de fetiches ou até mesmo para a perpetuação de desiguais e hegemônicas condições de poder (LÉVY, 1993; CARDOSO, 2001; MIRANDA et al, 2007). Assim, diferentes formas de relação entre sociedade e tecnologia são estabelecidas na busca pelo progresso. Uma preocupação crescente de integrar ciência e tecnologia (C&T) para o bem estar da sociedade ganha espaço cada vez maior, principalmente, depois que o último século sentiu uma forte mistura de esperança e medo ao ver concretizar o sonho do homem de conquistar o espaço ao mesmo tempo em que o mundo temia pelo seu fim devido aos grandes avanços bélicos-nucleares (LIGUORI, 1997; GARCÍA DE RÍCART, 1999).

Na tentativa de debater os resultados do progresso, muito se tem falado sobre em uma formação de cidadãos conscientes e capazes de tomar decisões que envolvam o bem da coletividade ao mesmo tempo em que estejam preparados para viver em uma sociedade tecnológica e dinâmica. (KANASHIRO, 2007; VERASZTO, 2007f). Assim, conforme apontam Gordillo & Galbarte (2002), a primeira condição para se promover a inserção de tecnologias na educação de uma forma consciente é se estabelecer uma reflexão sobre suas propriedades e funções educativas.

Para melhor compreender este cenário brevemente exposto até aqui, a pesquisa buscará por indicadores de como a sociedade pode influenciar as pessoas em suas relações com a tecnologia, seja refletindo em suas concepções ou em suas atitudes frente ao desenvolvimento tecnológico. A compreensão destas relações pode angariar bases para muitas discussões, principalmente fundamentar futuros questionamentos de como as políticas públicas educacionais poderão permitir uma participação mais efetiva e atuante por parte dos cidadãos em tomadas decisões que envolvem aspectos tecnológicos.

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2

aperfeiçoa tecnologias, neste trabalho, apresentaremos hipóteses, transformadas futuramente em modelos, de que essas interações sociais também influenciam na concepção que o indivíduo tem acerca da tecnologia e estas, demandam diferentes atitudes frente ao desenvolvimento tecnológico na busca pela sustentabilidade.

PROBLEMA DE PESQUISA

Levando em consideração os aspectos apresentados na introdução, aqui fica formulado o problema de pesquisa a ser desenvolvido nesta tese: como graduandos do Estado de São Paulo percebem as relações entre tecnologia e sociedade e se posicionam frente ao desenvolvimento tecnológico?

OBJETIVOS DA PESQUISA

O objetivo principal desta pesquisa é o de analisar e testar, por Modelagem de Equações Estruturais (SEM), a aderência de diferentes modelos que relacionam as interações entre homem x sociedade x meio x tecnologia (concepções e expectativas).

Para que isto se efetive, as seguinte etapas foram cumpridas ao longo deste trabalho: i. através de revisão bibliográfica, levantar os principais aspectos (ou dimensões) das

atividades tecnológicas, como:

a) indicadores de produção e divulgação tecnológica;

b) a percepção do modelo de sociedade vigente em nossos dias por pessoas dos mais variados setores da nossa sociedade;

c) indicadores de desafios tecnológicos no atual cenário mundial contemporâneo;

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3

de como os indivíduos entendem a tecnologia e o que esperam dela nos dias atuais, levando em consideração a influência de fatores socais como antecedente;

iii. apresentar uma hipótese teórica e desenvolver seu respectivo modelo capaz de relacionar os pontos abordados nos itens anteriores;

iv. angariar subsídios para discutir sobre políticas públicas de educação científica e tecnológica e esboçar considerações iniciais acerca de novas formas de políticas públicas sobre o incentivo à produção tecnológica.

DIRETRIZES DA PESQUISA

Diante das colocações apresentadas anteriormente, nas páginas que seguem, serão levados em consideração pontos fundamentais como os aspectos culturais em sentido estrito, ou seja, quem e como se produz tecnologia em nosso meio e em que isso influencia direta ou indiretamente na alfabetização tecnológica da população, modificando a cultura e as relações interpessoais e as relações estabelecidas entre meio e sociedade. Apontando quais os conhecimentos da sociedade acerca de conceitos chaves em tecnologia que estão sendo divulgados pela mídia, poderemos chegar o mais próximo possível de uma concepção de tecnologia presente em nossa sociedade (e de como esta entende seu dinâmico processo de produção). Além disso, também será possível mostrar qual a importância que o indivíduo dá para a demanda tecnológica e como entede sua participação na tomada de decisões que envolvem questões que possam a vir gerar novas tecnologias.

De uma forma mais sistemática, os quatro primeiros capítulos fazem uma revisão história e sociológica da tecnologia e dos seus estudos acadêmicos e a forma como a população de uma maneira geral entende o desenvolvimento tecnológico e se posiciona frente a questões relacionadas com o desenvolvimento humano e sustentável. Para isso, faz-se necessário frizar que a pretensão inicial é a de mostrar como as diversas facetas construídas ao longo da história se constituiem de diferentes interpretações para o termo tecnologia. Contudo a pretensão não é a de esgotar todo o conteúdo, já que a história da tecnologia está estreitamente ligada à história do

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homem, e por isso, é bastante complexa e com inúmeras ramificações e sub-prolongamentos. Um estudo mais abrangente e detalhado seria por demasiado longo fugiria do propósito deste trabalho. Outro motivo a realização de uma abordagem histórica é o fato de que as inúmeras concepções divergentes que hoje encontramos, sobre o que venha a ser tecnologia, podem ser resultado do simples desconhecimento da evolução sócio-cultural do homem.

O capítulo que antecede a conclusão apresentam todo o embasamento metodológico da pesquisa, bem como a construção, aplicação e análise do instrumento. De maneira mais geral, estes pontos são explicitados abaixo.

O primeiro capítulo aborda uma revisão história do conceito de tecnologia traçando parâmetros que o diferenciam do conceito de técnica, além de mostrar uma perspectiva de sua evolução a partir dos primórdios da humanidade. Essa abordagem é fundamental para que o conceito principal dessa pesquisa seja situado no tempo, trazendo bases teóricas para toda a fundamentação apresentada em todo o restante da pesquisa.

O segundo capítulo apresenta uma revisão histórica e sociológica dos estudos acadêmicos da tecnologia. Apresentando dois pontos de vista distintos: a tradição européia e a tradição norteamericana, esta abordagem conclui com uma visão recente que permite a unificação das tradições mostrando que é possível concilia a abrangência teórica, própria da academia européia, com a praticidade norteamericana, fortalecendo assim as futuras discussões sobre aplicações sociais e de de políticas públicas da tecnologia.

O terceiro capítulo busca desmistificar o conceito de tecnologia ao apresentar todas suas formas e variações seja em estudos de especialistas, seja aquelas presentes no senso comum da população de uma forma geral. Com a pesquisa realizada neste capítulo, fruto de um estudo que se iniciou em anos anteriores à produção desta tese, é possível levantar subsidios suficientes para apresentar uma visão própria da tecnologia e do seu processo de desenvolvimento.

Apresentando toda a fundamentação necessária acerca da gênese e estudos sociais da tecnologia, no capítulo quatro é chegado o momento de questionar se o homem está no caminho certo e se pode continuar a pensar exclusivamente no desenvolvimento tecnológico como motor para o desenvolvimento econômico ou deve repensar seus conceitos e passar a

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5

abordar a possibilidade de desenvolver de uma forma sustentável e que realmente traga benefícios para toda a sociedade.

Diantes de toda essa fundamentação, é possível então, no capítulo cinco, estruturar o instrumento de investigação e definir de forma bastante objetiva e direta a hipótese de pesquisa. Finalizado esse capítulo, toda a metodologia de trabalho e de pesquisa, bem como as diretrizes básicas do processo de amostragem e de análise será passível de compreensão.

E finalmente, no capítulo 6, toda a análise dos resultados será apresentada de forma sistemática angariando fontes de discussão para a conclusão da tese.

Com estas etapas concluídas, será possível, após aplicação e análise do instrumento de pesquisa, fomentar discussões apresentandos os resultados da pesquisa como subsídios para discussões futuras de políticas públicas de educação. Assim, a intenção é dar suporte e contribuir para trabalhos vindouros que visem uma educação tecnológica consciente e que tenha como ponto de partida os maiores déficits de informação predominante no público de maneira generalizada.

É importante colocar ainda que, ao mesmo tempo que será mostrado um pequeno recorte de como a sociedade evoluiu, centraremos também nossa atenção em apontar como as conseqüências do desenvolvimento tecnológico acabaram por fazer surgir teorias sociológicas distintas na tentativa de compreender as relações entre sociedade e tecnologia.

Considerando que o homem, inserido em uma sociedade, concebe, cria ou aperfeiçoa tecnologias, para esta pesquisa foram elaboradas hipóteses, embasadas nos fundamentos teóricos, de que essas interações sociais influenciam na concepção que o indivíduo tem acerca da tecnologia e estas, por sua vez, demandam diferentes atitudes frente ao desenvolvimento tecnológico. Como complemento, será levado em consideração ao longo de toda a investigação que as relações homem x sociedade, não só influenciam as concepções sobre tecnologia, como também as atitudes dos indivíduos.

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1. UMA PERSPECTIVA DA EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO

CONCEITO DE TECNOLOGIA

A geração presente, já tendo nascida sob o signo das vertiginosas mudanças que a tecnologia acarretou, não tem, em geral, a noção de como todo esse processo é muito recente e que caminhos a humanidade percorreu para chegar à atual situação. Entretanto, vivemos num mundo que herdamos, resultado de um longo e complexo processo histórico, que trouxe muitas mudanças à vida do homem. (CARDOSO, 2001, p. 183).

No intuito de buscar uma melhor compreensão acerca do conceito de tecnologia, será apresentada uma revisão teórica embasada em perspectivas históricas para auxiliar na construção do conceito. Para esse feito, a revisão literária está dividida em duas grandes frentes: a primeira, busca mostrar o surgimento e o desenvolvimento da tecnologia junto com a história do homem, e a segunda (no capítulo seguinte), procurando mostrar como o conceito fora estudado a partir do aparecimento do movimento CTS, após a Segunda Grande Guerra Mundial.

É importante ainda salientar que este trabalho prioriza a história do desenvolvimento tecnológico, bem como seu papel na organização das sociedades, fatos ocorridos nas sociedades ocidentais a partir do aparecimento dos grandes impérios da antiguidade.

A escolha da história como ponto de partida pode ser justificada nessa reordenação das palavras de Comte: [...] é indispensável ter, de início, uma visão geral sobre a marcha progressiva do espírito humano, considerado que uma concepção qualquer só pode ser bem conhecida por sua história (COMTE, 1978, p. 3).

1.1. A ORIGEM DO TERMO TECNOLOGIA

Ao iniciar esta breve revisão histórica é preciso frisar que a história do homem iniciou-se juntamente com a história das técnicas, com a utilização de objetos que foram transformados em instrumentos diferenciados, evoluindo em complexidade juntamente com o processo de construção das sociedades humanas (CARDOSO, 2001; ACEVEDO DÍAZ, 2002b;

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VALDÉS et al, 2002; MAIZTEGUI et al, 2002; VERASZTO, 2004, 2008a, b).

Através de um estudo da evolução histórica das técnicas desenvolvidas pelo homem, colocadas dentro dos contextos sócio-culturais de cada época, é que se pode compreender melhor a participação ativa do homem e da tecnologia no desenvolvimento e no progresso da sociedade, enriquecendo assim o conceito que temos a respeito do termo tecnologia (VERASZTO, 2004). Desta maneira, torna-se notório conhecer que as palavras técnica e tecnologia têm origem comum na palavra grega techné (ou tékhné) que consistia muito mais em se alterar o mundo de forma prática do que compreendê-lo. Inicialmente era um processo onde a contemplação científica praticamente não exercia influências (KNELLER, 1978; VERASZTO, 2004, 2008a, b). Na técnica, a questão principal é do como transformar, como modificar. O significado original do termo techné tem sua origem a partir de uma das variáveis de um verbo que significa fabricar, produzir, construir, dar à luz, o verbo teuchô ou tictein, cujo sentido vem de Homero; e teuchos significa ferramenta, instrumento (TOLMASQUIM, 1989; LION, 1997). A palavra tecnologia provém de uma junção do termo tecno, do grego techné, que é saber fazer, e logia, do grego logus, razão. Portanto, tecnologia significa a razão do saber fazer (RODRIGUES, 2001). Em outras palavras o estudo da técnica. O estudo da própria atividade do modificar, do transformar, do agir (VERASZTO, 2004; SIMON et al, 2004a; 2008a, b).

Uma definição exata e precisa da palavra tecnologia fica difícil de ser estabelecida tendo em vista que ao longo da história o conceito é interpretado de diferentes maneiras, por diferentes pessoas, embasadas em teorias muitas vezes divergentes e dentro dos mais distintos contextos sociais (GAMA, 1987). Em diferentes momentos a história da tecnologia vem registrada junto com a história das técnicas, com a história do trabalho e da produção do ser humano. Assim, é primordial a tentativa de apresentar um marco divisório para mostrar a tênue linha que separa a técnica da tecnologia.

É preciso também deixar claro que a História das técnicas e das tecnologias, não deve ser apenas entendida com uma descrição sucessiva dos artefatos descobertos por artífices e engenheiros, mas também o encadeamento das grandes circunstâncias sociais que ora favoreciam, ora prejudicavam o esforço humano em desenvolver seus artefatos e modificar o mundo ao seu redor, garantindo-lhes assim, melhores condições de vida.

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Desta forma, o desenvolvimento e aprimoramento da técnica, das ciência e tecnologia, precisa ser compreendido nas suas mais íntimas relações com as influências e determinações sociais, econômicas, políticas e culturais, tendo em vista que todas estas atividades não se isolam de qualquer que seja outra atividade humana. Muito pelo contrário, cada uma dessas atividades só existe se tomaram em conta suas relações com o esforço histórico humano de criar instrumentos capazes de superar as dificuldades impostas pelas forças naturais (CARDOSO, 2001).

1.2. NOSSOS PRIMEIROS PASSOS

Não importa o quão longe possamos ir ao passado ou o quão distante possamos voltar no tempo, os vestígios do homem na Terra são evidentes e atestados por utensílios, armas ou até mesmo pelo resultado da ação do fogo no meio (DUCASSÉ, 1987). Nossos antepassados primitivos já utilizavam objetos achados na natureza como instrumentos que lhes garantissem uma extensão do corpo, porém não mostravam nenhuma intenção de modificá-los ou melhorá-los. O potencial tecnológico do homem estava presente, contudo ainda faltava um lampejo do intelecto para que mudanças significativas começassem a ser empreendidas (VERASZTO et al, 2008a, b).

Apenas com o Homo erectus é que se teve a pedra talhada e o começo da intenção de usar um objeto como instrumento e de transformá-lo para melhor se valer dele (VARGAS, 2001). O período Paleolítico, como é chamada a primeira fase da Idade da Pedra, inicia-se com o aparecimento dos primeiros hominídeos, por volta de 4.000.000 a.C., passando pelos primeiros vestígios do Homo sapiens, do qual descendemos, em torno de 50.000 a.C. e durando até mais ou menos 18.000 a.C. O paleolítico caracterizou-se, de maneira geral, pela formação de um grupo social onde o homem era essencialmente coletor e caçador (CARDOSO, 2001; VERASZTO, 2004, 2008a, b; SIMON et al, 2004a, 2004b).

Há cerca de dois milhões de anos, uma criatura obscura e perdida no tempo o Australopitecus Africanus, carnívora segundo as evidencias encontradas por Richard Leakey, após descer das árvores, deparou-se com dois problemas concretos que precisava resolver de

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forma imediata: o primeiro era parte de uma necessidade vital, a questão de sobrevivência, o segundo problema, era essencialmente de ordem social (ACEVEDO, 1998; GORDILLO, 2001). Sua necessidade vital estava estritamente relacionada com seu habito alimentar baseado em carne que precisava ser dilacerada para posterior ingestão, e sua necessidade social baseava-se na defesa do território.

Estas colocações de Acevedo (1998) são capazes de trazer de imediato à mente a cena de abertura do filme 2001, Uma Odisséia no Espaço, onde de forma poética-visual, Kubrick (1968)1 reconfigurou os primórdios da humanidade mostrando uma descoberta colossal: a concepção da primeira ferramenta, a criação do primeiro utensílio. O hominídeo ao encontrar um esqueleto de um grande herbívoro, apodera-se de um dos seus maiores ossos e começa a desferir golpes contra os restos esqueléticos. De maneira conjunta, intelecto e instrumento, técnica e pensamento, diferenciaram este ser de todos os demais existentes até então. Este nosso antepassado, ilustrado no filme, associa em seus pensamentos o esqueleto encontrado com o animal real. Aquele osso nunca mais seria apenas um osso. Seria um poderoso instrumento de caça e de defesa. Continuando com a recordação do filme, em um instante de deslumbramento, o hominídeo atira o osso para cima. Aqui novamente o gênio de Kubrick entrou em ação: o osso girando no céu transformava-se em uma espaçonave que ganhava os confins do universo. Estava iniciada a odisséia do homem rumo ao progresso e ao desenvolvimento científico e tecnológico (VERASZTO et at, 2003a, 2003b, 2004, 2008a, b).

Assim surgiu o homem. Somente através do emprego de sua capacidade intelectual primitiva é que foi capaz de estabelecer relações fundamentais que o auxiliaria a modificar o meio, empregando uma técnica até então inexistente. O homem surgiu somente no exato momento em que o pensamento aliou-se à capacidade de transformação. A utilização daquele primeiro instrumento não só dava início à modificação do meio assim como também iniciava um processo de modificação do próprio grupo de hominídeos que o descobriram. O homem ainda não modificara a natureza construindo um novo artefato, mas tão importante quanto isso, o homem acabava de descobrir uma nova função para um osso recém descoberto. Modificando o

1 FICHA TÉCNICA: 2001: A Space Odissey (2001: Uma Odisséia no Espaço). 1968 - Ficção Científica - 149

minutos; Direção: Stanley Kubrick; Roteiro: Stanley Kubrick e Arthur C. Clarke; Direção de Fotografia: Geoffrey Unsworth e John Alcott; Montagem: Ray Lovejoy; Elenco: Keir Dullea, Gary Lockwood, William Sylvester, Leonard Rossiter, Margaret Tyrack, Robert Beatty; Distribuição: Warner Bros.

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papel do osso e resignificando-o, o homem alterava para sempre as relações sociais estabelecidas a partir de então. Graças a este imenso prolongamento do corpo, nossos antepassados puderam garantir sua sobrevivência e lutar, sem desvantagem, contra as grandes potencias naturais. Segundo estudos, é de se crer que o osso tenha sido utilizado em estado bruto desde os primeiros tempos, apesar de seu aperfeiçoamento sistemático ter ocorrido em tempo mais tardio (DUCASSÉ, 1987; VERASZTO, 2008a, b).

A técnica2 surgia então, junto com o homem graças a fabricação dos primeiros instrumentos e a manifestação do intelecto humano na forma de sabedoria. De acordo com a Antropologia não há homem sem instrumento por mais rudimentares que sejam. Homem sem técnica seria uma abstração tão grande como técnica sem homem. São entidades que se autocompletam, de forma que se eliminado uma, a outra também desaparece por completo. (VARGAS, 1994a; VERASZTO, 2004).

É com o homem que as técnicas iniciam seu desenvolvimento, porque, graças ao seu cérebro e a sua força, o ser humano não se constitui apenas como um mero repetidor de processos naturais, muito pelo contrário, torna-se um inovador, um prodigioso inventor de novos mecanismos, muito diferente daquilo que é concebido pela natureza. O que diferencia o homem do animal é que o primeiro descobriu que não tem somente o seu corpo como instrumento; muito pelo contrário, o homem aprende que é capaz de criar extensões inéditas para que seus membros possam agir no meio de maneira cada vez mais eficiente. O ser humano ao longo do tempo desenvolveu e aprimorou continuamente uma de suas habilidades mais poderosas: a capacidade de inventar. Aliada a um magnífico poder intelectual, cérebro e mão, a partir de então, revezariam em múltiplas e eficientes combinações psíquicas e mecânicas, nervosas e musculares, capazes de criar artefatos inimagináveis e de assegurar ao homem o domínio e a conquista do espaço e do tempo (DUCASSÉ, 1987; VERASZTO, 2008a, b).

Inicialmente, a magia parece ter sido a forma primária que o homem encontrou para cristalizar as suas relações com o mundo natural. Os sacerdotes, possuindo o conhecimento de

2 É importante ressaltar que privilegiamos, de início, o emprego do termo técnica, pelo fato de que os teóricos em

geral concordam que o desenvolvimento de conhecimentos técnicos referentes ao mundo natural não se apoiou, nesse longo tempo histórico, em uma base teórica, mas de forma primordialmente empírica, só vindo a modificar de fato com o surgimento da Ciência Moderna (VERASZTO, 2004).

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técnicas que possibilitavam um certo domínio da natureza e da sobrevivência das comunidades, tornavam-se pessoas com grande status e poder. A técnica era associada à magia e assim o conhecimento podia ser mantido em segredo e transmitido a poucos através de alguns rituais de iniciação (CARDOSO, 2001).

O mesmo processo teria um caráter posterior muito parecido quando estes “quase” homens e mulheres conceberam e produziram a primeira ferramenta de pedra. O acaso talvez os tenha feito perceber, que duas pedras ao chocarem-se poderiam ser lascadas, dando origem a um instrumento que viria a substituir o osso em suas investidas de caça. Ferramentas eram moldadas à base de duros golpes e afiadas por processos de amolação, tudo de maneira muito primitiva e rudimentar, mas que já mostravam o surgimento de todo o potencial criador demonstrado através de práticas técnicas e tecnológicas. A força deste invento alcançou tamanha magnitude e proporção, de forma que durante um milhão de anos mais não sofreu modificações significativas. Peças e artefatos eram obtidos arrancando grandes lascas nas duas faces opostas de um bloco de sílex ou de um calhau3 . Essa fabricação dos primeiros instrumentos de pedra lascada já correspondia a um saber-fazer: uma tecnologia, que desenvolvida pelos nossos antepassados, fez surgir uma verdadeira "indústria das lâminas", aperfeiçoadas à medida que o tempo ia passando (VERASZTO et al, 2003b).

Pode-se chamar estes primeiros artefatos de um instrumento tecnológico, pois representam a organização da comunidade para cumprir um propósito particular: a sobrevivência poderia ser garantida através da interferência do hominídeo no meio, caçando e defendendo seu território contra as investidas das feras. Um dos fatores mais determinantes que marcam o aparecimento de nossos ancestrais primitivos, segundo investigadores, é o uso de ferramentas. Contudo esta premissa é incompleta, porque não é somente o uso de ferramentas, senão todo o processo de desenvolvimento, abrangendo a invenção, a concepção e a produção das mesmas, que consiste no verdadeiro feito. As estratégias e outras formas de organização desenvolvidas por nossos ancestrais pré-históricos, reafirmam o potencial tecnológico humano (ACEVEDO, 1998; VERASZTO, 2004).

Não se pode pensar nesses artefatos como produtos do destino. Neles estava

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presente o potencial e a competência humana. E isso deve ser digno do nosso respeito e admiração. Conforme aponta Acevedo (1998), não havia ali postulados teóricos, nem modelos explicativos, nem tampouco hipóteses de trabalhos. Somente um problema concreto, um cérebro de oitocentos centímetros cúbicos, um meio agreste rico em materiais, um conjunto de idéias baseadas na experiência diária e, a centelha criativa que fez destes quase homens os seres responsáveis pela onipresença tecnológica.

Não foi somente a concepção de armas e utensílios de pedra lascada que marcaram o surgimento das técnicas em nossos remotos antepassados. Os vestígios de habitação e os solos preparados e escavados, encontrados em estudos arqueológicos, mostram a presença de sinais de fogo. Restos de refeições, carvão de ossos, cinzas de lares primitivos são prova de que o homem soube dominar o fogo desde os primórdios do seu surgimento. A faísca surgida através dos golpes em pedras deve ter sido utilizada como fonte primária de fogo. Ou ainda, a fricção entre materiais como a madeira, resultado das primeiras experiências técnicas, onde o homem verificava pela primeira vez sua engenhosidade, pôde ter produzido o mesmo resultado. Com o fogo, o homem foi capaz de cozer alimentos pela primeira vez, assim como garantir mais uma forma de abrigo em relação às forças naturais. Suas noites tornaram-se aquecidas a partir de então, e os animais ferozes puderam ser afugentados dos antigos abrigos dos nossos antepassados (DUCASSÉ, 1987; VERASZTO, 2004).

Enquanto o fogo e os utensílios manualmente desenvolvidos davam ao homem a chave das transformações materiais, a palavra dava-lhe o domínio interior dos seus atos e do seu próprio pensamento. Assim, o surgimento da linguagem também deve ser visto como uma das primeiras técnicas surgidas, ou uma tecnologia intelectual segundo o filósofo francês Pierre Lévy (1993).

A palavra, rara e excepcional nos tempos primitivos, deve ter sido desenvolvida a princípio para a transmissão de ordens, evoluindo naturalmente para a análise do trabalho no espaço, posteriormente para descrever os fatos no tempo, efetivando-se assim como uma memória coletiva primitiva (VARGAS, 2001; GORDILLO & GALBARTE, 2002). Segundo Vargas (2001) é a linguagem, com poder simbólico das palavras, que a compreensão, o conhecimento e o aperfeiçoamento das coisas e eventos percebidos. A linguagem possibilita,

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graças a imagens mentais suscitadas pelas palavras, como símbolos que auxiliaram o homem na transformação do meio (VERASZTO, 2008a, b).

Segundo afirma Lévy (1993), se o homem construiu outros tempos mais rápidos e violentos que dos animais e plantas é porque dispõe de um poderoso instrumento de memória e de propagação de suas representações que é a linguagem. Assim, com estas três grandes concepções – a pedra lascada, o fogo e a linguaguem – foi que a espécie humana deu um salto muito grande às invenções e descobertas que hoje fazem parte da nossa história (VERASZTO, 2004).

Contudo, inúmeras transformações históricas se processaram, a princípio de forma bastante lenta. Os primeiros utensílios de pedra constituem-se nos artefatos mais antigos de que temos notícias, e se encontram no começo de uma série de produtos desenvolvidos graças ao esforço e à capacidade criadora e intelectual do ser humano, envolvendo saberes, conhecimentos, habilidades e competências que não necessitam de existência prévia de conhecimento cientifico organizado. A tecnologia existia muito antes dos conhecimentos científicos, muito antes que homens, embasados em teorias pudessem começar o processo de transformação e controle da natureza. Além de ser mais antiga que a ciência, a tecnologia não auxiliada pela ciência, foi capaz de inúmeras vezes, criar estruturas e instrumentos complexos. Os nossos ancestrais criadores tiveram êxito porque a experiência lhes havia ensinado que certos materiais e técnicas produziam resultados aceitáveis, enquanto que outros não (ACEVEDO, 1998; VERASZTO, 2004, 2008a, b).

Atualmente a produção tecnológica é inerente ao homem. Conforme menciona Acevedo (1998), o homo faber não pode ser distinguido do homo sapiens. O homem converteu-se de tal forma em uma criatura pensante devido a sua capacidade de criar. Seria o mesmo que dizer que o produto fez do homem um ser pensante. No último milhão de anos, o gênero humano introduziu significativas modificações nos instrumentos, graças à evolução da mão e o aperfeiçoamento do cérebro. O indivíduo converteu-se em uma criatura biológica e mais refinada culturalmente. Assim, os produtos do seu talento, com o passar do tempo, foram tornando-se cada vez mais funcionais e ganhando qualidade. Isso é porova determinante para que possamos reafirmar e assegurar todo o potencial tecnológico dos nossos antepassados pré-históricos (ACEVEDO, 1998).

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Não contentes com a pedra lascada nossos longínquos parentes buscaram a especialização de seu instrumento. Antes destinada a quebrar, esmagar, furar, cortar ou talhar, o instrumento primitivo foi adaptado à ponta de um longo pedaço de madeira com o objetivo de obter melhores condições de caça e ataque. Surgiram, assim, as primeiras lanças. O homem pouco a pouco começou a testar na prática a elasticidade e combinação de materiais, sejam elas na fabricação de armadilhas destinadas a capturar feras, sejam elas em técnicas de modelagem que utilizavam barro e água, começando a demonstrar que as técnicas muito auxiliariam não só o processo produtivo como também a criatividade artística do ser humano (DUCASSÉ, 1987; VERASZTO, 2008a, b).

Estas primeiras evoluções se deram de forma bastante lenta e demorada. Como já fora mencionado anteriormente, foram necessários cerca de um milhão de ano para que práticas mais significativas pudessem ser executadas na remodelagem do meio natural. Fora somente após estas três grandiosas conquistas (os utensílios de pedra, o fogo e a linguagem) que nossos antepassados deram-se conta que estavam preparados para construir e modificar de fato (VERASZTO, 2008a, b).

Hoje em dia a produção tecnológica é característica própria do homem. Este converteu-se em uma criatura pensante em virtude de sua capacidade de construir e, por sua vez, o produto fez do homem um ser pensante. Em efeito, ao longo da história, o gênero humano introduziu significativas modificações nos instrumentos, produtos da evolução da mão e do aperfeiçoamento do cérebro. O individuo converteu-se em uma criatura biológica e culturalmente mais refinada, e devido a isso, os produtos de seu talento foram tornando-se cada vez mais funcionais e ganhando em qualidade, do qual temos evidencias contundentes que permitem reafirmar a capacidade tecnológica dos homens e mulheres pré-históricos (ACEVEDO, 1998; VERASZTO, 2008a, b).

O conhecimento histórico do desenvolvimento das técnicas e das tecnologias produzidas pelo homem desde o começo dos tempos contribui de maneira significativa para que possamos entender o processo criador da humanidade e, essencialmente, compreendermos melhor a tecnologia como uma fonte de conhecimentos próprios, em contínua transmutação e com novos saberes sendo agregados a cada dia, de forma cada vez mais veloz e dinâmica

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16 (VERASZTO, 2004, 2008a, b).

Finalmente, é importante frisar, que muitas vezes ao se falar em tecnologia a imagem de produtos mais sofisticados que estão ganhando o mercado neste exato momento ganham primeiramente a memória. Porém, a tecnologia não consiste somente nisso. É preciso lembrar que a nossa história tecnológica começou junto com o primeiro homem quando ele descobriu que era possível modificar a natureza para melhorar as condições de vida de seu grupo. O homem, ao descobrir que poderia modificar o osso, estabelecendo um novo uso para o mesmo, dava o passo inicial para a conquista do átomo e do espaço (VERASZTO, 2004, 2008a, b) 4.

4 Outros detalhes acerca da história da evolução tecnológica do homem e da sociedade podem ser encontrados no

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2. CIÊNCIA, TECNOLOGIA E SOCIEDADE: BASES

HISTÓRICAS E ESTUDOS SOCIOLÓGICOS

No último século o mundo passou por profundas modificações resultantes de um avanço científico e tecnológico sem precedentes na história da humanidade. Graças a esse desenvolvimento, que aqui é chamado de advento tecnológico, nossa sociedade vê surgir novos produtos e serviços com uma velocidade espantosa. Um processo iniciado há anos que tem se acelerado com o passar dos tempos e que supera muito a nossa capacidade de assimilação (GORDILLO, 2001; VERASZT0, 2004).

É comum vermos produtos que acabaram de sair das prateleiras para as mãos de usuários e consumidores, serem substituídos por outros mais novos que ganham o mercado com promessas de melhores recursos. Nossos sistemas de comunicações e de trocas de informações passam por mudanças freqüentes e as inovações tecnológicas acabam agregando-se inevitavelmente à cultura da humanidade. Isso nos dá evidências de que novas maneiras de pensar e de conviver estão sendo constantemente elaboradas em nossa sociedade, modificando as relações existentes entre os homens, alterando o processo de produção de bens materiais, reorganizando o trabalho, os nossos processos cognitivos e também a maneira como de vemos, percebemos e entendemos o mundo ao nosso redor (LÉVY, 1993).

Esse ritmo acelerado imposto pelo desenvolvimento científico e tecnológico, na busca incessante pelo bem estar do homem, e porque não dizer, pelo conforto material e pela manutenção do poder, impõe demandas manufaturadas que acabam fazendo parte da rotina humana, geralmente de maneira automática e impensada. Muitas vezes as relações ocorridas dentro do contexto social buscam controlar a tecnologia através de práticas políticas e de meios legais disponíveis, mas isso não é algo tão simples, tendo em vista que a própria tecnologia influencia os cidadãos na medida em que estes fazem uso da mesma. Como resultado da aceitação social, ou da imposição mais ou menos sutil de determinadas demandas tecnológicas no lugar de outras, sociedade e tecnologia acabam tecendo uma intrincada teia de relações onde uma é afetada pela outra de forma ininterrupta (ACEVEDO DÍAZ, 1996a, 1996b).

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Observando por esse ângulo não fica difícil perceber que tanto ciência quanto tecnologia não somente tornaram nossa vida mais cômoda (ou mais perigosa, pois depende do referencial de análise) alteraram nossa percepção da realidade. Máquinas e artefatos contribuindo muitas vezes para que pessoas acreditem na ciência e tecnologia (C&T) de maneira análoga à fé que dedicam às religiões ou do mesmo modo como confiam no Estado. A televisão, os jornais, a internet, noticiam a todo instante as batalhas ganhas graças pelo avanço científico-tecnológico frente a problemas que pareciam insolúveis a dias atrás. Contudo, também é fácil notar na mídia a diminuição da diversidade biológica, a fome que mata pessoas em diferentes partes do globo ou ainda a permanência insistente de algumas enfermidades que driblam o progresso por ainda não serem curáveis. Desta forma, cresce na sociedade um sentimento ambíguo de confiança e medo, pois as pessoas passam a temer aquilo que não podem mais deixar de confiar. A ação ou a inanição do progresso se faz perceber, cada vez com mais intensidade, no nosso dia a dia (GARCÍA et al, 2000).

Estes motivos já são mais do suficiente para se dizer que o conhecimento tecnológico é fundamental, pois é faz-se necessário que todo cidadão possa acompanhar de perto as transformações que se processam diariamente na nossa sociedade e no planeta inteiro.

2.1. O INÍCIO DO MOVIMENTO CTS

Essa rápida contextualização feita acima nos traz à luz uma estória da mitologia grega que narra a aventura e ousadia de Prometeu5 que roubou o fogo dos deuses para presentear

5 Prometeu avivou a ira de Zeus contra os homens quando dividiu um boi em duas partes e lhe deu as carnes e as

vísceras, mesmo Zeus querendo a segunda parte dada aos homens, que eram os ossos cobertos com banha de animal. Irado, Zeus castigou os homens ao negar-lhes a força do fogo infatigável, que representa simbolicamente a inteligência do homem. Porém, a afronta definitiva contra Zeus ocorreu quando Prometeu roubou o brilho do fogo, reanimando a inteligência do homem. Segundo o próprio Titã, foi a partir de então que os mortais, que antes faziam tudo sem tino, passaram a construir casas de tijolos e madeira, a compor as letras e a memória, a inventar os números e conhecer os astros. Assim, Prometeu reconhece que deu de presente aos homens todas as artes. Inconformado, Zeus armou uma armadilha: mandou Hefesto plasmar uma mulher ideal, fascinante, ao qual os deuses presentearam com alguns atributos e dons de forma a torná-la irresistível. Esta mulher foi batizada por Hermes como Pandora, (pan = todos, dora = presente) e foi dada de presente ao atrapalhado Epimeteu, que ingenuamente aceitou a despeito da advertência de seu irmão Prometeu. A vingança planejada por Zeus contra os homens estava contida numa jarra, que foi levada como presente de núpcias. Quando Pandora, por curiosidade feminina, abriu a jarra fechando-a rapidamente, escaparam todas as desgraças e calamidades da humanidade, restando na jarra apenas a esperança. Quanto a Prometeu, foi castigado e preso por inquebráveis correntes no meio de uma coluna, e uma águia enviada

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os homens. Junto com o fogo, deu a razão e o ensinamento d as artes. Com essas novas dádivas o homem aprendeu a construir casas, trabalhar a madeira, navegar oceanos e extrair metais preciosos da terra; inventou e organizou o alfabeto e a formulou teoremas matemáticos. O conhecimento cresceu a tal ponto que chegou o momento que a humanidade não consegue mais sobreviver sem as conquistas e os avanços da ciência e da tecnologia. Todavia, não fora somente o desenvolvimento tecnológico que cresceu. O homem também viu crescer o medo. Talvez o castigo que Prometeu tenha sofrido por nos dar o fogo de presente não tenha sido em vão, pois junto com a sabedoria dos deuses nos foi legado também o poder de destruição dos demônios (GORDILLO, 2001). O homem chegou a tal ponto de conquista científica e tecnológica que hoje, depois de quase findada a primeira década do século XXI, tem em mãos o poder da vida e da morte.

Esse avanço científico-tecnológico, tantas vezes descomedido, despertou uma preocupação de integrar a ciência e tecnologia para o bem estar da sociedade principalmente depois que o último século sentiu uma mistura de esperança e medo ao ver concretizar o sonho do homem de ganhar o espaço ao mesmo tempo em que o mundo temia pelo seu fim devido aos grandes avanços bélicos e nucleares. A apatia da sociedade frente as decisões científicas e tecnológicas no início do século passado foi modificando ao passo que novas descobertas começaram a trazer conseqüências impopulares e a mostrar perspectivas desastrosas para o futuro da humanidade (VERASZTO, 2004).

Passada a fase de otimismo incondicional que seguiu a Segunda Guerra Mundial, a partir do final da década de 1950 e início de 1960 uma atitude mais crítica e cautelosa começou a rever as conseqüências do avanço da C&T. Depois que mais de quarenta milhões de mortos horrizaram o mundo e mostraram o poder que o homem conseguiu graças ao domínio da energia nuclear, uma manifestação de grupos sociais não poderia deixar de ocorrer (MORIN, 1996; SANCHO, 1998; RODRIGUES, 2001; CEREZO, 1999; OSORIO M., 2002; BAZZO, 2002a, 2002b; ACEVEDO DÍAZ et al, 2003; GORDILLO, 2001).

Principalmente nos países de língua inglesa, as crises econômicas fizeram soar

comia-lhe o fígado imortal durante o dia e era regenerado todas as noites. Teria sido assim eternamente se não fosse por intervenção de Herácles, que matou a águia com o consentimento de Zeus (DÓCLUS, 2004).

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alarmes sociais sobre alguns aspectos ecológicos como, por exemplo, os efeitos colaterais de alguns bactericidas e a guerra do Vietnam. Estes foram alguns dos fatores que propiciaram as primeiras posturas anti-establishment6, fazendo surgir no âmbito internacional, novas posições e atitudes frente ao avanço irracional da sociedade moderna (BORREGUERO & RIVAS, 1995).

Devido às fortes crises político-econômicas que assolavam o mundo, pouco a pouco a crença na neutralidade da ciência e na visão ingênua do desenvolvimento tecnológico, que antes predominava no cenário social, foi aminguando-se. Fazia-se necessária uma discussão das implicações políticas e sociais da produção e aplicação dos conhecimentos científicos e tecnológicos, tanto em âmbito social como dentro das salas de aula (BRASIL, 1996, 1999; CEREZO, 1999; GORDILLO, 2001). E assim, como forma de questionar de forma consciente os avanços descomedidos que o mundo via surgir, emergiu em alguns pontos do mundo, em meados da década de 1970, um movimento que tentou e ainda tenta estabelecer um tripé: A Ciência, a Tecnologia e a Sociedade (CTS), visando uma integração mais sólida e uma formação mais crítica dos futuros profissionais assim como buscando obter novas teorias acerca de das implicações e relações da ciência e tecnologia na sociedade (SILVA et al, 2000).

Duas tradições foram reconhecidas dentro do âmbito CTS: a norte-americana, que enfatiza mais as conseqüências sociais e prioriza uma ênfase maior na tecnologia, marcada por fortes quesitos éticos e educacionais; e a européia, que tem a marca inconfundível por centrar suas investigações em questões que discutem mais a ciência através de referências antropológicas, sociológicas e psicológicas (BAZZO, 1999 apud LACERDA NETO, 2002).

O movimento educacional promovido pelo enfoque CTS, surgido nos anos 1970 dentro de campi universitários, se estendeu à educação secundária e ganhou muito vigor na década seguinte através de projetos curriculares: Science For Live and Living e a proposta do NSTA, nos USA; Views on STS e Science and Technology 11, no Canadá; Siscom e SATIS no UK; PLON, na Holanda; STS, na Austrália INVESCIT e Projeto Gaia, na Espanha etc. Além de várias orientações educacionais presentes em muitos documentos internacionais, como é o caso da UNESCO (1990) (IGLESIA, 1997; SILVA et al, 2000).

6 Anti-establishment é um adjetivo da língua inglesa usado para designar um indivíduo, grupo ou idéia que é contra

as instituições oficiais, sejam elas políticas, econômicas ou sociais, da forma vigente da sociedade. Em português também se usa a expressão contra a ordem estabelecida.

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A força do movimento CTS se deu através de várias inovações curriculares ao longo do mundo, seja como uma disciplina, seja como modificações na forma de inserir alguns tópicos em disciplinas já existentes e estruturadas. Esse movimento incentivou, também, a inclusão de conteúdos novos ou a transformação integral do currículo, com o principal objetivo de dar aos alunos uma formação capaz de auxiliar nos mais diferentes processos de tomadas de decisões que ocorrem no cotidiano, tendo como referência os valores tidos como éticos e morais pela sociedade (IGLESIA, 1997; REZAEI & KATZ, 1998; SILVA, C. A. D., 1999 et al; CEREZO, 1999; VILCHES e FURIÓ, 1999; SILVA et al, 2000; SEBASTIÁN, 2000; ANGOTTI et al, 2001; ACEVEDO DÍAZ, 1998, 2002a, 2002c; BAZZO, 2002b; LACERDA NETO, 2002; OSORIO M., 2002; SILVA, C. A. D., 2002; COLOMBO e BAZZO, 2002; CALATAYUD, 2003; VERASZTO, 2004).

Contudo, antes de se adentrar nas implicações educacionais com maior ênfase, buscaremos detalhar um pouco mais essas duas principais tradições, para então finalizar o capítulo com a apresentação de uma nova direção que esses estudos vem tomando no âmbito acadêmico nos últimos anos. Para orientar essa revisão histórca, dentre diversos textos consultados, esta fundamentação é centrada na obra Ciencia, Tecnología y Sociedad, una introducción al estúdio social de la ciencia y la tecnología (GARCÍA et al, 2000), pois os autores GARCÍA, CEREZO & LOPES desenvolvem o assunto de forma detalhada e esclarecedora e bem parecida com nosso ponto de vista.

2.2. AS DUAS PRINCIPAIS TRADIÇÕES CTS

Segundo García et al (2000) a heterogeneidade dos estudos CTS, onde se pode encontrar filósofos, historiadores, sociólogos, antropólogos, pedagogos, economistas, físicos, não se deve unicamente à diversidade de disciplinas que provém os autores, mas sim a interesses distintos. Esses interesses podem ser divididos em duas frentes principais. Da sigla STS originada no inglês podemos partir nossa apresentação dois pólos distintos: a tradição européia de Science and Technology Studies (Estudos sobre Ciência e Tecnologia) e a tradição americana de Science, Technology and Society (Ciência, Tecnologia e Sociedade).

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Ambas as tradições buscam desmistificar a imagem tradicional de C&T ressaltando a importância das dimensões social e prática e opondo-se à visão de ciência como forma autônoma de conhecimento e tecnologia como ciência aplicada. Todavia, enfoques e objetivos diferentes relacionados à dimensão social proporcionaram o surgimento de características particulares em cada tradição.

A tradição européia coloca ênfase na forma em que os fatores sociais contribuem à gênesis e consolidação da C&T. O interesse dessa tradição nascida nas universidades européias é centrado na descrição de como participam da criação e aceitação das teorias científicas uma diversidade de fatores econômicos, políticos, culturais. Assim, é uma linha de pensamento centrada na explicação da origem das teorias científicas e, portanto, na ciência como processo. Somente depois de um tempo de existência dessa tradição, conforme apontam Pinch & Bijker (1987), foi que se buscou aplicar esquemas explicativos da ciência na tecnologia. Podemos apontar que consiste em uma tradição com caráter teórico e descritivo fundamentada em conceitos originados em argumentos relativistas da nova filosofia da ciência (GARCÍA, 2000).

Por outro lado, a tradição norte-americana enfatiza as conseqüências sociais das inovações tecnológicas e as influências dos produtos da C&T nas nossas formas de vida e organização social. Dentro dessa tradição a tecnologia é entendida como produto com capacidade para influenciar as estruturas e dinâmicas sociais e a ciência não passa de um elemento de reflexão post hoc, subordinado ao estudo do desenvolvimento tecnológico. Contrapondo com a tradição européia, fortemente enraizada em marcos teóricos, a tradição americana tem um caráter muito mais prático e um importante alcance valorativo que faz sentir sua presença em reflexões éticas e de cunho educacional, destinando especial interesse à democratização dos processos de tomada de decisões nas políticas tecnológicas e ambientais. Tendo em vista o caráter prático, essa tradição busca fundamentação teórica em autores como Ortega, Heidegger, Ellul, Habermas, etc, trazendo seu marco de compreensão estruturado em disciplinas como História da tecnologia, Teoria da educação, Ética, Ciências Políticas e Filosofia Social.

Abaixo, segundo García et al (2000) segue um resumo dessas duas tradições no Quadro 3.1 e no Diagrama 3.1, onde se pode perceber as diferenças entre ambas.

Referências

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