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Mana vol.6 número2

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Academic year: 2018

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(1)

P ro f e s s o r-titu la r d e lin g ü ística d o M a s-sa ch usetts Institu te of Tech n olog y (M I T) , F e rra ri P. Wa rd Profe ssor in M od e rn La ng u ag e s a nd Ling uistics n a qu e la in s-titu içã o a té a su a a p ose n ta d oria e m 1999 e e x-p re sid e n te d a Lin g u istic So-cie ty of Am e rica (L S A), Ken H ale é um a da s prin cip a is a utorid ad e s mu n dia is e m lín g ua s a u tóctone s d a Am é rica d o N orte , Au strá lia e Am é rica C en tra l. N o de -c o rre r d e su a -ca rre ira te m sid o u m a ti-vista in flue nte e m p rol d a s líng u a s in d í-g e n a s. Se u tra b a lh o te órico sob re a e s-t rus-tura arg u m en s-ta l d os n úcle os ve rb a is, d e se n volvid o e m u m a sé rie d e a rt i g o s e m cola b ora çã o com J a y Ke yse r (M I T) , te m re ce b ido p a p e l d e de sta qu e n a lin -g ü ística -g e ra tiva n e ste fin a l d e sé cu lo.

Em m a rço d e 2000 Ke n H a le veio ao Rio d e J a n e iro, a con vite d o Se tor d e Lin gü ística do Dep a rta m e nto d e An tro-polog ia d o M u se u N a ciona l/U F R J, p a ra min istra r d ois cu rsos na confe rê ncia “ A E s t ru tu ra d a s Lín g u a s Ind íg e n a s Bra si-le ira s” , re a liza d a d e 17 a 29 d e m a rço, e m Pe tróp olis, RJ , com o p a trocín io d a We n n e r G re n Fou n da tion , da q u a l ta m -b é m p a rticip a ra m os p ro f e s s o re s M a ya Hon d a (Whe e lock Colle g e ), M ich e l De -G r a ff (M I T) e Wa yn e O ´N e il (M I T). N a -qu ela oca sião, conce de u e sta e n tre v i s t a a Lu cia n a St orto, su a e x-orie n ta n d a , re spon de n d o às pe rg u ntas d ire t a m e n t e em port u g u ê s .

S t o r t o

Eu q u e ria in icia r com a su a in fâ n cia n o Arizon a , on d e você con h ece u povos in-díg e na s d esd e pe q ue n o.

H a l e

Eu na sci e m C h ica g o, m a s nã o m e lem -b ro d e lá . Fui cria do n o Arizon a . Qu a n-do a lgu é m m e p e rg un ta d e on d e ve n ho, s e m p re d ig o q u e é d o Arizon a , p orq u e é o local com o q ua l me ide n tifico. M e u p a i tin h a u m a fa ze n d a q u e fica va a 12 k m d a fron te ira m e xica n a . E lá h a via m uita g en te qu e fala va d u a s líng ua s – o e spa n hol e o ing lê s. Q u a n d o, a ind a p e-q u e n o, ou vi o e sp a n h ol, m e in te re s s e i m u ito p elo fa to d e q u e e xistia m m u ita s líng u a s no m un d o – e u n ão sab ia q u a n -ta s. Ta mb é m h a via u m g rup o in d íg e n a qu e vivia pe rto – os Pap a g o. Qu an do as p e ssoa s d e C a n e lo, on d e e u vivia , ti-nh a m re laçõe s com os Pa pa g o, e ra com a ve n da e a com p ra de ga d o. Um a ve z, a os d e z a n os, e u e sta v a con ve rsa n d o com u m com p a n h e iro d e e scola , e e le me disse q u e a prima d ele fa lava pa p ago. Esta foi u ma id éia m u ito in tere s s a n -te p a ra m im : a p ossib ilid a d e d e q u e u ma p essoa q u e n ã o e ra p ap a g o p u d es-se fa la r p a p a g o. Alg u n s m e es-se s d e p ois e u e sta va com e le e e le m e a p re s e n t o u à su a p rim a . Eu p e rgu n tei: com o se d iz, por e xe m p lo, “ e u q ue ro comp ra r g ad o” e m p a p a g o? E e la d isse “ Aa ñ a ñ ta cu m a n t o h a -n ola w t g h aiw a ñ” . Esta se n-te n ça foi tã o b o n ita p a ra m im , q u e e u te n tei dom in a r a fra se . De p ois, q u a n d o

E N T R E V I S TA

DI V ERSI D ADE E U N I V ERSA LI D ADE

LI N GÜÍ STI CA

Ke n H a le

(2)

e u e sta va n a e scola se cu nd á ria em Tu c-son , h a via m u itos Pa p a g o n os cu rsos q u e eu fazia , e eu ten te i a pre n d e r a lín -g u a com e le s. Pa ra e le s isso e ra u m a coisa m u ito su rp re e n d e n te , p ois os ou -t ros b ra ncos nã o -tinh a m in-te re sse. M eu p a i te ve q u e ve n d e r a fa ze n d a p orq u e e u tin h a u m irmã o d oen te , e p re c i s á v a -m os d e d in h e iro p a ra p a g a r o h osp ita l. A e scola on d e e u e stu d a va e m C a n e lo e ra m u ito p e q u e n a , e m e u p a i p e n sou q u e se ria d ifícil p a ra m im e stu d a r e m u ma e scola se cun d á ria g ran d e. Por isso e le m e m a n dou pa ra um a e scola p e q ue -n a -no -n orte d o Arizo-na q ue se ch a ma va Ve rd e Va lle y Sch ool. E sta e scola fo i u m a in ve n ção d e a lgu é m q ue tin h a tra -b a lh a d o n o F o re ign Se rv i c e s. Ele tin h a a id é ia d e q u e g u e rra s p od e ria m se r e vita d a s se p e ssoa s d e vá ria s ra ça s e g r u p os é tn icos vive sse m ju n ta s – b oa id é ia . Exa ta m e n te n o a n o e m q u e e sse e xpe rime nto com eçou , eu fui p ara lá . A m a d rin h a d a Sa lly e ra u m a in te le ctu a l q u e con h e cia o ta l h om e m , e e la con -ve nce u m eu p ai d e qu e eu d e-ve ria cu r-sa r esr-sa escola (e u conh e ço a Sally, m in h a e sp osa , d esd e pe q ue ino). Me u cole -g a d e q u a rto n o p rim e iro a n o e ra hopi. N o se g u n do a no, m e u cole g a de q u a rt o e ra je m e z (lín g u a fala d a no N ovo M éxi-co). N a e scola se cu nd á ria, con he ci um a p e ssoa q u e n ã o e ra n a va jo, m a s fa la va com o na tivo. Ele tam b é m tin h a in tere sse e m lín g u a s, e e u a p re n d i m u ito n a -va jo com e le . Eu já e stu d o n a -va jo h á m a is d e cin q ü e n ta a n os, p orq u e d e sd e e n tã o com e ce i a e stud a r a líng u a se ria -m e n te . De p ois d a e scola se cu n d á ria , tra b a lh e i e m u m h osp ita l d e d ica d o e x-clu siva m e n te a os N a va jo q u e tin h a m t u b e rcu lose . Eu fu i con tra ta d o com o e d uca dor de a d ultos. Eu nã o sa b ia n a d a s o b re isso, m a s um a coisa qu e im ag ine i p u de sse fa ze r m u ito b e m pa ra e le s, e ra tra d u zir ca rta s q u a n d o e le s q u ise sse m m a n d a r u m a ca rta à re s e rva on d e

vi-via m , q u e e ra m u ito lon g e d e Tu c s o n . A p ren di, d eva gar, a e nte n der o qu e q u e riam d izer aos p are n te s d e les. Ele s fa la -va m n a -va jo, e e u e scre via e m in g lê s, e q u a n d o vin h a a re sp osta , e u tra d u zia . Eu a p re n d i m u it o n a va jo a ssim , e isso m e p e rm itiu d e p ois u sa r a lín g u a n o m estrad o q u e fiz e m In dia n a.

S t o r t o

Wa yn e O ´N e il m e d isse q u e você sou -b e a tra vé s d e a lg u é m q u e e m In d ia n a tin h a u m cu rso d e lin g ü ística , e q u e vo-cê ch e g ou lá , se m n e n h u m a form a ç ã o n a á re a d e lin g ü ística , q u e re n d o fa ze r o m e stra d o...

H a l e

Q u a n d o e u fu i p a r a u m co n g re sso d a

(3)

e-D I V ERSI e-D Ae-D E E U N I V ERSA LI e-D A e-DE LI N G Ü Í STI CA 1 4 9

g a m os o ca rro, e n os m u d a m os p a ra In d ia n a . Lá t in h a u m p rog ra m a d e lin -g ü ística p e q u e n o, e e le s m e re ce b e ra m m u ito b e m . Po u ca s p e ssoa s q u e ria m e stu d a r lin g ü ística . Era m u it o b a ra to, p orq u e e ra u m a e scola e sta d u a l. Eu d e -cid i fica r. A p rim e ira a u la q u e e u tive foi “ Fon ê m ica ” com T h om a s S e b e ok . H a via ou tro e stu d a n te d e C a rl Vo e g e -lin q u e e stu d a va h op i te w a , o te w a q u e se fa la n o Arizon a (os Te w a m ora m n o N ovo M é xico, m a s h á n o Arizon a u m g ru p o q u e sa iu d o N ovo M é xico 300, 400 a n os a trá s, fu g in d o d os e sp a n h óis). Por e le tra b a lh a r n o Arizon a , tín h a m os a lg o e m com u m , e e le m e e n sin ou m u i-to – m a is q u e o p rofe ssor.

S t o r t o

En tã o você já fa la va na vajo q u an d o de -cid iu estu da r lin gü ística...

H a l e

Eu já sa b ia b a sta n te n a va jo p ara pod e r d ize r coisa s. Se você m e p e rg u n ta r co-m o se d iz a lg o e co-m n a va jo e u se i, co-m a s n ã o d ig o q u e fa lo n a va jo, p orq u e fa la r im p lic a m u ito m a is con h e cim e n to d a cu ltu ra e d o p ro ce sso d o d iá log o – q u an d o ca lar, qu an d o fa la r – d o q u e te n h o. Eu d ig o q u e n ã o se i fa la r p ort u -g u ê s p orq u e q u a n d o soa o te le fon e e u n ã o se i o q ue d izer – a lô, b om , b om dia – n em com o, e n qu a nto u ma pe ssoa q u e fa la a lín g u a sa b e o q u e d ize r. E q u a n -d o -d u a s p e ssoa s ch e g a m ju n ta s a u m a p o rta , e q u e ro d ize r p or e xe m p lo “ y o u f i r s t” , n ã o se i com o se d iz isso e m p or-tu g u ê s. C oisa s com o “ b e m y g u e st” , “a g e b e fore b e a u ty” , e ste tip o d e coisa , n ã o se i. Em in g lê s, e sp a n h ol e w a rlp iri, se i. Por isso q u a n d o m e p e rg u n t a m q u a n ta s lín g u a s e u fa lo, e u d ig o q u e sã o trê s. Wa rlp iri é m u it o fá cil, n e sse se n tid o, p orq u e ch e g a n d o à p orta , n ã o te m p orta (risos)...

S t o r t o

O q u e se e stu d a va n a u n ive rsid a d e q u a n d o v ocê e n trou p a ra o m e stra d o e m In dia na ?

H a l e

As te orias b loomfie ld ia n as, estru t u r a l i s-ta s. Pa ra m im, n a qu e la ép oca , a ling üís-tica e ra p a rte d a a n trop olog ia . H a via q u a t ro su b á re a s d e n tro d a a n tro p o l g ia : arqu e olog ia, ling ü ística , a ntro p o l o-gia social e a n tropolog ia física.

S t o r t o

E e xistia m vá ria s ou tra s u n ive rsid a d e s com De p a rta m e n tos d e Lin g ü ística n a -q u e la ép oca ?

Hale

Pou ca s. H a via Yale , M ich iga n e Be rke -l e y. Be rk e-le y e ra m uito b om pa ra a - lin-g ü ística e p a ra o tra b a lh o d e ca m p o, p o rq u e a M a ry Ha a s e sta va lá , e o gru-p o d e la tin h a mu itos a lu n os e stu d a n d o a s lín g u a s d a C a lifórn ia e ou tra s ta m -b é m . H a via u m m ovim e n to a fa vor d a s líng u a s in d íg en a s por p a rte dos ling üis-ta s. Gran d e p a rte dos lin gü isüis-ta s n os Es-ta d os Un id os tra b a lh a va com lín g u a s in d íg e n a s. Eu m e g ra d u e i e m a n tro p o-log ia e e n tre i n o m e stra d o de lin g üística e m 1955. M in h a te se foi sobre o n a va jo, q u e na q ue la é p oca já era u m a lín -g u a e scrita. Ele s tin h am um jorn a l m e n-sal, de on de e u tire i os da d os pa ra fa zer o m e stra d o. De p ois, com e ce i a tra b a -lh a r lin g ü istica me n te sob re o p a p a g o. Eu já fa la va a lín gu a , n o se ntid o de q u e p od ia d ize r coisa s, m a s como o p a p a g o nã o tin h a e scrita, te ria sid o m u ito d ifícil e u fa ze r m e u m e stra d o sob re e la , p or-q u e e u te ria or-q u e com e ça r d o ze ro p a ra cole ta r d ad os.

S t o r t o

(4)

é p oca , ou a s e scola s d a s á re a s in d íg e -n a s a i-n d a e -nsi-n a va m e xclusiva m e -n te o i n g l ê s ?

Hale

H a via u m m ovim e n to n os a nos 40 e 50, e m a lg u m a s com u n id a d e s in d íg e n a s – N a va jo, Siou x e H op i –, n o se n tid o d e p r od u zir m a te ria is p a ra come ça r u m a e d u ca ção b ilíng ü e . Ma s n os an os 50, n a a d m in istra çã o Eise n h ow e r, tu d o isso q ua se acab ou , com a a doçã o de u m pg rama chamad o “t e rm in a t i o n”. Esse p ro-g ra m a tin h a ro-g ra n d e se m e lh a n ça com u m a n te rior, “ th e a lotm e n t p ro g r a m ” , e m q u e se p ro c u rou m u d a r a n a tu re z a d a re la çã o e n tre o Esta d o e os ín d ios. Antes disso, a rela çã o e ra d e u ma na ção, os Esta d os Un id os, com ou tra s n a çõe s d om é sticas – de p e nd en te s, ma s com au -ton om ia . O p rog ra m a d e “ a l o tm e n t” p rete nd ia a ca b a r com e ssa a u ton omia , e p ara ta n to ten tou d ividir a s te rra s d os ín d ios e m lote s, pa rce la s d e 160 a cre s (ca d a fa m ília re ce b e u u m a á re a ). Re su lta -d o: os ín-d ios p er-de ra m m ais -d e 50% -de sua s te rra s. Ele s n ã o p od ia m vive r com p a rcela s tão p eq u en as. Foi um d esa stre . O p rog ra m a te rm in ou n os a n os 2 0, n a a d m in istra çã o d e J oh n C ollie r, q u e foi “ c om i ss i on e r of in d ia n a ff a i r s” . N a a d -m in istra çã o d e le , os g ru p os volta ra -m a te r gove rn os a utônomos. Isso g ara ntiu a t e rra q u e a in d a p ossu ía m . Nos a nos 50, com o e u d izia , a m e sm a p olítica foi im -p lan tad a, sob o nom e d e “t e rm in a t i o n ” , ou se ja , o fim d a re la çã o trib o-gove rn o . C om e ça ram com os M en omin i, Koasa ti, Kla m ath e outros – foi d esa stroso. O p ro-g ra m a foi in te rrom p id o p or ca u sa d os p rote stos d os ín d ios. Ag ora , volta ra m a te r u ma n oção ma is fa vorá ve l, de q ue os índ ios seria m n a çõe s d om é stica s q u a se ind e p e n de n te s. C om o e u e stava d ize n -d o, h ouve u m p erío-do em q u e te n ta ra m fa ze r a lg o sob re a e d u ca çã o b ilín g ü e . Isso te rm in ou n os a n os 50, p or ca u sa

d e ssa p olítica d o g ove rn o. N o fin a l d os 60, o p rim e iro p rog ra m a d e e d u ca çã o b ilín g ü e com e çou com os N a va jo, e m Rou gh Rock (C hé ch ’ízh í), e m 1968. De -le p a rticip a ra m , prin cip a lme n te , a ntro-p ó log os, com o a sse ssore s, m a s a lg u n s lin g ü ista s ta m b é m . Eu p a rticip e i com o a ca dê mico. O p rog ra m a ia de sd e a p ri-me ira sé rie a té o se g u n d o g ra u . Até os d ois p rim e iros a n os d e form a çã o u n i-versitá ria (c o ll e g e s) foram inclu ídos, n o caso d os N a va jo. N o a n o pa ssad o, o N a -va jo C omm u nity Colleg e tornou-se u m a u n ive rsid a d e , com cu rsos d e q u a tro a nos. As e scola s na s á rea s in d íg en a s na q u e la é p oca e ra m e n sin a d a s p or b ra n -cos, m a s h oje e m d ia a lg u n s g ru p os já tê m , p ossive lm e n te , u m a m a ioria d e p ro f e s s o res in d íg e na s.

S t o r t o

Q uand o você de cid iu ir para a Au strália?

Hale

(5)

D I V ERSI DAD E E U N I V ERSA LI D A DE LI N G Ü Í STI CA 1 5 1

do De pa rta m e n to n o Novo M é xico, e n -tão e u e stu de i com os a ntrop ólog os – a rqu eologia , a n tropolog ia socia l e tc. Sen -d o -d o Arizon a , g osto mu ito -d o -d e se rt o , e gosto d a g e n te qu e vive lá – os Pap a -go, por e xe mp lo. Um dia , e u e stava e m um cu rso do p rofessor W. W. H ill, e spe -cia lista e m cu ltu ra m a te ria l, q u e tin h a coloca d o e m u m ch a p é u , p a ra sort e a r e n t re os a lu n os, vá rios n om e s d e lu g a -re s n o m u n d o. Tín h a m os q u e e sc-re v e r u m tra b a lh o sob re “ socie d a d e , cu ltu ra e m e io a m b ie n te ” n a á re a d o m u n d o qu e sorte am os, e e u p e g ue i a Au strá lia C e n tra l: os Ara n d a (a g o ra se e scre v e A rre rnte ). C om e ce i a le r sob re e le s, e fiqu e i m u ito inte re ssa d o, p ois e ra m g e n -te d o d e se rto. Eu d e cid i q u e se fosse p ossíve l e u g osta ria d e tra b a lh a r com e le s. Q u a n d o volte i p a ra In d ia n a , p a ra con tin ua r me u s e stud os lá, tive a possi-b ilid a d e d e p e d ir u m a possi-b olsa d a N a tio-n a l Scie tio-n ce Fou tio-n d a tiotio-n (N S F) p a ra fa -ze r um e stu do da s lín g ua s da Austrália . Em 1959 fu i p a ra a Un ive rsid a d e d e S i d n e y, on d e e sta va C a p e ll. Ele e ra u m a b oa p e ssoa , sa b ia m u ito, e tin h a trab a lh a d o com m u itas líng ua s (m ais ou m en os com o o Aryon Rod rigu es n o Bra sil). Ele m e d isse q ue se ria difícil tra ba -lh a r n a Au strá lia C e n tra l p orq u e e ra o t e rritó rio d e Stre h l o w, o filh o d e u m m ission á rio lu te ra n o q u e e ra o d ire t o r d a m issã o d os Ara n d a d o oe ste . O p a i tin h a fe ito tra b a lh os m u ito b on s, e o fi-lh o fa la va a ra n d a d e sd e cria n ça , com o lín g u a q u a se ma te rn a . Fa la va a le m ã o, q u e e ra a lín gu a d e ca sa , ing lê s e a ran d a . Eu n ã o a cre d ita va n e ssa d ificu ld a -d e , e p or isso -d e ci-d i ir p a ra a Au strá lia Ce ntra l trab a lh a r com ou tras líng ua s. A Sa lly foi p a ra lá de p ois.

S t o r t o

Você tin h a u m a b olsa da N S Fp a ra vive r na Au strá lia C en tra l?

Hale

Sim , m a s os ch e q u e s n ã o ch e g a ra m . Sou be m os d e pois qu e a se cre tá ria tin h a fica d o lou ca , e e sta va jog a n d o tod a a c o rre sp on d ên cia n o lixo. O in te re s s a n t e é q u e o b a n co d a Au strá lia C e n tra l – h a via u m só b a n co lá – con fia va e m m im q u a nd o e u d izia q u e p re cisa va d e m a is d in he iro em p re stad o porq ue m e us ch e q u e s n ã o e sta va m ch e g a n d o. Isso d u rou un s se is me se s. O m undo era m u i-to m a is g e n til n a q u e la é p oca . Estu d e i ou tra s lín g u a s, m a s e ra im p ossíve l nã o e stu d a r o a ra n d a , p o rq u e e ra a lín g u a m a is pre se nte n a re g iã o. Fica m os lá um a n o. De p ois, via ja m os p or m u ita s p art e s d o N orte e N ord e ste . A m e lh or e xp e -riê n cia p a ra n ós fora m os trê s m e se s q u e ficam os em M orn in g ton Isla nd , on-d e se fa la la ron-d il – u m p a ra íso. N a Au s-trá lia C e n tra l e stu d e i a ra nd a ocid e n ta l, a lya wa ra (u ma lín g u a d a m e sm a fa m í-lia , fa la d a m a is n o N ord e ste ) e o u tra s d e ze sse is lín g u a s p róxim a s d o a ra n d a .

S t o r t o

O leitor d eve e star se pe rgu ntando com o você p od e te r con se g u id o d a r con ta d e ta n ta s lín g ua s. Qua l a sua metod olog ia?

Hale

(6)

ve rb os e ora ções, p ara ve r se en con tra -va con cord â n cia e ora çõe s a d ju n ta s. Q ua n do eu d isp u n h a d e ma is te m po, le -va -va cole g a s e a ju d a n te s. Um d e le s foi G e o ff O ’G ra d y, q u e e ra u m e stu d a n te d e C a p e ll. O u me lh or, e le me convid ou e fom os ju n tos a ca m p o p a ra e stu d a r a s lín g u a s d o oe ste d a Au strá lia . Q u a n d o e le e ra a d ole sce n te , tin h a a p re n d i d o u m a lín g u a re la cion a d a com w a rlp iri, m a s n o ou tro e xtre m o d a g a m a d e lín -g u a s q u e com e ça n a Au strá lia C e n tra l e va i a té o O e ste . Fize m os u m a via g e m m u ito lon g a ju n tos. C om e ce i e m Alice Sp rin g s, qu e e stá n o ce n tro d a Au strá lia , e fu i a t é Po rt Ag u s ta , o n d e o e n -c o n t r e i. An d a m os 5.000 m ilh a s -cole - cio-n a cio-n d o lício-n g u a s. Poste riorm e cio-n te , e le foi e stu d a r com C a rl Voe g e lin , e d e p ois d e se torn a r lin g ü ista , foi tra b a lh a r n a C olu m b ia Britâ n ica . De d ico u su a ca rre i -ra à cla ssifica çã o h istórica d a s lín g u a s p a m a -n yu n g a n .

S t o r t o

Q ua n d o você com e çou a tra b a lh a r com os Wa r l p i r i ?

Hale

Eu n ã o sa bia q u ase na da sob re os Wa r l-p iri. Utilize i o h osl-p ita l l-p a ra com e ça r a p e sq u isa r a lín g u a . Tin h a u m ra p a z Wa rlpiri q u e tinh a sid o golpe a d o n a ca -b e ça q u a n d o tra -b a lh a va com a p olícia com o t r a ck e r, se g u in d o p e g a d a s d e p e sso a s. Eu com e ce i a tra b a lh a r com e le , e d e p ois d e a p re n d e r u m p ou co – d e pois d e d ois ou trê s e xem p los –, n ote i q u e tinh a o m esm o siste m a d o p a p a g o, u m a u xilia r d e se g u n d a p osiçã o. En tã o fiq u e i com m u ita vo n ta d e d e e stu d a r e ssa lín gu a . En con tre i u m a p essoa com q u em e u p od ia coop erar, o M ick J u pu r-ru la . Ele e ra m uito con siste nte , g ostava d o tra b a lh o lin g ü ístico. Eu m e in te re s-se i pe la cu ltu ra in te le ctu al d os Wa r l p i r i . Ele s d e se n volve ra m o siste m a d e p a

-re n te sco m u ito m a is d o q u e a g e n te . A o rd e m livre d a s p a la vra s e ra ou tra ca -ra cte rística in te re ssa n te q u e ta m b é m le m b ra va o p a p a g o. N ã o se e stu d a va m uita sin ta xe n a é p oca. Eu p en sa va , às veze s, q ue tin h a d ocum e n tad o a lín g ua d e p ois d e tra b a lh a r n e la u m a se m a n a . Eu fu i à Au strá lia e m 1959 e volte i e m 1961. C on se g u i, e n tã o, m e u p rim e iro e m p re g o e m lin g ü ística e m Illin ois, n o D e p a rta m e n to d e A n tro p olog ia , n o m esmo a no e m q ue Bob Le e s con se g u iu se u p rim e iro e m p re g o e m lin g ü ística . Bob Le e s e ra u m “ sold a d o” d a lin g ü ís-tica g e ra tiva – o p rim e iro a se g ra d u a r n o M I T. Ele me d isse q u e o tra ba lh o q u e e u fa zia com C a rl Voe g e lin n ã o se rv i a p a ra n a d a .

S t o r t o

Q u a n t o t e m p o le vou p a r a e le te con -ve n ce r?

Hale

(7)

DI V ERSI D AD E E UN I V ERSA LI D AD E LI N G Ü Í STI CA 1 5 3

tive a p ossib ilid a d e d e ir p a ra o Arizona . Volte i p ara lá. Um a coisa q ue m e in -t e re ssa va m u i-to e m Illin ois e ra o m é - to-d o a n trop ológ ico to-d e se cla ssifica r a s coisa s ou con ceitos d a s cultu ras – ela b ora -d o p or Bre n t Be rlin , Dwa yn e M e tze r e ou tra s p e ssoa s. O m é to d o con sistia e m se p e rg u n ta r a o in form a n te o se gu in te : “Wh at is th e re in th e world ?” . A p e ssoa re spon d e, p or e xe m plo, “ M e n, w ome n , cow s, d og s e tc.” . De p ois você p e g a u m a d e sta s p a la v ra s q u e ca te g oriza m u m su b g ru p o e p e rg un ta : “ Wh a t k in d s of cow s a re th e re in th e w orld ?” , e a s-sim p or d ia n te . Eu a ch a va e sse m é todo m uito in te re ssa n te, p orq ue a lín gu a q ue a p a re ce a tra vé s d e le é mu ito rica . Tr a -b a lh e i com u ma e q u ip e d e e stu d a n te s em pa p ag o. Dep ois de três an os e m Illi-nois sen d o u m g era tivista arrog a nte , fui p a ra o Arizon a tra b a lh a r n o De p a rt a m e n to d e An trop olog ia (a in d a n ã o h a -via De p a rtam e n to de Ling ü ística ) com o a n t rop ólog o Ed w a rd Dosie r, fa la n te d o te w a e m u ito a m ig o m e u . C om e ça m os a trab a lha r com o te w a , d e mos a u la s so-b re a g ra m á tica d a lín g u a , e e ra u m a coop e ra çã o m u ito b oa , a té q u e u m d ia e u re ce b i u m a ca rta e scrita p or M orr i s H a lle p e rg u n ta n d o se e u g osta ria d e ir pa ra o M I T. Eu a ceite i, m a s n ã o fui im e -dia ta men te , p orq u e tin h a re ce bid o um a b olsa d a N S F p a ra fa ze r tra b a lh o d e ca m p o n a Au strá lia . Te n d o lid o o livro A sp e c t s, d e C h om sk y, q ue a pa re ceu e m 1965 (a cóp ia qu e li e ra e m p re sta d a d e um a ntrop ólogo, O sw a ld We rn e r – li e m u ma n oite ), ocorre u -m e q u e e u p ode ria e xp lica r a e rg a tivid a d e se u tiliza sse um a reg ra de C h om sk y (um a d as re g r a s d e e xp a n sã o [e xp a n sion ru l e s] p a ra os sin ta g m a s ve rb a is). C h om sk y tin h a su -g e rid o q u e a p re se n ça d o e le m e n to

M A N(“ M a n e ira ” [M a n n e r]) p od ia d e -se n ca d e a r a m orfolog ia m a rca d ora d a pa ssiva, e n q u an to se m o M A Nt e r í a m o s u m a fra se a tiva . Eu tin h a e m m e n te a

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m é trica e q u e a p a la vra m ín im a d a lín g u a e qu iva le à u n ida d e m é trica cha ma d a de pé (du as mora s). Q ua nd o e u e stu -d ei lar-d il n ão sa b ia -disso – p e nsava q ue a s síla b a s q u e se a p a g a va m e ra m m a r-ca s d e con ju g a çã o d os n om e s. Escre v i s o b re isso, m a s p oste riorm e n te e n te n d i q ue n ão e ra a ssim . Dep ois de e ncontra r o g e ra tivism o, a solu çã o to rn ou se ób -v ia . Em 1967 com e ce i a tra b a lh a r n o

M I T, m a s já tin ha p erd ido a a rro g â n c i a , p o rq u e Sa lly me a visou : “Você n ã o p o-d e fa la r a os teu s a mig os qu e e le s sã o estú p id os”. Eu a ch o q u e eles m e contrata -ra m no M I Tp o rq ue e u p od ia tra ze r a d i-ve rsida d e lin gü ística pa ra lá. E 1967 foi u m a no ótim o n o M I T– e stávam os crian -d o u m a coisa n ova . H a j Ross, u m -d os m e l h o r e s lin g ü ista s d o m u n d o, e sta va lá . Houve u m rom pim en to d o p ro g r a m a g e ra tivista d o M IT com e le , p orq u e e le e sta va m u ito intere ssa do e m coisa s qu e , ob via m e n te , n ã o fa zia m p a rte d o p ro-g ra m a . Esse s rom p im e n tos se m p re a con te ce m , e m q u a lq u e r g ru p o. Eu p e n so q u e a ca d a se te ou d e z a n os a con te ce u u ma fa se d ife re n te n o M I T: p r i m e i ro foi o A sp e cts of th e Th e o ry of S y n t a x e m 1965. As id é ia s q u e com eça -ra m a se r d iscu tid a s a p a rtir d e ste livro fora m m u ito im p orta nte s. Por e xe mp lo, H u gh M a tth e w s, q ue tra b a lh a com lín -g u a s in d í-g e n a s e a -g ora vive com o s C ro w, a cha va q u e o siste ma de estru t u-ra ca te g oria l com re gu-ra s d e re e s c r i t u r a (re w r itin g ru l e s) n ã o se rvia p a ra lid a r com o fa to d e q u e o ite m le xica l te m tra -ços, e p or isso com e çou a u tiliza r u m siste m a m a is ou m e n os sim ila r a o q u e u sa m e m m orfolog ia; isso pe rmitia a e le d ize r q ue um ele me n to é u m n ome , se m te r q u e d ize r q u e é sin g u la r ou fe m in i-n o. Pod e -se ca ptar tod os os i-n om e s com o tra ço [N O M E]. Essa foi u m a m u d a n ça i m p o rt a n te . A sp e cts of th e Th e ory of S y n t a x foi u m d ivisor d e á g u a s p orq u e m u d ou a con ce p çã o d a re la çã o e n tre

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D I V ERSI D AD E E U N I V ERSA LI D A D E LI N GÜ Í ST I CA 1 5 5

S t o r t o

Você d e ve te r tid o d ificu lda d e s n o M I T, pois conh ecia u ma infin ida de de líng u a s e ima g in o q ue, con seq üe n te me nte, m u i-tos con tra -e xe m p los p a ra os p r i n c í p i o s h i p o t e t i z a d o s .

Hale

Sim. N o e n ta nto, a p osiçã o qu e eu a do-to q u a n d o e n con tro con tra -e xe m p los é ma n tê -los e m m e n te , m a s con tin u a r a tra ba lha r d e ntro da te oria . Esta posiçã o é a m e sm a u tiliza da p e lo C hom sky. N o tra b a lh o q u e J a y Ke yse r e e u fa ze m os, p or exe m p lo, se m pre en contra m os m ui-t os conui-tra-e xe m plos. Ele s m ovem o p ro-gram a . Sã o m uito im portan tes. Às ve z e s h á con tra -e xe m p los q u e n os força m a a b a n d on a r a h ip óte se in icia l, m a s e sta n ã o é a re gra .

S t o r t o

Eu ve jo a d ife re n ça e ntre g e ra tivista s e fu n cion a lista s com o, e m p a rte , um a d i-f e re n ça i-filosói-fica d e com o i-fa ze r ciê ncia . P a re ce -m e q u e a lg u n s fu n cio n a lista s n ã o con se gu em lid a r com con tra e xe m -p los. Um contra -e xem-p lo sign ifica a fa l-sifica çã o im e d ia ta d a te oria , e p or isso e le s p re f e re m n ã o form u la r h ip óte se s ra d ica is p a ra e vita r o p rob le m a ; d a í a ê nfa se n a d ive rsida d e e n ã o n a s se m e -lh a nça s e ntre a s lín gu a s.

Hale

Sim , e sta dife re nça e u ta m bé m note i, e ta lve z e sta se ja a d ife re n ça q u e va i fa ze r com q ue n u nca con sig a mos n os en -t e n d e r. M a s a id é ia q u e você -te ve , d e fa ze r u m a g ra n d e con fe rê n cia con g re -g a n d o -g e ra tivista s e fu n cion a lista s é n e ce ssá ria a q u i n o Bra sil. Um a coisa q u e m e p re ocu p a u m p ou co n o Bra sil sã o coisas d o tip o “ a qu ilo q u e fa ze m lá em Bra sília é ou tra coisa; nã o te m os na -d a a ve r com ele s”. Isso n ão é b om .

S t o r t o

Eu ta m b é m a ch o. Você n otou a lg o p a -re cid o q u a n d o a lin g ü ística e sta va se e stab e lece nd o nos Esta dos Un idos?

Hale

N os Esta d os Un id os p od e se r p ior. Por e xe m p lo, a lg u m as ve zes lin g ü ista s fu n-cion a lista s m e convid am pa ra p art i c i p a r d e u m a con fe rê n cia , m a s q u a n d o e u che g o lá , n ão me sin to mu ito à von ta de . Por e x e m p lo, e m 1 965, n o Lin g u istic In stitu te d a L S A, n o N ovo M é xico, fu i con vida do n ã o sei b e m p or qu ê . Porq u e e u e ra o p re sid e n te d a L S Ata lve z, m a s e u era o ú n ico re p re se nta nte da g e ra ti-va, e n ão me de i con ta disso. De p ois d e u m m ê s, com e ça ra m a fa la r ma l, e m co n ve rsa s p a rt i c u l a r e s, d o C h om sk y e da ge ra tiva . Ficou b em claro q u e e u es-ta va e m território inim ig o.

S t o r t o

M a s você a ch a im p orta n te p a ra a d e s-criçã o d e u m a lín g u a in d íg e n a q u e se con h e ça tod a s a q u e la s form a s d e d is-cu rso q u e se d isis-cu t e m n o fu n cion a lis-m o . . .

Hale

Sim . Q u a n d o p osso e n te n d e r o q u e e s-tã o fa ze n d o, g osto. O e stu d o d o discu rso é u m a p a rte d o n osrso tra b a lh o ta m -bé m . Por e xe m p lo, a pre n di m uito com o Te d Fe rn ald e m Sw a rt h m o re Unive rsity. Ele é se m a n ticista . Esta va d a n d o a u la s s o b re o discu rso e mostrou qu e e ste tem e s t ru tu ra , q u e h á n e le a lg o m u ito im -p o rtan te -p a ra e n te n de r a lín g u a . O sig-n ifica d o d os a rtig o s d e fisig-n id os e isig-n d e fi-nid os em na vajo, por e xem p lo.

S t o r t o

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Hale

Sim . M a s va le a p e n a tra b a lh a r com p e ssoa s d e ou tra s lin h a s. N ã o se i se co-n h e ço t od a a g a m a d e ico-n t e re sse s d a s p e ssoa s q u e fa ze m a n á lise d o d iscu rso, m a s e ste s te m a s con h e ço, e a ch o im -p orta n te s.

S t o r t o

Dep ois da fase d e G ov e rn m e n t an d Bin -d i n g , o q u e a conte ce u -d e n tro -d a te oria d e Prin cípios e Parâ me tro s ?

Hale

O m in im a lism o. A id é ia ce n tra l d o m i-n im a lismo te m e sta d o p rese i-n te o te m po t od o, m a s a g ora é con sid e ra d a com o ch a ve . O s d e ta lh e s n ã o sã o im p ort a n -tes. N ão se i o qu e qu e r dize r e sse ve rbo ch a m a d o d e “ ve zin h o” , p or e xe m p lo. Pod e se r q u e se ja im porta nte . Qu a nd o o C h om sky in trodu ziu isso e u p e nse i q ue e ra o ve rbo ma is a lto q u e n ós u tilizam os (H a le e Ke yse r) p a ra tra n sitiviza r, m a s n ã o é . Às ve ze s n ã o co m p re e n d o p or-q u e p re cisa m os d e ta n t os n ú cle os. É e vide n te pa ra m im , p or exe m plo, q ue a e s t ru tu ra se n te n cia l, a p ro je çã o e ste n d id a d o ve rb o , te m trê s n ú cle os re l e va n tes: le xica l, ba ixo e alto. E en con tra m os e vid ê n cia s d isso lín g u a a p ós lín -g u a . M a s te m os q u e a d m itir q u e e xis-te m ou tros e le m e n tos, p or e xe m p lo, os a d vé rb ios q u e d ã o e vidê n cia s d e ha ve r u m a h ie ra rq u ia m a is com p le x a d e n ú -cle os fun cion a is n a se n ten ça . O qu e po-d e m os fa ze r com os a po-d vé rb ios se só se a d mite a e xistê ncia de sses dois nú cleos fu n cion a is (b a ixo e a lto)? O s d a d os d e C inq u e, por exe mp lo, são in te re s s a n t e s e re a is, m as on d e ca b em d e ntro d a te oria ? Pare ce m nã o te r n ad a a ve r com fe -n ôme -n os com o C aso e Co-n cord â -ncia .

S t o r t o

Talve z h aja só d ois n íve is fun cion ais n a s se n te n ça s, m a s d e n tro d e ca d a u m , e m

u ma da d a líng ua , se ja possíve l ag re g a r-se um a ce rta ga m a d e r-semâ n tica .

Hale

Sim . O Chomsk y exp re ssou vá ria s ve z e s a n oçã o d e q u e m u itos sin ta g m a s sã o ad ju ntos, a cre sce nta d os de p ois d a d eri-va çã o. Ma s isso n ã o é com p a tível com a visã o d e Cin q u e , porqu e e le m ostra q u e alg u ns ad vérb ios tê m qu e e sta r e m ce r-ta s posiçõe s e sp e cífica s, já q u e tê m e s-cop o sob re ou tros. M in h a op in iã o é q u e isso p od e ser tota lm e nte se m ân tico. Por e xe m p lo, “ J oh n n e a rly d ie d im m e d ia -te ly” . N ã o é um b om e xe m p lo, m a s está c l a ro q u e “ im m e d iate ly” te m q u e e sta r n o e scop o d e “ n e a rly” . Isso te m a ve r com o se n tid o , p orq u e n ã o se p od e in -t e r p re -ta r u m a re la çã o e n -tre “ n e a rly” e o ou tro a d vé rb io in d e p e n d e n t e m e n te d a e stru tu ra d a se n te n ça . N e ste ca so, “ n e a rly” te m o sin ta g m a ve rb a l n o se u escopo e “ im me d iate ly” m od ifica o ve r-b o “ d ie d ” . Existe ou tra in te rp re t a ç ã o , u m p ou co d ifícil d e p e g a r, se g u n d o a q u a l a se n te n ça in te ira e stá n o e scop o d e “ im me dia tely”. Ma s em “ J ohn n e a r l y d ie d ye ste rd a y” , a n a tu re za d o a d vé r-b io te m p ora l fa cilita a inte rp re taçã o d e q u e a p rop osiçã o “ J oh n n e a rly d ie d ” está n o escop o d o ad vérb io. As e stru t u-ra s d e “ J oh n n e a rly d ie d im m e d ia tely” e “ J oh n n e a rly d ie d ye ste rd a y” sã o d i-f e re n te s, coisa q u e é i-fá cil d e ou vir n a e n to n a ç ã o. A ssim , a s e st r u tu ra s va -ria m com a s re la çõe s d e e scop o, e e s-ta s tê m a ve r com a se m â n tica , n a m i-n h a op ii-n iã o. E t u d o iss o p o d e ria se r con siste n te com a n oçã o d e q u e os a d -vé rb ios sã o a d ju n tos, in visíve is p a ra os fe n ôm e n os g ra m a t ic a is co m o C a so e C o n c o rd â n c i a .

S t o r t o

(11)

D I V ERSI D AD E E U N I V ERSA LI D A D E LI N GÜ Í ST I CA 1 5 7

Hale

Sim . E a lg u n s a d vé rb ios tê m u m a se -m ân tica qu e p er-m ite q u e ap a reça -m e -m vá ria s p osiçõe s. “ H a p p ily J oh n le ft” (e m q u e h a p p ily e stá a d ju n g id o à ora -çã o tod a ) q u e r d ize r q u e n ó s e s t a m o s con t e n te s com o fa to d e q u e e le sa iu , m as “ Joh n le ft h a p pily” (on d e o ad vé r-b io foi a d ju n g id o a o sin ta g m a ve rr-b a l) q u e r d ize r q u e e l e e sta va . Em 197 2, J a c k e n d o ff fe z um trab a lh o m u ito in sti-ga n te sob re esse a ssun to.

S t o r t o

Você q ue r fala r u m p ou co sob re o ge ra -tivism o e o fun cion alismo – a su a d efini-çã o d este s te rm o s ?

Hale

Nã o se i m u ito. Se e u tive sse q ue d efinir fu ncion a lism o, se ria a ssim : fu n cion a lista s exp lica m a e xistê ncia d e pro p r i e d a -d e s lin g ü ística s p e la fu n çã o q u e e la s tê m q u e sa tisfa ze r. Isso n ã o é m u ito in -comp a tíve l com o q u e d iria m os g e ra tivista s, q u a n d o d ize m os q u e u m a rg u -m en to te -m q ue se -mover p ara sa tisfaze r alg u m tra ço, por e xe m plo, m a s p a ra nós isso é u m a coisa g ra m a tica l, u m a e xi-g ê n cia d a fa cu ld a d e d e lin xi-g u a xi-g e m , e nã o um a fu n çã o q u e e stá fora d a lín gu a . Pa ra os fu n cion a lista s a e xistê n cia d a pa ssiva , p or e xe mp lo, é ju stifica da p ara qu e possa m os coloca r o a rg u m e n to e m u m a p osiçã o a ce ssíve l a o d iscu rso, ou a lg o a ssim ; é u m m otivo q u e e stá fora da g ram á tica .

S t o r t o

Ag ora , ta n to os g e ra tivista s q u a n to os fu ncion a lista s a cre d ita m q u e e sse s mo-tivos tê m a ve r com a m a n e ira com o o c é re b ro h u m a n o fu n cion a . M a s n o g e -ra tiv ism o, a p e n a s, le va -se a sé rio a id é ia d e q u e h á n o cé re b ro u m a e sp e -cia lizaçã o pa ra a ling ua g em , um “órg ã o da ling u ag e m ”.

Hale

N ã o p osso fa la r p e lo s fu n cion a list a s, ma s se e u fosse u m fun ciona lista e u di-ria q u e h á m otivos fora d a g ra m á tica m e sm a q u e t ê m e fe itos n a form a g ra -m a t ica l, e q u e e sse s p rin cíp ios – p or e xe m p lo, os prin cíp ios d o d iscu rso – sã o u n ive rsa is. Se fosse a ssim , se ria p ossí-ve l e n con tra r ca sos n os q u a is a lg u m discu rso n ão p od e existir. Q u e r dize r, n o e stu d o d o d iscu rso d e ve ria h a ve r u m a f o rm a d e m ostra r q u e ce rtos d iscu rsos nã o sã o b e m forma dos.

S t o r t o

E n ã o se fa z isso n o fu n cion a lism o?

Hale

N ã o se i, n ã o con h e ço b e m , m a s p od e se r q u e isso se ja o con te ú d o d os p rincíp ios d a con ve rsa çã o d e Grice . Um d iá -log o n o q u a l u m d os p a rticip a n te s n ã o coop era pode se r d e scrito com o m a l m a d o. E os se m a n ticista s ta m b é m form u la form sua s h ip óte ses d e forform a q u e se -ja m fa lsificá ve is. O tra b a lh o d e Ire n e He im , po r e xe m p lo, é u m tra b a lh o q u e se p od e e nte nd e r d e u m p on to d e vista q u a se fu n cion a lista , m a s n e le p od e -se dize r qu e há e stru tu ra s de d iscu rso q u e são m a l form a d as.

S t o r t o

Você p od e ria fa la r u m p ou co sob re o pa p e l d a sem â n tica n a lin g ü ística g e ra-tiva ? O Ch om sk y e scre ve u d esd e o in í-cio q ue a se m â ntica esta ria fora da g ra-m á tica , ta lve z p a ra e vita r lid a r cora-m a s-su n tos q u e e le n ã o sa b ia com o t ra ta r. H oje e m d ia a se m â n tica é u m a d a s á re a s q u e m a is cre sce m n a g e ra tiva . O qu e m u d ou de lá p ara cá ?

Hale

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-çã o e ntre a fon é tica e a g ra m á tica . M a s e u a ch o q u e a n oçã o p rin cip a l d e se m â n tica q u e te m os ag ora d e ntro d a ge -ra tiva é a n oçã o de “fu ll in te rpre t a t i o n ” ( i n t e r p re ta çã o p le n a ). Isto é u m a coisa d i f e r e n te d a se m â n tica fu n cion a lista , p or e xe m p lo. N ós, g e ra tivista s, te m os q u e p e n sa r e m a lg u n s a ssu n tos d e se m â n tica com o foca liza çã o, top ica liza çã o, qu e são te m a s com os q u ais os fun -cion a lista s tra b a lh a m , e n ã o sa b e m os e xa ta me n te com o e ste s fe n ôm e n os in te ra g em com a e stru tu ra. Q u an d o e stu -d a m os a gram á tica , e -d izem os coisa s -do tipo: “ e sta fusã o n ão va i con ve rg ir”, e s-ta m os fa la n d o d e u m a se m â n tica a tri-b u íd a a tra vé s d os e le m e n tos fu n d id os. Isto é dife re nte d a se m â ntica qu e tem a ve r com m ovim e n to d e sin ta g ma s p a ra foca liza çã o ou top icaliza çã o. Este s fa tos sã o m a is difíce is d e e xplica r. Por exe m-p lo, a d ife re n ça e m a ce n to q ue im m-p lica u m a in terp re ta çã o d e foco ou tópico e m fra se s co m o J O H N d i d n ’t d o it / J oh n d i d n ’t D Oit / J ohn d idn ’t d o T H AT. N ã o te m os m u ito o q u e d ize r sob re isso. Al-g u ma s ve ze s usa m os e sse tip o d e d a d o p a ra te star outra coisa, m a s nã o lid am os com o e fe ito se m â n tico d o a ce n to n o q u e diz re sp e ito a foco e tóp ico.

S t o r t o

Fa le u m p ou co sob re a d ive rsid a d e d o g ê n e ro h u m a n o v e rs u s a u n ive rsa lid a -d e -d o g ê n e ro h u m a n o -d e u m p on to -d e vista ling ü ístico.

Hale

Sim. Sem pre estam os ten tan do d em ons-tra r o fu ncion a m e n to de p rin cíp ios u n i-ve rsa is, o q ue é m u ito im p orta nte . M a s, p ara mim, é fu ndam en ta l tam bém o fato d e q ue cad a lín gu a tem algo d iferen te – re strin g id o p or p rin cíp io s u n ive rsa is, m a s a in d a a ssim d ife re n te . Pa ra m im , e m contraste com outros ge ra tivista s, se-ria m u ito im porta n te e n te n de r a s

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tem p o re spe itar os prin cíp ios un ive rsais qu e e n con tra mos n a s ou tra s lín g u a s? É esp antosa a dive rsida de q ue vem de um con jun to fin ito d e p rin cíp ios. P a re ce p a-ra d oxa l, m a s isso a con te ce p o rq u e os princípios não têm n ada a ver com a re a -liza çã o e xa ta ou p re cisa d e u m a co isa . N ã o te m os q u a se n e n h u m a líng u a e m q ue o su je ito d e u m a ora çã o p r i n c i p a l c o n c o rd a com o ve rb o d a su b o rd i n a d a ; isso só p ode ria a conte ce r q u an do a ba r-re ira e n tr-re a s ora çõe s fosse e lim in a d a . Ma s n as se nte nça s cau sa tivas em miski-tu (m isum alpan), isso acontece. O s princípios lim ita m ce rta s relaçõe s e n tre ob -je tos. De n tro do vasto terr itório d e coisas q u e p od e m a con te ce r, q u a se nã o há li-m ite s, p orq u e u li-m a g ra n d e p a rte d e la s não te m nada a ver com os p rin cípios. O princípio d a a rb itra rie d a d e do sig n o d e S a u s s u re indica -n os qu e a d ive rsid ad e é q u a se in fin ita . O fa to d e q u e e m in g lê s dize m os “ d og ” e e m portu g uê s “cã o” é um exem plo. Praticam ente a me sm a coi-sa ocorre n a g ramá tica. A re a l iz a ç ã o p re-cisa, ou e xa ta, d e a lgum a coisa nã o te m a ve r com p rin cíp ios u nive rsa is. Some n-te a s re l a ç õ e s p od e m se r lim ita d a s p or princíp ios u n iversa is.

S t o r t o

Ta lve z e ste ja n e ste p on to o ce n tro d a d i s c ó rd ia e n tre o fu n cion a lism o e o g e -ra tivism o, já q u e o p rim e iro te m com o ob je tivo d ocu m e n ta r a d ive rsid a d e e o ú ltim o o q u e é ún ico. Por te r e ste objetivo, ta lve z os g e ra tivista s te n h a m a lg u -m a cu lp a e -m te r d e ixa d o e -m se g u n d o p la n o a d iv e rsid a d e . Por e xe m p lo, sã o p ou ca s a s te oria s d e C a so q u e lid a m com todos os tipos d e siste m a s d e Ca so q u e ocorre m n a s lín g u a s h u m a n a s. O tra ba lho que você d esen volve u e m cola -bora çã o com M a ria Bittn e r, e m q ue vo-cê s d ã o con ta d a va rie da d e dos siste ma s d e C a so e C on cord â n cia q u e o corre m nas lín gu as do mu n do, é u m a e xceção.

Hale

Sim. M a s é im p re ssion a n te sa b e r, a p e -sa r d e tu do isso, qu e a p ren d e m os ta nto s o b re lin g ua ge m h um a n a som en te atra-vés d o e stu d o do in glê s.

S t o r t o

O q u e ta lve z n ã o sou b é sse m os se n ã o h ou ve sse e xistid o u m C h om sk y. M a s a g ora , fa le u m p ou co sob re e rg a t i v i d a-d e e n ã o-con fig u ra cion a lia-d a a-d e , os a-d ois te m as q u e ta lve z m a is te nh am m arc a d o sua ca rre i r a .

Hale

A ra zã o p e la q u a l e stou e n volvid o com este s te m as, é p orqu e a s lín gu as com as q u a is lid o tê m e ssa s p rop rie d a d e s. N o ca so d a n ã o-con fig u ra cion a lid a d e , n ã o te n h o con se g u id o com u n ica r m in h a s id é ia s. A id é ia d e q u e e u m a is g osta va no início tin ha a ver com a existê n cia d e du as re p re se n ta çõe s gra ma tica is: a p ro-je çã o le xica l e u m a se g u n d a p ro j e ç ã o q u e e u ch a m e i d e “ p h r a se stru c t u re ” , utilizan do um term o já mu ito com um . A p roje ção le xical, n ecessaria me nte , coin-cid e com a e stru tura arg u me nta l d efin i-d a p e los e lem en tos le xica is, q ue r i-d ize r, os n úcleos le xicais (sob retu do os verb os e ou tra s ca te g oria s q u e proje ta m pre d i-ca d os). Ne sse e stá g io se sa tisfa zia o P P

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i-m e n tos d e sin ta g i-m a s, a p a rtir d e u i-m a o rde m bá sica. N a s lín g ua s n ãoconfigu ra cion a is, a o con trá rio, a s ord e n s d ife -re nte s era m bá sicas. É p or isso q ue um a sen te nça com o “ Wh oi did [h isi m o t h e r ] love ti” é agramatical no inglês, mas não é ag ram atical no w arlpiri. A ra zã o é q ue a form a çã o d a se n te n ça e n volve movi-m e n to no in glês, viola nd o o p rin cíp io d e We a k Cro s s o v e r. N o w a rlp iri n e n h u m m ovim e n to d e slo ca a p a la vra Q U- p or cim a do p ron om e na expressão “his moth er” . Evidê ncia um p ou co ma is dra má -tica foi in trodu zida p ela lin gü ista na va jo Ella vin a Tsosie Pe rk in s, e m u m cu rso q ue e la min istrou em 1976, na Un ive rsi-d a rsi-d e rsi-d o Arizon a . Ela n otou q u e u m a se n te n ça com o (tra d u zin d o lite ra lm e n -te ) “ [on -te m m e n in o m e n in a viu -R E L] b e ija rá ” te m , d e n tre outra s, a in te rp re -tação “ O me n in o b eijará [a me nin a q u e viu onte m ]” . Se o na va jo fosse u m a lín -g u a con fi-g u ra cion al, e sta se n te n ça se ria u m a viola çã o d a Co n diçã o C d a Te o r i a d e Liga m en to, porq u e o suje ito d e “b ei-ja rá ” (o p ron om e n u lo p ro) fica ria e m u m a p osiçã o on d e c-com a n d a ria u m a e x p re ssão R, q ue r d izer, a e xp re ssã o “ o m e n in o” com a q u a l é co-re f e re n c i a l . N ã o há n en hu m prob lem a se o nava jo é u ma lín gu a n ã o-con fig uracion al, p orq u e os a rg u m e n tos a u tê n ticos do ve rb o sã o os q u e a p a re cem n a e stru tu ra lexica l, e e sse s a rg u m e n tos n ã o e n tra m e m re l a -çõe s tip o c-com a nd o com as e xpre s s õ e s n om in a is e xp lícita s n a re p re s e n t a ç ã o “ p h r a se stru c t u re ” . Essa id é ia “ n ã o voou ” (n ã o p e g ou ), com o d ize m os n os Esta d os Un id os, m a s p ou co de p ois, e m 1984, Eloise J e line k ve io com u m a hipó-tese mu ito m e lh or. Ela prop ôs q ue e xis-te u m a cla sse d e lín g ua s, ch a ma d a s d e “ Lín g u a s d e Arg u m e n to P ro n o m i n a l ” , n a q u a l os a rg u m e n tos d e u m ve rb o con siste m n a m orfolog ia d e p e ssoa e n ú m e ro (e , à s ve ze s, g ê n e ro). N e ssa s lín gu a s, os arg u m en tos verd a d e i ros e n

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movime nto na sin ta xe – e sta s sã o a s lín -g u a s m orfolo-g ica m e n te e r-g a tiva s. N a ép oca e u p e n sa va q ue e sse siste ma e ra h istorica m e n te re la cion a d o a o siste m a em d yirb a l. O te rc e i ro tip o de líng u a, eu d e s c re vi com o te n d o in ve n ta d o u m a pa ssiva nova (qu e d e pois ve io a se r cha m ad a d e an tip assiva). Ha via , a ind a, lín -g ua s n a Au strá lia q u e tin h a m siste m a s cin d id os, ou se ja , e m q u e m a is d e u m siste ma coe xistia (a yirre re n g e , u m tip o de a ra nd a ).

S t o r t o

M u d a n d o d e a ssu n to, você q u e r fa la r u m p ou co sob re a q u e stã o d os d ire i t o s dos povos in díg en a s e se u tra b a lh o com lín g u a s e m pe rig o de e xtinçã o?

Hale

Sim . Como você sab e , n o m un d o tem os m a is o u m e n os 6.000 lín g u a s, e d e la s, m eta d e está e m p e rig o, p ois as cria n ça s n ã o e stã o m a is a p re n d e n d o a lín g u a . N o sé cu lo q u e ve m , a e xtin çã o a ting irá as 3.000 lín g u as re sta ntes, exceto a q ue -la s q u e tê m e xé rcitos e Esta d os. H á du as ra zões p ela s qu a is p e nso qu e é im-p o rta n te tra b a lh a r com com u n id a d e s q u e e stã o te n ta n d o re sg a ta r a lín g u a . Um a d e la s é o q u e ca d a lín g u a p od e con trib u ir p a ra o con h e cim e n to d a Lin -g u a -g e m (-g ra má tica u n ive rsa l). A ou tra é q u e, com o você sa b e, m uitas comu n i-d a i-d e s in i-d íg e n a s, n ã o a p e n a s a q u i n a s Am é rica s, m a s ta m b é m n a Au strá lia e na África , e stã o te n ta nd o re sga ta r su a s lín gu a s. É um dire ito q u e e las tê m: p rot e g e r, re virota liza r o se u p a rotrim ôn io lin gü ístico, porq u e é u m a p arte da vida in -tele ctu al d a com un ida d e , é u m te sou ro , u m a coisa q u e d e ve m t e r a ch a n ce d e g u a rd a r. Por isso, cre io q u e os lin g ü istas q u e e stã o tra b a lh an d o com um a lín -g u a d e ve m e n volve r-se n os p ro -g r a m a s e m fa vor d a sob re vivê n cia ou re v i t a l i-za çã o da líng u a .

S t o r t o

Q u e r fa la r u m p ou co d a su a e xp e riê n -cia com o tre in a m e n to d e fa la n te s n a ti-vos com o lin g üista s?

Hale

Em 1964 e sta va tra b a lh a n d o com u m fa la n te d e p a p a g o , e e le a p re s e n t o u u m a solu çã o, d ize n d o “ p a ra e n te n d e r e sta p a la vra , você te m q u e le va r e m con ta e sta outra form a” . Eu p e n se i, “ e le te m ra zã o” . Era u m a soluçã o m u ito so-fistica d a . Eu d e cid i, n a qu e le m om e n to, q u e ia d e ixa r o tra b a lh o d e ca m p o. Eu n ã o tinh a in tu içõe s. Ele sim , tin h a . C o-m e ce i a tra ba lha r n o M I T, e M orris Hal-le ch e fia va um De p a rta m e n to on d e um lin g üista q u e e le con sid e ra sse b om po-de ria fa ze r o qu e q uise sse . Aí e u tro u x e e ssa p e ssoa , A lb e rto Álva re z, p a ra o

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1970 tra ba lh ei n a form a çã o d e u m m ic-m ac, ic-ma s ele teve q ue p a ra r p or ra zõe s f a m i l i a res. Dep ois d isso con se gu i tra ze r P a u l Pla te ro (n a va jo), La Ve rn e J e a n n e (h op i), Ella vin a Pe rk in s (n a va jo) e Lor-ra in e H on ie (n a va jo) p a Lor-ra fa ze r se u s d ou tora dos. Pa u l e La Ve rne vie ra m p a -ra o M I T, e Ella vin a con se g u iu se r a d -m itid a n a Unive rsid a de d o Arizon a . Eu p e n sa va q u e u m lin g ü ista d e ve ria tre i-n a r fa la i-n te s, e tra b a lh e i d e p ois com m icma c, se n e ca , w in n e b a g o, a té 1987, q u a n d o fu i tra b a lh a r n a N ica rá g u a , s e m p re com a id é ia d e forma r fa la n te s com o lin g ü ista s. A O fe lia Ze p e d a , fa -la n te d e p a p a g o, com q u e m tra b a lh e i e m 1976/ 77, h oje n ã o só te m e m p re g o n a Un ive rsid a d e d o Arizon a , com o re -ce b eu o p rêmio M a cArt h u r.

S t o r t o

Você a ch a q ue esse m od elo se ap licaria a o Brasil?

Hale

Referências

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