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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo PUC-SP Rosália Monteiro Mota Trabalho Docente e Saúde Estudo de caso realizado no Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais

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PUC-SP

Rosália Monteiro Mota

Trabalho Docente e Saúde

Estudo de caso realizado no Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais

Mestrado em Ciências Sociais

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Rosália Monteiro Mota

Trabalho Docente e Saúde

Estudo de caso realizado no Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais

Mestrado em Ciências Sociais

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo-PUC/SP, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Ciências Sociais, no Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais, sob a orientação da Profa. Dra. Maria Helena Villas Boas Concone.

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P. 08: onde se lê STEVE, leia-se ESTEVE;

P.08: onde se lê “Britto, 2008, apud Jesus, p.15”, leia-se “BRITTO, 2008 apud JESUS, p. 15” P.27: onde se lê “CNT”, leia-se “ CNTE”

P.53: onde se lê “19 DE novembro”, leia-se “19 de novembro”

P.57: onde se lê “O mal-estar docente pode ser ocorrer por fatores primários ou secundários” leia-se “ O mal-estar docente pode ocorrer por fatores primários ou leia-secundários”.

P.60: nota de rodapé: onde se lê “3737”, leia-se “37”.

P.65: onde se lê “educadores que atuam com na educação”, leia-se “educadores que atuam na educação”.

P. 66: onde se lê Domingues (2004), leia-se Amigues(2004) P. 70: onde se lê “para se”, leia-se “para que”

P.103 onde se lê (Santos e Lima Filho), leia-se Santos e Lima Filho(2005)

Referências citadas:

Na página 131 incluir:

ARROYO, Miguel G. Ofício de Mestre: imagens e auto-imagens. Petrópolis, Vozes, 2009.

CIF. Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde. Organização Mundial da Saúde/Direção Geral da Saúde. Lisboa, 2004.

Na página 132, incluir:

DECRETO 6.833, de 29 de abril de 2009: Institui o Subsistema Integrado de Atenção à Saúde do Servidor Público Federal-SIASS e o Comitê Gestor de Atenção à Saúde do Servidor. Disponível em < http://www.siapenet.gov.br>.

Na página 134 incluir:

SANTOS, Flávia Luiza Nogueira e LIMA FILHO, Domingos Leite. Mudanças no Trabalho e o Adoecer Psíquico na Educação. Artigo Científico, disponível em < http://www1.universia.com.br.>. Acessado em 15 de setembro de 2010. Curitiba, 2005.

Excluir referências duplicadas nas páginas 131,132 e 134 abaixo:

P.131

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MG.2009.Dissertação de Mestrado.

P.134

SILVA, Flávia Gonçalves. O professor e a Educação: entre o prazer, o sofrimento e o adoecimento. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo-PUC/SP. São Paulo, 2007.

Referências comentadas (incluir)

Na página 135:

REVISTA BRASILEIRA DE SAÚDE OCUPACIONAL. Vol. 30 nº. 112, São Paulo, 2005.

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Banca Examinadora:

_______________________________________

_______________________________________

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À Direção Geral do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais ( CEFET-MG), na pessoa do Professor Flávio Antônio Santos que ofereceu todo o apoio logístico necessário, desde a parceria inicial com a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo/PUC-SP, até a conclusão do curso, e possibilitou a realização deste Estudo de Caso na Instituição.

À Ana Lúcia, pelo empenho na elaboração e aprovação do projeto que resultou no MINTER/PUC-SP.

A todos do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais que colaboraram para a realização deste trabalho dispondo de informações imprescindíveis.

À Profa. Dra. Maria Helena Villas Boas Concone, minha orientadora, pela confiança incondicional, por acolher meu projeto que se tornou produção acadêmica, e também, por aceitar o desafio de desbravar outros campos do saber.

Aos Professores do Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo pela atenção e ensinamentos.

Aos Professores que compuseram a Banca de Qualificação pelas valiosas contribuições.

Aos professores do CEFET-MG, companheiros de trabalho, sujeitos que imprimiram suas histórias nestas páginas, expondo suas experiências, e que colocam afetividade no seu fazer diário e seguem suas trajetórias iluminados pela esperança e pela crença de que vale a pena prosseguir.

Aos amigos, Vandeir e Rosália Oliveira, pelo apoio nos momentos cruciais, e pela crença de que o trabalho docente pode ser realizado em ambientes onde a humanização das relações seja constituída, diariamente, em todas as suas dimensões.

Ao querido Rogério, que contribuiu para dissipar os muitos momentos de tensão com a sua peculiar sabedoria mineira e por compartilhar alguns sentidos de ser professor,

constituídos na sua breve e (in) tensa vivência como docente em Minas Gerais.

À minha família, em especial aos meus amados Almir, Vítor e Diana, marido e filhos, pelo carinho e apoio de sempre.

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RESUMO

O foco desta dissertação é o trabalho docente e a relação entre essa atividade e a saúde dos professores. Como o quadro que aí se delineia é complexo, e seria também impossível, ou falacioso traçar um quadro generalizado do perfil e do trabalho docente e suas condições, optamos, por realizar um estudo de caso ancorado em pesquisa qualitativa, tomando o campus I de Belo Horizonte do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais como o

locus da investigação. Esta escolha se mostrou bastante estratégica dado que aquela Instituição reúne cursos tanto de nível médio profissionalizantes, quanto de graduação e de pós-graduação, apresentando, por isso, um amplo quadro docente; o perfil dos seus professores é bastante diversificado quanto à formação, áreas de atuação, tempo de atuação na Instituição, tempo de atuação no magistério, condições de trabalho, entre outros aspectos. Nosso objetivo foi o de verificar quais são os impactos das condições de trabalho, no CEFET-MG, sobre a saúde docente. Para realização desta pesquisa, utilizamos a técnica de entrevista semi-estruturada e análise de documentos. Foram entrevistados docentes que fazem parte do quadro permanente em Regime de Dedicação Exclusiva, de diferentes áreas e disciplinas e com tempo variável de magistério. Foram realizadas, igualmente, entrevistas com professores em cargos de coordenação e profissionais do setor Médico-Odontológico; também foram consultados documentos pertinentes ao tema. O levantamento bibliográfico mostrou um interesse crescente, embora bastante setorizado, sobre as questões que envolvem o trabalho docente. A nossa pesquisa revelou a existência de professores envolvidos com o trabalho em sala de aula e em projetos de pesquisa, com alto grau de qualificação, satisfeitos com a escolha da profissão e dispostos a permanecerem nessa condição. Contudo, os relatos dos docentes, cotejados com as entrevistas realizadas no Setor Médico-Odontológico da Instituição, revelam sinais de desgaste e adoecimento, sobretudo pelas condições atuais que envolvem a estrutura organizacional e as exigências laborais crescentes às quais precisam se adequar. A literatura relativa ao trabalho docente em geral, aponta os mesmos sinais de desgaste e adoecimento. No caso da Instituição estudada nesta Dissertação, desgaste e valorização da profissão se alternam nos mesmos depoimentos, revelando o envolvimento dos professores, o que permite sugerir a promoção de discussões e a implementação de políticas de curto, médio e longo prazo com o objetivo de valorizar o quadro funcional docente. Acreditamos que a Instituição tenha potencial e recursos humanos para investir na valorização da saúde docente em todas as suas dimensões.

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ABSTRACT

The focus of this Dissertation is the teaching profession and the relationship between this activity and the teachers’ health. As the picture that emerges is complex, it would also be impossible or fallacious to draw a generalized picture of the teachers’ profile, their teaching profession and their working condition. For this, we decided to realize a study case anchored in a qualitative research, by choosing The Federal Center of Technological Education of Minas Gerais – CEFET-MG, Campus I from Belo Horizonte, as the locus of this research.

This choice seemed to be strategic as the Institution offers mid-level professional, undergraduate and graduate courses. Therefore, as a large teaching staff is presented, the teachers’ profile is diversified as to the graduation and training area, the performance area, the working time, the teaching time and the working conditions in the Institution, among others. Our target was to verify which are the impacts of the working conditions at CEFET-MG on the teachers’ health. For this research, the semi-structured interview and the document analysis were used. Teachers who are part of the permanent staff in full-time basis, from different areas and disciplines and with variable time teaching, were interviewed. Besides, teachers who work as coordinators and as Medical Dental professionals were also interviewed and relevant documents were consulted. The literature review has shown a growing interest, although by sector, on issues involving the teaching profession. Our research revealed that there are teachers involved in the classroom teaching and in research projects, with a high degree of qualification, who are pleased with their professional choice and willing to remain in that condition. However, reports from teachers, in comparison to the interviews held in the Medical Dental Department of the Institution, show signs of wear and illness, especially due to the current conditions surrounding the organizational structure and the increasing of labor demands, to which they need to adapt. The literature on teaching in general shows the same signs of wear and illness. In the case of the Institution studied in this Dissertation, wear and professional valorization alternate in the same narratives, revealing the involvement of teachers and that enable us to suggest some debates and the implementation of policies for short, medium and long term in order to enhance the teacher headcount. We believe that the Institution has both potential and human resources to invest in the enhancement of the teachers’ health in all its dimensions.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 8

1. A TRAJETÓRIA PROFISSIONAL DA PESQUISADORA E OBJETIVO DA PESQUISA ... 8

1.1 A TRAJETÓRIA DA PESQUISA NO CEFET-MG ... 19

1.2. O SUPORTE TEÓRICO ... 23

1.3. ESTRUTURAÇÃO E APRESENTAÇÃO DA DISSERTAÇÃO ... 28

CAPÍTULO I ... 29

1. ESPAÇOS DE ATUAÇÃO DOS DOCENTES NO CEFET-MG ... 29

1.1. A ESTRUTURA ORGANIZACIONAL E OS DESAFIOS DO COTIDIANO NO CEFET-MG ... 31

1.2. DIVERSIDADES, SATISFAÇÃO E ADVERSIDADES NO CONTEXTO DE TRABALHO 39 1.3. A SAÚDE E AS CONDIÇÕES DE TRABALHO ... 44

CAPÍTULO II ... 53

A SAÚDE DOCENTE EM QUESTÃO ... 53

CAPÍTULO III ... 71

3. ENTRE O IDEAL, OS DESAFIOS, A REALIZAÇÃO E AS EXIGÊNCIAS DA PROFISSÃO 71 3. 1 A REALIZAÇÃO FRENTE AOS DESAFIOS DA PROFISSÃO ... 72

3.2. A RECENTE INSERÇÃO NO CEFET-MG: OS IDEAIS, AS CRÍTICAS E O DESEJO DA PERMANÊNCIA NA PROFISSÃO ... 86

3.3. O PRAZER DE SER SOCIALMENTE ÚTIL, A REALIZAÇÃO E O DESEJO DA PERMANÊNCIA NA PROFISSÃO ... 92

3.4. A (DES) HUMANIZAÇÃO NAS RELAÇÕES DE TRABALHO E A TENTATIVA DE SE RECONSTRUIR DIARIAMENTE ... 97

3.5. O SER PROFESSOR: UM EXERCÍCIO DIÁRIO DE PACIÊNCIA E TOLERÂNCIA ... 103

3.6. A DEDICAÇÃO EXCLUSIVA EM TEMPO INTEGRAL ... 109

3.7. O TRABALHO DOCENTE SOB O OLHAR DA INSTITUIÇÃO ... 118

Gráfico demonstrativo da situação dos Docentes do Campus I com mais de quinze dias de afastamento ... 126

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 128

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INTRODUÇÃO

1. A TRAJETÓRIA PROFISSIONAL DA PESQUISADORA E OBJETIVO DA PESQUISA

Esta pesquisa tem como sujeito o professor e os múltiplos papéis desempenhados por ele em decorrência das muitas e exigências que se atualizam constantemente, transformando seus ideais, relacionamentos, seu trabalho, sua saúde e suas esperanças.

É num dado lugar, sob o olhar atento dos outros, que o professor vai desenvolvendo seu trabalho, e como ser social, ele precisa da aprovação desse outro para sedimentar uma imagem positiva de si mesmo: alunos, escola, família e a sociedade como um todo avaliam constantemente o trabalho docente; tudo indica que há algum tempo , tal avaliação não é feita de modo a permitir a construção de uma imagem cercada de respeito, ao contrário, tem sido comum associar a figura do professor ao mau desempenho discente ou à violência, seja na condição de vítima, ou seja na condição de quem promove a violência contra seus alunos.

A imagem atual que o professor tem de si está condicionada pela exigência de posturas requerida pela sociedade. Entre o ideal da função de professor, requerido tanto pelo sistema, como pelos alunos (e seus familiares) e pelo próprio aspirante à função de educador, e as condições que o mercado de trabalho impõe, perdura um espaço de tensão que ocasiona um nível de estresse elevado, pressionando para baixo a eficiência da atividade docente. (STEVE, 2009, apresentação, p. 08)

Não se trata aqui de traçar um perfil desse profissional de modo extremado, elevando-o à celevando-ondiçãelevando-o de vítima elevando-ou enaltecendelevando-o-elevando-o, sem celevando-onsiderar elevando-os limites em que ele atua socialmente, onde imprime a sua marca e escreve a sua história por meio de seu trabalho: é preciso conhecer o cenário em que o professor trabalha e compreender seus limites, seus potenciais e as possibilidades de melhor responder às demandas que se apresentam na contemporaneidade.

Sobre o trabalho e seus desdobramentos, é importante destacar que é necessário haver satisfação na execução das tarefas que são próprias de cada ofício; havendo esse sentimento de satisfação e bem-estar, o trabalho se torna recompensador individual e coletivamente. No trabalho docente, esses sentimentos podem ser traduzido como:

A motivação e a realização do professor, em virtude do conjunto de competências (resiliência) e de estratégias (coping) que este desenvolve para conseguir fazer face

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O interesse e a definição do tema estão ligados às minhas vivências como professora de História na Rede Federal de ensino em três regiões diferentes do Brasil: no Pará ,na Escola Técnica Federal do Pará, hoje Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Pará, e no Núcleo Pedagógico Integrado, hoje Escola de Aplicação da Universidade Federal do Pará, ambas instituições localizadas em Belém; em Pernambuco, no Centro Federal de Educação Tecnológica de Pernambuco, CEFET-PE, hoje Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco, em Recife; e em Minas Gerais, no Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais- CEFET/MG, em Belo Horizonte, onde leciono História desde 2007.

A minha inserção no magistério aconteceu em 1984 quando eu ainda era estudante de História na Universidade Federal do Pará. A idéia de ser professora estava ligada às ótimas experiências que tive na escola em que estudei que, era para mim, um lugar especial, de muito saber, onde ocorriam profundas transformações na vida das pessoas a partir do conhecimento e onde predominava o respeito pelos professores. Desse modo, imaginava que as escolas eram assim, com aquela estrutura e organização da minha escola, onde se permitia ao professor falar e se fazer escutar.

No Ensino Médio, cursei o Magistério e obtive a habilitação para lecionar no Ensino Fundamental, de primeira a quarta séries; na graduação, cursei História e, posteriormente, o bacharelado em Direito. Mantive a primeira escolha como opção profissional, apesar do grande interesse pelo Direito, porque ser professora me trouxe realizações, mas muitos outros sentimentos, dentre os quais, uma inquietação constante que fez com que eu me indagasse, o tempo todo, se as situações difíceis, vivenciadas no exercício da profissão, seriam consequência de uma inabilidade pessoal para lidar com certas adversidades, ou se eu estaria assumindo individual e solitariamente responsabilidades que precisavam ser compartilhadas e divididas com outros colegas de profissão. E também, por todos os outros sujeitos que faziam parte do contexto em que eu desempenhava meu trabalho, incluindo aí os recursos humanos de um modo geral e os gestores dessas instituições. Nesse sentido, vim sedimentando a convicção de que numa instituição de ensino, deve haver um trabalho integrado em que os recursos humanos possam dividir as responsabilidades respeitando-se as especificidades e o valor de cada função, de cada profissional, desde o pessoal da portaria, que recepciona a todos que procuram pelos serviços da escola, até o gestor de maior hierarquia.

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silenciamento ou resignação diante dos desafios que a profissão docente me trouxe nessas décadas de ensinar e aprender continuamente.

Aquela idéia de sofrimento, sacerdócio e abnegação, ainda presente no imaginário social e introjetada por muitos professores, deve ser combatida e superada, porque é um equívoco advogar a idéia de que trabalho docente e sofrimento devam ser sinônimos. Isso seria naturalizar as condições de trabalho inadequadas e a dor desses profissionais; seria como aceitar um determinismo, uma sentença condenatória, negando a capacidade de resiliência diante das vicissitudes: “ Já houve um tempo em que se considerava o magistério, ou, mais especificamente, o trabalho docente, um sacerdócio a que os abnegados profissionais da educação deviam se dedicar quase estoicamente”. (ESTEVE,1999, apresentação, p.07). Felizmente o silêncio sobre as condições adversas enfrentadas pelos professores está sendo rompido, e esta pesquisa segue nessa direção, para que nossas vozes sejam ouvidas em toda sua amplitude e que possam potencializar o inconformismo na perspectiva da esperança e da transformação.

Ao concluir a Licenciatura em História, visando à complementação dos estudos, obtive o título de Especialista em Metodologia e Pesquisa Histórica pela Universidade Federal do Pará-UFPA (1989) e Especialista em Ensino de História pela Universidade Federal Rural de Pernambuco-UFRPE (2005). Esses e muitos outros investimentos fizeram, continuamente, parte da minha trajetória profissional, com o objetivo de manter a motivação e os conhecimentos atualizados.

O envolvimento com o trabalho, assim como a permanência na profissão, são fatores que precisam ser construídos diariamente, e resultados positivos independem de apenas um sujeito:

O trabalho, para que seja realizado satisfatoriamente e para que cumpra seu papel equilibrador, requer o estabelecimento de vínculos específicos com determinadas classes de objetos: instituições, pessoas, instrumentos, organizações. Esses vínculos, no caso desse estudo, são entendidos como o conjunto de relações que o professor estabelece com a escola e com o trabalho docente, e que dependem da combinação das características pessoais do professor, das formas de organização e funcionamento da escola, do grupo e do contexto social em que ambos (professor e escola) estão inseridos. Quando a organização do trabalho docente e a qualidade das relações estabelecidas dentro do grupo (incluindo-se aí o resultado obtido com o trabalho em sala de aula) não correspondem aos valores e expectativas do professor, este se vê diante da dificuldade de estabelecer ou manter a totalidade de vínculos necessários ao desempenho de suas atividades no magistério. (BUENO e LAPO, 2001, p. 36).

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tiveram um aspecto positivo, que foi o de constatar que as minhas inquietações e problemas de sala de aula não eram exceções, ao contrário, muitos colegas tinham queixas comuns que iam desde a divisão do trabalho, até o resultado final, que implica a aprovação ou reprovação dos alunos.

Outro aspecto relevante daqueles momentos foram as experiências positivas de trabalho relatadas, que alimentavam a certeza da existência de caminhos no sentido da satisfação mútua de alunos e professores. Porém, esses caminhos precisariam ser percorridos de modo que as responsabilidades pudessem ser compartilhadas e que tivessem um caráter de solidariedade entre todos os envolvidos naquele processo.

Alguns estudos recentes indagam por que nos tornamos professores, todavia cabe complementar essa interrogação, questionando o que nos mantém nessa condição, o que nos motiva a dar o próximo passo e como é possível prosseguir, com expectativas positivas, transformadoras, no cenário atual de precarização, com condições de trabalho degradantes.

Acerca desse cenário, Oliveira (2004) aduz que as reformas educacionais pelas quais passaram o Brasil e demais países da América Latina, nas últimas décadas, transformaram as condições do trabalho docente, tornando-as mais adversas. Indica a necessidade de uma produção bibliográfica voltada ao estudo dessas condições e às formas de resistência manifestas nas organizações escolares, onde ocorre a reestruturação do trabalho docente e há lacunas que precisam ser preenchidas.

Relembra que na década de 1960, houve, no Brasil, o compromisso institucional de que a educação alcançasse as exigências do padrão econômico fordista, inseridas no ideário nacional-desenvolvimentista: buscava-se a ampliação do acesso à escolaridade, na expectativa de que isso promovesse a mobilidade social individual ou coletiva, isto é, perseguia-se a redução das desigualdades sociais por meio da educação.

Na década de 1990, o Estado alterou aquele paradigma, com reflexos na organização e na gestão da educação pública: as mudanças seguiram rumo aos imperativos da globalização. Tais mudanças coadunaram-se ao projeto nacional de educação voltada a uma equidade social. Nesse contexto, a formação escolar com vistas à empregabilidade tornou-se a meta do novo projeto de educação, estando implícito, nisso, não apenas a redução das desigualdades, mas também o controle da pobreza e o estímulo à produtividade:

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As reformas, no Brasil, conforme a autora, estão explicitadas na nova configuração das redes de ensino público, cujas gestões, impregnadas das teorias administrativas, incluem, no campo pedagógico, conceitos de produtividade, eficácia, excelência e eficiência.

Essas reformas (Oliveira, 2004, apud Carnoy, 1992) nos remetem à Conferência

Mundial sobre a Educação para todos, realizada em março de 1990, em Jomtien. Ali, os países em desenvolvimento assumiram o compromisso de expandir a educação básica possibilitando às populações em situação vulnerável adquirir os meios de enfrentar a pobreza e prover a sua própria sobrevivência.A educação para a equidade social resultou em ações de inclusão das populações desassistidas, havendo ampliação do atendimento, sem que os investimentos tenham sido ampliados na mesma proporção como afirma a autora:

A expansão da educação básica realizada dessa forma sobrecarregará em grande medida os professores. Essas reformas acabarão por determinar uma reestruturação do trabalho docente, resultante da combinação de diferentes fatores que se farão presentes na gestão e na organização do trabalho escolar, tendo como corolário maior responsabilização dos professores e maior envolvimento da comunidade. ( OLIVEIRA,2004,p.1.131).

Essa responsabilização imputada aos docentes lhes dá uma visibilidade indesejada, caso as metas não sejam alcançadas pelos exames nacionais de avaliação regulamentados, assim como se o próprio desempenho institucional não for o esperado. Vêem-se ainda, premidos a assumir diversos papéis que extrapolam sua competência, formação, e que presumem o domínio de novos saberes e novas práticas: “Agente público, assistente social, enfermeiro, psicólogo, entre outras. Tais exigências contribuem para um sentimento de desprofissionalização, de perda de identidade profissional”. (OLIVEIRA, 2004, p. 1.132 apud

Noronha, 2001). Essa desqualificação e desvalorização tendem a atingir a autonomia dos professores, interferindo nas suas ações, como sujeitos no seu fazer profissional, seja na concepção das prioridades atinentes ao ensino, seja na própria organização do seu trabalho: o professor tende a se ver como um executor daquilo que não foi concebido por ele.

As novas exigências pedagógicas e administrativas, das organizações escolares, têm gerado insegurança e incertezas, sobretudo porque as demandas multiplicaram-se; no entanto, as condições de trabalho não se adequaram às reformas estabelecidas. Acrescentem-se a esses problemas, outros componentes dessa precarização, tais como:

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previdenciárias oriunda dos processos de reforma do Aparelho de Estado têm tornado cada vez mais agudo o quadro de instabilidade e precariedade do emprego no magistério público. (OLIVEIRA, 2004, p.1140).

Há diversas razões pelas quais nos tornamos professores: nessa escolha, está incrustado um ideal. Não se trata apenas do nosso ideal, da nossa auto-imagem enquanto professores, mas do ideal e expectativas que os outros constroem sobre o papel que desempenhamos na sociedade onde estamos inseridos: o olhar dos outros sobre nós age como um instrumento que serve para validar ou não a nossa escolha; a opinião dos outros não é tudo, porém tem um grande peso: funciona como uma espécie de reconhecimento social que motiva para o trabalho e estimula a permanência na profissão quando atesta o bom desempenho e valor do profissional avaliado. Sobre o desempenho satisfatório, a cada época os parâmetros vão sendo modificados e os docentes tentando a adequação necessária para se encaixar no perfil que outros estabelecem para eles.

A trajetória percorrida pelo docente vai consolidar ou desfazer, no todo ou em parte, aquela idéia inicial sobre a escolha da profissão e os ideais traçados preliminarmente:

Diversos trabalhos biográficos, na maioria das vezes realizados por formadores no âmbito das disciplinas de formação inicial, permitem identificar experiências familiares, escolares ou sociais, citadas pelos alunos-professores, como fonte de suas convicções, crenças ou representações, freqüentemente defendidas como certezas, em relação com diversos aspectos do ofício de professor: papel do professor, aprendizagem, características dos alunos, estratégias pedagógicas, gestão da classe etc. (...) Vários professores falaram da origem infantil de sua paixão e de sua opção pelo ofício de professor. Muitos professores, particularmente as mulheres falaram da origem familiar da escolha da carreira, seja porque provinham de uma família de professores, seja porque essa profissão era valorizada no meio em que viviam. Outros falaram da influência de seus amigos professores na escolha de sua carreira e em sua maneira de ensinar. Outros, ainda, falaram de experiências escolares importantes e positivas. (LEMOS, 2009, p.26-27, apud TARDIF e RAYMOND,

2000, p. 221-222).

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Profissão no centro mesmo da transmissão dos saberes escolares (conhecimentos, disciplinas, normas, valores, etc.) e de sua aquisição pelas novas gerações, o ensino está profundamente afetado pela crise do saber da nossa sociedade moderna avançada, ou, como se diz hoje, pós moderna. Certamente, essa crise não é da produção do saber, que funciona hoje como nunca a todo vapor, mas a crise do seu valor no seio do mundo social, comunitário e individual. Parece que o saber perdeu sua força de unificação existe agora unicamente sob os modos da dispersão, da fragmentação e da segmentação. As próprias bases da formação escolar se tornam então problemáticas, enquanto os conteúdos e os modos de conhecimento que os professores devem apresentar aos alunos se revelam incertos, contestáveis e contestados. (LESSARD e TARDIF, 2008, p.11)

Investigação realizada no Brasil, recentemente, mediante pesquisa feita pela UNESCO, EM 2004, nas 27 unidades da federação com 5.000 professores do Ensino Básico da rede pública e privada, concluiu que entre a década de 1990 e a primeira década do século XXI, a figura do professor tem estado no centro das discussões que revelam incoerências quanto ao seu valor social: se de um lado espera-se que o professor seja capaz de conduzir o processo de constituição de saberes inovadores, com novos paradigmas científicos, éticos e culturais, daí a justificativa para a hipersolicitação em torno das suas competências profissionais, mas, de outro, é fato também que esse mesmo sujeito em quem é depositada a tarefa de utilizar a educação com vistas a uma maior equidade social, está socialmente desvalorizado. O fato é que a expansão quantitativa de acesso à escola, em todos os níveis, não apresentou os resultados esperados, fato este comprovado pelas medições nacionais e internacionais de resultados. Obviamente isso coloca o professor em evidência, assim como tem pressionado os agentes responsáveis pelas políticas educacionais a repensarem em que condições tais políticas estão sendo viabilizadas e quais os custos sociais desse planejamento unidimensional. As pesquisas apontam para a necessidade de que o escopo de novas políticas de cunho integral seja subsidiado pelo conhecimento, como se afirma em seguida:

Com muito maior exatidão do que no passado, não só das condições materiais de trabalho e das características da formação docente, como também das representações que os docentes têm de sua profissão, dos processos de reforma e de seus alunos, de suas representações acerca das diversas dimensões do comportamento e das pautas principais de seus consumos culturais. (PESQUISA NACIONAL UNESCO ,2004, prefácio, p. 12).

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ministrando disciplinas da formação geral e técnica no Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG) 1.

O estudo de caso (Chizzotti, 2006) é bastante utilizado na clínica psicológica e médica, na atividade educacional, jurídica, empresarial, sanitária e jornalística por oferecer ao pesquisador elementos que viabilizam ampliação do conhecimento acerca de um determinado objeto, respeitando-se as singularidades do contexto em que este ou aquele fenômeno está inserido. O estudo de caso está presente, com a mesma ênfase, nas Ciências Sociais, principalmente nas áreas de antropologia e sociologia.

No caso em tela, trata-se de uma possibilidade de que experiências discutidas cientificamente, sob uma perspectiva multidisciplinar, alcancem visibilidade, interna e externamente, e possam contribuir para políticas de intervenção e de valorização profissional que, além da capacitação, mantenham a motivação, o envolvimento e evitem o desgaste e o adoecimento docentes, pois:

Quando o indivíduo pensa em uma profissão, pensa em , ‘algo que se relaciona com a realização pessoal, a felicidade, alegria de viver, etc., como quer que isto seja entendido’, e quando o envolvimento com esse ‘algo’ deixa de resultar na realização pessoal, a tendência será, certamente, diminuir o envolvimento, diminuir os esforços.( BUENO e LAPO, 2001, apud BOHOSLAVSKY, p. 37).

A valorização profissional não tem fórmula, tampouco regra fixa a ser seguida, porque as expectativas da sociedade e do próprio profissional tendem a sofrer modificações. Contudo, se repensada continuamente com as questões próprias de cada lugar onde os sujeitos interagem, é possível que haja adequações, ajustes e equilíbrio entre as demandas laborais e a satisfação profissional. Essa meta de valorização precisa ser contínua e coletivamente construída.

A docência, no dizer de Lessard e Tardif (2009), é um trabalho interativo que tem como objeto de trabalho o ser humano: “O importante aqui é compreender que as pessoas não são um meio ou uma finalidade do trabalho, mas a ‘matéria-prima’ do processo do trabalho interativo e o desafio primeiro das atividades dos trabalhadores”. (LESSARD e TARDIF, 2009, p. 20). Nessa condição o trabalho torna-se mais complexo ainda por envolver afetividade, ficando cada vez mais distante a figura daquele sujeito que tinha o controle do conhecimento e o repassava aos seus alunos:

1 Instituição Federal de Ensino Superior-IFES,

multicampi, que, de acordo com o Plano de Desenvolvimento

Institucional,(PDI) 2005-2010 , está voltada ao Ensino com foco na Educação Profissional e Tecnológica-EPT, e o Ensino de Graduação-EG; à Pesquisa e Pós-Graduação (Stricto Sensu-PGSS, Pesquisa e Inovação - PI e Lato Sensu-PGLS) e à Extensão - EX, além da área de Administração - AD. Esta última voltada ao Planejamento e

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Sob o efeito das tecnologias da informação e da comunicação, as bases tecno- pedagógicas do ensino começam a se transformar. Durante muito tempo considerado como ofício de palavra, sob a autoridade do escrito e do livro o ensino passou por cima da falsa revolução audiovisual sem ser afetado por ela de modo duradouro, mas tudo leva a crer que as tecnologias da comunicação terão um impacto muito mais profundo e permanente, pois elas podem realmente modificar em profundidade as formas de comunicação pedagógica, assim como os modos de ensino e de aprendizagem em uso nas escolas há quatro séculos. Elas também podem transformar ,o que é completamente novo em relação à pseudo-revolução audiovisual , a própria organização do ensino e do trabalho docente. Em diferentes países tentam-se atualmente experiências de ensino que não são mais baseadas na co-presença dos professores e dos alunos no seio das classes tradicionais. Atualmente é difícil vislumbrar exatamente as formas e a amplitude que tomarão, num futuro próximo, essas experiências. ( LESSARD e TARDIF, 2001, p. 11)

A opção pela pesquisa qualitativa, nesse caso, explica-se pela possibilidade de seguir na direção de:

Um campo transdisciplinar, envolvendo as ciências humanas e sociais, assumindo tradições ou multiparadigmas de análise, derivadas do positivismo, da fenomenologia, da hermenêutica, do marxismo, da teoria crítica e do construtivismo, e adotando multimétodos de investigação para o estudo de um fenômeno situado no local em que ocorre, e enfim, procurando tanto encontrar o sentido desse fenômeno quanto interpretar os significados que as pessoas dão a eles. (CHIZZOTTI, 2003, p. 221)

A abordagem sociológica de cunho qualitativo, aqui, é pertinente pelos sujeitos e cenário onde esses interagem, criando e recriando modos de se relacionarem e interferindo mutuamente em suas histórias e nas histórias de outrem. Assim é que a instituição e os professores:

(...) aparecem não somente como circunstâncias dadas, mas como algo vivo: fazendo-se e refazendo-se no cotidiano de práticas instituídas e instituintes. A escola é então apreendida como um lócus de contradições, ambigüidades e possibilidades. De imprevisibilidades postas nas relações sociais dos atores em atividade. Sujeitos capazes de ação e discurso. (OLIVEIRA, 2000, p.28 apud TEIXEIRA, 1998, p.18)

As narrativas contidas neste estudo foram feitas por professores que fazem parte do quadro permanente do CEFET-MG. Esses profissionais têm um aspecto peculiar que os diferencia dos demais professores das instituições estaduais, municipais e privadas, pois trabalham em regime de Dedicação Exclusiva2. Sob esse aspecto, é questão central desta

2 O regime de Dedicação Exclusiva, no Serviço Público Federal, implica a obrigação do docente de ter apenas

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pesquisa verificar em que condições esses docentes desempenham seu trabalho e se tais condições estão trazendo desgaste e, possivelmente, desenvolvendo formas de adoecimento.

Outro aspecto singular da atuação docente, no CEFET-MG, é que pelo fato de a Instituição oferecer o Ensino Técnico de Nível Médio, a Graduação, a Pós-Graduação Lato Sensu e Stricto Sensu e a Extensão, o professor pode atuar em vários níveis de ensino, fazer

pesquisa e ainda acumular cargos de gestão.

Por condições de trabalho, entendemos todo o contexto em que as atividades laborais são desenvolvidas, o ambiente físico e suas características, os recursos necessários ao planejamento e execução do trabalho, o ambiente social, as relações humanas e outros componentes, isto é “as circunstâncias em que o trabalho é realizado” (ASSUNÇÃO, 2008, p.03). Destarte, convém destacarmos a relevância que as condições de trabalho têm na saúde dos trabalhadores. Segundo a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF)3, “os fatores ambientais interagem com as funções do corpo, como por exemplo, a qualidade do ar e a respiração, a luz e a visão, os sons e a audição, (...) a temperatura do ambiente e a regulação da temperatura do corpo”. (CIF, 2004, p.16). Segundo essa classificação, a saúde humana precisa ser vista em todos os seus aspectos, considerando não apenas o indivíduo isoladamente, mas a sua interação com o meio ambiente. Desse modo, os domínios da saúde e os domínios relacionados com a saúde são conforme os princípios da CIF (2004), descritos com base na perspectiva do corpo, do indivíduo e da sociedade.

Diante dos pressupostos dessa classificação, podemos inferir que uma instituição pode ter um quadro funcional com alto nível de qualificação, todavia sua produtividade pode ocorrer abaixo do esperado e sua saúde estar ameaçada, ou comprometida, se não houver investimento nas condições de trabalho. Professores de várias instituições de ensino se queixam de que, após obterem os títulos de mestres e doutores, acabam por ficarem desestimulados no exercício do magistério, pois retornam para salas de aula superlotadas, com pouca iluminação e ventilação, sem equipamentos para o trabalho diário, com ruído intenso dentro e fora das salas onde trabalham, laboratórios mal equipados, relacionamentos conflituosos, dentre outras queixas. Não sendo excepcionais essas situações, é preciso atentarmos para os múltiplos fatores que envolvem o trabalho docente e que podem gerar satisfação, quando adequados, ou mal-estar, se não estiverem em conformidade com as

3 Nas classificações internacionais da Organização Mundial da Saúde (OMS), a CIF tem como objetivo

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necessidades de trabalho dos professores . Advogamos a idéia de que o trabalho não deve ser gerador de danos à saúde.

Devido à complexidade que envolve o trabalho docente, não seria prudente definir um perfil de forma apriorística, um perfil generalizante dessa categoria, sendo, por conseguinte, fundamental conhecer os meandros e singularidades do seu fazer cotidiano e do lugar em que atuam. Mesmo ao se falar em identidade profissional docente, é preciso considerar que na sua pluralidade, há uma multiplicidade de identidades possíveis, tomando-se como referencial a idéia de que na contemporaneidade, as identidades estão permeadas de descontinuidade, fragmentação e porosidade (NOGUEIRA e SOARES, 2008, apud Stuart Hall, p. 13).

Todavia, a partir da pesquisa, é possível verificar o que fazem, o que pensam os sujeitos participantes deste estudo, sob quais circunstâncias esses profissionais realizam seu trabalho e compreender sua (des) motivação para permanecer na profissão.

Compartilhar e dar visibilidade a certas experiências traz a possibilidade de sedimentar práticas que ensejem o fortalecimento e a valorização da profissão de docente. Poderão inclusive, advir, disso, ações e políticas inovadoras que venham intervir em dadas situações extirpando-se as fontes de desgaste e adoecimento dos docentes.

Os problemas referentes à educação e às práticas docentes têm sido discutidos no Brasil e mundialmente, mobilizando especialistas da educação e saúde, dentre outros e, nessas discussões, tem havido esforços no sentido de se compreenderem as singularidades e os obstáculos comuns, enfrentados pelos professores:

Na maioria dos países, sente-se hoje a necessidade, em todos os campos da vida social, de ir além do quadro nacional e levar em conta a experiência coletiva das outras sociedades. Na educação, essa necessidade é patente e em suma, inevitável, pois é verdade que os sistemas educativos da maior parte das sociedades ocidentais sofrem atualmente evoluções comuns ou, pelo menos amplamente, convergentes. O que significa que, no seu seio, as mulheres e os homens que têm como profissão ensinar vivem igualmente, em vários casos, situações que se assemelham, nem que fosse ao menos pela presença ocasional das mesmas questões ou dos mesmos problemas. Ora, a plena aceitação desse fato implica , forçosamente, no plano intelectual, um processo de descoberta mútua e de aprendizagem coletiva, através do compartilhamento de experiências e situações profissionais variadas, mas que têm ressonâncias comuns. Em resumo, tentar compreender melhor o que vivem os outros, a fim de __através desse esforço de compreensão __melhor compreender a si mesmo, ao mesmo tempo em sua singularidade e em seu pertencimento a uma certa universalidade: esse é certamente um dos principais desafios científicos e também culturais, éticos e educativos da nossa época. (LESSARD e TARDIF, 2008, p. 7-8)

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diversos canais dialógicos e midiáticos proporcionem uma (re) avaliação contínua das condições de trabalho e do ser professor4 na contemporaneidade, com os desafios e seus

desdobramentos que ora se fazem presentes. É preciso que os docentes sejam sujeitos na elaboração e execução de políticas públicas voltadas à sua saúde no contexto do mundo do trabalho, que é um mundo vinculado às relações sociais na sua integralidade.

É possível que as falas contidas aqui expressem os sentimentos, as preocupações, os ideais, as realizações e frustrações, assim como as expectativas de muitos outros professores que compõem esse quadro institucional, ou seja, outros sujeitos podem vir a se identificar com as experiências aqui relatadas, corroborando a idéia de que aquilo que cada profissional enfrenta no seu cotidiano não é problema pontual e isolado e que as demandas que envolvem a profissão assumem outros contornos sempre, posto que a sociedade se transforma, num contínuo dialogar entre passado e presente, assim como os sujeitos e suas aspirações.

Os argumentos e depoimentos ora aqui apresentados vão ao encontro da tese de que “O objeto das ciências sociais é complexo, contraditório, inacabado e em permanente transformação” (MACIEL, 2007, apud MINAYO, p.37).

1.1 A TRAJETÓRIA DA PESQUISA NO CEFET-MG

As entrevistas foram divididas em duas etapas e realizadas nas dependências do CEFET-MG a partir de contatos estabelecidos, previamente com os professores5.

Preliminarmente, foram selecionados quatro professores, dentre os quais um ministra disciplinas técnicas, outro ministra disciplina técnica e de formação geral, e dois ensinam apenas disciplinas de formação geral, dos cursos denominados Integrados. Esses cursos destinam-se aos estudantes de nível médio que desejem ter uma formação geral e técnica. Estudantes dessa modalidade estudam em regime integral, em dois turnos.

Posteriormente mais dois professores foram entrevistados: um leciona nos Cursos Integrados e na Graduação; o outro leciona apenas nos Cursos Integrados.

Parte dos professores do CEFET-MG que atua nos cursos integrados leciona disciplinas de formação geral, tais como: Biologia, Geografia, História, Filosofia, Sociologia, Língua Portuguesa, Língua Estrangeira, Artes e Matemática. Outra parte dos docentes leciona disciplinas técnicas, ministram aulas nas salas comuns e nos laboratórios. Os professores de

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língua estrangeira lecionam em salas adaptadas para número de alunos reduzidos, com média de vinte alunos por turma e com possibilidade do uso de equipamentos eletro-eletrônicos para desenvolver suas aulas6.

Os professores entrevistados fazem parte do quadro permanente da Instituição sob o regime de Dedicação Exclusiva e devem cumprir uma jornada de trabalho de quarenta horas semanais. Essas quarenta horas semanais são subdivididas em horas aulas, reuniões administrativas e/ou pedagógicas e preparação para as aulas (planejamento), ou ainda, em conjunto com aulas e projetos de pesquisa; outra possibilidade é a de ministrar aulas, desenvolver pesquisas e ocupar cargos administrativos nas Coordenações de Curso ou de Área. Há ainda professores que atuam nos Cursos Integrados, na Pesquisa, na Graduação e na Pós-Graduação.

A escolha dos entrevistados foi feita com base no trabalho de professores em Regime de Dedicação Exclusiva no Campus I, pelo tempo de serviço, por ministrarem as disciplinas de formação geral ou técnicas: foram ouvidos professores e professoras7. As entrevistas foram gravadas e transcritas, tendo sido semi-estruturadas.

Para preservar a identidade dos participantes, estes foram nomeados por números, e suas disciplinas, turmas, coordenações, cursos, estado civil, e sexo foram omitidos8.

Ao fazermos a opção pelo Estudo de Caso, à luz da Pesquisa Qualitativa, traçamos o percurso apresentado em seguida:

Houve a elaboração de questionário e entrevistas semi-estruturadas, pretendendo extrair dos sujeitos, no caso os docentes, informações que pudessem subsidiar a análise das condições de trabalho no CEFET-MG e identificando possíveis fatores de desgaste e /ou adoecimento. É pertinente à investigação compreender como os professores se veem nesse cenário, se há a percepção entre trabalho e adoecimento e como têm se mantido na profissão de modo a atender as demandas institucionais e suas expectativas de realização pessoal e profissional. Compreender de que modo permanecer na profissão pode seguir na direção da satisfação, no atendimento das exigências laborais e da superação das adversidades que ora se

6 As salas foram reformadas recentemente (2009/2010).

7 Todos receberam o convite para responder às questões propostas: leram e concordaram voluntariamente com o

conteúdo do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, tendo cada professor ficado com uma cópia do documento.

8 Neste caso, utilizamos o termo Professor para todos os entrevistados. A omissão de gênero foi um ponto

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apresentam. Em suma, descobrir, sob a ótica dos sujeitos entrevistados, qual o significado de ser professor no CEFET-MG.

Sobre a elaboração do roteiro de entrevistas semi-estruturadas: preliminarmente buscamos traçar um perfil docente mediante perguntas solicitando informações dos professores acerca da sua formação acadêmica, estado civil, tempo de serviço no magistério e na Instituição, disciplinas que lecionam, número de turmas, de alunos e forma de ingresso no CEFET-MG. Em seguida, dez questões foram feitas, em que se indagou sobre vários aspectos da atuação dos professores: sobre expectativas na escolha inicial da profissão; fatores de motivação e desmotivação no trabalho docente; a descrição do cenário de trabalho envolvendo aspectos físicos e relacionamentos, relação entre trabalho e adoecimento e o significado de ser professor atualmente, considerando as condições atuais de trabalho. As respostas foram dadas oralmente, gravadas e transcritas para posterior análise. Contudo houve necessidade de reorganizar as questões, pois o tempo da entrevista acabou ficando demasiadamente longo. Por outro lado, houve a percepção de que certas vezes, havia respostas mais generalizantes, o que demandava um tempo maior de explanação até chegarmos ao foco central de cada questão. A partir daí, optamos por fazer, então, uma mudança na metodologia: os dois últimos entrevistados preencheram os dados pessoais e responderam, por escrito, a seis perguntas que tratavam das condições de trabalho, com o mesmo teor das questões inicialmente postas para os primeiros entrevistados. Esclarecemos que não houve mudança na essência das questões, pois, ela foi de ordem prática. Nesse caso, após o preenchimento do questionário, é que houve a entrevista, durante a qual foi possível o esclarecimento e a complementação das respostas escritas. Assim, constatamos ter havido otimização do tempo e uma exploração mais adequada do conteúdo das entrevistas, facilitando mais ainda a transcrição e a compreensão do tema tratado.

Ao todo, seis professores foram ouvidos, sendo um Graduado, um Especialista, três Mestres (um deles em fase de doutoramento) e um Doutor, ou seja, e perfil desses docentes revela um alto nível de qualificação dentro da Instituição.

A caracterização do ambiente de trabalho foi feita por meio da observação do ambiente e do relato dos professores entrevistados, assim como mediante as entrevistas com a Diretoria do Campus I, complementada com as informações do site9 oficial da Instituição: os

professores foram estimulados a caracterizar seu ambiente de trabalho, tanto a parte física,

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como no que se refere ao relacionamento com alunos, colegas, gestores e demais sujeitos que fazem parte do seu cotidiano.

Realizamos o levantamento bibliográfico para compor um referencial teórico sobre o tema, em sites de pesquisa e bibliotecas, por meio do assunto trabalho e/ou saúde docente em

que foram encontrados artigos em revistas de publicação científica, teses, dissertações, estudos exploratórios, estado da arte e livros sobre o tema.

Procedemos a uma pesquisa, nos arquivos da Diretoria de Ensino do Campus I, para coleta de dados sobre possíveis problemas de indisciplina: foram anotadas as ocorrências dos anos de 2008/2009 durante os quais professores que se sentiam prejudicados ou impossibilitados de ministrar aulas, devido à postura inadequada dos alunos, procuraram a Diretoria com intuito de que fossem tomadas as providências necessárias.

Foi realizada entrevista com a Diretoria do Campus I sobre a rotina do trabalho docente, os problemas diários, possíveis faltas dos docentes ao trabalho no cotidiano que tenham impacto no andamento das aulas (com que frequência as faltas ocorrem e se há reincidências); sobre os encargos docentes (carga horária mínima e máxima, número de disciplinas, número de turmas, alunos por sala, projetos de pesquisa, recuperação contínua, as condições de trabalho e sua adequação ou inadequação ao desenvolvimento do trabalho docente, e sobre a gestão atual: desafios e perspectivas quanto ao trabalho docente.

Entrevistamos a pessoa responsável pelo Setor Médico-Odontológico10 e a Psicóloga desse setor. Não tivemos acesso aos dados sobre os atendimentos, pois não estão sistematizados, e o setor não aceitou disponibilizar os arquivos para a pesquisa; por isso, apenas os relatos das duas pessoas do setor em questão foram incluídos neste estudo. Perguntamos quais as principais queixas relatadas pelos docentes, qual a relação entre as queixas e o trabalho e quais eram os períodos de maior procura pelo atendimento e os encaminhamentos feitos pelo setor.

Conversamos com um dos médicos do setor, contudo este não se mostrou interessado em conceder entrevista e nos aconselhou a entrar no site do governo Federal para buscar

informações sobre o tema.

Solicitamos à Coordenação Geral de Desenvolvimento de Recursos Humanos do CEFET-MG11, mediante memorando, os dados de afastamento dos docentes por motivo de doença. Fomos encaminhados à Coordenação Geral de Administração de Pessoal12·, que nos

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forneceu dados relativos aos afastamentos de 2005/2009. Não tivemos acesso aos motivos dos afastamentos, apenas nos foi fornecido o total de docentes afastados por motivo de saúde.

A legislação que regulamenta os encargos docentes está em fase de aprovação, mas avaliamos a proposta que contém informações importantes acerca da concepção do perfil que o CEFET-MG tem do seu quadro docente.

Quanto à identificação de políticas e/ou programas de valorização dos docentes implementados pela CGDRH, foi verificada a existência do Programa Qualidade de Vida, destinado a todos os servidores do CEFET-MG, em horários restritos, que inclui oficinas de dança, yoga e atividades culturais, mas não há um programa específico para os docentes que atenda às necessidades relacionadas às suas condições de trabalho.

Buscamos informações sobre a implantação do Subsistema Integrado de Atenção à Saúde do Servidor Público Federal e o Comitê Gestor de Atenção à Saúde de do Servidor13.

Para conhecermos com maior profundidade o que está sendo discutido sobre saúde e trabalho docente, participamos do V Simpósio Trabalho e Educação na Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais14. E, neste ano de 2010, participamos das discussões no II Encontro Nacional Sobre Saúde do Trabalhador, promovido pelo Sindicato Nacional dos Docentes do Ensino Superior15, em Belo Horizonte.

1.2. O SUPORTE TEÓRICO

O levantamento bibliográfico indicou ser recente e complexa a discussão sobre trabalho e saúde docente e que nos meios acadêmicos esses estudos têm sido feitos de forma multidisciplinar, com o aporte teórico da Psicologia, Psicologia do Trabalho, Psiquiatria, Ergologia, Sociologia, Sociologia do Trabalho, Educação, Medicina do Trabalho e outras áreas. Desse modo, não foi possível enquadrar a pesquisa numa única linha teórica, no entanto, foram selecionados os trabalhos que possuem aporte teórico e metodológico que vão ao encontro dos propósitos deste estudo.

A pesquisa bibliográfica indicou ainda que, no Brasil, as produções recentes de teses e dissertações das instituições federais de ensino, como Universidade Federal de Minas Gerais, Universidade Federal de Pernambuco e as instituições de ensino superior privadas, como a Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais e a Pontifícia Universidade Católica de São

13 Decreto n° 6.833, de 29 de abril de 2009.

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Paulo, têm recorrido ao estudo de caso e à pesquisa qualitativa por tais procedimentos permitirem a delimitação do objeto de estudo na sua singularidade, explorando, sem generalizações e amarras apriorísticas, as informações, todavia pautando-se pelo cuidado de se considerarem os sujeitos na sua diversidade, suas relações sociais e as condições em que tais relações acontecem:

“Um caso pode mostrar múltiplas realidades decorrentes do processo de observação, da coleta de dados e das diferentes interpretações do pesquisador. O estudo de caso não significa uma leitura única da realidade, supõe que pode haver diversidade de percepções”. (CHIZZOTTI, 2006, p. 141).

O apoio teórico para a análise das questões centrais desta investigação, veio do suporte em vários autores. É o caso de Paschoalino (2009), que busca na ergologia a explicação para os problemas que envolvem o trabalho docente, pois essa compreende o estudo da atividade humana, onde está inserido o trabalho do professor. Várias são as representações acerca da figura do professor as quais a autora denomina de entimemas e estes

podem reforçar a idéia de fatalismo e resignação:

A profissão docente solidificou em sua constituição vários entimemas que valorizam e que desvalorizam a atividade da docência. A profissão de professor traz subentendidos vários entimemas no gênero do seu trabalho: ideal de missão, de sacrifício, de sacerdócio, de trabalhadores explorados pelo mercado, de sofredores, da profissão do impossível, de culpa, do estresse e do adoecimento. O fazer do professor o forma professor, tendo as emoções como mola propulsora do seu agir. (PASCHOALINO, 2009, p. 30).

A autora pesquisou, em uma escola pública de Ensino Médio de Belo Horizonte, fatores que desencadeiam o mal- estar docente: fala da Síndrome de Burnout, associada ao estresse do professor , assim como do absenteísmo e o do presenteísmo, que comprometem a saúde docente e são resultado da precarização das condições de trabalho atual. A partir daí, Paschoalino (2009) nos instiga a pensar nas possibilidades de intervenção nesse cenário e na construção de outros entimemas que valorizem a profissão docente.

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relações interpessoais com alunos, colegas, gestores e outros sujeitos não for satisfatória,tal fato comprometerá a permanência do professor na escola e o seu nível de envolvimento com o trabalho. É preciso ainda que os meios para realização do trabalho também sejam providos, e isso dependerá do tipo de estrutura organizacional na qual o docente desempenha suas atividades.

Concordando com as conclusões de Bueno e Lapo (2003), Lemos (2009) afirma que “o jeito de ser professor vai se constituindo, fortalecendo ou enfraquecendo sua ligação com aquilo que é próprio do trabalho” (LEMOS 2009, p.24). Sua pesquisa confirma a tese de que a desistência por parte do professor ocorre de forma gradativa, após várias táticas de abandono, indicando aí o fato de os professores utilizarem diversas estratégias para lidar com as suas frustrações, permanecendo na profissão, contudo realizando uma espécie de abandono em serviço, que pode evoluir, gradativamente, para o abandono definitivo. Esse abandono gradual e contínuo é analisado como táticas de micro-abandonos, sendo apontadas como estratégias inseridas nessa categoria as faltas ocorridas repetidas vezes, as inúmeras licenças, a desistência em resolver problemas relativos às dificuldades de aprendizagem dos alunos, a recusa em participar de momentos de educação continuada na escola, o desinteresse em investir na própria formação e os afastamentos da sala de aula para realizar trabalhos burocráticos, sem, contudo, deixar o cargo de docente. Sobre essa última condição, de estar na escola ligado ao trabalho docente, sem, no entanto, exercer a função de professor, constatamos que professores graduados revelaram sua opção em cursar Pedagogia para conseguirem deixar a sala de aula e terem a possibilidade de exercer o cargo de gestão, como Diretores de escola, uma função que, segundo suas expectativas, aliviaria o peso de ser professor.

Assunção e Oliveira (2009) afirmam que a intensificação das atividades docentes tem trazido impactos para a saúde dos professores que atuam nas escolas públicas brasileiras. As autoras recorrem às ferramentas da Epidemiologia, Ergonomia e Psicologia do Trabalho para analisarem impactos à saúde docente e concluem que não somente os professores estão em risco, mas a própria educação, na medida em que:

(28)

Em suas pesquisas, Lessard e Tardif (2009) estudam o trabalho docente situando essa análise “na encruzilhada de diversas disciplinas e teorias relacionadas entre si: sociologia do trabalho e das organizações, ciências da educação, ergonomia, teorias da ação, ciências cognitivas, etc.”. Para esses autores, a docência envolve um trabalho interativo com o outro e sobre o outro. Nessa mesma direção, a obra de Arroyo (2009) indica que somente aprendemos a nos tornar humanos em uma trama complexa de relacionamento com os outros seres humanos: a escola precisa ser um espaço de convívio social de humanização: “É inadiável criarmos culturas, lógicas, estruturas escolares e profissionais que dêem conta de processos de ensinar-aprender menos desumanos” (ARROYO, 2009, p. 61).

Figueiredo (2006) investiga a saúde do professor em uma perspectiva interdisciplinar e afirma que normalmente, quando se discute a saúde, logo se pensa em doença como oposição à saúde, como se um conceito compreendesse o oposto do outro, ou seja, ausência de doença não implica necessariamente ter saúde (Figueiredo, 2006, apud Dejours, 1993, e Canguilhem,

1984). Para esses autores, definir saúde é algo complexo, pois não se trata de uma questão meramente física: “Ela é também mental, psíquica, repercutindo na vida individual e coletiva do sujeito”. (FIGUEIREDO, 2006, apud Dejours, 1993, e CANGUILHEM, 1984 p. 165).

Finalmente, concluem o que é ser professor:

É uma profissão que se aprende no dia-a-dia, para a qual não existe nenhum manual de instruções, mas uma mobilização permanente de estratégias, por exemplo, para lidar com alunos desinteressados e indisciplinados, diversidade de características, entre outros. Essas estratégias nem sempre são eficazes, podendo, inclusive, gerar um conflito de papéis: caso daquele professor que pensa ter de assumir a função de pai, de assistente social, de psicólogo, de sociólogo; e, no contexto das tecnologias modernas, temos o professor-tecnólogo, que deve aprender a lidar com os sistemas informatizados. (FIGUEIREDO, 2006, apud Dejours, 1993, e CANGUILHEM,

1984, p.169).

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acesso às novas tecnologias oferecidas pelas escolas, mas se frustram quando estas não dispõem de tais recursos e acabam achando que seus professores estão ultrapassados, por continuarem a usar, predominantemente, o quadro de giz e os textos impressos.

Esse problema é real e afeta todos os níveis de ensino: uma pesquisa realizada no sul do Brasil, com professores universitários, relacionou o uso de novas tecnologias com o desenvolvimento de mal-estar nesses profissionais, pois se sentiam substituídos pela máquina. Simultaneamente havia a sensação que estavam perdendo o controle da situação de trabalho, e isso os desgastava concomitantemente com o fato de que não havia investimento das instituições na capacitação para o uso dessas tecnologias. (PASCHOALINO, 2009, p. 50,

apud JESUS, MOSQUERA E STOBÄUS, 2007).

O levantamento bibliográfico indicou que a saúde do professor vem sendo discutida nos meios sindicais, a exemplo do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES-SN), da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNT).

O ANDES-SN tomou a iniciativa de fazer um levantamento das produções acadêmicas relacionadas ao tema para divulgá-las entre seus associados e para subsidiar suas discussões.

Por outro lado, a CNTE produziu uma pesquisa, coordenada por Vanderlei Codo do Laboratório de Psicologia do Trabalho da Universidade de Brasília, em parceria com o CNPq, UNICEF e 29 sindicatos estaduais, tendo resultado disso a publicação de um livro sobre Burnout, em 1999. Essa produção contou com uma equipe multidisciplinar e, pela sua consistência, tem sido utilizada sendo referência nacional para os trabalhos desenvolvidos sobre a saúde docente:

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1.3. ESTRUTURAÇÃO E APRESENTAÇÃO DA DISSERTAÇÃO

Esta dissertação foi organizada da seguinte forma: na Introdução, consta a justificativa da escolha do objeto, o percurso profissional da pesquisadora, a metodologia da pesquisa e a seleção dos sujeitos da pesquisa.

No Capítulo 1, foi feito o perfil da estrutura organizacional da Instituição e de seus espaços físicos, onde os professores desenvolvem seu trabalho. Na segunda parte do Capítulo, foram feitas observações sobre o cenário de trabalho quanto a sua adequação/inadequação ao trabalho docente: o espaço físico, iluminação, número de alunos por turma da parte geral e de laboratórios.

Já na terceira parte do referido Capítulo, foram feitas as observações a respeito de bem-estar versus mal-estar no cenário descrito anteriormente; riscos à saúde, cargas de

trabalho e a discussão atual sobre saúde do trabalhador, assim como as ações de prevenção realizadas pela Instituição.

No Capítulo 2 foi discutida a bibliografia recente relativa à saúde docente do ponto de vista multidisciplinar: desgaste, mal-estar, Burnout, motivação, precariedade, intensificação do trabalho, entre outros.

No Capítulo 3, na primeira parte, foram apresentadas as entrevistas com os professores e as análises. Posteriormente, destacamos o que diz a Instituição sobre a saúde e as condições de trabalho, através das entrevistas com a Direção do CEFET-MG, com o Setor Médico-Odontológico . Em seguida, foram apresentados os dados institucionais sobre afastamento dos docentes mediante licenças médicas, com as devidas reflexões.

(31)

CAPÍTULO I

1. ESPAÇOS DE ATUAÇÃO DOS DOCENTES NO CEFET-MG

A origem do CEFET-MG remonta ao ano de 1909 quando o presidente Nilo Peçanha decretou a criação de 19 escolas de Aprendizes e Artífices, cuja justificativa pautou-se no fato de que os setores produtivos urbanos precisavam de mão-de-obra especializada para a produção industrial. O público-alvo dessa educação profissionalizante seriam os pobres, marginalizados e desvalidos da sorte, que capacitados, estariam inseridos nos locais de produção na condição de operários e contramestres. (Biagini, 2005). Conjugou-se, assim, a necessidade de capacitação da mão-de-obra com o controle de possíveis ameaças à ordem social republicana, pois, naquele contexto, havia o temor de que os excluídos e marginalizados pudessem se rebelar e desafiar a ordem estabelecida:

Desenvolvendo um ensino compulsório de ofícios artesanais e destinados à camada popular, conforme mencionado, essa referência de ensino torna-se um instrumento para resolver os problemas sociais nesta fase relativa à implantação e à confirmação do projeto político republicano como regime de governo. (BIAGINI, 2005, p. 24).

Conforme a política do governo federal à época, com vistas ao controle social e a inserção dos menos favorecidos no mercado de trabalho, no dia 08 de setembro de 1910 foi inaugurada a Escola de Aprendizes Artífices de Minas Gerais. Hoje, ao completar cem anos, o cenário político, econômico e social no Brasil está diferente; a instituição adquiriu outro status e, seus alunos, nem de longe, lembram os “marginalizados e desvalidos” de um século atrás. O ingresso dos alunos no CEFET-MG é feito através de uma rigorosa seleção pública, independente da condição social, bem como a composição do quadro funcional dos servidores docentes e técnico-administrativos. Todavia, algo permaneceu e se consolidou, isto é, o ensino voltado à profissionalização16.

Atualmente, o CEFET-MG, Instituição Federal de Ensino Superior- IFES multicampi

atende desde o ensino técnico de nível médio até a pós-graduação stricto sensu sendo reconhecida, publicamente, a sua atuação conforme as demandas sociais atuais17.

16 Não iremos, aqui, reconstituir a trajetória do CEFET-MG, por isso apenas apresentamos brevemente o

contexto da sua fundação em 1910, destacando seu papel social quanto ao ensino profissionalizante.

(32)

Fruto da transformação da então Escola Técnica Federal de Minas Gerais, em Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais pela Lei n. 6.545 de 30/06/78, alterada pela Lei n. 8.711 de 28/09/93, o CEFET-MG é uma autarquia de regime especial, vinculada ao MEC, detentora de autonomia administrativa, patrimonial, financeira, didática e disciplinar; é uma Instituição Pública de Ensino Superior no âmbito da Educação Tecnológica, abrangendo os níveis médio e superior de ensino e contemplando, de forma indissociada, o ensino, a pesquisa e a extensão, na área tecnológica e no âmbito da pesquisa aplicada. (CEFET-MG, PDI,2005-2010).

Em entrevista ao informativo do CEFET-MG, a assessoria da Direção Geral informou recentemente que a instituição atende a todos os requisitos para alcançar o status de Universidade Tecnológica18, já funciona de fato com essa condição, faltando apenas o reconhecimento do MEC, pois dentre os requisitos necessários possui 80% dos docentes com título de mestrado e/ou doutorado. Do quadro de professores com doutorado, em 2009, pelo menos 80% estavam envolvidos em projetos de iniciação científica19. Segundo a Assessoria do Diretor Geral, com essa transformação haverá mudanças substanciais para a Instituição e à sociedade, pois:

Teríamos mais chances de ampliação de fontes de financiamento que redundariam em maior aprimoramento da infra-estrutura, por exemplo, além de melhores condições para o atendimento à função social do CEFET-MG. Com isso, ampliaríamos e diversificaríamos as alternativas de ensino superior gratuito de excelência em Minas Gerais e no país.

Questionada sobre o diferencial entre uma Universidade Tecnológica e as outras universidades comuns, a assessoria afirmou que o CEFET-MG, nessa condição, diferenciar-se-á das demais universidades pela oferta educacional verticalizada do ensino com a disponibilização gratuita de cursos técnicos, de graduação e pós-graduação onde configurar-se-á um percurso completo entre os diversos níveis de ensino, na mesma instituição, circunscrito à educação tecnológica; além disso, a integração entre o ensino, a pesquisa e a extensão será consubstanciada no aspecto da ciência aplicada.

Por essa estrutura tão ampla, complexa e diversificada é que nossa pesquisa voltou-se para o Campus I localizado em Belo Horizonte.

18 Universidade Especializada.

19CEFETMG É NOTÍCIA: informativo do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais. Belo

Imagem

Gráfico demonstrativo da situação dos Docentes do Campus I com mais de quinze dias  de afastamento

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