T ra nsdisciplina rida de em Saúde C oletiva:
Formação ou Subversão (Ou um Barato?)
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Naom ar d e Alm eid a Filh o
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cia William James - ministrada na Uni-o hn L. Austin inicia a sua X Co nferên-versidade de Harvard, em 1955, e incluída nop equeno clássico
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How to do Things with W ords (Austin, 1975) - co m a distinção entreato lo cucio nário (o nd e a fala expressa algum sentido ), ato ilo cucio nário (que traz uma in-tenção ao dizer algo ) e ato perlo cucio nário (em que falar produz certo s efeito s, d eseja-dos ou não ). Reco rro à distinção austiniana nesta o po rtunidade po rque creio que to d o s os interlocutores agud amente identificaram e se po sicio naram em relação à questão central do texto pretexto deste d ebate: Será que a proposta de definição da 'transdisciplinarida-de' co mo eixo estruturante de um dado camp o científico e de camprática co mo a Saúde Co -letiva co mp reend e um ato ilo cucio nário , um ato perlo cucio nário , ou ambos? Em outras palavras, será que a mera lo cução de uma pro -posta de sistematizar a série propositiva 'multi-pluri-inter-meta-trans-disciplina' na verd ad e não esco nderia um pro jeto de co nstrução
se-mântica e pragmática de um objeto-em-campo? Nesta nota co mplementar, ao reagir a alguns do s po nto s específico s levantados,
fa-zendo justiça à qualidade e cuidado das in-terpelações postas pelo s ilustres co mentad o res convidados po r Ciência & Saúde Coletiva, p o
-d emo s verificar que em nenhum mo mento se d eixa de tratar direta ou ind iretamente a questão central da intenção e do s efeitos d o meu mo d esto ato lo cucio nário .
Nilson Mo raes co ntribui para o debate
em fo co co m uma co mp etente co ntextualização d o pro blema da transdisciplinaridade no interior da chamad a "crise paradigmática" da
ciência co ntemp o rânea. Co nco rd o co m esta linha de argumentação e agrad eço a sua ilus-tração de vários impo rtantes elemento s de co nstituição histórica e institucional d o pró -prio camp o da Saúde Coletiva. Entretanto, gostaria de explicitar uma importante diver-gência em relação ao tratamento dado po r Nilson ao pro blema da disciplinaridade, par-ticularmente perante a sua identificação de elemento s doutrinários na minha po stulação . Na perspectiva da d iscussão pro po sta, mais d o que definir ou especificar uma construção doxológica co m a idéia de transdisciplinarida-de, busquei observar e registrar uma po tencialidade de d esenvo lvimento de o bjeto , méto -d o e camp o científico , p ro p o n-d o formas -de crítica e articulação ló gica, epistemo ló gica e praxio ló gica de um d ad o discurso-prática.
Uma vertente d e crítica semelhante mas não equivalente à de Nilson p o d e ser enco n-trada no co mentário d e A ugusta A lvarenga, particularmente quand o se refere à minha redefinição da transdisciplinaridade co mo uma p ro p o sta essencialmente fo rmalista. Neste caso , acredito que terá havido uma inco mpe-tência d o meu texto no que se refere a maior clareza e precisão , p o sto que a intenção (o ato ilo cucio nário ) foi justamente o o po sto . O sentido intencio nad o foi bem p ercebid o po r Jo sé Ricardo A yres, que identifica co mo uma das principais virtudes d o ensaio em pauta o fato de que nele se recusa exatamente "o
caráter estrutural/formal da definição de
disci-plina, e lhe contrapõe ozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA caráter práxico dessa
definição, chamando, por isso, à atualidade dos
sujeitos em interação na produção do
conheci-mento o plano privilegiado para
pensar/cons-truir
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o ideal da transdisciplinaridade" (grifosdo autor).
Augusta faz uma outra co brança funda-mental: a que síntese me refiro? Para ela, dentro dos o bjetivo s d o ensaio em pauta, seria interessante rever a leitura habermasiana do co nceito materialista de síntese, na linha-gem Hegel-Marx-Lukács. É possível, po rém não vejo maneira mais apropriada d e abo r-dar a hermenêutica científica vigente do que o recurso à desgastada no ção kantiana do s
juízos sintéticos que subjaz à dualidade análise-síntese. Certamente p ro ced e a sua crítica referente à deficiente explicitação do pro
ble-ma, indicando a necessid ad e d e maior clarificação d o texto , superand o ambigüidades. Porém uma ambigüidade em particular que
A ugusta assinala não co nseg ui id entificar co mo tal: co m clareza, e até insistência, bus-quei argumentar que existem sínteses e sín-tese. Po r isso, em resposta a esta imputação em particular, me resta assinalar que o s ele-mentos destacados na crítica de Augusta co mo ilustração desta ambigüidade são justamente aqueles reco nhecid o s po r Gil Sevalho co mo indicativos de uma perspectiva histórica crí-tica, a saber: toda o p eração de sintetização produz to talizaçõ es provisórias, através de uma prática cotidiana de pro d ução de "o bje-tos práxico s".
Uma outra co brança feita po r Augusta é po r sua vez plenamente justificada: realmen-te carece de pro fundidade e precisão o tra-tamento d ad o , no texto em pauta, tanto ao o bjeto c o m p lexo "saúd e-d o ença-cuid ad o " quanto à categoria da 'co mplexid ad e', ambo s apresentado s co m um insuportável grau de superficialidade e abstração . Isto o co rreu tal-vez po rque me pareceu mais ad equad o co n-centrar a discussão so bre o pro blema dos
limites (a pro pó sito , uma das vertentes de
definição da complexidade). Ou talvez - hi-pótese mais provável - eu ainda não teria alcançado uma reflexão mais amadurecida sobre a questão. De todo modo, sinto-me salvo pela discussão de Gil sobre a noção de complexidade e pela cuidadosa e detalhada complementação de Vera Portocarrero, justa-mente avançando uma interessante discussão "objetológica" (que concordo em essência) com base nos estudos sociais das ciências. Objetos fronteiriços, objetos híbridos, quase-objetos, objetos complexos, desfilam no co-mentário de Vera. Poderíamos ainda apro-fundar esta problematização parafraseando Herbert Simon (1994), reconhecendo o lugar científico dos objetos estruturados, semi-estruturados e não-semi-estruturados. Ou quem sabe concluir, bem a caráter, com a proposta de uma nova família de objetos científicos simultaneamente fronteiriços, híbridos, mesti-ços e complexos, os "trans-objetos".
A lém de co mp lementar a lacuna acima notada, Vera Po rto carrero traz duas impor-tantes co ntribuiçõ es ao ato perlo cucio nário realizado no texto em pauta. Em primeiro lugar, o seu co mentário traz uma denúncia do mo d ismo da "interface", c o m o aquele esp aço "entre", so bre o qual não seria nada fácil elabo rar um discurso co nsistente e co m-petente. Gostaria de end o ssar esta justa des-co nfiança, lo go esclarecend o po r que não me agrada a no ção de interface: trata-se de uma aceitação implícita da inevitabilidade das fronteiras (o u fases, ou faces) disciplinares,
justamente o que a permeabilid ad e e a transitividade da pro po sta buscam superar. Em segund o lugar, Vera faz avançar a idéia de
um no vo enciclo p ed ismo co m o uma saída prática para o s impasses disciplinares
peran-te o s o bjeto s mestiço s da conperan-temporaneidade, peran-tema que eu efetivamenperan-te apenas referi de passagem no pretexto e que po d e ser
referido à importante co ntribuição de Morin (1990).
Castiel e Jo sé Ricard o , co mp arsas d o
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radicalização da idéia-prática da transdisci-plinaridade, demonstram co mpreend er de que síntese aqui se trata. A mbo s igualmente ro-çam o pro blema central da co municação in-terdisciplinar impossível que, co nfo rme real-çado no pretexto , justificaria a busca de alter-nativas para as formas co nvencio nais da dis-ciplinaridade.
Castiel me faz uma crítica pertinente ao identificar no pretexto uma expectativa oti-mista de ho mo geneid ad e interna no s distin-tos camp o s disciplinares. Bem ao seu estilo, chega às raias da caricatura quand o p ro p õ e co lo car na mesma mesa (redo nda?) so cio bió -logos w ilsonianos e geneticistas lew ontinianos (e eu entro na viagem: que tal incluir neuro -lingüistas maturaniano s, antro pó lo go s geert-zianos, etno meto d ó lo go s californianos e her-meneutas to rácico s?). Jo sé Ricardo também p õ e em dúvida o meu otimismo propositivo, assinalando que nada garante que d o trânsi-to dos sujeitrânsi-tos científico s resultará alguma transd isciplinarid ad e. A mbo s sabem muito bem d o que estão falando . Claro que sínte-ses paradigmáticas co mpartilhadas são co nd i-ção essencial para qualquer mo vimento de síntese transdisciplinar. Eu teria muito mais identidade co m um d emó grafo de linha historicista do que co m um co lega epid emio lo -gista-clínico discípulo de Feinstein. Minima-mente, o mo vimento da transdisciplinaridade se deve iniciar co m algum grau de co nco r-dância d o s estatuto s de cientificidade d o s o bjeto s no s respectivo s camp o s. Nesse caso , diferente d o que assinala Castiel, o s "o bjeto s co mp lexo s" não co mp reend em apenas siste-mas adaptativos co m graus diferenciado s de co mplexid ad e, e sim também "pro duto s cul-turais" resultantes d e uma prática de ação comunicativa (para não escaparmo s d o mo -dismo habermasiano d 'entao ).
Jo sé Ricardo termina sugerindo que a natureza d o meu ato de definir uma transdisciplinaridade po d erá abortar uma "pro misso -ra v o cação subversiva" da pro po sta. É po ssí-vel. Po rém só a prática no s permitirá saber.
E para que se instaure esta prática alguma voz terá de "ilo cucio nariamente" enunciar tal p ro p o sição . Com o texto pretexto deste
debate, pretendi fazêlo pela via da desconstrução do discurso co nv encio nal da disciplinaridade, seguida da co nstrução d e uma pro -posta de d efinição provisória e interessada
da transdisciplinaridade co mo superação prag-mática do esquema vigente. Não co mo um formalismo nem c o m o mais uma proposta doutrinária, co m o respectivamente entend e-ram Augusta e Nilson; o meu ato ilocucionário vagamente pretend eu uma certa "subversão atenuada", no sentido d esco nfiad o po r Castiel e Jo sé Ricardo. Também neste aspecto , Vera Po rto carrero vem em meu auxílio, quand o assinala que "o desafio é inventar instituições políticas que possam absorver a idéia de que os o bjeto s são também ag entes culturais". Melho r c o m p reensão (p erlo cucio nária) da intenção (ilo cucio nária) d o meu texto eu não po deria desejar.
tomá-lo em absoluto enquanto elemento de enfraquecimento do potencial de integração interdisciplinar. Isto se justifica na medida em que a comunicação imperfeita será justamen-te a brecha por onde se infiltra uma possibi-lidade de emergência do novo (a alteridade castoriadiana, lembram?). Ainda bem que não se pode traduzir perfeitamente, diriam os artistas, porque aí está a liberdade de criação e recriação.
Em segund o lugar, ao mencio nar que a transdisciplinaridade enco ntra-se no registro da "dupla ruptura epistemológica", Carvalheiro insinua sutilmente uma séria crítica à co n-cep ção avançada no pretexto : a no ção de transdisciplinaridade não deve ser um privi-légio exclusivo do s camp o s disciplinares da
ciência. De fato, a fim de garantir a função social-histórica da ciência como elemento primordial de emancipação humana no mun-do contemporâneo, é imperativo considerar o trânsito dos sujeitos da ciência entre cam-pos de saberes não demarcados pelo formalismo disciplinar da ciência. Em outras palavras, necessitamos aumentar as travessias entre os campos científicos e os campos de prática social. Afinal de contas, como adverte Morin (1990:56), urge ampliar e radicalizar a noção de transdisciplinaridade, abrindo pas-sagens da ciência para a arte, a política, a
cultura e a filosofia a fim de
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"desinsularizar oconceito de ciência [... pois] a ciência é
efeti-vamente uma península no continente cultural
e no continente social".
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R e f e rê n ci as b i b l i o g ráf i cas
Austin, J.L. (1975) -
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How to do Things with W ords? Cambridge: Harvard University Press.Morin, E. (1990) - Science avec Conscience. Paris:
Fayard.
Simo n, H. ( 1994) - The Sciences of the Artificial.