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Ciênc. saúde coletiva vol.2 número12

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Academic year: 2018

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Deve-se D efinir T ra nsdisciplina rida de ?

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Jo sé Ricardo d e Carvalh o Mesquit a Ayres

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iscussõ es em to rno d e asp ecto s co mo co mplexid ad e,

interdisciplina-ridade, multidisciplinaridade e transdiscipli-naridade são de transcend ente importância para esse no sso "atípico " camp o científico da Saúde Coletiva - meio teo rético , meio prag-mático; meio quantitativo, meio qualitativo; meio bio ló gico , meio social; meio universal, meio brasileiro. Nesse sentido é sempre ex-tremamente bem-vinda qualquer tentativa de tratamento crítico d esses aspecto s, especial-mente quand o realizado po r um pesquisad o r já notabilizado po r sua inquietude intelectual e, po r isso mesmo , po r uma aguda capacid a-de a-de fo mentar reflexão e d ebate.

O p resente trabalho d e N ao m ar d e Almeida Filho não difere dos anteriores quanto a esta característica. A o trazer para exame o que chama de "esquema Jantsch-Vasco nce-lo s-Bibeau", mais do que sistematizar e divul-gar um tema de interesse e uma co nsistente p ro p o sição a respeito , A lmeida Filho não hesita em dar um passo adiante: mal no s apresenta uma so lução termino ló gica - no sentido filo só fico de atribuição de identida-des epistêmicas - e já no s convida a tomar outras d ireçõ es, fo rmulando o que se p o d e-ria chamar "esquema Jantsch-Vasco ncelo s-Bibeau-A lmeida Filho ".

Uma apreciação um p o uco mais d emo -rada do texto mostra, co ntud o , a inad equação da d eno minação acima. Ela denotaria uma falsa simetria de po sição no s construtores do "no vo esquema", escamo teand o o mais subs-tantivo na co ntribuição que o autor quer

tra-zer, que não é a de so mar-se às pro po siçõ es apresentadas, nem tamp o uco a de contrapor-se antago nicamente a elas. É no mo vimento de "aco lhimento na recusa" que se p o d e reco nhecer o enco ntro d o s ho rizo ntes de A lmeida Filho e de seus interlo cuto res. Não está, co m efeito , na simpatia que transparece d o m o d o c o m o e x p õ e a sistem atiz ação co nceituai examinad a, nem exatamente nas divergências levantadas, o núcleo arquitetô-nico d o texto , mas nas mo tivaçõ es e argu-mento s que o trazem d aquela até estas. Por isso mesmo , será neste trânsito genuinamen-te dialó gico efetuad o p elo autor que pregenuinamen-ten- preten-do fixar meu co mentário , buscand o enfo car uma das teses que me p arecem fulcrais na

argumentação d e A lmeida Filho :

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o caráter

práxico subjacente a qualquer projeto de

trans-disciplinaridade teórica.

A lmeida Filho parte d o incô mo d o frente ao uso excessivamente liberal e impreciso da idéia de transdisciplinaridade, não obstante reco nhecer sua importância co m o elemento constitutivo de um ativo mo vimento no sentido da co nstrução de (imprescindíveis) no -vo s paradigmas no camp o da Saúde Coletiva. Por isso mesmo advo ga a necessid ad e de um co nsenso termino ló gico em to rno da idéia, elemento que po tencializaria seu amadureci-mento co nceituai e aplicabilidade. O esque-ma estudado p arece ao autor uesque-ma alternativa co nsistente, justamente p elo caráter sistemá-tico e unívo co que pro cura imprimir ao co n-ceito de disciplina e seus aparentad o s trans-e p ó s- mo d trans-erno s. Bastrans-ead o no prtrans-essupo sto de que a identidade disciplinar enco ntra-se fundamentalmente apo iada na axiomática que co nfo rma o sistema teó rico e tecno meto d o ló

-==1 Professor do Departamento de Medicina Preventiva

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gico de um saber, o esquema estudado de-fine a transdisciplinaridade co m o a integra-ção de diversas ciências relacio nadas a um dado camp o de aplicação do co nhecimento so b a força aglutinadora de uma nova axio -mática, que não substitui ou subo rdina suas axiomáticas de origem, mas as unifica em um no vo patamar de necessid ad es e possibilida-des. Essa integração inter-axiomática não hie-rárquica e, de outro lado, não auto -referente distinguiria a transdisciplinaridade da inter-disciplinaridade, de um lado, e da metadisci-plinaridade, de o utro .

Ao aco lher a pro po sição acima, entretan-to, A lmeida Filho recusa exatamente esse pressupo sto fundamental da pro po sição , qual seja, o caráter estrutural/ formal da definição

de disciplina, e lhe co ntrapõ e o

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caráterpráxico

dessa definição , chamand o , po r isso, à atua-lidade dos sujeitos em interação na produção

do conhecimento o plano privilegiado para

pensar/ construir o ideal da transdisciplinari-dade. Aqui radica, em minha o pinião , a força de sua argumentação e também sua face mais contraditória.

Estou de p leno aco rd o co m o autor em sua recusa do apriorismo e formalismo

epis-temo ló gico s, voluntária ou involuntariamen-te, trazidos p elo esquema Jantsch-Vasco nce-lo s-Bibeau - aliás, de nce-longa data bebem o s de fonte co mum quanto a esta po sição (Men-des-Go nçalves, 1990). Contudo, a so lução que Almeida Filho d esd o bra aqui de sua co n-cep ção práxica da identidade das ciências me parece deixar a d esco berto alguns pro -blemas po r ela mesma sugerido s. Na falta de espaço para co nsid eraçõ es mais detalhadas, resumo-as em duas interro gaçõ es básicas: 1) O que garantiria o efetivo "trânsito do s sujei-tos do s discurso s" pelas diversas disciplinas, que o autor co ntrapõ e ao "trânsito dos dis-cursos", co mo co nd ição para a transdiscipli-naridade? 2) De o nd e vem a crença, po r outro lado, de que a esse trânsito mente-co rp o dos cientistas co rrespo nd erá uma relação efetiva-m e nte tran sd isc ip lin ar c o efetiva-m o efetiva-m u n d o

objetivado, ao invés, por exemplo, da cons-tituição de novas porém até mais rígidas fron-teiras entre as diversas organizações discursivas (re)construídas?

Fique claro, desde logo, que nada tenho co ntra a p ro p o sição d e livre trânsito do s sujeitos pelas diversas áreas disciplinares, no qual também enxergo mais benefício s que inco nvenientes. A penas me pergunto se esse transitar, além d o fato d e estar lo nge de ser uma livre o p ção do s sujeitos do

conhecimen-to, p o d e o ferecer alguma garantia de

dissolu-ção das fronteiras atravessadas. A dificuldade que as "epid emio lo gias" que têm tentado, ao lo ng o da histó ria, sup erar a p ragmática tecno bio ló gica (A yres, 1995) vêm enco ntran-do para sair d o camp o da pura negatividade e x e m p l i f i c am m e u c e ti c i s m o . Eq u ip e s multiprofissionais de pesquisa têm servido, na maior parte das vezes, para legitimar a permanência de rígidos do mínio s territoriais das ciências estabelecid as so bre o s tais "o b-jeto s indisciplinados", aplacand o o incô mo d o co nvívio co m a "parte indisciplinada" pela

co ncessão de esp aço s especulativos complementares, ced id o s em troca da promissória

de seu futuro co ntro le so b o s mesmo s pa-drõ es de o bjetividade. Até lá, na hora de publicar o trabalho , cad a um que "procure sua turma".

Desistir, então , da transdisciplinaridade, dando -a po r utópica? Não, ao contrário! Jul-go que a transdisciplinaridade é uma das mais po tentes idéias reguladoras de que dispo mo s ho je no sentido da transfo rmação , da reno -vação d o camp o acad êmico da Saúde Cole-tiva. Mas, to má-la c o m o atitud e o u p ro ce-d imento a ser definido, p arece-m e to rná-la

uma idéia "d istó p ica", aind a quand o se trate d e uma busca d e d efinição p rag mática, c o m o a exercitad a p o r A lmeid a Filho . A d ificuld ad e que p ro curei rep resentar nas d uas p erguntas acima p arece-m e residir na im p o ssib ilid ad e d e c o n c iliar o c aráter

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emancipador, racionalmente libertário de que se reveste a argumentação do autor em prol da transdisciplinaridade. Quando

determinamos o lugar onde os sujeitos

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precisam estar para construir um saber já

não estamos, imediatamente, tratando as coisas como idéias e as idéias como coisas, isto é, formalizando a práxis científica?

A mim quer parecer que a idéia de trans-disciplinaridade é uma co nstrução discursiva eminentemente filosófica e, co mo tal, não cabe a ela "submeter" qualquer aspecto da práxis, nem ser submetida po r ela, mas "guardar um esp aço " de liberdade em meio a essa práxis,

interpretando e exp o nd o ao d ebate intersubjetivo o "mal-estar" que a co nfo rmo u, abrin-do possibilidades (não antecipáveis) para sua

superação (Habermas, 1989). Nesse sentido, é provável que o s sujeitos "transitivos" pro

-po sto s -po r Naomar de A lmeida Filho -po ssam contribuir para minar o d o gmatismo de no s-sas rígidas estruturas disciplinares, mas defi-nir esse passo co mo transdisciplinaridade não será encerrar ced o d emais a pro misso ra vo -cação subversiva dessa idéia? Penso que a discussão da transdisciplinaridade se co lo ca mais fec u nd am ente num registro m eno s epistemo ló gico que "epistemo só fico ", co m a licença d o neo lo gismo . Sua d efinição co ncei-tuai há de se tornar clara e distinta quand o já não precisarmo s mais pro blematizá-la, mas so mente utilizá-la. Po r ora, p arece mais inte-ressante explo rar sua fo rça crítica, sua capa-cidade de pô r em questão as exigências de validade que têm o rientado a pro d ução de discursos de verdade em no sso camp o , pres-sio nand o -as no sentido de seu livre e

públi-co r re-exame.

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R e f e rê n ci as b i b l i o g ráf i cas

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Referências

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