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Crime organizado 3

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(1)

RICARDO ANDRADE SAADI

OS BENS APRENDIDOS E SEQUESTRADOS EM PROCEDIMENTOS PENAIS E O FINANCIAMENTO DE ATIVIDADES EDUCACIONAIS

NOS PRESÍDIOS

São Paulo 2011

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OS BENS APRENDIDOS E SEQUESTRADOS EM PROCEDIMENTOS PENAIS E O FINANCIAMENTO DE ATIVIDADES EDUCACIONAIS

NOS PRESÍDIOS

Tese apresentada ao curso de Pós- Graduação “Stricto Sensu” em Direito Político e Econômico da Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito para a obtenção do título de Doutor.

Orientador: Gianpaolo Poggio Smanio

São Paulo 2011

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S111b Saadi, Ricardo Andrade

Os bens apreendidos e sequestrados em

procedimentos penais e o financiamento de atividades educacionais nos presídios. / Ricardo Andrade Saadi – São Paulo, 2012.

192 f. ; 30 cm

Tese (Direito Político e Econômico) - Universidade Presbiteriana Mackenzie - São Paulo, 2012.

Orientador: Gianpaolo Poggio Smanio Bibliografia : f. 164 - 192

1. Educação de prisioneiros 2. Crime organizado 3. Bens apreendidos 4. Alienação antecipada 5. Presídio I. Título.

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OS BENS APRENDIDOS E SEQUESTRADOS EM PROCEDIMENTOS PENAIS E O FINANCIAMENTO DE ATIVIDADES EDUCACIONAIS

NOS PRESÍDIOS

Tese apresentada ao curso de Pós- Graduação “Stricto Sensu” em Direito Político e Econômico da Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito para obtenção do título de Doutor.

Aprovada em março de 2012.

BANCA EXAMINADORA

_________________________________

Prof. Dr. Gianpaolo Poggio Smanio

_________________________________

Prof. Dr. José Francisco Siqueira Neto

_________________________________

Prof. Dr. Clarice Seixas Duarte

_________________________________

Prof. Dr. Fabio Ramazzini Bechara

_____________________________________

Prof. Dr. Augusto Eduardo de Souza Rossini

(5)

Dedico este trabalho a toda minha família, em especial à minha irmã Alessandra, um exemplo de luta, dedicação e amor à vida

(6)

O presente trabalho aborda duas questões atuais do cenário brasileiro, quais sejam:

a falta de atividades educacionais nos presídios e a nova postura das autoridades brasileiras no combate ao crime organizado, a qual baseia-se na descapitalização da atividade criminosa, o que gera um acúmulo nos depósitos policiais e judiciais de bens constritos em procedimentos penais. O objetivo do trabalho é demonstrar que as atividades educacionais nos presídios podem ser financiadas pelo valor obtido com a alienação antecipada dos bens supramencionados.

(7)

The present study comprises two issues related to the Brazilian scenario: the absence of educational activities in prisons and the new strategy of Brazilian authorities in fighting against organized crime, which is based on the impoverishment of criminal activity, creating a buildup situation in police and judicial deposits of goods constricted in criminal proceedings. The main goal of this work is demonstrating that educational activities in prisons can be financed by the amounts obtained by selling the above mentioned assets.

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AGU Advocacia Geral da União

APG Asia/Pacific Group on Money Laundering AREN Asset Recovery Experts Network

ARINSA Asset Recovery Inter-Agency Network of Southern Africa

ARO Asset Recovery Offices

BACEN Banco Central do Brasil

CARIN Camden Asset Recovery Inter-agency Network CCS Cadastro Único de Correntistas do Sistema

Financeiro Nacional

CF Constituição Federal

CFATF Caribbean Financial Action Task Force

CGU Controladoria Geral da União

CICAD Controle do Abuso de Drogas da Organização dos Estados Americanos

CICO Centro de Inteligência contra o Crime Organizado do Governo da Espanha

CJF Conselho da Justiça Federal

CNJ Conselho Nacional de Justiça

CNPCP Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária

COAF Conselho de Controle de Atividades Financeiras CONFINTEA Conferência Internacional de Educação de Adultos

CP Código Penal

CPC Código de Processo Civil

CPP Código de Processo Penal

CTMA Controle de Mercadorias Apreendidas

CV Comando Vermelho

CVM Comissão de Valores Mobiliários

DCOR Diretoria de Combate ao Crime Organizado DEPEN Departamento Penitenciário Nacional DFIN Divisão de Crimes Financeiros

DPF Departamento de Polícia Federal

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of Terrorism

ENCCLA Estratégia Nacional de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro

ESAAMLG Eastern and Southhem Africa Anti-Money Laundering Group

EU European Union

FGV Faculdade Getúlio Vargas

FUNAD Fundo Nacional Antidrogas FUNPEN Fundo Penitenciário Nacional

GAFI Grupo de Ação Financeira Internacional GAFISUD

Grupo de Ação Financeira da América do Sul contra a Lavagem de Dinheiro e o Financiamento ao Terrorismo

GIABA Intergovernmental Action Group Against Money- Laundering in Africa

ICAR International Centre for Asset Recovery INFOPEN Sistema de Informações Penitenciárias

INTERPOL Organização Internacional de Polícia Criminal IPTU Imposto Predial Territorial Urbano

LAB-LD Laboratório de Tecnologia no Combate à Lavagem de Dinheiro

LEP Lei de Execução Penal

MENAFATF Middle East And North Africa Financial Action Task Force

MJ Ministério da Justiça

MONEYVAL Council of Europe Committee of Experts on the Evaluation of Anti-Money Laundering Measures

MPF Ministério Público Federal

OEA Organização dos Estados Americanos

OMS Organização Mundial de Saúde

ONG Organização não Governamental

ONU Organização das noções Unidas

ORCRIM Organização Criminosa

OSCIP Organização da Sociedade Civil de Interesse Público

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PNLD Programa Nacional de Treinamento e Capacitação em Lavagem de Dinheiro

PREVIC Superintendência Nacional de Previdência Complementar

RFB Receita Federal do Brasil

RRAG Rede de Recuperação de Ativos do GAFISUD SAL Secretaria de Assuntos Legislativos

SIEF Sistema Integrado de Informações Econômico- Fiscais

SIMBA Sistema de Investigação e Movimentações Bancárias

SNBA Sistema Nacional de Bens Apreendidos

SNJ Secretaria Nacional de Justiça

SRF Secretaria da Receita Federal

STAR Stolen Assests Recovery

STF Supremo Tribunal Federal

SUSEP Superintendência de Seguros Privados

TCU Tribunal de Contas da União

TFF Treasure Fourfeiture Fund

EU União Europeia

UIF Unidade de Inteligência Financeira

UM Nações Unidas

UNICEF Fundo das Nações Unidas para a Infância UNODC Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e

Crime

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Evolução da Receita do FUNPEN 1994 – 2010 39

Fonte dos Recursos do FUNPEN 39

Ações Orçamentárias do DEPEN 42

Execução dos Recursos do FUNPEN em 2010 42 Convênios com os Estados referentes a atividades

educacionais nos presídios 43

População Prisional 52

Faixa Etária do Preso 52

Grau de Instrução dos Presos 53

Crimes Cometidos pelos Presos 54

Número de Presos em Atividades Educacionais 56 Número de Presos em Atividades Educacionais, por Estado 57

Presos em Atividades Laborais 59

Número de Pessoas Envolvidas em Atividades Educacionais

e Laborais nos presídios 59

Bens Cadastrados no SNBA 106

Bens Alienados – SNBA 117

Estatísticas da Receita Federal do Brasil 125

(12)

INTRODUÇÃO ... 14  

Capítulo 1 – Premissas Conceituais ... 18  

1.1   O ESTADO DE DIREITO ... 18  

1.1.2.1   Devido Processo Legal ... 23  

1.1.2.2   Presunção de Inocência ... 25  

1.1.2.3   Contraditório ... 28  

1.1.2.4   Coisa Julgada ... 29  

1.1.2.5   Direito à Tramitação do Processo em Tempo Razoável ... 30  

1.1.2.6   Garantismo ... 31  

1.2   CIDADANIA ... 34  

1.3   EDUCAÇÃO ... 36  

Capítulo 2 – A função da pena e as condições dos estabelecimentos prisionais no Brasil ... 39  

2.1   PRISÃO, PENA E SUA FUNÇÃO ... 39  

2.2   O SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO ... 40  

2.3   O FUNPEN (FUNDO PENITENCIÁRIO NACIONAL) ... 42  

2.4   CONDIÇÕES DAS PENITENCIÁRIAS ... 47  

2.5   EDUCAÇÃO NOS PRESÍDIOS ... 50  

2.6   DADOS DO SISTEMA PRISIONAL NO BRASIL ... 56  

2.6.1   População Prisional ... 56  

2.6.2   Faixa etária dos presos ... 57  

2.6.3   Grau de Instrução dos Presos ... 58  

2.6.4   Crimes Cometidos pelos Presos ... 59  

2.6.5   Número de presos em atividade educacionais ... 61  

2.6.6   Presos em Atividades Laborais ... 64  

2.6.7   Número de Pessoas Envolvidas no Trabalho e Educação ... 65  

Capítulo 3 – O Crime Organizado e seu Combate ... 67  

3.1   O CRIME ORGANIZADO ... 67  

3.2   O COMBATE AO CRIME ORGANIZADO ... 69  

3.2.1   Combate ao Crime Organizado – Diretrizes Internacionais ... 69  

3.2.1.1   A Recuperação de Ativos e o Confisco e Apreensão de Bens, Direitos e Valores 70   3.2.1.2   A Criminalização da Lavagem de Dinheiro ... 74  

3.2.1.3   A Cooperação Internacional ... 75  

3.2.2   Convenções da Organização das Nações Unidas ... 78  

3.2.2.1   Convenção de Viena ... 79  

3.2.2.2   Convenção de Palermo ... 80  

3.2.2.3   Convenção de Mérida ... 82  

3.2.2.4   Recomendações do Grupo de Ação Financeira contra a Lavagem de Dinheiro e o Financiamento do Terrorismo (GAFI) ... 84  

3.2.2.5   Outras iniciativas internacionais referentes ao tema ... 86  

3.3   O CRIME ORGANIZADO NO BRASIL ... 86  

3.4   O COMBATE AO CRIME ORGANIZADO NO BRASIL ... 87  

(13)

3.4.2   Organização do Estado ... 92  

3.4.2.1   Especialização dos Órgãos Públicos ... 92  

3.4.2.2   Criação de um Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional ... 94  

3.4.2.3   Criação de uma Estratégia Nacional de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro (ENCCLA) ... 95  

Capítulo 4 – O processo Penal, o Perdimento de Bens em Favor do Estado e as Medidas Assecuratórias ... 98  

4.1   PROCESSO PENAL ... 98  

4.2   MEDIDAS ASSECURATÓRIAS ... 100  

4.2.1   Do Sequestro ... 103  

4.2.2   Da Hipoteca Legal ... 104  

4.2.3   Do Arresto ... 105  

4.2.3.1   Arresto Provisório ... 106  

4.2.3.2   Arresto Subsidiário ... 106  

4.3   LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE ... 106  

4.3.1   Decreto-Lei 3.240/41 ... 106  

4.3.2   Lei 9613/98 – Lavagem de Dinheiro ... 107  

4.3.3   Lei 11.343/06 – Tráfico de Drogas ... 108  

4.3.4   Lei 8242/92 – Improbidade Administrativa ... 108  

4.4   BUSCA E APREENSÃO ... 108  

4.5   ASPECTOS PRÁTICOS ... 110  

4.5.1   Pesquisa Realizada pela Faculdade Getúlio Vargas ... 110  

4.5.2   Avaliação do GAFI ... 111  

4.5.3   Sistema Nacional de Bens Apreendidos (SNBA) ... 112  

4.6   DIREITO COMPARADO ... 116  

4.7   ALEMANHA ... 116  

4.8   COLÔMBIA ... 117  

4.9   MÉXICO ... 118  

Capítulo 5 – Destinação dos bens apreendidos ... 120  

5.1   DESTINAÇÃO DOS BENS APREENDIDOS ANTES DO TRÂNSITO EM JULGADO ... 120  

5.1.1   Encaminhamento aos Depósitos Judiciais ou Policiais ... 121  

5.1.2   Alienação Antecipada ... 124  

5.1.3   Nomeação de um Depositário ou de um Administrador ... 127  

5.1.3.1   O Próprio investigado ... 127  

5.1.3.2   Um Terceiro ... 127  

5.1.4   Utilização dos Bens Apreendidos por Órgãos Públicos ... 128  

5.2   DESTINAÇÃO DOS BENS – APÓS O TRÂNSITO EM JULGADO DA AÇÃO PENAL ... 130  

5.2.1   Destinações Específicas ... 131  

5.2.1.1   Constituição Federal ... 131  

5.2.1.2   Lei de Entorpecentes – Lei 11.343/2006 ... 132  

5.2.1.3   Estatuto do Desarmamento – Lei 10.826/2003 ... 132  

5.3   DESTINAÇÃO ADMINISTRATIVA – RECEITA FEDERAL DO BRASIL ... 132  

(14)

5.4.4   Espanha ... 140  

5.4.5   Estados Unidos ... 143  

5.4.6   Reino Unido ... 145  

5.4.7   Itália ... 146  

Capítulo 6 – Propostas ... 147  

6.1   EXCLUSÃO SOCIAL, VIOLÊNCIA E EDUCAÇÃO ... 147  

6.2   IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO NOS PRESÍDIOS ... 149  

6.3   PROPOSTAS ... 153  

6.3.1   Bloco 1 ... 154  

6.3.1.1   Alienação Antecipada de Bens ... 154  

6.3.1.2   Utilização dos recursos provenientes de medidas assecuratórias após o julgamento do processo em segunda instância ... 155  

6.3.2   Bloco 2 ... 157  

6.3.2.1   Desenvolvimento de material didático padronizado ... 158  

6.3.2.2   Criação do Programa Nacional de Capacitação em Educação nos Presídios… ... 158  

6.3.2.3   Realização de Seminários referentes à educação nos Presídios ... 159  

6.3.2.4   Publicação de trabalhos produzidos por detentos ... 159  

6.3.2.5   Financiamento de Pesquisas referentes ao Sistema Penitenciário Brasileiro, em especial relativo a atividades educacionais ... 159  

6.3.2.6   Repasse de Recursos aos Estados ... 160  

Conclusão ... 162  

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 164  

(15)

INTRODUÇÃO

O Brasil possui aproximadamente 500.000 (quinhentos mil) presos, dos quais somente o equivalente e 8,3% (oito vírgula três por cento) realizam atividades educacionais. O baixo número de condenados que estudam é por muitos justificado pelo baixo investimento feito pelo governo. Com o constante crescimento da população carcerária brasileira, a maior parte dos recursos destinados ao sistema prisional é utilizada para a construção de novos estabelecimentos penais, de forma que o valor gasto com atividades educacionais é irrisório perto do orçamento do sistema penitenciário. Considerando que uma das funções da pena é a ressocialização do condenado, a atividade educacional é uma importante ferramenta nesse sentido e necessita de maiores investimentos.

Com a edição, em julho de 2011, da Lei 12.433/11, a busca por atividades educacionais nos presídios tende a aumentar consideravelmente, já que o diploma legal prevê a remição de parte da pena por estudo, de forma que o Estado precisa investir mais nesse campo. O presente trabalho tem o objetivo de criar fontes de financiamento para as atividades educacionais nos presídios.

A segunda constatação desse trabalho relaciona-se com a atuação das autoridades no combate ao crime organizado. Foca-se, agora, na retirada dos bens dos criminosos e não somente na prisão dos mesmos. Se por um lado essa nova postura das autoridades faz mais eficiente o combate às organizações criminosas, por outro traz um problema: o que fazer com os bens constritos antes de uma decisão final no processo criminal? A realidade dos dias atuais aponta para depósitos policiais e judiciais lotados, sem as condições ideais de armazenamento, o que resulta na rápida deterioração dos bens.

O objetivo do presente trabalho é fazer com que uma realidade seja a solução para a outra. Hoje existe falta de recursos para atividades educacionais nos presídios por um lado, e, por outro, bens deteriorando nos depósitos policiais ou judiciais aguardando uma decisão final do processo. Por que esses bens não podem ser vendidos antecipadamente e os recursos oriundos dessa alienação serem

(16)

utilizados nas atividades relacionadas à educação nos presídios? O trabalho será desenvolvido nesse sentido.

Dividimos o trabalho em seis capítulos.

O capítulo 1 será destinado às premissas conceituais, as quais basearão todo o trabalho a ser desenvolvido. Iniciar-se-á falando do conceito do Estado de Direito, passando desde o surgimento do Estado até o Estado Democrático de Direito, no qual o povo tem papel preponderante. Posteriormente, falar-se-á dos princípios que devem reger a atuação das autoridades, como o devido processo legal, a presunção da inocência, o direito ao contraditório, a coisa julgada e o direito à tramitação do processo em tempo razoável, chegando-se até o garantismo, teoria proposta por Luigi Ferrajoli. Posteriormente será apresentado o conceito de cidadania, passando pela Grécia antiga até a definição proposta por T.H. Marshall, a qual divide a cidadania em direitos civis, políticos e sociais.

O segundo capítulo será destinado ao tema educação nos presídios.

Iniciar-se-á com a exposição de quais são as funções da pena, demonstrando-se que uma delas é propiciar condições para a harmônica integração social do condenado e do internado. Posteriormente falar-se-á do sistema prisional brasileiro, apontando a opção pela estadualização do mesmo e indicando quais as atribuições do Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN) e do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP). Posteriormente, serão expostas as condições das penitenciárias brasileiras, demonstrando-se que as mesmas estão superlotadas e as atividades educacionais estão relegadas a segundo plano. Por fim, apontar-se-á dados do sistema prisional brasileiro como a população prisional, a faixa etária e o grau da instrução dos presos, os crimes cometidos e o número de presos em atividades educacionais e laborais.

A partir do terceiro capítulo, será explorado o segundo problema mencionado. O capítulo 3 será destinado às diretrizes e ações nacionais e internacionais relativas ao combate ao crime organizado. Em relação ao aspecto internacional, demonstrar-se-á que atualmente o confisco de bens, a criminalização da lavagem de dinheiro e a cooperação internacional são componentes essenciais,

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conforme interpretação de diversos documentos internacionais, como as Convenções da Organização das Nações Unidas (ONU) contra o tráfico ilícito de entorpecentes (Viena), contra o crime organizado transnacional (Palermo) e contra a corrupção (Mérida) e as 40+9 Recomendações do Grupo de Ação Financeira Internacional (GAFI). Internamente, demonstrar-se-á como o Brasil tem atuado, destacando-se a ratificação das convenções internacionais, a criminalização da lavagem de dinheiro, a criação de uma lei de combate ao crime organizado, a especialização de órgãos públicos, a criação de um escritório de recuperação de ativos e cooperação jurídica internacional e de uma estratégia nacional de combate à corrupção e à lavagem de ativos (ENCCLA).

O capítulo 4 será destinado ao processo penal brasileiro, em especial às medidas de constrição de bens existentes em nosso ordenamento jurídico. Falar- se-á do sequestro, da hipoteca legal, do arresto (provisório e subsidiário) e da busca e apreensão. Procurar-se-á demonstrar a regra geral prevista nos Códigos Penal e de Processo Penal, bem como aquelas específicas previstas na legislação extravagante, como no Decreto-Lei 3.240/41, na Lei 9.613/98, na Lei 11.343/06 e na Lei 8.242/92.

Posteriormente, serão abordados aspectos práticos expondo uma pesquisa realizada pela Faculdade Getúlio Vargas do Rio de Janeiro (FGV/RJ) sobre a aplicação das medidas constritivas pelos magistrados brasileiros, a avaliação do país pelo GAFI e o Sistema Nacional de Bens Apreendidos (SNBA). Finalizar-se-á o capítulo com o direito comparado, expondo como Alemanha, Colômbia e México tratam do assunto.

O capítulo 5 será destinado à exposição da destinação dos bens constritos, durante a instrução processual e depois do trânsito em julgado da ação penal. Antes de haver uma decisão final, as destinações mais comuns são o encaminhamento aos depósitos policiais ou judiciais, a alienação antecipada e a nomeação de um depositário (que pode ser o próprio investigado ou um terceiro).

Após o trânsito em julgado, em caso de não condenação, os bens são devolvidos ao proprietário. Em caso de condenação, em geral, são vendidos, sendo o produto resultante utilizado para indenizar a vítima ou terceiros e o restante é perdido em

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favor do Estado. A destinação geral é o Fundo Penitenciário Nacional (FUNPEN), havendo destinações específicas, como aquelas previstas na Lei 10.826/03, e na Lei 11.343/06. Serão ainda expostos os procedimentos adotados nos procedimentos administrativos da Receita Federal do Brasil. Finalizando o capítulo, expor-se-á a legislação modelo proposta pela Organização dos Estados Americanos (OEA) sobre o tema e como o tema é tratado no México, na Costa Rica, na Espanha, nos Estados Unidos, no Reino Unido e na Itália.

Por fim, o capítulo 6 trará as propostas deste trabalho. Inicialmente, tratar-se-á da relação entre exclusão social, violência e educação e da importância desta nos presídios. Posteriormente, far-se-á as propostas em si, as quais serão divididas em dois “blocos”. O primeiro relaciona-se à possibilidade de haver a alienação antecipada dos bens com a utilização dos recursos obtidos com a mesma após a decisão de segunda instância.

Já o segundo refere-se a como tais recursos devem ser aplicados, sempre em atividades educacionais nos presídios, em especial no desenvolvimento de material didático padronizado, na criação de um programa nacional de capacitação em educação nos presídios, na realização de seminários sobre educação nos presídios, no financiamento a pesquisas sobre o tema, na publicação de trabalhos produzidos pelos detentos e colocando condições para o repasse de recursos aos estados, tais como a adesão ao plano nacional de educação nos presídios, a existência de estrutura física adequada para atividades educacionais nos estabelecimentos prisionais e a existência de pessoal capacitado para a função.

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CAPÍTULO 1 – PREMISSAS CONCEITUAIS

O presente capítulo tem por objetivo expor as premissas nas quais todo o trabalho está baseado. Inicialmente, falar-se-á sobre o surgimento e desenvolvimento do Estado de Direito, desde o Estado grego, até os dias atuais, passando pelo Estado absolutista e pelo Estado iluminista. Posteriormente, expor- se-á o Estado Democrático de Direito, o qual, dentre outras características, aponta para a divisão dos poderes e para a soberania popular.

Posteriormente, falar-se-á da cidadania, a qual, atualmente, é dividida em, pelo menos, três partes: a cidadania civil, a cidadania política e a cidadania social.

Nos tempos do Estado Democrático de Direito, determinados princípios devem ser respeitados. Assim, falar-se-á do devido processo legal, da presunção de inocência, do contraditório, da coisa julgada, da tramitação do processo em tempo razoável e do garantismo.

1.1 O ESTADO DE DIREITO

A origem do Estado de Direito não é pacífica na doutrina, existindo duas correntes a respeito. A primeira afirma que o Estado de Direito é algo novo na história, localizado histórica e politicamente no liberalismo dos séculos XVIII e XIX.

Já a outra corrente afirma que o Estado de Direito não está ligado a particulares condições históricas, ideológicas ou filosóficas específicas, mas é tão antigo quanto o próprio pensamento filosófico-político.

Essa segunda corrente entende que, por exemplo, na Grécia Antiga, já se podia constatar a existência de um Estado de Direito. O Estado grego tinha como características o império das leis e a ideia de que o Estado somente poderia atuar na via do direito, em conformidade com uma regra geral por todos formulada.

Porém, é certo que o Estado de Direito moderno teve origem no liberalismo, senão vejamos. Durante o absolutismo, em que o poder era concentrado nas mãos do monarca, a vontade arbitrária do Príncipe impõe-se na medida em que

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há o gradual desaparecimento das possibilidades de defesa judicial dos particulares relativamente às ofensas do Poder.

O monarca tem o direito de intervir em todos os domínios de interesse do bem público em nome da raison d’État. Ele, como primeiro servidor do Estado, tem o dever de providenciar o bem-estar geral e, através do jus politiae tem a possibilidade de, pessoalmente ou através de funcionários do Estado, intervir sem limites em todos os domínios, dos mais aos menos importantes, desde que o próprio Príncipe o considere necessário para a obtenção do bem público. Portanto, o Estado situava-se à margem do direito, sendo que o poder de polícia do monarca era superior aos direitos dos particulares. A lei não restringia o poder do monarca.

Segundo Reis Novaes1, o constrangimento individual e a falta de previsibilidade e segurança, decorrentes da atividade discricionária e ilimitada de um príncipe empenhado na construção de uma nação “culta e polida”, provocariam inevitavelmente a reação da burguesia ascendente contra o Estado de Polícia.

Assim, há o deslocamento pela burguesia de reivindicações de liberdade do plano de uma liberdade social para uma liberdade individual. Tal fato ocorre, pois a burguesia tinha a necessidade de autonomia e auto-regulação da vida econômica, o que não se adequava ao poder do Príncipe.

A fim de atingir seus objetivos, a burguesia tinha a necessidade de um Estado racionalizado e previsível, limitado por regras gerais e abstratas, em que as esferas de autonomia dos cidadãos e a vida econômica não estivessem dependentes de intervenções arbitrárias do Monarca.

Deveria haver a limitação jurídica do Estado, o qual deveria ser considerado um sujeito de direitos, capaz de assumir também deveres. Os direitos fundamentais do homem, dentre os quais o direito à propriedade, deveriam ser garantidos.

                                                                                                               

1 REIS NOVAES, Jorge. As origens do estado de direito, in Contributo para uma Teoria de Estado de Direito.

Coimbra: Almedina, 2006, p. 40.

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Principalmente a partir da Revolução Gloriosa, na Inglaterra, a burguesia se movimentou a fim de desenvolver as suas atividades e possibilitou a criação do Estado de Direito moderno2. Assim, o Estado de Direito tem sua concepção moderna, principalmente a partir do séc. XVIII, ligada diretamente ao iluminismo3. Tem como característica mais forte o império da lei, a qual deve ser produzida de uma forma democrática, substituindo a vontade do monarca. Portanto, uma das principais características do atual Estado de Direito, que está vinculado à fonte do poder, é a presença da democracia - cria-se a lei segundo a vontade da maioria.

Outra característica do Estado de Direito é a separação de poderes.

Isso ocorre para que os governos sejam controlados, evitando assim um abuso de poder. Para o Estado, todas as pessoas devem ser consideradas iguais, possuidoras de direitos e deveres. Deve haver a limitação jurídica dos Estados, sendo que é a lei que dá parâmetros para atuação do Estado e dos homens. É um governo das normas e não governo dos homens, tendo o Estado como promotor e garantidor dos direitos fundamentais do ser humano.4

                                                                                                               

2 SCHEINMAN, Mauricio. Um breve conceito sobre o Estado Democrático de Direito. Blog do Scheinman.

Disponível em: <http://blogdoscheinman.blogspot.com/.../um-breve-conceito-sobre-o-estado.html>. Acesso em 05 nov. 2009, p. 5. Scheinman afirma que a submissão do Estado de Direito é resultado das revoluções burguesas do séc. XVIII, surgidas em oposição ao absolutismo, para colocar os governantes sob a vontade da lei (princípio da legalidade), sendo este produto da vontade geral do povo ou da nação, mas com o objetivo de manter o poder público na passividade, respeitando as liberdades fundamentais do indivíduo (as chamadas liberdades públicas ou liberdades negativas). A conquista e a manutenção da liberdade do indivíduo e de seus direitos fundamentais, opostas ao poder absoluto, foram a grande bandeira do liberalismo. O Estado de Direito, de cunho liberal, portanto, é caracterizado, em suma, pela presença de dois elementos: a limitação do poder estatal e o respeito aos direitos fundamentais do homem. Nessa limitação estatal, dois fenômenos ocorrem: a) a limitação dos poderes do Estado (noção de Estado de Direito); b) a limitação das funções do Estado (noção de Estado mínimo).

3 Segundo KANT, I. An Answer to the question: What is Enlightenment? Disponível em:

http://www.english.upenn.edu/~mgames/Etexts/kant.html. Acesso em 18 de abril de 2009, "O Iluminismo representa a saída dos seres humanos de uma tutelagem que estes mesmos se impuseram a si. Tutelados são aqueles que se encontram incapazes de fazer uso da própria razão independentemente da direção de outrem. É se culpando da própria tutelagem quando esta resulta não de uma deficiência do entendimento, mas da falta de resolução e coragem para se fazer uso do entendimento independentemente da direção de outrem. Sapere aude! Tem coragem para fazer uso da tua própria razão! - esse é o lema do Iluminismo".

4 Sobre o Estado, afirmam Rodrigues e Filho que suas características mais relevantes são: a soberania do Estado Nacional, a unidade do ordenamento jurídico, a divisão dos poderes estatais, o primado da lei sobre outras fontes de proteção jurídica, o reconhecimento da certeza do Direito como valor político fundamental, a igualdade formal dos cidadãos perante a lei, o reconhecimento e a proteção de direitos individuais, civis e políticos, a garantia constitucional, a distinção entre público e privado e a afirmação da propriedade privada e da liberdade de iniciativa econômica. Somente a igualdade de todos ante a lei poderia se constituir em um formidável ponto de partida para uma nova era de direitos. (RODRIGUES, Geisa de Assis e FILHO, Robério

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1.1.1 A Evolução do Estado de Direito

O Estado liberal, o qual tem como características principais o Estado mínimo (o Estado afastado da função de planejar e executar medidas econômicas, de forma que o mercado entre em uma harmonia natural) e o individualismo, no sentido de o homem ser hipersuficiente, trouxe muito desenvolvimento para a sociedade, mas o custo social foi muito grande.

A partir do final do século XIX e início do século XX, alteram-se as características do Estado de Direito. As principais causas para tal modificação foram a conscientização de que o indivíduo não é hipersuficiente, mas hipossuficiente e de que o Estado deveria planejar a economia. A desigualdade material, a injustiça nas relações privadas e públicas, as limitações da proteção jurídica estritamente individual demonstraram a inépcia do Estado Liberal para atender os reclamos da nova ordem.

O principal golpe ao capitalismo (portanto no Estado liberal) foi a crise de 1929. O Estado capitalista, temendo perder o poder, faz concessões, de forma que o Estado liberal ou legislativo de direito foi substituído pelo Estado social de direito.

São pressupostos desse novo modelo de Estado que o mesmo deixe de ser um Estado passivo (negativo), garantidor da harmonia natural, passando a ser um Estado ativo (positivo), tendo um papel importante na organização, planejamento e execução socioeconômica. Começa-se a pensar na função social da propriedade, na existência de direitos sociais, como a moradia e o trabalho, e que o direito individual deve passar a conviver com os direitos dos grupos5. Há mudança                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                          

Nunes dos Anjos. Estado democrático de direito: conceito, história e contemporaneidade. Disponível em:

<www.ibec.inf.br/roberio.pdf>. Acesso em 21 out. 2009, p. 2)

5 Bobbio afirma que primeiro liberal, no qual os indivíduos que reivindicam o poder soberano são apenas uma parte da sociedade; depois democrático, no qual são potencialmente todos a fazer tal reivindicação; e, finalmente, social, no qual os indivíduos, todos transformados em soberanos sem distinção de classe, reivindicam – além dos direitos de liberdade – também os direitos sociais, que são igualmente direitos do indivíduo: o Estado dos cidadãos, que não são mais somente os burgueses, nem os cidadãos que fala Aristóteles no início do Livro III da Política, definidos como aqueles que podem ter acesso aos cargos públicos, e que, quando excluídos os escravos e estrangeiros, mesmo numa democracia, são uma minoria.

BOBBIO, Norberto. A era dos direitos: tradução de Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Campus, 1992, p. 100.

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nas premissas do Estado. O individualismo passa a conviver com os limites do social.

A nova realidade dos Estados tem como características, a criação de um sistema de proteção internacional do indivíduo (direitos individuais internacionais), a existência de uma nova concepção de cidadania (Ex. União Europeia / OEA). Mais forte no espaço comunitário, o fortalecimento das figuras de Estados regionais, como por exemplo, a União Europeia, a criação de estruturas internacionais para firmar leis e tratados (Ex. Convenções da ONU, UE), a ideia de que as políticas públicas internas passam a ser determinadas pelas políticas globais, a existência de políticas públicas globais e solidariedade internacional e que o direito interno dos países passa a estar em interação com o direito internacional.

1.1.2 Estado Democrático de Direito

Pode-se apontar como características do Estado Democrático de Direito, a subordinação do Estado ao direito, a defesa dos direitos fundamentais e da segurança de seus cidadãos e a adoção dos princípios da razoabilidade, da responsabilidade por seus atos e do respeito da via judicial. Além disso, o Estado estrutura-se a partir da divisão dos poderes e da descentralização de suas atividades, sendo a sua administração orientada pelo princípio da legalidade e voltada à supremacia dos princípios da liberdade e da igualdade, sem nunca afastar o fundamento popular do poder e a defesa do bem público.

Dizer que o Estado está sujeito ao direito significa que o poder político não é um poder livre, desvinculado, transcendente a toda e qualquer legislação. Ao contrário, quer dizer que o direito conforma o poder, o organiza e o sujeita a um conjunto de regras e princípios básicos. Dizer que o Estado está sujeito a uma ideia de justiça significa afirmar que o Estado de Direito está subordinado a pressupostos axiológicos reconhecidos por uma Constituição.

O Estado de Direito não é necessariamente um Estado Democrático de Direito. Um dos requisitos do Estado Democrático de Direito é que o poder emane do povo. Assim, o Estado somente será democrático se e quando o povo exercer efetivamente o poder por meio de seus representantes, ou, em algumas

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circunstâncias, diretamente. O Estado Democrático de Direito é um Estado alicerçado na soberania popular e na defesa e no cuidado com o bem público, com a coisa pública.

Segundo José Afonso da Silva6, os princípios necessários para existência efetiva de um Estado Democrático de Direito são: princípio da constitucionalidade, principio democrático, princípio da justiça social, sistema de direitos fundamentais, princípio da igualdade, princípio da divisão de poderes, princípio da legalidade e princípio da segurança jurídica.

1.1.2.1 Devido Processo Legal

A produção e a incidência das normas penais no Estado Democrático de Direito se subordinam a limites não ultrapassáveis, os quais defluem dos princípios gerais delineados na Constituição Federal, em especial o do devido processo legal.

O devido processo legal surge inicialmente com acepção meramente formal na Inglaterra, nos tempos de João Sem Terra, em que o Estado era a lei. Era o próprio soberano quem fazia e cumpria a lei.

O direito americano, em especial com as Emendas 5 e 14 traz um robustecimento ao conceito. A Emenda 5 deixa claro que o exercício ao direito à liberdade e à propriedade obedecem o due processo of law, ou o devido processo legal. A expressão due process of the law foi empregada para significar um processo legal e anteriormente previsto em lei, que deve se estender de forma igualitária a todos os homens. Trata-se de um processo justo a que tem direito o cidadão antes de ser privado de sua vida, de sua liberdade ou de sua propriedade.

Já a Emenda 14 traz grande transformação, uma vez que não se fala mais somente de due process of law, mas também da equal protection of law, ou igual proteção da lei, de forma que o devido processo legal passa a significar igualdade na lei, e não só perante a lei. Ela já previu que nenhum Estado americano                                                                                                                

6 SILVA, José Afonso da. Direito constitucional positivo. 6a. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1990, p.

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poderia privar qualquer pessoa de sua vida, liberdade ou bens sem processo legal, ou negar a qualquer pessoa sob sua jurisdição a igual proteção de leis.

No Brasil, apesar de já estar presente nas anteriores cartas, o devido processo legal foi expressamente inserido no texto constitucional de 1988, quando o artigo 5O, LIV, da nossa Carta Magna declara que ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal. É um texto moderno, chamado de Constituição Cidadã, no qual se impõe a igualdade formal e substancial de todos os cidadãos perante a lei.

Segundo esse princípio, não basta que o processo seja instrumento.

Impõe-se que não se olvide das garantias constitucionais e processuais e dos princípios que devem regê-lo. Trata-se de uma garantia de um julgamento regular, que obedeça a um processo fundado em leis previamente existentes, possibilitando um efetivo acesso à justiça, com a incidência do contraditório, com publicidade dos atos e paridade de armas, com decisões motivadas e fundamentadas, possibilitando, assim, a ampla defesa.

A ordem jurídica de um país deve garantir o mais amplo acesso à jurisdição, permitindo ao indivíduo o exercício do direito de ação e do direito de defesa. O exercício de ação e de defesa deve estar de acordo com o devido processo legal qualificado como justo, com procedimento previsto, conhecido e considerado em todos os seus aspectos garantidores.

O Due Process é a equidade procedimental com aquilo que ela mais inflexivelmente exige. A equidade compreende, fundamentalmente, reequilibrar os dois pratos da balança, que, quando do início da ação, pese embora a previsão constitucional da presunção de inocência estão em desequilíbrio, pois o estado já traz consigo os atos investigatórios que, não em poucos casos, servem de supedâneo para o próprio decreto condenatório. É assim chamado porque deve ser conduzido rigorosamente de acordo com a lei, não estando ao arbítrio da autoridade.

O processo devido tem não apenas que ser legal, tendo seus procedimentos previstos e conhecidos e permitindo às partes a ampla participação,

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mas deve também ser justo, considerando-se os seus aspectos garantidores e acontecendo em um prazo razoável. Somente se pode permitir um processo democrático se o mesmo tiver como fulcro o princípio em tela. É a possibilidade de se efetivar o princípio da igualdade, verdadeira equiparação processual para um processo justo e digno.

Assim, o devido processo legal consiste numa garantia colocada à disposição do homem e do poder jurisdicional a fim de permitir uma decisão conforme a Justiça. Em sua perspectiva formal, instrumental, projeta princípios que, sem prejuízo da punibilidade, visam a garantir desdobramentos hígidos, regulares, seguros, da relação jurídico-processual e que, desse modo, funcionam como escudos de contenção contra os excessos do Estado-Acusador.

São consequências do devido processo legal: o sistema acusatório do processo, a presunção de inocência, o direito à tramitação do processo em tempo razoável, a acusação por fato certo e explícito, o juízo natural, a proibição de uso de provas ilícitas e ilegítimas, o direito à indevida publicidade dos atos do processo, o direito à ampla defesa, o direito ao contraditório, a fundamentação das decisões judiciais, o direito aos recursos e a intangibilidade da coisa julgada.

Abaixo falar-se-á de alguns dos princípios constitucionais que derivam do princípio do devido processo legal.

1.1.2.2 Presunção de Inocência

A democracia é um sistema político-cultural que valoriza o indivíduo frente ao Estado e que se manifesta em todas as esferas da relação Estado- indivíduo. Inegavelmente, leva a uma democratização do processo penal, refletindo essa valorização do indivíduo no fortalecimento do sujeito passivo do processo penal. O princípio que primeiro impera no processo penal é o da proteção dos inocentes, ou seja, o processo penal como direito protetor dos inocentes. A presunção de inocência adquire caráter constitucional e deve ser mantida até que exista uma sentença penal condenatória transitada em julgado.

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Sua origem, remonta à Declaração dos Direitos dos Homens e do Cidadão de 1791, a qual proclamava em seu art. 9º que:

Tout homme étant présumé innocent jusqu’a ce qu’il ait été déclaré coupable; s’il est jugé indispensable de l’arrêter, toute rigueur Qui ne serait nécessaire pour s’assurer de as personne, doit être sévèrement reprimée par la loi.

Mencionado princípio repercutiu universalmente, tendo se reproduzido, mais recentemente, na Declaração dos Direitos Humanos, da ONU, de 1948, que consagrou em seu art. 11:

Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência, enquanto não se prova sua culpabilidade, de acordo com a lei e em processo público no qual se assegurem todas as garantias necessárias para sua defesa.

Com efeito, o Pacto de São José da Costa Rica, em seu art. 8º, I, estabelece o princípio da presunção de inocência ou do estado de inocência, em sua dimensão real, ao asseverar que: "Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência enquanto não se comprove legalmente sua culpa".

O princípio da presunção de inocência ou do estado de inocência, desdobramento do princípio do devido processo legal, está previsto no art. 5º, inciso LVII, da Constituição Federal, que assim dispõe: "ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória", consagrando-se um dos princípios basilares do Estado de Direito como garantia processual penal, visando à tutela da liberdade pessoal. A nossa Lei Fundamental, ao dispor sobre o princípio da presunção de inocência, obriga o Código de Processo Penal a encontrar um equilíbrio entre a prerrogativa da pretensão punitiva do Estado e o direito à liberdade assegurado ao cidadão, pois mesmo que pese sob este uma imputação, só poderá ser considerado definitivamente culpado quando a decisão judicial condenatória transitar em julgado.

Esse princípio assegura ao réu, em causa criminal, não sofrer, até o trânsito em julgado da sentença, sanção ou consequência jurídica danosa, cuja justificação normativa dependa deste mesmo trânsito em julgado de sentença condenatória, que é o juízo definitivo da culpabilidade.

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Como corolário dessa ideia, foi preciso desenvolver o sistema acusatório, atribuindo-se a um órgão público a missão de alegar e provar os fatos criminais, em nome do Estado, desfazendo a presunção legal que vigora em prol do indivíduo. Não sendo da defesa a responsabilidade de provar os fatos desconstitutivos do pedido, o ônus de demonstrar e provar a culpabilidade é da acusação. Não cabe ao réu a prova de sua inocência, mas ao contrário, é preciso que o membro ministerial consiga trazer ao processo a suposta verdade processual de que aquele réu é culpado.

No modelo acusatório, não só a dúvida resolve-se em favor do acusado, mas há uma distribuição desigual do ônus da prova, atribuindo-se à acusação fardo bem mais expressivo do que à defesa. A acusação deve provar os elementos constitutivos do crime, incluindo materialidade e autoria. Já à defesa basta, para absolvição, apenas levantar uma dúvida razoável, o que pode ser feito através de uma defesa meramente plausível, ou seja, independente de uma prova plena ou categórica. Levantada a dúvida, cabe a acusação, se quiser, afastá-la, provando a sua improcedência, o que exige uma prova categórica. O caso criminal não é julgado mediante avaliação da preponderância das provas, ou seja, mediante comparação de probabilidades probatórias, mas através de uma demonstração acima de qualquer dúvida razoável da responsabilidade criminal do acusado.7

Segundo Alexandre de Moraes: “a presunção de inocência condiciona toda condenação a uma atividade probatória produzida pela acusação e veda taxativamente a condenação, inexistindo as necessárias provas”. 8 Continua “O ônus da prova dos fatos constituídos da pretensão penal pertence com exclusividade à acusação, sem que se possa exigir a produção por parte da defesa de provas referentes a fatos negativos (provas diabólicas)”.

                                                                                                               

7 Sobre a presunção de inocência e o princípio do in dubio pro reo, o STF assim sentenciou: “Nenhuma acusação pessoal presume provada. Não compete ao réu demonstrar a sua inocência. Cabe ao MP comprovar, de forma inequívoca, a culpabilidade do acusado. Já não mais prevalece, em nosso sistema de direito positivo, a regra, que, em dado momento histórico, do processo político brasileiro (Estado Novo), criou para o réu, com a falta de pudor que caracteriza os regimes autoritários, a obrigação de o acusado provar a sua própria inocência.

(Decreto- Lei nº. 88, de 20/12/37, art. 20, no. 5)”. STF, Rel. Min. Celso de Mello, HC no 73.338/RJ, 1a T., in RTJ 161/264.

8 MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil interpretada. São Paulo: Atlas, 2002, p. 385.

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Extrai-se, como consequência geral, a proibição de restrições antecipadas a direitos do réu pelo simples fato de estar a responder em ação judicial, salvo a imposição de restrições e deveres necessários à preservação da integridade da própria ação judicial, ou da ordem pública, a qual, em um Estado Democrático de Direito, terá que observar os parâmetros próprios a uma sociedade democrática.

Tal princípio é parte vital da democracia, na qual todos são iguais perante a lei. Então, que todos sejam nivelados pelo lado mais positivo, a inocência.

Não pode haver precipitação no momento de decidir o futuro do agente, pois, assim como o ser humano é passível de erros ao ponto de praticar um crime, também poderá sê-lo ao decretar a custódia preventiva.

Para Fernando Capez:

O princípio da presunção de inocência desdobra-se em três aspectos: a) no momento da instrução processual, como presunção legal relativa de não culpabilidade, invertendo-se o ônus da prova; b) no momento da avaliação da prova, valorando-a em favor do acusado quando houver dúvida; c) no curso do processo penal, como paradigma do tratamento do imputado, especialmente no que concerne à análise da necessidade da prisão processual. 9

Uma interpretação possível é a de que o acusado não pode ser privado de seus bens ou de sua liberdade antes do trânsito em julgado. Tal interpretação extremada, contudo, não é compatível com os institutos processuais consagrados do sequestro e da prisão cautelar.

1.1.2.3 Contraditório

O contraditório é uma garantia constitucional às partes litigantes. A Constituição Federal prevê em seu art. 5º, LV, que “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meio e recursos a ela inerentes”.

                                                                                                               

9 CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 44.

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O contraditório no processo penal significa oportunizar ao réu a manifestação em relação a toda intervenção processual realizada pela parte acusatória, incluindo-se aí a denúncia e as alegações finais apresentadas pelo Parquet, as provas colacionadas nos autos ou produzidas no curso processual, de forma que o réu seja o último a ser ouvido no processo.

Ninguém pode ser atingido por uma decisão judicial na sua esfera de interesses sem ter tido ampla possibilidade de influir eficazmente na sua formação.

O contraditório é uma consequência do princípio político da participação democrática e pressupõe a audiência bilateral, o direito de apresentar alegações, propor e produzir provas, participar da produção das provas requeridas pelo adversário ou determinadas de ofício pelo juiz e a congruidade dos prazos.

1.1.2.4 Coisa Julgada

O processo penal, dentro dos limites de um Estado Democrático de Direito, tem que dar as garantias necessárias ao acusado de que as questões propostas, discutidas e decididas pelo Estado, não poderão ser reabertas, sob pena de se criar uma instabilidade social e um abalo aos pilares de sustentação do Estado justo de direito.

A coisa julgada é uma consequência necessária do direito fundamental à segurança, pois todos aqueles que travam relações jurídicas com alguém, em que obtêm determinado direito reconhecido judicialmente, devem poder confiar na certeza da sua eficácia. Seu fundamento repousa exatamente na necessidade que tem o Estado de garantir a todos os indivíduos (partes ou não no processo) que os conflitos que foram objeto de julgamento e, portanto, de apreciação pelo Estado, terão um fim com a decisão judicial, de forma a não mais se admitir discussão. É garantia fundamental do processo porque se aquele a quem o juiz atribuiu o pleno gozo de um direito não puder, daí em diante, usufruí-lo plenamente sem ser mais molestado pelo adversário, a jurisdição não se tornará capaz de assegurar em definitivo a eficácia concreta dos direitos dos cidadãos.

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Segundo Liebman10, a coisa julgada é o comando emergente de uma sentença. Não se identifica com a definitividade e intangibilidade do ato que pronuncia o comando; é, pelo contrário, uma qualidade mais intensa e mais profunda que reveste o ato também em seu conteúdo e torna assim imutáveis, além do ato em sua existência formal, os efeitos, quaisquer que sejam, do próprio ato.

1.1.2.5 Direito à Tramitação do Processo em Tempo Razoável

Derivação do devido processo legal a razoável duração do processo é o direito ao processo sem dilações injustificadas, independentemente do conteúdo da matéria civil, administrativa ou criminal.

A razoável duração do processo e os meios que garantem a celeridade de sua tramitação foram incluídos em nossa Constituição através da Emenda Constitucional 45, de 8 de dezembro de 2004, inserindo o inciso LXXVIII no artigo 5o. Essa questão foi também abordada pela Convenção Europeia de Direitos Humanos, a qual, em seu artigo 6o, afirma que a justiça que não cumpre suas funções dentro de um prazo razoável é, para muitas pessoas, uma justiça inacessível.

Importante realçar que a garantia de julgamento em prazo razoável abrange não só a tramitação do processo, mas também a tramitação e o julgamento inclusive perante os órgãos colegiados. Enquanto não for confirmada a sentença condenatória, o acusado é presumivelmente inocente.

O direito à prestação jurisdicional em prazo razoável é uma exigência da tutela jurisdicional efetiva. A demora no julgamento cria uma instabilidade na situação jurídica das partes, incompatível com a noção de segurança jurídica exigível em toda sociedade democrática. A jurisdição deve assegurar a quem tem razão o pleno gozo do seu direito durante o máximo tempo possível.

Entretanto, a rapidez não pode prejudicar o contraditório nem a ampla defesa. Deve-se buscar o máximo de garantia do devido processo legal em um                                                                                                                

10 LIEBMAN, Enrico Tullio. Eficácia e autoridade da sentença. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1984, p. 54.

Referências

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