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A Cooperação Internacional

No documento Crime organizado 3 (páginas 76-79)

Capítulo 3 – O Crime Organizado e seu Combate

3.2   O COMBATE AO CRIME ORGANIZADO

3.2.1   Combate ao Crime Organizado – Diretrizes Internacionais

3.2.1.3   A Cooperação Internacional

                                                                                                               

34 O processo de lavagem de dinheiro que visa dar aparência lícita aos recursos de origem ilícita é bastante complexo, envolvendo três etapas: colocação, circulação (ou ocultação) e integração. Pode-se resumir o processo de lavagem da seguinte forma: os recursos ilícitos são inseridos no sistema financeiro formal na etapa de colocação. Após isso, passam por diversas contas no país e no exterior em nome de diversas pessoas na etapa de circulação. Depois de desvincular-se da origem ilícita, os recursos são novamente inseridos na economia formal na etapa da integração.

35  Nos termos de RODRIGUES, Felipe Bernardes. A repressão à lavagem de dinheiro e as garantias

constitucionais: tendências atuais. Disponível em:

<http://biblioteca.universia.net/html_bura/ficha/params/title/repressão-a-lavagem-dinheiro-as-garantias-constitucionais-tendências-atuais/id/52529441.html>. Acesso em 23. ago. 2011: O ilustre Damásio de Jesus vislumbrou na lenda de Ali Babá a origem do crime de lavagem de capitais. De certa forma, os criminosos sempre tiveram necessidade de dissimular a origem ilícita de seus ativos.

Diante da globalização do mundo atual e da atuação das organizações criminosas em territórios de diversos países, outra pilastra muito importante para o combate ao crime organizado é uma rápida e eficiente cooperação internacional. Apesar de haver evoluído bastante a cooperação entre os países ainda é precária, tendo em vista a dificuldade dos mesmos em questões relativas à soberania.

Os objetivos principais da cooperação internacional são a produção de atos processuais, a obtenção de provas em outros países e a retirada dos bens dos criminosos. Quando existem indícios de que determinado investigado tem recursos em outros países, as autoridades onde o processo penal está em andamento devem pedir a cooperação dos mesmos para realizar, em um primeiro momento, o bloqueio dos mesmos e, posteriormente, a repatriação.36

As trocas de informação podem ocorrer em nível de inteligência ou como cooperação jurídica. Em nível de inteligência, pode-se citar a troca de informações entre policiais, entre os membros dos Ministérios Públicos e entre as Unidades de Inteligência Financeira (UIF).

Sem dúvida, a cooperação mais eficiente e rápida que existe nos dias atuais é aquela feita através da INTERPOL37. Além da cooperação feita através da INTERPOL, policiais de todo o mundo também trocam informações diretamente através de adidos policiais.38

                                                                                                               

36 Vale ressaltar que para que ocorra a repatriação dos ativos ao país de origem, a grande maioria dos países onde os recursos estão bloqueados exigem uma decisão final irrecorrível da Justiça.

37 A Organização Internacional de Polícia Criminal, mundialmente conhecida pela sua sigla Interpol (em inglês:

International Criminal Police Organization), é uma organização internacional que ajuda na cooperação de

polícias de diferentes países. Foi criada em Viena, na Áustria, no ano de 1923, pelo chefe da polícia vienense Johannes Schober, com a designação de Comissão Internacional de Polícia Criminal. Entre 1938 e 1945 após a anexação da Áustria pelo Terceiro Reich, a organização foi comandada por quatro diferentes oficiais nazistas da SS; Otto Steinhäusl, Reinhard Heydrich, Arthur Nebe e Ernst Kaltenbrunner, todos eles mortos durante a II Guerra Mundial ou executados como criminosos de guerra ao fim do conflito. Hoje sua sede é em Lyon, na França, tendo adotado o nome atual em 1956 e tem a participação de 190 países membros. A sigla Interpol foi pela primeira vez utilizada em 1946. A Interpol não se envolve na investigação de crimes que não envolvam vários países membros ou crimes políticos, religiosos e raciais. Trata-se de uma central de informações para que as polícias de todo o mundo possam trabalhar integradas no combate ao crime internacional, o tráfico de drogas e os contrabandos.

38 No Brasil, existem adidos dos seguintes países: África do Sul, Alemanha, Austrália, Canada, Colômbia, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, rança Inglaterra, Itália, Japão, Peru, Portugal e Suíça. Nos últimos anos, a Polícia Federal Brasileira tem expandido sua atuação, possuindo atualmente adidos nos seguintes países: África do Sul, Argentina, Bolívia, Colômbia, Estados Unidos, França, Itália, Paraguai, Peru, Portugal, Reuni Unido, Suriname e Uruguai.

Os membros dos Ministérios Públicos também trocam informações diretamente com seus congêneres nos outros países. Existem alguns grupos com membros do parquet que foram criados com esse objetivo.

As Unidades de Inteligência Financeira (UIFs) trocam informações de inteligência, as quais, dentre outras funções, recebem a comunicação de operações atípicas ou suspeitas que ocorrem no âmbito de atuação das chamadas pessoas obrigadas. Tais informações podem ser trocadas pelas UIFs de todo o mundo através do Grupo de Egmont.39

Porém, grande parte das informações entre os países não pode ser trocadas por canais de inteligência, uma vez que devem passar pelo crivo do Poder Judiciário. O mesmo se diga quanto aos pedidos de execução de medidas judiciais entre os países cooperados. A via correta para esses casos é a chamada cooperação jurídica internacional. Medidas como o sequestro e apreensão de bens, quebras de sigilo bancário e fiscal, citações e outros somente podem ser feitas através dessa modalidade de cooperação. A fim de realizar a cooperação jurídica internacional, em geral os países indicam uma autoridade central para coordenar a tramitação e execução dos mesmos.40

Apesar de haver um significativo progresso nos últimos anos, o fato é que a cooperação jurídica internacional ainda é bastante deficiente. Conforme anteriormente colocada, os países têm grande dificuldade para equilibrar as questões da cooperação jurídica internacional e da soberania.

Muitas vezes um pedido, por exemplo, de bloqueio de bens de um criminoso que se encontra no exterior demora meses, senão anos para ser cumprido, de forma que quando da efetivação da medida, muitas vezes ela já não é útil às investigações e ao combate à criminalidade, pois àquela altura os valores já foram há muito transferidos daquela conta.

                                                                                                               

39 Quem exerce essa função no Brasil é o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF).

40 No Brasil, na esfera criminal, a autoridade central é o Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI), departamento vinculado à Secretaria Nacional de Justiça do Ministério da Justiça. A Procuradoria Geral da República (PGR), e não o DRCI, é a autoridade central brasileira para pedidos de cooperação jurídica internacional baseados em acordos bilaterais que envolvam o Canadá e Portugal.

Por outro lado, muitas dessas medidas somente são aceitas pelo Poder Judiciário se realizadas através da cooperação jurídica internacional, o que nos leva a um grande problema. Se o combate ao crime organizado é prioridade para a comunidade internacional, se a cooperação jurídica internacional é condição essencial a esse enfrentamento e se a mesma é extremamente lenta na grande maioria dos países, como avançar-se-á no combate à criminalidade?

Abaixo, indicar-se-á alguns textos internacionais sobre o tema, destacando a questão dos confiscos de bens, a lavagem de dinheiro e a cooperação internacional.

No documento Crime organizado 3 (páginas 76-79)