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Alienação Antecipada

No documento Crime organizado 3 (páginas 125-128)

Capítulo 5 – Destinação dos bens apreendidos

5.1   DESTINAÇÃO DOS BENS APREENDIDOS ANTES DO TRÂNSITO EM

5.1.2   Alienação Antecipada

A alienação antecipada é uma medida adicional que permite assegurar a efetividade da persecução penal, já que objetiva mitigar os efeitos da deterioração ou da depreciação do bem sob tutela judicial.

O Código de Processo Penal (CPP) determina que os bens apreendidos, quando forem de fácil deterioração, poderão ser vendidos no curso do processo, conforme redação do art. 120, § 5º. E ainda, no art. 139, estabelece a aplicabilidade do Código de Processo Civil (CPC) quanto ao depósito e administração dos bens arrestados. Segundo o art. 670 deste diploma, o juiz pode autorizar a alienação antecipada quando os bens estiverem sujeitos à deterioração ou à depreciação ou quando houver manifesta vantagem.88

                                                                                                               

88 PROCESSUAL PENAL. MANDADO DE SEGURANÇA. ALIENAÇÃO ANTECIPADA DE AUTOMÓVEIS. POSSIBILIDADE. BENS SUJEITOS A DETERIORAÇÃO ACELERADA E A DEPRECIAÇÃO. SEGURANÇA DENEGADA. 1. O ato que determina o leilão, embora praticado por um juiz, é efetuado na administração dos bens apreendidos, não consubstanciando ato jurisdicional, de tal sorte que lhe basta a fundamentação própria do ato administrativo. 2. É notória e autoevidente a rápida deterioração a que se sujeitam os veículos sem uso, somada à sua desvalorização no mercado, justificando sua alienação, se não for de logo deferida a sua restituição. 3. Aguardar o trânsito em julgado da sentença que decretar o perdimento ou mandar restituir os automóveis somente prejudicaria a parte a quem houvesse de caber a propriedade desses bens. 4. Segurança denegada. (TRF3 MS 200803000383566/MS, Primeira Seção, Relª. Des. Cecilia Mello, public. no DJ de 27.10.1999). (GRIFO NOSSO)

PROCESSO PENAL. MANDADO DE SEGURANÇA. VEÍCULOS APREENDIDOS. DEPRECIAÇÃO. LEILÃO ANTECIPADO. CABIMENTO. OPORTUNIDADE. 1. Mostra-se cabível a alienação antecipada dos veículos apreendidos em procedimento criminal, quando sujeitos a riscos de deterioração e desvalorização, ocasionando prejuízo à Fazenda Pública. Precedentes. 2. A medida em tela se revela adequada e conveniente, de modo a preservar o valor dos bens e resguardar os interesses de ambas as partes,

Para autorizar a alienação antecipada de bens, o juiz deverá verificar a existência de indícios de autoria e da prova da materialidade do crime. Também, deve o magistrado averiguar se há grande dificuldade de administração dos bens pelo Estado. Assim, constatada a presença desses requisitos, nada impede que o magistrado determine a imediata alienação dos bens vinculados à prática delitiva.

Certamente, essa é a medida de precaução mais adequada a ser realizada, pois é a que representa menor risco de depreciação do valor do bem, possibilitando uma melhor preservação do seu valor real até o final da prestação jurisdicional. Em decisão determinando a alienação antecipada, afirmou o magistrado:

[...] Os bens que remanescem como relógios, canetas, óculos, veículo e lancha, que não foram arrematados ou não tiveram concretizada a venda antecipada, devem, agora, ser objetos de alienação, sendo que o produto da venda depositado em conta judicial.

Anote-se que são diversos móveis que, para a sua manutenção, exigem alto custo para o Estado. Por sua vez, os bens referidos poderão ter o seu valor depreciado, além de não haver espaço adequado tanto na Superintendência da Polícia Federal, quanto no depósito da Justiça Federal, ou mesmo em Secretaria, para a regular preservação. Pontue-se também a falta de aparelhamento do Estado para a administração, manutenção e preservação dos bens.

É fato que a Justiça Federal não dispõe dos meios necessários para administração de tais bens, não podendo ser desconsiderada ainda, a impossibilidade de utilização de recursos públicos para sua manutenção porquanto não integram o patrimônio da pessoa jurídica de direito público, de forma a inviabilizar a adoção de medida de conservação. Logo, a venda antecipada dos bens sequestrados e apreendidos é medida excepcional a ser adotada neste feito, consoante previsto no parágrafo 5º do artigo 120 do Código de Processo Penal e nos incisos I e II do artigo 670 do Código de Processo Civil.

A adoção desta medida está também devidamente respaldada nas políticas públicas definidas pela Estratégia Nacional de Combate à Lavagem de Dinheiro – ENCCLA, em especial, da Meta n.º 17 da ENCLA 2006, porquanto visa não somente para a preservação, até                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                          

atendendo ao devido processo legal. 3. No caso concreto, as condenações do réu foram mantidas nas duas instâncias, inclusive o decreto de perdimento, não se mostrando razoável aguardar a remota definição dos recursos especiais e extraordinários. (TRF4, MS 200804000071121/PR, Oitava Turma, Rel. Des. Luiz Fernando Wowk Penteado, public. no DJ de 05.06.2008).

mesmo do interesse público, mas também como forma de atender o interesse dos acusados em geral, que poderiam, em caso de absolvição, receber o valor correspondente aos bens alienados, ao invés destes em estado precário. [...]

Assim, considerando a necessidade de se resguardar o valor aquisitivo desses bens e de evitar dispêndio com sua administração e despesas de manutenção e condominiais, com risco de depreciação, DETERMINO a venda antecipada. Tal medida destina-se ao resguardo do destina-seu valor aquisitivo que deverá destina-ser depositado à disposição deste Juízo, devidamente atualizado. [...] (grifos nossos)

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No entanto, salienta-se que a alienação antecipada não resolve todos os problemas. Um exemplo disso é o caso da constrição de um grande imóvel, como uma fazenda com grandes plantações e milhares de cabeças de gado em confinamento, e com vários funcionários que precisam ser remunerados. Nesse caso, durante o período que compreende a data da sua constrição e a da sua venda, o Poder Judiciário terá de administrá-lo. Certamente, isso significará um grande desafio para o Judiciário, que não tem a mínima estrutura para fazê-lo adequadamente.

Porém, de acordo com gráfico abaixo extraído do SNBA, a alienação antecipada tem sido pouco utilizada pelo Poder Judiciário.

                                                                                                               

No documento Crime organizado 3 (páginas 125-128)