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Colecao Diplomata - Tomo II - Geografia

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Academic year: 2021

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ISBN 978850262403-0

Santos Junior, Washington Ramos dos

Geografia II : geografia econômica / Washington Ramos dos Santos Junior. – São Paulo : Saraiva, 2016. – (Coleção diplomata / coordenador Fabiano Távora)

Bibliografia.

1. Condições econômicas 2. Geografia econômica 3. Geografia econômica - Concursos I. Távora, Fabiano. II. Título. III. Série.

14-13200 CDD-330.76

Índices para catálogo sistemático:

1. Geografia econômica : Concursos 330.76

Diretor editorial Luiz Roberto Curia

Gerente editorial Thaís de Camargo Rodrigues

Gerência de concursos Roberto Navarro

Editoria de conteúdo Iris Ferrão

Assistente editorial Thiago Fraga | Verônica Pivisan Reis

Coordenação geral Clarissa Boraschi Maria

Preparação de originais Maria Izabel Barreiros Bitencourt Bressan e Ana Cristina

Garcia (coords.) | Carolina Massanhi | Luciana Cordeiro Shirakawa

Projeto gráfico Isabela Teles Veras

Arte e diagramação Know-how editorial

Revisão de provas Amélia Kassis Ward e Ana Beatriz Fraga Moreira (coords.) |

Juliana Bormio de Sousa

Conversão para E-pub Guilherme Henrique Martins Salvador

Serviços editoriais Elaine Cristina da Silva | Kelli Priscila Pinto

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Data de fechamento da edição: 1-10-2015

Dúvidas?

Acesse www.editorasaraiva.com.br/direito

Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou

forma sem a prévia autorização da Editora Saraiva. A violação dos direitos autorais é

crime estabelecido na Lei n. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.

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SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS

PREFÁCIO

APRESENTAÇÃO

EVOLUÇÃO DAS QUESTÕES POR ANO

1 - Geografia da População

1.1. ASPECTOS ESTATÍSTICOS E DEMOGRÁFICOS DA GEOGRAFIA DA

POPULAÇÃO

1.2. CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO

1.3. MOVIMENTOS MIGRATÓRIOS

1.3.1. Tipos de movimentos migratórios

1.3.2. Movimentos migratórios mundiais

1.4. TEORIAS DEMOGRÁFICAS

1.5. RECENSEAMENTO

1.6. ESTRUTURA OCUPACIONAL DA POPULAÇÃO E PIB SETORIAL

1.7. INDICADORES DE QUALIDADE DE VIDA

2 - Geografia Urbana

2.1. FENOMENOLOGIA DA CIDADE4

2.1.1. A ruptura da Renascença

2.1.2. Do burguês ao modernista

2.2. DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO URBANA E HIERARQUIA DAS

CIDADES

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3 - Geografia da Indústria e Globalização

3.1. TEMPO E FORMA, DIVISÃO TERRITORIAL DO TRABALHO

3.2. ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL

3.2.1. Espaço industrial

3.2.2. Estrutura econômica do mercado e da indústria

3.2.3. A organização do trabalho na fábrica

3.3. TIPOS DE INDÚSTRIAS

3.4. REVOLUÇÃO TECNOCIENTÍFICA OU III REVOLUÇÃO INDUSTRIAL &

GLOBALIZAÇÃO

3.5. INDÚSTRIA NO MUNDO E NO BRASIL

3.6. BLOCOS REGIONAIS ECONÔMICOS E DE PODER

3.6.1. Europa

3.6.2. Américas

3.6.3. Ásia e Oceania

3.6.4. África

4 - Geografia Agrária e do Setor Primário

4.1. EVOLUÇÃO DA AGRICULTURA NO MUNDO E NO BRASIL

4.2. AGRICULTURA E PECUÁRIA NO MUNDO E NO BRASIL

4.2. PESCA

4.3. MINERAÇÃO9

4.4.1. Bauxita – alumínio

4.4.2. Amianto

4.4.3. Cromo

4.4.4. Chumbo

4.4.5. Cimento e agregados da construção civil

4.4.6. Cobre

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4.4.8. Estanho

4.4.9. Ferro e aço

4.4.10. Lítio

4.4.11. Manganês

4.4.12. Níquel

4.4.13. Nióbio

4.4.14. Ouro

4.4.15. Potássio e fosfato

4.4.16. Prata

4.4.17. Tântalo

4.4.18. Terras raras

4.4.19. Titânio

4.4.20. Zinco

Referências Bibliográficas

1. GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

2. GEOGRAFIA URBANA

3. GEOGRAFIA DA INDÚSTRIA E GLOBALIZAÇÃO

4. GEOGRAFIA AGRÁRIA E DO SETOR PRIMÁRIO

Questões do IRBr

1. GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

2. GEOGRAFIA URBANA

3. GEOGRAFIA DA INDÚSTRIA E GLOBALIZAÇÃO

4. GEOGRAFIA AGRÁRIA E DO SETOR PRIMÁRIO

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AUTOR

Washington Ramos dos Santos Junior

Professor-assistente temporário da Universidade do Estado do Piauí, campus de São Raimundo Nonato. Doutorando em Psicologia Social pela Universidade de São Paulo (USP). Mestre em Geografia Humana pela USP. Bacharel em Geografia pela Universidade Federal Fluminense. Recebeu o auxílio à pesquisa do Instituto Rio Branco em conjunto com o CNPq, parte do Programa de Ação Afirmativa do Instituto Rio Branco.

Coordenador

Fabiano Távora

Graduado em Direito pela Universidade Federal do Ceará (UFC) – Turma do Centenário – 2003. Especialista em Gestão Empresarial pela Fundação Getulio Vargas (FGV) – 2005. Mestre em Direito dos Negócios pelo Ilustre Colégio de Advogados de Madri (ICAM) e pela Universidade Francisco de Vitória (UFV) – 2008. Mestre em Direito Constitucional aplicado às Relações Econômicas pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR) – 2012. Advogado. Diretor-geral do Curso Diplomata – Fortaleza/CE. Foi Coordenador do único curso de graduação em Relações Internacionais do Estado do Ceará, pertencente à Faculdade Stella Maris. Professor de Direito Internacional para o Concurso de Admissão à Carreira Diplomática. Professor de Direito Internacional Público, Direito Internacional Privado, Direito do Comércio Exterior e Direito Constitucional em cursos de graduação e pós-graduação.

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AGRADECIMENTOS

Nos últimos anos, o concurso para o Instituto Rio Branco tem se tornado cada vez mais disputado. O status garantido pela carreira diplomática faz com que este concurso se diferencie dos outros; ademais, é o mais exigente certame do país. Essa exigência faz-se presente também com a Geografia. A preparação para o concurso, bem como a carreira diplomática, exige sólida formação nesta disciplina, na qual temos renomados profissionais, como Milton Santos, além de ser uma das ciências mais bem representadas no meio acadêmico brasileiro. Cabe ressaltar, ainda, o papel do conhecimento geográfico na condução da Diplomacia pelo seu mais eminente representante brasileiro, o Barão do Rio Branco.

O edital compreende muitos temas, desde História do Pensamento Geográfico até noções de Geografia Física. Isso assusta muitos candidatos, que, por falta de tempo de ler a ampla bibliografia necessária, acabam por recorrer a manuais didáticos de formação fundamental e secundária, os quais, muitíssimas vezes, apresentam erros e pecam pela superficialidade. Em que pese a probabilidade de determinados temas caírem na prova ser pequena, uma vez exigidos pelo edital, é dever do candidato ter conhecimento sobre o que é cobrado.

Para maior importância do Brasil no cenário político internacional, é necessário que sejam criadas bases acadêmicas e que se amplie o número de especialistas, bem como o conhecimento sobre a Geografia de lugares que não são frequentemente alvo de nossa política externa. Contudo, o uso da ciência geográfica por vezes é precário. Ora a Geografia serve de palco para a sucessão de acontecimentos políticos, ora serve como razão meramente determinista para a eclosão de conflitos. Este livro tem por objetivo preencher parte dessa lacuna no ensino de Geografia.

Nele, buscamos oferecer o conteúdo necessário para a preparação dos candidatos ao Concurso de Admissão à Carreira Diplomática e, por extensão, para aqueles que se interessam por Geografia. Este trabalho foi um longo parto de quase cinco anos e não seria justo apresentá-lo sem os agradecimentos devidos aos queridos professores que possibilitaram sua escrita: Rui Erthal, Ruy

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Moreira, Ivaldo Lima, Ester Limonad, Vera Rezende, Antonio Carlos Robert Moraes, Francisco Scarlato, Nelson Nozoe, Paulo Bruna, Julio Suzuki, Sérgio Nunes, Wellington Zangari, Sandra Vichietti e Élvio Martins; à minha orientadora do Mestrado em Geografia Humana, Amalia Ines Geraiges Lemos, e à minha orientadora do Doutorado em Psicologia Social, Yvette Piha Lehman. Com essas pessoas, além de um mundo digno, encontrei os alicerces necessários para me formar como pessoa, para exercer meu trabalho e, sobretudo, para auscultar o outro. Este livro também é de vocês.

Alexandria, 16 de agosto de 2009. São Paulo, 31 de março de 2012. São Raimundo Nonato, 4 de outubro de 2014. W.

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PREFÁCIO*

Dez anos atrás, recebi a notícia de que havia sido aprovado no concurso do Instituto Rio Branco para a carreira diplomática. Era difícil acreditar que meu nome estava na lista de aprovados, que o meu antigo sonho tornara-se realidade. Aquele momento deu-me a impressão de ser um divisor de águas, o primeiro passo da carreira que por tantos anos me fascinara.

Hoje, percebo que o primeiro passo para a carreira diplomática havia sido dado em um momento anterior, quando comecei meus estudos de preparação para o concurso. A preparação para a carreira diplomática exige o desenvolvimento da capacidade de analisar politicamente a combinação de diferentes fatores da sociedade. Essa capacidade pode ser adquirida pela leitura atenta de diferentes pensadores e exposição a diferentes manifestações artísticas, o que requer uma caminhada de constantes descobertas.

Essa caminhada é feita em direção às mais profundas e fundamentais características da sociedade brasileira, percorrendo a longa estrada que lentamente mostra as cores que delineiam o multifacetado cenário que é o Brasil. A preparação para a carreira diplomática requer este (re)encontro com o Brasil, este momento em que o futuro diplomata reflete sobre seu país e sobre seu povo. Eu diria que o processo de preparação é uma caminhada para dentro.

Ao caminhar em direção às profundezas do Brasil, o futuro diplomata se defrontará com perspectivas históricas, geopolíticas, econômicas e jurídicas da realidade brasileira que lhe proporcionarão o arcabouço intelectual para sua contínua defesa dos interesses do Brasil e do povo brasileiro no exterior. Essa observação de quem somos como povo e como país é fundamental para o trabalho cotidiano dos diplomatas brasileiros, principalmente porque também pressupõe as relações do Brasil com outros países. Ao compreender a história política externa brasileira, o candidato poderá perceber características do Brasil que explicam como o país percebe sua inserção no mundo.

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contato com o mundo. Os diplomatas são os emissários que também contam para o mundo o que é o Brasil e o que é ser brasileiro. A aprovação no concurso do Instituto Rio Branco não é, portanto, o primeiro passo da carreira. É o momento em que a caminhada para dentro do Brasil se completou e passa a ser uma viagem para fora, para relatar ao mundo o que nós somos e o que pensamos.

Devo confessar que a minha caminhada foi bem difícil. Quando comecei a me preparar para o concurso, poucas cidades brasileiras tinham estruturas que guiassem os estudos dos candidatos para o concurso. Apesar de ter certeza de que nunca nenhuma leitura é inútil, estou certo de que a imensidão de pensadores e artistas que conformam o pensamento brasileiro é difícil de ser abordada no momento de preparação para o concurso. Lembro-me de que sempre busquei obras que me guiassem os estudos, mas não tive a sorte de naquele momento haver publicações neste sentido.

Foi com muita alegria que recebi o convite para escrever sobre minha experiência pessoal como jovem diplomata brasileiro em uma coleção que ajudará na caminhada preparatória dos futuros diplomatas. Esta coleção ajudará meus futuros colegas a seguir por caminhos mais rápidos e seguros para encontrar o sentido da brasilidade e a essência do Brasil. Congratulo-me com a Editora Saraiva, com os autores e com o organizador da coleção, Fabiano Távora, pela brilhante iniciativa e pelo excelente trabalho.

Aos meus futuros colegas diplomatas, desejo boa sorte nessa caminhada. Espero que se aventurem a descobrir cada sabor deste vasto banquete que é a brasilidade e que se permitam vivenciar cada nota da sinfonia que é o Brasil. Espero também que possamos um dia sentar para tomar um café e conversar sobre o que vimos e, juntos, contar aos nossos amigos de outros países o que é o Brasil.

Pequim, novembro de 2014.

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APRESENTAÇÃO**

Indubitavelmente, o concurso para o Instituto Rio Branco, uma das escolas de formação de Diplomatas mais respeitadas do mundo, é o mais tradicional e difícil do Brasil. Todos os anos, milhares de candidatos, muito bem preparados, disputam as poucas vagas que são disponibilizadas. Passar nessa seleção não é só uma questão de quem estuda mais, envolve muitos outros fatores.

Depois de muito observar essa seleção, nasceu a ideia de desenvolver um projeto ímpar, pioneiro, que possibilitasse aos candidatos o acesso a uma ferramenta que os ajudasse a entender melhor a banca examinadora, o histórico dos exames, o contexto das provas, o grau de dificuldade e aprofundamento teórico das disciplinas, de forma mais prática. Um grupo de professores com bastante experiência no concurso do IRBr formataria uma coleção para atender a esse objetivo.

Os livros foram escritos com base nos editais e nas questões dos últimos 13 anos. Uma análise quantitativa e qualitativa do que foi abordado em prova foi realizada detalhadamente. Cada autor tinha a missão de construir uma obra que o aluno pudesse ler, estudar e ter como alicerce de sua preparação. Sabemos, e somos claros, que nenhum livro consegue abordar todo o conteúdo programático do IRBr, mas, nesta coleção, o candidato encontrará a melhor base disponível e pública para os seus estudos.

A Coleção Diplomata é composta dos seguintes volumes: Direito internacional público; Direito

interno I – Constituição, organização e responsabilidade do Estado brasileiro; Direito interno II –

Estado, poder e direitos e garantias fundamentais (no prelo); Economia internacional e brasileira (no prelo); Espanhol (no prelo); Francês (no prelo); Geografia I – Epistemologia, política e meio ambiente; Geografia II – Geografia econômica; História do Brasil I – O tempo das Monarquias;

História do Brasil II – O tempo das Repúblicas; História geral; Inglês; Macroeconomia; Microeconomia; Política internacional I – A política externa brasileira e os novos padrões de

inserção no sistema internacional do século XXI; Política internacional II – Relações do Brasil com as economias emergentes e o diálogo com os países desenvolvidos; Português.

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Todos os livros, excetuando os de língua portuguesa e inglesa, são separados por capítulos de acordo com o edital do concurso. Todos os itens do edital foram abordados, fundamentados numa doutrina ampla e atualizada, de acordo com as indicações do IRBr. Os doutrinadores que mais influenciam a banca do exame foram utilizados como base de cada obra. Junte-se a isso a vivência e a sensibilidade de cada autor, que acumulam experiências em sala de aula de vários locais (Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza, Curitiba, Belo Horizonte, Recife, Salvador, Teresina...).

Cada livro, antes da parte teórica, apresenta os estudos qualitativos e quantitativos das provas de seleção de 2003 até 2015. Por meio de gráficos, os candidatos têm acesso fácil aos temas mais e menos cobrados para o concurso de Diplomata. Acreditamos que esse instrumento é uma maneira inteligente de entender a banca examinadora, composta por doutrinadores renomados, bastante conceituados em suas áreas.

No final de cada livro, os autores apresentam uma bibliografia completa e separada por assuntos. Assim, o candidato pode ampliar seus conhecimentos com a segurança de que parte de uma boa base e sem o percalço de ler textos ou obras que são de menor importância para o concurso.

As questões são separadas por assunto, tudo em conformidade com o edital. Se desejar, o aluno pode fazer todas as questões dos últimos anos, de determinado assunto, logo após estudar a respectiva matéria. Dessa forma, poderá mensurar seu aprendizado.

Portanto, apresentamos aos candidatos do IRBr, além de uma coleção que apresenta um conteúdo teórico muito rico, bastante pesquisado, uma verdadeira e forte estratégia para enfrentar o concurso mais difícil do Brasil. Seguindo esses passos, acreditamos, seguramente, que você poderá ser um DIPLOMATA.

Fortaleza, 29 de julho de 2015.

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GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

A Geografia da População é das mais recentes subdisciplinas da Geografia, e sua configuração tem como marco os trabalhos de Pierre George, Géographie de la population et démographie, de 1950, e Introduction à l’étude géographique de la population du monde, de 1951, e de Trewartha,

A case for population geography, de 1953. Para Pierre George (BALLESTEROS, 1986: 184), a

Geografia da População tem por objeto

[...] “o exame das relações entre o comportamento das coletividades humanas e o meio geográfico”, relações que considera recíprocas e em cujo estudo também interferem “as leis gerais dos processos econômicos e sociais”, para constituir um conjunto evolutivo que “comporta um passado histórico e um presente geográfico”.

Segundo Trewartha (apud BALLESTEROS, op. cit.: 185),

[...] todos os fenômenos geográficos se observam desde o ponto de vista da população, isso é o que dá seu significado e definição a nossa subdisciplina, que desta forma terá por objeto “a compreensão das diferenças regionais existentes na cobertura humana da terra”, compreensão esta que em sua opinião deve ir mais além do simples e tradicional estudo das densidades.

Cabe ressaltar que Pierre George já criticava em suas obras o aspecto ecológico-demográfico das suposições de explosão populacional ou de ótimo populacional, e que a tradição anglo-saxã baseada em Clarke, Demko, Rose e Schnell fundamentava o campo da Geografia da População nas

[...] variações espaciais em suas qualidades, demográficas ou não, da população humana, e as consequências econômicas e sociais que surgem da interação associada a um conjunto especial de condições existente em uma unidade de superfície dada (ibid.: 186).

Seguiremos esta tradição metodológico-epistemológica e os subtópicos aqui apresentados são:

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1.3. movimentos migratórios; 1.4. teorias demográficas; 1.5. recenseamento; 1.6. estrutura

ocupacional da população e PIB setorial; 1.7. indicadores de qualidade de vida.

1.1.

ASPECTOS ESTATÍSTICOS E DEMOGRÁFICOS DA

GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

Todo debate acerca da distribuição populacional do globo recorre a determinados conceitos demográficos, que balizam as análises quantitativas. Apresentamos inicialmente o de população absoluta, que é o número absoluto de habitantes de determinado recorte espacial, que pode ser um país, uma região ou uma cidade. Vemos o gráfico 1 ( http://esa.un.org/wpp/Analytical-Figures/htm/fig_11.htm), que mostra dois gráficos com os países mais populosos do mundo em 1950 e em 2010:

Gráfico 1: Países mais populosos do mundo em 1950 e em 2010.

População relativa ou, mais comumente, densidade demográfica, é a média de habitantes por quilômetro quadrado, obtida por meio da simples divisão do número total de habitantes por determinada área. Desse modo, unidades territoriais que apresentam alta densidade demográfica são consideradas densamente povoadas, enquanto baixas densidades demográficas resultam em áreas fracamente povoadas. O mapa 1 (NATIONAL GEOGRAPHIC SOCIETY, 2009) mostra a concentração demográfica no mundo de acordo com a renda dos países.

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em que isso efetivamente acontece, como na Índia, com 360 hab/km2 e no Japão, com 337 hab/km2. As maiores densidades demográficas estão em países com pequena extensão e pequena população, como Países-Baixos, cuja densidade demográfica é 445 hab/km2 para um total de habitantes de

pouco mais de 16 milhões, e Bélgica, com 356 hab/km2 para um contingente de pouco mais de 10

milhões de habitantes.

Mapa 1: Densidade demográfica dos países do mundo.

Apesar de utilizados com frequência, esses dados não explicitam desigualdades no padrão distributivo populacional interno a um espaço geográfico. O Brasil, por exemplo, é o quinto maior país do mundo tanto em extensão quanto em número de habitantes, mas apresenta baixa densidade demográfica, de 23 hab/km2, e irregularidades na concentração populacional ao longo de seu território, maior no Sudeste e rarefeita na Amazônia, segundo o mapa 2 (IBGE, 2011).

Deve-se lembrar que, para avaliar a progressão quantitativa do número de habitantes de um recorte espacial, é imperativo considerar as taxas demográficas de natalidade, mortalidade, mortalidade infantil, mortalidade materna, fecundidade ou fertilidade e esperança de vida à nascença, bem como o crescimento vegetativo. Essa dinâmica demográfica também serve, como veremos, para avaliar a qualidade de vida dos povos do mundo.

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Mapa 2: Densidade demográfica no Brasil, com dados do censo de 2010.

A taxa bruta de natalidade é calculada por meio de uma equação simples, em que o número de nascimentos ocorridos durante um ano é multiplicado por mil e o resultado é dividido pelo número de habitantes, ou pela estimativa deste, do recorte espacial estudado para aquele mesmo ano. Este cálculo é usado também para a taxa bruta de mortalidade. Vejamos o cálculo dessas taxas:

Número de nascimentos x 1.000 = Taxa de natalidade Número de habitantes Taxa 1: natalidade Número de óbitos x 1.000 = Taxa de mortalidade Número de habitantes

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Taxa 2: mortalidade

No Brasil, as taxas brutas de natalidade tem caído consideravelmente ao longo das últimas décadas. Se nos decênios de 1940, 1950 e 1960 permaneceram por volta de 44%, a natalidade caiu para 38% em 1970 e 31,2% em 1980. A tabela 1 (REDE..., 2008: 79) mostra a evolução dessa taxa de 1991 a 2004 no país e nas macrorregiões brasileiras. Percebe-se que há considerável desigualdade nas taxas dessas macrorregiões, tendo o Norte e o Nordeste os indicadores mais elevados.

Tabela 1: Taxa bruta de natalidade brasileira e das macrorregiões (%), 1991-2004.

Regiões

1991 1995 2000 2004

Bruta Bruta Bruta Bruta

Brasil 23,39 21,97 21,06 18,17 Norte 31,93 30,14 28,63 23,62 Nordeste 26,81 25,13 24,29 21,66 Sudeste 20,23 19,20 18,71 15,87 Sul 21,49 19,77 17,96 14,83 Centro-Oeste 24,38 22,34 20,70 19,16

As taxas brutas de mortalidade também acompanharam a redução verificada nas taxas brutas de natalidade. No decênio de 1940, a mortalidade foi de 25%, caindo para 21% em 1950 e 13% em 1960. A partir da década de 1970, a redução foi menos intensa e ficou em 9%; 8% em 1980 e chegou a 7,7% em 1991. A tabela 2 (ibid.: 85) mostra essa evolução até o ano de 2004 para o país e para as macrorregiões brasileiras. Observa-se certo distanciamento nas taxas de mortalidade bruta entre as regiões brasileiras.

A taxa ou coeficiente de mortalidade infantil difere da anterior, porque a equação é feita por meio da multiplicação por mil do número de óbitos de crianças com até um ano de idade e da divisão

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deste resultado pelo número de crianças nascidas vivas. É um indicador importante na avaliação da qualidade de vida dos recortes espaciais estudados, já que se associa a condições mínimas de higiene e de acesso à saúde. A taxa 3 mostra o cálculo da mortalidade infantil:

número de óbitos de crianças de até um ano de idade x 1.000

= taxa de mortalidade infantil número de crianças nascidas vivas

Taxa 3: mortalidade infantil

Tabela 2: Taxa bruta de mortalidade brasileira e das macrorregiões (%), 1991-2004.

Regiões

1991 1995 2000 2004

Bruta Bruta Bruta Bruta

Brasil 7,66 7,19 6,54 6,29 Norte 6,33 5,84 5,32 4,95 Nordeste 9,42 8,38 7,45 7,03 Sudeste 7,28 7,10 6,52 6,30 Sul 6,69 6,47 6,06 6,12 Centro-Oeste 5,96 5,70 5,28 5,24

No Brasil, a Região Nordeste apresenta taxa que é mais que o dobro daquela calculada para as regiões Sudeste e Sul. Isso acontece porque as condições de vida, de modo geral, são melhores nestas regiões, com infraestrutura de saneamento ambiental e de acesso à saúde mais eficiente. Na tabela 3 (REDE..., 2008: 109), vemos a taxa de mortalidade infantil entre 1991 e 2004:

Tabela 3: Taxa de mortalidade infantil brasileira e das macrorregiões (%), 1991-2004.

Regiões 1991 1997 2000 2004

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Norte 42,3 32,2 28,7 25,5

Nordeste 71,2 50,4 41,4 33,9

Sudeste 31,6 23,1 18,0 14,9

Sul 25,9 17,5 17,0 15,0

Centro-Oeste 29,7 24,4 21,0 18,7

Outro dado importante é aquele que trata da mortalidade materna. A taxa, ou coeficiente, ou razão de mortalidade materna é importante mecanismo de verificação das condições da qualidade de vida das mulheres e é calculada pela relação entre o número de mortes maternas e o número de nascidos vivos em um dado ano, expressa por 100.000 nascidos vivos. No Brasil, essa taxa tem aumentado – foi de 61, 2 óbitos para cada 100.000 nascidos vivos em 1991 e atingiu 76, 1 óbitos em 2004. Segundo a Rede Interagencial de Informação para a Saúde (2008: 146),

[...] a 10ª Revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-10) define morte materna como a “morte de uma mulher durante a gestação ou até 42 dias após o término da gestação, independentemente da duração ou da localização da gravidez, devido a qualquer causa relacionada com ou agravada pela gravidez ou por medidas em relação a ela, porém não devida a causas acidentais ou incidentais”.

número de óbitos maternos x 100.000

= taxa de mortalidade materna número de crianças nascidas vivas

Taxa 4: mortalidade materna

Ainda em relação às mulheres, há a taxa de fecundidade ou de fertilidade total, que é expressa pelo número médio de filhos nascidos vivos tidos por uma mulher ao fim da idade reprodutiva, considerada para determinado espaço geográfico e durante certo período de tempo. É obtida pelo somatório das taxas de fecundidade específicas dentro da faixa compreendida entre 15 e 49 anos de idade.

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por mulher e para cada faixa etária do período reprodutivo. É considerado que para haver reposição populacional essa taxa deve ser de no mínimo 2,1 filhos por mulher. A tabela 4 (REDE..., 2008: 75) mostra a evolução da taxa de fecundidade das regiões brasileiras e do país entre 1991 e 2004:

Tabela 4: Taxa de fecundidade brasileira e das macrorregiões, filhos por mulher, 1991-2004.

Regiões 1991 1995 2000 2004 Brasil 2,73 2,49 2,36 2,04 Norte 3,99 3,47 3,14 2,53 Nordeste 3,38 2,90 2,73 2,39 Sudeste 2,28 2,17 2,10 1,81 Sul 2,45 2,28 2,09 1,78 Cento-Oeste 2,60 2,33 2,12 2,00

A esperança ou expectativa de vida ao nascer é calculada

[...] a partir de tábuas de vida elaboradas para cada área geográfica, [em que se toma] o número correspondente a uma geração inicial de nascimentos (l0) e [se determina] o tempo cumulativo vivido por essa mesma geração (T0) [, sendo a] esperança de vida ao nascer [...] o quociente da divisão de T0 por l0 (REDE..., 2008: 86).

A expectativa de vida brasileira tem progressivamente aumentado ao longo dos anos, principalmente em decorrência do acesso à saúde pública e às melhorias no acesso ao saneamento ambiental, embora ainda não universalizadas. A tabela 5 (ibid.: 87) mostra a ​esperança de vida ao nascer para o Brasil e para as macrorregiões brasileiras, entre 1991 e 2005, discriminando homens e mulheres e apresentando, também, dados para ambos os sexos. Veja:

Tabela 5: Expectativa de vida ao nascer brasileira e das macrorregiões, em anos, 1991-2005.

Regiões

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1991 1995 2000 2005 1991 1995 2000 2005 1991 1995 2000 2005 Brasil 63,2 64,7 66,7 68,4 70,9 72,5 74,4 75,9 66,9 68,5 70,4 72,1 Norte 63,7 65,1 66,8 68,2 70,3 71,3 72,4 74,0 66,9 68,1 69,5 71,0 Nordeste 59,6 61,4 63,6 65,5 66,3 68,4 70,9 72,7 62,8 64,8 67,2 69,0 Sudeste 64,5 66,0 67,9 69,5 73,4 74,8 76,3 77,7 68,8 70,3 72,0 73,5 Sul 66,7 67,9 69,4 70,8 74,3 75,2 76,3 77,7 70,4 71,5 72,7 74,2 Centro-Oeste 65,2 66,7 68,4 69,8 72,0 73,6 75,3 76,7 68,6 70,0 71,8 73,2

Cabe definirmos que, para calcular o crescimento vegetativo de um espaço geográfico, basta subtrair a taxa bruta de mortalidade da taxa bruta de natalidade. Deve-se ressaltar, ainda, que o crescimento vegetativo não é reduzível à taxa de fertilidade e tampouco é o único fator a ser considerado nas dinâmicas populacionais, já que as migrações podem responder, também, pelo crescimento populacional. No Brasil, o crescimento vegetativo ficou em 1,18% em 2004, caindo para 0,95% em 2009, de acordo com os dados do Censo 2010 (IBGE, 2011).

Ainda de acordo com o Censo 2010 (loc. cit.), a taxa de fecundidade brasileira está em 1,94, o que significa dizer que as mulheres brasileiras estão tendo menos filhos que o necessário para a reposição populacional. Nesse mesmo documento (loc. cit.), a taxa bruta de natalidade é de 15,77% e a de mortalidade, 6,27%; a taxa de mortalidade infantil está praticamente estagnada, em 22,5%; e a esperança de vida ao nascer aumentou para 73,1 anos, sendo de 69,4 anos para homens e de 77 anos para mulheres. Ressalta-se que o último censo não informou, ainda, nada a respeito da mortalidade materna.

De acordo com o Population Reference Bureau (2010), o Brasil está acima da média mundial, de 69 anos. Para o continente africano, a expectativa de vida é de 55 anos; para Canadá e EUA, 78 anos; para a América Latina, 74 anos; na Ásia a esperança de vida é de 70 anos e tanto na Europa quanto na Oceania vive-se até os 76 anos de idade em média.

De acordo com a ONU (2011: 76-92), para os países com dados disponíveis, possuem os maiores indicadores em esperança de vida ao nascer Japão (79,6 anos para homens e 86,4 anos para mulheres), Suíça (respectivamente, 79,7 e 84,3), Austrália (79,3 e 83,9), Suécia (79,4 e 83,4) e Canadá (78,3 e 83). No lado oposto, encontram-se Suazilândia (42,2 anos para homens e 43,1 anos

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para mulheres), Guiné Bissau (respectivamente, 43,4 e 46,2), Malawi (45,7 e 48,3) e Ruanda (49,4 e 53,3).

Em relação às taxas de natalidade, os países com dados disponíveis que apresentam os maiores indicadores são Burkina Faso, 46,1‰ e Senegal, 40,7‰; Malawi, 37,9‰; Egito, 28,8‰ e Territórios Ocupados da Palestina, 31‰ (ONU, 2011: 44-51). No mundo, a média é de 20‰. Na África, a média é de 37‰, mas pode chegar a 52‰ no Níger. Para as Américas, a média de nascimentos é de 17‰, enquanto na Ásia é de 19‰, na Oceania, 18‰, e, na Europa, de apenas 11‰ (POPULATION..., 2010: 6-9).

Entre os países com dados disponíveis que apresentam as maiores taxas de mortalidade estão Suazilândia, 21,8‰; Belarus, 14,4‰; Bulgária, 14,6‰; Federação Russa, 14,2‰ e Ucrânia, 15,2‰ (ONU, loc. cit.). O mundo apresentou média de 8‰, abaixo das médias africana, de 13‰, e europeia, de 11‰, e acima da média verificada para Américas, Ásia e Oceania, de 7‰, em cada continente. De modo geral, as taxas de mortalidade são ligeiramente maiores nos países mais pobres que nos países mais desenvolvidos (respectivamente, 12‰ e 10‰) (POPULATION, loc. cit.).

De acordo com projeções das Nações Unidas para os anos 2005-2010 (ibid: 719-22), os países que tiveram as maiores taxas de mortalidade infantil foram Afeganistão, com 136 óbitos para cada mil nascidos vivos; Chade, 131,2; Guiné Bissau, 118,7; República Democrática do Congo, 115,8; e, por fim, Serra Leoa, com 113,7. Do outro lado do ranking, com as menores taxas, aparecem Cingapura, com apenas 1,9‰; Islândia, 2,1‰; Luxemburgo, 2,3‰; Japão e Suécia, 2,6‰; Finlândia 2,8‰; e Noruega, com 3‰ (ONU, loc. cit.). Percebe-se claramente, assim, a clivagem existente entre os países do mundo.

O mapa 3 (NEW INTERNATIONALIST MAGAZINE, 2009) mostra as variações na taxa de mortalidade materna, com dados de 2005. As mais baixas taxas encontram-se em países desenvolvidos, ademais de Líbia, Chile e Argentina, Arábia Saudita e China, entre outros. As taxas elevam-se para moderadas no Brasil, no Cazaquistão e no Irã; atingem nível elevado no Subcontinente Indiano e na África Austral; por fim, os níveis mais elevados, com mais de 550 mortes maternas para cada 100.000 nascidos vivos estão na África Subsaariana, no Laos, no Afeganistão, no Nepal e em Bangladesh.

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Mapa 3: Mortalidade materna no mundo, nos poucos países com dados atualizados permanentemente.

Quanto à taxa de fecundidade mundial, esta é, em média, de 2,5 filhos por mulher, mesmo valor que na Oceania, estando acima de Europa (1,6 filho), Ásia e Américas (ambos 2,2 filhos) e chegando a 4,7 filhos por mulher na África. Contudo, há considerável discrepância entre o topo e a base desse indicador. Os países que apresentam as maiores taxas de fertilidade são Níger, com 7,19 filhos por mulher; Timor Leste, com 6,53; Mali, 6,46; Somália, 6,4; e Uganda, com 6,38. As menores taxas são encontradas na Eslováquia, 1,27 filho por mulher; em seguida, República da Coréia do Sul (RCS), 1,29; Japão, 1,32; Romênia, 1,33; e Alemanha, 1,36.

O crescimento vegetativo explicita a dinâmica de crescimento ou de retração populacional. A média mundial é de 1,2% ou 12‰. Mais uma vez, há considerável diferença entre as menores e maiores taxas. Com menor crescimento natural, estão países do Leste Europeu, todos com crescimento negativo: Ucrânia, – 0,62%; Bulgária, – 0,51%; Letônia, – 0,38%; Belarus, – 0,37% e Hungria, – 0,36%. Entre as maiores taxas de crescimento vegetativo, estão Níger, 3,57%; Uganda, 3,32%; Mali, 3,21%; Yêmen, 3,17% e Burkina Faso, 3,12%.

1.2.

CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO

No ano de 2011, a população do planeta chegou a sete bilhões de seres humanos. De 1960 até hoje, o crescimento médio da população mundial foi de 133%. Europa, EUA, Canadá, Austrália, Nova Zelândia e China cresceram abaixo dessa média, mas Brasil, África, Península Arábica, Subcontinente Indiano (à exceção do Sri Lanka) e Sudeste Asiático cresceram acima. O aumento da

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população do mundo nas últimas décadas concentrou-se nos países pobres. O ritmo desse crescimento ficou cada vez mais acelerado.

O primeiro bilhão de habitantes foi atingido em 1800. Levou 130 anos para alcançar o segundo (1930), três décadas para o terceiro (1960), quatorze anos para o quarto (1974), treze para o quinto (1987), doze para o sexto (1999) e mais doze para o sétimo bilhão, em 2011. As projeções indicam que em 2024 seremos oito bilhões e em 2045 nove bilhões. Percebemos, portanto, que após 2011 o ritmo para alcançar um bilhão de habitantes a mais levará tempo maior, o que mostra um arrefecimento na rapidez em que a população mundial cresce.

Esse crescimento é desigual, como vimos com as taxas de crescimento vegetativo. De modo geral, as mulheres dos países mais ricos do mundo têm menos filhos, chegando a níveis bem abaixo da reposição populacional, e as mulheres dos países mais pobres continuam com taxas elevadas, devido à falta de acesso a métodos contraceptivos e por razões econômico-culturais. Contudo, apesar da manutenção, nestes países, de alto crescimento natural, a população do mundo como um todo está envelhecendo, e isso decorre de dois motivos.

O primeiro motivo para que ocorra o envelhecimento da população mundial é que em todos os lugares, desde a Revolução Industrial, as pessoas estão vivendo mais, ainda que haja países com baixa expectativa de vida. A segunda razão para esse fenômeno é que a taxa de fecundidade tem caído sensivelmente, o que diminui o número de jovens como parte da população total. Alguns países em desenvolvimento, como a China, já estão em processo de envelhecimento, devido às práticas de controle de natalidade adotadas naquele país.

No caso brasileiro, a participação relativa da população com 65 anos ou mais foi de 4,8% em 1991, 5,9% em 2000 e atingiu 7,4% em 2010. Se considerarmos a população com 60 anos ou mais, esse percentual sobe para 11,3% em 2010, ou cerca de 21 milhões de brasileiros. Em relação às faixas etárias mais novas, o Brasil possuía 80 milhões de crianças, adolescentes e jovens até 24 anos, o que perfaz 41,8% do contingente. Ademais, todas as faixas etárias compreendidas até esta idade tiveram redução percentual entre o total de habitantes, tendo a população menor de 20 anos redução absoluta (IBGE, 2011).

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devemos lembrar que o crescimento populacional divide-se em quatro etapas – a primeira fase é a de crescimento baixo, em que as taxas de natalidade e de mortalidade são altas; a segunda etapa é aquela em que ocorre um surto de crescimento, uma vez que a natalidade se manteve alta e a mortalidade caiu; a terceira etapa é o momento em que a taxa de mortalidade se mantém estável ou com ligeira queda e a taxa de natalidade cai, o que ocasiona um crescimento demográfico em ritmo mais lento e em menor quantidade, caso brasileiro; e, por fim, a quarta etapa, na qual se atinge crescimento natural negativo ou mínimo para a reposição populacional.

Às fases de crescimento populacional vinculam-se pirâmides etárias, que representam graficamente a estrutura populacional de determinado país, discriminando, em geral, idade e sexo, mas podendo incorporar o local de domicílio – urbano ou rural. Assim, um recorte espacial que apresentar uma pirâmide com base larga e topo estreito apresenta taxas de natalidade e de mortalidade altas, estando na primeira etapa do crescimento demográfico. A pirâmide etária da segunda fase exibe maior população adulta; à terceira etapa de crescimento populacional corresponde uma pirâmide que mostra uma população de crianças menor em relação à de jovens.

A última fase de crescimento populacional apresenta maior contingente de adultos – maiores de 24 anos – na população, podendo chegar a ter uma proporção de idosos bastante próxima. Na atualidade, não há país que esteja na primeira fase de crescimento demográfico; entre os que se enquadram na segunda fase, estão Nigéria, Angola e Uganda; Brasil, Índia e EUA vivenciam a terceira etapa; e entre os países com população estabilizada estão Japão, China, Rússia e Áustria. Veja, na página 26, a figura 1 (KUNZIG, 2011: 58) elaborada pela National Geographic.

Para a estrutura populacional brasileira, apresentamos duas pirâmides demográficas – a primeira discrimina domicílio e a segunda mostra a transição demográfica brasileira entre os censos de 1991 e 2010. Veja as figuras 2 (IBGE, 2011) e 3 (IBGE, 2011a)

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Figura 1: Relação entre fase de crescimento demográfico e pirâmide etária.

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Figura 3: Evolução da pirâmide etária brasileira, censos de 1991, 2000 e 2010.

O Population Reference Bureau (2010: 2) traz duas tabelas em que relaciona os países do mundo com os maiores percentuais de população idosa e com os maiores percentuais de população jovem. No primeiro caso, contabilizam-se os maiores de 65 anos de idade, e, no segundo, os menores de 15 anos. Veja as duas tabelas agregadas na nossa tabela 6:

Tabela 6: Maiores percentuais de população idosa e infantojuvenil.

OLDEST % AGES 65+ YOUNGEST % AGES <15

Japan 22.6 Niger 50,1

Germany 20.5 Uganda 48.7

Italy 20.4 Burkina Faso 46.4

Sweden 18.3 Congo, Dem. Rep. 46.4

Greece 18.3 Zambia 46.2 Portugal 17.9 Malawi 45.9 Bulgaria 17.6 Afghanistan 45.9 Austria 17.6 Chad 45.6 Latvia 17.4 Somalia 44.9 Belgium 17.4 Tanzania 44.7

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Em relação ao crescimento populacional, devemos ressaltar que o período de transição demográfica da primeira fase para a quarta, que muitos países apenas alcançarão em algumas décadas, foi concluído por alguns países europeus há mais de um século. Segundo o Atlas do Le

Monde Diplomatique 2010 (COLIN, 2009: 14), a França levou dois séculos para duplicar a

população, enquanto a Suécia cento e cinquenta anos para multiplicá-la três vezes e meia.

O caso do Japão, cuja transição já foi completada, é mais surpreendente. Logo após o fim da II Guerra Mundial, era um dos países mais jovens do mundo, com idade média em torno de 22 anos, e hoje é o país com maior percentual de população idosa do mundo. As transições em curso, facilitadas pelos progressos técnicos e pelas mudanças culturais que muito diferem do início da transição demográfica europeia, não apenas aceleram quanto aumentam o crescimento populacional – sete ou oito vezes no México e de 13 a 15 no Quênia (loc. cit.).

Um dos critérios utilizados para avaliar a transição demográfica é o de idade mediana, a qual divide a população de um país em duas partes de tamanhos iguais. A maior idade mediana é a europeia, com 40,2 anos, e a menor é a africana, com 19,7. A idade média brasileira é de 29 anos, igual à asiática. Confira com o gráfico 2 (IBGE, 2011a) e, em seguida, compare as idades medianas no mapa 4 elaborado pelo Le Monde Diplomatique (loc. cit.).

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Mapa 4: Idade mediana nos países do mundo em 2008.

Nos casos de países que tiveram a população estabilizada, se não houver migração, a tendência é que haja redução do contingente. Além disso, um fator comum nos casos em que a migração repõe o número de habitantes é que esses migrantes tenham taxas de natalidade mais elevadas que a dos grupos populacionais endógenos, o que agrava conflitos sociais. Vejamos, agora, os movimentos migratórios no mundo.

1.3.

MOVIMENTOS MIGRATÓRIOS

Neste tópico, diferenciaremos os diversos tipos de movimentos migratórios e, em seguida, comentaremos acerca dos mais relevantes fluxos populacionais ocorridos desde a ascensão do capitalismo como modo de produção. Isso contribui para compreender a divisão internacional do trabalho contemporânea e alguns dos conflitos atuais.

1.3.1.

Tipos de movimentos migratórios

A primeira distinção a ser feita entre os tipos de movimentos migratórios é aquela entre migrações temporárias e permanentes. Nestas, o migrante se estabelece de forma definitiva, como no êxodo

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rural, enquanto naquelas há o retorno. Se este é incerto, a migração é temporária por tempo indeterminado. Além desta, ainda temos as migrações temporárias diárias e sazonais.

As migrações diárias ou pendulares são aquelas realizadas por trabalhadores que moram em áreas periféricas de metrópoles ou de cidades industriais. Commuting é o termo em inglês para esse movimento pendular, que ficou popularizado pelo fluxo de trabalhadores que cruzam fronteiras nacionais, como no caso de mexicanos que atravessam a fronteira com os EUA diariamente para trabalhar. Lembramos que se trata de uma migração internacional.

Migrações sazonais ou transumância são aquelas que dependem de atividades subordinadas à temporalidade das diferentes estações do ano. O exemplo clássico utilizado no Brasil é o da colheita da cana-de-açúcar no Nordeste. Durante o período de estiagem, os migrantes dirigem-se para a Zona da Mata a fim de trabalhar nessa atividade econômica. Quando ela é encerrada, já no período úmido, os trabalhadores retornam para o local de origem, para, usualmente, trabalhar nas próprias roças.

Outro exemplo comum de transumância é o nomadismo. Ainda há povos nômades no mundo, mas não são todos que se deslocam em função do ciclo natural. Na Índia, os nômades formam um contingente de 50 milhões de pessoas e constituem-se em povo bastante segregado e longe de padrões mínimos de qualidade de vida. Na Europa, os ciganos são um grupo étnico bastante segregado, inclusive quando são cidadãos europeus.

Entre os nômades que ainda se subordinam aos ciclos naturais, estão os povos do Sahel e os beduínos da Península Arábica. Desse modo, esses migrantes sazonais diferenciam-se pelo tipo de deslocamento realizado, já que não seguem os limites impostos por fronteiras internacionais. Nesse sentido, outra classificação possível é a que divide fluxos migratórios em migrações internas ou nacionais ou intrarregionais e migrações internacionais ou inter-regionais.

A migração interna mais característica do modo de produção capitalista é o êxodo rural. Esse fluxo migratório é marcado pela transferência de habitantes do campo para as cidades. Na Inglaterra, as populações expulsas do campo formaram o exército industrial de reserva que apinhava as cidades; processo semelhante ocorreu em outras áreas da Europa Ocidental. Com o avanço da industrialização, esse fenômeno foi replicado em todo o mundo, embora nos países pobres essa

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população não tenha sido, obrigatoriamente, absorvida no setor industrial da economia.

1.3.2.

Movimentos migratórios mundiais

Do século XVI às primeiras décadas do século XX, houve a consolidação do capitalismo no mundo, inicialmente com as Grandes Navegações, e, no fim desse período, por meio do Imperialismo europeu. Não havia, assim, lugar no planeta que não estivesse subordinado às tecnologias, aos métodos administrativos e às ideias europeias. Esse longo processo foi marcado por grandes fluxos migratórios, ora espontâneos, ora forçados, que reconfiguraram as sociedades humanas em todo o planeta, além de criarem outras novas.

O primeiro grande fluxo emigratório foi, portanto, europeu. A descoberta da América possibilitou a utopia da criação do Novo Mundo aqui, e assim portugueses, espanhóis, franceses e ingleses iniciaram o processo de ocupação do continente, ainda que às custas do sacrifício de milhões de nativos. No Oriente e na África, o ímpeto colonizador foi bem menor, ainda que na África Austral o processo de ocupação tenha se iniciado em meados do Seiscentos. Calcula-se em três milhões o número de europeus que migraram para as Américas até 1820. Na centúria a partir deste ano, o número de europeus que emigraram foi de sessenta milhões.

Data também deste período o povoamento de Austrália e Nova Zelândia, e, a partir do século XIX, os europeus migravam, em princípio, da Inglaterra e da Alemanha, com menor proporção de holandeses e escandinavos. A partir do último quartel do século XIX, somaram-se a esses grupos italianos, austro-húngaros, poloneses, russos, além da permanente migração de portugueses e espanhóis, cujo fluxo teve picos devido a crises econômicas internas. Esses europeus fugiam basicamente da pobreza, e justamente esse maciço movimento migratório fez com que a Europa não conhecesse uma “explosão demográfica”.

Outro movimento emigratório de relevância foi o de escravos negros africanos. A origem da escravidão é bastante antiga, e o comércio de escravos foi uma de suas formas, mas “por sua duração, sua escala e suas consequências, constitui a maior tragédia na história da humanidade” (UNESCO, 2004: 44). Ainda conforme a UNESCO (2010: 17),

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[...] a escravidão alastrou-se na África antes da abertura do comércio transatlântico de escravos, tanto dentro do continente quanto em várias partes do mundo muçulmano e diversas regiões pelo Oceano Índico. Na lei islâmica, a escravidão era uma instituição reconhecida e tema de discussões legais e razão para proibições formais contra a escravização de muçulmanos nascidos livres. Porque o árabe é a língua do Islã e era falado por todo o mundo muçulmano, pensa-se, às vezes, que mercadores “árabes” como um grupo étnico foram os responsáveis por esse comércio... Além disso, aqueles que eram escravizados no mundo muçulmano vinham de várias partes da Europa e Ásia assim como da África.

A tabela 7 (NUNN, 2005: 20) mostra a evolução do tráfico negreiro. Podemos perceber que o ápice desse comércio ocorreu no século XVIII, e que no Seiscentos o tráfico transatlântico já constituía metade desse fluxo migratório. As outras rotas eram a trans-saariana, as que cruzavam o Mar Vermelho e aquelas que se dirigiam ao Oceano Índico:

Tabela 7: Rotas de escravos e total de escravos africanos transportados.

Slave Trade 1400-1599 1600-1699 1700-1799 1800-1900 1400-1900 Trans-Atlantic 230,516 861,936 5,687,051 3,528,694 10,308,197 Trans-Saharan 675,000 450,000 900,000 1,099,400 3,124,400 Red Sea 400,000 200,000 200,000 505,400 1,305,400 Indian Ocean 200,000 100,000 260,000 379,500 939,500 Total 1,505,516 1,611,936 7,047,051 5,512,994 15,677,497

O terceiro fluxo emigratório a considerarmos é a diáspora judaica. Esta iniciou-se com o exílio na Babilônia em 586 a.C., e, posteriormente, com as revoltas originadas pelo jugo romano sobre a Judeia, as quais causaram a dispersão de judeus pelo Império Romano e pelo sudoeste da Ásia. Por volta do ano 600, os judeus se encontravam dispersos pela Península Ibérica, Leste Europeu (desde a Crimeia), norte da África, Iêmen, Etiópia, baixo curso do rio Nilo, Mesopotâmia e Império Bizantino. A conversão ao cristianismo na Europa intensificou a perseguição aos judeus, especialmente em países católicos, dos quais serão expulsos no século XV.

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Deste século até o século XIX, as perseguições foram se agravando no Leste Europeu, com a ocorrência de diversos pogroms, extermínio deliberado de judeus, no fim deste período. Na Europa Ocidental, a emancipação dos judeus decorrente da Revolução Francesa criou mecanismos legais de proteção a esse grupo, mas não impediu o crescimento do antissemitismo. Assim, o retorno à Terra Prometida foi-se fortalecendo como possibilidade e a primeira Aliyah (migração para a Palestina) ocorreu entre 1880 e 1903, com cerca de 25 mil judeus.

A segunda corrente migratória, de 1904 a 1914, teve contingente de 40 mil pessoas. Paralelamente às Aliyot, houve forte fluxo migratório para as Américas. De 1915 até o fim da II Guerra Mundial, houve crescente animosidade entre árabes e judeus, ocorrendo massacres de ambos os lados. Na Europa, a ascensão do nazismo contribuiu para nova corrente migratória para as Américas, especialmente para o Cone Sul e para a América do Norte. Após o Holocausto, e com a independência de Israel em 1948, novos fluxos migratórios transformaram o Oriente Médio.

Entre 1948 e 1973, diversos judeus foram banidos de países muçulmanos, em um total de 590 mil que migraram para Israel e 260 mil para Europa e Américas. Desde a Europa, 600 mil foram para Israel, além de 60 mil do Irã, 20 mil da Índia e 100 mil da União Soviética. A criação do Estado de Israel, contudo, gerou um fluxo de refugiados árabes da ordem de 730 mil pessoas e, hoje, esses campos de refugiados somam milhões de pessoas. Ainda não há solução definida para esses refugiados árabes, e este é um dos empecilhos para a celebração de acordos de paz entre israelenses e palestinos.

Outros fluxos migratórios consideráveis são os de indianos e de chineses, que viajavam devido a contratos de trabalho para exercer serviços pesados como os de mineração e construção de rodovias. Apenas entre 1852 e 1900, 2 milhões e 300 mil chineses emigraram sobretudo para o Sudeste Asiático e, em menor proporção, para as Américas. Os indianos migraram principalmente para outras colônias britânicas, tendo 30.2 milhões partido e, destes, 23,9 milhões retornado entre 1834 e 1937. O mapa 5 (DORLING KINDERSLEY, 2005: 101) mostra a migração indiana e chinesa até o início do século XX.

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Mapa 5: Emigração indiana e chinesa, meados do século XVIII ao início do século XX.

No início do século XX, em vários países, houve diversas políticas que limitavam a entrada de imigrantes, o que somente veio a mudar na década de 1960. Arrefeceu-se o movimento migratório, exceto por alguns fluxos específicos como o de judeus, supracitado, o de algumas comunidades do Oriente Médio, o de japoneses (para o Brasil, por exemplo) e o de espanhóis, em decorrência da Guerra Civil. A Oceania foi um dos mais importantes locais de destino. Na Europa, a reconstrução do pós-guerra favoreceu a formação de minorias nacionais em diversos países, como a de magrebinos na França e na Bélgica e a de turcos na Alemanha. Segundo Williamson & Hatton (http://www.casahistoria.net/emigration_williamsChp10.pdf),

[…] a participação de nascidos no exterior na população total cresceu um terço na Oceania entre 1965 e 2000 – de 14,4% para 19.1%, mais que dobrou na América do Norte1 – de 6% para 13% e mais que triplicou na Europa – de 2,2% para 7,7%... [Na Europa Ocidental] a participação de nascidos no exterior cresceu de 2,2% em 1965 para 10,3% em 2000, um aumento de cinco vezes, ainda maior que na América do Norte.

Ainda segundo esses autores, a emigração europeia para a Oceania e para as Américas, em especial para os EUA, caiu quatro vezes entre 1950 e 2000. Além disso, houve o aumento de migrantes intraeuropeus, em especial dos países mediterrâneos para o Norte, movimento também realizado pelos turcos. Com o choque do petróleo, esse movimento cessa, e é retomado entre meados das décadas de 1980 e de 1990, mas por imigrantes da África e da Ásia.

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imigrantes passa a gerar um constante fluxo populacional para fora de suas fronteiras, em especial para os EUA. Os principais locais de emigração são o México e os pequenos países da América Central e do Caribe, o que torna os EUA, de acordo com o censo estadunidense, a terceira maior população latina, com cerca de 50 milhões de pessoas, atrás de Brasil e México, ou 16,3% da população em 2010. Esse grupo tem maior crescimento vegetativo entre os grupos étnicos norte-americanos.

Outras áreas que merecem atenção são o Golfo Pérsico, a costa ocidental africana e a África do Sul. Desde 1973, com o crescimento ocasionado pela elevação do preço do petróleo, o Golfo tornou-se área de forte atração de migrantes, em especial do Subcontinente Indiano e da África. Tanto África do Sul quanto os países litorâneos de Gana ao Gabão são recebedores de estrangeiros, particularmente devido à indústria do petróleo (Nigéria, Gabão) ou ao maior grau de estabilidade política e de oportunidades econômicas (Gana, Benin, África do Sul).

Já a Europa Oriental tem se tornado fonte de mão de obra para países da Europa Ocidental, especialmente após o colapso do comunismo. O fluxo é considerável e muitos trabalhadores qualificados terminam por deixar o país, trazendo consequências ruins para a economia local, como no caso da Macedônia, da Bósnia-Herzegovina, de Moldova e da Ucrânia. Já Romênia e Bulgária tornaram-se fornecedores de mão de obra para os EUA e os para os países mais desenvolvidos da União Europeia, apesar de não integrarem o Espaço Schengen.

Cabe ressaltar, ainda, que, de modo geral, as principais tendências migratórias do mundo desde a década de 1970 não se alteraram, exceto pela redução desses fluxos populacionais Norte-Sul nos países atingidos pela crise econômica, que tem afetado sobretudo EUA e Europa. O mapa 6 (COLIN, 2009: 17), extraído do Le Monde Diplomatique, geografa os principais fluxos migratórios contemporâneos.

Em 2010, os países com maior número de imigrantes eram os EUA, com 42,8 milhões, seguidos pela Federação Russa, com 12,3 milhões; Alemanha, com 10,8 milhões; Arábia Saudita, com 7,3 milhões; Canadá, com 7,2 milhões; Reino Unido, com 7 milhões, Espanha, com 6,9 milhões; França, com 6,7 milhões; Austrália, com 5,5 milhões; Índia, com 5,4 milhões e Ucrânia com 5,3 milhões. Em percentagem da população, os países que lideram o ranking são Qatar, cuja população é composta

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por 86,5% de imigrantes; Mônaco, com 71,6%; Emirados Árabes Unidos, com 70%; Kuwait, com 68,8%; Andorra, com 64,4%; Jordânia, com 45,9%; Cisjordânia e Gaza, com 43,6%; Cingapura, com 40,7%; Israel, com 40,4% e Bahrain, com 39,1%.

Mapa 6: Fluxos migratórios mundiais, 2008.

Os países com maior número de emigrantes são México, perfazendo 11,9 milhões de pessoas; Índia, com 11,4 milhões residindo fora do território; Federação Russa, com 11,1 milhões; China, com 8,3 milhões; Ucrânia, com 6,6 milhões; Bangladesh, com 5,4 milhões; Paquistão e Reino Unido, cada um com 4,7 milhões; Filipinas e Turquia, cada uma com 4,3 milhões; Egito e Cazaquistão com 3,7 milhões cada; e, por fim, Alemanha e Itália com 3,5 milhões. Percentualmente, os países com maior população emigrada são Cisjordânia e Gaza, Samoa, Granada, São Cristóvão e Nevis, Guiana, Mônaco, Antígua e Barbuda, Tonga, Albânia e Barbados, todos com mais de 40% dos nativos residindo no exterior. Nesse caso, predominam pequenos países caribenhos e da Oceania, ademais da Albânia e dos Territórios Ocupados, os quais sofrem com uma economia precária, seja por conta da informalidade das atividades econômicas, seja pelas consequências das guerras com Israel.

Em número de migrantes, predominam aqueles corredores que se dirigem aos Estados Unidos, sendo o maior aquele entre este país e o México; entre os países da antiga União Soviética, o maior

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é entre Rússia e Ucrânia e vice-versa; o quarto maior é entre Bangladesh e Índia. Contudo, o Banco Mundial alerta que, em alguns casos, os migrantes assumem esta condição devido às mudanças nas fronteiras internacionais. Veja o gráfico 3 (BANCO MUNDIAL, 2011: 5-6), em que mostramos os corredores com maior número de migrantes.

Para o ano de 2010, o Banco Mundial calcula que 3% da população mundial, ou mais de 215 milhões de pessoas, vivam fora dos países em que nasceram. Nos últimos anos, os fluxos migratórios tem se reduzido devido à crise financeira global, o que não impediu que houvesse surtos migratórios para Espanha, Itália e Reino Unido, especialmente do Leste Europeu, mas também da América Latina e do norte africano. Desde 2005, os EUA tem recebido o maior fluxo de migrantes do mundo.

Gráfico 3: Corredores mundiais de migração, 2010.

Outros grandes contingentes dirigiram-se para os países do Conselho de Cooperação do Golfo – Bahrein, Kuwait, Omã, Qatar, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos –, especialmente oriundos do Subcontinente Indiano e do Sudeste Asiático (Filipinas e Indonésia). Ademais, deve-se lembrar que o contingente migratório Sul-Sul é maior que os fluxos Sul-Norte, e que os países do Golfo são o principal destino dessas correntes migratórias.

Em relação às transferências de valores por migrantes, os países que mais recebem dinheiro de seus emigrados são Índia, com US$ 55 bilhões, seguida pela China, com US$ 51 bilhões; México, com US$ 22 bilhões; Filipinas, com US$ 21,3 bilhões e França, com US$ 15,9 bilhões. Em

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percentagem, os países mais dependentes dos emigrantes são Tadjiquistão, com 35% do PIB atrelado a essas transações econômicas. Seguem-no Tonga, com 28%; Lesoto, com 25%; Moldova e Nepal, com 23%; Líbano e Samoa, com 22%; Honduras, com 19%; Guiana, com 17%; El Salvador e Jordânia, com 16%; e Quirguízia e Haiti, com 15%.

Quanto aos que mais enviam renda para outros países devido à sua população imigrante, estão no topo dessas transferências os EUA, com US$ 48,3 bilhões; a Arábia Saudita, com US$ 26 bilhões; a Suíça, com 19,6 bilhões; a Rússia, com US$18,6 bilhões; a Alemanha, com US$ 15,9 bilhões; a Itália, com US$ 13 bilhões; a Espanha, com US$ 12,6 bilhões; Luxemburgo, com US$ 10,6 bilhões e o Kuwait, com US$ 9,9 bilhões. Em percentuais, os que mais se destacam em relação ao PIB são Luxemburgo, com 20%; Líbano, com 17% e Omã, com 10%.

No Brasil, houve anistia, em 2009, para imigrantes ilegais. Segundo Márcio Falcão (2010,

http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u6 75457.s html), da Folha de São Paulo, as nacionalidades que mais buscaram a regularização2 foram: bolivianos (14.920), chineses (5.197), peruanos (4.215), paraguaios (3.699), sul-coreanos (1.081), libaneses (972), senegaleses (758), chilenos (545), nigerianos (527) e angolanos (519). Ainda segundo essa reportagem, para cada dólar que saía para o exterior, em 1995, entravam no país US$ 37, razão, hoje, muito reduzida devido ao aumento do número de imigrantes e das remessas para o exterior. Conforme o Banco Mundial, em 2009, recebemos US$ 4,234 bilhões e enviamos US$ 1 bilhão (FAGUNDES, 2012).

O Banco Mundial calcula em 688 mil o número de estrangeiros com residência no Brasil. Estes são oriundos predominantemente de Portugal, Japão, Itália, Espanha, Paraguai, Argentina, Uruguai, Bolívia, Alemanha e Chile. Regionalmente, o Brasil encontra-se na quarta colocação entre os países que recebem migrantes, atrás da Argentina, da Venezuela e do México. O número de emigrantes brasileiros em 2010 era de 1 milhão 367 mil, dispersos entre EUA, Japão, Espanha, Paraguai, Portugal, Reino Unido, Itália, Alemanha, Argentina e França. Regionalmente, os brasileiros são o terceiro maior contingente, atrás de México e Colômbia.

Em relação aos emigrados em países fronteiriços, segundo a Folha de São Paulo (FAGUNDES, 2012), 20 mil brasileiros estão vinculados a garimpos ilegais no Suriname, 5 mil na Guiana, 48 mil na Venezuela e 19 mil na Guiana Francesa. Enquanto na Colômbia (1.800 brasileiros) e no Peru

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(4.500) problemas relacionados às comunidades brasileiras são esporádicos, também vinculados a garimpos e à extração ilegal de madeira, na Bolívia e no Paraguai as tensões são maiores. Entre os 24 mil brasileiros naquele país e os 300 mil brasiguaios, há relatos de envolvimento com o narcotráfico e em conflitos agrários com a população local, em especial no Paraguai. Argentina e Uruguai não apresentam problemas relevantes.

A migração brasileira para os países fronteiriços é fenômeno que se consolida recentemente, nas últimas décadas do século XX, mas a história brasileira mostra que houve casos de áreas de fronteira3 ocupadas por brasileiros situadas além de nossas fronteiras políticas. O caso mais explícito é o do Acre, território boliviano incorporado posteriormente ao Brasil. Da mesma forma,

[...] importantes fluxos imigratórios foram gerados durante o ciclo da borracha para satisfazer a demanda por trabalhadores. O caso de Guajará-Mirim é ilustrativo, pois além dos imigrantes bolivianos que vieram trabalhar em seringais brasileiros (o inverso também ocorria), a cidade também recebeu um importante fluxo de descendentes de sírio-libaneses que vieram trabalhar com o comércio ambulante e outro ainda mais expressivo de diversos trabalhadores que foram recrutados para trabalhar na construção da Estrada de Ferro Madeira Mamoré (1907-1912). Fato que explica a presença na região de famílias descendentes de hindus, escoceses, chineses, gregos, suecos e belgas, entre outros. Nos últimos anos da construção foram trazidos também barbadianos, que se adaptaram bem ao clima quente e úmido da floresta amazônica (STEIMAN, 2002: 56).

A borracha contribuiu para forjar apenas mais um movimento migratório brasileiro. Façamos uma pequena retrospectiva até esse boom, iniciado no final do século XIX, para acompanharmos a dinâmica populacional de nosso país. Esta começa com a ocupação ​portuguesa da costa por meio da miscigenação com o índio, e, a partir do segundo quartel do século XVI, também com o negro. A economia era baseada na produção da cana-de-açúcar e o trabalho era escravo negro, onde se podia pagar pelo africano, ou indígena, quando isso não era possível.

Essa economia canavieira propiciou o desenvolvimento da pecuária no sertão nordestino, expandindo o território da América Lusa. No sul da colônia, o bandeirantismo consistiu em uma expansão dos domínios territoriais, mas, na medida em que não implicou movimento migratório fundado em bases econômicas e possuía caráter bastante dispersivo, não pode ser considerado in

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totum área de fronteira. Assim, apenas após a descoberta de ouro é que essas áreas de expansão

foram integradas ao território, casos de Minas Gerais e de Cuiabá.

Ainda no primeiro quartel do século XVII, a fundação de Belém permitiu à Coroa Portuguesa o controle sobre a foz do Amazonas. Desse modo, até o fim desta centúria, o Brasil já terá uma considerável expansão para além de Tordesilhas, também por causa da União Ibérica, que suspendeu as fronteiras entre os domínios espanhóis e português na América do Sul. No século XVIII, com a descoberta das minas, haverá intenso fluxo migratório e o início de uma proto-urbanização brasileira. Houve, assim, uma primeira integração entre as diversas partes da colônia.

Ademais da escravidão negra e dos contingentes de portugueses, o próximo fluxo migratório relevante é o causado pela transmigração da Corte para o Rio de Janeiro em 1808. A população da cidade duplicou, apesar de a importância deste fato histórico não se dever tanto ao número de migrantes, mas às notórias consequências econômicas e políticas. Em meados do século, iniciaram-se a imigração de europeus como parte da política de branqueamento da população, e, no Sul, também para resguardar as belicosas fronteiras do Prata.

No Vale do Paraíba, o desenvolvimento da lavoura cafeeira acarretou a absorção da mão de obra escrava, redirecionando o tráfico interno, a qual foi substituída progressivamente pelo trabalho livre e, em muitos casos, imigrante. O próximo movimento migratório relevante, como vimos, foi o ocasionado pela borracha na Amazônia, em que diversos nordestinos se dirigiram à floresta para extrair látex. Com a virada do século, a imigração europeia foi arrefecendo, e em 1908 chegou o primeiro navio trazendo imigrantes japoneses.

Nas décadas iniciais do século XX, nas cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo, a indústria desenvolveu-se lentamente até que o Estado brasileiro assumisse o projeto industrializante. O êxodo rural foi considerável e constante até o último quartel deste século, embora grande parte desta corrente migratória não fosse absorvida pelas indústrias e sim pelo terciário das primeiras metrópoles brasileiras. A divisão territorial do trabalho impôs o Nordeste como fornecedor de mão de obra para o então dinâmico Sudeste, mais urbanizado e industrializado.

Concomitantemente, a Marcha para o Oeste foi continuada por Juscelino Kubitschek e Brasília tornou-se uma das metas do planejamento do governo federal – somente foi possível construí-la

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