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INDÚSTRIA NO MUNDO E NO BRASIL

No documento Colecao Diplomata - Tomo II - Geografia (páginas 171-188)

GEOGRAFIA DA INDÚSTRIA E GLOBALIZAÇÃO

3.5. INDÚSTRIA NO MUNDO E NO BRASIL

produções industriais encontram-se, com dados de 2007, nos EUA, com US$ 2, 634 trilhões; no Japão, com US$ 1,355 trilhão; na China, com US$ 1,279 trilhão; na Alemanha, com US$ 783 bilhões; no Reino Unido, com US$ 508 bilhões; na Itália, com US$ 439 bilhões; na França, com US$ 417 bilhões; no Canadá, com US$ 371 bilhões; na Rússia, com 332 bilhões e na Espanha, com US$ 324 bilhões (OXFORD, 2011: 101). Em seguida, Coreia do Sul, Brasil e Índia. Deve-ressaltar que esses dados são anteriores à crise econômica iniciada em 2008, e que, desde então, a China ultrapassou a produção industrial japonesa. O mapa 18 (loc. cit.) mostra os percentuais de exportações do setor secundário.

Mapa 18: Produtos industriais como percentagem das exportações dos países do mundo.

As principais áreas industriais no mundo são EUA-Canadá, Europa Ocidental e Leste Asiático. Por sua vez, destacam-se: Manufacturing Belt, Crescente Periférico, costa Oeste e maquiladoras na fronteira com o México, nos EUA; região contígua ao Manufacturing Belt, no Canadá; Dorsal Europeia, ou Banana Azul, desde o sul do Reino Unido até o norte da Itália, no sentido norte-sul, e, no sentido leste-oeste, da área ocidental da Alemanha, em especial Reno-Ruhr, ao leste francês, na Europa; a megalópole japonesa, a área litorânea da China e os Quatro Tigres, no Leste Asiático. Poderíamos citar, ainda, a Cidade do México, o eixo Rio-São Paulo, as grandes concentrações urbanas indianas, Johanesburgo, a costa leste australiana e as regiões do Volga, de Kuybyshev, Novosibirsk e Kransoiarsk na Federação Russa.

Quanto à indústria brasileira atual, o gráfico 7 (MINISTÉRIO DA FAZENDA, 2012: 13) mostra a variação do índice referente à produção industrial, tendo como referência o ano de 2002 (= 100).

Para 2011, o índice ultrapassou 127. O Ministério da Fazenda (ibid.: 10) informa que

[...] o investimento vem crescendo mais do que o consumo das famílias e do Governo, o que indica ampliação da capacidade produtiva para além da ampliação da demanda, ao longo dos próximos anos. Nesse sentido, o Governo anunciou um conjunto de medidas em 2011, sintetizadas no Plano Brasil Maior, para fortalecer a indústria nacional. As ações estão direcionadas à desoneração e à simplificação tributária, às medidas de defesa comercial e à qualificação da mão de obra. Além disso, o PAC cresceu vigorosamente e apresentou, em 2011, valores empenhados da ordem de R$ 35 bilhões ante R$ 29,7 bilhões em 2010. Adicionalmente, o Programa “Minha Casa, Minha Vida” apresentou desembolsos da ordem de R$ 41,4 bilhões, alta de 11,3% sobre os R$ 37,2 bilhões em 2010. A variação acumulada da produção industrial em 2011 apresentou crescimento de 0,3%, resultado bem abaixo do verificado em 2010 (10,5%). Houve elevação generalizada do nível de produção nos três primeiros meses do ano devido à expansão em 2010. A indústria de bens de capital foi o destaque positivo: alta de 3,3% em 2011, em especial para a categoria de transportes

Gráfico 7: Evolução do crescimento da atividade industrial brasileira, 2006-2011.

A tabela 13 (MDIC, 2012: 10) mostra a evolução do PIB nos últimos anos, discriminando-o de acordo com o setor da economia. Após expressivo crescimento em 2010, também em decorrência do resultado ruim de 2009, a atividade industrial cresceu apenas 1,6% em 2011, com o crescimento da indústria da transformação quase nulo. Na tabela 14 (ibid.: 16), vemos o número de pessoas empregadas por atividade econômica nos últimos anos. No setor secundário, a construção civil e a indústria da transformação verificaram menor número de empregados entre os anos de 2008 e 2009,

dados mais recentes encontrados. As tabelas 15 (ibid.: 28) e 16 (loc. cit.) mostram os principais produtos exportados e importados pelo Brasil.

Quanto à balança comercial brasileira, a tabela 17 (MDIC, 2012: 27) agrupa os produtos exportados e importados por setor, entre os anos de 2004 e 2011. Percebe-se o aumento nas exportações e nas importações entre os anos de 2010 e 2011, com as exportações bem divididas entre produtos básicos e produtos industrializados, estes classificados em semimanufaturados e manufaturados. Nas importações, destacam-se bens de capital e bens de consumo. A tabela 18 (MDIC, 2012: 11) mostra a participação das classes e atividades econômicas no PIB (valor adicionado) a preços básicos nos últimos anos. A construção civil e a mineração aumentaram a participação no PIB, mas a indústria da transformação e a infraestrutura recuaram.

Tabela 13: Crescimento do PIB entre os anos de 2005 e 2011, por setor da atividade econômica.

Taxas Médias Anuais de Crescimento do PIB (Base: Igual Período do Ano Anterior = 100)

Discriminação 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011* Agropecuária 0,3 4,8 4,8 6,1 -4,6 6,3 3,9 Indústria 2,1 2,2 5,3 4,1 -6,4 10,4 1,6 Extrativa Mineral 9,3 4,4 3,7 3,5 -1,1 13,6 3,2 Transformação 1,2 1,0 5,6 3,0 -8,2 10,1 0,1 Construção Civil 1,8 4,7 4,9 7,9 -6,3 11,6 3,6

Prods. e Distrib. de Elet., Gás Água 3,0 3,5 5,4 4,5 -2,6 8,1 3,8

Serviços 3,7 4,2 6,1 4,9 2,2 5,5 2,7

Comércio 3,5 6,0 8,4 6,1 -1,8 10,9 3,4

Transporte 3,5 2,1 5,0 7,0 -2,5 9,2 2,8

Serviço de Informação 4,0 1,6 7,4 8,8 3,8 3,7 4,9

Administração, Saúde e Educ. Públicas 1,1 3,3 2,3 0,9 3,3 2,3 2,3

Intermediação Financeira e Seguros 5,3 8,4 15,1 12,6 7,1 10,0 3,9

PIB 3,2 4,0 6,1 5,2 -0,6 7,5 2,7

Tabela 14: Pessoal ocupado no Brasil, entre 2004 e 2009, por setor da atividade econômica. Discriminação 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Agropecuária 18.873.744 18.980.620 18.400.802 17.608.357 17.119.949 16.777.825 Indústria 17.067.388 18.194.779 18.226.920 18.996.218 20.131.280 19.849.814 Extrativa Mineral 274.130 275.704 271.077 294.459 294.555 296.198 Indústria de Transformação 10.809.822 11.673.764 11.643.049 12.094.954 12.520.285 12.255.785 Eletricidade e Gás, Água, Esgoto e Limpeza Urbana 369.777 372.432 380.027 388.913 409.761 412.478 Construção Civil 5.613.659 5.872.879 5.932.767 6.217.892 6.906.679 6.885.353 Serviços 29.334.976 30.369.336 31.803.547 32.898.431 32.980.672 33.317.132 Comércio 14.189.080 14.799.874 15.480.735 15.841.992 15.525.395 15.927.938 Transporte 3.658.359 3.791.040 3.924.013 4.054.092 4.288.157 3.960.744 Serviços de Informação 1.444.505 1.558.030 1.684.699 1.753.237 1.835.689 1.822.993 Intermediação Financeira e Seguros 906.909 919.809 931.230 969.991 947.663 961.579 Administração, Saúde e Educação Públicas 9.136.123 9.300.583 9.782.870 10.279.119 10.383.768 10.643.878 Outros 22.976.365 23.360.938 24.815.694 25.210.903 26.000.708 26.702.368 Total das Atividades 88.252.473 90.905.673 93.246.963 94.713.909 96.232.609 96.647.139

Tabela 15: Principais produtos exportados pelo Brasil nos anos de 2010 e 2011, em US$ milhões.

Discriminação 2010 Part. (%) 2011 Part. (%)

Minérios de Ferro e Seus Concentrados 28.911.882 14,3 41.817.251 16,3

Óleos Brutos de Petróleo 16.151.047 8,0 21.603.300 8,4

Soja Mesmo Triturada 11.043.000 5,5 16.327.290 6,4

Açúcar de Cana, em Bruto 9.306.851 4,6 11.548.786 4,5

Café Cru em Grão 5.181.628 2,6 7.999.955 3,1

Carnes de Frango Congeladas, Frescas ou Refrig. Incl. Miúdos 5.789.273 2,9 7.063.214 2,8 Farelo e Resíduos da Extração do Óleo de Soja 4.719.373 2,3 5.697.860 2,2

Pasta Química de Madeira 4.750.531 2,4 4.984.784 1,9

Produtos Semimanufaturados, de Ferro ou Aços 2.592.072 1,3 4.636.940 1,8

Automóveis de Passageiros 4.416.527 2,2 4.375.648 1,7

Partes e Peças para Veículos, Automóveis e Tratores 3.421.751 1,7 3.981.664 1,6

Aviões 3.972.120 2,0 3.923.954 1,5

Óleos Combustíveis (Óleo Diesel, “Fuel-Oil” etc.) 2.577.514 1,3 3.772.744 1,5

Açúcar Refinado 3.454.832 1,7 3.391.326 1,3

Outros Aviões/Veículos Aéreos 3.036.490 1,5 3.201.026 1,3

Fumo em Folhas e Desperdícios 2.706.732 1,3 2.878.469 1,1

Ferro-Ligas 2.038.964 1,0 2.495.279 1,0

Milho em Grãos 2.716.354 1,3 2.215.550 0,9

Outros Produtos 81.267.284 40,2 99.955.249 39,0

Total Geral 201.915.285 100,00 256.039.575 100,00

Tabela 16: Principais produtos importados pelo Brasil nos anos de 2010 e 2011, em US$ milhões.

Discriminação 2010 Part. (%) 2011 Part. (%)

Petróleo em Bruto 10.092.806 5,6 14.080.609 6,2

Automóveis de Passageiros 8.543.420 4,7 11.891.443 5,3

Óleos Combustíveis (Óleo Diesel, “Fuel-Oil” etc.) 5.202.617 2,9 7.882.182 3,5 Partes e Peças para Veículos, Automóveis e Tratores 5.232.893 2,9 6.317.631 2,8 Medicamentos para Medicina Humana e Veterinária 5.639.934 3,1 5.873.266 2,6

Naftas 3.629.268 2,0 4.788.953 2,1

Circuitos Integrados e Microconjuntos Eletrônicos 3.994.293 2,2 4.384.430 1,9 Hulhas, Mesmo em Pó, mas não Aglomeradas 2.926.489 1,6 4.294.252 1,9 Partes de Aparelhos Transmissores ou Receptadores 3.224.605 1,8 3.621.278 1,6

Cloreto de Potássio 2.234.386 1,2 3.503.224 1,5

Motores, Geradores e Transformadores Elétricos e Suas Partes 2.647.857 1,5 3.113.090 1,4 Compostos Heterocíclicos, Seus Sais e Sulfonamidas 2.637.605 1,5 2.902.588 1,3 Instrumentos e Aparelhos de Medida, de Verificação etc. 2.328.223 1,3 2.840.000 1,3

Gás Natural 2.132.086 1,2 2.733.776 1,2

Rolamentos e Engrenagens, Suas Partes e Peças 2.140.714 1,2 2.574.791 1,1 Máqs. Automáticas p/Process. de Dados e Suas Unidades 2.181.052 1,2 2.494.025 1,1 Adubos ou Fertilizantes cont. Nitrogênio, Fósforo e Potássio 1.065.345 0,6 2.488.607 1,1

Produtos Laminados, Planos de Ferro ou Aços 3.398.032 1,9 2.435.262 1,1

Veículo de Carga 2.015.674 1,1 2.424.521 1,1

Outros Produtos 110.501.128 60,8 135.599.482 59,9

Total Geral 181.768.427 100,00 226.243.410 100,00

Tabela 17: Exportações e importações entre 2004 e 2011 discriminadas por tipos de produtos.

Discriminação 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Var. (%) 2011/10 Exportação 96.677 118.529 137.807 160.649 197.942 152.995 201.916 256.039 26,8 Básicos 28.529 34.724 40.280 51.596 73.028 61.958 90.005 122.457 36,1 Produtos Industrializados 66.570 81.323 94.546 105.743 119.755 87.848 107.770 128.317 19,1 Semi--manufaturados 13.433 15.962 19.523 21.800 27.073 20.499 28.207 36.026 27.7 Manufaturados 53.137 65.361 75.023 83.943 92.682 67.349 79.563 92.291 16,0 Operações Especiais 1.578 2.482 2.981 3.310 5.159 3.189 4.141 5.265 27,1 Importação 62.835 73.606 91.351 120.617 172.985 127.720 181.769 226.243 24,5 Mat.-Primas e Bens Inermediários 33.526 37.804 45.275 59.405 83.056 59.762 83.992 102.091 21,5 Bens de Consumo 6.863 8.484 11.955 16.024 22.527 21.523 31.428 40.084 27,5 Comb. e Lubrificantes 10.302 11.931 15.197 20.068 31.469 16.745 25.341 36.174 42,7 Bens de Capital 12.144 15.387 18.924 25.120 35.933 29.690 41.008 47.894 16,8

SALDO 33.842 44.923 46.456 40.032 24.957 25.275 20.147 29.796 47,9

Tabela 18: Percentual das atividades econômicas no PIB, entre os anos de 2000 e 2011.

Discriminação 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Agropecuária 5,6 6,0 6,6 7,4 6,9 5,7 5,5 5,6 5,9 5,6 5,3 5,5 Indústria 27,7 26,9 27,1 27,9 30,1 29,3 28,8 27,8 27,9 26,8 28,1 27,5 Extrativa Mineral 1,6 1,5 1,6 1,7 1,9 2,5 2,9 2,4 3,2 1,8 3,0 4,1 Transformação 17,2 17,1 16,9 18,0 19,2 18,1 17,4 17,0 16,6 16,7 16,2 14,6 Construção Civil 5,5 5,3 5,3 4,7 5,1 4,9 4,7 4,9 4,9 5,3 5,7 5,8

Eletr. e Gás, Água, Esgoto e Limpeza Urbana 3,4 3,0 3,3 3,4 3,9 3,8 3,8 3,6 3,1 3,1 3,2 3,1

Serviços 66,7 67,1 66,3 64,8 63,0 65,0 65,8 66,6 66,2 67,5 66,6 67,0

Transporte, Armazenagem e Correio 4,9 5,1 4,8 4,7 4,7 5,0 4,9 4,8 5,0 4,8 5,0 5,1 Serviços de Informação 3,6 3,5 3,6 3,6 3,9 4,0 3,8 3,8 3,8 3,6 3,2 3,1 Intermed. financ., segs., previdência compl. e

servs. relativos 6,0 6,8 7,5 7,1 5,8 7,1 7,2 7,7 6,8 7,2 7,5 7,4

Atividades Imobiliárias e Aluguel 11,3 10,7 10,2 9,6 9,1 9,0 8,7 8,5 8,2 8,4 7,8 7,9 Administração, Saúde e Educação Pública 14,9 15,5 15,5 15,1 14,7 15,1 15,3 15,5 15,8 16,3 16,2 16,3 Outros Serviços 15,4 14,9 14,6 14,0 13,8 13,8 14,5 14,2 14,1 14,7 14,3 14,5

No Brasil, a indústria está concentrada na Região Sudeste, especificamente no Estado de São Paulo. Quando consideramos a indústria da transformação, 60,6% do valor adicionado total brasileiro encontra-se nesta região, com São Paulo respondendo por 43% do todo nacional. Na construção civil, os percentuais do Sudeste e do Estado de São Paulo são, respectivamente, 50,7% e 27%. A tabela 19 (IBGE, 2011) mostra a estrutura econômica dos Estados brasileiros, em percentuais, para o ano de 2009.

Tabela 19: Estrutura econômica dos Estados e das regiões brasileiras.

Estrutura econômica dos Estados e das regiões brasileiras

Estado/País Primário Secundário Terciário

Brasil 5,6 26,9 67,5 Rondônia 23,6 12,3 64,1 Acre 17,2 12,7 70,1 Amazonas 5,1 41,5 53,4 Roraima 5,7 12,7 81,6 Pará 7,3 29,2 63,5 Amapá 3,2 9,3 87,5 Tocantins 20,6 22,8 56,6 Maranhão 16,6 15,3 68,1 Piauí 10,2 16,9 72,9 Ceará 5,1 24,5 70,4

Rio Grande do Norte 5,3 19,9 74,8

Pernambuco 4,8 22 73,2 Alagoas 7,5 20,6 71,9 Sergipe 5,9 27,9 66,2 Bahia 7,7 28,7 63,6 Minas Gerais 9,1 30 60,9 Espírito Santo 6,8 29,7 63,5 Rio de Janeiro 0,5 26,3 73,2 São Paulo 1,6 29,1 69,3 Paraná 7,7 28,2 64,1 Santa Catarina 8,2 32,8 59

Rio Grande do Sul 9,9 29,2 60,9

Mato Grosso do Sul 15,5 18,5 66

Mato Grosso 28,6 16,9 54,5

Goiás 14 27 59

Distrito Federal 0,5 6,6 92,9

Sobre a industrialização no Brasil, Milton Santos e Maria Laura Silveira (2003) asseguram que a transição da economia do Império para uma economia industrial situa-se entre o início do século XX e a década de 1940, início da concentração supracitada. Segundo os autores (ibid.: 37), é nesse período que

[...] se estabelece uma rede brasileira de cidades, com uma hierarquia nacional e com os primórdios da precedência do urbanismo interior sobre o urbanismo de fachada. É, simultaneamente, um começo de integração nacional e um início da hegemonia de São Paulo, com o crescimento industrial do país e a formação de um esboço de mercado territorial localizado no Centro-Sul. Paralelamente, aumenta de forma acelerada a população global do país, mas de um modo geral permanecem as velhas estruturas sociais. O aparelhamento de portos, a construção de estradas de ferro e as novas formas de participação do país na fase industrial do modo de produção capitalista permitiriam às cidades beneficiárias aumentar seu comando sobre o espaço regional, enquanto a navegação, muito mais importante para o exterior, apenas ensejava um mínimo de contatos entre as diversas capitais regionais, assim como entre os portos de

importância. Rompia-se, desse modo, a regência do tempo “natural” para ceder lugar a um novo mosaico: um tempo lento para dentro do território que se associava com um tempo rápido para fora. Este se encarnava nos portos, nas ferrovias, no telégrafo e na produção mecanizada. [...] Poderíamos dizer que “máquinas de produção e máquinas de circulação” se espalham no território brasileiro, consolidando as áreas de mineração e contribuindo para criar áreas de monocultura de exportação, unidas aos portos litorâneos por estradas e ferrovias. [...] Pode-se dizer que esse é o momento de mecanização do território brasileiro e também de sua motorização, com a extensão, em sistema com os portos, de linhas ferroviárias.

Conforme o grupo da Geografia das Indústrias (1963: 158-68), apenas na década de 1940 é que se pode utilizar o termo industrialização para o Brasil. De meados do século XIX até este ano, ocorreram as primeiras fases de desenvolvimento industrial no país; entre 1850 e 1880, instalaram- se as primeiras indústrias têxteis. Entre este ano e 1890, ampliou-se o leque das indústrias, em decorrência da elevação de tarifas alfandegárias, e às têxteis somaram-se as de alimentação e as químicas e de produtos análogos. Deve-se ressaltar que, à exceção das indústrias de fiação e tecelagem, as demais não passavam, de modo geral, de pequenas empresas ou meras oficinas. Localizavam-se principalmente no Distrito Federal, à época, a cidade do Rio de Janeiro; e nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Rio Grande do Sul, Pernambuco e Maranhão.

Segundo Milton Santos e Maria Laura Silveira (2003: 35-6), “em 1907, o então Distrito Federal”, ou seja, a cidade do Rio de Janeiro, “detinha ainda o primeiro lugar, com 33,1% da produção industrial, 24% do total de operários e 20% do conjunto de estabelecimentos do país”, enquanto São Paulo contava “16% da produção total”, o Rio Grande do Sul 15% e o Estado do Rio de Janeiro, 7%. Ademais, entre 1885 e 1905, “o ritmo de crescimento” de São Paulo “já era superior ao do Rio de Janeiro, [este] ultrapassado em 1910”. Dez anos depois, “em 1920, enquanto o Rio de Janeiro produz 20,8%, São Paulo já alcança 31,5% do total nacional”. O grupo de Geografia da Indústria (op. cit.) aponta que, entre 1918 e 1926, houve o desenvolvimento da indústria da carne e o início da expansão da metalurgia em Minas Gerais, estando a indústria têxtil na vanguarda.

Wilson Cano (2007: 39) afirma que o desenvolvimento da indústria em São Paulo, entre fins do século XIX e as primeiras décadas do século XX decorreu do maior “desenvolvimento das relações capitalistas de produção”. Na década de 1920, “a economia paulista acentuou a concentração e a

modernização da indústria produtora de bens-salário”; com a crise de 1929, começaram os investimentos na indústria de bens de produção, consolidada na década de 1950. Assim, “a amplitude de seu próprio mercado proporcionou-lhe atração e posterior concentração da indústria de bens de consumo durável e de capital” (CANO, 2007: 39). Com a abrangência nacional do processo de acumulação decorrente do funcionamento destas indústrias, São Paulo consolidou a integração do mercado nacional.

Santos & Silveira (2003: 42) lembram que “a extinção”, na década de 1930, “das barreiras à circulação de mercadorias entre os Estados da União marcou um avanço fundamental no processo de integração econômica do espaço nacional”. Ademais, Wilson Cano (op. cit.: 49-51) lembra que, mesmo antes da crise de 1929, São Paulo concetrava 37,5% da atividade industrial do país, a qual contava com estrutura diversificada. Esse avanço econômico não era reproduzido nas demais regiões do país. Cabe ressaltar também que nesse Estado se encontrava a mais “expressiva e adiantada agricultura da nação”. Assim,

[...] deve-se lembrar que a implantação industrial anterior a 1930 não pode ser chamada, a rigor, de “processo de industrialização”. Ela foi, na verdade, induzida pelo setor exportador. Só a partir de 1933, quando a economia nacional se recupera da crise e o movimento de acumulação industrial é o motor determinante da economia, é que se pode falar em industrialização. A rigor, de 1933 a 1955, ela será uma industrialização restringida, dadas a incipiente produção nacional de bens de produção e a continuidade, em grande parte, da dependência do setor primário- exportador em determinar a capacidade para importar aqueles bens. De 1956 em diante, com a implantação de alguns setores industriais pesados (de consumo durável, intermediários e de capital), se alteraria o padrão de acumulação. [Até 1933,] o elemento dominante no padrão de acumulação de capital na economia brasileira era o capital mercantil. No caso da economia cafeeira – sobretudo de São Paulo, a partir de 1886 –, esse capital, embora dominantemente mercantil, que é o “capital cafeeiro”, adquire conotações dinâmicas diferenciadas dada a excepcional oportunidade histórica que tem de se transformar: é o capital que, ao “mesmo tempo”, é lucro do fazendeiro, recursos em poder do banqueiro, renda do Estado, capital físico de um novo industrial, ou estoque do comerciante. Muitas vezes o proprietário desse capital é, ao mesmo tempo, fazendeiro, banqueiro, industrial e comerciante (loc. cit.).

De acordo com Cano (ibid.: 300), uma vez tendo São Paulo obtido a liderança, antes da década de 1930, esta acentuou-se em função de três fatores: capacidade de acumulação, progresso técnico, e diversificação da estrutura produtiva. Por um lado, isso contribuiu para que alguns setores industriais perdessem competitividade em determinadas áreas, como a indústria têxtil do Nordeste, subordinando a estrutura econômica dessas regiões às novas solicitações do centro industrial; por outro, estimulou o desenvolvimento de áreas próximas, como Paraná e Triângulo Mineiro, até então vazias, e a intensificação da lógica capitalista, em especial, no Sul e no Sudeste, formando a Região Concentrada. Segundo Santos & Silveira (2003: 43; 45),

[...] a partir de 1945 e 1950 a indústria brasileira ganha novo ímpeto e São Paulo se afirma como a grande metrópole fabril do país. [...] É um momento de consolidação da hegemonia paulista, com um aumento acelerado dos investimentos. Henrique Rattner indica que, em 1954, São Paulo concentrava 35,4% dos investimentos do Brasil, enquanto em 1958 a proporção era de 62,2%. [...] Os novos transportes terrestres, a partir da Segunda Guerra Mundial, beneficiam São Paulo, a metrópole industrial do país. As dificuldades financeiras para o equipamento dos navios e o fato de várias ferrovias terem sido levadas a tornar-se antieconômicas aceleraram a instalação do império do caminhão. O traçado dessas estradas obedecia às novas exigências da indústria e do comércio, e assim acabou por reforçar a posição de São Paulo como centro produtor e, ao mesmo tempo, de distribuição primária. A criação de uma indústria automobilística e a construção de Brasília confluíram também para favorecer São Paulo e aumentar o desequilíbrio econômico. Constitui-se nessa cidade um parque de numerosas indústrias de base, cujo enorme mercado é dado pelo esforço de equipamento de todo o território e mesmo pelo abastecimento normal da população brasileira.

Nesse sentido, Cano (2007: 302) lembra que, em 1928, 37% das exportações de São Paulo dirigiram-se para o mercado interno, enquanto 63% tiveram como destino o exterior. Nesse mesmo ano, 65% das exportações brasileiras dirigiam-se para o exterior, e 35% para São Paulo. Em 1968, 84% das exportações paulistas destinavam-se aos outros Estados, e 16% ao exterior. Nesse ano, o restante do país enviava 45% das exportações para o exterior, e 55% para o Estado de São Paulo. A complementaridade das economias dos Estados, desse modo, propiciou o crescimento em todas as regiões do país, refutando o regionalismo que pregava a estagnação das áreas periféricas e que criou

órgãos de desenvolvimento regional como a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), em 1956, e a Zona Franca de Manaus, em 1967. Além disso,

[...] as maiores taxas do crescimento industrial paulista ampliaram a concentração industrial de São Paulo; de 32% em 1919 saltava para 41% em 1939, e 49% em 1949. Em 1955-6, antes da implantação da indústria pesada, já detinha 52%, passando para 56% em 1959 e 58% em 1970, quando já se anunciava certa inflexão na concentração industrial. [...] Durante 1949-59, a implantação da indústria pesada e o reequipamento das indústrias leves implicaram forte elevação dos níveis de produtividade, ainda mais acentuados no Nordeste, graças ao encerramento de atividades de várias indústrias tradicionais obsoletas. No período 1959-70, embora em ritmo menos acentuado, a produtividade subiu muito acima dos salários, graças à maturação dos investimentos que se realizaram entre 1956-62, à continuidade da modernização dos setores tradicionais e à forte deterioração do salário real (ibid.: 303; 306).

A década de 1970 marca uma inflexão na estrutura produtiva brasileira. O mapa 19 (ABRIL CULTURAL, 1971: 1370) mostra a distribuição da indústria no território nacional para 1970. Desde então, a economia brasileira tem passado por sucessivas etapas de desconcentração produtiva. Cano (2008) define esse primeiro período como desconcentração virtuosa, que se estende entre 1970 e 1980; deste ano até 1989, o autor analisa a desconcentração durante a década perdida; e de 1990 a 2005, especifica a desconcentração em função do período neoliberal. Sobre este longo período, Cano (ibid.: 22-34) afirma que

[...] entre 1967 e 1980, a política econômica nacional esteve voltada, fundamentalmente, para a expansão e diversificação produtiva, com objetivos de acelerar o crescimento – o projeto “Brasil potência” – e ampliar e diversificar nossas exportações. O elevado crescimento do período se manifestou em todos os setores produtivos atingindo também a maior parte do território nacional; e intensificou, também, o crescimento da urbanização e do emprego urbano, constituindo, assim, um importante amortecedor social adicional. Essa política, que teve forte condução do Estado e de suas empresas, exigiu que a infraestrutura de transporte, energia e telecomunicações fosse também contemplada com pesados investimentos, acelerando ainda mais o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), o qual, entre 1970 e 1980, cresceu à média anual de 8,7%. Contudo, o elevado crescimento se fez, em grande parte, mediante forte endividamento externo [...]. Durante a década de 1980 – a chamada década perdida – [reduziu-se] a ação do Estado no plano nacional

e regional e, também, debilit[ou] o investimento privado, notadamente o industrial, atingindo, sobretudo, o núcleo da dinâmica industrial – o parque produtivo de São Paulo –, que estagnou, diminuindo os efeitos impulsionadores de desconcentração industrial. [...] Na década de 1990, o receituário neoliberal implicou a submissão consentida dos países subdesenvolvidos à Nova Ordem, representada pelos preceitos contidos no chamado Consenso de Washington, com o que abdicamos de nossa soberania nacional, no desenho, na implementação e no manejo da política econômica. [...] O investimento não retoma seus antigos elevados patamares: a) o público, porque não há nem política de desenvolvimento, nem, muito menos, recursos, haja vista que o montante dos juros se agigantou no orçamento público; e b) o privado, dada a incerteza do movimento da economia e os elevados juros internos. [...] Acresça-se a deterioração ou o abandono das políticas de desenvolvimento regional e o desencadeamento de uma guerra fiscal entre os entes públicos subnacionais. Com efeito, os antigos instrumentos e instituições que se ocupavam da política regional feneceram, dando lugar a “novas e modernas” ideias, como as do poder local, da região (ou cidade) competitiva, e, nos marcos do Estado nacional, para dissimular suas efetivas intenções, inventou-se a política dos Grandes Eixos de logística.

No primeiro período de desconcentração produtiva, chamada de virtuosa por Cano (2008: 36), o autor lembra que a industrialização concentrada do momento anterior “alterou as estruturas produtivas e mercantis da periferia nacional, desencadeando importantes efeitos de complementaridade entre ela e São Paulo”. O crescimento nesta região propiciou crescimento, em taxas menores, no restante do país, acelerando “a integração do mercado interno, reforça[ndo] os elos regionais do processo nacional de desenvolvimento”. Quando consideramos a indústria da transformação, Cano lembra que, “enquanto São Paulo crescia a 8,1%, o restante do Brasil o fez a 10,2%” (ibid.: 63).

Nesse período, o crescimento da indústria da construção civil ocorreu em todo o país, embora o setor do vidro, mais complexo, tenha se mantido concentrado em São Paulo. O setor de metalurgia

No documento Colecao Diplomata - Tomo II - Geografia (páginas 171-188)