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Estrutura econômica do mercado e da indústria

No documento Colecao Diplomata - Tomo II - Geografia (páginas 131-140)

GEOGRAFIA DA INDÚSTRIA E GLOBALIZAÇÃO

3.2. ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL

3.2.2. Estrutura econômica do mercado e da indústria

O mercado é uma abstração que diz “respeito à oferta e à procura de recursos correspondentes”, independentemente do local em que ocorrem, embora o termo originalmente se referencie aos locais em que “os agentes econômicos realizavam suas transações” (ROSSETTI, 2002: 395). Quando analisadas apenas segundo o número de agentes envolvidos, podemos estruturar o mercado seguindo a classificação de Stackelberg, como vemos na tabela 12 (ROSSETI, 2002: 398). Segundo Rosseti (ibid.: 398),

[...] a simplicidade da matriz de Stackelberg resulta de se reduzir o princípio da diferenciação a apenas um elemento: o número dos que intervêm no mercado, tanto no lado da oferta

(vendedores), quanto no da procura (compradores). Segundo sua proposição, as estruturas de mercado que se observam na realidade não se limitam às hipóteses da concorrência perfeita (em que se fundamentou a tradição teórica dos séculos XVIII e XIX da ortodoxia clássica e marginalista) e do monopólio (em que se fundamentaram as críticas mais agudas aos pressupostos clássicos e neoclássicos). Ele mostrou que, entre esses dois extremos, há várias possibilidades intermediárias, que se podem definir pelo número dos que se encontram em cada um dos dois lados, em diferentes situações de mercado.

Assim, a concorrência perfeita ocorre quando há grande número de compradores e de vendedores. Quando o contrário acontece, ou seja, há apenas um comprador e um vendedor, há um monopólio bilateral. O monopólio se caracteriza pelo grande número de compradores e apenas um vendedor; em contraste, se há muitos vendedores e um único comprador, trata-se de um monopsônio. O oligopólio decorre do pequeno número de vendedores transacionar com grande número de compradores, o oposto denominando-se oligopsônio.

Tabela 12: Classificação de Stackelberg.

Oferta

Procura Um só vendedor Pequeno número de vendedores Grande número de vendedores

Um só comprador Monopólio bilateral Quase-monopsônio Monopsônio

Pequeno número de compradores Quase-Monopólio Oligopólio bilateral Oligopsônio

Grande número de compradores Monopólio Oligopólio Concorrência perfeita

Embora esse campo seja preferencialmente da Economia, a estrutura de mercado influencia diretamente o conteúdo abordado pela Geografia. Por exemplo, se considerarmos o virtual monopólio da Petrobras, podemos entender, em parte, a limitação das redes de infraestrutura de gás natural, petróleo e derivados no território brasileiro. Os impactos da comercialização do petróleo internacional pelas grandes companhias do setor e a posterior criação da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) foram comentados anteriormente no capítulo sobre energia.

Ademais, a organização da indústria interfere também no próprio desenvolvimento do capitalismo como modo de produção, basta percebermos as periodizações elaboradas por outros autores. No

o monopolista e o monopolista de Estado. Soja propôs quatro momentos: de 1776-89 a 1848, o período formador; de 1848 a 1893, capitalismo empresarial ou concorrencial industrial; de 1893 a 1945, capitalismo monopolista e imperialista; desde 1945, capitalismo tardio (HAESBAERT, 2001).

Bresser Pereira (2011) enumera três fases para o capitalismo – do século XIV ao século XVIII, capitalismo comercial, etapa da acumulação primitiva de capital. A transição da primeira etapa para a segunda é marcada pela industrialização em alguns países desenvolvidos, atingindo diversos países no século XX; esse capitalismo clássico se estendeu de 1801 a 1950; e de 1900 aos dias de hoje, o autor define como capitalismo profissional, quando a organização assume a unidade básica de produção. Nas próprias palavras de Bresser Pereira (loc. cit.):

[...] tomando-se como referência a Inglaterra e a França, e como ponto de partida o início da revolução capitalista, o capitalismo passou por três grandes estágios: o capitalismo mercantil entre o século XIV e o XVIII, o capitalismo clássico no século XIX e, desde o início do século XX, o capitalismo dos profissionais ou tecnoburocrático. [...] A primeira fase – o capitalismo mercantil – foi fruto das grandes navegações e da revolução comercial. Nessa fase a aristocracia proprietária de terras é ainda dominante, mas uma grande classe média burguesa está emergindo. Com a formação dos primeiros Estados-nação e a revolução industrial nos séculos XVII e XVIII, a revolução capitalista pode ser considerada “​completa” em cada sociedade nacional desenvolvida e entramos na fase do capitalismo clássico. A terceira fase do capitalismo [...] desencadeia-se com a segunda revolução industrial: a ​revolução da eletricidade, do motor a explosão, da produção em linha de montagem, e do ​consumo de massa. [...] A organização substitui a família no papel de unidade básica de produção, e o conhecimento substitui o capital na qualidade de fator estratégico de produção, e a burguesia é obrigada a partilhar poder e privilégio com a nova classe média profissional que então emerge e se configura o capitalismo dos profissionais. [...] Chamarei a transição do capitalismo mercantil para o capitalismo clássico de revolução capitalista em sentido estrito, e a transição do capitalismo clássico para o capitalismo profissional ou tecnoburocrático de revolução organizacional. A revolução

organizacional está relacionada à segunda revolução industrial que ocorre no último quartel do

século XX, e, em decorrência, a três fatos históricos novos que têm lugar na primeira metade do século XX: a produção e o consumo de massa; o fato de o capital ter-se tornado abundante e

deixado de ser o fator estratégico de produção sendo substituído pelo conhecimento; e a transição da produção realizada diretamente por famílias ou por empresas familiares para produção realizada em organizações. A sociedade continuou capitalista, porque orientada para o lucro e baseada na acumulação de capital, mas deixou de ser possível se falar em um capitalismo “puro”, ou melhor, no capitalismo clássico do século XIX, porque agora o conhecimento passava a ter um papel decisivo na administração da sociedade, porque ele passava a garantir poder e privilégio para aqueles que detivessem o conhecimento técnico, comunicativo e principalmente organizacional e, assim, fossem capazes de administrar as grandes organizações privadas e públicas.

Não é sem motivo que a teoria econômica clássica comente acerca da concorrência perfeita, momento em que prevalecia o capitalismo liberal ou concorrencial, ou, ainda, mercantil, até a I Revolução Industrial, e, como vimos com Soja, empresarial até o amadurecimento da II Revolução Industrial. Neste momento, Marx enfatiza o caráter monopolista, ou avançado, do capitalismo, já consolidado no final do século XIX. Ambas as estruturas de mercado fundamentam-se em teorias, e, justamente por essa razão, referem-se a tipos ideais.

O pensamento liberal econômico teve seu início com a publicação da obra de Adam Smith A

riqueza das nações, em 1776, e, “a certa altura da década de 1780, [...] pela primeira vez na

história da humanidade, foram retirados os grilhões do poder produtivo das sociedades humanas”, marcando a “explosão” da I Revolução Industrial (HOBSBAWN, 2004: 50). Contudo, apenas “na década de 1830 que a literatura e as artes começaram a ser abertamente obsedadas pela ascensão da sociedade capitalista” (ibid.: 49), e no fim do decênio seguinte, foram abolidas, pela primeira vez, as guildas, em processo que culminou com a “liberdade para iniciar e praticar qualquer forma de comércio” (ibid.: 62). Segundo o Dicionário de Sociologia (JOHNSON, 1997: 30),

[...] a ideia de livre mercado está provavelmente associada de forma mais correta ao que poderia ser denominado de “capitalismo primitivo”, aquele período anterior à Revolução Industrial, quando o capitalismo adotou a forma de busca de lucros através da compra e venda de bens [capitalismo mercantil, acumulação primitiva de capital]. Os precursores do capitalismo moderno não possuíam nem controlavam pessoalmente os meios de produção, embora, como mercadores, obtivessem lucros aproveitando as condições de mercado, tais como comprando e

transportando bens para venda em locais onde não existiam. Os mercadores contribuíram para a emergência do capitalismo ao desenvolver a ideia do lucro, do uso de bens como veículos para transformar dinheiro em mais dinheiro. Só mais tarde é que o capitalismo surgiu como sistema, cuja principal base de poder e lucro era o controle sobre o próprio processo de produção. Na forma avançada que assumiu em sociedades ​industrializadas capitalistas modernas, afastou-se do capitalismo competitivo, que implicava um conjunto de empresas relativamente pequenas, evoluindo para o que Marx chamou de capitalismo monopolista (ou avançado). Nessa forma, empresas se fundem e formam centros globais cada vez maiores de poder econômico, com potencial para rivalizar com nações-estado em sua influência sobre os recursos e produção e, através deles, sobre as condições em que a vida social ocorre, no seu sentido mais amplo.

Em termos gerais, o capitalismo liberal ou concorrencial manteve-se vivo até a Grande Depressão, ocorrida entre 1873 e 1896, e até a II Revolução Industrial, iniciada na década de 1870. Hobsbawn (2003: 68) lembra que “o mundo desenvolvido não era só uma massa de ‘economias nacionais’. A industrialização e a Depressão transformaram-nas num grupo de economias rivais”, sendo que a “concorrência se dava não só entre empresas, mas também entre nações”. Assim,

[...] se o protecionismo era a reação política instintiva do produtor preocupado com a Depressão [e com a concorrência], essa não era, contudo, a reação mais significativa do capitalismo a suas dificuldades. Ela resultava da combinação de concentração econômica e racionalização empresarial, ou na terminologia americana que agora começa a definir estilos globais, “trustes” e “administração científica”. Ambos eram tentativas de ampliar as margens de lucro, comprimidas pela concorrência e pela queda de preços (ibid.: 69).

Hobsbawn (loc. cit.) esclarece também que concentração econômica não deve ser confundida com monopólio ou com oligopólio, apesar de “os exemplos dramáticos de concentração, que mereceram acolhida negativa por parte do público”, terem sido oligopólios, “geralmente decorrentes de fusões ou de acordo, com vistas ao controle de mercado, entre firmas que, segundo a teoria da livre- iniciativa, deviam estar concorrendo entre si, o que beneficiaria o consumidor” (ibid.: 69-70). Por isso, os

[...] marxistas argumentam que a tendência dos mercados evoluírem para o monopólio é inerente ao capitalismo como sistema econômico e que vem aumentando desde fins do século

XIX. Uma vez que a concorrência é ameaçadora para as empresas, elas tendem a se proteger e aumentar seus lucros tentando controlar mercados pela expulsão ou absorção de firmas concorrentes. O movimento para o capitalismo monopolista é acompanhado por aumento dos laços entre os interesses econômicos e estatais, incluindo a compra de material bélico; o uso da política externa para promover vantagens competitivas; leis que desencorajam as greves; programas de pensões e seguro-desemprego que aliviam os efeitos negativos do capitalismo (e, portanto, tornam menos provável que trabalhadores se revoltem); subsídios do governo para ajudar empresas falidas; e o uso da política pública para regulamentar as taxas de juros, o fluxo de moeda e outros aspectos dos mercados financeiros (JOHNSON, 1997: 154).

As formas mais comuns utilizadas pelas firmas para reduzir a competição e concentrar capital, historicamente, são os cartéis, os trustes, as holdings e os conglomerados. Ainda de acordo com Hobsbawn (op. cit.: 70):

[...] o Cartel do Carvão do Reno e da Westfália (1893), cujo controle da produção de carvão dessa região era da ordem de 90%, ou a Standard Oil Company, que em 1880 controlou​ 90-95% do petróleo refinado nos EUA, eram, sem dúvida, monopólios. Assim também, para fins práticos, o “truste de bilhões de dólares” da United States Steel (1901), que detinha 63% da indústria siderúrgica americana. Também é claro que uma tendência – oposta à concorrência irrestrita – à “combinação de vários capitalistas que antes operavam isoladamente”, tornou-se inegavelmente óbvia durante a Grande Depressão e se manteve no novo período de prosperidade mundial. Uma tendência ao monopólio ou oligopólio é inegável na indústria pesada, em setores profundamente dependentes de economias governamentais – como o de armamentos, em rápida expansão –, em atividades que geram e distribuem novas formas revolucionárias de energia, como o petróleo e a eletricidade, nos transportes e em algumas indústrias produtoras de bens de consumo de massa, como sabão e tabaco.

O cartel é qualquer ação combinada, com objetivos anticoncorrenciais, entre empresas juridicamente independentes que atuam no mesmo mercado. O expediente tradicional é a combinação de preços, mas não é raro o estabelecimento de quotas de mercado, ora em percentuais de venda, ora em regiões específicas. Exemplos clássicos são a OPEP, na venda de petróleo, e postos de gasolina, na venda de combustível, ou, ainda, esquemas de participação em licitações públicas.

No truste, ou konzern7, também é mantida a independência jurídica das empresas. De fato, o que acontece é a realização de um contrato no qual pessoa física ou jurídica confia a outrem a administração de seus bens. Assim sendo, pode-se controlar o mercado de determinado produto apenas por intermédio de contratos de gerenciamento das participações em empresas, seja por ações, seja por quotas-parte. Neste caso, apenas uma pessoa, física ou jurídica, é responsável pela ação anticoncorrencial.

Holding é a empresa criada com a finalidade de administrar um grupo de empresas por meio do

controle de participações acionárias de outras firmas. Surgiu após a proibição dos trustes, e seu capital não é utilizado para investimentos em produção de bens materiais, usualmente. Contudo, sua existência é frequentemente associada ao conglomerado, que, de acordo com o Dicionário de

Sociologia (JOHNSON, 1997: 48),

[...] é uma empresa que controla certo número de outras que, entre si, produzem uma grande variedade de bens e serviços. Um conglomerado, por exemplo, pode possuir uma companhia de alimentos congelados, uma fábrica de malas, uma empresa que produz armas, uma agência de publicidade, e assim por diante. Os conglomerados são [geográfica e] sociologicamente importantes porque sua posição complexa e diversificada torna-os muito mais poderosos, estáveis e competitivos do que outros tipos de empresas. À medida que empresas bem-sucedidas usam seus lucros para adquirir ou se fundir com outras, os mercados tornam-se cada vez mais dominados por conglomerados e a distribuição da riqueza e do poder econômico torna-se mais desigual. Esse fato assume importância especial quando os conglomerados são de âmbito internacional. Em alguns casos, seus recursos econômicos excedem o produto nacional bruto da maioria das nações.

As leis que protegiam a concorrência demoraram a ser efetivadas no arcabouço jurídico dos países. A França adotou em 1810 um artigo do Código Penal que proscrevia “as coalizões de vendedores”, e somente instituiu lei mais moderna em 1986. Na Grã-Bretanha a primeira lei genuinamente antitruste foi o Restrictive Practices Act, de 1956. A Alemanha apoiava seus cartéis decididamente até o início do século XX; e os EUA, pioneiros no combate legal a práticas anticoncorrenciais, têm as leis Sherman Antitrust Act, de 1890, e o Clayton Antitrust Act, de 1914 (CHANG, 2004: 158-9).

Durante muito tempo, não eram tomadas medidas que coibiam os trustes, com casos de monitoramento apenas. Ademais, muitas leis demoraram a reger casos de integração horizontal e de integração vertical, base também de muitos conglomerados. Contemporaneamente, os EUA e a União Europeia possuem sistemas de proteção à concorrência considerados de altíssimo nível, estando o órgão brasileiro responsável por esse tema, o Conselho de Defesa Econômica (CADE), caminhando para esse patamar. De acordo com Benko (2002: 237), integração horizontal refere-se à

[...] situação existente numa firma cujos produtos ou serviços são concorrentes uns com os outros. A expressão aplica-se também à expansão de uma firma, que passa pela criação de novos produtos que concorrem com os antigos. A integração horizontal pode resultar de fusão entre firmas concorrentes no mesmo mercado ou dever-se à expansão de uma firma que amplia sua base de partida, como é o caso do crescimento das cadeias de varejistas. As vantagens da integração horizontal provêm essencialmente de economias devidas a uma gestão em grande escala, a compras maciças dos fornecedores e a uma distribuição em grande escala. A integração horizontal pode conduzir ao monopólio sobre um mercado particular. A integração horizontal é o estabelecimento de uma relação mercantil entre firmas “iguais” – é uma forma aprimorada de parceria (várias empresas trabalhando em colaboração “igual” para o mesmo produto – por exemplo, Mercedes-Bosch, Citroen-Michelin etc.).

Ainda de acordo com Benko (ibid.: 238), a integração vertical ocorre

[...] quando uma firma única opera com mais de um estágio de produção. O tipo mais completo de integração vertical compreenderia todos os estágios de produção (desde a transformação das matérias-primas até o acabamento e a distribuição do produto acabado). Uma firma única organizada verticalmente pode muitas vezes fazer funcionar a integralidade do processo de produção de modo mais eficiente do que em certo número de firmas separadas. Com o fortalecimento do modelo fordista, assistiu-se a uma divisão do trabalho cada vez mais acentuada: primeiro no interior da firma (entre as oficinas), depois essa divisão se tornou tão aguda que assumiu a forma de divisão entre estabelecimentos, portanto a de “desintegração espacial”; e mesmo entre firmas, entre patrão e subcontratantes. Trata-se, pois, de uma desintegração vertical que não para de amplificar a afirmação do modo de produção flexível.

monopolista, juntamente com os processos de integração produtiva que deram origem a grandes grupos corporativos. Estes foram designados por nomes específicos de acordo com o local de ocorrência – trust/holding, EUA; konzern, Alemanha; groupe de société, França; conglomerado, Brasil; zaibatsu/keiretsu, Japão; chaebol, Coreia do Sul. José Engrácia Antunes (2005: 49) atesta que esses grupos

[...] constituem uma realidade multiforme, com uma enorme variedade de graus de centralização: assim, num dos extremos, encontramos aqueles grupos cujas filiais são dotadas de um elevado grau de autonomia, quase semelhante à usufruída pela sociedade individual ou independente, limitando-se a intervenção da sociedade-mãe a matérias absolutamente estratégicas para a sobrevivência, liquidez e maximização lucrativa do grupo (grupos descentralizados); no outro extremo, temos aqueles grupos constituídos por filiais detidas a 100%, cuja actividade e gestão quotidiana corre sob a alçada de um controlo permanente e intrusivo exercido pela cúpula grupal ou por uma “holding” intermédia desta dependente (grupos centralizados). É mister sublinhar, contudo, que autonomia e controlo “are all of a piece”: autonomia total ou controlo absoluto representam apenas os polos extremos de “continuum” de infinitas possibilidades e variantes de distribuição do poder de direcção no contexto das relações entre vértice grupal e sociedades constituintes, tal como centralização e descentralização constituem apenas os modelos ou parâmetros teóricos de um largo espectro de conformações organizativas possíveis da estrutura plurissocietária.

Antunes (ibid.: 32) assevera que no capitalismo monopolista, deixa-se “de constituir a empresa individual, explorada por uma pessoa física ou singular, para passar a rever-se quase esgotantemente na empresa colectiva ou societária, explorada por uma pessoa jurídica ou moral: a sociedade comercial”, particularmente a sociedade anônima “(‘Corporation’, ‘Aktiengesellschaft’, ‘Société Anonyme’, ‘Società per Azioni’)” (loc. cit.).

Havia novas exigências para esse tipo de atividade empresarial, seja de natureza financeira, como concentração de capitais e de ativos patrimoniais; seja de natureza organizativa, por meio de gestão profissionalizada; seja de natureza legal, em razão da limitação do risco e da estabilidade adquiridas. Essa mudança organizacional interfere no modo de produção capitalista, como vimos na periodização desse sistema econômico por Bresser Pereira. Outra denominação é a de capitalismo

financeiro, cunhada por Rudolf Hilferding. Segundo este autor (apud PINTO, 1997: 13),

[...] os aspectos mais característicos do capitalismo “moderno” são os seus processos de concentração que, por um lado, “eliminam a livre concorrência” através da formação de cartéis e trustes e, por outro, envolvem os capitais bancário e industrial numa estreita relação. Através dessa vinculação, como será demonstrado mais adiante, o capital assume a forma de capital financeiro, a sua expressão suprema e mais abstrata. O capital bancário, isto é, capital em forma de dinheiro, [...] se transforma em capital industrial. Frente aos proprietários mantêm sempre a forma de dinheiro, é investido por eles sob a forma de capital monetário, de capital produtor de juros, e pode sempre ser retirado sob a forma de dinheiro.

Nelson Pinto (1997: 15) concorda com a posição teórica de Hilferding, ao apontar que “o capital se transforma em capital financeiro quando combina os atributos do capital-dinheiro e do capital industrial, ou seja”, quando adquire liquidez, sendo “prontamente conversível no seu equivalente monetário e produtivo: dinheiro e máquina ao mesmo tempo”. Desse modo, “títulos regularmente negociados em bolsas de valores – tais como ações e debêntures – constituem capital financeiro da mesma forma como os depósitos bancários”.

No documento Colecao Diplomata - Tomo II - Geografia (páginas 131-140)