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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

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Academic year: 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS

DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

Polyana Aparecida Valente

MULHERES CATÓLICAS EM AÇÃO: CARIDADE, SAÚDE E

DIVULGAÇÃO DE CIÊNCIAS EM BELO HORIZONTE (1897-1936)

(2)

Polyana Aparecida Valente

MULHERES CATÓLICAS EM AÇÃO: CARIDADE, SAÚDE E

DIVULGAÇÃO DE CIÊNCIAS EM BELO HORIZONTE (1897-1936)

Tese de doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais como requisito para obtenção do título de Doutor em História.

Linha de Pesquisa: Ciência e Cultura na

História.

Orientador: Profº. Drº. Bernardo Jefferson

de Oliveira

(3)

112.109

V154m

2016

Valente, Polyana Aparecida

Mulheres Católicas em ação [manuscrito] : filantropia, saúde e divulgação de

ciências em Belo Horizonte (1897-1936) /

Polyana Aparecida Valente. - 2016.

206 f. : il.

Orientador: Bernardo Jefferson de

Oliveira.

Tese (doutorado) - Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Filosofia

e Ciências Humanas.

Inclui bibliografia

1.História – Teses. 2. Associações religiosas - Teses. 3.Assistência social - Teses. 4. Saúde - Teses. 5.Ciência – História - Teses. I. Oliveira, Bernardo Jefferson de. II. Universidade

Federal de Minas Gerais. Faculdade de Filosofia

e Ciências Humanas. III. Título.

(4)
(5)

Universidade Federal de Minas Gerais

Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas

Programa de Pós-Graduação em História

Tese intitulada Mulheres Católicas em ação: caridade, educação, saúde e a divulgação de ciências em Belo Horizonte (1897-1936) de autoria de Polyana Aparecida Valente, aprovada pela banca examinadora constituída dos seguintes professores:

__________________________________________________________________________ Prof. Dr. Bernardo Jefferson de Oliveira (UFMG) – Orientador

__________________________________________________________________________ Prof. Dr. Luiz Otávio Ferreira (COC - Fiocruz)

__________________________________________________________________________ Prof. Dra. Carla Simone Chamon (CEFET/MG)

__________________________________________________________________________ Prof. Dra. Rita de Cássia Marques (UFMG)

__________________________________________________________________________ Prof. Dra. Anny Jackeline Torres Silveira (UFMG)

Suplentes:

__________________________________________________________________________ Prof. Dr. Bráulio Silva Chaves (CEFET/MG)

__________________________________________________________________________ Prof. Dra. Betânia Gonçalves Figueiredo (UFMG)

__________________________________________________________________________ Prof. *** Nome do Coordenador(a) ***

Coordenador(a) do Programa de Pós-Graduação em História – UFMG

Data de aprovação: Belo Horizonte, ____ de ____________ de 2016

(6)

À minha “Sol”,

aos meus irmãos e sobrinhos,

(7)

AGRADECIMENTOS

Escrevi a tese em muitos e seguidos mergulhos na pesquisa e no texto. Foram quatro anos e meio de muita dedicação e trabalho. A vida não dá tréguas e tive que combinar todas as adversidades do caminho com o desenvolvimento da pesquisa.

Assim como na canção portuguesa, chego ao final do trabalho com a dor de Frida Kahlo, a alegria de Greta Garbo e a graça de Madre Teresa. Quero agora “abraçar e agradecer” toda a coletividade que contribuiu para sua concretização. “O que eu sou, sou em par, não cheguei sozinha”.

Em primeiro lugar, agradeço minha avó materna, a incrível Dona Zélia, mulher católica que abriu mão de sua própria vida para se dedicar à casa e à família. Sua escolha de vida implicou em incentivar suas filhas e netas a serem mulheres independentes, fortes e acima de tudo, livres. Sem a presença dela nada disso seria possível.

Agradeço ao meu pai pelo seu jeito doce. Por caminhar sempre de mãos dadas comigo e com os meus sonhos.

À minha mãe, a mulher mais forte que conheço.

Aos meus maninhos Igor e Hugo, sou eternamente grata por me fazerem compreender o sentido da palavra amor.

Aos meus sobrinhos, por me mostrarem a leveza da vida. Jamille, sorrisinho bom da tia Poly. João Pedro, meu super herói preferido, meu Miguilim!

Aos meus familiares, tias, tios, primos e primas, agradeço pelo apoio. Em especial, agradeço a Aline Valente, prima linda com quem, mesmo a longa distância, dividi angústias e esperanças.

Agradeço aos muitos amigos, que por vezes reclamaram da minha ausência,

mas sempre me incentivaram e me encheram de carinho. Agradeço especialmente “aos velhos amigos” da Turma do Sesi de 1998, Susu, Ju, Pablito, Mari e ao querido João, que no final dessa travessia me estendeu a mão, me confortando as dores.

A Wellesandra Benfica, agradeço pelas experiências acadêmicas compartilhadas e os mimos cotidianos manifestados em mensagens, olhares e abraços apertados.

A Romilda amiga de profissão, agradeço todo apoio e incentivo ao meu trabalho e pelo caminhar apesar das distâncias geográficas.

Agradeço à amiga de última hora, Roberta Ferreira, sempre disposta a mostrar a natureza, a arte e a música como elementos de cura e fontes de energia para a produção. Fez-me ver a luz no fim do túnel.

(8)

Ao Gui, meu amigo queridão, sou grata pelo auxílio no tratamento das línguas estrangeiras.

Às queridas amigas Bete e Dy, fontes inesgotáveis de bem querer.

Carinhosamente, agradeço a D. Madalena, que me recebeu em sua casa de braços abertos, com generosidade e atenção. Nossas conversas valeram não apenas para a construção da tese, mas por lições que levarei para a vida.

Agradeço ao meu querido orientador Bernardo Jefferson de Oliveira, que sempre acreditou e confiou no meu trabalho.

Agradeço aos professores Rita de Cássia Marques e Luiz Otávio Ferreira, pelas valiosas contribuições no exame de qualificação. As indicações de leituras e formas de pensar o problema apontaram caminhos seguros a seguir.

Aos queridos professores do Programa de Pós-Graduação, em especial as professoras Regina Horta Duarte, Ana Carolina Vimieiro, Anny Jackeline Torres Silveira e Betânia Figueiredo.

Aos funcionários dos vários arquivos por onde passei e que de alguma maneira contribuíram para a pesquisa: a Maria Júlia, do Centro de Memória da Escola de Enfermagem da UFMG, sempre tão eficiente e solicita. A Marília, do Instituto de Educação, responsável pelo arquivo da Escola Normal Modelo, que efetivamente viabilizou a pesquisa no acervo. Sem a intervenção dela o acesso às fontes não seria possível. Aos funcionários da Hemeroteca Histórica de Minas Gerais, sempre muito disponíveis. A Pollyana Teixeira e Thiago Lemos, funcionários da Hemeroteca da PUC Minas, agradeço por dividirem o espaço de trabalho comigo na consulta dos microfilmes dos periódicos católicos. Sou grata à Rosangela, funcionária do Centro de Memória da Arquidiocese de Belo Horizonte, sempre preocupada pelas longas horas de pesquisa no arquivo. À Carla e Miriam, do Memorial Helena Antipoff, pela busca incansável das fontes de pesquisa e oferecimento de uma sala tranquila de trabalho. Ao querido Mário, responsável pela biblioteca da Magistra da Secretaria de Educação de Minas Gerais, que me ajudou a encontrar pistas da Maria Luiza de Almeida Cunha e pelo ouvido atento sobre as ideias presentes na pesquisa. Às irmãs da Creche Menino Jesus, agradeço pelo atendimento e por permitirem o acesso à documentação histórica da instituição.

Agradeço aos colegas da turma do doutorado, especialmente a Deise Rodrigues, com quem tive oportunidade de dividir trabalhos acadêmicos, a realização de mini curso e a elaboração de um dossiê sobre História das Ciências.

Ao Bráulio Chaves, pela troca de ideias, apoio e carinho.

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(10)
(11)

RESUMO

O objetivo central deste trabalho foi analisar a atuação das mulheres leigas no associativismo católico, sobretudo na assistência à saúde e à educação na cidade de Belo Horizonte, entre os anos 1897 e 1936. O corte cronológico justifica-se pelo fato da construção de Belo Horizonte ser um marco no processo de modernização e urbanização de Minas Gerais. Nesse período houve a ampla organização de agremiações assistenciais, das quais destacamos as associações femininas católicas. Acreditamos que o associativismo feminino católico não era marcado apenas pela caridade cristã, mas por uma filantropia científica guiada por valores morais e científicos. Procuramos mostrar também que as agremiações possibilitaram às mulheres o acesso ao mundo público, bem como a formação de uma agenda ligada aos interesses femininos do período. Não foi nosso objetivo fazer um estudo de gênero, mas uma produção ligada à História das Mulheres, no sentindo de compreender as leigas católicas como atores sociais, que no caso em questão, elegeram a filantropia para atuar fora do espaço doméstico. Concluímos que o associativismo feminino católico em Belo Horizonte é fruto da combinação do reformismo católico, iniciado em meados do século XIX, com o projeto político-social das elites mineiras. Esse projeto social visava a proteção e o controle da infância e da família, primando pela formação de uma sociedade moderna, moralmente boa e saudável.

(12)

ABSTRACT

The main objective of this work was to analyse the agency of lay women in catholic associations, mainly on health and education aid in Belo Horizonte city, between 1897 and 1936. This period was chosen because the establishment of Belo Horizonte represents the modernisation and urbanisation process in the state of Minas Gerais. There was a wide number ofassistance groupsduring this period, from which we highlight the catholic women groups. We believe that catholic female associations were characterized not only by Christian charity, but also by a scientific philanthropy guided by moral and scientific values. Also, we sought to show that those groups granted women access to the public sphere, as well as the creation of an agenda linked to female interests at that time. It was not our objective to carry out a gender analysis. We aimed at producing a work linked to the history of women, in the sense of understanding catholic lay women as social actors that have chosen philanthropy to act beyond the domestic space. We conclude that catholic female associations in Belo Horizonte results from the combination between the mid-19th century

catholic reformism and a political project of the elites of Minas Gerais. This socio-political project aimed at protecting and controlling childhood and families, shaping a modern society which was morally good and healthy.

(13)

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1

Figura 2 Mapa da cidade de Belo Horizonte Maria Luiza, Isabel Lacombe e Roberto de Almeida Cunha

66 130

Figura 3 Maria Luiza, marido e seus filhos 132

Figura 4 Maria Luiza, marido e seus filhos 133

Figura 5 A casa da família Almeida Cunha 134

Figura 6 Artigo sobre Ensino Religioso nas Escolas 139

Figura 7 Ficha Individual do aluno proposta por Maria Luiza de Almeida Cunha 142 Figura 8 Professoras participantes do I Congresso Educação Primária e o

presidente do Estado, Antônio Carlos de Andrada 144

Figura 9 Meninas Órfãs Asiladas no Bom Pastor 159

Figura 10 Projeto da Fachada do Asilo Bom Pastor 168

(14)

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 Cor de Cabelos 113

Gráfico 2 Qualidade dos Cabelos 114

Gráfico 3 Cor de Olhos 114

(15)

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Obras realizadas pela Comissão Obras Sociais e Operárias 79 Tabela 2 Obras realizadas pela Comissão Assistência e Caridade no Ano de 1927 86 Tabela 3 Lista de donativos da Cruzada Santa Terezinha do Menino Jesus 89 Tabela 4 Obras realizadas pela Comissão Assistência e Caridade no Ano de 1928

– Damas da Caridade Santa Efigênia 94

Tabela 5 Obras realizadas pela Comissão Assistência e Caridade no Ano de 1928

– Damas da Caridade São José 94

Tabela 6 Obras realizadas pela Comissão Assistência e Caridade no Ano de 1928

– Damas da Caridade Boa Viagem 94

Tabela 7 Obras realizadas pela Comissão Assistência e Caridade no Ano de 1929

– Damas da Caridade Santa Efigênia 95

Tabela 8 Obras realizadas pela Comissão Assistência e Caridade no Ano de 1929

– Damas da Caridade Lourdes 95

Tabela 9 Obras realizadas pela Comissão Assistência e Caridade no Ano de 1930

– Damas da Caridade Boa Viagem 96

Tabela 10 Obras realizadas pela Comissão Assistência e Caridade no Ano de 1930

– Damas da Caridade Santa Efigênia 96

Tabela 11 Obras realizadas pela Comissão Assistência e Caridade no Ano de 1930

– Damas da Caridade Barro Preto 96

Tabela 12 Obras realizadas pela Comissão Assistência e Caridade no Ano de 1931

– Damas da Caridade São José 97

Tabela 13 Obras realizadas pela Comissão Assistência e Caridade no Ano de 1931

– Damas da Caridade Santa Efigênia 97

Tabela 14 Obras realizadas pela Comissão Assistência e Caridade no Ano de 1931

– Damas da Caridade Boa Viagem 98

Tabela 15 Obras realizadas pela Comissão Assistência e Caridade no Ano de 1931

– Damas da Caridade Floresta 98

Tabela 16 Obras realizadas pela Comissão Assistência e Caridade no Ano de 1931

– Damas da Caridade São Sebastião 98

Tabela 17 Obras realizadas pela Comissão Assistência e Caridade no Ano de 1931

– Damas da Caridade Lourdes

98

Tabela 18 Obras realizadas pela Comissão Assistência e Caridade no Ano de 1931

– Damas da Caridade Santo Antônio 99

Tabela 19 Obras realizadas pela Comissão Assistência e Caridade no Ano de 1932

– Damas da Caridade Santa Efigênia 99

Tabela 20 Obras realizadas pela Comissão Assistência e Caridade no Ano de 1932

– Damas da Caridade São José 100

Tabela 21 Obras realizadas pela Comissão Assistência e Caridade no Ano de 1932

– Damas da Caridade Floresta 100

Tabela 22 Obras realizadas pela Comissão Assistência e Caridade no Ano de 1932

– Damas da Caridade São Sebastião 100

Tabela 23 Obras realizadas pela Comissão Assistência e Caridade no Ano de 1932

– Damas da Caridade Lourdes 101

Tabela 24 Obras realizadas pela Comissão Assistência e Caridade no Ano de 1932

– Damas da Caridade Carlos Prates

101

Tabela 25 Obras realizadas pela Comissão Assistência e Caridade no Ano de 1932

– Damas da Caridade Boa Viagem 101

(16)

– Damas da Caridade Lourdes

Tabela 27 Obras realizadas pela Comissão Assistência e Caridade no Ano de 1933

– Damas da Caridade Boa Viagem 102

Tabela 28 Obras realizadas pela Comissão Assistência e Caridade no Ano de 1933

– Damas da Caridade Carlos Prates

103

Tabela 29 Obras realizadas pela Comissão Assistência e Caridade no Ano de 1933

– Damas da Caridade Santa Tereza e Santa Terezinha 103

Tabela 30 Obras realizadas pela Comissão Assistência e Caridade no Ano de 1933

– Damas da Caridade São José 103

Tabela 31 Obras realizadas pela Comissão Assistência e Caridade no Ano de 1933

– Damas da Caridade Floresta

103

Tabela 32 Obras realizadas pela Comissão Assistência e Caridade no Ano de 1934

– Damas da Caridade São José 104

Tabela 33 Obras realizadas pela Comissão Assistência e Caridade no Ano de 1934

– Damas da Caridade Boa Viagem 104

Tabela 34 Obras realizadas pela Comissão Assistência e Caridade no Ano de 1934

– Damas da Caridade Santa Tereza 104

Tabela 35 Obras realizadas pela Comissão Assistência e Caridade no Ano de 1934

– Damas da Caridade Santa Efigênia 104

Tabela 36 Obras realizadas pela Comissão Assistência e Caridade no Ano de 1934

– Damas da Caridade Carlos Prates 104

Tabela 37 Obras realizadas pela Comissão Assistência e Caridade no Ano de 1934

– Damas da Caridade Lourdes 105

Tabela 38 Obras realizadas pela Comissão Assistência e Caridade no Ano de 1934

– Damas da Caridade Calafate

105

Tabela 39 Obras realizadas pela Comissão Assistência e Caridade no Ano de 1934

– Damas da Caridade Floresta 105

Tabela 40 Levantamento de verbas diversas realizadas pela Comissão Assistência

e Caridade 106

Tabela 41 Subvenção Municipal 107

Tabela 42 Subvenções e Doações Recebidas 109

Tabela 43 Movimentação de Verbas Damas da Caridade 109

Tabela 44 Lista de artigos produzidos por Maria Luiza de Almeida Cunha 135 Tabela 45 Relatório apresentado ao Conselho Deliberativo pelo prefeito Flávio

Fernandes dos Santos set./1923 (Ano 1922-1923) 160

Tabela 46 Relatório apresentado ao Conselho Deliberativo pelo prefeito Flávio

Fernandes dos Santos set./1925 (Ano 1924-1925) 160

Tabela 47 Relatório apresentado ao Conselho Deliberativo pelo prefeito Cristiano

Monteiro Machado. Outubro/1926 (Ano 1925-1926) 160

Tabela 48 Relatório do 1º Ano da Administração Municipal no quatriênio iniciado

em 1926 161

Tabela 49 Mensagem apresentada ao Conselho deliberativo pelo prefeito Cristiano

Monteiro Machado Outubro/1928 161

Tabela 50 Repasses Prefeitura (1940/1941) 161

Tabela 51 Doações destinadas ao Asilo Bom Pastor 163

Tabela 52 Donativos comércio em fazendas e gêneros para o Bom Pastor 164

Tabela 53 Benfeitores da Creche Menino Jesus 177

Tabela 54 Doações de materiais de construção e acabamento Creche Menino

Jesus 178

(17)

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ABE – Associação Brasileira de Educação CC – Confederação Católica

CCF – Confederação Católica Feminina FM – Filhas de Maria

GAS – Grupo de Ação Social JC – Juventude Católica

JEC – Juventude Estudantil Católica JOC – Juventude Operária Católica JUC – Juventude Universitária Católica

MTIC – Ministério do Trabalho Indústria e Comércio MESP – Ministério da Educação e da Saúde

OMEP – Organização Mundial para Educação Pré-Escolar SMAI – Sociedade Mineira de Assistência à Infância SSVP – Sociedade São Vicente de Paulo

UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais UMC – União dos Moços Católicos

(18)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 18

1 ASSOCIATIVISMO FEMININO CATÓLICO EM BELO HORIZONTE 23

1.1 Associativismo Feminino 24

1.2 Estudo sobre o Associativismo Feminino no Brasil 28

1.3 Associativismo em Belo Horizonte 31

1.3.1 Associativismo Católico em Belo Horizonte 35

1.4 As associações católicas femininas em Belo Horizonte 39

1.4.1 Filhas de Maria 39

1.4.2 Mães Cristãs 51

1.4.3 Damas da Caridade 60

2 CONFEDERAÇÃO CATÓLICA DE BELO HORIZONTE E O ASSISTENCIALISMO 62

2.1 A Confederação Católica: sessão feminina 64

2.2 Comissões de Trabalho da Confederação Católica Feminina 71

2.2.1 Comissão Escolas 74

2.2.2 Comissão Obras Sociais e Operárias 78

2.2.3 Comissão Assistência e Caridade 80

2.3 A comissão Assistência e Caridade, as Damas da Caridade e a Parceria com a Sociedade São Vicente de Paulo

83

2.3.1 As atividades realizadas na 1ª fase da Comissão Assistência e Caridade 86

2.3.2 O fortalecimento da parceria entre a Comissão Assistência e Caridade e a Sociedade São Vicente de Paulo

96

2.4 A arrecadação da Comissão Assistência e Caridade: parcerias entre o poder público e a sociedade

105

3 PERFIL DAS MULHERES ATUANTES NO ASSOCIATIVISMO CATÓLICO EM BELO HORIZONTE

111

3.1 Formação Escolar 120

3.1.1 Colégio Santa Maria 122

3.1.2 Escola Normal Modelo 124

3.1.3 Escola de Enfermagem Carlos Chagas (EECC) 126

(19)

suas práticas de vanguarda

3.2.1 A vida antes de Belo Horizonte 128

3.2.2 Maria Luiza e a vida em Belo Horizonte 131

3.2.3 Maria Luiza e sua vida profissional em Belo Horizonte 135

3.2.4 A militância católica de Maria Luiza de Almeida Cunha 146

4 O TRABALHO DAS ASSOCIADAS CATÓLICAS A FAVOR DA INFÂNCIA DESVALIDA E DAS “MULHERES PERDIDAS”

149

4.1 O Asilo Bom Pastor 150

4.1.1 O Bom Pastor em Belo Horizonte e as negociações para a doação do espaço do asilo

152

4.1.2 A inauguração do Bom Pastor 156

4.1.3 A participação das mulheres leigas na rotina e na manutenção do asilo Bom Pastor

159

4.2 A Creche Menino Jesus 173

CONSIDERAÇÕES FINAIS 183

REFERÊNCIAS 186

(20)
(21)

INTRODUÇÃO

Na ocasião da seleção para o doutorado, o objetivo do projeto de pesquisa era compreender as relações estabelecidas entre a religião católica e o discurso científico no processo de divulgação e popularização das ciências, na cidade de Belo Horizonte, durante as primeiras décadas do século XX, a partir da análise do periódico católico O Horizonte. O jornal era órgão do Conselho de Imprensa da Diocese de Belo Horizonte e circulou na capital mineira entre os anos 1923 e 1934.

Ao iniciar o trabalho de investigação no jornal, despertava atenção o grande número de artigos e anúncios voltados para o público feminino (maternidade, puericultura, voto, trabalho, educação e infância), a presença de colunas femininas e a existência de artigos assinados por mulheres. Também havia muitas informações sobre associações femininas católicas, sobretudo das Filhas de Maria, Mães Cristãs e Damas da Caridade, reunidas na Confederação Católica Feminina.

A partir destas constatações, conjecturamos a possibilidade do jornal O

Horizonte ser destinado ao público feminino, mesmo que só houvesse nomes de homens na

lista de assinantes e o corpo editorial fosse exclusivamente masculino. Intrigados, fomos em busca de outras fontes que pudessem confirmar ou não a hipótese.

No Centro de Memória da Arquidiocese de Belo Horizonte encontramos as Atas da Confederação Católica Feminina. Pela leitura das atas, identificamos que tal periódico procurava orientar as mulheres católicas sobre o seu papel na sociedade, sobretudo os papéis de mães e esposas. As mulheres envolvidas ao associativismo católico eram as responsáveis pelas vendas avulsas do jornal e por angariar novos assinantes. Além disso, a criação da coluna feminina do jornal foi sugestão de uma militante católica, membro da Confederação Católica Feminina.

Dessa investigação tornou-se nítido que o associativismo feminino católico estava integrado ao projeto reformador da Igreja Católica, que convocava o laicato à participação ativa em todos os âmbitos sociais. Da construção da capital até os anos de 1930, esse projeto católico, em certa medida, foi adotado pelas elites mineiras no enfrentamento dos problemas sociais da cidade.

(22)

funcionava a rede de assistência? Quem eram essas mulheres? Quais suas estratégias e objetivos? Como a filantropia se conjugava com a moral científica? Como as associações filantrópicas se posicionavam em relação às instituições científicas? Como as mulheres ligadas ao associativismo católico repercutiam a educação científica em suas palestras sanitárias? De que maneira combinavam ciência e moral religiosa?

Dessa maneira, a pesquisa passou a intitular-se Mulheres Católicas em ação:

caridade, educação, saúde e a divulgação de ciências em Belo Horizonte (1897-1936). No

novo formato, o objetivo central da pesquisa foi analisar a atuação das mulheres leigas no associativismo católico, sobretudo na assistência à saúde e à educação. Não foi nosso objetivo fazer um estudo de gênero, mas uma produção ligada à História das Mulheres, no sentido de compreender as leigas católicas como atores sociais, que no caso em questão, elegeram a filantropia para atuar fora do espaço doméstico.

O marco temporal recortado para análise vai de 1897, ano de inauguração da cidade, a 1936. Embora a atuação das associações femininas católicas analisadas tenha sido mais significativa nos anos iniciais do século XX, entendemos que a organização das aasociações no início da construção da cidade são fundamentais para compreender o papel do associativismo femino católico na cidade. Desse modo, o corte cronológico inicial justifica-se pelo fato da construção de Belo Horizonte, como a nova capital mineira, ser um marco no processo de modernização e urbanização de Minas Gerais. Em seu projeto coexistia a ideologia do progresso, as influências europeias e as práticas e tradições trazidas pelos novos habitantes de seus antigos lugares. A cidade era uma espécie de

“laboratório” para o processo de civilização, tendo como referência os padrões burgueses

europeus. O ideário cientificista intervia diretamente no espaço urbano, na forma como as elites o organizavam e o faziam funcionar, gerando novas formas de comportamento, também entre a população mais geral. Para alcançar esses objetivos, tal ideário fez crescer pela cidade uma gama de associações que procuravam ordenar, educar, tornar saudável e trabalhadora a população mais pobre.

(23)

Educação e Saúde Pública. Ambos ministérios marcam a expansão do poder do Estado e sua responsabilidade sobre as questões sociais. Isso, em certa medida, não extinguiu a filantropia católica, mas impôs novas demandas e formatos. Por isso, elegemos o ano de 1936 como nosso marco cronológico final.

No que diz respeito às fontes, inicialmente este trabalho se dedicou a seleção de artigos do jornal O Horizonte, no período de 1923 a 1934, ligados ao universo feminino tais como feminismo, maternidade, infância, assistência e higiene. O jornal O Horizonte, periódico semanário que, ao longo de suas publicações, tornou-se bissemanário, fazia parte da Imprensa Diocesana de Belo Horizonte criada em 1922 pelo bispo D. Cabral. Circulou entre os anos de 1923 a 1924, quando foi substituído pelo jornal Diário. Seu corpo editorial era composto por eclesiásticos e membros do laicato católico.

De acordo com seus idealizadores, o periódico tinha como princípios: defender a constituição da família, defender a instrução, desenvolver o ensino profissional, cuidar da assistência, promover a harmonia das relações entre patrões e operários, praticar o trabalho na base do sindicalismo cristão e zelar pela boa moral.

A partir da seleção, catalogação e análise dos artigos e a clara associação do jornal com as associações femininas católicas, partimos para pesquisa no acervo da Arquidiocese de Belo Horizonte, onde encontramos as Atas da Confederação Feminina Católica. Com a constatação de que a Confederação Feminina Católica era composta por membros de variadas pastorais, procuramos uma documentação que fornecesse mais pistas sobre quem eram as mulheres desse grupo e como atuavam.

Assim, ainda no arquivo da Arquidiocese de Belo Horizonte investigamos documentos relativos à Ação Social Católica, Atas do II Congresso Eucarístico Nacional realizado em 1936, Avisos e Mandamentos da Cúria Metropolitana de Belo Horizonte, Movimento Pró-Creche, Pastoral da Criança, Pastoral de Saúde, Pastoral do Menor, Pastoral Familiar, III Semana Social Brasileira, Serviços Sociais, Avisos e Mandamentos da Cúria Metropolitana, II Congresso Eucarístico Nacional, Paróquias, Foranias e Regiões Episcopais (álbuns, cartilhas, dossiês, folhetos, históricos, pesquisas, projetos e relatórios).

Seguindo as pistas fornecidas pelas Atas da Confederação Católica Feminina visitamos o acervo do Centro de Memória da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais, onde utilizamos as fichas de inscrição das aspirantes ao curso de enfermagem e a Revista Enfermagem em Minas.

(24)

Na Hemeroteca Histórica de Minas Gerais, investigamos no Jornal Minas Gerais informações sobre o Congresso Feminino ocorrido no ano de 1931 e o Congresso Eucarístico Nacional realizado em 1936. Acessamos também a Revista do Ensino, importante espaço para a escrita feminina em Minas Gerais.

Para pensar a relação das instituições filantrópicas com o poder público buscamos no Arquivo Público Mineiro os documentos da Secretaria do Interior que indicam os repasses de verbas e doações recebidas pelas instituições em que atuavam o grupo de mulheres estudado.

Acessamos também o acervo da Escola Normal Modelo e da Escola de Aperfeiçoamento que está sob a guarda do Instituto de Educação de Minas Gerais. Nesse arquivo investigamos atas das reuniões do Grêmio Literário Pedagógico, Livros de Termo de Posse, Fichas de Ponto e Correspondências.

Por fim, na Creche Menino Jesus, tivemos acesso ao livro de crianças

matriculadas e ao “Livro de Ouro” que conta a história oficial da instituição.

Para apresentar os resultados da pesquisa, a tese foi dividida em quatro capítulos. No primeiro capítulo fazemos uma discussão teórica sobre o associativismo feminino. Apresentamos três associações femininas católicas: As Filhas de Maria, Mães Cristãs e Damas da Caridade. Ambas instituições eram frequentadas por mulheres da elite mineira e agiram efetivamente no campo da filantropia. A apresentação dessas agremiações, além de demonstrar a atuação dos grupos no campo da assistência, objetiva sustentar nosso principal argumento, ou seja, de que o associativismo feminino católico não era marcado apenas pela caridade cristã, mas por uma filantropia científica guiada por valores morais e científicos. Procuramos mostrar também que as agremiações possibilitaram o acesso ao mundo público, bem como a formação de uma agenda ligada aos interesses femininos do período.

(25)

No terceiro capítulo apresentamos o perfil do laicato feminino atuante no associativismo. Demonstramos que a ação coletiva das mulheres católicas se tornou viável pelas experiências por elas compartilhadas. Essas experiências foram construídas no cotidiano, nas redes de sociabilidades, na origem social, nos programas criados no interior das associações e pela mobilidade espacial adquirida. Eram mulheres católicas, de refinada educação e pertencentes às elites econômicas e políticas de Minas Gerais. Utilizamos a trajetória da militante Maria Luiza de Almeida Cunha para demonstrar que a ação das mulheres no associativismo católico foi movida pelo saber técnico e científico adquirido na formação escolar, preferencialmente nos cursos normais e de enfermagem. Por isso, elas atuaram basicamente na assistência à infância e às mulheres pobres.

Desse modo, no quarto e último capítulo destacamos o trabalho das associadas

católicas a favor das mulheres “perdidas” e da infância desvalida. Para isso, apresentamos

(26)

1 ASSOCIATIVISMO FEMININO CATÓLICO EM BELO HORIZONTE

O escopo deste capítulo é discutir sobre o associativismo feminino no Brasil, particularmente as associações femininas católicas atuantes em Belo Horizonte entre os anos 1920 e 1930. Foi nosso objetivo nos distanciarmos da historiografia que compreende o associativismo feminino católico sob o prisma dos manuais, regimentos e códigos de condutas que regulavam as associações.

Entendemos que havia uma nítida distância entre as rígidas determinações desses manuais com a realidade vivenciada pelas mulheres. Pelos manuais das associações católicas, as associadas eram conservadoras, piedosas e participavam da filantropia apenas para promover a carreira de seus maridos. Desse modo, procuramos diminuir a tutela dos homens nas agremiações e nos afastar da perspectiva que pensa o associativismo feminino católico exclusivamente como um mecanismo de disciplinamento social e normatização, sem levar em consideração a dinâmica das relações sociais.

Para a organização do capítulo, apresentamos uma discussão teórica sobre o associativismo feminino. Além disso, mostramos como estava organizado o associativismo católico em Belo Horizonte nas primeiras décadas do século XX. Enfatizamos as três principais associações femininas de caráter ativo na cidade, que atuavam efetivamente dentro do projeto de Ação Social da Igreja Católica nesse período. São elas: Filhas de Maria (FM), Mães Cristãs e Damas da Caridade.

A escolha dessas agremiações justifica-se por, pelo menos, três razões. Primeiro por terem sido criadas dentro do projeto de Ação Social Católica1, protagonizado por D.

Sebastião Leme e D. Cabral, do qual as mulheres foram peças fundamentais. Em seguida, pelo destacado trabalho desempenhado por elas nos campos da assistência social, marcadamente na assistência às mulheres pobres e operárias, crianças e mulheres

“desviadas”. Finalmente, por serem essas três associações a parcela mais representativa da Confederação Católica Feminina (CCF), agremiação criada no ano de 1927, e que tinha como meta centralizar e orientar a ação das associações leigas em Belo Horizonte. As reuniões da CCF eram realizadas, exclusivamente, com a presença das mulheres que ocupavam cargos de gestão nas associações que representavam. Tratava-se, portanto, de

1 O movimento reformista da Igreja Católica no Brasil, iniciado em 1891, também conhecido como

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um grupo bem específico de mulheres que compartilhavam experiências e comportamentos sociais, pertencendo a uma parte seleta da elite mineira. Essas mulheres tiveram uma trajetória escolar bem similar, frequentavam os mesmos espaços de divertimento, moravam em bairros próximos etc.

1.1 Associativismo Feminino

As associações femininas aparecem como um meio privilegiado de estudo para tornar as mulheres visíveis durante o período que estavam fora do sufrágio universal. Para Cova, a iniciação das mulheres na vida associativa inscreve-se na história das aprendizagens da democracia.2

Nas últimas décadas ampliou-se o campo de investigação sobre a História das Mulheres. Salienta Bock3 que, nos anos 1980, nos Estados Unidos, Suíça, Itália, Suécia e

Dinamarca, algumas revistas de História dedicaram vários números à História das Mulheres. Além do aumento quantitativo, a autora destaca o viés analítico desses trabalhos, que procuram demonstrar a experiência das mulheres, independente da história dos homens. Há nesses trabalhos uma clara tentativa de diminuir a presença dos homens, construindo as tramas a partir das experiências femininas.

Bock e Cova4 afirmam que é interessante tentar apreender o que significa o

engajamento militante para estas mulheres, de modo a clarificar as relações entre o público e o privado e a construção de uma identidade coletiva das mulheres atuantes no associativismo.

Segundo Perrot, as mulheres ligadas às associações,

souberam apossar-se dos espaços que lhes eram deixados ou confiados, para desenvolver sua influência junto às portas do poder. Sair moralmente dos papéis designados e construir uma opinião, passando da sujeição à independência.5

2 COVA, Anne. O associativismo das mulheres. Uma abordagem comparativa: França e Portugal

(1900-1918). In: SERRAO, José Vicente et al. (orgs.). Desenvolvimento Econômico e Mudança Social: Portugal nos últimos dois séculos.Lisboa: ICS Imprensa de Ciências Sociais, 2009. p. 333-348.

3 BOCK, Gisela. La história de lãs mujeres y La historia Del gênero. Aspectos de um debate

internacional. História Social 9 España, Universidad de Valencia. Instituto de História Social, 1991.

4 COVA, Anne. O associativismo das mulheres. Uma abordagem comparativa: França e Portugal

(1900-1918). In: SERRAO, José Vicente et al. (orgs.). Desenvolvimento Econômico e Mudança Social: Portugal nos últimos dois séculos.Lisboa: ICS Imprensa de Ciências Sociais, 2009. p. 333-348.

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No plano cronológico, na Europa, a maior parte dos movimentos de mulheres ganhou forma no final do século XIX e atingiu seu apogeu nas vésperas da Primeira Guerra Mundial, período conhecido como a Belle Époque dos feminismos.6 De acordo com Evelyne

Diebolt7, a sociedade civil francesa, na virada do século XIX para o XX, organizou-se em

associações para remediar problemas como a pobreza e a miséria moral e intelectual. Procuravam obter junto ao poder público e à sociedade civil, financiamentos para trabalhos de assistência social. Como salienta a autora, as associações de caráter médico-social surgem de instituições e poderes já consolidados, fortes e monolíticos, representadas, de um lado, principalmente pelas Igrejas Católica e Protestante, e do outro lado, pelo Estado.

Para Bock e Cova8, o Estado tinha interesse por essas associações sobre vários

aspectos: a legislação, a fiscalização e a concessão de subsídios, o que lhe permitia exercer certo controle sobre elas. Na parceria entre Estado e associações femininas, as mulheres desempenhavam um papel fundamental na criação, organização e gestão dos serviços sociais. Nas associações sanitárias, eram as mulheres, na maioria das vezes, que assumiam a prestação de serviços junto aos assistidos. Faziam tratamentos domiciliares, campanhas de prevenção contra doenças, organizavam colônias de férias e assumiam a responsabilidade pelas atividades com crianças.9

Evelyne Diebolt mostra a dinâmica do crescimento das instituições médico-sociais na França, oriundas do associativismo de mulheres depois da promulgação da Lei 1901, que estabelecia a liberdade associativa. Assim, tal lei definia “a associação como

sendo a convenção pela qual uma ou várias pessoas colocam em comum e de forma contínua seus conhecimentos ou suas atividades com a única finalidade de dividir os

benefícios”.10

Segundo a autora, a maleabilidade e a simplicidade do texto fundador da lei facilitaram sua utilização e as mulheres, não tendo nesse período direitos civis nem direito ao voto, impedidas de aderir a um sindicato e com dificuldade de militar em um partido

6 COVA, Anne. O associativismo das mulheres. Uma abordagem comparativa: França e Portugal

(1900-1918). In: SERRAO, José Vicente et al. (orgs.). Desenvolvimento Econômico e Mudança Social: Portugal nos últimos dois séculos.Lisboa: ICS Imprensa de Ciências Sociais, 2009. p. 333-348.

7 DIEBOLT, Evelyne. História do Trabalho Social: nascimento e expansão do setor associativo

sanitário e social (França, 1901-2001). In: Estudos Feministas, Florianópolis, 13 (2): 256 maio-agosto, 2005.

8 COVA, Anne. O associativismo das mulheres. Uma abordagem comparativa: França e Portugal

(1900-1918). In: SERRAO, José Vicente et al. (orgs.). Desenvolvimento Econômico e Mudança Social: Portugal nos últimos dois séculos.Lisboa: ICS Imprensa de Ciências Sociais, 2009. p. 333-348.

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político, encontraram na referida lei uma brecha para exercer a cidadania política.11 Criaram

numerosas associações sanitárias e sociais, lutando contra a pobreza, a miséria moral e intelectual, as epidemias e doenças.

Para Diebolt, ao criarem as associações ativistas e ao desenvolverem medidas sociais, as mulheres exerceram um papel importante no surgimento do Estado de Bem Estar Social. Na perspectiva da autora, as mulheres, através da ação associativa, permitiram a aplicação da legislação social, sobretudo a proteção à maternidade, saúde pública, segurança social, profissionalização do setor social, formação de empregos para mulheres e educação. Por conseguinte, teceram importantes laços sociais entre a sociedade, autoridades civis, estaduais e locais.

Nessa mesma direção, Michelle Perrot advoga que as mulheres, ao atuarem nas

associações, “edificaram um poder social muitas vezes conquistado e assumiram uma

missão moral da qual a filantropia foi a forma mais corrente”.12 Como mostra a autora, a

caridade, antigo dever das cristãs, conduziu historicamente as mulheres para fora de suas casas para visitar os pobres, doentes e prisioneiros, traçando pelas cidades itinerários permitidos e abençoados.

Desse modo “a filantropia constituiu para as mulheres uma experiência não

negligenciável que modificou sua percepção de mundo, seu sentido de si mesmas e, até

certo ponto, sua inserção pública”13. Foi na experiência filantrópica, através da gestão

privada do social, que as mulheres ganharam um lugar de importância, como uma extensão das tarefas domésticas.14 No começo, a presença das mulheres na filantropia tratava apenas

de fazer caridade, no entanto, acabou tornando-se uma vasta empreitada de moralização e higiene.

Outro ponto importante a se destacar sobre o associativismo feminino nesse período é a sua internacionalização. De acordo com Cova, a ideia de criar uma organização internacional de mulheres surgiu em Nova Iorque, no ano de 1848. O objetivo era abrir um espaço para discussão de temas ligados à esfera social, civil e religiosa. Além disso, visava estabelecer uma comunicação constante entre as associações de mulheres de todos os países envolvidos e realizar encontros para deliberação de questões relativas ao bem público e à segurança da família.

11DIEBOLT, Evelyne. Op. cit., nota 7.

12PERROT, Michelle. As mulheres ou os silêncios da história. Bauru, São Paulo: EDUSC, 2005. p.

277.

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Observa Cova15 que as duas primeiras comissões internacionais criadas foram a

Paz e Arbitragem e a Situação Legal da Mulher na Imprensa. Aos poucos surgiram outras comissões que tinham como objetivos a obtenção do voto e os direitos civis das mulheres, bem como a igualdade moral para ambos os sexos e a luta contra o tráfico de mulheres. Outros temas defendidos eram a higiene e saúde pública, a proteção à infância, a educação, a migração, o trabalho feminino, a literatura, belas artes, cinema e radiodifusão, a habitação e a economia doméstica.

De acordo com Cova, havia uma preponderância de grupos filantrópicos nos conselhos internacionais, especialmente os de filantropia religiosa. Isso pode ser explicado, em certa medida, pelo argumento de Perrot, que destacava a Igreja como um caminho aberto para as mulheres nesse período. Outro aspecto a se considerar é a conhecida tradição dos trabalhos assistenciais desempenhados pela Igreja Católica. Além disso, havia nesse momento o florescimento das ideias reformistas católicas, que tinham as mulheres como importantes agentes na chamada Ação Social Católica. Embora a Igreja Católica tivesse uma grande representatividade no campo da filantropia, havia também muitas iniciativas da igreja protestante e do espiritismo.

Para Perrot, o intercâmbio entre as associações e os congressos organizados por mulheres era importante para a formação política, uma vez que os congressos configuravam-se em um sistema de comunicação eficaz e palco de representações, permitindo que as delegadas fizessem seu aprendizado de tribuna nas relações com a opinião pública e a imprensa dos assuntos internacionais.16 Segundo Cova, as dirigentes

dos conselhos eram figuras carismáticas, oriundas de ambientes privilegiados, às vezes aristocráticos. A maioria recebeu educação religiosa, fato que remetia a importância e o peso da religião na militância dessas mulheres. O acúmulo de vários cargos no seio dos conselhos, bem como a subida de hierarquia, era prática recorrente nestes tipos de associações. Perrot afirma que a dimensão local era o lugar onde as redes formais e informais, criadas pelas líderes das associações, funcionavam mais eficazmente. As relações pessoais existentes entre as mulheres associadas ajudam a explicar a formação de redes de influência. Por sua vez, elas utilizavam essas redes como estratégia para ganhar apoio político, associando as suas ações de modo estreito aos homens do poder.17

15COVA, Anne. O associativismo das mulheres. Uma abordagem comparativa: França e Portugal

(1900-1918). In: SERRAO, José Vicente et al. (orgs.). Desenvolvimento Econômico e Mudança Social: Portugal nos últimos dois séculos.Lisboa: ICS Imprensa de Ciências Sociais, 2009. p. 313-332.

16 PERROT, Michelle. As mulheres ou os silêncios da história. Bauru, São Paulo: EDUSC, 2005.

p. 302-303.

17COVA, Anne. O associativismo das mulheres. Uma abordagem comparativa: França e Portugal

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As líderes das associações se relacionavam com numerosos empresários que conheciam devido a vínculos familiares ou pela convergência de ideias quanto à ação social a ser realizada. Elas faziam contato com empresas vizinhas de suas associações para a concretização de seus projetos. Segundo Diebolt, a articulação das mulheres no trabalho de persuasão junto às iniciativas privadas, ao Estado e aos médicos, era fundamental, pois essas instâncias tendiam a negligenciar as condições de vida dos assistidos e a necessidade de prevenção dos males que lhes acometiam.18

Nesse sentido, fica claro que o associativismo feminino, que começa a se configurar no final do século XIX e perdura pelas primeiras décadas do século XX, permitia uma ação pública das mulheres. O caminho preferencial dessa ação foi a filantropia religiosa. No trabalho filantrópico as associadas criaram agendas ligadas à saúde pública, à educação e à segurança pública. Cumpre ressaltar que as mulheres engajadas nessas associações tinham uma boa formação escolar e eram mulheres de elite que usaram suas influências para estabelecerem parcerias com a iniciativa privada e com o Estado.

1.2 Estudos sobre o Associativismo Feminino no Brasil

Para investigar o associativismo feminino no Brasil, fizemos um levantamento bibliográfico dos trabalhos que abordam a temática nas plataformas: Scielo (Scientific Eletronic Library Online), Portal Capes e Biblioteca de Teses e Dissertações. O objetivo era mapear como a literatura brasileira analisa o papel da mulher nas associações femininas do primeiro quartel do século XX, sobretudo nas associações católicas. Usamos como palavras-chave os seguintes termos: associativismo feminino, associações femininas católicas e associativismo católico.

A investigação serviu para demonstrar como ainda são raros os estudos sobre o associativismo feminino católico no início do século XX. Há muitos trabalhos nesse período que discutem as questões de gênero, salientando as lutas pelo sufragismo, moda e imprensa. Há também muitos trabalhos que discutem as experiências femininas nas escolas normais, sobretudo nas discussões ligadas à História da Educação no Brasil. Esses últimos trabalhos ressaltam a formação religiosa das normalistas, reforçando as questões ligadas ao

Social: Portugal nos últimos dois séculos.Lisboa: ICS Imprensa de Ciências Sociais, 2009. p. 313-332.

18DIEBOLT, Evelyne. História do Trabalho Social: nascimento e expansão do setor associativo

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conservadorismo e ao papel que devia ser incorporado pelas mulheres: o de tornarem-se boas esposas e mães.

Alguns trabalhos pensam a ação das mulheres nos campos da filantropia, saúde e educação nas primeiras décadas do século XX. Entretanto, a maior parte dos estudos ressalta os aspectos religiosos e dogmáticos desse tipo de ação ou fixam a análise sob o ponto de vista do disciplinamento dos assistidos. Predominam as análises sobre instituições e ações filantrópicas organizadas por homens de notoriedade política ou científica.

Encontramos muitos estudos sobre a associação católica Filhas de Maria, entretanto, esses trabalhos centralizam o olhar sobre os aspectos piedosos da agremiação e o discurso do recato e da moral previsto nos manuais das associadas. Eles partem do pressuposto que as mulheres associadas às Filhas de Maria seguiram criteriosamente o que estava prescrito nos manuais católicos, sendo mulheres piedosas, recatadas e fixadas nas tarefas do lar e da maternidade.

Decerto, poucos trabalhos se debruçam sobre o associativismo feminino católico na chave interpretativa de que as mulheres ligadas às associações católicas encontraram na filantropia uma possibilidade de sair do universo de suas casas para aceder o espaço público e assim construir uma vida para além do lar. Nesse movimento de sair19, as

associadas criaram uma agenda de reivindicações muito próxima à dos grupos feministas do período. Nos arriscamos a afirmar, que eram sim, feministas. Estavam preocupadas com problemas em evidência naquele momento, como a proteção à maternidade e à infância, e buscavam a criação de uma legislação social e melhorias no acesso e na qualidade da educação primária.

Para Maria Lúcia Mott, a historiografia brasileira reconhece a importância da participação das mulheres de elite em entidades filantrópicas nos primeiros anos do século XX como forma de acesso à esfera pública, mas dá pouca importância ao tema. Encara-o de forma subalterna, ou apenas como uma atividade de promoção da carreira de seus maridos20. Para a autora, na historiografia brasileira, a imagem da filantropia aparece como

obra masculina. As mulheres ocupam o lugar de coadjuvantes, apenas organizadoras de festas para levantamento de fundos. É pouco conhecido o papel que elas desempenharam

19PERROT, Michelle. Sair. In: DUBY, Georges; PERROT, Michelle (dirs.). História das Mulheres do

Ocidente. O século XX. Porto. Edições Afrontamento, 1991 v. 4 p. 502-539.

20MOTT, Maria Lúcia. Maternalismo, políticas públicas e benemerência no Brasil (1930-1945).

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na criação, manutenção e elaboração dos programas de associações no campo educacional, médico e social.21

As associações filantrópicas no Brasil foram criadas um pouco mais tarde, se comparado aos países europeus e aos Estados Unidos. Mott propõe repensar o papel que essas associações tiveram na transformação da consciência das mulheres e na organização do movimento feminista brasileiro, por fornecer a circulação de ideias e de questionamentos novos, o convívio com outras mulheres, a administração de problemas fora do grupo familiar e o estabelecimento de redes de interesse.22 As associações femininas floresceram no

período de desenvolvimento industrial e urbano, quando as mulheres passam a ter acesso a uma melhor escolaridade. É também nesse momento que começa a existir a divulgação pela imprensa de uma participação maior das mulheres no espaço público, do avanço do feminismo e das frequentes reivindicações das mulheres por maiores oportunidades.23

As mulheres fizeram da religião seu espaço de expressão e manifestação de mobilidade. Mesmo que tenham sido alvo direto dos ensinamentos mais conservadores e tivessem incorporado esse discurso, contribuindo para a reprodução de um modelo mais tradicional de Igreja, ocuparam seu espaço na militância e estiveram particularmente sensíveis às tendências de renovação.24 Num período em que os serviços de saúde pública

no Brasil eram precários, a ação feminina nas associações filantrópicas procurava atuar sobre os flagelos sociais. Essas mulheres procuravam mudar os hábitos dos assistidos, agir nas raízes de seus males e restaurar suas famílias.

Em se tratando da saúde pública e das leis trabalhistas no Brasil nesse período,

a burocracia era rudimentar, não havia um departamento ou ministério dedicado exclusivamente às questões trabalhistas. Os hospitais pertenciam à iniciativa privada ou religiosa e o papel do Estado no campo da saúde restringia-se basicamente ao combate das epidemias e à fiscalização do exercício profissional dos gêneros de consumo e dos remédios.25

As entidades filantrópicas atuavam para compensar a precariedade dos serviços sociais e da saúde pública. Isso torna as entidades filantrópicas do início do século XX

21 MOTT, Maria Lúcia. Gênero, medicina e filantropia: Maria Rennote e as mulheres na construção

da nação. Cadernos Pagu, Campinas-SP, Núcleo de Estudos de Gênero Pagu/Unicamp n.24 p.41-67, jan./jun. 2005.

22Ibid.

23MOTT, Maria Lúcia. Maternalismo, políticas públicas e benemerência no Brasil (1930-1945).

Cadernos Pagu, Campinas-SP, Núcleo de Estudo de Gênero – Pagu/Unicamp n.16 p.199-234, 2001.

24PERROT, Michelle. As mulheres ou os silêncios da história/Michelle Perrot. Bauru, São Paulo:

EDUSC, 2005.

25MOTT, Maria Lúcia. Maternalismo, políticas públicas e benemerência no Brasil (1930-1945).

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diferentes das associações de caridade de meados do século XIX. Enquanto as primeiras tinham sido organizadas e administradas por religiosos que visavam levar o conforto material e espiritual imediato para os necessitados, sobretudo através de doações, tendo, portanto, pouco contato com os assistidos, as associações filantrópicas do século XX eram fundadas e dirigidas por mulheres provenientes de uma ou de várias denominações religiosas. As sócias trabalhavam junto aos beneficiados e tinham por objetivos não só ajudar com doações, mas também dar meios para que saíssem da situação de necessidade, ou seja, preocupavam-se com a promoção social da população assistida.26

Por esse motivo, é nosso objetivo demonstrar que as associações femininas católicas atuantes nas quatro primeiras décadas do século XX em Belo Horizonte, não eram apenas instituições de caridade, mas sim instituições constituídas por um grupo de mulheres instruídas e modernas, que criaram programas com atuação em diversos campos, particularmente na saúde e na educação. Miravam-se especialmente nas crianças e nas mulheres pobres operárias, bem como naquelas que cometiam práticas fora das normas legais do período.

Procuramos dialogar com a abordagem analítica de Mott e explorar as fontes documentais relativas às associações femininas, adotando a metodologia utilizada em seus trabalhos, sobretudo na obra O gesto que salva: Perola Byington e a Cruzada Pró-Infância27.

Nessa obra as autoras fazem uma espécie de radiografia da vida e das obras criadas por Perola Byington e as sócias do programa Pró-Infância. Inspirados nesse trabalho de Mott, procuramos tecer a trama do associativismo católico em Belo Horizonte, focando em algumas mulheres como protagonistas e mapeando os programas criados por elas.

1.3 Associativismo em Belo Horizonte

Em Belo Horizonte, nas primeiras décadas do século XX, devido à grande variedade de grupos e nacionalidades que compunham sua população, as associações voluntárias serviam como elo agregador do conjunto urbano. Floresciam as associações de auxílio mútuo de comerciantes, clubes de senhoras, bandas, grupos teatrais e associações profissionais bem organizadas e amplamente atuantes no ordenamento da sociedade mineira.

26MOTT, Maria Lúcia. Maternalismo, políticas públicas e benemerência no Brasil (1930-1945).

Cadernos Pagu, Campinas-SP, Núcleo de Estudo de Gênero – Pagu/Unicamp n.16 p.199-234, 2001. p.212.

27 MOTT, Maria Lucia, et al. O gesto que salva: Perola Byington e a Cruzada Pró-Infância. São Paulo

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Como já foi amplamente discutido pela historiografia28, Belo Horizonte foi

planejada e construída dentro dos padrões de higiene e salubridade da época, para ser símbolo da República. A construção da cidade foi revestida de ideais de modernidade e civilização. Sua criação serviu para minar os conflitos entre as forças políticas regionais e, consequentemente, promover a integração do estado, tornando-se novo centro econômico, político e cultural.

Embora tivesse a ampla divulgação do discurso de cidade moderna – planejada e construída seguindo os preceitos da urbanidade e da higiene – havia poucas instituições destinadas a cuidar da saúde da população, prevalecendo assim, a caridade e a assistência popular29. Além disso, a cidade era referenciada como a “cidade dos papudos e dos

cretinos” devido ao grande número de doenças endêmicas, como o bócio e a cretinice30.

Assim também, os problemas econômicos e a consequente diminuição no ritmo das obras refletiram em dificuldades de estender os serviços básicos a toda área urbana e no aumento da precariedade da vida dos pobres da cidade31. Mesmo contando com um Conselho de

Saúde Pública desde 1895, destinado a cuidar da higiene e salubridade, e ter uma Diretoria de Higiene encarregada das inspeções sanitárias e do combate a epidemias, era difícil manter os novos padrões de higiene e saneamento, o que exigia a instauração de novos departamentos e instituições que auxiliassem nesses serviços.

Assim, segundo Souza, “não fugindo à tradição a cidade de Belo Horizonte

contou desde o início de sua fundação com a Santa Casa de Misericórdia”32. Ainda

28 JULIÃO, Letícia. Belo Horizonte: itinerários da cidade moderna (1891-1920). In: DUTRA, Eliana de

Freitas; MELLO, Ciro Fávio Bandeira de. BH: Horizontes Históricos. Belo Horizonte: C/Arte, 1996; GOODWIN JÚNIOR, James. Novos produtos para novos tempos: anúncios em jornais diamantinenses, 1890-1914. XI Seminário sobre Economia Mineira. Diamantina: CEDEPLAR/UFMG, 2004; SOUZA, Marco Antônio de. A Economia da Caridade: estratégias assistenciais e filantrópicas em Belo Horizonte. Belo Horizonte: Editora Newton Paiva, 2004; e outros.

29 TEIXEIRA, Virgínia Mascarenhas Nascimento. De práticos a enfermeiros: os caminhos da

enfermagem em Belo Horizonte (1897-1933). Tese de Doutorado. Universidade Federal de Minas Gerais. Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, 2012.

30 O bócio é uma doença associada ao aumento da região do pescoço, da qual há registros desde a

Antiguidade. Com a descrição da tireoide no século XVI, passou a significar o crescimento incomum dessa glândula e foi progressivamente associada a distúrbios como o hipertireoidismo e o hipotireoidismo. O bócio endêmico diz respeito à situação em que a doença atinge expressiva porcentagem da população numa determinada região. Portadores de bócio endêmico também são acometidos de grave retardo físico e mental, sendo por isso denominados cretinos. A doença era descrita, sobretudo, nas regiões montanhosas. De alta prevalência em Minas Gerais, desde o século XVIII, despertava a atenção de naturalistas, viajantes e médicos. Ao longo do tempo muitas teorias foram propostas para sua etiologia. KROPF, Simone Petraglia. Doença de Chagas, doença do Brasil: ciência, saúde e nação, 1909-1962. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2009, p. 165.

31SILVEIRA, Anny Jackeline. Entre febres, papudos e brejais: a mudança da capital mineira sob a

ótica da higiene. In: CONDÉ, Mauro Lúcio Leitão (org.). Ciência e Cultura na História. Brasília, DF: CAPES, Belo Horizonte, MG: Argvmentvm 2006 p. 39-60.

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segundo o autor, pouco depois da inauguração da cidade, a necessidade de construir um hospital em Belo Horizonte era uma meta urgente. Devido à urgência da construção de um hospital que pudesse assistir a saúde da população belo-horizontina, especialmente dos pobres, em 1899 iniciou-se a construção da Santa Casa de Misericórdia. De acordo com Souza33, o hospital passou a funcionar em estado de precariedade de asseio, higiene e

equipamentos, passando os primeiros anos em situação de improviso. Problemas que só foram solucionados anos depois, com as constantes doações e mutirões de caridade dos cristãos. Assim, a Santa Casa tornou-se um importante centro controlador de doenças e epidemias, além de abrigar importantes associações médicas, como a Associação Médica Cirúrgica de Minas Gerais34,bem como a ligação com os órgãos de Diretoria de Higiene,

Laboratório Geral de Análises e o Desinfectório Geral.

Outras instituições de caráter médico-científico foram se estabelecendo ao longo dos anos de 1900, como a instalação da Filial de Manguinhos, em 1907 (que em 1922, em homenagem a seu fundador, passou a se chamar Fundação Ezequiel Dias). Importante instituição de pesquisa, manteve estreitas relações com o Estado de Minas, ficando o

governo “autorizado de contratar o fornecimento de vacinas e soros de que necessitar a

Diretoria de Higiene bem como entrar em acordo com as filiais do mesmo instituto para estudo bacteriológico de todas as moléstias epidêmicas ou endêmicas que grassarem no

território do Estado (...)”.35

Em 1910 foi construído, na área suburbana da cidade, o Hospital de Isolamento para atendimento de moléstias contagiosas. No ano de 1911 foram criados o Posto de Observação e a Enfermaria Veterinária do Ministério da Agricultura (mais conhecido por Posto Veterinário) funcionando em seus primeiros anos nas dependências da Filial de Manguinhos. Seu primeiro diretor foi Henrique Marques Lisboa, seguido por Octavio Magalhães, que em 1922, após o falecimento de Ezequiel Dias, assumiu a direção do Instituto. Neste mesmo ano foram fundadas a Faculdade de Medicina e o Laboratório de Análises Clínicas do Estado.36 Em 1918, com o apoio do governo federal e da Fundação

evitar a propagação de epidemias, com a finalidade de tentar controlá-las, isso ocorrendo nas décadas de transição entre os séculos XIX e XX”. SOUZA, Marco Antônio. A economia da caridade: estratégias assistências e filantrópicas em Belo Horizonte. Belo Horizonte: Editora Newton Paiva, 2004. p. 82. Dados retirados do Livro do Conselho Metropolitano da Sociedade São Vicente de Paulo. p.105-106.

33SOUZA, Marco Antônio. A economia da caridade: estratégias assistências e filantrópicas em Belo

Horizonte. Belo Horizonte: Editora Newton Paiva, 2004. p. 82. Dados retirados do Livro do Conselho Metropolitano da Sociedade São Vicente de Paulo.

34Sobre a Associação Médica Cirúrgica de Minas Gerais ver: <www.dichisoriasaude.coc.fio cruz.br>. 35 Lei nº 452 de 9 de outubro de 1906 Minas Gerais 10 de outubro de 1906 apud CHAVES, Braúlio.

Os primeiros tempos. In: STARLING, Heloísa Maria Murgel; GERMANO, Lígia Beatriz de Paula; MARQUES, Rita de Cássia (org.). Fundação Ezequiel Dias: um século de promoção e proteção à saúde. Belo Horizonte: UFMG, 2007.

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Rockefeller, foi criado o Serviço de Profilaxia Rural do Estado para o combate das endemias uncinariose, paludismo, doença de chagas e lepra.37

Como demonstra Nascimento, foi apenas no início dos anos 1920 que outros hospitais surgem na capital mineira, ampliando o campo de atendimento aos doentes na cidade. Em 1920 foi inaugurado o Hospital São Geraldo, destinado às clínicas de oftalmologia e otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina. Neste mesmo ano foram iniciadas as obras para a construção do Hospital São Vicente de Paulo. Inaugurado em 1921, a instituição foi resultado dos esforços de pessoas da alta sociedade e dos médicos e professores da Faculdade de Medicina.38

Destacamos ainda a atuação de importantes associações médicas, que além do desenvolvimento de trabalhos científicos, ficaram a cargo da higiene e cuidados da saúde da população que buscavam, mais que tratar e prevenir doenças, estabelecer novos valores

para a medicina. Para além dos cuidados com as doenças, havia também cuidado “com o

corpo, com a casa, nascimentos, casamentos, educação dos filhos e comportamento geral

na sociedade”.39

Desse modo, o período que abrange os anos da construção de Belo Horizonte até 1930 foi de fundamental importância na organização espacial e social da nova capital. Para Souza, essa fase, que ainda estava dentro dos projetos iniciais delineados pelas elites que planejavam a cidade, é um momento crucial na formação da população e na criação de grupos e identidades40. Nesse momento ocorre o preenchimento dos quadros burocráticos

administrativos e começam a surgir os problemas sociais. Uma incipiente industrialização se inicia e, com ela, o aparecimento de uma nova classe: os operários. Acompanhados de outros homens, mulheres e seus filhos, eles formaram um contingente populacional que, na visão das elites, precisava ser educado dentro dos bons costumes, da ordem e da moral, e disciplinado para o mundo do trabalho.41

A Igreja Católica mineira, sem dúvida, teve papel importante nas organizações voluntárias. Essa atuação pode ser verificada no trabalho de Souza, que destaca a força da

37Decreto 5 de 8 de junho de 1918 p. 1- 4 apud SILVEIRA, Anny Jackeline Torres. A influenza

espanhola e a caridade planejada: Belo Horizonte, 1918. Belo Horizonte: Argumentum, 2008. p.126.

38 TEIXEIRA, Virgínia Mascarenhas Nascimento. De práticos a enfermeiros: os caminhos da

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41SOUZA, Marco Antônio de. A economia da caridade: estratégias assistências e filantrópicas em

Imagem

Figura 1 Mapa dos Bairros da Cidade de Belo Horizonte
TABELA 10  –  Obras realizadas pela Comissão Assistência e Caridade no ano de 1930  –  Damas da  Caridade de Santa Efigênia
TABELA 12  –  Obras realizadas pela Comissão Assistência e Caridade no ano de 1931 –  Damas da  Caridade de São José
TABELA 14  –  Obras realizadas pela Comissão Assistência e Caridade no ano de 1931  –  Damas da  Caridade da Boa Viagem
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Referências

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Belo Horizonte: Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais, 1994.. BH:

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