• Nenhum resultado encontrado

1 ASSOCIATIVISMO FEMININO CATÓLICO EM BELO HORIZONTE

2 CONFEDERAÇÃO CATÓLICA DE BELO HORIZONTE E O ASSISTENCIALISMO

2.2 Comissões de trabalho da Confederação Católica Feminina

2.2.3 Comissão Assistência e Caridade

Sob a direção do Dr. Furtado de Menezes168 e a presidência de Alexandrina

Santa Cecília, a comissão Assistência e Caridade tinha como tarefas a criação e direção de obras de caridade. Joaquim Furtado de Menezes teve uma ampla atuação no campo da assistência em Minas Gerais, fundando e dirigindo a Sociedade de São Vicente de Paulo em Minas Gerais. Destacam-se no seu trabalho de assistência aos pobres a criação da Assistência aos Mendigos e da Cidade de Ozanan.169

167 LOURO, Guacira Lopes. Mulheres na sala de aula. In: DEL PRIORI, Mary. (Org.). História das

Mulheres no Brasil. 2 Ed. São Paulo: Contexto, 1997.

168 Joaquim Furtado de Menezes, engenheiro de minas e civil. Farmacêutico e professor da Escola

de Minas de Ouro Preto. Foi diretor de Indústria do Estado, Secretário de Agricultura, prefeito da cidade de Águas Formosas e deputado federal. Atuou como membro do Conselho de Imprensa de Belo Horizonte, colaborou para os jornais católicos O discípulo, O Regenerador, Adoremos, O

Horizonte e Diário. Ajudou na fundação da corporação dos médicos católicos e dos engenheiros

católicos.

169 Sobre as obras protagonizadas por ele ver: SOUZA, Marco Antônio de. As estratégias da pedagogia do assistencialismo em Belo Horizonte, 1930-1990: Educação e Caridade. Tese de

Alexandrina de Santa Cecília, por sua vez, era normalista e trabalhou como professora da Escola Normal Modelo, nas cadeiras Costura e Trabalhos de Agulha (1907), Trabalhos Manuais (1910), e Trabalhos Manuais e Economia Doméstica (1916). A dedicação às disciplinas foi importante para seu trabalho na assistência, haja visto que grande parte dos projetos destinados às mulheres e jovens tinha como mote a formação em trabalhos manuais, especialmente corte, costura e economia doméstica. Alexandrina também lecionou como professora substituta a disciplina de Ginástica e participou da comissão de professores que redigiu o primeiro regimento interno da Escola Normal Modelo. Na ocasião, viajou para o Rio de Janeiro para comparar o currículo da Escola Normal Modelo de Belo Horizonte com a Escola Normal da capital federal. Além disso, ela foi presidente do pensionato Nossa Senhora Auxiliadora e benfeitora da Creche Menino Jesus. Sobre a inspiração de Gustavo Capanema e em parceria com outras associadas, fundou em Belo Horizonte, no ano de 1932, a Sociedade Mineira de Assistência à Infância (SMAI).

Embora tenha atuado de forma significativa no ensino secundário em Belo Horizonte, até a segunda década do século XX, Alexandrina de Santa Cecília, que pertencia à família do médico Santa Cecília, desempenhou trabalhos importantes no campo da assistência social, deixando a carreira docente em segundo plano. Ao lado de Furtado de Menezes, presidiu a comissão Assistência e Caridade, na qual era responsável por administrar as verbas arrecadadas, organizar campanhas e pedir subsídios junto ao poder público, especialmente nas esferas municipais e federais.

De acordo com D. Cabral, a Conferência Vicentina e os centros de Senhoras da Caridade não davam conta de tantas necessidades, sendo urgente a criação de novos espaços de assistência. A comissão, então, tinha o compromisso de ampliar a atuação assistencialista da SSVP. Dessa forma, estabeleceu-se como objetivos desse grupo:

- Incrementar a vida dos vicentinos e senhoras de caridade nas associações já existentes, recrutando novos combatentes, estimulando a seção perseverança nos moldes de São Vicente de Paula.

- Multiplicar, o mais que seja possível, o número dessas associações em todas as paróquias e recantos da arquidiocese.

- Organizar um dispensário, agência para ser o canal de esmolas que se pedem porta a porta (mendicância publica).

- Conselhos de higiene e moral, instrução religiosa, facilitação de trabalhos. - Seguir modelo Alemanha e França que fazem matrícula dos pobres. - Educação para a caridade.

- Assistência espiritual, recebimento de sacramentos aos doentes e pobres. - Assistência religiosa nos hospitais, asilos, prisões e outros institutos. - Assistência religiosa, moral e material as crianças de rua.

- Assistência religiosa, moral nos albergues noturnos e públicos.

Doutorado. Programa de Pós-Graduação de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais, 2001; e SOUZA, Marco Antônio. A economia da caridade: estratégias assistências e filantrópicas em Belo Horizonte. Belo Horizonte: Editora Newton Paiva, 2004.

- Assistência religiosa, moral nas pensões e hotéis.170

O programa da comissão era bem similar às aspirações da assistência vicentina. Baseado numa ampla assistência aos pobres e doentes, preconizavam os hábitos higiênicos, educação moral e a criação de instituições asilar, hospitalar e educacional. Destacavam ainda a necessidade de criação de institutos de Senhoras de Caridade em todas as paróquias da cidade e um curso de enfermeiras católicas. O objetivo era formar enfermeiras profissionais católicas que certamente seriam preferidas entre as famílias e atuariam nas instituições em que desenvolviam o trabalho caritativo.

A meta de formar enfermeiras profissionais católicas foi, em parte, alcançada em 1933, com a criação da Escola de Enfermagem Carlos Chagas. A Escola começou a funcionar no dia 19 de junho desse mesmo ano, no Hospital São Vicente de Paulo, num contrato estabelecido entre os diretores da Faculdade de Medicina e Saúde Pública. A data é bem representativa para o calendário católico, por ser o dia consagrado a São Vicente de Paulo.171 Salienta Geralda Fortina dos Santos que o ideal era formar uma profissional

“moderna” para atuar na nova organização sanitária, não apenas comprometida com comportamentos altruístas e abnegados, mas com sólida formação técnica.172

É relevante destacar que a parceria entre a comissão Assistência e Caridade e a Sociedade São Vicente de Paulo foi fortalecida no ano de 1931, quando Furtado de Menezes e Alexandrina Santa Cecília transformaram a comissão efetivamente numa extensão dos trabalhos sociais desenvolvidos pela SSVP. Houve nesse período um nítido aumento do número de Senhoras da Caridade, bem como das instituições para atender os pobres, crianças e mulheres viúvas, abandonadas ou “desviadas”.

A prioridade de atendimento desse grupo de pessoas era difundida desde o I Congresso Católico Mineiro, organizado pelo Centro da União Popular, no ano de 1910. No evento foi determinado que as obras de caridade a serem fundadas em Minas Gerais deveriam considerar três classes em particular: os enfermos, a infância desvalida e as infelizes arrependidas.173 Era exatamente nesses três grupos da sociedade que a comissão

Assistência e Caridade buscou atuar de forma efetiva.

A comissão Assistência e Caridade foi sem dúvida o segmento que mais desempenhou ações dentro da CCF. Dentre as principais atividades da comissão estavam

170 O Horizonte 13/04/1927

171 TEIXEIRA, Virgínia Mascarenhas Nascimento. O quotidiano da Escola de Enfermagem Carlos Chagas: entre Luz e Sombra. Dissertação de Mestrado Escola de Enfermagem da Universidade

Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2002

172 SANTOS, Geralda Fortina dos. Escola de Enfermagem Carlos Chagas (1933-1950): a Deus

– Pela Humanidade, Para o Brasil. Tese de Doutorado Programa de Pós-Graduação em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2006.

as organizações de festividades (Natal, Páscoa, etc.), a distribuição de roupas e gêneros alimentícios aos pobres, a visita aos presos, aos meninos de rua e aos doentes nos hospitais, o encaminhamento de internações, as visitas domiciliares a doentes, os atendimentos médicos, a doação de medicamentos, etc. Essa era a comissão que tinha o maior número de integrantes. Para além da apresentação de trabalho nas reuniões da CCF, a comissão reunia-se periodicamente no salão dos vicentinos, visando melhor direção e controle das tarefas.

2.3 A comissão Assistência e Caridade, as Damas da Caridade e a