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(1)UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO FACULDADE DE HUMANIDADES E DIREITO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO. NILSON DA SILVA JÚNIOR. O NEOPENTECOSTALIISMO COMO FATOR DE CRISE PASTORAL. SÃO BERNARDO DO CAMPO 2010.

(2) 2. NILSON DA SILVA JÚNIOR. O NEOPENTECOSTALIISMO COMO FATOR DE CRISE PASTORAL. Dissertação mestrado apresentada em cumprimento às exigências do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião, da Faculdade de Humanidades e Direito da Universidade Metodista de São Paulo, para obtenção do grau de Mestre. Orientador: Prof. Dr. Ronaldo SathlerRosa.. SÃO BERNARDO DO CAMPO 2010.

(3) 3. A dissertação de mestrado sob o título “O neopentecostalismo como fator de crise em pastores contemporâneos”, elaborada por Nilson da Silva Júnior foi apresentada e aprovada em 12 de março de 2010, perante banca examinadora composta pelos professores Doutores Ronaldo Sathler-Rosa (Presidente/UMESP), James Reaves Farris (Titular/UMESP) e Clóvis Pinto de Castro (Titular/UNIMEP).. __________________________________________ Prof. Dr. Ronaldo Sathler-Rosa Orientador e Presidente da Banca Examinadora __________________________________________ Prof. Dr. Jung Mo Sung Coordenador do Programa de Pós-Graduação. Programa: Pós-Graduação em Ciências da Religião Área de Concentração: Práxis Religiosa e Sociedade Linha de Pesquisa: Interfaces da práxis religiosa com a filosofia e as ciências humanas..

(4) 4. a Deus, meu grande amigo e inspirador, ao meu grande amor, Márcia Regina, aos meus filhos queridos, Rebecca Samarah e Gabriel Aharon, aos sempre amigos, Marcos Sérgio e José Fabrício, aos pais, aos meus sogros... de maneira especial ao amigo e professor, José Carlos, aos pastores e pastoras, companheiros e companheiras de vocação, lutas e dramas. Para que não tenhamos dúvidas de que nossa vocação carece do equilíbrio misterioso que nos faz pobres e ricos, fracos e fortes, santos e humanos..

(5) 5. Agradecimentos. ao bispo Adonias pela possibilidade, ao bispo Josué pelo apoio, amizade e pastoreio. à igreja, à Universidade, colegas e mestres à banca e ao prof. Ronaldo, meu orientador..

(6) 6. Para os de fora o pastor é um enigma vazio e raso, sombra sem face, presença que emudece o riso e a irreverência. Para os de dentro, cristalização da constança, sabedoria, fortaleza e altruísmo. Amado, respeitado, ouvido, procurado, desejado. É assim que vive o pastor. Volta-se para fora e a sua palavra se dissolve no vazio de uma sociedade que não o gerou, não o chamou, não o amou. Exilado. Volta -se para dentro, e se descobre uma vez mais sem lugar, porque a palavra que sai de sua boca é palavra encomendada e paga pelo salário que recebe. Rubem Alves..

(7) 7. Resumo. O processo de secularização contribuiu para uma constante transformação do mundo. De repente, muitos aspectos tornaram-se abertamente organizados em termos de ‘suposições de cenários’, gerando crises de identidade. Isto, tanto no plano individual quanto no social. Nesse contexto, depara -se com o tema ‘religião’ e vida religiosa, considerando-a como parte desse novo ambiente, sobretudo a partir do protestantismo brasileiro, como espaço de forte diversidade religiosa caracterizado pelo nascimento de uma variedade de novos movimentos.. As pesquisas na área das. Ciências da Religião costumeiramente destinam-se a religiosidade, religião, fé e comunidade religiosa, porém, talvez se possa presumir que ainda há pouco sobre a pessoa do pastor enquanto ser em crise diante das demandas da religião moderna. Este trabalho tem como objetivo , através de uma abordagem bibliográfica, destacar alguns desafios de pastores 1 frente à demanda neopentecostal. Assim, pretende-se abordar o contexto sociocultural contemporâneo e suas implicações para o ambiente religioso. Analisar a sociedade e a cultura atual sob a lente da mídia, considerando sua influência como formadora de cultura.. Propõe-se. uma. apreciação. sobre. as. características. dos. movimentos. neopentecostais, seu poder de inserção na sociedade, sua teologia e o perfil de seus pastores. Busca-se formar um retrato que permita visualizar o fiel e o pastor neopentecostal. Indica-se uma ponderação sobre a crise de identidade do pastor frente à demanda neopentecostal, suas angústias e desafios diante do que se supõe ser uma ‘mudança de script’, de rumo, no meio do processo eclesiástico. O drama de quem não se preparou, tampouco sente -se vocacionado a representar os novos papéis solicitados pela nova sociedade e, consequentemente, nova religião. Palavras Chave: Religiosidade, Religião, Pastorado, Neopentecostalismo, Teologia, Crise, Mídia. 1. Entenda-se pastores e pastoras, considerando a existência de mulheres consagradas ao ministério pastoral evangélico no Brasil..

(8) 8. Abstract. The process of secularization has contributed to a constant changing of the world. Suddenly, many aspects have become openly organized in terms of 'assumptions of scenarios', generating identity crisis, in both individual and social aspects. In this context, it is faced with the theme 'religion and religious life, considering it as part of this new environment, especially since the Brazilian Protestantism, as an area of strong religious diversity characterized by the birth of a variety of new movements.. The researches in the area of Religious Studies customarily intended to religiousness, religion, faith and religious community, but perhaps it can be assumed that there is little about the person of the pastor as a being in crisis towards the demands of modern religion. This paper proposes through a literature approach, to highlight some challenges of the pastors towards the new Pentecostal demand. Thus, we wish to address the contemporary cultural context and its implications for the religious environment. Analyze the current society and culture through the lens of the media, considering its influence for the formation of culture. It is proposed an assessment of the characteristics of the New Pentecostal movements, their power of integration into society, its theology and the profile of their pastors. The aim is to form a picture that helps illustrate the faithful and the New Pentecostal pastor. It indicates a reflection about the identity crisis of the pastor towards the New Pentecostal demand, their anxieties and challenges towards what is supposed to be a "change of script”, of ro ute, in the ecclesiastical process. The drama of those who are not prepared, nor feel inclined to represent the new roles required by the new society and, consequently, new religion. Keywords: religiousness, religion, pastorship, New pentecostalism, theology, crisis, midia.

(9) 9. SUMÁRIO. INTRODUÇÃO ...................................................................... 10 I CAPÍTULO 1 1.1 Contexto sociocultural contemporâneo: Implicações para o mundo religioso.......................................................... 1.2 Sociedade contemporânea ............................................. 1.3 Sociedade da Mídia ........................................................ 1.4 Sociedade da Imagem, Religião da Imagem................... 1.5 Interatividade Midiática e suas influências na Sociedade e na Religião ....................................................... II CAPÍTULO 2 2.1 Características da religiosidade neopentecostal ............. 2.2 Características neopentecostais ..................................... 2.3 Teologia neopentecostal ................................................. 2.4 Perfil do Pastor neopentecostal ...................................... III CAPÍTULO 3 3.1 A crise de identidade de pastores ................................... 3.2 Fé e emoção................................................................... 3.3 A busca de um sentido e a manifestação da crise .......... 3.4 Crise................................................................................ 3.5 Crise Pastoral ................................................................. 3.6 Crise Pastoral de identidade frente à demanda neopentecostal...................................................... IV CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................. 14 22 24 29 34. 42 48 53 59. 74 75 77 78 82 93 98. V BIBLIOGRAFIA................................................................. 103.

(10) 10. Introdução. O processo de secularização observado de maneira efetiva no mundo pósmoderno desarticulou antigos processos de valores sociais, como por exemplo, a centralidade da moral cristã. Isto contribui u para uma constante transformação do mundo, ainda mais acelerada em função do implemento da tecnologia e dos meios de comunicação. Este panorama se apresenta de maneira desafiadora, especialmente no que diz respeito ao tema identidade. O mundo moderno vive a incerteza de valores e identidades. Não se pode mais afirmar, como anteriormente, sobre a existência de referências sólidas que estabeleçam verdades capazes de dar seguranças. De repente, muitos aspectos tornaram-se abertamente organizados em termos de ‘suposições de cenários’. Isso ocorre tanto no plano individual quanto na humanidade como um todo. Por um lado, podemos facilmente discernir muitas novas oportunidades que potencialmente nos libertam das limitações do passado. Por outro, quase em toda parte enxergamos a possibilidade de catástrofe. Em muitos momentos é difícil dizer, com qualquer grau de segurança, que direção as coisas irão tomar. Nesse contexto, nos encontramos com o tema ‘religião’ e vida religiosa, considerando que esta não está isenta das acomodações desse novo ambiente. O mundo religioso não pode ser entendido de forma dissociada da sociedade, especialmente porque ele faz parte de um constante movimento entre as próprias religiões e mesmo com a sociedade e a cultura. Dentro dessa abordagem, localiza-se o protestantismo brasileiro num contexto de forte diversidade religiosa caracterizado pelo nascimento de uma variedade de novos movimentos. Este fenômeno deflagra um cenário difuso de religiosidade, onde se assinala o afrouxamento das fronteiras rígidas de antes, ocasionado, supostamente.

(11) 11. pela possibilidade de livre escolha num ambiente marcado pelo individualismo e por uma. provável. negação. às. doutrinas. históricas,. caracterizadas. pelo. avanço. neopentecostal. Neste aspecto, verificam-se pesquisas na área das Ciências da Religião sobre religiosidade, religião, fé e comunidade religiosa. As próprias denominações investem em projetos, pesquisas e planejamentos em busca de crescimento e auto conhecimento . Ainda há pouco estudo sobre a pessoa do pastor enquanto ser em crise diante das demandas da religião moderna . Se a sociedade e, por consequência, a vida religiosa cristã protestante de maneira geral tem passado por remodelações significativas nas últimas décadas, no Brasil, há de se constatar também que a contemporaneidade afeta de forma direta a vida pessoal de ministros. Apesar de tratarem com temas como esperança, fé, re lacionamento e família com frequencia e procurarem assessorar pessoas em seus dramas, a exigência pela vida, seus dilemas, conflitos e perturbações atingem também a estes. Isto tem sido caracterizado especialmente pelas sucessivas notícias de processos de crises entre pastores e cônjuges, entre seus filhos ou mesmo complicações na área financeira e de moral. Normalmente quando isto ocorre, as denominações preferem soluções administrativas como transferência ou mesmo exclusão do ministério. Infelizmente as ações preventivas nessa direção, que proporcionem melhor equilíbrio no cotidiano pastoral, são mínimas.. Este trabalho se propõe, através de uma abordagem bibliográfica, destacar algumas demandas sociais contemporâneas as quais a Igreja cristã evangélica brasileira tem sido desafiada, a partir da demanda neopentecostal, e, de maneira principal, sobre o confronto emocional que os pastores têm diante desse tema. A partir das teorias do sociólogo Zigmunt Bauman – nosso referencial teórico principal – que visualiza a sociedade contemporânea em ‘estado líquido’, sem formato, textura e substância específica, discorremos sobre sociedade, cultura e religião, sob o que chamamos de ‘lente’ da mídia. A ‘sociedade midiática’ forma as pessoas como um todo, inclusive sua maneira de pensar e agir na religião..

(12) 12. Da mesma forma, através do olhar de Leonildo Silveira Campos – nosso referencial secundário – que pesquisou a IURD (Igreja Universal do Reino de Deus), seguramente o maior empreendimento neopentecostal brasileiro, destacamos o neopentecostalismo como reflexo prático desta ‘liquidez’ social e, segundo nossa pesquisa,. religiosa.. Desse. ponto,. tratamos. das. evidências. da. ‘identidade. neopentecostal brasileira’, tanto em sua postura leiga como clériga, e, sobretudo como influenciadora do modo de ser cristão protestante no Brasil em tempos atuais. Assim, mostramos que os ministros não estão isentos de questionamentos frente a novas propostas litúrgicas, teológicas e administrativas. Como pessoas que são, reservam dentro de sua individualidade os mesmos anseios dos fiéis que frequenta m suas igrejas. Procura-se aqui visualizar o drama vivido pelo segmento pastoral, sobretudo da nova responsabilidade que cai sobre ele, do sucesso pleno, difundido pelo segmento neopentecostal, como se isso fosse um marco de sua espiritualidade ou prova de sua aproximação a Deus.. No primeiro capítulo, abordaremos o contexto sociocultural contemporâneo e suas implicações para o ambiente religioso. Como veremos, a sociedade e a cultura atual vive m sob a lente da mídia, e dela se servem, de maneira especial, como inspiração para representar seus diversos papéis. A sociedade atual é nominada por alguns teóricos como ‘Idade da Mídia’. Dentro desta perspectiva, versaremos sobre a sociedade concomitantemente com a religião, por entendermos que a mesma mídia que influencia a sociedade é a que age na religião. Na verdade, a religião se torna consequência da sociedade e vice versa, sempre sob os holofotes do segmento midiático (e é sobre esta ‘lente’ que almejamos refletir).. Consideramos, a partir disso, que ambas sejam analisadas sob três vertentes: a Imagem, a Interatividade e a Virtualidade..

(13) 13. No segundo capítulo, propomos uma apreciação sobre as características dos movimentos neopentecostais, seu poder de inserção na sociedade, sua teologia e o perfil de seus pastores. Queremos buscar um retrato que nos permita visualizar o fiel e o pastor neopentecostal.. No terceiro capítulo, indicamos uma ponderação sobre a crise de identidade do pastor frente à demanda neopentecostal, suas angústias e desafios diante do que supomos ser uma ‘mudança de script’, de rumo, no meio do processo. O drama de quem não se preparou tampouco se sente vocacionado a representar os novos papéis e solicitações da nova sociedade e, consequentemente, da nova religião. A questão da mudança e seus desafios, a fé como um sentimento, a busca e a necessidade de um sentido para viver, as crises próprias do ministério pastoral e a crise específica diante do neopentecostalismo..

(14) 14. Capítulo 1. Contexto sociocultural contemporâneo: Implicações para o mundo religioso A luta para reorientar a humanidade e salvar vidas faz nossa vida valer muito mais do que pode ser calculada em termos econômicos, pois estamos falando de algo que vai muito além do cálculo ou da quantidade. Estamos falando de uma experiência de “profundidade”, que faz a vida ter ‘graça’ e encanto. Graça e encanto que não podem ser comprados ou vendidos no mercado e que só podem ser experienciados quando se assume um sentido da vida e lutas que carregam uma marca da gratuidade, algo que está fora da relação de compra e venda.2 Jung Mo Sung.. A proposta de analisar a demanda religiosa brasileira, suas características, virtudes e implicações, pode ser considerada procedimento impreciso sem uma abordagem sociocultura l. Nossa intenção, portanto, é proporcionar uma visualização desse pano de fundo que influencia relacionamentos e comportamentos. Desta maneira, pretendemos encontrar um ponto de partida que nos dê base na tarefa de abordar a crise de identidade de pastores frente à demanda neopentecostal. Partimos do pressuposto de que a experiência pastora l e os desafios da modernidade à religião não estão soltos no tempo e no espaço, antes disso, são resultados de uma sociedade, de suas mudanças e desafios culturais. A sociedade, em seu papel estruturante e formativo. é. que. constroi. a. dialética. cultural. da. religiosidade. moderna,. consequentemente, o ambiente que aflige a vida pessoal de seus ministros.. 2. SUNG. Jung Mo. Reencantamento e transformação social. In: Estudos de Religião/ Universidade Metodista de São Paulo/ Pós-Graduação em Ciências da Religião. Vol 1, n. 1 (mar. 1985). São Bernardo do Campo: Umesp, 1985. pg. 31..

(15) 15. Em Deslocamento do religioso na sociedade contemporânea, Moreira, buscando um conceito para religião e campo religioso no contexto sociocultural, recorre a um a alegoria sui generis ao dizer que as conceituações “se tornaram um cobertor curto (e) não cobrem mais todas as modalidades, os espaços, a diversidade e a mutabilidade da experiência religiosa nos quadros da modernidade capitalista tardia”3. Nesta perspectiva do ‘cobertor curto’, que ilustra a difícil tarefa de analisar o contexto religioso brasileiro como um todo e, por consequê ncia, os aspectos socioculturais que formam nossa maneira cidadã e religiosa de ser, propomos a utilização de uma ‘lente’ que possa ajudar nosso intento. Considerando que a sociedade brasileira tem sido, cada vez mais envolvida pela mídia, especialmente a eletrônica, pretendemos encaminhar nossa abordagem sob este prisma.. Nesse sentido, Ramos considera que “nos últimos anos, a mídia se revestiu da aura religiosa. Com isso, a TV ascendeu à categoria divina ao assumir para si atributos que antes eram reservados a Deus: onipresença, onisciência e onipotência”. Desta maneira, para o autor, a antiga rejeição da religião em relação à modernidade, passa agora para a categoria de objetivo. Se antes ela a considerava como uma ameaça e tentação, agora ela se torna aliada. O que o pesquisador chama de “escatologia espetacular”, tem por ideal envolver-se cada vez mais com o aparato tecnológico. “Em sintonia, mídia e religião compartilham o contexto espetacular, no qual vivem, se movem e existem” 4.. Contudo, não se pode tratar do tema “religião” sem considerar aspectos sociais e culturais. A religião está, atualmente, mais propensa à representação de um resultado cultural do que uma referência, formadora de opinião, de estilo de vida. Simultaneamente, a mídia avança ininterruptamente em seu poder de influência, ditando moda, padrões e conceitos ao ambiente social. 3. MOREIRA, Alberto da Silva. O deslocamento do religioso na sociedade contemporânea. Estudos de Religião/ Universidade Metodista de São Paulo/ Pós-Graduação em Ciências da Religião. Vol. 1, n 1 (mar. 1085). São Bernardo do Campo: UMESP, 1985. pg. 71. 4 RAMOS, Luis Carlos. A Práxis Homilética e a Espetacularização do Discurso Religioso Contemporâneo. In: Mídia e Religião na sociedade do Espetáculo/ organização de José Marques de Melo, Maria Cristina Gobbi, Ana Claudia Braun Endo. São Bernardo do Campo: Universidade Metodista de São Paulo, 2007, pg 189..

(16) 16. Para termos ideia do quanto os meios de comunicação social têm se tornado parte operante da vida cotidiana, podemos lembrar que o IBGE, de acordo com a ‘pesquisa nacional por amostra de domicílios de 2007 5, mostra através de suas pesquisas (quadro abaixo) que a televisão, por exemplo, tem sido priorizada em mais de 90% dos lares brasileiros em detrimento de aparelhos domésticos como a geladeira, o freezer e o rádio. Contudo, o rádio ainda ocupa perto de 90% das casas e o micro computador, quase 30%. Isto, certamente, sinaliza o alto grau de importância que os meios eletrônicos de informação têm no território nacional.. Entende-se, portanto, que uma abordagem sobre as características sociais e religiosas sob este enfoque pode encontrar significação contundente, mesmo porque, como veremos à frente, a mídia tem sido um expressivo instrumento de ‘pregação’ religiosa no Brasil. Inicialmente, podemos observar que uma das características da religiosidade contemporânea está nos itens necessários à composição dos templos. Sejam igrejas católicas ou protestantes, tradiciona is ou carismáticas e, independentemente de sua linha teológica, entre os diversos detalhes “litúrgicos”, verifica-se a utilização de certo grau de tecnologia como parte da dinâmica de culto e evangelismo. Equipamentos eletrônicos como microfones, amplificadores, instrumentos elétricos e projetores passam a ter presença garantida nas diversas celebrações, sem contar as 5. Cf. http://www.ibge.com.br/brasil_em_sintese/default.htm.

(17) 17. comunidades que transmitem programas online, pelo rádio ou televisão. Uma distinção interessante neste quadro é que não há um mínimo de censo crítico em ligar-se às necessidades concretas, como por exemplo, um templo pequeno não precisa de microfone para o pregador, mas ele o usa, tão somente para aderir à tendência. A utilização da tecnologia, por assim dizer, torna-se, em tempos atuais, quesito básico na concepção das comunidades de fé que esteja m minimamente em sintonia com a contemporaneidade. Há, porém, de se considerar que, além de equipamentos sonoros elétricos em cerimônias religiosas, a utilização de instrumento tecnológico de comunicação social em meios evangélicos no Brasil tem um histórico mais antigo. Campos 6 relata o que tratamos ao descrever que já “nos anos 1950 surgiu a Igreja Pentecostal “O Brasil para Cristo”, antecipada pelo programa A voz do Brasil para Cristo , dirigido por Manoel de Mello. Na década seguinte foi a vez da Igreja Pentecostal “Deus é Amor”, cuja programação, até hoje intitulada A voz da libertação, é dirigida pelo fundador David M. Miranda. Também no início dos anos 1960, no Rio de Janeiro, foi fundada a Igreja Pentecostal de Nova Vida (1961), pelo canadense Walter Robert McAlister (19311993)”, prática que te m sido reproduzida por inúmeras denominações cristãs como meio de evangelização. Atíllio Hatmann7 considera que a utilização da comunicação de massa como meio de propagação da mensagem religiosa no Brasil veio como herança da cultura norte americana, lemb rando que, já nos anos 50, nos EUA, surgiram os dois precursores do que ele chama de televangelismo . Um deles foi o bispo católico Fulton Sheen, que posteriormente foi impedido pela hierarquia católica americana de continuar utilizando a televisão para pregação e, paralelamente, o renomado pregador de massas, Billy Graham, que é pastor batista e até hoje promove cruzadas televisivas pelo mundo. 6. Leonildo Silveira Campos. Evangélicos e Mídia no Brasil – Uma História de Acertos e Desacertos. Artigo na Revista de Estudos da Religião – REVER. Pós-Graduação em Ciências da Religião – PUC – São Paulo. Google Acadêmico, http://www.pucsp.br/rever/rv3_2008/t_campos.htm . 7 Religiosidade Midiática – Uma nova agenda pública na construção de sentidos? – Google Acadêmico, publicação pela UNISINOS.http://www.unisinos.br/ihu/uploads/publicacoes/edicoes/1162402096.15pdf.pdf ..

(18) 18. Para o neopentecostalismo8, isto não foi difere nte, pois a modernização dos meios de comunicação, especialmente o televisivo , desponta como uma forte estratégia de propagação da pregação. Em tempos de Edir Macedo9, Padre Marcelo Rossi10, R. R. Soares11, Padre Jonas Abib12, Apóstolo Hernandes13 e, mais recentemente, Valdomiro Santiago14, além de outros ‘artistas’ do mundo gospel, a possibilidade de compreensão da mídia como espaço evangelístico, capaz de alavancar com maior resultado o crescimento, sobretudo numérico, das comunidades de fé, tem se tornado prática aceitável entre as lideranças dos diversos segmentos religiosos. Mesmo os que não se caracterizam como neopentecostais, como é o caso de Silas Malafaia15 e Jabes Alencar16, pastores da Assembléia de Deus, pertencente ao segmento pentecostal. 8. Conceituaremos neopentecostalismo no segundo capítulo. Posteriormente identificaremos Edir Macedo com maior precisão. 10 Marcelo Mendonça Rossi é um sacerdote católico brasileiro, ex–professor de educação física e psicólogo (pela USP). Tornou-se um fenômeno de mídia e cultura de massas no fim dos anos 1990 e ficou muito conhecido pela forma como adota danças e coreografias típicas do movimento Renovação Carismática Católica (RCC) e pela publicidade dos trabalhos (CDs, DVDs, cinema e televisão). Apresenta todos os domingos o programa Santa Missa em Seu Lar pela Rede Globo de televisão e pela RedeVida, todos os sábados às 15h a Missa do Santuário Mãe de Deus. 11 R.R. Soares será descrito à frente. 12 Jonas Abib é um sacerdote católico de ascendência sírio-libanesa. Começou, em São Paulo, dando aulas na Faculdade de Ciências e Letras de Lorena/SP e promovendo encontros e retiros, principalmente na região do Vale da Paraíba, São Paulo. Junto com um pequeno grupo de jovens, fundou a Comunidade Canção Nova, que tem a missão de espalhar a doutrina católica pelos meios de comunicação social. 13 Estevam Hernandes Filho. Ministro de linha neopentecostal, é fundador da Igreja Apostólica Renascer em Cristo, na qual ocupa a posição de apóstolo. Casado com Sônia Hernandes, bispa da mesma igreja. 14 Valdemiro Santiago de Oliveira é pastor evangélico, líder e fundador da Igreja Mundial do Poder de Deus. Começou seu ministério na Igreja Universal do Reino de Deus. Durante o período em que foi bispo da IURD alcançou destaque entre os demais pastores daquela igreja, tendo sido considerado um dos potenciais sucessores de Edir Macedo. Desligou-se da Universal após problemas com a liderança, e alguns dias depois fundou a Igreja Mundial do Poder de Deus, que absorveu parte dos membros da IURD. 15 Silas Malafaia é pastor pentecostal, vice-presidente da Assembleia de Deus da Penha, na cidade do Rio de Janeiro, que conta com doze mil membros. Conferencista convidado em várias igrejas, também organiza eventos como o Congresso Pentecostal Fogo para o Brasil. Graduado em psicologia clínica, Silas Malafaia dirige e apresenta o programa de televisão Vitória em Cristo, chamado anteriormente IMPACTO. É o presidente da Editora Central Gospel, uma das editoras gospel de maior faturamento no Brasil. 16 Jabes Alencar é pastor da Igreja Assembléia de Deus do bom Retiro em São Paulo e apresenta um programa semanal aos sábados pela manhã. 9.

(19) 19. histórico ou de Hernandes Dias Lopes17, pastor Presbiteriano, do grupo de igrejas tradicionais históricas, sinalizando a força da tendência midiática18. Para se ter idéia do que representa o termo crescimento, como resultado do evangelismo pela televisão no contexto protestante brasileiro, sobretudo no segmento neopentecostal, tomamos o exemplo de dois casos citados acima. O mais significativo é o de Edir Macedo que, de uma pequena comunidade fundada nas instalações de uma funerária em 1977, na zona norte da cidade do Rio de Janeiro, concretizou um dos maiores empreendimentos religiosos do Brasil. Segundo Mariano 19, nenhuma outra igreja evangélica cresceu tanto em tão pouco tempo no Brasil, apresentando um crescimento espantoso desde seu início. Em 1985, com oito anos de existência, já contava com 195 templos em 14 Estados e no Distrito Federal. Dois anos depois, eram 356 templos em dezoito Estados. Em 1989, ano em que começou a negociar a compra da Rede Record, somava 571 locais de culto. Entre 1980 e 1989, o número de templos cresceu 2.600%. Nos primeiros anos de sua existência, sua abrangência geográfica limitou-se às regiões metropolitanas do Rio de Janeiro, de São Paulo e de Salvador, atingindo, em seguida as demais capitais e grandes e médias cidades. Na década de 1990, passou a cobrir todos os Estados do território brasileiro, período no qual logrou taxa de crescimento anual de 25,7%, saltando de 269 mil (dado certamente subestimado) para 2.101.887 adeptos no Brasil, de onde se espraiou para mais de oitenta países. Em todos eles, conquista adeptos majoritariamente entre os estratos mais pobres e menos escolarizados da população. Com a aquisição da Rede Record de Televisão em 1990 por 45 milhões de dólares, o impulso da denominação tornou-se ainda mais expressivo, chegando rapidamente a um patamar estimado no entorno de 10 milhões de membros em tempos atuais.. 17. Hernandes Dias Lopes é pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil e apresenta o programa nacional de sua denominação que vai ao ar aos sábados pela manhã. 18 Não consideramos o Padre Marcelo Rossi, da Igreja Católica Apostólica Romana, por entendermos que, mesmo não figurando como neopentecostal protestante, apresenta características do veio neopentecostal, como apresentaremos posteriormente. 19 Ricardo Mariano. Expansão pentecostal no Brasil: O caso da Igreja Universal. Artigo in: Estud. av. vol.18 no.52 São Paulo Sept./Dec. 2004. Google Acadêmico. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142004000300010 ..

(20) 20. Ratificando esta informação, observa-se a matéria de capa da revista Ultimato em sua 313ª edição, de agosto de 2008, sob o título: “O sucesso de Edir Macedo e a pergunta que fica”. A abordagem relata a meteórica ascensão deste que é o maior empresário religioso de todos os tempos, no Brasil, e, talvez, no mundo. Entre outras, sabe-se que. Em 30 anos, o modesto fluminense nascido em 1945 e convertido ao evangelho no Rio de Janeiro em 1964, fundou uma igreja neopentecostal que hoje tem quarenta luxuosas catedrais, mais de 4.700 templos e quase 10 mil pastores só no Brasil. [...] Além das atividades religiosas, a Universal tem construtoras, seguradoras, empresas de táxi aéreo, agências de turismo, mídia e consultorias, que geram 22 mil empregos diretos e mais de 60 mil indiretos. O sucesso de Edir Macedo diz respeito também aos seus negócios particulares. Ele e a esposa são donos da Rádio Copacabana e da Record, a segunda maior rede de televisão do país, com 99 emissoras (próprias e afiliadas) e 6 mil funcionários, cujo valor deve estar na casa de 2 bilhões de dólares.. Segundo Mariano 20, Edir Bezerra Macedo, tornou-se crente aos dezoito anos, em 1963, tendo sido católico e frequentado a umbanda. Após sua conversão, Macedo permaneceu na Igreja Nova Vida até 1973. Depois de algumas cisões, fundou, juntamente com outros crentes, a Igreja Universal do Reino de Deus, onde descobriu a mídia como instrumento de evangelismo, através do rádio, em um programa da Rádio Metropolitana. Outro importante exemplo religioso de ascensão numérica é a Igreja Internacional da Graça de Deus, fundada e dirigida por Romildo Ribeiro Soares, o “Missionário R. R. Soares”, como é conhecido. Soares é cunhado de Edir Macedo e um dos fundadores da Igreja Universal do Reino de Deus. Ainda nesta igreja, iniciou sua experiência televisiva, na TV Tupi, no Rio de Janeiro, em 1977. Após seu desligamento, voltou à mídia em 1982, mas sua projeção efetiva se deu na TV Gazeta quando conquistou o horário nobre e, posteriormente, alicerçou ainda mais sua presença no 20. Mariano, Expansão pentecostal no Brasil. Ib. idem. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-. 40142004000300010.

(21) 21. cenário nacional ao fechar um milionário contrato com a Rede Bandeirantes de Televisão de programação diária. Em 1999, R. R. Soares concretizou seu objetivo de garantir lugar nos meios de comunicação social quando, a exemplo de seu cunhado, Edir Macedo, adquiriu seu próprio canal de televisão, inaugurando a RIT TV (Rede Internacional de Televisão) que até 2008 já dispunha de oito estações próprias, uma afiliada na Bahia e 170 retransmissoras, além de transmitir para o exterior através de satélite, com tradução para o inglês e o espanhol, chegando ao sul da Flórida – EUA - por meio de canal a cabo 21. Talvez se possa considerar que mídia eletrônica e religião tem tido uma proximidade peculiar no Brasil, já que , paralelamente ao avanço protestante na utilização da pregação televisiva, surgiram, de igual modo, empreendimentos do catolicismo como a Rede Vida, a TV Canção Nova, TV Horizonte, TV Aparecida, TV Século XXI e TV Horizonte 22, bem como personalidades como o já citado Padre Marcelo Rossi, Padre Léo23 (in memorian), e, mais recentemente, Padre Fábio de Melo24, além de outros grupos musicais e apresentadores como Gabriel Chalita25. No rádio, meio “evangelizador” mais antigo, podemos citar a Rede Aleluia, também pertencente à Igreja Universal do Reino de Deus, a Rede Católica de Rádio (RCR) e Rede Milícia da Imaculada.. 21. Campos, Evangélicos e Mídia no Brasil – Uma História de Acertos e Desacertos. Ib. idem. http://www.pucsp.br/rever/rv3_2008/t_campos.htm 22 A citação não sinaliza uma ordem cronológica de surgimento destas emissoras. 23 Léo Tarcísio Gonçalves Pereira, mais conhecido como Padre Léo, foi um sac erdote da Congregação dos Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus, (dehoniano). Era cantor, compositor, apresentador, pregador e escritor. Entrou para a Renovação Carismática Católica (RCC) em 1973 e fundou a Comunidade Bethânia. 24 Fábio José de Melo Silva, mais conhecido como Padre Fábio de Melo é um sacerdote católico, artista, escritor, professor universitário e apresentador brasileiro, pertencente originalmente à Congregação dos Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus. Atua na Diocese de Taubaté no interior do Estado de São Paulo. 25 Gabriel Chalita é bacharel em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e em Filosofia pela Faculdade Salesiana de Filosofia Ciências e Letras de Lorena, mestre em Ciências Sociais e em Direito pela PUC-SP, e Doutor em Comunicação e Semiótica e em Direito pela P UC-SP. Atualmente é professor titular da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie e Membro de Conselho Editorial da Revista Profissão Mestre..

(22) 22. Este pequeno panorama sobre a influência da mídia eletrônica no cenário religioso brasileiro denota o ‘modo de ser religioso’ numa perspectiva cultural e social, ou seja, estabelece a interrelação entre sociedade, cultura e religião, sob a perspectiva de uma sociedade fortemente influenciada pela mídia, consequentemente, geradora de cultura e religiosidade midiática. Para tanto os diversos segmentos da comunicação social e da religião têm se proposto a discutir o tema, considerando a fácil receptividade dos “telepregadores” em sua comunicação com a sociedade contemporânea.. Sociedade contemporânea. O mundo presente recebe, nas diversas análises sociológicas, antropológicas, psicológicas e teológicas, várias designações. Parece não haver algo que o defina de maneira única e que possa delinear sua multiforme apresentação. Como afirma Christa Berge, há quem entenda a atualidade como “modernidade tardia, sociedade capitalista da informação, sociedade midiatizada, sociedade pósindustrial, sociedade do conhecimento, sociedade global, sociedade transparente, sociedade pósmoderna, sociedade hipermoderna, sociedade do espetáculo, ou ainda, que estamos na Idade da Mídia”26. Para a autora, em todas as direções que se olhe, o fator ‘mídia’, é sempre observado e, quase sempre, usado como explicação para o momento social. Berge considera que, enquanto a sociedade em geral atribui aos meios de comunicação a tarefa de transportadores de sentido e mensagens de interação entre produtores e receptores, a cultura midiática vai além, da função instrumental, requerendo para si a tarefa constitutiva da estrutura social. Desta forma, ela “deixa de ser veiculante, de representação para ser vicária, organizativa, formuladora e formadora de um novo bios27”. Nesta dinâmica, a mídia passa a ocupar um lugar orientador e de referência ética, comportamental, moral e requer o direito de ditar valores sociais. 26. BERGE, Christa. Tensão entre os campos religioso e midiático. In: Mídia e Religião na sociedade do Espetáculo/ organização de José Marques de Melo, Maria Cristina Gobbi, Ana Claudia Braun Endo. São Bernardo do Campo: Universidade Metodista de São Paulo, 2007, pg 26. 27 BERGE, Tensão entre os campos religioso e midiático. Ib. Idem. pg. 26..

(23) 23. Para a pesquisadora, surge uma nova natureza diante da midiatização da sociedade. A “tecnointeração” age, portanto, proporcionando os elementos do novo ambiente social, pois somente através da tecnificação28, ou seja, do aparelhamento das diversas áreas do cotidiano, é que parece ser possível viver no mundo moderno. Além disso, se vê criado um novo pacote de necessidades que garantam a inclusão e a aceitação tornando a adoção da tecnologia um comportamento inevitável. A influência desse novo modus vivendi não se refere somente às novas demandas que são criadas, mas, também, à maneira de pensar, já que a informação agilizada promove uma dinâmica de racionalidade mais rápida e exigente. “As tecnologias da informação construíram um novo regime espaçotemporal: da coexistência e da coabitação, onde a imposição da imediatez e a aceleração do saber se transformam em uma categoria valorizativa. Não basta saber tudo o tempo todo, é preciso saber antes 29”. A dimensão de espaço geográfico também sofre uma alteração significativa a partir da sociedade midiatizada, pois a integração e a interrelação de culturas passa a ser uma prática comum. Seja pela rede mundial de computadores, pelos sistemas de televisão, telefonia celular ou redes de relacionamento, as pessoas conseguem, com extrema facilidade, trocar impressões sobre as diversas áreas do conhecimento ou ter acesso a fatos acontecidos. Nesse sentido, Berge considera que Como matriz da estruturação social a mídia forma parte da textura da nossa experiência no mundo organizando e reorganizando a percepção e a apropriação da realidade por parte do receptor. A experiência de pertencimento comunitário se dá nesta sociedade, pela partilha da recepção midiática30.. 28. Utiliza-se o neologismo para se referir a inclusão de aparelhos pessoais ao dia a dia, como o celular ou o notbook. 29 BERGE, Tensão entre os campos religioso e midiático. Ib. Idem. pg. 26. 30 Ib. Idem. pg. 26..

(24) 24. Desta maneira a mídia vai se impondo à sociedade, não somente como uma parte dela, mas, sobretudo, como forma de acesso aos campos sociais e científicos, oferecendo informações e conceitos a partir de si, por isso, figurando como canal importante de formação social e influenciando de maneira significativa a sociedade.. Sociedade da mídia. A conjuntura social contemporânea, influenciada pela mídia, pode ser considerada, como supõe Berge, a Sociedade da Mídia. John Thompson, conforme citação de Moreira, identificou a midiatização da cultura, e nesta linha, considerou possível estabelecer o que chamou de uma midiatização da religião. Segundo o autor Os shows-missas e os shows -gospel, as transmissões sobre o Papa e sobre festas religiosas são as formas mais explicitas, mas nem de longe as únicas formas de midiatização do religioso. Provavelmente as grandes cerimônias, transmitidas pela mídia em ocasiões especiais, serão o momento onde se explicitará um sentimento de vago pertencimento a uma “comunidade” mais ampla de fé. Por outro lado, no dia a dia das metrópoles, quem hoje ministra “aulas de catequese” para as multidões é Holywood, com suas produções como Código Da Vinci, Paixão de Cristo, os filmes de bruxos, de espíritos e do além 31.. Nesta perspectiva, propõe-se uma abordagem do contexto contemporâneo a partir de três hipóteses reconhecidas na dinâmica midiática: a Imagem, a Interatividade e a Virtualidade. Recorre remos, para tanto, ao sociólogo Zigmunt Bauman que reflete a contemporaneidade a partir da liquidez. Bauman afirma que ‘fluidez’ é a qualidade, ou a característica, de líquidos e gases. É o que os distingue dos sólidos, já que não podem “suportar uma força tangencial ou deformante quando ‘imóveis’ e assim sofrem uma. 31. MOREIRA. O deslocamento do religioso na sociedade contemporânea. Ib Idem. pg. 73..

(25) 25. constante mudança de forma quando submetidos a tal tensão” 32. Citando a Enciclopédia Britânica, assegura que essa contínua e irrecuperável mudança de posição de uma parte do material em relação a outra parte quando sob pressão deformante constitui o fluxo, propriedade característica dos fluidos. Em contraste, as forças deformantes num sólido torcido ou flexionado se mantêm, o sólido não sofre o fluxo e pode voltar à sua forma original.. Segundo o sociólogo, o que se pode observar a partir disso é que os líquidos, em contraposição aos sólidos, não mantém sua forma, não demarcam seu espaço. Enquanto os sólidos têm dimensões espaciais definidas, os líquidos não se atêm muito a qualquer forma e estão constantemente sujeitos a mudanças.. O que conta para eles (líquidos) é o tempo, mais do que o espaço que lhes toca ocupar; espaço que, afinal, preenchem apenas ‘por um momento’. Em certo sentido, os sólidos suprimem o tempo; para os líquidos, ao contrário, o tempo é o que importa. Ao descrever os sólidos, podemos ignorar inteiramente o tempo; ao descrever os fluidos, deixar o tempo de fora seria um grave erro. Descrições de líquidos são fotos instantâneas, que precisam ser datadas. Os fluidos se movem facilmente. Eles ‘fluem’, ‘escorrem’, ‘esvaem-se’, ‘respingam’, ‘transbordam’, ‘vazam’, ‘inundam’, ‘borrifam’, ‘pingam’, são ‘filtrados’, ‘destilados’, diferentemente dos sólidos, não são facilmente contidos – contornam certos obstáculos, dissolvem com sólidos, emergem intactos, enquanto os sólidos que encontram, se permanecem sólidos, são alterados – ficam molhados ou encharcados33.. O autor ainda reflete sobre a questão do ‘peso’, considerando que, apesar de alguns tipos de líquidos serem mais pesados que alguns tipos de sólidos, de maneira geral, são mais leves. Aqui ele associa a ‘leveza’ ou ‘ausência de peso’ à mobilidade e à inconstância, exemplificando ao dizer que, pela prática, quanto mais leve viajamos, com maior facilidade e rapidez nos movemos.. 32. BAUMAN, Zigmunt. Modernidade Líquida. Tradução Plínio Dentzien. – Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 2001. pg. 07. 33 BAUMAN, Modernidade Líquida. Ib. idem, pg. 08..

(26) 26. Bauman utiliza -se da metáfora da ‘fluidez’ ou ‘liquidez’ para elencar o que chama de ‘presente fase’. Mesmo admitindo ser questionável para quem, segundo ele, “transita à vontade no ‘discurso da modernidade”, defende que a modernidade, desde o início, representa um processo de ‘liquefação’ dos sólidos, através da desconstrução de valores e conceitos anteriormente estabelecidos. Acredita ainda que o que está acorrendo atualmente é, por assim dizer, uma redistribuição e realocação dos ‘poderes de derretimento’ da modernidade. Primeiro, eles afetaram as instituições existentes, as molduras que circunscreviam o domínio das ações-escolhas possíveis. Como as referê ncias hereditárias com sua alocação por atribuição, sem chance de apelação, tudo isso foi posto a derreter, para ser depois novamente moldado e refeito. Segundo o sociólogo, esta foi a fase de “quebrar a forma’ na história da modernidade inerentemente transgressiva, rompedora de fronteiras e capaz de tudo desmoronar (...) na verdade nenhum molde foi quebrado sem que fosse substituído por outro; as pessoas foram libertas de suas velhas gaiolas apenas para ser admoestadas e censuradas caso não conseguissem se realocar...”.34 Esta readequação social, nominada por Bauman como ‘derretimento’ ou ‘liquefação’ dos antigos conceitos e padrões, jorra efervescente nas diversas conjunturas, formando e refazendo configurações. O autor acredita que essa dinâmica acontece através do intenso e constante choque desses modelos, que ainda vivem num estado líquido, portanto, sem oferecer balizas convincentes e formatos seguros.. A partir do conceito de “liquidez”, Bauman analisa outra questão importante da ‘sociedade presente’, o ‘consumo’. Em Vida para Consumo, ele afirma que a prática de consumir é, aparentemente, uma atividade banal do cotidiano. O consumo pode ser considerado irrelevante, resultado da simples condição de viver, afinal cada ser tem necessidades que são saciadas pelo processo de aquisição, com referências tão antigas quanto o fato de haver vida. Visto desta forma é nada mais que um processo natural e aceitável, sem importância reflexiva mais evidente, não determinando com. 34. BAUMAN, Modernidade Líquida. Ib. idem, pg. 13..

(27) 27. maior propriedade o fato sociológico ou como ‘fixador de padrões’ ou estilo de vida social e bem menos, como influenciador das relações humanas. Na história, o consumo sempre teve relação com o setor produtivo, da matériaprima, que subsidiou a própria vida, como no caso de comunidades mais remotas deflagrando as formas mais básicas da relação humana, e mesmo promovendo a construção de estruturas culturais entre os povos De maneira mais crucial, como um espaço expansível que se abre entre o ato da produção e o do consumo, cada um dos quais adquiriu autonomia em relação ao outro – de modo que puderam ser regulados, padronizados e operados por conjuntos de instituições mutuamente independentes35.. Contudo, é na fase em que acontece a existência dos ‘excedentes’ e da ‘estocagem’ que, segundo Bauman, acontece o advento daquilo que ele chama de “revolução consumista”, quando ocorreu a passagem do ‘consumo’ para o ‘consumismo’, “quando nossa capacidade de ‘querer’, ‘desejar’, ‘ansiar por’ e particularmente de experimentar tais emoções repetidas vezes de fato passou a sustentar a economia do convívio humano”36. O autor considera que consumismo é um tipo de acomodação da sociedade resultante da reciclagem de vontades, desejos e aspirações humanas corriqueiras, permanentes e, por assim dizer, ‘neutros quanto ao regime’ que se transforma gradualmente na principal força propulsora e operativa da sociedade, uma força que coordena a reprodução sistêmica, a integração e a estratificação sociais, além da formação de indivíduos humanos, desempenhando ao mesmo tempo um papel importante nos processos de autoidentificação individual e de grupo, assim como na seleção e execução de políticas de vida individuais 37.. Para Bauman, o consumismo pode ser evidenciado quando o consumo assume a centralidade da sociedade. 35 36 37. BAUMAN, Vida para Consumo. Op. cit. pg. 38. Ib. Idem. pg. 39. Ib. Idem. pg. 41..

(28) 28. Em sua análise, o sociólogo enfatiza que enq uanto o consumo é uma característica intrínseca ao fato de viver, tão somente, o consumismo é uma atribuição da sociedade constituída. Ele entende que o núcleo de interesse dessa análise deve estar no fato de procurar entender “o que ‘queremos, ‘desejamos’ e ‘almejamos’ e, como as substâncias de nossas vontades, desejos e anseios estão mudando no curso e em consequência da passagem ao consumismo 38. Porém o foco central de sua abordagem para nossa pesquisa se dá em sua análise da ‘sociedade de consumidores’. Aqui ele aborda alguns fatores que sinalizam o que chama de ‘cultura consumista’, ou seja, como esta sociedade pensa, se comporta e processa o modo de atingir seus interesses, demonstrando como ela promove um estilo de vida e uma ‘forma de ser’ consumista, rejeitando outras opções culturais.. Nesta direção, depara-se, entre outras, com uma característica típica desse modo de viver, ou seja, o fato de que consumir, portanto, significa investir na afiliação social de si próprio, o que numa sociedade de consumidores, traduz -se em ‘vendabilidade’: obter qualidades para as quais já existe uma demanda de mercado, ou reciclar as que já possui, transformando-as em mercadorias para as quais a demanda pode continuar sendo criada 39.. A demanda consumista inclui ainda em seu ‘manual de sobrevivência’ a tarefa de que, o próprio indivíduo deve fazer-se merecedor de pertencer ao meio que almeja, desta maneira, ele passa da condição de consumidor à de produto a ser consumido. “Os membros da sociedade de consumidores são eles próprios mercadorias de consumo, e é a qualidade de ser uma mercadoria de consumo que os torna membros autênticos dessa sociedade”40. Disso podemos constatar uma sociedade que produz status para ser transformado em objeto de consumo. O consumidor, uma vez seduzido pelo status produzido precisa enquadrar-se aos moldes exigidos para obtê-lo e, diante 38 39 40. Op. cit. pg. 41. Ib. Idem. pg. 75. Ib. Idem. pg. 76..

(29) 29. desta demanda, ele mesmo é que se transforma em produto, necessitando, desta vez, despertar interesse, fazer por merecer de modo que seja ‘vendável’ ou ‘consumível’. Podemos, desse ponto, considerar os apelos da religiosidade contemporânea que cria ‘condições’ para aceitar novos adeptos. Verifica-se, portanto, uma ambiguidade de significações, pois, ao mesmo tempo, o ‘mercado religioso’ vende sua mensagem como produto e requer de quem se sinta atraído por ela, quesitos básicos como, por exemplo, compromisso financeiro. Se, no passado era o provável adepto que se apresentava como objeto de interesse da instituição religiosa, agora, ela também se coloca como atrativo. A partir da dinâmica da mídia e, sobretudo do marketing, a religião passa a tomar lugar na sociedade como significado de status social, já que se disponibiliza no mercado, como “lugar da bênção”, “lugar onde Deus está”, “onde o milagre acontece” ou “lugar de gente feliz”. Por isso, o adepto precisa oferecer uma ‘contra partida’ nesse empreendimento onde todos devem ter seu ganho.. Sociedade da Imagem, Religião da Imagem. Provavelmente, esteja na Imagem a maior ênfase do consumismo. Nele, o indivíduo passa a se preocupar com a própria imagem, ou com a imagem que representa de maneira primordial pelo fato de haver necessidade de tornar-se produto vendável, aceitável e desejável no mercado, desta forma , surge a dinâmica de uma pessoalidade e de uma sociedade gerida pela imagem.. No. artigo. Pós-modernidade:. sociedade. da. imagem. e. sociedade. do. conhecimento , Luis Carlos Fridman trata do tema ‘imagem’ recorrendo à Jameson (1996), marxista norte-americano proveniente da crítica literária nas universidades de Yale e Duke, que acredita que pós-modernismo e "capitalismo da mídia" são sinônimos. Fridman enfatiza que.

(30) 30. a transformação de objetos de todo tipo em mercadorias (sejam estrelas de cinema, automóveis, sentimentos ou experiência política) enseja vidas dedicadas ao consumo e desejos suscitados e inculcados pelos meios de comunicação de massa. Suas variadas formas podem ser a compra de sofisticação comportamental, os muitos milhões de dólares movimentados na curta vida musical das Spice Girls, o heroin-look das top-models internacionais, a tentativa de transformar Fábio Junior (não o cantor e ator, mas o jovem centroavante do Cruzeiro de Belo Horizonte recentemente vendido ao Roma por 15 milhões de dólares) num clone de Ronaldinho, ou o jeito ‘livre’ de jovens que se divertem a bordo de uma caminhonete Cherokee último tipo. Sem esquecer também a maternidade midiática de Xuxa41”.. Observa-se, portanto, a sociedade da mídia promovendo um novo impulso na vocação social que esta nova sociedade tem pela questão da imagem. “Segundo Jameson, assim como a industrialização e a urbanização mudaram o ritmo e as feições da vida no século XIX, as linguagens midiáticas alteraram decisivamente os modos de vida atuais” 42. Basta observar com que propriedade os novos meios de comunicação em massa tomaram o dia a dia das pessoas. Pode-se considerar que a sociedade contemporânea não supõe mais a possibilidade de gerir seus interesses sem a presença de televisão, computadores, rádio e publicidade. Conforme afirma Fridman, estes meios suplantaram significativamente a cultura literária, demarcando com clareza a importância da imagem como meio de aceitação social.. A partir disso é que se estabelecem os novos padrões culturais da sociedade e, por assim dizer, as influências que regem a sociedade da mídia, por conseque nte, a religião da mídia. Para Daniel Galindo e Ana Cláudia Gusso a moda ganha, na modernidade, uma espaço expressivo na atividade social. Seja pelos meios de comunicação ou pelos meios de convivência, conquista pouco a pouco seu lugar de importância na vida das pessoas. Segundo os pesquisadores, “toma, cada vez mais, o imaginário das pessoas. 41 42. http://scholar.google.com.br/scholar?q=imagem+e+modernidade&hl=pt -BR&btnG=Pesquisar&lr= FRIDMAN, Ib, Idem..

(31) 31. e é na lógica do mundo “fashion”, que o espírito de ousadia, que garante aplauso e faz a vida se tornar como brincadeira, (pergunta): “Por que não brincar com o sagrado?43” O sagrado, segundo os autores, tem se integrado à sociedade de maneira diferente do habitual, através da imagem, pelo viés da moda. Eles consideram que A religiosidade está ganhand o espaço nas passarelas através de imagens de santos e santas estampadas e bordadas em diferentes peças de roupas, incluindo peças íntimas de lingeries. Sem contar no grande número de acessórios com temas divinos como os escapulários, que ganharam novas versões variadas e até se transformaram em jóias. São colares em forma de terço, crucifixos, brincos com santinhos pendurados e pulseiras pra todo tipo de fé ou gosto. O sagrado está tão na moda que já existem lojas especializadas no assunto, como é o caso da “Santa Vaidade”, localizada em Ipanema no Rio de Janeiro. A loja conta com o trabalho de uma designer que confecciona diversos tipos de acessórios envolvendo o sagrado. A “Santa Vaidade” vende cerca de mil escapulários por mês, com todo tipo de santo, n i spirados nos chamados colares de Nossa Senhora, muito usados antigamente pelos surfistas. Sandra Wajsros (de origem judaica), que desenvolve todo este trabalho, afirma que os santos estão cada vez mais em alta e que muitos clientes compram os acessórios apenas para acompanhar a moda44.. Se por um lado existe uma utilização da imagem de figuras do catolicismo em lojas especializadas, podemos verificar que, de igual modo, a imagem religiosa no ambiente protestante também tem sua força, basta avaliar os números desse “mercado”. De várias maneiras as personalidades do mundo protestante brasileiro alimentam este mercado, mas, a maioria dele se move graças aos “telepregadores” e aos “artistas gospel”. É um comércio intenso que encontra espaço nos intervalos dos louvores e pregações em programas de TV. Muitas igrejas também organizam pequenas lojas em seus halls de entrada. Trasferetti & Lima45, afirmam que pastores como Silas Malafaia chegam a vender 1 milhão de CDs e DVDs de pregação, afirmando 43. GALINDO, Daniel; GUSSO, Ana Cláudia. Quando o sagrado vira moda. In: Mídia e Religião na sociedade do Espetáculo/ organização de José Marques de Melo, Maria Cristina Gobbi, Ana Claudia Braun Endo. São Bernardo do Campo: Universidade Metodista de São Paulo, 2007, pg 63. 44 GALINDO & GUSSO. Quando o sagrado vira moda. Ib. Idem. pg. 63. 45 TRASFERETTI, José; LIMA, Márcia Érica de Oliveira. Marketing Religioso: Muito além do produto. In: Mídia e Religião na sociedade do Espetáculo/ organização de José Marques de Melo, Maria Cristina Gobbi, Ana Claudia Braun Endo. São Bernardo do Campo: Universidade Metodista de São Paulo, 2007..

(32) 32. que “naquilo que o homem pode resolver, Deus não move uma palha”. Além dele, figuram ‘vendendo’ suas imagens em capas de CDs e DVDs, outros nomes do ‘mundo gospel’ como Ana Paula Valadão46 (que segundo o autor é chamada de Sandy dos evangélicos), R.R. Soares, Silmar Coelho47.. Além dos que ‘vendem’ seus produtos, há também os que ‘vendem’ a versão evangélica de comportamentos da sociedade contemporânea numa adaptação de comportamentos seculares aos valores aceitáveis à religião. Uma maneira de fazer o que todo mundo faz com adequações que possibilitem o endosso da instituição religiosa que pertence. Disso, surgem os “Cristotecas” numa resposta à discoteca e, os “Eletrocristos” que assumem o papel dos DJs. Segundo Trasferetti & Lima, verifica-se, a partir desse contexto, eventos como bailes gospel que definem como ‘evangelização noturna da música eletrônica’. Onde eles tocam: todas as sextas-feiras a partir das 22h30 na Cristoteca, galpão localizado na rua Monsenhor Andrade, no Brás, centro de São Paulo, para até 1.500 frequentadores. Fazem também turnês pelo país e planejam organizar a primeira ‘rave cristã’ brasileira 48.. A ‘venda da imagem’ de sucesso e prosperidade também pode ser vista como um ‘proselitismo através da imagem’, já que a ‘vida com Deus’ também é tratada como produto de mercado. Essa ‘venda de imagem evangélica’, tem sido assunto do ambiente esportivo, especialmente depois da proibição, por parte da FIFA – Federação Internacional de Futebol, da ‘propaganda gospel’ nas camisetas dos atletas. Em matéria da Época, André Fontenelle mostra que o ápice que levou a tal decisão foi o encerramento da Copa das Confederações , em junho de 2009, na África do Sul Vencido o jogo contra os Estados Unidos, jogadores e membros da comissão técnica transformaram o gramado do Ellis Parck, em Johannesburgo, em altar. Evangélicos, católicos e adeptos de outras 46. Ana Paula Machado Valadão Bessa é pastora, apresentadora, cantora e compositora de música gospel. É líder do grupo Diante do Trono. Também é conhecida por suas pregações e profecias durante as apresentações do Diante do Trono http://pt.wikipedia.org/wiki/Ana_Paula_Valad%C3%A3o_Bessa . 47 Silmar Coelho é pastor da Igreja Metodista Wesleyana, autor de livros e conferencista. Cf. TRASFERETTI & LIMA, pg. 44. 48 TRASFERETTI & LIMA, Marketing Religioso: Muito além do produto. Ib. Idem. pg. 45..

(33) 33. confissões fizeram um círculo de oração e exibiram camisetas com dizeres como “Eu amo Jesus” e “Eu pertenço a Jesus”, em inglês 49.. O fato em si, talvez, possa ser considerado como uma simples manifestação de gratidão de pessoas religiosas a Deus, pela conquista de um campeonato. Por outro lado, pode representar também, uma forma de ‘evangelização’, pela associação da imagem de Deus à imagem de vencedores. O que, provavelmente, seja mais correto, é que a lógica da mídia, de vender imagens e conquistar mercado, esteja, intencionalmente ou não, sublinear. Nesta direção, Luciano Sathler50 acredita que a sociedade vive um momento marcado pela lógica do entretenimento de grande escala midiática e que o conhecimento passa, portanto, a ser construído por meio de imagens e emoções. Assim, as denominações que não conseguem projetar sua imagem nos holofotes da mídia, vêem seus templos ficarem vazios. Ao contrário do que acontecia no passado, onde as mensagens dos cultos eram centradas em análises aprofundadas na sociologia, história e teologia, hoje, elas precisam ser um atrativo que prendam a atenção através não somente da emoção, mas, sobretudo, através da imagem que passam. Nesse contexto complexo em que a religiosidade brasileira se encontra, procuramos demonstrar, entre outras questões, o ambiente líquido, conforme o conceito de Bauman, onde não se valoriza a solidez de reflexões mais densas ocasionando, especialmente, o que denominamos ‘religião da imagem’, proveniente de uma sociedade fortemente influenciada pela mídia onde o aparente e o visual tomam importância substancial. Nesta direção, a religiosidade corre o risco de se confundir, por exemplo, com a moda, que é fortemente influenciada por tendências, que, por sua vez, são fruto de 49. André Fontenelle, in Cartão vermelho para Deus. Revista Época nº589, de 31 de agosto de 2009– Editora Globo, pg. 112. 50 SATHLER, Luciano. Religião e entretenimento, aproximações contemporâneas. In: Mídia e Religião na sociedade do Espetáculo/ organização de José Marques de Melo, Maria Cristina Gobbi, Ana Claudia Braun Endo. São Bernardo do Campo: Universidade Metodista de São Paulo, 2007..

(34) 34. aspirações e desejos pessoais, emocionais. Assim, a imagem, aliada ao dinamismo do capitalismo favorece ainda mais ao aparecimento de conceitos incertos, líquidos e, até mesmo, voláteis. Isto gera uma re ligião ágil, como a imagem e hipotética, como a liquidez, fragmentada pelo surgimento das tendências que, como no mercado, precisam de rápida inovação para manter-se na crista da atenção social.. Interatividade Midiática e suas influências na Sociedade e na Religião. A interatividade tem sido uma expressiva estratégia de aumento de audiência para os meios de comunicação. De maneira mais evidente, na televisão, esta prática se confirma em programas como Big Brother Brasil, No Limite, da Rede Globo de Televisão, A Fazenda, da Rede Record de Televisão, ou mesmo os que têm características de envolvimento de pessoas comuns como O Aprendiz, da Rede Record ou Super Nany, e Troca de Família do SBT - Sistema Brasileiro de Televisão. Segundo o dicionário Houaiss 51, interagir significa exercer ação mútua (com algo), afetando ou influenciando o desenvolvimento ou a condição um do outro, como exemplo, alguns genes de bactérias interagem com os genes de várias plantas; a interface permite que dois dispositivos de um computador interajam um com o outro. Pode significar, também, comunicação, diálogo (com outrem) em dada situação (familiar, profissional etc.); comunicar-se, relacionar-se. Exemplo disso seria a interação de uma chefia com os funcionários ou o bebê e a mãe que interagem. Ainda teria relação com o compartilhar de determinada atividade ou trabalho com (outrem), como uma função que leva a interagir com profissionais de várias áreas ou atividade que leva os profissionais a interagirem. Pode representar também uma forma de intervir e. 51. Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa 1.0..

(35) 35. controlar o curso das atividades num programa de computador, num CD-ROM, num vídeo etc. Porém, ao se tratar de interatividade como via relacional, observam-se implicações mais profundas, sobretudo porque a influência da mídia passa a gerar novas significações às diferentes dinâmicas sociais. Num mundo de frequente intercambio de conceitos, onde emissores e receptores passam a formar juntos o pensamento social, o comprometimento de ambos os lados torna-se mais fortalecido, numa divisão de responsabilidades, onde a integração e a interatividade forjam, juntas, a prédica comum. Assim, não há mais quem simplesmente instrua, ou quem somente seja instruído, há, sim, uma relação de ensino e aprendizado, numa constante formação do que seja ideal, moral, esperado.. Este fato se mostra com clareza na mídia já que a interatividade se estabelece dinamizando relações e interesses. Para Patriota “as tecnologias de comunicação são geradoras de novas sociabilidades, que viabilizam processos sociais de significação e relações de sentido, que incluem necessariamente a produção/circulação/consumo de mensagens”.52 Para a pesquisadora, os meios de comunicação em massa conquistaram o poder de transformação social, pois ultrapassam fronteiras. Segundo ela, a mídia é uma instância de organização da identidade de um determinado grupo.. Além desse papel formativo e mantenedor de identidade, a mídia também é um órgão aberto à influência de quem influencia. Há uma interatividade que a faz estabelecer padrões e, ao mesmo tempo, ter seus valores transformados. Emissores e receptores vivem uma parceria na construção de verdades e conceitos sociais. Patriota 53 acredita que. Não podemos ignorar que na pós-modernidade, praticamente tudo passa pela mídia. Nela, há a manutenção e a sustentação de uma 52. PATRIOTA, Karla R. M. Pereira. Nós temos o que você precisa. In: Mídia e Religião na sociedade do Espetáculo/ organização de José Marques de Melo, Maria Cristina Gobbi, Ana Claudia Braun Endo. São Bernardo do Campo: Universidade Metodista de São Paulo, 2007. pg. 93. 53 PATRIOTA. Nós temos o que você precisa. Ib. Idem. pg. 95..

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