ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES
DEPARTAMENTO DE BIBLIOTECONOMIA E DOCUMENTAÇÃO
BRUNA BACALGINI
A CONTRIBUIÇÃO DO TEATRO AMADOR AO TEATRO
BRASILEIRO NO PERÍODO DE 1910 A 1960
São Paulo 2009
BRUNA BACALGINI
Nº USP 6437940
A CONTRIBUIÇÃO DO TEATRO AMADOR AO TEATRO
BRASILEIRO NO PERÍODO DE 1910 A 1960
Projeto de Pesquisa apresentado como
requisito para aprovação na disciplina CBD
0100
–
Orientação
à
Pesquisa
Bibliográfica, ministrada pela Profa. Dra.
Brasilina Passarelli.
São Paulo 2009
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO... 4
2. OBJETO... 5
2.1 JUSTIFICATIVA... 6
2.2 OBJETIVOS GERAIS... 6
2.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS... 6
3. QUADRO TEÓRICO... 7
4. METODOLOGIA... 10
5. CRONOGRAMA E RECURSOS... 11
6. COMENTÁRIOS E EXPECTATIVAS... 12
7. REFERÊNCIAS... 13
1. INTRODUÇÃO
A presente pesquisa se propõe a estudar e analisar o desenvolvimento do teatro amador no Brasil no período de 1910 a 1960, visando apresentar a formação do teatro brasileiro não apenas sob o ponto de vista das companhias e grupos de teatro profissionais, mas de diversas fontes e iniciativas. O teatro não foi produzido apenas por profissionais, mas também por pessoas comuns, interessadas no meio cênico, figura representada pelos amadores. Nesse sentido, se o teatro brasileiro não foi construído apenas por companhias e grupos profissionais porque não discutir também o teatro amador? Questiona-se a história oficial, procurando expor o teatro brasileiro sobre outro enfoque: o dos amadores.
Para se atingir tal objetivo, será feito levantamento bibliográfico e de sites sobre companhias teatrais, espetáculos e iniciativas realizadas no período de 1910 a 1960. Esse recorte temporal foi eleito, pois as primeiras articulações significativas de amadores começaram nos anos 1910 a 1920, ao longo dos anos 1930 a meados de 1940 surgiram diversos empreendimentos de amadores que trouxeram avanços técnicos, estéticos e de repertório a cena teatral brasileira e finalmente na década de 50 do século XX encontra-se companhias, diretores, atores e profissionais que eram oriundos do amadorismo e nessa época concretizam ações de renovação no meio cênico brasileiro. Será realizada também pesquisa em obras de teóricos e estudiosos de teatro como: Décio de Almeida Prado, Renata Palottini, Sábato Magaldi, Maria Thereza Vargas e Fernando Peixoto a fim de obter bases que dêem sustentação teórica ao projeto. Após esse levantamento, será feito cruzamento das informações encontradas, análise dessas informações e correlação das mesmas com os teóricos escolhidos para a abordagem do amador na cena brasileira.
Como há grande dispersão de fontes bibliográficas e dados sobre teatro no Brasil, principalmente, em relação ao teatro amador brasileiro, pode ser necessário e útil para estudantes, profissionais e interessados em teatro a iniciativa de estudos e pesquisas que procurem reunir as diversas informações espalhadas e fragmentadas sobre teatro brasileiro, focando-se numa abordagem mais plural sobre a cena teatral no Brasil, revelando os diferentes lados que auxiliaram o desenvolvimento do teatro brasileiro.
2. OBJETO
O teatro é expressão artística e cultural, evidencia e relaciona-se com determinado contexto histórico, político, econômico, social e cultural. O teatro assumiu diversas funções ao longo da história no Brasil e foi produzido por diferentes grupos sociais e autoridades: apropriado como instrumento político e moralizador pelo Estado e Igreja; religioso e catequético pelos jesuítas no século XVI; meio de resistência cultural como também comunicação e discussão de pensamentos, valores, opiniões e reivindicações ao longo do século XX, além de ser uma forma de lazer e sociabilidade.
O teatro amador reúne pessoas motivadas em produção de peças e apresentações teatrais impulsionadas por interesse e gosto pelo teatro sem preocupações financeiras. Este teatro é diferente pois, por não ser profissional, não tem compromissos com bilheterias, prazos ou recursos financeiros imediatos, assim, há maior espaço e tempo para experimentação e dedicação. Segundo o Dicionário do Teatro Brasileiro (GUINSBURG; FARIA; LIMA, 2006, p.22) [1] :
O teatro amador, como a designação indica, é aquele praticado por um grupo de pessoas que apreciam o teatro (...), mas sem tirar dele proveito econômico. Em caso de lucro, a importância cobrirá os gastos da montagem ou será encaminhada para entidades previamente escolhidas.
O teatro amador é caracterizado por agregar diversos aspectos, funções e produtores, podendo ser:
Realizado apenas por entretenimento e lazer;
Produzido por comunidades imigrantes para comunicação e preservação de suas culturas, promoção de momentos de sociabilidade, reflexão, discussão ou reivindicação de algum tópico;
Feito por estudantes e universitários com propósitos de pesquisa, experimentação e debate;
Produzido por grupos de pessoas interessados em renovação de técnicas, linguagens, temas e estéticas, procuram “(...) acrescentar, revolucionar ou, no mínimo, refletir sobre a arte do teatro” (ibid, p.23)
Esta pesquisa tem o intuito de estudar o teatro amador feito por estudantes, universitários, comunidade de imigrantes e especificamente de grupos engajados em montagem de apresentações para incorporar novidades ao teatro brasileiro.
2.1 Justificativa
Além da dispersão de fontes e dados sobre história e formação do teatro brasileiro, há poucos trabalhos sobre o tema teatro amador e a história do teatro brasileiro é na maioria das vezes apresentada apenas na perspectiva das companhias teatrais profissionais, dessa forma, pode ser útil e relevante esta pesquisa no intuito de oferecer uma bibliografia inicial do tema, reunir informações dispersas, servir de fôlego/base inicial a futuros estudos e pesquisas de interessados sobre o tema teatro e também para apresentar a história do teatro brasileiro sob pontos de vista pouco explorados.
2.2 Objetivos gerais
Mostrar a atuação do teatro amador brasileiro, ressaltando sua importância para a introdução de novas técnicas, ideias, mentalidades, linguagens e repertórios no teatro brasileiro. Sendo assim, pretende-se abordar a formação do teatro brasileiro no período de 1910 a 1960 sob a perspectiva dos amadores.
2.3 Objetivos específicos
Apontar companhias e grupos teatrais amadores que renovaram a cena teatral no Brasil;
Mostrar algumas companhias teatrais amadoras que influenciaram a consolidação de companhias profissionais de teatro;
Evidenciar que a trajetória de algumas pessoas que marcaram a história do teatro passou antes pelo amadorismo;
Apresentar a contribuição de amadores nas suas especificidades, por exemplo: os imigrantes tiveram atuação diferente dos universitários.
Os amadores entre os anos 1900 e 1920, segundo Renata Palottini, apresentavam diversos espetáculos e publicações, havia “dezenas de grupos de amadores com atividades regulares e comprovadas. E essas atividades eram de tal ordem que, em 1908, vinha à luz um quinzenário, O Amador Dramático, dedicado exclusivamente à classe” (PALOTTINI, 1974, p.76) [2]. Nesses 20 anos os amadores começaram a desempenhar suas produções com maior frequência, deixando de ser uma atividade esporádica e pontual.
O teatro brasileiro até os anos 1940 sofria com a falta de encenações de diferentes tipos de gêneros. Com exceção de algumas ações isoladas, a comédia imperava nos palcos. Ana Bernstein, crítica e pesquisadora de teatro, relata que:
As escassas tentativas de representação de gêneros ‘sérios’ como o drama, deviam-se aos grupos amadores, provenientes de clubes, grêmios, círculos dramáticos e associações de teatro (...) Como não havia escolas [até fins dos anos 1940], a renovação dos quadros profissionais devia-se, quase sempre, à incorporação de elementos oriundos do teatro amador.Começa a se afirmar, com estes grupos, uma nova mentalidade teatral. (2005, p.44) [3]
A partir dos anos 1930, o processo de industrialização começou a se intensificar em São Paulo, a acumulação de capital proveniente das exportações de café impulsionou a industrialização da cidade. A urbanização e o crescimento populacional junto com o fortalecimento da economia paulista com as indústrias mudaram o perfil da cidade: de provincial para urbano. Os imigrantes vindos para suprir a demanda por mão de obra, estabeleciam-se geralmente em bairros operários como Brás, Mooca, Barra Funda e eram nesses espaços que criavam seus laços de sociabilidade, organizavam-se em torno de uma causa, elaboravam seus momentos de lazer, trazendo um novo tom à São Paulo. As diversões públicas como teatro, danças, espetáculos musicais, produzidas por profissionais, faziam parte da vida das classes mais abastadas e não a dos imigrantes, pois estes não dispunham de recursos financeiros suficientes para participar destes eventos. Tal fato mobilizou os imigrantes para a criação de seus próprios meios e espaços de lazer, encontro e diversão.
O teatro possibilitava a interação com várias pessoas, dialogar, veicular valores e comunicarem-se. Por essas características, o teatro ganhou relevância na vida cultural dos imigrantes. Interessante notar que, com a atuação dos imigrantes no teatro amador, o teatro brasileiro assumiu outras formas e significações, renovando-se:
(...) desenvolveu-se um teatro com características próprias, feito por italianos e dirigido principalmente à coletividade italiana. Portadores das mais variadas ideias (...) , enérgicos e lutadores em grande parte libertários, foram os imigrantes – segundo Franco Cenni, em seu livro Italianos no Brasil – que conseguiram romper as ‘invisíveis fronteiras que tolhiam o passo a uma renovação (...) (MAGALDI; VARGAS, 2000, p.32) [4]
Em 1927, Eugênia e Álvaro Moreyra fundam o Teatro de Brinquedo, uma tentativa de trazer ao teatro brasileiro novos conceitos estéticos teatrais. Chamado de brinquedo, pois o cenário imitava caixas de brinquedo, o grupo teatral era formado por amadores do Rio de Janeiro. A primeira peça apresentada foi a comédia Adão, Eva e outros membros da família de autoria do próprio Álvaro Moreyra, a qual critica as incoerências da sociedade capitalista com a história de um ladrão e um mendigo, em que o primeiro vira capitalista e o segundo dono de jornal (CACCIAGLIA, 1986) [5]. Moreyra pretendia que o teatro deixasse de ter um foco comercial para assumir um viés mais popular: “que fizesse sorrir e ao mesmo tempo pensar” (ibid, p.100). Magaldi e Vargas relatam como o Teatro de Brinquedo foi visto na época: “O Teatro de Brinquedo é saudado como uma bela tentativa de amadores, que já é uma realidade vitoriosa, capaz de influir seriamente na evolução do nosso meio cênico” (2000, p.113) [4] . Apesar da curta duração (menos de 2 anos) do Teatro de Brinquedo, este traz ao teatro novas técnicas, como por exemplo, o fim da marcação para a livre movimentação dos atores no palco (ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL DE TEATRO, 2009) [6] que são incorporadas por outros grupos e companhias teatrais. Mesmo com a breve existência desse grupo, mostra-se a atuação dos amadores no sentido de inovar o meio cênico brasileiro.
Deus lhe pague, peça de Joracy Camargo e encenada por Procópio Ferreira em 1932, considerada como “a primeira peça brasileira efetivamente social” (COSTA, 2006, p.111) [7] torna Camargo aclamado pelo público e críticos. A peça aborda a história de um falso mendigo (na verdade milionário), denunciando e criticando as desigualdades sociais e a sociedade burguesa. Cacciaglia (1986) [5], afirma que qualquer semelhança de Deus lhe pague com Adão, Eva e outros membros da família não é mera coincidência. Joracy Camargo fez parte da equipe do Teatro de Brinquedo e de certa forma o Joracy recebe influências do amadorismo, assim, sem deixar de lado suas contribuições individuais ao teatro brasileiro, Joracy Camargo empregou alguns elementos do teatro amador na sua carreira, a qual marcou profundamente a história do teatro brasileiro.
Paralelamente, surgia em 1938, “Os Comediantes”, companhia teatral amadora carioca, que finalmente pôs o teatro brasileiro no movimento Modernista. Fundada por Luísa
encenações, deixando de lado o ator como o centro do espetáculo (SOUSA, 1968) [8]. Para Almeida Prado, Os Comediantes e o Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) deram um “tranco”, um impulso ao teatro brasileiro e o colocou “a par das fórmulas modernas” (PRADO, 1975, p.144) [9]. O TBC foi uma companhia profissional teatral, criado em 1948 pela fusão do Grupo de Teatro Experimental e do Grupo de Teatro Universitário, ambos vindos do movimento amadorístico (PALOTTINI, 1974) [2]. É considerado divisor de águas no meio cênico: antes do TBC o teatro era de improviso, após o teatro ganhou maior estabilidade, introduz uma maior preocupação com a função social do teatro, novos procedimentos para elaboração de cenários e escolha de textos contemporâneos como os de Sartre (COSTA,2006) [7]. Apesar de ser uma companhia profissional é oriunda do amadorismo, o qual trouxe contribuições junto com outras fontes de renovação (como estrangeiros e profissionais) para a consolidação do teatro como arte e expressão no Brasil.
A constituição do teatro brasileiro não se deu apenas no eixo São Paulo - Rio de Janeiro, o Teatro de Amadores de Pernambuco (TAP) foi e é expoente de criação no Nordeste. O TAP continua suas atividades desde sua fundação em 1941 por Valdemar de Oliveira no Recife. Uma de suas principais contribuições é a variedade de repertórios que traz à cena teatral brasileira, “cria e mantém com sucesso um ‘teatro de cultura’, aliando ‘amadorismo teatral à filantropia’ e mudando a fisionomia do teatro pernambucano” (ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL DE TEATRO, 2009) [6].
A constituição e a evolução do teatro brasileiro apontam que não existe um teatro, mas vários teatros, conceito que permeia a obra de Fernando Peixoto em O que é teatro? (2003) [10], assim, presencia-se que não há como apresentar um quadro único do teatro, pois foi construído por diferentes perspectivas e motivações, falar de teatro é falar de pluralidade.
4. METODOLOGIA
A pesquisa é qualitativa, caracteriza-se como estudo teórico. Para início de pesquisa será feito levantamento bibliográfico e de sites, a fim de encontrar: dados de companhias, pessoas e espetáculos vindos do amadorismo e obras de teóricos da área teatral, além disso, será realizado um estudo sob o período coberto 1910 a 1960, com intuito de obter bases para analisar os dados encontrados dentro de um contexto histórico.
A busca de informações na literatura se restringe a conteúdos relacionados ao teatro brasileiro, portanto, esta pesquisa não abordará teatro amador produzido em outros países, sendo que a cobertura temporal é de 1910 a 1960. As informações coletadas serão comparadas e analisadas junto com conteúdos e conceitos encontrados em obras de teóricos, para posterior reflexão e discussão dos resultados encontrados.
Cronograma de 24 meses
Legenda: 09 = representa o ano de 2009 10 = representa o ano de 2010 11 = representa o ano de 2011
Recursos a serem utilizados: fotocópias, computadores. Haverá gastos com idas a bibliotecas e centros de documentação e com a impressão do trabalho.
6. COMENTÁRIOS E EXPECTATIVAS
O tema proposto abre margem a maiores discussões e reflexões, percebe-se que o pesquisador não consegue finalizar a pesquisa, apenas abre caminhos e possibilidades, permitindo a análise do universo eleito por outros olhares. Espera-se que esta pesquisa ganhe mais fôlego inclusive com a iniciativa de outros pesquisadores neste tipo de projeto.
Vislumbrando a continuidade desta pesquisa, pode-se ampliar buscas e fontes de informações em consultas a documentos de arquivos históricos, principalmente em jornais produzidos no período coberto. Percebeu-se, no levantamento bibliográfico, citações a jornais que noticiavam apresentações de grupos teatrais amadores, este tipo de dado pode trazer referências a nomes de outras companhias teatrais amadoras, informações sobre o número de peças apresentadas em um ano, possibilitando encontrar mais dados quantitativos sobre o tema.
[1] GUINSBURG, Jacó; FARIA, João Roberto; LIMA, Mariangela Alves de. Dicionário do Teatro Brasileiro: Temas, Formas e Conceitos. São Paulo: Perspectiva; SESCSP, 2006. [2] PALOTTINI, Renata. Amor ao amador. Argumento, s.l, v. 1 , n. 3, p. 75-80, jan. 1974. [3] BERNSTEIN, Ana. A crítica cúmplice: Décio de Almeida Prado e a formação do teatro brasileiro moderno. São Paulo: Instituto Moreira Sales, 2005.
[4] MAGALDI, Sábato; VARGAS, Maria Thereza. Cem anos de teatro em São Paulo (1875-1974).São Paulo: Editora SENAC São Paulo, 2000.
[5] CACCIAGLIA, Mario. Pequena história do teatro no Brasil: quatro séculos de teatro no Brasil. São Paulo: T. A. Queiroz; EDUSP, 1986.
[6] ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL DE TEATRO. 2009. Disponível em: < http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_teatro/index.cfm>. Acesso em:
22.Nov.2009.
[7] COSTA, Maria Cristina Castilho. Censura em Cena. São Paulo: EDUSP, FAPESP, Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2006
[8] SOUSA, José Galante de. O teatro no Brasil. Rio de Janeiro: INL, 1968.
[9] PRADO, Décio de Almeida. O teatro. In: ÁVILA, Affonso. O Modernismo. São Paulo: Perspectiva, 1975.