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Márcio André Lopes Cavalcante ÍNDICE

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Academic year: 2021

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Márcio André Lopes Cavalcante

Todos os julgados foram comentados.

ÍNDICE

DIREITO CIVIL

RESPONSABILIDADE CIVIL

 Termo final de pensão mensal por ato ilícito com resultado morte.

 Responsabilidade da instituição financeira por danos decorrentes de desvios de valores feitos por gerente de conta bancária.

CONTRATO DE LOCAÇÃO

 Período de incidência do valor estipulado em ação revisional de aluguel de imóvel não residencial.  Processamento de ação de despejo cumulada com cobrança de aluguéis durante o recesso forense. INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE

 Legitimidade da viúva para impugnar ação de investigação de paternidade post mortem. PETIÇÃO DE HERANÇA

 Ilegitimidade da viúva meeira para figurar no polo passivo de ação de petição de herança.

DIREITO DO CONSUMIDOR CLÁUSULAS ABUSIVAS

 Nulidade de cláusula de renúncia à entrevista qualificada para contratar plano de saúde. PLANO DE SAÚDE

 Migração de plano de saúde coletivo empresarial para plano individual ou familiar e inexistência de direito de que o valor da mensalidade permaneça o mesmo.

DIREITO EMPRESARIAL CONTRATOS EMPRESARIAIS

 Vedação de repasse ao sacado de despesas referentes a tarifa de emissão de boleto bancário. PROPRIEDADE INDUSTRIAL

 Termo inicial para o pagamento da retribuição quinquenal prevista no art. 120 da Lei 9.279/96. RECUPERAÇÃO JUDICIAL

 Não sujeição a recuperação judicial de direitos de crédito cedidos fiduciariamente.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL DEPOSITÁRIO JUDICIAL

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ATO ATENTATÓRIO À DIGNIDADE DA JUSTIÇA

 Aplicação da multa do art. 774, IV, do CPC 2015 é restrita ao processo de execução. MANDADO DE SEGURANÇA

 Prazo decadencial para impetrar MS contra redução de vantagem de servidor público.

 Efeitos financeiros da concessão de ordem mandamental contra ato de redução de vantagem de servidor público.

DIREITO PENAL

EXERCÍCIO ILEGAL DA MEDICINA

 Atipicidade penal do exercício da acupuntura. EVASÃO DE DIVISAS

 Não se aplica o princípio da insignificância para remessa de divisas por meio de dólar-cabo ainda que em valores inferiores a 10 mil reais.

 Complexidade do esquema criminoso como circunstância negativa na dosimetria da pena.

DIREITO PROCESSUAL PENAL REVISÃO CRIMINAL

 Revisão criminal na hipótese em que a questão atacada também tenha sido enfrentada pelo STF em HC.

DIREITO TRIBUTÁRIO IPI

 Direito ao creditamento de IPI em caso de aquisição de matéria-prima tributada e saída do produto desonerada.

DIREITO CIVIL

RESPONSABILIDADE CIVIL

Termo final de pensão mensal por ato ilícito com resultado morte

O fato de a vítima de ato ilícito com resultado morte possuir, na data do óbito, idade superior à expectativa média de vida do brasileiro não afasta o direito de seu dependente econômico ao recebimento de pensão mensal, que será devida até a data em que a vítima atingiria a expectativa de vida prevista na tabela de sobrevida (Tábua Completa de Mortalidade) do IBGE vigente na data do óbito, considerando-se, para os devidos fins, o gênero e a idade da vítima. STJ. 3ª Turma. REsp 1.311.402-SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 18/2/2016 (Info 578).

Imagine a seguinte situação hipotética:

Carlos, de forma culposa, atropelou João, causando-lhe a morte.

Diante disso, Maria, viúva de João, ajuizou ação de indenização por danos morais e materiais contra Carlos. O juiz julgou procedente a demanda e condenou o réu a pagar em favor da viúva:

a) as despesas que ela realizou com o funeral da vítima; b) pensão mensal de 1 salário mínimo;

c) indenização por danos morais no valor de 100 salários mínimos.

Tese do réu (recorrente)

O réu interpôs recurso questionando unicamente a condenação "b" (pensão mensal).

O recorrente argumentou que, realmente, segundo a jurisprudência, em caso de morte, será devida pensão mensal aos dependentes do falecido. No entanto, esta pensão deve durar até a data em que a vítima provavelmente iria falecer caso não tivesse ocorrido o acidente. Esta data é calculada com base na

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tabela de expectativa de vida do IBGE. Assim, por exemplo, a tabela do IBGE afirma que a expectativa de vida do brasileiro é de 72 anos. Se a vítima morreu com 52 anos, isso significa que seus dependentes irão receber a pensão por mais 20 anos.

No caso concreto, contudo, quando João morreu, a expectativa de vida do IBGE era de 72 anos e João já possuía 76 anos. Logo, Carlos argumentou que a viúva não teria direito à pensão, tendo em vista que João morreu depois da idade considerada como expectativa de vida.

A tese do réu foi aceita pelo STJ?

NÃO.

O fato de a vítima de ato ilícito com resultado morte possuir, na data do óbito, idade superior à expectativa média de vida do brasileiro não afasta o direito de seu dependente econômico ao recebimento de pensão mensal, que será devida até a data em que a vítima atingiria a expectativa de vida prevista na tabela de sobrevida (Tábua Completa de Mortalidade) do IBGE vigente na data do óbito, considerando-se, para os devidos fins, o gênero e a idade da vítima.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.311.402-SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 18/2/2016 (Info 578). Na jurisprudência nacional, é assente o entendimento de que, nos casos em que há acidente com morte, cabe, como forma de reparar o dano material sofrido, entre outras medidas, a fixação de pensão mensal a ser paga ao dependente econômico da vítima.

Nos casos em que a vítima é jovem, a orientação do STJ é a de que referida obrigação deve perdurar até a data em que a vítima vier a atingir a idade correspondente à expectativa média de vida do brasileiro na data do óbito.

No entanto, este mesmo critério não pode ser utilizado como forma de obstar (negar) o direito daquele que é dependente econômico de vítima cuja idade era superior à expectativa média de vida do brasileiro na data do falecimento, na medida em que representaria a adoção do entendimento segundo o qual, quando a vítima tivesse superado a expectativa média de vida do brasileiro, o seu dependente econômico direto simplesmente não teria direito ao ressarcimento material representado pelo pensionamento, o que não seria razoável.

O direito à pensão mensal surge exatamente da necessidade de reparação por dano material decorrente da perda de ente familiar que contribuía com o sustento de quem era economicamente dependente até o momento do óbito.

Nesse contexto, o fato de a vítima já ter ultrapassado a idade correspondente à expectativa média de vida do brasileiro, por si só, não é óbice ao deferimento do benefício, pois muitos são os casos em que referida faixa etária é ultrapassada. Em outras palavras, esta é uma tabela de expectativa de vida, mas não significa que a pessoa não possa viver mais que isso.

Mas qual será, então, o critério a ser adotado para fixar o termo final da pensão? Até quando a viúva irá receber a pensão mensal?

Neste caso em que a vítima já possuía mais idade do que a expectativa de vida, deverá ser utilizado como critério a tabela de sobrevida (Tábua Completa de Mortalidade correspondente ao gênero da vítima) do IBGE em vigência na data do óbito.

Com base nesta tabela, pode-se fixar a expectativa de vida da vítima e, consequentemente, consegue-se estabelecer o termo final da pensão.

Ex: nesta tabela, que está disponível no site do IBGE, é possível verificar, em relação ao ano de 2005, que para o adulto de 76 anos do sexo masculino, havia uma expectativa de vida de mais 10,3 anos. Somando-se, pois, esses anos à idade da vítima, teríamos uma expectativa de vida total de 86,3 anos. Logo, o réu deveria pagar pensão à viúva até o ano em que a vítima completaria 86,3 anos de idade.

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RESPONSABILIDADE CIVIL

Responsabilidade da instituição financeira por danos decorrentes

de desvios de valores feitos por gerente de conta bancária

A instituição financeira deverá restituir os valores desviados por gerente que, conquanto tivesse autorização do correntista para realizar aplicações financeiras, utilizou-se das facilidades de sua função para desviar, em proveito próprio, valores constantes da conta bancária do cliente.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.569.767-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 1º/3/2016 (Info 578).

Imagine a seguinte situação adaptada:

Rodrigo era jogador de futebol e atuava em um clube da Europa.

Ele abriu uma conta no banco X em Porto Alegre (RS), onde morava antes de ir jogar no exterior.

O jogador depositava, frequentemente, parte do salário que recebia nesta conta bancária, com o intuito de utilizar o dinheiro no futuro, quando voltasse ao Brasil.

Rodrigo era amigo do gerente da agência bancária e este ficava responsável por administrar o dinheiro do jogador, fazendo supostos investimentos em aplicações.

Ao retornar ao Brasil, Rodrigo percebeu que havia sido vítima de um golpe.

O gerente não investia os valores remetidos pelo jogador. Ao contrário, desviava-os para uma conta bancária sua.

Rodrigo ajuizou ação de indenização contra o banco que, em sua defesa, alegou que o cliente deu autorização para o gerente realizar os investimentos e que este agiu de forma arbitrária, contra as normas da instituição financeira.

Diante deste cenário, Rodrigo terá direito de ser indenizado pelo banco?

SIM.

A instituição financeira deverá restituir os valores desviados por gerente que, conquanto tivesse autorização do correntista para realizar aplicações financeiras, utilizou-se das facilidades de sua função para desviar em proveito próprio valores constantes da conta bancária do cliente.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.569.767-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 1º/3/2016 (Info 578). Tendo o gerente se utilizado das facilidades da função para desviar valores da conta do cliente, deve o banco, como empregador, responder pelos danos materiais causados, nos termos do art. 932, III, do CC: Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil:

III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele;

O banco deverá indenizar mesmo o gerente tendo atuado fora dos limites de suas atribuições?

SIM. A doutrina, ao interpretar a expressão "em razão dele" prevista no art. 932, III, do CC, confere uma interpretação extensiva para abranger casos em que o vínculo com o trabalho é bastante tênue. A título de exemplo, confira-se a doutrina de Sérgio Cavalieri Filho:

"Diferentemente de outros países, basta que o dano tenha sido causado em razão do trabalho – importando, isso, dizer que o empregador responde pelo ato do empregado ainda que não guarde com suas atribuições mais do que simples relação incidental, local ou cronológica. Na realidade, a fórmula do nosso Código Civil é muito ampla e bastante severa para o patrão. Bastará que a função tenha oferecido ao preposto a oportunidade para a prática do ato ilícito; que a função tenha lhe proporcionado a ocasião para a prática do ato danoso. E isso ocorrerá quando, na ausência da função, não teria havido a oportunidade para que o dano acontecesse." (Programa de Responsabilidade Civil. 9ª ed. São Paulo: Atlas, 2010, p. 203)

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CONTRATO DE LOCAÇÃO

Período de incidência do valor estipulado em ação revisional

de aluguel de imóvel não residencial

O valor estabelecido em ação revisional de aluguel de imóvel não residencial não tem sua incidência limitada ao período compreendido entre a citação e o termo final do contrato original de locação, devendo incidir até a efetiva entrega das chaves caso a locação venha a ser prorrogada por prazo indeterminado em razão da permanência do locatário no imóvel (art. 56, parágrafo único, da Lei nº 8.245/91).

STJ. 3ª Turma. REsp 1.566.231-PE, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 1º/3/2016 (Info 578).

Imagine a seguinte situação hipotética:

A empresa "A" era proprietária do imóvel "X", que estava alugada para a empresa "B".

O contrato de locação tinha vigência de 10 anos (iniciou em março/2005 e só terminaria em março/2015). O valor do aluguel era o mesmo desde o início da vigência do contrato e a locatária não aceitava reajustá-lo. Diante disso, em 2013, a empresa "A", ajuizou ação revisional de aluguel objetivando readequar o valor do contrato, que estava defasado.

O pedido da autora foi baseado no art. 19 da Lei nº 8.245/91:

Art. 19. Não havendo acordo, o locador ou locatário, após três anos de vigência do contrato ou do acordo anteriormente realizado, poderão pedir revisão judicial do aluguel, a fim de ajustá-lo ao preço de mercado.

O art. 19 da Lei nº 8.245⁄1991, ao regular a possibilidade de revisão judicial do aluguel avençado, a fim de ajustá-lo ao preço de mercado, "consagrou a adoção da teoria da imprevisão no âmbito do Direito Locatício, oferecendo às partes contratantes um instrumento jurídico para a manutenção do equilíbrio econômico do contrato" (AgRg no REsp nº 1.206.723/MG, Rel. Min. Jorge Mussi, DJe de 11/10/2012). Vale ressaltar que o valor do aluguel era de R$ 10 mil e a autora queria fixá-lo em R$ 30 mil.

O juiz julgou o pedido procedente e, com base em laudo pericial, fixou o valor do aluguel mensal em R$ 30 mil, condenando a ré/locatária (empresa "B") a pagar este novo valor de forma retroativa à data da citação. A ré interpôs recurso de apelação contra a sentença.

Enquanto o recurso não é julgado, a ré já terá que pagar o novo valor fixado na sentença (R$ 30 mil)?

SIM. Segundo a Lei do Inquilinato (Lei nº 8.245/91), os recursos interpostos contra a sentença que julga ação revisional de aluguel devem ser recebidos apenas no efeito devolutivo:

Art. 58. Ressalvados os casos previstos no parágrafo único do art. 1º, nas ações de despejo, consignação em pagamento de aluguel e acessório da locação, revisionais de aluguel e renovatórias de locação, observar-se-á o seguinte:

(...)

V - os recursos interpostos contra as sentenças terão efeito somente devolutivo.

Dessa forma, mesmo enquanto aguarda o recurso, a ré já terá que pagar o novo valor fixado na sentença (R$ 30 mil).

Chegou ao fim o prazo de vigência do contrato

Suponha que chegou o termo final do contrato (março/2015), mas mesmo assim a locatária (empresa "B") decidiu permanecer no imóvel sem oposição formal do locador ("A").

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Neste caso, o contrato, que era por prazo determinado, tornou-se indeterminado, nos termos do parágrafo único do art. 56:

Art. 56. Nos demais casos de locação não residencial, o contrato por prazo determinado cessa, de pleno direito, findo o prazo estipulado, independentemente de notificação ou aviso.

Parágrafo único. Findo o prazo estipulado, se o locatário permanecer no imóvel por mais de trinta dias sem oposição do locador, presumir-se-á prorrogada a locação nas condições ajustadas, mas sem prazo determinado.

Aí, no entanto, surgiu mais uma polêmica. A empresa "B" (locatária) fez o seguinte: a partir do momento em que o contrato tornou-se por prazo indeterminado, ela voltou a pagar somente R$ 10 mil de aluguel, argumentando que, conforme estabelece o parágrafo único acima transcrito, a locação foi prorrogada "nas condições ajustadas" e, segundo o contrato, o valor era de apenas R$ 10 mil. O valor de R$ 30 mil não estava previsto no contrato, sendo pago por força de decisão judicial.

A tese da locatária foi aceita pelo STJ?

NÃO.

O valor estabelecido em ação revisional de aluguel de imóvel não residencial não tem sua incidência limitada ao período compreendido entre a citação e o termo final do contrato original de locação, devendo incidir até a efetiva entrega das chaves caso a locação venha a ser prorrogada por prazo indeterminado em razão da permanência do locatário no imóvel (art. 56, parágrafo único, da Lei Nº 8.245/91).

STJ. 3ª Turma. REsp 1.566.231-PE, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 1º/3/2016 (Info 578). Nas hipóteses de prorrogação de contrato por prazo indeterminado, o locatário deverá observar o valor reajustado do aluguel. Isso porque a razão de ser da revisão de aluguéis é justamente assegurar a manutenção do equilíbrio do contrato de locação diante das modificações da realidade do mercado, a fim de evitar injusto prejuízo ou enriquecimento sem causa a ambas as partes.

Seria ilógico admitir que o Poder Judiciário apontasse o novo valor dos aluguéis para o período de vigência do contrato de locação, mas tal valor fosse desconsiderado em caso de prorrogação da avença por prazo indeterminado.

Desse modo, uma vez reajustado o valor do aluguel por meio do ajuizamento de ação revisional, é o valor revisado, e não o originalmente pactuado, que será devido na hipótese de prorrogação da avença perpetrada nos moldes do previsto no parágrafo único do art. 56 da Lei nº 8.245/91.

CONTRATO DE LOCAÇÃO

Processamento de ação de despejo cumulada com cobrança de aluguéis durante o recesso forense

A Lei nº 8.245/91 prevê que alguns processos envolvendo locações urbanas tramitam mesmo durante as férias forenses e não se suspendem mesmo neste período (art. 58, I). São eles: a) ações de despejo; b) ações de consignação em pagamento de aluguel e acessório da locação; c) ações revisionais de aluguel; d) ações renovatórias de locação.

A ação de despejo cumulada com ação de cobrança de alugueis irá tramitar durante as férias forenses? Não. A ação de despejo enquadra-se no art. 58, I, mas a ação de cobrança não. Assim, a partir do momento em que o autor ajuíza ambas, de forma cumulada, a situação não mais se amolda ao dispositivo legal acima mencionado.

Em suma, nos casos em que há cumulação da ação de despejo com a cobrança de aluguéis, os prazos processuais (inclusive para recursos) ficam suspensos durante o recesso forense. STJ. 3ª Turma. REsp 1.414.092-PR, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 1º/3/2016 (Info 578).

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Tramitação durante as férias forenses

Em regra, durante as férias forenses (recesso forense do final do ano), os processos e prazos judiciais ficam suspensos.

A Lei nº 8.245/91 prevê, no entanto, que alguns processos envolvendo locações urbanas tramitam mesmo durante as férias forenses e não se suspendem mesmo neste período (art. 58, I). São eles:

 Ações de despejo;

 Ações de consignação em pagamento de aluguel e acessório da locação;

 Ações revisionais de aluguel;

 Ações renovatórias de locação.

Se o locador ajuíza contra o locatário ação de despejo cumulada com ação de cobrança de aluguéis, esta demanda se enquadrará no art. 58, I, da Lei nº 8.245/91? Em outras palavras, a ação de despejo cumulada com ação de cobrança de alugueis irá tramitar durante as férias forenses?

NÃO. A ação de despejo enquadra-se no art. 58, I, mas a ação de cobrança não. Assim, a partir do momento em que o autor ajuíza ambas, de forma cumulada, a situação não mais se amolda ao dispositivo legal acima mencionado.

Portanto, o processo que envolve ação de despejo cumulada com cobrança de aluguéis não tramita durante o recesso forense. Este processo ficará suspenso. Foi o que decidiu o STJ:

Nos casos em que há cumulação da ação de despejo com a cobrança de aluguéis, o prazo recursal fica suspenso durante o recesso forense.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.414.092-PR, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 1º/3/2016 (Info 578).

INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE

Legitimidade da viúva para impugnar ação de investigação de paternidade post mortem

Importante!!!

Mesmo nas hipóteses em que não ostente a condição de herdeira, a viúva poderá impugnar ação de investigação de paternidade post mortem, devendo receber o processo no estado em que este se encontra.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.466.423-GO, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 23/2/2016 (Info 578).

Imagine a seguinte situação hipotética:

João, casado com Maria, morreu e deixou dois filhos que estão registrados em seu nome: Pedro e Tiago. Um mês após a morte, apareceu Lucas afirmando que João era também seu pai biológico, apesar de nunca tê-lo registrado.

Se João ainda estivesse vivo, contra quem deveria ser proposta a ação? Contra quem é proposta a ação de investigação de paternidade?

Contra João. A ação de investigação de paternidade deve ser proposta em face do suposto pai.

E neste caso, em que João já está morto, contra quem Lucas terá que ajuizar a ação? Quem deverá figurar obrigatoriamente no polo passivo da ação de investigação de paternidade post mortem?

A ação de investigação de paternidade post mortem deve ser proposta contra os herdeiros do suposto pai. Isso é o que está previsto no art. 27 do ECA:

Art. 27. O reconhecimento do estado de filiação é direito personalíssimo, indisponível e imprescritível, podendo ser exercitado contra os pais ou seus herdeiros, sem qualquer restrição, observado o segredo de Justiça.

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A ação de investigação post mortem terá que ser proposta, obrigatoriamente, contra os herdeiros do falecido porque, se esta for julgada procedente, o resultado da demanda irá afetar diretamente a situação dos herdeiros, que poderão perder o direito à herança ou ficar com ela reduzida.

Em nosso exemplo, Lucas terá que propor a ação de investigação contra Maria (a viúva)?

Depende. A viúva é herdeira necessária (art. 1.845 do CC), mas se o falecido tiver deixado descendentes (filhos, netos etc.), a viúva poderá não ter direito à herança, a depender do regime de bens.

A regra está no art. 1.829, I, do CC:

Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:

I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares;

Esse inciso é muito confuso e mal redigido, o que gera bastante polêmica na doutrina e jurisprudência. O que se pode extrair dele é o seguinte: o cônjuge é herdeiro necessário, mas há situações em que a lei deu primazia (preferência) para os descendentes do morto. Assim, foram previstos alguns casos em que o cônjuge, a depender do regime de bens, não irá ter direito à herança, ficando esta toda com os descendentes. Vejamos:

I – Situações em que o cônjuge herda em concorrência com os descendentes

II – Situações em que o cônjuge não herda em concorrência com os descendentes

 Regime da comunhão parcial de bens, se existirem bens particulares do falecido.

 Regime da separação convencional de bens (é aquela que decorre de pacto antenupcial).

 Regime da comunhão parcial de bens, se não havia bens particulares do falecido.

 Regime da separação legal (obrigatória) de bens (é aquela prevista no art. 1.641 do CC).

 Regime da comunhão universal de bens.

Assim, por exemplo, se Maria era casada com João sob o regime da separação convencional de bens, ela terá direito, juntamente com Pedro e Tiago, à herança deixada pelo marido. Logo, neste caso, Lucas terá que propor a ação de investigação de paternidade contra Maria, Pedro e Tiago.

Por outro lado, se Maria era casada com João sob o regime da comunhão universal de bens, ela não terá direito à herança. Neste caso ela será meeira, mas não herdeira. Desse modo, Lucas terá que propor a ação apenas contra Pedro e Tiago.

Se os consortes são casados no regime da comunhão universal, isso significa que, quando a pessoa morre, seu cônjuge tem direito à meação, ou seja, metade dos bens do falecido já pertencem obrigatoriamente ao cônjuge supérstite. A outra metade é que será a herança.

Ora, o legislador pensou o seguinte: “se o cônjuge já vai ter direito à metade dos bens pelo fato de ser meeiro, não é justo que ele também tenha parte da outra metade em prejuízo dos descendentes; vamos excluir o cônjuge da herança para que ela fique toda para os descendentes.”

Voltando ao nosso exemplo:

Vamos supor que Maria era casada sob o regime da comunhão universal de bens.

O advogado de Lucas descobriu isso ao examinar a certidão de óbito de João, onde lá constava essa informação.

Sabendo que Maria não tinha direito à herança, o advogado de Lucas preparou a ação de investigação de paternidade post mortem apenas contra Pedro e Tiago (herdeiros).

Agiu corretamente o advogado de Lucas?

SIM. Isso porque, como vimos, sendo a viúva casada no regime da comunhão universal de bens, ela será meeira, mas não herdeira.

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Pedro e Tiago foram citados e apresentaram contestação. Realizou-se audiência, na qual foi ouvida uma testemunha, e o juiz remarcou o restante da audiência em razão de as duas testemunhas restantes estarem comprovadamente doentes.

Foi, então, que Maria soube que estava tramitando este processo e ficou chateada porque queria participar e provar que seu marido nunca a havia traído e que "não tinha outro filho coisa nenhuma". Maria, por meio de advogado, peticiona ao juiz requerendo:

1) seu ingresso no feito no polo passivo a fim de impugnar a ação de investigação;

2) que a instrução do processo seja reiniciada, reabrindo o prazo para que ela apresente contestação, sendo novamente ouvida a testemunha já inquirida.

Os pedidos de Maria deverão ser aceitos?

Um deles sim, o outro não. Pedido 1: SIM.

Na hipótese de a viúva não ser herdeira do investigado, ela não ostentará, em princípio, a condição de parte ou litisconsorte necessária na ação de investigação de paternidade post mortem. Em outras palavras, o autor da ação não precisa propor a demanda contra ela.

A relação processual estará, em regra, completa com a citação de todos os seus herdeiros, não havendo nulidade pela não inclusão no polo passivo de viúva não herdeira.

Ocorre que o Código Civil autoriza que qualquer pessoa que tenha interesse possa contestar a ação de investigação de paternidade (art. 1.615).

No caso concreto, Maria não possui interesse patrimonial na demanda, considerando que, mesmo que Lucas seja reconhecido como filho, o que irá mudar é que Pedro e Tiago terão que dividir a herança com ele. A meação de Maria permanecerá intacta.

A viúva possui, no entanto, interesse moral na causa.

Em regra, o interesse meramente moral não autoriza a intervenção como assistente. No entanto, a interpretação da doutrina e da jurisprudência é que, no caso do art. 1.615 do CC, o interesse moral permite que a viúva intervenha no polo passivo da ação de investigação de paternidade post mortem. Dessa forma, Maria poderá assumir o polo passivo da ação, juntamente com os demais réus, pelo fato de possuir interesse moral na causa, o que satisfaz a exigência do art. 1.615 do CC:

Art. 1.615. Qualquer pessoa, que justo interesse tenha, pode contestar a ação de investigação de paternidade, ou maternidade.

Pedido 2: NÃO

Maria, pelo fato de não ter direito à herança, não era litisconsorte necessária. Em outras palavras, Lucas, o autor da demanda, não era obrigado a incluí-la no polo passivo. Ele não fez nada errado ao intentar a demanda apenas contra os herdeiros (Pedro e Tiago). Logo, não há motivo para se retroceder o curso processual.

Aplica-se aqui o raciocínio expresso no parágrafo único do art. 119 do CC:

Art. 119. (...) Parágrafo único. A assistência será admitida em qualquer procedimento e em todos os graus de jurisdição, recebendo o assistente o processo no estado em que se encontre.

Resumindo:

Mesmo nas hipóteses em que não ostente a condição de herdeira, a viúva poderá impugnar ação de investigação de paternidade post mortem, devendo receber o processo no estado em que este se encontra. STJ. 4ª Turma. REsp 1.466.423-GO, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 23/2/2016 (Info 578).

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PETIÇÃO DE HERANÇA

Ilegitimidade da viúva meeira para figurar no polo passivo de ação de petição de herança

A viúva meeira que não ostente a condição de herdeira é parte ilegítima para figurar no polo passivo de ação de petição de herança na qual não tenha sido questionada a meação, ainda que os bens integrantes de sua fração se encontrem em condomínio "pro indiviso" com os bens pertencentes ao quinhão hereditário.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.500.756-GO, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 23/2/2016 (Info 578).

Imagine a seguinte situação hipotética:

Carlos era casado em comunhão universal de bens com Francisca. Dessa união nasceram dois filhos: Hugo e Fábio.

Carlos morreu deixando apenas uma casa no valor de R$ 1 milhão.

Diante disso, indaga-se: Francisca, Hugo e Fábio terão direito a este valor? Qual é a participação de cada um e a que título?

Vimos no julgado anterior que se o falecido tiver deixado descendentes (filhos, netos etc.), a viúva poderá ter ou não direito à herança, a depender do regime de bens. Isso está previsto no art. 1.829, I, do CC. Como Francisca era casada com João sob o regime da comunhão universal de bens, ela não terá direito à herança. Neste caso, ela será meeira, mas não herdeira. Significa que ela terá direito à metade do patrimônio deixado pelo falecido (meação), mas não terá direito a nada da outra metade, que consiste na herança. A herança ficará apenas com os descendentes.

No caso do regime da comunhão universal, o legislador, ao fazer a regra do art. 1.829, I, do CC, pensou o seguinte: “se o cônjuge já vai ter direito à metade dos bens pelo fato de ser meeiro, não é justo que ele também tenha parte da outra metade em prejuízo dos descendentes; vamos excluir o cônjuge da herança para que ela fique toda para os descendentes.”

Logo, podemos dizer que o panorama será o seguinte:

 Francisca terá direito a 50% do patrimônio (R$ 500 mil) como meeira.

 Hugo terá direito a 25% (R$ 250 mil) como herdeiro.

 Fábio terá direito a 25% (R$ 250 mil) como herdeiro.

Ação de petição de herança

Ação de petição de herança é aquela proposta por alguém que quer ser reconhecido como herdeiro do falecido e, como via de consequência, ter direito à herança (no todo ou em parte). Petição = pedido. Logo, petição de herança significa pedir a herança.

Ex1: mulher vivia em união estável com o morto, mas isso não estava oficializado e os filhos do defunto não a reconhecem como sua companheira. Ela poderá ajuizar ação de reconhecimento de união estável post mortem cumulada com petição de herança.

Ex2: filho não reconhecido pelo morte poderá ajuizar ação de reconhecimento de paternidade post mortem cumulada com petição de herança.

Voltando ao nosso exemplo:

Imagine que aparece Beatriz, uma menina de 14 anos, dizendo-se filha não reconhecida de Carlos.

Beatriz, assistida por sua mãe, propõe ação de investigação de paternidade post mortem cumulada com petição de herança contra Francisca, Hugo e Fábio.

Francisca, ao ser citada, argui a sua ilegitimidade passiva ad causam e diz que não tem nada a ver com a demanda, pedindo para ser excluída da lide.

O pedido de Francisca deverá ser aceito?

(11)

A viúva meeira que não ostente a condição de herdeira é parte ilegítima para figurar no polo passivo de ação de petição de herança na qual não tenha sido questionada a meação, ainda que os bens integrantes de sua fração se encontrem em condomínio pro indiviso com os bens pertencentes ao quinhão hereditário.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.500.756-GO, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 23/2/2016 (Info 578).

Mesmo que a referida ação seja julgada procedente, isso não irá refletir na esfera de direitos da viúva meeira, tendo em vista que sua participação não será afetada. Em outras palavras, sendo ou não reconhecida a autora como filha do morto, a meação continua sendo a mesma. O cálculo da meação não muda se houver mais ou menos herdeiros. A meação será sempre a metade do patrimônio do cônjuge falecido. A outra metade é a herança.

Logo, o cônjuge meeiro não pode ser qualificado como litisconsorte passivo necessário.

Vale ressaltar que o fato de o bem deixado pelo falecido ser uma coisa indivisível (uma casa) não faz com que a viúva meeira passe a ter legitimidade para estar na lide. Ela continua sendo parte ilegítima porque, se a autora for reconhecida como filha, a viúva continuará tendo 50% da fração ideal da casa (o que ela já tinha antes) e os 50% restantes serão divididos entre os três herdeiros.

DIREITO DO CONSUMIDOR

CLÁUSULAS ABUSIVAS

Nulidade de cláusula de renúncia à entrevista qualificada para contratar plano de saúde

É nula a cláusula inserta por operadora de plano privado de assistência à saúde em formulário de Declaração de Doenças ou Lesões Preexistentes (Declaração de Saúde) prevendo a renúncia pelo consumidor contratante à entrevista qualificada orientada por um médico, seguida apenas de espaço para aposição de assinatura, sem qualquer menção ao fato de tal entrevista se tratar de faculdade do beneficiário.

A inserção de cláusula de renúncia em declaração de saúde é abusiva por induzir o segurado a abrir mão do direito ao exercício livre da opção de ser orientado por um médico por ocasião do preenchimento daquela declaração, notadamente porque se trata de documento que tem o condão de viabilizar futura negativa de cobertura de procedimento ou tratamento.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.554.448-PE, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 18/2/2016 (Info 578).

Preenchimento da "declaração de saúde"

No ato de assinatura do plano de saúde, a operadora exige que o beneficiário ou seu representante legal preencha e assine uma "declaração de saúde", que consiste em um questionário no qual a pessoa informa as doenças ou lesões de que saiba ser portador.

Isso é muito importante porque caso a pessoa seja portadora de doença ou lesão preexistente, a operadora poderá negar ao paciente, durante um período de carência e de cobertura parcial temporária, que ele se utilize do plano para custear procedimentos de alta complexidade, cirurgias e leitos de alta tecnologia (UTI, CTI etc.) relacionados à doença declarada. Ex: se a pessoa, antes de contratar o plano, já possuía um grave problema de coração, ela não poderá, antes de completar o período de carência, fazer uma cirurgia custeada pelo plano para tratar desta enfermidade.

O que acontece se a pessoa souber que é portadora de doença ou lesão preexistente, mas omitir essa informação na declaração de saúde?

Haverá uma fraude, que poderá acarretar a suspensão ou rescisão do contrato, após julgamento em processo administrativo que tramita na Agência Nacional de Saúde (ANS).

(12)

Além disso, a operadora poderá cobrar de volta do beneficiário os gastos que teve com algum tratamento que tenha sido realizado envolvendo esta doença ou lesão.

Existem várias regras envolvendo este tema. Se quiser aprofundar ou tiver dúvidas específicas, recomendo que consulte a Resolução Normativa DC/ANS nº 162/2007.

Dúvidas sobre o preenchimento

Nem sempre esta declaração de saúde é muito clara, porque algumas vezes possui termos médicos que geram dúvidas na pessoa que está preenchendo.

Sabendo que isso pode acontecer, a ANS exige que o contrante seja informado de que, antes de preencher a declaração, possui o direito de consultar um médico para tirar suas dúvidas. Veja o que prevê a Resolução da ANS:

Art. 5º (...)

§ 1º O beneficiário tem o direito de preencher a Declaração de Saúde mediante entrevista qualificada orientada por um médico pertencente à lista de profissionais da rede de prestadores credenciados ou referenciados pela contratada, sem qualquer ônus para o beneficiário.

§ 2º Caso o beneficiário opte por ser orientado por médico não pertencente à lista de profissionais da rede assistencial da contratada, poderá fazê-lo, desde que assuma o ônus financeiro dessa entrevista.

§ 3º O objetivo da entrevista qualificada é orientar o beneficiário para o correto preenchimento da Declaração de Saúde, onde são declaradas as doenças ou lesões que o beneficiário saiba ser portador ou sofredor, no momento da contratação ou adesão ao plano privado de assistência à saúde, além de esclarecer questões relativas aos direitos de cobertura e consequências da omissão de informações.

Feitos estes esclarecimentos, imagine a seguinte situação:

O plano de saúde "XX" fornecia aos seus clientes um modelo de "declaração de saúde" no qual existia um campo escrito: "Renuncio à entrevista qualificada orientada por um médico".

Ao lado desta afirmação, havia um campo em branco para que o cliente assinasse.

No contrato e na declaração de saúde não havia nada explicando ao contratante em que consistia esta entrevista qualificada. Também não era informado ao consumidor que ele não era obrigado a assinar neste campo e que possuía a faculdade de pedir a ajuda de um médico para preencher a declaração. Diante disso, o Ministério Público ajuizou ação civil pública contra o plano de saúde pedindo que esta prática fosse considerada abusiva.

O pedido do MP foi aceito pelo STJ?

SIM.

É nula a cláusula inserta por operadora de plano privado de assistência à saúde em formulário de Declaração de Doenças ou Lesões Preexistentes (Declaração de Saúde) prevendo a renúncia pelo consumidor contratante à entrevista qualificada orientada por um médico, seguida apenas de espaço para aposição de assinatura, sem qualquer menção ao fato de tal entrevista se tratar de faculdade do beneficiário.

A inserção de cláusula de renúncia em declaração de saúde é abusiva por induzir o segurado a abrir mão do direito ao exercício livre da opção de ser orientado por um médico por ocasião do preenchimento daquela declaração, notadamente porque se trata de documento que tem o condão de viabilizar futura negativa de cobertura de procedimento ou tratamento.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.554.448-PE, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 18/2/2016 (Info 578). A transparência e a informação são deveres dos prestadores de serviços e constituem direito do consumidor de ter pleno conhecimento acerca do produto ou serviço que está adquirindo. É o que dispõe o CDC em seus arts. 4º e 6º, os quais devem ser analisados conjuntamente com a cláusula geral da boa-fé (art. 51).

Não há manifestação de vontade livre e consciente se o interessado não detém as informações necessárias para formar seu convencimento. Transportando esse entendimento para o caso em análise, observe-se que a seguradora deve:

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a) esclarecer o pretenso segurado acerca do que consiste uma declaração de doenças e lesões preexistentes e das consequências do incorreto preenchimento dos dados ou de eventuais equívocos nas respostas às indagações ali formuladas; e

b) esclarecer que, no caso de o segurado ter dúvida acerca da alguma questão, teria direito à orientação de um médico durante o preenchimento do documento, oportunidade em que o profissional de saúde iria elucidar o que estava sendo indagado, por exemplo, os termos técnicos para definir eventuais doenças e/ou lesões que o segurado ou parente pudessem ter sofrido antes daquela data.

PLANO DE SAÚDE

Migração de plano de saúde coletivo empresarial para plano individual ou familiar e inexistência

de direito de que o valor da mensalidade permaneça o mesmo

A migração de beneficiário de plano de saúde coletivo empresarial extinto para plano individual ou familiar não enseja a manutenção dos valores das mensalidades previstos no plano primitivo.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.471.569-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 1º/3/2016 (Info 578).

Imagine a seguinte situação hipotética:

João trabalhava na empresa "X", que tinha um contrato com o plano de saúde "Z" por meio do qual era oferecido um plano de saúde coletivo para os funcionários da empresa que quisessem contratá-lo.

Assim, após João ter aceitado participar deste plano coletivo, todos os meses era descontado R$ 300 de seu salário e repassado para o plano de saúde.

Ocorre que o contrato da empresa "X" com o plano de saúde acabou e, por divergências entre as partes, não foi renovado.

O plano de saúde ofereceu aos usuários do plano coletivo (funcionários da empresa) que migrassem para planos individuais.

João queria continuar contando com a assistência e por isso procurou a sede do plano de saúde para fazer a migração. No entanto, ao ver o preço, ele se assustou. No plano individual, a sua mensalidade, que era de R$ 300, passava para R$ 500.

Diante disso, ajuizou ação de obrigação de fazer contra o plano de saúde pedindo que os valores das mensalidades do plano de saúde individual oriundo da migração fossem os mesmos praticados quando vigente o contrato coletivo empresarial rescindido.

O pedido de João foi acolhido pelo STJ?

NÃO.

A migração de beneficiário de plano de saúde coletivo empresarial extinto para plano individual ou familiar não enseja a manutenção dos valores das mensalidades previstos no plano primitivo.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.471.569-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 1º/3/2016 (Info 578). Os planos de saúde variam segundo o regime e o tipo de contratação.

De acordo com art. 16, VII, da Lei nº 9.656/1998, há três modalidades: a) individual ou familiar;

b) coletivo empresarial e c) coletivo por adesão.

O plano de saúde individual é aquele em que a pessoa física contrata diretamente com a operadora ou por intermédio de um corretor autorizado. A vinculação de beneficiários é livre, não havendo restrições relacionadas ao emprego ou à profissão do usuário em potencial (art. 3º da RN n. 195/2009 da ANS).

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O plano de saúde coletivo é aquele contratado por uma empresa, conselho, sindicato ou associação junto à operadora de planos de saúde para oferecer assistência médica e/ou odontológica às pessoas vinculadas às mencionadas entidades, bem como a seus dependentes.

São dois os regimes de contratação de planos de saúde coletivos:

b) o coletivo empresarial, o qual garante a assistência à saúde dos funcionários da empresa contratante em razão do vínculo empregatício ou estatutário (art. 5º da RN nº 195/2009 da ANS); e

c) o coletivo por adesão, contratado por pessoas jurídicas de caráter profissional, classista ou setorial, como conselhos, sindicatos, cooperativas e associações profissionais (art. 9º da RN nº 195/2009 da ANS). Quanto à formação de preços dos serviços de saúde suplementar e ao reajuste das mensalidades, o cálculo difere entre as três modalidades de plano de saúde. Com efeito, no plano coletivo empresarial, o empresário ou o órgão público tem condições de apurar, na fase pré-contratual, qual é a massa de usuários que será coberta, pois dispõe de dados dos empregados ou servidores, como a idade e a condição médica do grupo. Diante disso, considerando-se a atuária mais precisa, pode ser oferecida uma mensalidade inferior àquela praticada aos planos individuais. Ademais, ao se constatar, na execução contínua do contrato, um desequilíbrio econômico-financeiro devido à alta sinistralidade da massa e à inflação acumulada no período, pode a operadora, em livre negociação com a estipulante, pactuar um reajuste que viabilize a manutenção dos serviços de saúde suplementar. Em outras palavras, o reajuste anual nesse tipo de contratação é apenas acompanhado pela ANS, para fins de monitoramento da evolução dos preços e de prevenção de práticas comerciais abusivas, não necessitando, todavia, de sua prévia autorização. Assim, não havendo mais interesse na prestação dos serviços por qualquer das partes, os contratos de planos privados de assistência à saúde coletivos podem ser rescindidos imotivadamente, cumpridas algumas formalidades.

Por sua vez, no plano de saúde individual ou familiar, não existe livre negociação de preço sobre a mensalidade que será paga diretamente pelo beneficiário, visto que os valores praticados devem ser aqueles compatíveis com o mercado e previamente aprovados pela ANS, mediante notas técnicas, devendo ser cobrados indistintamente de todos que contratem aquela cobertura específica no mesmo período, segundo a faixa etária de cada um. Nessa modalidade, o preço e os reajustes anuais são vinculados à prévia autorização da ANS, não guardando o índice de reajuste correlação com a sinistralidade do plano de saúde em si, mas com outros parâmetros adotados em metodologia particular. Não existe na legislação qualquer norma que assegure, em caso de migração do plano coletivo para o individual, a permanência dos mesmos valores de mensalidade praticados no plano coletivo empresarial rescindido. E nem poderia. Isso porque, conforme já explicado, no plano coletivo existe uma prévia negociação com base na quantidade de pessoas que irá aderir, o que permite a prática de preços mais baratos.

Assim, não existe direito de manutenção do mesmo valor das mensalidades aos beneficiários que migram do plano coletivo empresarial para o plano individual, haja vista as peculiaridades de cada regime e tipo contratual (atuária e massa de beneficiários), que geram preços diferenciados.

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DIREITO EMPRESARIAL

CONTRATOS EMPRESARIAIS

Vedação de repasse ao sacado de despesas referentes a tarifa de emissão de boleto bancário

É abusiva a cobrança ou o repasse, pelo atacadista (beneficiário) ao varejista (pagador), de despesa referente a tarifa de emissão de boleto bancário.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.568.940-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 1º/3/2016 (Info 578).

Imagine a seguinte situação hipotética:

A empresa "DistriDroga" é uma grande distribuidora de remédios. Ela é responsável por comprar os remédios das indústrias farmacêuticas e distribuí-los (revendê-los) para todas as drogarias do Estado. Quando a drogaria encomenda os remédios que quer comprar, a distribuidora emite um boleto bancário para que a farmácia efetue o pagamento.

A distribuidora é a cedente do título e a drogaria que comprou o medicamento é o sacado.

Ocorre que a distribuidora cobra R$ 1,80 das drogarias por cada boleto bancário que emite, afirmando que faz isso para cobrir os custos, já que os bancos exigem dela este valor.

As drogarias (varejistas) são pequenas e não têm condições de, individualmente, discutir cláusulas contratuais com a distribuidora (atacadista), que é maior em termos de poderio econômico.

Diante disso, o sindicato das drogarias e farmácias ingressou com ação de obrigação de fazer contra a distribuidora requerendo que esta seja condenada a se abster de cobrar ou repassar as despesas para as varejistas quanto aos custos de emissão dos boletos bancários.

Após ser julgado pelo juiz e pelo TJ, a questão chegou até o STJ.

O pedido do sindicato foi aceito?

SIM.

É abusiva a cobrança ou o repasse, pelo atacadista (beneficiário) ao varejista (pagador), de despesa referente a tarifa de emissão de boleto bancário.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.568.940-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 1º/3/2016 (Info 578). A tarifa bancária pela emissão de boletos é algo cobrado pelos bancos com base em um contrato firmado exclusivamente entre a instituição financeira e o cedente do título, no caso, o fornecedor, com a finalidade de remunerar pelo fato de este fornecedor estar se utilizado da rede bancária como um mecanismo de arrecadação pela venda de seus produtos.

Logo, considerando-se que referida tarifa é fruto de negociação entre o cedente (fornecedor/atacadista) e o banco, não se pode perder de vista que a discussão aqui travada encontra-se no âmbito específico da atividade bancária, matéria que, nos termos da Lei nº 4.595/64, rege-se pelas disposições do Conselho Monetário Nacional (CMN) e do Banco Central do Brasil (BC). Nesse contexto, foi editada a Resolução nº 3.919/2010, que estabeleceu o seguinte:

Art. 1º (...)

§ 2º É vedada a realização de cobranças na forma de tarifas ou de ressarcimento de despesas: (...)

II - do sacado, em decorrência da emissão de boletos ou faturas de cobrança, carnês e assemelhados. Dessa forma, o referido dispositivo proíbe que seja cobrado do sacado o ressarcimento das despesas realizadas com a emissão de boletos.

(16)

CMN, é considerada ilegal e cuja pactuação não foi negociada com o sacado.

A proibição deste repasse ao sacado não fere os princípios da liberdade de contratar, da probidade e da boa-fé. Isso porque a matéria não é apenas contratual e está inserida também no âmbito do sistema financeiro, especialmente no que tange à atividade de intermediação financeira, de modo que a liberdade de contratar encontra limites que se operam em prol da higidez e da estabilidade de todo o sistema. Vale ressaltar, por fim, que os bancos não podem mais cobrar tarifas pela emissão de boletos, conforme expresso em entendimento sumulado do STJ:

Súmula 565-STJ: A pactuação das tarifas de abertura de crédito (TAC) e de emissão de carnê (TEC), ou outra denominação para o mesmo fato gerador, é válida apenas nos contratos bancários anteriores ao início da vigência da Resolução-CMN n. 3.518/2007, em 30/4/2008.

PROPRIEDADE INDUSTRIAL

Termo inicial para o pagamento da retribuição quinquenal prevista no art. 120 da Lei 9.279/96

O prazo para o pagamento da "retribuição quinquenal" prevista no art. 120 da Lei nº 9.279/96 conta-se da data do depósito do pedido de registro do desenho industrial no INPI, e não da data do certificado de registro.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.470.431-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 23/2/2016 (Info 578).

Desenho industrial

Desenho industrial é a forma ornamental de um objeto ou o conjunto ornamental de linhas e cores que possa ser aplicado a um produto (art. 95 da Lei nº 9.279/96). Ex: um novo formato de relógio, de brinquedo, de carro etc. Em palavras mais simples, desenho industrial é o design.

O autor de um desenho industrial pode pedir o seu registro no INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial), que é uma autarquia federal situada no Rio de Janeiro (RJ).

Vale ressaltar que, no Brasil, o desenho industrial é protegido por meio de "registro", e não de patente, como ocorre em outros países.

Requisitos

Para que um desenho possa ser registrado como "desenho industrial", ele deverá preencher os seguintes requisitos:

a) Novidade (é um conceito difícil de explicar; significa que o desenho não pode ser nenhum que já existe segundo o estado atual da técnica);

b) Originalidade (deve ter uma configuração visual diferente dos outros já existentes);

c) Utilização ou aplicação industrial (deve ser possível reproduzir este desenho industrialmente).

Procedimento para registro

O autor de um desenho industrial, para solicitar seu registro no INPI, deverá pagar uma taxa mediante guia de recolhimento da União (GRU), preencher um formulário de depósito e apresentar as figuras do desenho. É possível fazer o pedido pela internet ou em papel.

Inicia-se, então, um procedimento interno no INPI, onde o pedido passará por diversos setores. Pode ser que os técnicos da autarquia solicitem mais documentos e esclarecimentos do autor a fim de verificar se estão presentes os requisitos acima elencados.

Vale ressaltar que o autor que faz o pedido de registro de um desenho industrial possui apenas uma expectativa de direito. Isso quer dizer que ele ainda será examinado e o INPI poderá conceder ou não o certificado de registro.

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Prazo de proteção

O prazo de vigência do registro é de 10 anos, contados da data de depósito. Este prazo poderá ser prorrogado por mais três períodos sucessivos de 5 anos. Enfim, no total, o titular poderá ter uma proteção do seu desenho industrial por 25 anos.

Retribuição quinquenal

O titular do registro deverá pagar um valor chamado de "retribuição quinquenal", que serve como uma espécie de taxa de manutenção do registro. Esta taxa encontra-se prevista no art. 120 da LPI:

Art. 120. O titular do registro está sujeito ao pagamento de retribuição qüinqüenal, a partir do segundo qüinqüênio da data do depósito.

§ 1º O pagamento do segundo qüinqüênio será feito durante o 5º (quinto) ano da vigência do registro. § 2º O pagamento dos demais qüinqüênios será apresentado junto com o pedido de prorrogação a que se refere o art. 108.

§ 3º O pagamento dos qüinqüênios poderá ainda ser efetuado dentro dos 6 (seis) meses subseqüentes ao prazo estabelecido no parágrafo anterior, mediante pagamento de retribuição adicional.

Desse modo, de cinco em cinco anos o autor deverá pagar esta taxa.

A partir de quando é contado o prazo de 5 anos para pagamento da retribuição quinquenal? Deverá ser contado a partir do dia em que o autor fez o depósito do pedido de registro ou da data em que o INPI concedeu o certificado de registro?

Da data do depósito.

O prazo para o pagamento da "retribuição quinquenal" prevista no art. 120 da Lei nº 9.279/96 conta-se da data do depósito do pedido de registro do desenho industrial no INPI, e não da data do certificado de registro.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.470.431-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 23/2/2016 (Info 578). Este é o texto expresso do art. 120: "o titular do registro está sujeito ao pagamento de retribuição quinquenal, a partir do segundo quinquênio da data do depósito."

RECUPERAÇÃO JUDICIAL

Não sujeição à recuperação judicial de direitos de crédito cedidos fiduciariamente

Não se submetem aos efeitos da recuperação judicial do devedor os direitos de crédito cedidos fiduciariamente por ele em garantia de obrigação representada por Cédula de Crédito Bancário existentes na data do pedido de recuperação, independentemente de a cessão ter ou não sido registrada no Registro de Títulos e Documentos do domicílio do devedor.

Ex: determinada empresa recebeu um empréstimo de um banco. Como garantia de que iria pagar este empréstimo, ela cedeu fiduciariamente uma CCB. Posteriormente, esta empresa entrou em recuperação judicial. O banco possui, portanto, um crédito a ser pago pela empresa representado por meio da CCB. Este crédito do banco não entrará na recuperação judicial. A situação enquadra-se no art. 49, § 3º da Lei nº 11.101/2005.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.412.529-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. para acórdão Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 17/12/2015 (Info 578).

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RECUPERAÇÃO JUDICIAL

A recuperação judicial surgiu para substituir a antiga “concordata” e tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise do devedor, a fim de permitir que a atividade empresária se mantenha e, com isso, sejam preservados os empregos dos trabalhadores e os interesses dos credores.

A recuperação judicial consiste, portanto, em um processo judicial, no qual será construído e executado um plano com o objetivo de recuperar a empresa que está em vias de efetivamente ir à falência.

FASES DA RECUPERAÇÃO

De forma resumida, a recuperação judicial possui 3 fases:

a) Postulação: inicia-se com o pedido de recuperação e vai até o despacho de processamento; b) Processamento: vai do despacho de processamento até a decisão concessiva;

c) Execução: da decisão concessiva até o encerramento da recuperação judicial. JUÍZO FALIMENTAR

A Lei n. 11.101/2005, em seu art. 3º, prevê que é competente para deferir a recuperação judicial o juízo do local do principal estabelecimento do devedor ou da filial de empresa que tenha sede fora do Brasil. A falência e a recuperação judicial são sempre processadas e julgadas na Justiça estadual.

PLANO DE RECUPERAÇÃO

Em até 60 dias após o despacho de processamento da recuperação judicial, o devedor deverá apresentar em juízo um plano de recuperação da empresa, sob pena de convolação (conversão) do processo de recuperação em falência.

Este plano deverá conter:

 discriminação pormenorizada dos meios de recuperação a serem empregados (art. 50);  demonstração de sua viabilidade econômica; e

 laudo econômico-financeiro e de avaliação dos bens e ativos do devedor, subscrito por profissional legalmente habilitado ou empresa especializada.

CRÉDITOS QUE ESTÃO SUJEITOS À RECUPERAÇÃO JUDICIAL

Na recuperação judicial, a empresa devedora, que está “sufocada” por dívidas, irá pagar os seus credores de uma forma mais “suave”, a fim de que consiga quitar todos os débitos e se manter funcionando.

Assim, os credores da empresa em recuperação judicial são inscritos no “quadro geral de credores”, e cada um receberá seu crédito de acordo com o que for definido no plano de recuperação.

Um dos temas importantes sobre esse assunto é saber quais créditos estão sujeitos à recuperação judicial, ou seja, quais credores irão ter que receber seus créditos conforme o plano de recuperação e quais poderão seguir com seus contratos como estavam originalmente previstos.

Regra:

Em regra, estão sujeitos à recuperação judicial todos os créditos existentes na data do pedido de recuperação judicial, ainda que não vencidos (art. 49, caput, da Lei n. 11.101/2005).

Ex: a empresa tem que pagar uma dívida com um fornecedor daqui a 9 meses; se o pedido de recuperação foi feito hoje, esse crédito já será incluído nas regras da recuperação judicial, mesmo que ainda não tenha chegado a data do vencimento.

Consequência dessa regra:

Como vimos acima, tendo sido decretada a recuperação judicial, os credores irão receber conforme o plano. Como consequência disso, em regra, as ações e execuções que tramitam contra a empresa em recuperação são suspensas para poder não atrapalhar a execução do plano. Veja:

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curso da prescrição e de todas as ações e execuções em face do devedor, inclusive aquelas dos credores particulares do sócio solidário.

(...)

§ 4º Na recuperação judicial, a suspensão de que trata o caput deste artigo em hipótese nenhuma excederá o prazo improrrogável de 180 (cento e oitenta) dias contado do deferimento do processamento da recuperação, restabelecendo-se, após o decurso do prazo, o direito dos credores de iniciar ou continuar suas ações e execuções, independentemente de pronunciamento judicial.

Exceções à regra:

A regra acima exposta (caput do art. 49) possui exceções que estão elencadas nos §§ 3º e 4º.

Dessa feita, nesses parágrafos estão previstos determinados créditos que não se sujeitam aos efeitos da recuperação judicial.

Imagine agora a seguinte situação adaptada:

A empresa "LWS" recebeu mútuo bancário de R$ 2 milhões e emitiu em favor da instituição financeira uma Cédula de Crédito Bancário (CCB). Além disso, como garantia, fez a cessão fiduciária para o banco de títulos e direitos que ela possuía para receber. Em outras palavras, a empresa tinha valores para receber no futuro (daqui a alguns dias, meses ou anos) de alguns devedores e cedeu fiduciariamente tais créditos para o banco. Se ele pagasse o empréstimo, o banco "devolveria" os créditos; caso se tornasse inadimplente, o banco se tornaria, em definitivo, proprietário dos valores.

Cédula de Crédito Bancário com garantia

A Cédula de Crédito Bancário (CCB) é um título de crédito extremamente comum na atividade empresarial, estando disciplinada nos arts. 26 a 45 da Lei nº 10.931/2004.

Quando uma pessoa física ou jurídica adquire um empréstimo bancário, a instituição financeira exige que este mutuário emita, em favor do banco, uma cédula de crédito bancário, que é um papel no qual o emitente se compromete a pagar para o beneficiário determinada quantia ali prevista.

Este papel (CCB) fica em poder do credor. Caso o emitente não cumpra a sua promessa e não pague a dívida no prazo, o credor poderá executar a CCB, que é um título de crédito e, portanto, título executivo extrajudicial. A CCB poderá ser emitida com ou sem garantia (art. 27 da Lei nº 10.931/2004). Em caso de empréstimo de pequenos valores, os bancos normalmente não exigem garantia, bastando a CCB, que é, como vimos, título executivo. No entanto, se a quantia for grande, as instituições exigem que o mutuário, além de emitir a cédula, forneça uma garantia (ex: hipoteca de um bem imóvel, cessão fiduciária de bens móveis etc.). Em nosso exemplo, o banco exigiu a garantia.

Voltando ao exemplo

Após alguns meses, a referida empresa "LWS" entrou em recuperação judicial.

Diante disso, os demais credores da empresa queriam que este título e os créditos que foram cedidos para o banco fossem trazidos para a recuperação judicial a fim de que servissem para pagar as dívidas.

O pedido dos credores deverá ser aceito? Estes créditos cedidos fiduciariamente pela empresa para o banco deverão se submeter às regras da recuperação judicial?

NÃO. Estes créditos cedidos ao banco fiduciariamente como garantia da dívida não deverão entrar na recuperação judicial, ou seja, estarão excluídos das regras da recuperação judicial porque se tratam de uma exceção à regra do caput do art. 49, nos termos do § 3º do mesmo artigo. Veja:

§ 3º Tratando-se de credor titular da posição de proprietário fiduciário de bens móveis ou imóveis, de arrendador mercantil, de proprietário ou promitente vendedor de imóvel cujos respectivos contratos contenham cláusula de irrevogabilidade ou irretratabilidade, inclusive em incorporações imobiliárias, ou de proprietário em contrato de venda com reserva de domínio, seu crédito não se submeterá aos efeitos da recuperação judicial e prevalecerão os direitos de propriedade sobre a coisa e as condições contratuais,

(20)

observada a legislação respectiva, não se permitindo, contudo, durante o prazo de suspensão a que se refere o § 4º do art. 6º desta Lei, a venda ou a retirada do estabelecimento do devedor dos bens de capital essenciais a sua atividade empresarial.

Encontra-se sedimentado no STJ o entendimento de que: - a alienação fiduciária de coisa fungível;

- a cessão fiduciária de direitos sobre coisas móveis; - a cessão fiduciária de títulos de créditos,

... por possuírem a natureza jurídica de propriedade fiduciária, não se sujeitam aos efeitos da recuperação judicial, nos termos do § 3º do art. 49 da Lei nº 11.101/2005.

Os credores argumentaram que esta cessão fiduciária dos créditos não teria validade porque não foi registrada no cartório do Registro de Títulos e Documentos. Esta tese foi acolhida pelo STJ?

NÃO. Não é necessário que a cessão de crédito realizada tenha sido registrada em cartório. Mesmo sem registro no RTD, esta cessão feita pela sociedade empresária ao banco é válida. Foi o que decidiu o STJ: Não se submetem aos efeitos da recuperação judicial do devedor os direitos de crédito cedidos fiduciariamente por ele em garantia de obrigação representada por Cédula de Crédito Bancário existentes na data do pedido de recuperação, independentemente de a cessão ter ou não sido registrada no Registro de Títulos e Documentos do domicílio do devedor.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.412.529-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. para acórdão Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 17/12/2015 (Info 578).

A alienação fiduciária de bens móveis fungíveis, quando o credor fiduciário for instituição financeira, é regida pelo art. 66-B da Lei nº 4.728/65. Esta Lei não exige o registro para que haja a constituição da propriedade fiduciária.

A constituição da propriedade fiduciária em caso de cessão fiduciária de direitos sobre coisas móveis e de títulos de crédito dá-se a partir da própria contratação, afigurando-se, desde então, plenamente válida e eficaz entre as partes.

O único efeito extra no caso de as partes decidirem fazer o registro do contrato é que, com essa providência, ele passará a produzir efeitos em relação a terceiros, ampliando a sua publicidade. No entanto, repita-se, o contrato já é válido mesmo que celebrado apenas entre as partes e sem registro.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

DEPOSITÁRIO JUDICIAL

Possibilidade de o depositário judicial exercer direito de retenção

O particular que aceita exercer o múnus público de depositário judicial tem o direito de reter o depósito até que sejam ressarcidas as despesas com armazenagem e conservação do bem guardado e pagos os seus honorários.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.300.584-MT, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 3/3/2016 (Info 578).

Imagine a seguinte situação hipotética:

A empresa "A" ajuizou execução contra a empresa "B".

No curso do processo, foram penhorados 5kg de soja pertencentes à executada.

Referências

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