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Uso de tecnologias de informação no ensino fundamental e o desempenho escolar no sul do Brasil: o caso do tablet no município Doutor Maurício Cardoso

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Academic year: 2021

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM DESENVOLVIMENTO POLÍTICAS PÚBLICAS E GESTÃO SOCIAL

MAICON RAFAEL HAMMES

USO DE TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO NO ENSINO FUNDAMENTAL E O DESEMPENHO ESCOLAR NO SUL DO BRASIL: o caso do tablet no município

Doutor Maurício Cardoso

IJUÍ – RS 2016

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USO DE TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO NO ENSINO FUNDAMENTAL E O DESEMPENHO ESCOLAR NO SUL DO BRASIL: o caso do tablet no município

Doutor Maurício Cardoso

Dissertação apresentado ao Programa de Pós-Graduação

Stricto Sensu em Desenvolvimento, na linha de pesquisa

de políticas públicas e gestão social, da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento.

Orientadora: Prof. Dra. Adm. Denize Grzybovski

IJUÍ – RS 2016

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H224u Hammes, Maicon Rafael.

Uso de tecnologias de informação no ensino fundamental e o desempenho escolar no sul do Brasil: o caso do tablet no município Doutor Maurício Cardoso / Maicon Rafael Hammes. – Ijuí, 2016. –

118 f. : il. ; 29 cm.

Dissertação (mestrado) – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Campus Ijuí). Desenvolvimento.

“Orientadora: Denize Grzybovski ”.

1. Desempenho escolar. 2. Ensino fundamental. 3. Política pública de educação. 4. Tecnologia da informação. 5. Brasil. I. Grzybovski, Denize. II. Título. III. Título: O caso do tablet no município Doutor Maurício Cardoso.

CDU: 37 37.013

Catalogação na Publicação

Gislaine Nunes dos Santos CRB10/1845

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UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento – Mestrado

A Banca Examinadora, abaixo assinada, aprova a Dissertação

USO DE TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO NO ENSINO FUNDAMENTAL E O DESEMPENHO ESCOLAR: O CASO DO TABLET NO MUNICÍPIO

DOUTOR MAURÍCIO CARDOSO

elaborada por

MAICON RAFAEL HAMMES

como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Desenvolvimento

Banca Examinadora:

Prof. ª Dra. ª Denize Grzybovski (UNIJUÍ): ________________________________________

Prof. Dr. Adriano Canabarro Teixeira (UPF): ______________________________________

Prof. Dr. Airton Adelar Mueller (UNIJUÍ): ________________________________________

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DEDICATÓRIA

Para minha filha Natália, fundamento da minha existência e razão pela qual luto diariamente para ser um motivo de orgulho e proporcionar-lhe vida melhor.

Para meu avô Fredolino (in memorian), pelo maior ensinamento que recebi na vida: “Estude porque o conhecimento é o único bem que nada nem ninguém podem tirar de você”.

Para minha mãe Claci, por todos os ensinamentos e principalmente pelo apoio incondicional recebido durante os dois anos de Mestrado.

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Agradeço, em primeiro lugar, a Deus por me conceder saúde durante esta caminhada e por não me deixar desistir mesmo quando as dificuldades pareciam insuperáveis.

Ao município de Doutor Maurício Cardoso, na figura do senhor Nelson Nuske, que me acolheu em um dos momentos mais difíceis da minha vida e sempre proporcionou boas condições de trabalho e permitiu minha vida acadêmica seja como aluno ou docente.

Ao meu chefe/colega de trabalho/pai/irmão/melhor amigo de todas as horas, Osvaldo de Moura, pela parceria iniciada ainda nos tempos de faculdade sendo sempre um incentivador da minha caminhada e apoio das minhas escolhas quaisquer que fossem. Da mesma forma aos demais colegas de trabalho que auxiliaram de uma forma ou outra a realização da minha pesquisa.

Ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha Campus Santo Ângelo, pela oportunidade recebida como docente substituto.

À UNIJUI, pelo ensino de qualidade proporcionado por professores que são exemplo em suas áreas do saber. Em especial, a minha orientadora, Dra. Denize, que me acompanhou desde as primeiras linhas escritas até a indicação de participação em eventos que mostraram a importância da pesquisa acadêmica.

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Para derrotar o medo e seus fantasmas, necessitava o político de segurança e da presença do herói. ALAIN FINKIELKRAUT

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A tecnologia da informação vem mudando gradativamente a vida das pessoas nas últimas décadas, pois diminui limites de espaço e tempo na comunicação e nos processos de ensino e aprendizagem. No ambiente escolar em escolas públicas brasileiras, a inserção das tecnologias depende das políticas públicas e do nível de qualificação dos docentes para o seu uso didático. Com o uso de tecnologias em sala de aula, o desempenho escolar dos alunos pode evoluir tendo em vista a possibilidade de acessar as informações que estão disponíveis na Internet. O problema de pesquisa foram os possíveis efeitos da adoção de uma política pública de utilização de equipamentos tecnológicos desempenho escolar dos alunos. O objetivo deste estudo foi compreender os efeitos gerados pela política pública de utilização de tablets no ensino fundamental nos indicadores de desempenho escolar. Especificamente caracterizou-se o município Doutor Mauricio Cardoso, espaço da pesquisa, e descreveram-se os indicadores de desenvolvimento local. Na sequência foi descrita a realidade tecnológica da escola estudada, as competências profissionais dos docentes, analisada herança familiar e cultural das famílias dos alunos beneficiados pela política pública e, por fim, foi avaliado o desempenho escolar do aluno antes e depois da implementação da política pública. Os estudos sobre o uso de tecnologia na educação podem gerar diversos benefícios inicialmente a sociedade em geral e à comunidade acadêmica por tratar-se de um tema contemporâneo que pode auxiliar em outras pesquisas. Da mesma forma, desfazer a impressão de que em pequenos municípios não existe nada de importante e mostrar que não é apenas em grandes cidades de onde partem boas ideias. O referencial teórico utilizado tem como base temas como escola, educação e cultura, políticas públicas educacionais no Brasil e tecnologias na educação. Trata-se de uma pesquisa desenvolvida no nível exploratório, cuja estratégia foi o estudo de caso único. No processo de coleta de dados foram realizadas entrevistas semiestruturadas, pesquisa documental e observação participante, que permitiu triangular as fontes de dados. Os resultados da pesquisa demonstram que a política pública de inserção de tablets no ensino fundamental em Doutor Maurício Cardoso gerou efeitos positivos no desempenho escolar nos anos analisados. A competência dos professores está abaixo da esperada para trabalhar em sala de aula e melhorar o desempenho escolar. A herança familiar e cultural das famílias dos alunos é fator influencia no desempenho escolar dos estudantes pois as famílias não estão preparadas para ajudar as crianças a estudar com o tablet. Conclui-se que a política pública de inConclui-serção de tablets no ensino fundamental gera efeitos positivos no desempenho escolar, apesar de reconhecer a existência de problemas de ordem política e técnica durante sua implementação.

Palavras chave: Tecnologia da Informação. Desempenho Escolar. Ensino Fundamental.

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Information technology has been gradually changing people's lives in recent decades, since it limits space and time limits in communication and teaching and learning processes. In the school environment in Brazilian public schools, the insertion of technologies depends on public policies and the level of qualification of teachers for their didactic use. With the use of classroom technology, students' school performance can evolve in view of the possibility of accessing information that is available on the Internet. The research problem were the possible effects of adopting a public policy of utilizing technological equipment students' school performance. The objective of this study was to understand the effects generated by the public policy of using tablets in primary education in school performance indicators. Specifically, the municipality of Dr. Mauricio Cardoso, a research area, was characterized and local development indicators were described. In the sequence, the technological reality of the studied school was described, the professional competences of the teachers, the family and cultural inheritance of the families of the students benefited by the public policy were analyzed and, finally, the student's school performance was evaluated before and after the implementation of public policy. Studies on the use of technology in education can generate several benefits initially to society in general and to the academic community because it is a contemporary theme that may aid in other research. Similarly, undo the impression that in small municipalities there is nothing important and show that it is not only in large cities where good ideas come from. The theoretical framework used is based on themes such as school, education and culture, educational public policies in Brazil and technologies in education. It is a research developed at the exploratory level, whose strategy was the single case study. In the data collection process, semi-structured interviews, documentary research and participant observation were carried out, which enabled the data sources to be triangulated. The results of the research demonstrate that the public policy of insertion of tablets in elementary education in Doctor Maurício Cardoso generated positive effects on school performance in the years analyzed. Teacher competence is below that expected to work in the classroom and improve school performance. Family and cultural heritage of student families is a factor influencing students' school performance as families are not prepared to help children study with the tablet. It is concluded that the public policy of insertion of tablets in primary education generates positive effects on school performance, despite recognizing the existence of political and technical problems during its implementation.

Key-words: Information Technology. School performance. Elementary School. Brazil. Public

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Figura 1 – Classes de investimento escolar ... 31

Figura 2 – Modelo de teórico de análise ... 47

Figura 3 – IFDM de Doutor Maurício Cardoso Ano Base 2013. ... 49

Figura 4 – Distribuição dos municípios FIRJAN no RS. ... 50

Figura 5 – Distribuição dos municípios FIRJAN no Brasil... 51

Figura 6 – Evolução do índice FIRJAN em Doutor Maurício Cardoso. ... 52

Figura 7 – Evolução do Idese Educação em Doutor Maurício Cardoso. ... 54

Figura 8 – Evolução do IDEB em Doutor Maurício Cardoso. ... 54

Figura 9 – Sistema escolar da prefeitura. ... 57

Figura 10 – Laboratório de Informática. ... 58

Figura 11 – Infraestrutura de rede na escola... 61

Figura 12 – Etapas do projeto tablet na escola ... 69

Figura 13 – Comparativo de desempenho dos alunos da turma 1, no período 2013-2015. ... 88

Figura 14 – Comparativo de desempenho dos alunos da turma 2, no período 2013-2015. ... 90

Figura 15 – Comparativo de desempenho dos alunos da turma 3, no período 2014-2016. ... 92

Figura 16 – Comparativo de desempenho dos alunos da turma 4, no período 2014-2016. ... 94

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Metodologia do Estudo ... 46 Quadro 2 – Índices de desenvolvimento de Doutor Maurício Cardoso. ... 56 Quadro 3 – Competências identificadas nas professoras. ... 79

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Tabela 1 – Sujeitos da pesquisa. ... 44

Tabela 2 – Ranking estadual FIRJAN em 2013. ... 49

Tabela 3 – Investimentos realizados. ... 60

Tabela 4 – Desempenho dos alunos da turma 1 em 2013, 2014, 2015 e 2016. ... 87

Tabela 5 – Desempenho dos alunos da turma 2 em 2013, 2014, 2015 e 2016. ... 90

Tabela 6 – Desempenho dos alunos da turma 3 em 2014, 2015 e 2016. ... 91

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CHA – Conhecimentos Habilidades e Atitudes

CNE/CP – Conselho Nacional de Educação/Conselho Pleno EUA – Estados Unidos da América

FEE – Federação de Economia e Estatística

FUNDEB – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IDEB – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica IDESE – Índice de Desenvolvimento Socioeconômico IDHM – Índice de Desenvolvimento Humano Municipal IFDM – Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal

INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira LDBEN – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

MEC – Ministério da Educação e Cultura ODM – Objetivos Do Milênio

ONU – Organização das Nações Unidas PCN – Planos Curriculares Nacionais

PROINFE – Programa Nacional de Informática Educativa PROINFO – Programa Nacional de Informática na Educação PROUCA – Programa Um Computador por Aluno

RS – Estado do Rio Grande do Sul

TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido TI – Tecnologia da Informação

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INTRODUÇÃO ... 16 1.1 Apresentação do Tema ... 17 1.2 Problema ... 20 1.3 Objetivos ... 24 1.3.1 Objetivo Geral ... 24 1.3.2 Objetivos Específicos ... 24 1.4 Justificativa ... 25 2 REFERENCIAL TEÓRICO ... 28

2.1 Escola, Educação e Cultura ... 28

2.2 Políticas Públicas Educacionais ... 33

2.3 Tecnologias na educação ... 37

2.4 Desenvolvimento Regional ... 40

3 METODOLOGIA ... 42

3.1 Classificação e Delineamento da Pesquisa ... 42

3.2 Objeto de Estudo ... 43

3.3 Sujeitos da Pesquisa ... 44

3.4 Coleta de Dados ... 44

3.5 Análise e Interpretação dos Dados ... 46

4 APRESENTAÇÃO DOS DADOS ... 48

4.1 O Município Doutor Maurício Cardoso ... 48

4.2 Tecnologia na Educação na Escola Municipal ... 56

4.2.1 Sistema de Gestão Escolar e Infraestrutura Tecnológica... 56

4.2.2 O Processo de Implementação do Projeto ... 58

4.2.3 Competências Tecnológicas dos Professores ... 70

4.2.4 Herança Cultural dos Estudantes ... 79

4.3 Desempenho Escolar Antes e Depois dos Tablets ... 87

4.4 Discussão dos Resultados ... 95

4.4.1 O desenvolvimento do município ... 96

4.4.2 Dilemas vivenciados pelos professores municipais no processo ensino-aprendizagem 99 4.4.3 Contexto Social Familiar dos estudantes ... 101

4.5 Reflexões finais ... 102

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REFERÊNCIAS ... 110

APÊNDICES ... 116

APÊNDICE A - AUTORIZAÇÃO PARA REALIZAÇÃO DA PESQUISA ... 117

APÊNDICE B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ... 118

APÊNDICE C – ROTEIRO DE ENTREVISTA COM GESTORES ... 119

APÊNDICE D – ROTEIRO DE ENTREVISTA PROFESSORES DA ESCOLA ... 120

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Uma sociedade desenvolvida possui altos índices em educação (SCHULTZ, 1967; ENGUITA, 1989; FRIGOTO, 2001), razão pela qual as tecnologias da informação e comunicação (TICs) tornaram-se aliadas nos processos de ensino e aprendizagem em todos os níveis de ensino. Visando uma mudança na forma de aprender, o município Doutor Maurício Cardoso, no noroeste do Estado do Rio Grande do Sul no Brasil, implementou um projeto de inserção de tablets no ensino fundamental. Trata-se de uma política pública inovadora e inédita no território nacional no ano de sua implementação (2014), o qual despertou o interesse em compreender os efeitos por ela gerados no desempenho escolar dos alunos no ensino fundamental na Escola Municipal de Ensino Fundamental Professor Otalísio Hartemink de Doutor Maurício Cardoso.

Inovações nos processos de ensino e aprendizagem causam desconforto em docentes que não estão preparados para mudanças (BRANDÃO, 1995), em especial as tecnológicas. Também desafia administradores públicos a planejar o novo e expõe as fragilidades das famílias na formação educacional doméstica dos estudantes. Mesmo assim é preciso considerar que a educação é a melhor forma de transformar a sociedade e melhorar os indicadores de desenvolvimento dos municípios brasileiros (MELLO, 1991). Dessa maneira, se constata que mesmo passados 21 anos, os docentes continuam saindo das universidades não preparados para trabalhar com tecnologia em sala de aula.

A sociedade contemporânea tem vivenciado diversas transformações nos últimos anos, sendo a comunicação instantânea em áudio e vídeo entre pessoas em diferentes locais do planeta uma dos principais benefícios proporcionados pela tecnologia (TEIXEIRA, 2010; MARTINS; TEIXEIRA, 2015). Por outro lado, as metodologias de ensino, especialmente no ensino fundamental, sofreram poucas alterações (PINTO; PRETTO, 2015). O contexto contemporâneo sugere a substituição das aulas expositivas, na qual o professor é o “dono do saber” e o aluno um “mero receptador e decorador” de informações, pela aprendizagem colaborativa (TEIXEIRA, 2010), na qual o professor assume o papel de facilitador e mediador das discussões sobre o conteúdo. Neste caso, ambos (professor e aluno) aprendem e ensinam ao mesmo tempo (TEIXEIRA, 2010).

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Sobre as políticas públicas de educação desenvolver-se a presente Dissertação de Mestrado. Os resultados são apresentados em quatro capítulos. No Capítulo 1, que é formado por esta introdução, também traz a apresentação do tema, o problema de pesquisa, os objetivos geral e específicos e finaliza com a justificativas de ordem acadêmica, prática e pessoal.

No Capítulo 2 é apresentado o referencial teórico utilizado durante o estudo. Os assuntos abordados foram cultura, escola, educação nacional e regional e políticas públicas de educação e tecnologias na educação. Estes temas constituíram a base de conhecimento aplicada na análise do fenômeno estudado, considerando a educação pública de qualidade uma dimensão de desenvolvimento local por experiência com tecnologia.

No Capítulo 3 está a classificação e o delineamento da pesquisa bem como o objeto de estudo, os sujeitos da pesquisa e descreve o processo de coleta de dados e análise e interpretação dos dados formando a metodologia da pesquisa.

No Capítulo 4 comporta a apresentação dos dados composto pelo histórico do município de Doutor Maurício Cardoso, tecnologia na educação na escola municipal, competências tecnológicas dos professores, herança cultural dos estudantes. Na sequência faz-se a análifaz-se do defaz-sempenho escolar após a implementação da política pública e análifaz-se e discussão dos resultados. Por fim apresenta-se as conclusões do estudo.

1.1 Apresentação do Tema

Desde os anos 1980 os computadores pessoais aumentaram a capacidade de agir e de comunicar dos indivíduos (LEVY, 1999). As redes informáticas modificam os circuitos de comunicação e de decisão nas organizações (LEVY, 1993). A tecnologia muda às modalidades de comunicação entre pessoas, os modos de aprendizagem (BRANDÃO, 1995). A Internet e o conjunto de tecnologias digitais são muito mais do que uma ferramenta de comunicação (PRETTO, 2010). Tal cenário exige do indivíduo o domínio de ferramentas básicas de tecnologia visando à comunicação entre as pessoas, sua inclusão no mundo digital e sua sociabilidade pautada em novos saberes. Levy (1996) revela que o conhecimento é o fruto de uma aprendizagem, e o conhecimento, enquanto fruto da inteligência se manifesta essencialmente na comunicação (TEIXEIRA, 2012).

Para Piaget et al (1995), existem três tipos de conhecimento: físico, que trata das experiências diretas sobre os objetos, lógico-matemática que tem origem na coordenação das ações das pessoas nos objetos e o conhecimento social que é oriundo das relações e interações

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sociais de cada indivíduo. Este último, caracteriza-se pelo conhecimento psicológico e social, pelas relações interpessoais, papéis sociais, normas que regulam as condutas no grupo social, e pelo funcionamento e organização da sociedade (GUIMARÃES; SAVARALI, 2011). O conhecimento é construído a partir da interação que as pessoas estabelecem com o meio físico e social. Pela visão de Piaget et al (1995), a vida social influencia no desenvolvimento psicológico que, por sua vez, orienta a criança ao pensar como um adulto, contribuindo para a uma formação completa, mas não prescinde de tecnologias.

Na visão de Borges e Schenatz (2013), as tecnologias fazem parte do cotidiano e isso implica na necessidade das pessoas portarem habilidades para utilizar essas ferramentas adequadamente. Mas a iniciação das crianças no mundo digital é ainda mais relevante, pois o ensino formal pode, com o uso de tecnologias digitais, capacitá-la para criar mecanismos para integrar os equipamentos tecnológicos aos objetivos de trabalho, quanto da vida adulta. A tecnologia automatiza e potencializa tarefas além de poder organizar a gestão. É um meio eficiente para alcançar os resultados esperados pelas organizações, mas também pode ser um elemento de apoio ao trabalhador, sem levar em consideração os impactos causados aos assalariados (GRIEBELER, 2012).

Para Vargas (2001), tecnologia é a utilização de conhecimentos científicos para solução de problemas técnicos. Portanto, não é mera mercadoria utilizada no comércio, mas um tipo de saber que se aprende (VARGAS, 2001), um artefato aplicado em diferentes contextos de uso segundo lógicas sociais e organizacionais autorreguladoras (ALMEIDA, 2008). Assim, a tecnologia se insere no processo de ensino e aprendizagem.

Educar significa revelar ou extrair de uma pessoa algo potencial e latente, aperfeiçoar moral e mentalmente de maneira a torna-la suscetível de escolhas individuais e sociais, capaz de agir em consonância. Requer instrução de uso de ferramentas por meio de professores nas escolas, contemplando um ambiente sociomoral construtivista mediado pelo esforço de estudantes para aprender. A educação não está empenhada apenas em produzir instrução, mas em progredir o conhecimento através da pesquisa (SCHULTZ, 1967), concepção de educação que contesta a introdução de novas ferramentas no processo de ensino e aprendizagem.

Num contexto em que o ensino formal é utilizado nas escolas, o professor assume o papel disciplinador e o aluno assume a posição de espera pelo saber chegar até ele e acaba não questionando ou expressando a sua opinião em diversos momentos. Neste caso, ocorrem situações de não aprendizagem. Guimarães e Savarali (2011), ao avaliar uma situação de não aprendizagem em duas escolas, constataram que o ambiente de ensino tradicional não contribui com o desenvolvimento infantil se esse conteúdo não estiver sendo explorado e

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trabalhado pelo estudante. Ainda, as crianças inseridas no ambiente sociomoral construtivista de aprendizagem apresentam ideias mais evoluídas do que as outras do modelo tradicional.

Real, Tavares e Picetti (2013) argumentam que a introdução de tecnologias na educação formal necessita uma ação detalhada e programada dos professores tendo em vista que é imprescindível sua formação qualificada para que as tecnologias tenham função educativa. A visão de Maia e Barreto (2012) é complementar, pois consideram que o uso de computadores como suporte ao ensino formal só trará efeitos positivos quando os educadores estiverem qualificados para fazer uso pedagógico dessas ferramentas. Ao mesmo tempo, Santos e Rodrigues (2013) afirmam que a inovação tecnológica nas escolas exige gestores competentes para reorganizar as atividades. Ainda, Almeida et al. (2014) alertam que as inovações proporcionadas pelas tecnologias facilitam o aprendizado e trazem muitas experiências a favor da educação. Com a tecnologia é possível modificar a prática do ensino-aprendizagem sendo necessário envolver as instituições que formam os professores na proposta de inclusão digital (BRANDÃO, 1995).

O uso de tecnologias da informação e comunicação na educação é tema relativamente novo e ainda encontra muita resistência principalmente em centros urbanos menores os quais na maioria das vezes têm pouco acesso a esses equipamentos tecnológicos. Há gestores públicos preocupados em modificar a forma de ensinar através da implementação de políticas de aquisição de equipamentos como tablets, lousa digital e laboratórios de informática (MAIA; BARRETO, 2012; REAL; TAVARES; PICETTI, 2013). Entende-se, porém, que a simples compra destes aparelhos não certifica que os mesmos serão utilizados para fins educacionais, sabendo-se da grande quantidade de conteúdo impróprio que pode ser acessado por meio destes equipamentos. Tal pensamento encontra respaldo em Rodrigues e Silvoni (2013) que alertam: no Brasil ainda se acredita que a inclusão de disciplinas de informática na organização curricular dos cursos de pedagogia vai melhorar a qualidade da educação e melhor preparar os professores para o uso de tecnologias no processo ensino-aprendizagem.

Levy (1993) acredita que os críticos da informática consideravam o computador uma máquina restritiva e difícil de ser manuseada. Desta maneira, subscreveram a ideia errônea do computador como a essência da informática tendo em vista que desde os anos 1960 os estudiosos focavam as pesquisas para a informática da comunicação, trabalho cooperativo e interação amigável.

Tais questões, no entanto, podem sofrer modificações em razão do contexto social, cultural e histórico o qual implica compreender a herança cultural de professores e de alunos.

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Em determinadas regiões do Brasil, o uso de aparelhos eletrônicos como ferramentas educacionais pode impactar mais ou menos no desenvolvimento local.

Santos e Rodrigues (2013) afirmam que a introdução de estratégias tecnológicas no processo educacional pode contribuir para que os processos de ensino e aprendizagem ocorra de maneira inovadora, mas também podem criar uma desigualdade social elevada, em função de não conseguirem atingir a todas as escolas.

Assim, o tema relacionado a introdução de estratégias tecnológicas no processo educacional se relaciona com desenvolvimento local e provoca reflexões a respeito dos efeitos observados em determinados contextos sociais, econômicos e culturais

1.2 Problema

O modelo convencional de educação já não dá às respostas adequadas ao indivíduo do século XXI (TEIXEIRA, 2012). No Brasil, o acesso à escola não garante igualdade de oportunidades, o que é possível somente por meio da adoção padrão de qualidade básico para todos ou as desigualdades na escola, como o resultado do uso de ferramentas tecnológicas nos processos ensino e aprendizagem, continuaram existindo (MELLO, 1991). Na formação de professores para a educação profissional e tecnológica, a tecnologia é considerada ciência transdisciplinar das atividades humanas no contexto escolar, refere-se ao estudo do trabalho humano e nas suas relações (MACHADO, 2008). No ensino fundamental, essa percepção ainda é limitada e o reconhecimento da importância das estratégias tecnológicas nos processos de ensino e aprendizagem neste nível de ensino para o desenvolvimento regional encontra-se ausente.

O uso de tecnologias na educação não é novo. Em nível mundial, os precursores foram os americanos, franceses e portugueses. Nos EUA, o início das discussões foi no final dos anos 50, todavia, a introdução do uso do computador foi mais efetiva a partir da década de 70 através de projetos que colocaram o aparelho nas escolas públicas. Os pesquisadores precursores que defendiam o uso do computador para mudar a educação foram Papert e Minsky e inicialmente, os estudos não previam a preparação dos professores para trabalhar com tecnologia e em 1990 apenas 15% dos educadores estavam aptos a lecionar com aparelhos eletrônicos. Entre 1990 e 2000 os EUA decidiram que a única forma de garantir que todos os americanos tivessem acesso aos computadores seria baixando o preço destes equipamentos (ALMEIDA, 2008).

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A França também passou a introduzir o computador nas escolas a partir de 1970 e o líder deste movimento era Henri Dieuzeide. Em 1985, o governo francês criou disciplinas específicas obrigatórias para os alunos que ensinavam a manipular o computador e os programas básicos. Em Portugal, o projeto Minerva lançado no final de 1985 orientou a introdução da disciplina de Tecnologia Educativa no currículo da formação inicial e em serviço de professores. Este programa foi substituído pelo projeto Nónio em 1996 que tinha a finalidade de orientar, acompanhar e avaliar os programas de integração de tecnologia nas escolas. O sucesso do referido projeto ocorreu pela expressiva participação dos professores e também pela mudança de atitude dos alunos que compreenderam a importância de incorporar a tecnologia em sala de aula. Em 2005, Portugal inseriu a disciplina TIC no currículo do nono e décimo ano escolar (ALMEIDA, 2008).

Se, por um lado a instrução aumenta a capacidade de adaptação das pessoas face às flutuações das oportunidades de emprego e associadas ao crescimento econômico (SCHULTZ, 1967), à educação e a pesquisa, combinadas com as estratégias tecnológicas em todos os níveis de ensino, constituem as mais importantes fontes de desenvolvimento. A aprendizagem é o elemento central e fundamental da educação alimentada pelo contexto social onde o aprendiz se encontra, dessa maneira, requer contextualização do lugar (escola, cidade, região) e da cultura (de onde vem) do estudante. Os processos de ensino e aprendizagem no ensino fundamental contemplando tecnologias eleva as possibilidades de progresso, beneficiando os estudantes e suas famílias, outros indivíduos e famílias da comunidade em que a política pública é implementada. Nas últimas décadas, o acesso ao uso de tecnologias proporcionou a facilidade de aquisição de conhecimento, entretanto, os aparelhos tecnológicos não são capazes de construir conhecimento sem intervenção humana (BRANT, 2013; RODRIGUES; SILVONI 2013) o que requer pessoas capacitadas para seu manuseio, ou seja, professores competentes, escolas e atividades articulados para desafiar o aluno a construir o saber.

No entendimento de Mello (1991), a exposição e convivência imposta pelas TICs atingem todas as camadas sociais. A sociedade precisa estar preparada para manusear de modo adequado as ferramentas tecnológicas, ampliar a base do mercado de consumo e elevar os padrões de qualidade de produtos, serviços e de vida. Cabe as escolas o papel principal dessa capacitação e formação por meio do ensino formal.

Para Eugênio (2012), as ferramentas tradicionais de ensino (aulas expositivas) não são atraentes da mesma maneira que equipamentos tecnológicos, como TV ou computador. A

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apropriação de conhecimento poderá ser mais eficaz em ambientes de aprendizagem onde a cognição se estrutura entre a ação e percepção, ou seja, em ambientes virtuais e interativos.

Para tanto, a escola precisa atualizar constantemente o seu método de ensino em virtude da dinâmica do seu corpo discente que é provocado/desafiado diante do avanço da ciência e da tecnologia (SANTOS; RODRIGUES, 2013). Na década de 1960, para melhorar a forma de ensinar era necessário realizar avaliação criteriosa das reais e importantes diferenças de qualificação de professores (SCHULTZ, 1967). Isso dificilmente é observado no contexto atual (ALMEIDA, 2008; SANTOS; RODRIGUES, 2013).

Para Brant (2013), as tecnologias são essenciais ao desenvolvimento regional e para tanto, são necessárias ações que promovam a igualdade de acesso a esses recursos para não acentuar as desigualdades sociais. A ausência de computadores em um ambiente é expressão de atraso. Brandão (1995) afirmou que uma pessoa sem conhecimento básico em informática é subdesenvolvida, marginalizada social e profissionalmente (BRANDÃO, 1995). Brescia et al. (2013) explicam que apenas a entrada de computadores na escola, ligados ou não a Internet, não determina que a educação seja de qualidade. É necessário mais que tecnologia para que a qualidade do ensino seja garantida.

No Brasil, diversos projetos para o uso de tecnologia em sala de aula foram criados a partir de 1984, entretanto, eles contemplam apenas uma pequena parte da população e, dessa maneira, os resultados são pouco significativos. É preciso integrar a tecnologia no currículo escolar e o maior desafio é a universalização dos projetos e a sua concepção transdisciplinar (MACHADO, 2008). Assim os computadores seguem subutilizados por diversos motivos, principalmente fatores político-pedagógicos e formação de professores (ALMEIDA, 2008; MACHADO, 2008; SANTOS e RODRIGUES, 2013).

Lima Filho e Garcia (2010) apresentam os resultados do uso de tecnologia em cursos técnicos no Paraná. Os professores consideram a tecnologia como conhecimento, técnica, aplicação da técnica e do conhecimento, instrumento e ferramenta, desenvolvimento e inovação, informação e informatização, trabalho e processo produtivo.

Em outro estudo, Real e Rosa (2015) narram o uso de tablets na educação infantil em uma escola particular de Porto Alegre no Estado do Rio Grande do Sul. As professoras relataram que os equipamentos tornaram-se essenciais na qualificação da aprendizagem dos alunos e destacaram a importância do uso de aparelhos tecnológicos na escola, pelo contato precoce das crianças com esses aparelhos, os quais desafiam os professores a repensarem as suas práticas pedagógicas.

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No Brasil, a utilização de tecnologia na educação pode variar de uma região para outra. Em algumas regiões, a implementação dessa tecnologia é mais complexa do que em outras. Kuhn e Steffen (2013) apresentam um estudo quantitativo em uma escola de Santa Rosa no Estado do Rio Grande do Sul (RS) onde os dados estatísticos mostram que os professores utilizam como a principal mídia para ensino o texto escrito em papel e o quadro negro para apontamentos, ou seja, a forma tradicional de ensinar, em detrimento da utilização de vídeos, imagens e internet que são ferramentas tecnológicas.

Abegg et al. (2014) mostram os resultados da implementação do programa tablet educacional no município de Cruz Alta (RS)1. O referido programa prevê a cedência destes aparelhos para os professores da rede estadual de ensino sem utilizar nenhuma ferramenta com participação direta dos alunos. Os autores relatam problemas de infraestrutura, pois o acesso à Internet ficou prejudicado comprometendo o processo de ensino-aprendizagem. Não havia sinal em todas as salas e a velocidade era muito lenta. Inicialmente os professores estavam inseguros e ansiosos, mas logo após receber o equipamento se sentiram mais motivados, um dos educadores criou um grupo em uma rede social com o intuito de socializar as aprendizagens, os professores estão elaborando seus planos de aula bem como utilizando o aparelho como meio para pesquisa.

Em alguns municípios brasileiros, o uso de tecnologia nos processos de ensino e aprendizagem parte da leitura digital. Bedin e Grazioli (2013) apresentam um projeto de leitura digital em escolas rurais em Barão do Cotegipe (RS)2, justificado pela maior atratividade de recursos audiovisuais disponíveis na Internet. Os professores entendem que na Internet existe grande quantidade de informações facilmente acessadas e disponibilizadas a todas as pessoas. Porém, os mesmos professores ressaltam que a grande rede de computadores pode dificultar a capacidade do aluno em selecionar os conteúdos para uma leitura mais profunda promovendo situações de não aprendizagem (ALMEIDA, 2008).

Em 2012, o Ministério da Educação (MEC) adquiriu cerca de 600.000 tablets a fim de equipar 58.000 escolas de Educação Básica. O projeto previa a distribuição aos alunos e docentes, entretanto, após análise, o MEC decidiu entregar os dispositivos apenas aos docentes para que eles aprendam a trabalhar pedagogicamente antes de contemplar os alunos,

1

O município de Cruz alta possui IDHM de 0,750 que fica cima da média nacional (0,727). O IDHM de educação é 0,653 também cima do índice do Brasil que é 0,637 (IBGE, 2013). O IDESE possui nota 0,757 e o IDESE educação 0,721 (FEE, 2013).

2

A cidade de Barão do Cotegipe possui IDHM 0,719 que fica abaixo da média nacional (0,727). O IDHM de educação é 0,593 também abaixo do índice do Brasil que é 0,637 (IBGE, 2013). O IDESE possui nota 0,747 e o IDESE educação 0,685 (FEE, 2013).

(24)

sem nenhum treinamento. O MEC acreditava que os mesmos aprenderiam sozinhos a dominar o aparelho e a explorar seus recursos de maneira pedagógica (MAIA; BARRETO, 2012).

O Núcleo de Tecnologia em Educação do RS, através de uma ação do PROINFO, distribuiu, em 2013, tablets para todos os professores atuantes em sala de aula no ensino médio da zona urbana. Cerca de 795.031 professores foram beneficiados. Destes, 36 professores se recusaram a receber o equipamento pelos mais diversos motivos, os quais se destacam “não ver aplicação pedagógica” e “não saber usar e não gostar de tecnologia” (REAL; TAVARES; PICETTI, 2013).

Tais estudos evidenciam que uma política pública de inclusão do aluno em idade escolar no mundo virtual/digital não é suficiente para gerar aprendizado e por conseguinte modificar a realidade regional. O desenvolvimento regional por meio da formação educacional com estratégias tecnológicas depende de políticas públicas educacionais que tenham por objetivo final melhorar os indicadores sociais como o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) e o Índice de Desenvolvimento Socioeconômico (IDESE). Deste modo torna-se necessário que desde a educação básica os alunos aprendam a operar computadores e dispositivos móveis, mas que saibam como fazê-lo para que tais conteúdos gerem conhecimento.

Questiona-se, portanto: quais são os efeitos da adoção de uma política pública de utilização de tablets no ensino fundamental na Escola Municipal de Ensino Fundamental Professor Otalísio Hartemink de Doutor Maurício Cardoso nos indicadores de desempenho escolar?

1.3 Objetivos

1.3.1 Objetivo Geral

Compreender os efeitos gerados pela política pública de utilização de tablets no ensino fundamental nos indicadores de desempenho escolar na Escola Municipal de Ensino Fundamental Professor Otalísio Hartemink de Doutor Maurício Cardoso.

1.3.2 Objetivos Específicos

a) Caracterizar o município Doutor Mauricio Cardoso e descrever os indicadores de desenvolvimento;

(25)

b) Conhecer a realidade tecnológica na escola selecionada.

c) Descrever as competências profissionais dos professores para trabalhar com tecnologia da informação na escola;

d) Analisar a herança familiar e cultural das famílias dos alunos beneficiados pela política pública;

e) Avaliar o desempenho escolar dos alunos beneficiados antes e depois da implementação da política pública.

1.4 Justificativa

A Humanidade tem construído conhecimento, ciência, arte, pensamentos, tecnologias em diferentes culturas, porém a educação não ampliou novas formas de educar. No passado, o professor tinha um papel controlador e repressor, representava o sábio que transmitia o conhecimento para o aluno que era um receptor passivo. Esses modelos de escola surgiram durante a Revolução Industrial, pois o objetivo era garantir a qualificação necessária para reproduzir força de trabalho. As mudanças introduzidas pelo uso de tecnologia na educação partem de métodos mais confortáveis para transmissão da informação até a mudança nas interações, na constituição da subjetividade e na forma de apropriação do conhecimento (SOARES; VALENTINI, 2005).

Ao escolher este tema para elaboração de dissertação, acreditava-se que este era um assunto com poucas referências bibliográficas, porém, foram encontrados diversos artigos acadêmicos relatando inúmeras experiências, entretanto, em nenhuma delas se assemelha a política pública analisada neste projeto, conforme já discutido anteriormente.

Explica Schultz (1967) que a educação não é setor instável da economia, que pode exercer influência reguladora. A definição de Mello (1991) é complementar, pois, investir em políticas públicas de educação pode expressar uma nova relação entre desenvolvimento e democracia, como um dos fatores que contribuem para associar o crescimento econômico com a melhoria da qualidade de vida e a consolidação dos valores democráticos.

Para Rodrigues e Silvoni (2013), é fundamental reconhecer a importância das tecnologias e a urgência de se criar conhecimentos e mecanismos que auxiliem a sua relação com a educação para proporcionar uma melhor sociedade. Teixeira (2012) explica que a experiência em rede (aprendizagem colaborativa) deve ser o foco principal da aprendizagem, pois na interação com outras pessoas, pode-se aprender mais e potencializar a construção de novos conhecimentos. A visão de Borges e Schenatz (2013) é contingencial, tendo em vista

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que, as tecnologias devem ser utilizadas como complemento a aprendizagem, na construção de novos saberes, pois o conhecimento só é válido se for capaz de provocar mudanças.

Isotani e Orlandi (2012) argumentam que o uso de tecnologias móveis poderá colocar o aluno em um ambiente de aprendizagem virtual caracterizado por uma aprendizagem contextualizada, personalizada e colaborativa. A tendência é que se utilizem cada vez mais dispositivos móveis em qualquer ambiente. A orientação de Almeida et al. (2014) é que os ambientes colaborativos contribuem para a criação de um espaço rico de aprendizagem individual e coletiva em que as pessoas cooperam com o desenvolvimento do trabalho, participando do exercício coletivo em que produziram e acumularam saberes.

Para Borges e Schenatz (2013), a escola deve ensinar aos alunos desde cedo à importância da pesquisa destacando a necessidade de não desistir diante das dificuldades. Essa prática pode tornar os estudantes mais independentes.

O laboratório de informática e a sala de aula precisam ser espaços interdisciplinares, onde o professor atue desafiando os alunos, administrando todos os recursos dos equipamentos em um trabalho de parceria com seus colegas das mais diversas áreas. Para preparar todos para conviver e incorporar os avanços tecnológicos, integrar a sociedade e diminuir a exclusão de amplos setores do mercado de trabalho e de consumo as mudanças devem partir da escola básica (MELLO, 1991).

No entendimento de Brant (2013), a utilização de tecnologias precisa ser introduzida na cultura escolar bem como serem visualizadas como aliadas, porém não basta inserir o computador na escola sem saber como utilizá-lo nem ter professores que saibam manuseá-lo de forma criativa. Assim, é importante combater o isolamento dos professores a essas ferramentas, “desmistificar essa resistência dos educadores quanto à tecnologia dentro da sala de aula e enfrentar os medos da era tecnológica” (RODRIGUES; SILVONI, 2013).

Brescia et al. (2013) explicam que a forma do professor ensinar utilizando tecnologia é diferente da tradicional, pois, em virtude da grande quantidade de informações não é possível absorver e dominar tudo de uma determinada área, mas é preciso saber onde buscar o conhecimento. Dessa maneira, a gestão do conhecimento é mais importante na aprendizagem do que a aquisição e armazenagem de conhecimento.

Para Borges e Schenatz (2013), a construção do conhecimento pode ser potencializada pela associação de diferentes ferramentas tecnológicas a serem utilizadas em um ambiente de aprendizagem. O enfoque dos autores é que para os professores não basta apenas conhecer as ferramentas tecnológicas, os docentes precisam saber escolher quais equipamentos utilizar

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para integrar ao currículo escolar bem como estarem preparados para implantar práticas pedagógicas que sejam inovadoras.

Por isso, os estudos sobre o uso de tecnologia na educação podem gerar diversos benefícios. Inicialmente a sociedade em geral e a comunidade acadêmica por tratar-se de um tema contemporâneo que pode auxiliar em outras pesquisas pela sua contribuição da educação como área. Também para o município e à escola onde será realizada a pesquisa, uma vez que a política pública tem a possibilidade de tornar-se referência para outras localidades.

O projeto é de relevância também pela oportunidade da prefeitura ganhar notoriedade em razão desta política pública oferecida aos estudantes. Ainda, desfazer a impressão de que em pequenos municípios não existe nada de importante e mostrar que não é apenas em grandes cidades de onde partem boas ideias.

Este trabalho foca a aplicação da política pública no ensino fundamental, mas, no futuro pode se tornar referência para as outras escolas do município bem como a política pública ser ampliada para estudantes do ensino médio. Os alunos vão desenvolver o senso crítico e melhorar seu nível cultural.

Esse tipo de iniciativa valoriza um pequeno município onde a qualificação em tecnologia é um diferencial para a entrada no mercado de trabalho. A cidade não possui universidades, porém, a política pública pode criar um sentimento de valorização do município. Espera-se que os estudantes de Maurício Cardoso formem-se, no nível do ensino médio, mais qualificados tecnologicamente do que em outros pequenos municípios, o que lhes tornará mais competentes para ingressarem no mercado de trabalho e para continuarem seus estudos em nível superior nas melhores universidades do país.

Para o autor desta pesquisa, trabalho é relevante em razão de que esta será a oportunidade que o mesmo terá para desenvolver a dissertação de mestrado bem como contribuir para o desenvolvimento econômico e social do município no qual trabalha. Também é importante para a linha de pesquisa de gestão social da Unijuí por ser uma produção acadêmica que pode ser tornar referência para trabalhos futuros.

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Este capítulo foi desenvolvido e dividido em três subcapítulos para melhor compreensão dos temas estudados. Após esta introdução é abordado escola, educação e cultura, em seguida fala-se sobre políticas públicas educacionais no Brasil e por fim sobre tecnologias na educação.

2.1 Escola, Educação e Cultura

A educação é uma alternativa para transformar a sociedade. As tecnologias da informação e comunicação (TICs) estão modificando as pessoas, a cultura, as relações sociais e o acesso ao saber. A qualidade da educação básica deve ser a mesma para todos formando sujeitos autônomos e protagonistas de cidadania ativa em um princípio de Estado democrático. A ideia é emancipar o homem e prepará-lo tecnicamente para atuar no atual patamar científico tecnológico. Partindo dessas duas premissas, o referencial teórico deste estudo será relacionado aos seguintes assuntos: Educação e o processo ensino-aprendizagem, políticas públicas de educação, tecnologia, trabalho e desenvolvimento regional.

A humanidade tem construído conhecimento, ciência, arte e que resultam em tecnologias úteis em diferentes culturas, porém a educação não ampliou novas formas de educar. Educar significa revelar ou extrair de uma pessoa algo potencial e latente, aperfeiçoar moral e mentalmente de maneira a tornar a pessoa suscetível de escolhas individuais e sociais e capaz de agir em consonância (SCHULTZ, 1967). Trata-se de um conceito diferente de instrução que é aplicado aos serviços educacionais ministrados pelas escolas abrangendo o esforço de estudantes para aprender. A educação organizada não está empenhada apenas em produzir instrução, mas em progredir o conhecimento através da pesquisa, tornando os jovens criativos e empreendedores (SCHULTZ, 1967).

De acordo com Teixeira (2012), a educação é o processo pelo qual as pessoas constroem conhecimento a partir de processos de aprendizagem e no seu entendimento a aprendizagem ocorre em um contexto de muitas informações, de possibilidades de troca entre as pessoas. Desta forma, a aprendizagem é o elemento central e fundamental da educação alimentada pelo contexto social onde o aprendiz se encontra. Portanto, aprendizagem requer contextualização do lugar (escola, cidade, região) e da cultura (de onde vem).

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Apesar de a escola ser apenas um agente na socialização, os traços que compõem a personalidade das pessoas que formam uma sociedade são constituídos pelo sistema de ensino. Esse sistema é oriundo de uma história que modela os alunos e professores tanto através do conteúdo como pela cultura e pelos métodos (BOURDIEU, 2007). Dessa forma, o papel do professor no processo educacional é ajudar o aluno a interpretar, relacionar e contextualizar as informações. Também afirma Brandão e Moura (2013) é ser um facilitador organizando, coordenando e mediando as necessidades individuais dos alunos para proporcionar melhorias na aprendizagem. Uma das formas de fazê-lo afirmam Santos e Rodrigues (2013), é gerar desafios aos mesmos.

Moran (2006) explica que a escola deve instigar o aluno à curiosidade. O educador deve evitar o uso de procedimentos autoritários ou técnicas paternalistas que dificultem o exercício da curiosidade dos estudantes. Ensinar não é só falar, mas se comunicar com credibilidade (MORAN, 2006). É necessário ainda compreender que a curiosidade de uma pessoa não pode adentrar na privacidade de outra, por isso, a relação entre professor e aluno precisa ser aberta, que instigue a indagar e não apassivada durante a sua comunicação e que ambos apresentem-se curiosos durante o diálogo (FREIRE, 1996). Ela, no entanto, não prescinde da instrução. A instrução eleva as possibilidades de progresso, beneficiando os estudantes e suas famílias, outros indivíduos e a comunidade (SCHULTZ, 1967).

Para o sociólogo francês Pierre Bourdieu a herança familiar impacta no desempenho escolar e recorre à sociologia da educação para fundamentar essa teoria. Bourdieu (2007) argumenta que o indivíduo é caracterizado por uma bagagem herdada que é composta pelo capital econômico (bens que este capital dá acesso), pelo capital social (relacionamentos sociais compostos e influenciados pela família) e pelo capital cultural3 institucionalizado (títulos escolares) sendo este último o que mais impacta no destino escolar. O capital econômico e social são meios para acumulação de capital cultural, o qual ocorre, por exemplo, por meio do acesso a estabelecimentos de ensino e viagens de estudo. Porém, o aproveitamento dessas oportunidades está condicionado ao capital cultural anterior do estudante (NOGUEIRA; NOGUEIRA, 2002). Neste caso a educação é de qualidade quando forma pessoas para pensar e agir com autonomia (BRANDÃO; MOURA, 2013) o que implica inclusão de recursos digitais em sala de aula.

3 Para Bourdieu (1979), o capital cultural pode ser dividido em: a) incorporado, ou seja, sob a forma de

disposições duráveis do organismo. b) objetivado, sob a forma de bens culturais - quadros, livros, dicionários, instrumentos e máquinas. c) institucionalizado, forma de objetivação que é preciso colocar à parte porque, como se observa em relação ao certificado escolar, ela confere ao capital cultural - de que é, supostamente, a garantia - propriedades inteiramente originais.

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Bourdieu (2007) considera que há uma relação muito forte entre o nível de instrução das pessoas e gastos com a prática cultural, ou seja, quanto maior o grau de educação mais a pessoa gasta em atividades culturais. Outra descoberta do estudo é referente à comunicação pedagógica entre professor e aluno. O entendimento da mensagem do docente é maior em estudantes com um nível cultural alto, por outro lado, quanto menor a condição cultural mais confuso é a compreensão do receptor da mensagem. Destarte, o autor alerta que este descompasso ocasiona o monopólio da cultura. Por fim, a pesquisa revela a existência de uma relação muito forte entre êxito escolar e capital cultural familiar medido pelo nível de escolaridade dos genitores.

A partir da premissa de que o capital cultural influencia o desempenho escolar, afirma-se que a educação para crianças oriundas de meios culturais mais elevados afirma-seria a continuação da educação mediada pelos pais no contexto da família e para as outras seria algo estranho e distante. A cultura também seria fator determinante nas avaliações do desempenho escolar do aluno, considerando que avaliar não é a simples verificação da aprendizagem. A avaliação contempla o estilo elegante de fala, escrita e comportamento e isso só é compreendido por quem foi socializado nestes mesmos valores (NOGUEIRA; NOGUEIRA, 2002).

Para Freire (1996) a educação deve ser entendida como um ato de intervenção no mundo cujo objetivo são mudanças radicais na sociedade como, por exemplo, na economia, relações humanas, direito a trabalho, terra, educação e saúde. Porém, os educadores não podem pensar que vão transformar o país a partir da educação, mas podem demonstrar que é possível mudar ou ao menos melhorar a situação (FREIRE, 1996).

Ensino e educação são dois conceitos diferentes. No ensino são organizadas as atividades didáticas para auxiliar os alunos a entender os conteúdos de áreas específicas do conhecimento. Já na educação o objetivo é integrar ensino e vida, conhecimento e ética, reflexão e ação, ou seja, ter uma visão de totalidade. Neste sentido Moran (2006) explica que o papel do professor foi ampliado significativamente a partir das TICs, pois, além de ditar o conteúdo, ele precisa orientar a aprendizagem, gerindo a pesquisa e a comunicação dentro e fora da sala de aula, tornando as aulas colaborativas e nem sempre presenciais4.

Na sociologia da educação, Bourdieu (2011) distingue as formas de investimento escolar em três classes sociais: popular, média e elite. Na classe mais baixa, o investimento

4 Na economia camponesa, a sede da aprendizagem social e do trabalho sempre foi a família. Para o camponês

autossuficiente, a escola apenas oferecia ensinamentos religiosos e políticos. Os conhecimentos necessários para o trabalho eram adquiridos no local de trabalho, pois não eram oferecidos pela escola. Isso provocou diversos problemas sociais como a ignorância e falta de respeito dos empregados, o que passou a comprometer os lucros das empresas. (ENGUITA, 1989).

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em educação é mínimo uma vez que os genitores consideram pouco o retorno dessa aplicação, além de, lento, incerto e de longo prazo. Os filhos deveriam apenas estudar o necessário para se manter ou passar o nível socioeconômico. O tempo em sala de aula também seria mais curto pela opção por adentrar rapidamente no mercado de trabalho. A classe média se caracteriza pela renúncia aos prazeres imediatos dos pais para investir na educação e pelo menor número de filhos que oportuniza uma vida escolar mais longa, mas também por reconhecer a necessidade de cultura e realizar investimentos como comprando livros. Para as famílias de classe social mais elevada, o sucesso escolar é visto como natural.

Bourdieu (2011) afirma ainda a divisão da elite entre os detentores de capital cultural (investimento escolar intenso e carreiras longas) e de capital econômico (buscam apenas a certificação que a escola garante para ter acesso às posições de controle que já estão garantidas pelo capital econômico) (NOGUEIRA; NOGUEIRA, 2002). A figura 1 apresenta as classes de investimento escolar defendidas por Pierre Bourdieu.

Figura 1 – Classes de investimento escolar

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A visão de Bourdieu (2011) referente a essa separação em classes sociais sofre algumas contestações. Nogueira e Nogueira (2002) apresentam outros fatores que impactam na educação dos filhos, como a trajetória do grupo familiar (e não de classe), nível educacional, meio urbano ou rural e o nível de conservadorismo religioso. As famílias com nível educacional mais alto que vivem no meio urbano e são menos conservadores têm uma postura mais liberal na educação dos filhos independente da categoria socioprofissional dos pais. Dessa maneira, uma classe social pela visão de Bourdieu (2011) seria dividida em várias outras conforme os fatores citados anteriormente.

De acordo com Freire (1996), os homens são os únicos seres que historicamente tornaram-se capazes de aprender, ou seja, construir seu próprio pensar. Ensinar não é transmitir conhecimento, mas criar as possibilidades para sua construção ou produção. Aprender não é apenas repetir a lição dada pelo educador, é construir, reconstruir, constatar para mudar. Por isso a formação dos professores deve ser permanente e um momento fundamental dessa formação é a reflexão crítica sobre a prática atual (FREIRE, 1996), ou seja, considerando o contexto atual.

No período compreendido entre os séculos XII e XV, os ensinamentos para crianças eram realizados por famílias, porém não pela própria família, em uma espécie de intercâmbio. Os pais enviavam seus filhos para serem educados por outras famílias e recebiam as crianças de outras pessoas para passar seus ensinamentos. Para Enguita (1989), essas trocas ocorriam porque acreditava-se que a transmissão de conhecimento na própria casa não era bem-sucedida em virtude dos laços afetivos, os quais comprometiam a disciplina necessária no processo educacional. As crianças saiam de casa por volta dos cinco anos, aprendiam boas maneiras, tornavam-se aprendizes de uma profissão em um tempo onde a escola desempenhava um papel marginal. O ideal educativo (disponível apenas para a burguesia) era aprender a montar à cavalo, usar armas e tocar um instrumento musical (ENGUITA, 1989).

Entre os séculos XVI e XIX, a mão de obra infantil era muito explorada, principalmente de crianças oriundas de orfanatos e de famílias pobres. Elas ingressavam em escolas industriais, que as preparavam para ter uma profissão, porém, durante esses ensinamentos a sua força de trabalho já era utilizada e os empresários aproveitavam-se dessa mão de obra barata para enriquecer. Os empresários consideravam que a exploração da mão de obra barata e a ignorância dos trabalhadores eram fatores determinantes para o sucesso de seus empreendimentos. Por isso vários projetos que pretendiam assegurar um mínimo de instrução literária para as crianças foram rejeitados durante o século XIX (ENGUITA, 1989).

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Essa tendência modificou-se a partir da propagação das indústrias multinacionais ocorrida nos anos 1990, que passaram a necessitar de um novo tipo de trabalhador, pois a ignorância poderia ameaçar o lucro das organizações. Os empresários observaram a dificuldade em modificar os hábitos dos trabalhadores adultos e concluíram que seria mais vantajoso modelar a criança desde a infância de acordo com as necessidades do capitalismo e os novos processos de trabalho. Esta constatação implica em compreender o tema a partir das políticas públicas educacionais.

2.2 Políticas Públicas Educacionais

A partir da I Guerra Mundial (período de domínio do fordismo) surgem os primeiros direitos dos trabalhadores, como acesso a educação, saúde, transporte, lazer e cultura, até então restrito à burguesia (FRIGOTO, 2001). Esses privilégios foram adquiridos pelas mobilizações dos sindicatos, porém, só foram garantidos porque os empresários consideravam que a concessão desses direitos era uma estratégia de controle (FRIGOTO, 2001).

De acordo com Enguita (1989), essa transformação ocorreria nas escolas para ter os alunos sob os olhos do professor a fim de discipliná-los na formação do caráter e do seu comportamento. Uma característica das escolas desse tempo era que o primeiro ensinamento repassado aos alunos era a pontualidade. O ensino ou instrução ficava em sendo plano, atrás da ordem, pontualidade e compostura. Dessa maneira, evidencia-se que as escolas vieram antes do capitalismo, porém, foi através das suas necessidades de qualificação de mão de obra que proporcionaram a evolução do sistema escola.

O pensamento de Bourdieu (2011) referente ao processo de ensino nas escolas é contingente, o que permite recolocar o debate no contexto teórico do desenvolvimento regional. Acreditava-se que, com a criação da escola pública gratuita, as desigualdades sociais seriam extintas (BOURDIEU, 2011). Assim, todos teriam a mesma oportunidade de ocupar os postos mais altos na hierarquia social, tendo em vista que as pessoas competiriam num sistema de ensino em condições iguais e onde os ensinamentos seriam os mesmos para alunos de famílias ricas ou de origem mais abastada (NOGUEIRA; NOGUEIRA, 2002).

Bourdieu (2011) explica que houve uma ruptura de paradigma no sistema educacional francês em 1968. O autor lembra que começaram a aparecer indícios de que o desempenho escolar não era dependente apenas dos dons individuais dos alunos, mas também da origem social destes estudantes. Nessa época houve o incremento de vagas no ensino básico e

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superior elevando o número de profissionais habilitados o que ocasionou um sentimento de frustração nos estudantes uma vez que a grande oferta de mão de obra baixou o reconhecimento econômico e financeiro dos trabalhadores. Destarte, as classes trabalhadoras ficaram decepcionadas com a impossibilidade de ascensão social e isso desencadeou em manifestações bem como um movimento de contestação em 1968 (NOGUEIRA; NOGUEIRA, 2002).

Neste contexto que surge a economia da educação como um campo que associa a educação ao desenvolvimento econômico, ao acesso do cidadão ao emprego à mobilidade e à ascensão social. Assim, a função econômica da escola passa a ser a formação de trabalhadores para evitar o desemprego (FRIGOTO, 2001), enquanto que a educação torna-se uma orientação do desenvolvimento local e faz do docente um agente da mudança. Sendo assim, tarefa docente não é apenas ensinar os conteúdos, mas sim ensinar a pensar certo, a caminhar com os próprios passos. Um simples gesto do professor, que pode parecer insignificante, pode representar uma grande força formadora para o estudante (FREIRE, 1996).

As escolas podem produzir de forma aberta culturas e conhecimentos, circulando as informações entre os agentes, sem intermediários, de forma colaborativa, algo diferente do que é observado nos dias de hoje. Este novo conceito de escola acaba com as “distribuidoras” de informações verticalizadas e produzidas centralizadamente onde os estudantes são apenas espectadores (PRETTO, 2010). No contexto histórico, o professor tinha um papel controlador e repressor, representava o sábio que transmitia o conhecimento para o aluno que era um receptor passivo. Esses modelos de escola surgiram durante a Revolução Industrial onde o objetivo era garantir a qualificação mista necessária para reproduzir a força de trabalho. Houveram mudanças, sendo muitas introduzidas pelo uso de tecnologia na educação que partem de métodos mais confortáveis para transmissão da informação até a mudança nas interações, na constituição da subjetividade e na forma de apropriação do conhecimento (SOARES; VALENTINI, 2005).

O ensino dos conteúdos não pode ser entendido, como na maioria das vezes, na simples transferência de saber, pois ensinar significa muito mais. O educador tem a obrigação de propor limites à liberdade dos estudantes. Freire (1996) explica que o professor não pode ironizar, minimizar ou diminuir os alunos. O bom professor é aquele que consegue fazer o aluno pensar profundamente enquanto ele fala e por isso, a sua aula é um desafio onde os alunos cansam e “não dormem” como ocorre em algumas salas de aula. A incompetência profissional desqualifica a autoridade do professor (FREIRE, 1996).

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Para Dias Junior et al (2014), a competência está relacionada a três fatores: conhecimentos, habilidades e atitudes. O primeiro concerne ao domínio do conteúdo ou a base de conhecimento a que se deseja fazer uso. O segundo está relacionado a capacidade em aplicar os conhecimentos. O terceiro é o comportamento necessário para aplicar o conhecimento e a habilidade. Os autores explicam que este conceito denominado CHA, é aplicado para identificar as competências profissionais nos indivíduos.

No modelo de educação progressiva, o aprendiz é mobilizado pelo educador a buscar sua aprendizagem, em uma relação de cumplicidade e respeito mútuo de opiniões. Neste ambiente, o educador tem uma eterna postura de aprendiz, não utilizando sua autoridade para sobrepor as ideias do aprendiz. (MARTINS; TEIXEIRA, 2015).

A formação científica e de pesquisa acadêmica em nível nacional foram implantados apenas em 1970 em programas de pós-graduação5. Entretanto, o nível educacional da população brasileira evoluiu apenas a partir de 1980 quando constatou-se o incremento do número de matrículas no ensino fundamental, médio e superior, auxiliando para melhorar a produtividade do trabalho. O número de matrículas em universidades saltou de 652.200 em 1980 para quase 1,5 milhão em 1998 (INEP, 1998). Desde então, o governo brasileiro tem criado algumas políticas públicas voltadas à produção de inovação (AZAMBUJA; GUIMARÃES, 2010). Dentre as principais políticas públicas, destacam-se as seguintes:

 Criação do Ministério de Ciência e Tecnologia, em 1985, com o objetivo de gerar conhecimento e novas tecnologias, bem como a criação de produtos, processos, gestão e patentes nacionais;

 Instituição de fundos setoriais de ciência e tecnologia, em 1990, que disponibilizaram fundos de investimento para ciência, tecnologia e inovação apoiando principalmente as micro e pequenas empresas;

 Lançamento do projeto Inovar, em 2000, para financiar os pesquisadores atuantes em empresas de base tecnológica;

 Edição e publicação da Lei da Inovação (nº 10.973), em 2004, que define o apoio a ações de empreendedorismo tecnológico bem como libera juridicamente os contratos entre empresas de ciência e tecnologia e indústrias incubadas;

 Lei do Bem (nº 11.196), em 2005, que concede incentivos fiscais a empresas que desenvolvem pesquisa na área de tecnologia e contrata pesquisadores;

5 Em 1910 havia oito mil cientistas no mundo sendo a grande maioria na Europa. Em 1980 esse número passou

Referências

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