O desenvolvimento do município

O município de Doutor Maurício Cardoso, ao implementar a política pública de concessão de uso de tablets no ensino fundamental, coloca em prática a visão de Martins e Teixeira (2015) para a qual a inclusão de tecnologia na educação é uma medida capaz de contribuir para a formação dos indivíduos, tanto na educação quanto na família e sociedade como um todo. Os computadores (o tablet também é um computador) são vistos como facilitadores do aprendizado cuja principal função é ajudar os indivíduos a buscar de forma autônoma as condições para construção de conhecimentos sem, necessariamente, ter que contar com o auxílio do professor. Além disso, gera um espaço para a apropriação e o desenvolvimento do pensamento criativo, deixando de ser agente da automação da burocracia e controlador de processos para uma extensão das capacidades cognitivas humanas, que auxilia a pensar, criar, memorizar e aprender (PINTO; PRETTO, 2015).

Assim a sociedade vai se tornando mais conectada e contribuindo para a expansão da informação e o crescimento da área de tecnologia da informação (TEIXEIRA, 2010). Tal contexto contribui para a comunicação colaborativa em tempo real aproximando territórios, pessoas e culturas eliminando ou reduzindo os limites de tempo e espaço, possibilitando longo e imediato alcance de informações e estabelecendo relações de diálogo entre as pessoas (TEIXEIRA, 2012). Assim se dá a inserção das TICs nos processos de ensino e aprendizagem no ensino público municipal em Doutor Maurício Cardoso

A Escola Municipal analisada possui infraestrutura de TI qualificada. O registro de presença bem como as notas dos alunos é feito eletronicamente o que, além de garantir agilidade na impressão de relatórios e boletins, evita o retrabalho de digitar informações dos cadernos de chamada. O laboratório de informática atende as os alunos para realizarem pesquisas e digitarem trabalhos. No entanto, o link de internet dos tablets é deficitário. Em 2014 foi instalado um link de 3Mbps de internet para os 47 equipamentos adquiridos. Ainda neste ano, foram adquiridos mais aparelhos e em 2015 a última compra foi de 38 tablets. O link de internet, por sua vez, não sofreu alterações.

O investimento realizado por tablet (R$1.000,00 no primeiro ano e R$ 1.285,00 no segundo) é significativo nas finanças do município. Em comparação com a média nacional no ano 2000 (R$ 325,00) por aluno, Doutor Maurício Cardoso investe três vezes mais que este valor. Este montante ainda é muito inferior ao que os EUA investem por estudante (US$ 4.170 anual por aluno) (FRIGOTO, 2001).

A maioria dos aplicativos educacionais funciona em sistema online necessitando de velocidade e qualidade de conexão. Quando equipamentos estão dispostos em rede, se não existe controle, a concorrência pela velocidade de internet faz com que o primeiro equipamento a requisitar o acesso tenha prioridade de conexão. Como o link é de apenas 3Mbps, se um tablet estiver com vários aplicativos sendo executados simultaneamente, a velocidade de internet se esgota e os demais equipamentos não conseguem acessar a rede mundial de computadores.

O setor de informática da prefeitura configurou controle de velocidade por equipamento e, além disso, apenas aparelhos cadastrados em uma lista conseguem acessar a internet. No segundo ano da política pública, com a inserção de mais equipamentos, o link de internet não foi melhorado. Destarte, atualmente são mais de 100 aparelhos cadastrados entre tablets dos alunos e notebooks dos professores para os mesmos 3Mbps de internet, o que não é suficiente para que ela seja rápida para todos. A concorrência sobre a velocidade de conexão impede que sejam utilizados aplicativos online, assim, muitas atividades de ensino que utilizam este tipo de conexão (online) deixam de ser realizadas.

Este problema com a qualidade de acesso à internet deveria constar em uma análise preliminar e ser incorporada ao planejamento da política pública. Vivanco (2015) lembra que a inserção de TICs na educação depende desse planejamento que constata a viabilidade da implementação deste tipo de projeto e as medidas que devem ser tomadas em situações adversas como a qualidade de internet.

Constatou-se com as entrevistas com os gestores públicos municipais e com a diretora da escola que não existe sintonia entre as quatro lideranças que deveriam ser a base de sustentação do projeto. Quando questionados sobre a origem e os objetivos da política pública, os entrevistados revelaram contradições entre as dimensões políticas e educacionais inerentes à política pública. O prefeito e a diretora deveriam considerar que as metodologias contemporâneas de ensinar dependem da formação continuada dos docentes e que aprender não é somente repetir as lições repassadas pelos professores (FREIRE, 1996).

Para que o projeto tenha êxito, idealizadores, administradores e executores precisam ter sintonia de pensamento e conhecimento da proposta. Brandão (1995) já reconhecia a importância de os gestores, ao introduzir tecnologia no processo de ensino aprendizagem, se preocuparem em como projetar, programar o seu desenvolvimento e controlar os seus resultados de acordo com as características e objetivos fundamentais da educação.

Martins e Teixeira (2015) corroboram que a experiência ocasional de inserção de tecnologia na educação sem intenção pedagógica concreta, sem objetivos claros e

retroalimentação constante acaba por gerar resultados frustrantes e dispersos, pois não estabelece conexão com as próximas experiências. Torna-se, assim, pura distração ou entretenimento.

A visão do Prefeito Municipal e Secretário de Administração é de que o projeto possui pontos positivos e negativos. Os dois gestores entendem que, por estar em estágio inicial, a política pública enfrenta problemas normais até atingir a maturação quando os efeitos serão mais perceptíveis porque a chegada da internet e das tecnologias digitais nas escolas é, no início, um elemento estranho no contexto atual da instituição (PRETTO, 2010).

A Secretária de Educação e a Diretora da Escola destacam que o projeto não foi discutido com as professoras, tendo sido implementado verticalmente, sem discussão com o corpo docente. A Secretária de Educação entende a importância de uma formação docente continuada, porém, percebe a complexidade do contexto. Ministrar cursos para as professoras não é o suficiente uma vez que o domínio no manuseio do tablet só vai ocorrer quando os docentes estiverem cientes da sua potencialidade pedagógica uma vez que o domínio da tecnologia tem muito a ver com a predisposição nascida de uma motivação adequada que passa pela discussão, reflexão e conhecimento do potencial das tecnologias ao processo educacional (BRANDÃO et al 2004).

A diretora deveria dar mais suporte ao projeto, auxiliando e motivando os professores envolvidos. Ela precisa levar em conta que a tecnologia, particularmente o computador, é uma ferramenta transformadora para construir uma nova sociedade (BRANDÃO, 1995). Da mesma forma, em suas experiências, Markon e Teixeira (2011) pontuam que, alguns professores que não observam a informática com potencial educativo, levam seus alunos para o laboratório de informática, deixando para o professor ou monitor a tarefa de conduzir a aula e tirar as dúvidas dos estudantes.

Apesar do apoio insuficiente da direção da escola, os professores estão tentando fazer o possível para utilizar o tablet em sala de aula. A instrução básica em informática foi adquirida por conta dos próprios docentes uma vez que eles não foram preparados durante a sua graduação. Nesse sentido, Brandão (1995) explica que conhecimentos básicos em informática são necessários, mas não suficientes para que o professor possa realmente usufruir todas as potencialidades desta tecnologia em suas atividades. Ainda, para o autor, não basta introduzir o professor nos conceitos básicos de informática porque a verdadeira assimilação da tecnologia depende da continuidade de sua aplicação e requer reciclagem permanente. Dessa maneira, os docentes vão conseguir fazer o aluno compreender melhor os seus ensinamentos.