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O café no Brasil do século XIX a partir do periódico "O Auxiliador da Indústria Nacional" (1833-1896)

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE EDUCAÇÃO

CARLOS ALBERTO FONSECA JARDIM VIANNA

O CAFÉ NO BRASIL DO SÉCULO XIX A PARTIR DO PERIÓDICO ―O AUXILIADOR DA INDÚSTRIA NACIONAL‖ (1833-1896)

CAMPINAS 2020

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CARLOS ALBERTO FONSECA JARDIM VIANNA

O CAFÉ NO BRASIL DO SÉCULO XIX A PARTIR DO PERIÓDICO ―O AUXILIADOR DA INDÚSTRIA NACIONAL‖ (1833-1896)

Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas, para a obtenção do título de Doutor em Educação, na área de concentração de Educação.

Orientador: Prof. Dr. Pedro da Cunha Pinto Neto

ESTE TRABALHO CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA TESE DEFENDIDA

PELO ALUNO CARLOS ALBERTO

FONSECA JARDIM VIANNA, E

ORIENTADA PELO PROF. DR. PEDRO DA CUNHA PINTO NETO

CAMPINAS 2020

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE EDUCAÇÃO

TESE DE DOUTORADO

O CAFÉ NO BRASIL DO SÉCULO XIX A PARTIR DO PERIÓDICO ―O AUXILIADOR DA INDÚSTRIA NACIONAL‖ (1833-1896)

Autor: Carlos Alberto Fonseca Jardim Vianna

COMISSÃO EXAMINADORA: Prof. Dr. Pedro da Cunha Pinto Neto

Profa. Dra. Maria Inês de Freitas Petrucci dos Santos Rosa Profa. Dra. Maria José Pereira Monteiro de Almeida Prof. Dr. Rodolfo Fiorucci

Profa. Dra. Silvia Regina Quejadas Aro Zuliani

A Ata da defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no SIGA/Sistema de Fluxo de Tese e na Secretaria do Programa da Faculdade de Educação.

CAMPINAS 2020

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AGRADECIMENTOS

Ao meu Deus, Príncipe da Paz, Maravilhoso Conselheiro, Pai da Eternidade, refúgio e fortaleza, Salvador Bendito, substanciado por minha fé.

À minha linda e querida esposa, Amanda, por sua paciência e cuidados, por todo amor que me deu.

Às minhas filhas Ana e Helena, por me ensinarem o que é ser pai.

Aos meus pais, Antonio e Aliete, pelo carinho, por me educarem e investirem nos meus sonhos.

Aos meus irmãos, Lilian e Rodrigo, pelas orações, conselhos e por toda força que me deram.

Ao meu professor e orientador, Pedro da Cunha Pinto Neto, por todo o seu cuidado e apoio nas inúmeras vezes que conversamos, pela paciência e por todos seus ensinamentos.

Aos meus tios e tias, primos e primas, pelos ensinamentos e a amável convivência ao longo de todos esses anos.

A todos os companheiros do Grupo de Estudo e Pesquisa em Ciência e Ensino (gepCE).

Ao Instituto Federal do Paraná - campus Jacarezinho, seus docentes, técnicos, terceirizados e alunos, que marcaram o início desse sonho de doutorado.

Ao Instituto Federal do Sul de Minas - campus Poços de Caldas, que me deu a oportunidade de concluir o texto final desta tese.

Às professoras participantes do meu exame de qualificação, Profa. Dra. Maria José Pereira Monteiro de Almeida, Profa. Dra. Sílvia Fernanda de Mendonça Figueirôa e Profa. Dra. Maria Inês Petrucci-Rosa, pelas diversas contribuições ao trabalho.

Aos membros da banca, participantes da defesa desta tese, por terem aceitado o convite, por todas as sugestões.

A todos os meus professores, desde a pré-escola até a pós-graduação, por tudo que me ensinaram e pelo exemplo que foram e continuam sendo para mim.

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A todos os amigos presentes na minha vida, aqueles que passaram por mim, deixando e levando vida, participantes da minha história de luta e superação.

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RESUMO

O café foi o mais importante empreendimento agrícola brasileiro no século XIX, ultrapassando a agricultura baseada no cultivo da cana-de-açúcar, tornando-se o principal produto de exportação já em 1840. Sua entrada se deu pela Região Norte do país no século XVIII, onde foi cultivado inicialmente, mas não prosperou. Foi no Rio de Janeiro que encontrou as condições favoráveis ao seu pleno desenvolvimento, espalhando-se, principalmente, por São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo. O presente trabalho teve como objetivo investigar o papel do periódico “O Auxiliador da Indústria Nacional” (1833-1896), como órgão de divulgação das questões relativas ao processo de desenvolvimento da agricultura cafeeira no Brasil e as possíveis contribuições para o seu melhoramento. Para tanto, tomamos como objeto de análise principal os artigos publicados em 63 volumes do periódico, referentes ao período de circulação de “O Auxiliador”, de 1833 a 1896, cujos títulos se remetiam à produção cafeeira, assim como sobre outros temas, de relevância dimensional, relacionados e/ou apontados pelas publicações sobre o café, tais como: química agrícola, estrume, ensino voltado para a agricultura, mecanização e pragas das lavouras. Considerado como um dos mais importantes periódicos do Brasil no período, “O Auxiliador” se propunha a difundir ideias “úteis” aos lavradores e aos homens envolvidos com todo tipo de atividade industrial, sendo distribuído para todas as províncias do Brasil. Durante a análise, verificou-se que os artigos sobre o café apontaram, na primeira metade do século XIX, para o incentivo à produção cafeeira em grande escala. Já na segunda metade do século XIX, o periódico buscava divulgar as mais variadas formas para beneficiar o café, com a introdução de estufas, separadores, classificadores e, também, a divulgação de técnicas e instruções sobre melhoramentos no plantio, colheita e qualidade do produto, bem como na recuperação de cafezais em baixa produção. Conclui-se, portanto, que “O Auxiliador da Indústria Nacional”, como órgão de difusão de saberes sobre a cafeicultura, de novas técnicas e de enfrentamento de alguns dos problemas vividos pelos produtores, foi um importante veículo de divulgação de assuntos relativos ao desenvolvimento da agricultura cafeeira no Brasil do século XIX. Palavras-chave: Café; O Auxiliador; Brasil; Século XIX.

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ABSTRACT

The coffee was the most important Brazilian enterprise in XIX century, overcoming the agriculture based on sugar cane, becoming the main exportation product in 1840. It entered in the country by the North Region in XVIII century, where it was first cultivated, but it did not prosper. It was in Rio de Janeiro that the conditions were good to its development, spreading, mainly, for São Paulo, Minas Gerais and Espírito Santo. This paper aimed to investigate the role of "O Auxiliador da Indústria Nacional” (1833-1896), as a divulgation organ of questions related to the development process of coffee agriculture in Brazil and its possible contributions to enhancing it. For this purpose, we had the object of analyzing the articles published in 63 edtions of the periodic, related to the time of circulation of "O Auxiliador”, from 1833 to 1896, in which the titles were about the coffee production, as well as other topics, of dimensional relevance, related to and/or pointed by the publications about coffee, such as: agricultural chemestry, manure, teaching about agriculture, mechanization and tillage pests. "O Auxiliador”, one of the most important periodic in Brazil, aimed to spread "useful" ideas farmers and people involved with all types of industrial activities, being distributes around the main cities in Brazil. During the analysis, we noticed that the articles about coffee presented, in early XIX, an incentive to the coffee production in large scale. In the late XIX, the periodic aimed to achieve the most variable ways to benefit coffee, introducing greenhouses, separators, classifiers and, also, the divulgation of techniques and instructions about the improvement in cultivation, harvest and product quality, as well as in recovering coffee-growing areas which do not produce so much. Thus, "O Auxiliador da Indústria Nacional”, was an important vehicle of divulgation of topics related to the development of coffee agriculture in Brazil in the XIX century.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Distribuição e produção brasileira de café em 2015 (percentual calculado sobre as

43.235.000 milhões de sacas de 60 kg produzidas) ... 19

Figura 2: Marcha do café no Brasil ... 39

Figura 3: Conjunto pilão e a chamada mão de pilão ... 42

Figura 4: Monjolo de pé, modelo japonês, do século XIX ... 44

Figura 5: Monjolo de pé, modelo brasileiro, também do século XIX ... 44

Figura 6: Capa do primeiro número do periódico “O Patriota” ... 51

Figura 7: Aviso aos leitores de “O Auxiliador” ... 62

Figura 8: Capa do 1º número de “O Auxiliador da Indústria Nacional”, em 15 de janeiro de 1833 ... 63

Figura 9: Lista de obras ofertadas para a Sociedade Auxiliadora ... 65

Figura 10: Recorte da capa do n. 1, de 1851, de “O Auxiliador”, mostrando um lavrador arando a terra, pela tração animal ... 66

Figura 11: Membros das comissões da SAIN publicada no “O Auxiliador” ... 67

Figura 12: Fotos recentes da fachada e da entrada de um dos cafés mais antigos da Europa, fundado na França em 1686 ... 80

Figura 13: Resultado das análises químicas do grão de café extraída do artigo de “O Auxiliador” ... 94

Figura 14: Resultado da análise química de três amostras de café ... 95

Figura 15: Resultado da análise química das cinzas de três amostras de café ... 95

Figura 16: Princípios fixos extraídos do chá, café e mate... 96

Figura 17: Resultado da análise de 1 Kg de café ... 100

Figura 18: Resultados das análises químicas de 1 Kg de folhas frescas de café ... 100

Figura 19: Caracterização dos tipos de fraudes encontradas no café após análises químicas 106 Figura 20: Resultados das análises realizadas pelo químico Sykore, publicadas na Revista Nature e divulgadas em “O Auxiliador” ... 107

Figura 21: Dados entomológicos sobre a Elachista coffeella... 113

Figura 22: Dados entomológicos sobre a Elachista coffeella, na sua fase de lagarta ... 114

Figura 23: Dados estatísticos sobre a exportação de sacas de 60 Kg de café, do Brasil para o mundo, entre os anos de 1800 e 1882 ... 115

Figura 24: Dados estatísticos sobre a exportação do café, em sacas de 60 Kg, pelo Rio de Janeiro, de 1800 a 1873 ... 116

Figura 25: Aparelho proposto para exterminar formiga saúva ... 119

Figura 26: Figura do aparelho de fabricação francesa, extraída de “O Auxiliador”, usado na experiência sugerida por Freitas ... 121

Figura 27: Engenho horizontal de pilões ... 135

Figura 28: Desenho da máquina de descascar café, inventada por Daniel Lombard, da cidade de Boston – EUA ... 140

Figura 29: Imagem da máquina de despolpar café, inventada pelo venezuelano J. A. Mosqueda ... 140

(10)

Figura 30: Máquina de Santa Cruz, privilegiada pelo Decreto de n. 7382 de 19 de julho de 1879 ... 141 Figura 31: Características da terra virgem e cansada, do Rio de Janeiro ... 150 Figura 32: Tipos de arado usados para a manipulação dos terrenos destinados às lavouras na segunda metade do século XIX ... 154 Figura 33: Dados sobre a importação do café do Brasil, pelos Estados Unidos ... 161 Figura 34: Dados estatísticos sobre a importação do café pelos Estados Unidos em 1872 e 1873 ... 162

(11)

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Modificações nas comissões da SAIN de 1853 a 1885 ... 68 Tabela 2: Artigos sobre café publicados nos primeiros 20 anos de circulação do periódico “O Auxiliador da Indústria Nacional” ... 69 Tabela 3: Tipografias responsáveis pela impressão de “O Auxiliador” (1833-1896) ... 72 Tabela 4: Lista com os autores que publicaram no período entre janeiro de 1833 a dezembro de 1896 ... 73 Tabela 5: Categorias nas quais os artigos sobre café foram indexados em “O Auxiliador” de 1833 a 1896 ... 77 Tabela 6: Artigos sobre J. Von Liebig divulgados em “O Auxiliador” ... 87 Tabela 7: Artigos sobre pragas atribuídas aos cafezais na segunda metade do século XIX, divulgados em “O Auxiliador” ... 110 Tabela 8: Artigos sobre as formigas nas lavouras, divulgados em “O Auxiliador” ... 117 Tabela 9: Artigos sobre máquinas e concessões destinadas ao beneficiamento do cafeeiro, divulgados em “O Auxiliador” ... 138 Tabela 10: Artigos sobre exposições, divulgados em “O Auxiliador” (1833-1896) ... 156

(12)

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ... 14

Breves considerações sobre o café no Século XXI... 17

O problema e a justificativa ... 21

1 O CAFÉ NO BRASIL E NO MUNDO ... 31

1.1 Origem do café na História ... 31

1.2 Sua chegada e consumo no Brasil ... 32

1.3 Os trabalhadores dos cafezais ... 34

1.4 O ciclo cafeeiro no Rio de Janeiro e São Paulo: breves considerações ... 38

2 OS PERIÓDICOS BRASILEIROS EM MEADOS DO SÉCULO XIX ... 48

2.1 O contexto da divulgação científica no início do século XIX no Brasil ... 48

2.2 O ―Auxiliador‖ dos Auxiliadores ... 53

2.3 Norteadores das publicações de ―O Auxiliador‖: os artigos sobre café ... 62

2.4 Sobre a estrutura do periódico e das análises realizadas ... 71

3 CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE O CAFÉ EM ―O AUXILIADOR DA INDÚSTRIA NACIONAL‖ ... 76

3.1 Origem e história do café em ―O Auxiliador‖ ... 78

3.2 Sobre o cafezal: sementeira, plantio e adubação ... 81

3.3 Análises químicas e o café em ―O Auxiliador‖ ... 92

3.4 A torra do café e as substâncias químicas no sabor da ―bebida‖ ... 97

3.5 O café virou chá? ... 102

3.6 Falsificação do café e as análises químicas ... 105

3.7 ―O Auxiliador‖ e as pragas nos cafezais ... 108

3.7.1 O ―cafeeiro Fluminense‖ deve se preocupar com as pragas? ... 109

3.7.2 A formiga e as lavouras em ―O Auxiliador‖ ... 117

4. MUDANÇAS NA CAFEICULTURA E O PAPEL DE ―O AUXILIADOR‖ ... 123

4.1 Todos estão plantando café no Brasil no século XIX? ... 123

4.2 Exemplos vêm de fora para ―O Auxiliador‖ e seus ―auxiliados‖ ... 126

4.3 O beneficiamento do café em ―O Auxiliador‖: indícios da mecanização ... 127

4.3.1 Máquinas em ―O Auxiliador‖ a serviço do cafeeiro ... 136

4.3.2 Máquinas e funcionamento: a imagem fazia falta?... 142

4.3.3 Privilégios e concessões: os produtores de café ―agradecem‖ ... 146

4.4 ―Estrumes‖ para os terrenos e cafezais ... 147

(13)

O QUE SE PODE CONCLUIR? ... 161

FONTES PRIMÁRIAS ... 170

REFERÊNCIAS ... 185

ANEXOS ... 198

ANEXO A - Tabela que inclui todos os títulos dos artigos sobre os temas café, química, ensino agrícola, mecanização, dentre outros, utilizados na preparação da tese ... 198

ANEXO B - Representação da bacia carbonífera do Herval e seus vales ondulados 224 ANEXO C - Formulário para pedido de sementes e plantas, por parte dos interessados, à Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional, a partir da década de 1860 ... 225

(14)

APRESENTAÇÃO

O interesse pelo café e toda sua conjunção herdei do meu avô, Sr. Nicanor, que na década de 1950 até próximo dos anos 70, trabalhou como meeiro1, junto aos seus irmãos, em uma propriedade rural especializada na produção de café, localizada na antiga Fazenda da Liberdade, no norte do Estado do Rio de Janeiro.

A região mencionada anteriormente, local de residência e trabalho do Sr. Nicanor, era circunvizinha de dois outros Estados que até hoje se destacam na produção cafeeira nacional e internacional, Minas Gerais e Espírito Santo. Suas fronteiras agrícolas, nas suas zonas Leste e Sul, respectivamente, se comunicavam com a fronteira Noroeste Fluminense, do Rio de Janeiro que, naquele período, ainda exercia algum protagonismo no cafeeiro, fato que já não se constata mais nas antigas zonas produtoras de café do Estado.

Após 1970, já na capital Fluminense, com sua esposa e filhos, meu avô preservou algumas tradições da zona rural e passou a fazer o que muitas pessoas fizeram quando o café chegou às terras cariocas, no século XVIII. Ele plantou algumas mudas em volta de casa, no terreiro, produzindo o grão de forma artesanal para o consumo familiar.

Foi nesse ambiente que nasci e fui criado, acompanhando atentamente os procedimentos de cada etapa do manejo da pequena produção cultivada no nosso quintal, pelo meu avô, que sempre fez questão de preservar suas origens, compartilhando comigo os contos da antiga Fazenda da Liberdade, sua origem miscigenada, meio portuguesa e meio indígena e sobre as relações interpessoais entre os agricultores naquela região.

Esse contexto histórico de produção agrícola cafeeira foi o mesmo vivenciado por muitos cidadãos espalhados pelas terras brasileiras que, a partir da primeira metade do século XVIII, a exemplo, os escravos, meeiros, colonos, imigrantes, trabalhadores livres, que em diferentes épocas, assim como meu avô, fizeram parte do ciclo econômico do café no Brasil, produzindo em pequena, média ou grande escala.

Tais indivíduos cultivaram café segundo os processos adequados em cada momento histórico, de acordo com as restrições de cada lavoura. Eles estenderam suas terras, próprias para a formação dos cafezais, ampliaram, quando possível, a mão de obra especializada, bem como as suas expectativas de mercado, produzindo para consumo familiar, nacional ou para a comercialização no exterior.

1

Entende-se por meeiro, aquele que, comprovadamente, tem contrato com o proprietário da terra e da mesma forma exerce atividade agrícola, pastoril ou hortifrutigranjeira, dividindo os rendimentos auferidos. SPS/MPAS Nº 8, de 21 de março de 1997.

(15)

Essas características relativas a cadeia produtiva e ao ciclo econômico do café que permearam a História da agricultura, da formação das fazendas destinadas à produção cafeeira e, consequentemente, da indústria agrícola do Brasil sempre atraíram minha atenção, despertando meu interesse por desenvolver projetos de ensino relacionando o ensino de química e os conhecimentos promovidos pelo estudo da história do café no Brasil.

A partir de fevereiro de 2012, já formado em Licenciatura em Química e com Mestrado em Química Orgânica de Produtos Naturais, comecei a trabalhar como professor do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico, no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná (IFPR)2, no Município de Jacarezinho, ministrando a disciplina de Química para os alunos de diferentes classes sociais, sendo, a grande maioria, de baixo poder aquisitivo.

Nesse ano de 2012 percebi que os estudantes, de um modo geral, matriculados nos cursos integrados3 e subsequentes4, mantinham forte ligação com a produção agrícola na cidade e circunvizinhanças do Instituto Federal de Educação, como exemplo, os Municípios de Cambará, Santo Antônio da Platina, Ribeirão Claro, todos no Estado do Paraná, além do Município de Ourinhos, dentre outros, já no Estado de São Paulo.

Em uma entrevista com esses alunos, usando questionário semiestruturado, verifiquei que eram netos, filhos, irmãos, sobrinhos ou primos de produtores rurais, basicamente ligados à plantação de cana-de-açúcar ou à produção de café na região. Passei, com isso, a me identificar com esses jovens que tinham suas histórias de vida parecidas com a minha. Desenvolvi na Instituição um projeto de extensão5 com o nome “Conhecimento Tradicional,

2

O Instituto Federal do Paraná, campus Jacarezinho, realizou em dezembro de 2011 seu segundo concurso público para a contratação de professores efetivos, pelo Edital nº 087/2011, retificado pelo Edital nº 089/2011, para o cargo de professor da Carreira do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico, Classe "D I", Nível 1, quando fui aprovado em primeiro lugar para a área de conhecimento de Química, código 98. Fonte: https://www.jusbrasil.com.br/diarios/33688518/dou-secao-3-18-01-2012-pg-43 (acessado em 17 de julho de 2018).

3

Os cursos na modalidade integrado se tornaram objetivo dos Institutos Federais de Educação Ciência e Tecnologia, instituídos pela Lei 11892 de dezembro de 2008, no artigo 7. Cada Instituto Federal deve oferecer, no mínimo, 50% das vagas nessa modalidade de ensino e todo aluno que tinha concluído seu ensino fundamental poderia ingressar no Instituto, pelo processo seletivo, para concluir sua formação básica junto com a formação técnica. (Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11892.htm. Acesso em: 17 jul. 2008).

4

Os cursos subsequentes, oferecidos por qualquer Instituto Federal, também estão baseados na Lei de criação dessas Instituições (11.892 de dezembro de 2008), sendo oferecidos para alunos que apresentam ensino médio completo em qualquer outra Instituição de Ensino.

5

Outra mudança no âmbito do sistema federal de ensino, a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, trazida pela Lei 11.892/12/2008, era que os Institutos Federais deveriam desenvolver projetos de pesquisa e extensão, além de oferecer o já tradicional e conhecido ensino de qualidade. Os professores dessa Rede Federal devem, necessariamente, realizar atividades nessas três dimensões.

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Produção de Material Paradidático e Ensino de Química no Instituto Federal do Paraná em Jacarezinho, PR”.

Esse projeto abriu caminho para o desenvolvimento do corpus desta tese, pois um dos objetivos do projeto era pesquisar, junto com os alunos do primeiro ano do Integrado (das turmas de 2012), sobre a história da produção agrícola na região, a forte presença do café na organização dos Municípios mencionados anteriormente, na cultura e na formação do ciclo econômico local, principalmente em Jacarezinho, com a finalidade de usar os dados e as informações obtidas para produzir material de ensino, para uso no campus.

A partir das experiências vivenciadas, da origem sociocultural que tive contato e da minha formação na área de Ciências Exatas e da Terra, passei a me perguntar sobre o que deveria ser necessário para se produzir um café de qualidade, preservando suas propriedades químicas, mantendo a fertilidade do solo, a planta saudável e produzindo em grande escala. Queria saber também, como o meu avô, na época já falecido, foi capaz de compreender todos esses processos, ligados ao cafeeiro, perfeitamente, mesmo sendo considerado analfabeto.

A decisão de investigar um tema que está diretamente relacionado com as experiências vividas pelo pesquisador é algo que chama a atenção em Ludke e André (1986), no livro “Pesquisa em educação: abordagens qualitativas”:

É fato bastante conhecido que a mente humana é altamente seletiva. [...] O que cada pessoa seleciona para "ver" depende muito de sua história pessoal e principalmente de sua bagagem cultural. Assim, o tipo de formação de cada pessoa: o grupo social a que pertence, suas aptidões e predileções faz com que sua atenção se concentre em determinados aspectos da realidade, desviando-se de outros. Do mesmo modo, as observações que cada um de nós faz na nossa vivência diária são muito influenciadas pela nossa história pessoal, o que nos leva a privilegiar certos aspectos da realidade e negligenciar outros. [...] Para que se torne um instrumento válido e fidedigno de investigação científica, a observação precisa ser antes de tudo controlada e sistemática. (LUDKE; ANDRÉ, 1986, p. 25)

No desenvolvimento do projeto mencionado anteriormente e na aplicação da metodologia, encontrei algumas respostas pela história oral, quando transcrevi e analisei o áudio de algumas entrevistas realizadas com produtores de café com mais de 30 anos de experiência na área - alguns já aposentados e outros ainda em exercício, atuando em Jacarezinho ou nas circunvizinhanças.

Os questionamentos tratavam sobre os elementos relacionados à história do Município de Jacarezinho e a relação de dependência que o cafeeiro tinha com a região. Após a análise dos resultados encontrados, passei a investigar sobre a história do café no Brasil, onde ela teria começado e os fatores que levaram o cafeeiro até o Paraná, no qual se destacaram os Municípios de Jacarezinho e Ribeirão Claro.

(17)

O conhecimento adquirido ao longo da minha Graduação e Pós-Graduação, a experiência profissional que tive acesso durante o início do meu trabalho no IFPR, campus Jacarezinho, bem como as leituras realizadas no período de 2012, até o fim do ano de 2013, sobre a História da produção cafeeira nessa comunidade paranaense, sugeriu a construção do projeto e da presente tese de doutorado.

Breves considerações sobre o café no Século XXI

A exportação do café brasileiro para o mundo rendeu uma receita cambial de US$ 5,2 bilhões em 2017, o que fez do café no Brasil o quinto maior produto de exportação agroindustrial, perdendo apenas para a soja, primeiro no ranking, com US$ 31,7 bilhões, seguido pelas carnes, pelo complexo sucroalcooleiro e os produtos florestais, que arrecadaram, respectivamente, US$ 15,5 bilhões, US$ 12,2 bilhões e US$ 10,2 bilhões (FERREIRA, 2018).

O volume total exportado, registrado em 2017, equivalente apenas ao número de sacas de 60 kg vendidas para o exterior foi de 30,7 milhões, cujo principal comprador foram os Estados Unidos, seguido da Alemanha, Itália, Japão e Bélgica, o quinto principal comprador dos cafés do Brasil (FERREIRA; SOARES, 2018).

Segundo o MAPA (Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento)6, a importância do café não está apenas nos valores arrecadados com a sua comercialização, mas, também, nos aspectos relativos à saúde humana, educação, inclusão e renda dos trabalhadores, uma vez que, em 2017, o ciclo econômico gerado pela produção cafeeira rendeu mais de oito milhões de empregos, se somados todos os diretos e indiretos (MAPA, 2017).

Segundo dados recentes da ABIC (Associação Brasileira da Indústria do Café)7, a venda de café está em alta no Brasil, registrando um crescimento de 3,6% quando comparados

6

O Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento destacou em 2017 a liderança do Brasil na exportação e produção mundial do café, com uma área plantada de 2 milhões de hectares e mais de 300 mil produtores, distribuídos por mais de 1900 Municípios, nos Estados de Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo, dentre outros. O Brasil é também o segundo maior consumidor da bebida. Disponível em: http://www.agricultura.gov.br/assuntos/politica-agricola/cafe/cafeicultura-brasileira. Acessado em: dia jan. 2019).

7

A ABIC representa as indústrias brasileiras responsáveis pelos processos e negócios relacionados ao café, como a torrefação, moagem, comercialização. Foi criada em 1973 por decisão dos Sindicatos das Indústrias do Café no Brasil, com o objetivo de facilitar os diálogos de interesse dos produtores de café e as demais entidades institucionais. A ABIC oferece aos seus associados um vasto banco de dados com resultados de pesquisas macroeconômicos, de opinião e mercado, além de diagnósticos de setor, orientação jurídica, trabalhista,

(18)

os anos de 2012 a 2017, que representa o dobro do crescimento médio mundial. O consumo por habitante no país registrado em 2017 foi de 5,1 kg, o que equivale a cerca de 83 litros e a expectativa para 2018 era que esse dado continuasse aumentando, pois a bebida tem se tornado cada vez mais acessível (ou presente) às famílias nos seus lares e ao comércio como um todo (ABIC, 2017).

Um dos fatores que tem contribuído para o aumento do consumo por habitante foi o crescimento do interesse do brasileiro pelo café gourmet8 e os seus variados modelos. Além disso, as questões relacionadas ao aumento da publicidade e da inovação do produto, de acordo com a ABIC (2017), fizeram com que os brasileiros que ainda não tinham percebido a qualidade do produto, reconhecida internacionalmente, fossem atraídos para conhecer os diferentes tipos de café, além do gourmet, o extra forte, o tradicional e o superior, que se adequam às mais variadas necessidades e paladares dos mais exigentes consumidores.

Os diferentes tipos de café apresentam propriedades definidas pelas suas características sensoriais, que estão intimamente relacionadas à identidade do café torrado em grão e o café torrado e moído e foram definidas pelas resoluções SAA 30 e 31, de 22/06/20079 e a SAA 19, de 05/04/201010, que normatizam os padrões mínimos para qualidade do café considerado especial (JUNQUEIRA; GARCIA, 2011).

Para o MAPA (2017), a variedade de grãos produzidos no Brasil está intimamente relacionada com os diferentes tipos de relevos, climas, altitudes e longitudes, observadas nos seus municípios produtores, o que contribui para a correspondência das expectativas em relação ao paladar dos consumidores brasileiros e estrangeiros. Isso permite também uma grande quantidade de misturas desses diferentes grãos, que são provenientes, apenas, de duas

constitucional e de defesa do consumidor, dentre outras ações disponibilizadas. Disponível em: http://abic.com.br/institucional/abic/. Acesso em: 12 de jan. 2019).

8

Para ser reconhecido como gourmet, o café deve passar pelo programa de avaliação da qualidade da ABIC, e, a partir daí, receber o símbolo de qualidade na sua embalagem. O termo gourmet é francês, mas foi introduzido à língua portuguesa e serve para indicar que um determinado produto alimentício é de alta qualidade, de boa procedência, pois passou pelo correto emprego das técnicas de manejo relacionado ao plantio, coleta seletiva, processamento, torrefação, embalagem, capaz de manter o sabor e aroma, dentre outros aspectos importantes capazes de tornar tanto o grão quanto a bebida muito superior, se comparado aos demais tipos de cafés (OETTERER et al., 2013).

9

A Resolução SAA 30 e 31, de 22/06/2007, define norma de padrões mínimos de qualidade para o café torrado em grão e torrado e moído, para que o mesmo seja classificado como especial: café Gourmet, como base para Certificação de Produtos pelo Sistema de Qualidade de Produtos Agrícolas, Pecuários e Agroindustriais do Estado de São Paulo, instituído pela Lei 10.481, 29/12/1999.

10

A Resolução SAA 19, de 05/04/2010, já define uma norma de padrões mínimos de qualidade para o café torrado em grão e torrado e moído, para que ele seja classificado como tradicional.

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principais espécies plantadas no solo brasileiro, a Coffea arabica (café arábica)11 e a Coffea conephora (café conillon, também chamado de robusta)12.

Segundo Martins (2008, p. 35) “a espécie arábica é predominante nos cafés especiais, pois tem mais aromas e sabores. A espécie robusta, de características mais rústicas, conforme sugere o próprio nome, tem maior produtividade”.

Os aspectos gerais do café e do aproveitamento dos resíduos, gerados durante o seu processamento e beneficiamento, foram apresentados em um artigo de revisão escrito por Durán e demais colaboradores em 2017. Nele, os autores mostraram um mapa do Brasil com a distribuição das espécies arábica e conillon em cada um dos estados produtores em 2015, de acordo com a Figura 1.

Figura 1: Distribuição e produção brasileira de café em 2015 (percentual calculado sobre as 43.235.000 milhões de sacas de 60 kg produzidas)

Fonte: Durán et al (2017, p. 110)

A distribuição dessas duas espécies comerciais de café, segundo o MAPA (2017), ainda não está bem diversificada, proporcionalmente, acompanhando também o que foi

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De acordo com Ana Luiza Martins (2008, p. 24), no seu livro “História do Café”, o primeiro classificador do cafeeiro foi Antoine Jussieu no seu livro “Histoire du café”, de 1716. Posteriormente, o café foi reclassificado por Lineu, como Coffea arabica, por ter sido largamente cultivado pelos árabes, os primeiros a dominarem a técnica do plantio, dessa planta que tem a Etiópia como país de origem (MARTINS, 2008).

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O café conillon, produzido pela Coffea canephora (também chamada de robusta) é, assim como a Coffea arabica, uma espécie comercial. Seu grau de complexidade é bem menor quando comparada com o café arábica, produzindo uma bebida mais amarga e adstringente, porém, ela é mais resistente às pragas, e às variações ambientais (MARTINS, 2008).

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observado em 2015, em que o café conillon, por exemplo, concentrou-se em apenas três estados.

O estado do Rio de Janeiro ao longo do século XIX era o maior produtor de café do Brasil e produzia, principalmente, na região conhecida como “Vale do café”, uma situação completamente diferente hoje, como mostra a Figura 1.

De acordo com Castro (2013), o Vale do Café Fluminense é uma caracterização baseada no turismo rural, relativa aos quinze municípios localizados ao longo da parte oeste do Rio Paraíba do Sul, no interior do estado do Rio de Janeiro13, na fronteira com São Paulo e Minas Gerais, abrangendo as atuais cidades de: Barra do Piraí, Barra Mansa, Engenheiro Paulo de Frontin, Mendes, Miguel Pereira, Paracambi, Paraíba do Sul, Paty do Alferes, Pinheiral, Piraí, Rio das Flores, Valença, Conservatória (que hoje é um distrito), Vassouras e Volta Redonda (CASTRO, 2013).

Algumas das causas que colaboraram para o declínio dos cafezais fluminenses, nos municípios citados acima, bem como, a produção de café em São Paulo e a consequente ascensão dos cafezais em Minas Gerais e no Espírito Santo, serão discutidas ainda no primeiro capítulo da tese e no terceiro, que trata da análise do periódico, uma vez que “O Auxiliador da Indústria Nacional” traz algumas revelações nesse sentido.

Em 2017, os estados de Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo e Bahia, concentraram cerca de 85% da produção do café arábica. Já o café conillon é plantado, principalmente, no Espírito Santo, Bahia e Rondônia, que juntos concentraram cerca de 95% da produção nacional, conforme mostra a Figura 1, de 2015 (MAPA, 2017).

Em 2018, de acordo com a Embrapa14, a situação do ranking dos maiores estados produtores de café pouco se alterou em comparação com 2015 e 2017, com Minas Gerais e o Espírito Santo mantendo a liderança, com 53% e 22% da produção, respectivamente.

O que também pode ser destacado das pesquisas de mercado sobre o café, como exemplo, que foi realizada pela Embrapa em 2018, é a atual situação de competição por um maior espaço do mercado, existente entre o café brasileiro, que detém a liderança mundial

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O Rio Paraíba do Sul é constituído por cerca de 56.000 km² de extensão (SENNA, 2011). De acordo com a Associação Pró-Gestão das águas da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul (AGEPAV), ele nasce no Município de Areias (SP), onde recebe o nome de Paraitinga (“Águas Claras”). Em seguida, quando se encontra com o Rio Paraibuna (“Águas Escuras”), no Município de Cunha (SP), na Serra da Bocaina, passa a se chamar Paraíba do Sul, seus dois Rios formadores principais convergem próximo do Município de Paraibuna (AGEVAP, 2011).

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A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), cuja fundação é de 1973, está vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Um dos seus objetivos é produzir conhecimentos tecnologicamente inovadores, sustentáveis e eficientes, na área da agropecuária. Disponível em: https://www.embrapa.br/quem-somos. Acesso em: 13 de jan. 2019.

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com 36% da produção global e os demais países, tais como: Vietnã com 18% da produção; Colômbia com 9%; Indonésia com 8%; Honduras com 5% e Etiópia com 5% da produção mundial.

Quando os dados mostrados pela Embrapa são comparados com os da década de 90, período em que essa competição entre os países ainda não estava tão latente, destaca-se que a produção de café pelo Vietnã aumentou significativamente, saltando de 3,7 milhões de sacas de 60 kg, o que representou 4,81%, em 1997 (MORICOCHI et al, 1997), para 29,5 milhões de sacas de 60 Kg em 2018, equivalente a um percentual de 18% (EMBRAPA, 2018).

A Colômbia, que em 1997 era o segundo maior produtor mundial, quando produziu 11,3 milhões de sacas de 60 Kg de café (MORICOCHI et al, 1997), caiu para a terceira posição em 2018, mesmo produzindo cerca de 3 milhões de sacas de 60 Kg de café a mais (EMBRAPA, 2018), em comparação com 1997, mostrando que os demais países também aumentaram as suas produções.

A evolução do consumo do café brasileiro pelo mundo foi extremamente discutida no periódico “O Auxiliador da Indústria Nacional”, século XIX, que divulgou diversos balanços estatísticos, indicando uma tendência de crescimento ao longo de todo século, tanto pelos países estrangeiros como também entre os próprios brasileiros, apontando para alguns dos motivos que caracterizaram o aumento do interesse mundial pela bebida.

O café, no Brasil hoje, é um dos produtos agrícolas mais importantes da nossa Economia, reconhecido mundialmente como um produto de importantes propriedades medicinais, em função da diversidade de substâncias orgânicas presentes na sua composição. Ademais, tem-se um importante perfil Físico-Químico, marcado por uma complexa descrição, dos seus estágios de maturação, das características do fruto maduro, das sementes em ponto de torrefação e dos diferentes graus de torra e sua coloração, bem como do teor de cada substância química, seja ela orgânica ou inorgânica, que compõem o café verde, maduro (que está pronto para ser colhido) e torrado.

O problema e a justificativa

A proposta de tese surge, portanto, do interesse pela investigação sobre a introdução do cultivo do café no Brasil e o seu desenvolvimento ao longo do século XIX, os processos relativos ao crescimento e melhoramento da produção, o enfrentamento dos principais problemas pelos produtores de café em seus cafezais, tais como: a relação entre o

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esgotamento do solo e os cafezais envelhecidos, questões relativas à adubação do cafeeiro, as pragas e seu combate, assim como, outras questões que surgiram no período associadas ao desenvolvimento da cafeicultura, como do ensino agrícola, da química como uma ferramenta aplicada ao cafeeiro, da mecanização e do beneficiamento das lavouras.

Como objeto de pesquisa foi eleito um periódico do período, denominado como “O Auxiliador da Indústria Nacional”, publicado e distribuído em todas as províncias do Brasil no período de 1833 a 1896. Ele foi utilizado para a difusão dos conhecimentos científicos e tecnológicos relacionados aos mais variados temas da indústria agrícola brasileira do século XIX, especialmente a agricultura cafeeira, disseminando entre os fazendeiros e produtores rurais, em geral, as principais “novidades” das ciências aplicadas à agricultura no mundo.

Segundo Fausto (1854), em um artigo publicado em “O Auxiliador”, a Indústria brasileira no século XIX era dividida em três classes:

1º A indústria agrícola, que se aplica principalmente em solicitar e provocar a ação produtiva da natureza, quer nos vegetais, quer nos animais, ou em colher os seus produtos; 2° A indústria comercial, que dá valor às coisas, pela transformação que nelas opera; 3º A indústria manufatureira, que dá valor às coisas, pela transformação que nelas opera. [...] A importância econômica da indústria é evidente, [...] multiplica os objetos de permuta, as mercadorias de uma nação: da vida ao comércio marítimo, pedindo-lhe matérias primas, e restituindo-as em produtos manufaturados, e emprega com utilidade braços e tempo que sem ela, nada teriam produzido (FAUSTO, 1854, n. 1, p. 12-14).

De acordo com Affonso de Escragnolle Taunay (1876-1958), um dos descendentes da família Taunay15 no Brasil, o nascimento de uma bibliografia brasileira periódica sobre o café, um dos produtos da indústria agrícola daquele período, veio com as publicações de Domingos Borges de Barros16 sobre esse gênero na Revista “O Patriota” (Jornal literário, político,

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A família Taunay se transferiu da França para o Brasil em 1816 para integrar a “missão artística francesa”. Dos membros dessa família podemos destacar o pintor Nicolas Antoine de Taunay (1755-1830), que aceitou o convite da família real portuguesa na ocasião. Ele era pai de Carlos Augusto Taunay (1791-1867), um ex-militar que serviu ao império de Napoleão Bonaparte e que aqui também se integrou ao exército brasileiro, até pedir baixa do serviço militar, passando a administrar um sítio da família, nas terras adquiridas na província do Rio de Janeiro, no maciço da Tijuca, onde iniciou o cultivo de café (KLUG, 2010). Carlos Augusto de Taunay era especializado em café e publicou, no Rio de Janeiro, seu livro o “Manual do Agricultor Brasileiro” em 1837, sendo reimpresso em 1839, onde aproveitou sua experiência em agricultura para guiar os senhores de escravos na gestão de suas unidades agrícolas no Brasil. A relação da família Taunay com o Brasil foi se institucionalizando cada vez mais e, na primeira metade do século XIX, Carlos A. de Taunay foi contratado pela família real para estudar e implantar meios capazes de modernizar nossa agricultura, no sentido de fomentar a educação no campo (MOLINA; SANFELICE, 2014).

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Domingos Borges de Barros (1780-1855), cujo pseudônimo era Visconde da Pedra Branca, nasceu no Engenho São Pedro, em Santo Amaro, na Bahia. Formou-se em Filosofia pela Universidade de Coimbra. (Disponível em: https://ihgb.org.br/perfil/userprofile/dborgesdebarros.html. Acesso em: 15 jul. 2017). Foi também: advogado, diplomata, senador, poeta, senhor de engenho e colaborador do periódico “O Patriota”, onde publicou uma importante memória sobre o café no Brasil, cujo título era: “Memória sobre o café, sua história, cultura e amanho”. Dentre outras memórias sobre a plantação e fabrico do urucu; meios de desaguar ou esgotar as terras inundadas ou encharcadas por método fácil ou pouco dispendioso e muros de apoio que servem para sustentar a terra. Fonte: https://www.literaturabrasileira.ufsc.br/autores/?id=9347 (acessado em 18 de julho de 2018).

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mercantil, Rio de Janeiro), em 1813 (TAUNAY, 1935; TAUNAY, 1945). No entanto, foi a Revista “O Auxiliador da Indústria Nacional”, que Taunay considerava ser uma grande difusora dos conhecimentos úteis sobre a agricultura no Brasil, que marcaria a situação das lavouras cafeeiras, pois, já no seu primeiro ano de circulação (1833), publicou no quinto número do ano o artigo de José Silvestre Rebelo, intitulado: “Memória sobre a cultura do cafeeiro” (TAUNAY, 1935; TAUNAY, 1945).

O engenheiro e historiador Taunay (ANHEZINI, 2010) tinha autoridade para indicar uma bibliografia brasileira sobre o café, pois na época do bicentenário da entrada e início do cultivo desse grão no Brasil, completados em 1927, realizou uma vasta pesquisa histórica sobre os caminhos percorridos pelo café em solo brasileiro. Tal iniciativa permitiu a escrita de uma série de livros sobre o tema, atendendo a um chamado do Departamento Nacional do Café17, na pessoa do seu diretor, Dr. Armando Vidal (TAUNAY, 1935, p. 3), para compilar a História do café no Brasil, um trabalho exaustivo que levou 10 anos para ser concluído (1927-1937), sendo produzidos 15 volumes, totalizando seis mil páginas (TAUNAY, 1945, p. 5).

O artigo “Memória sobre a cultura do cafeeiro”, publicado em “O Auxiliador da Indústria Nacional”, já havia sido comentado por A. de E. Taunay na obra chamada de “Subsídios para a história do café no Brasil colonial”, uma edição do Departamento Nacional do Café, publicada em 1935, na qual destaca documentos produzidos sobre o café no Brasil, dentre os quais, a obra do Frei José Mariano da Conceição Veloso, “O fazendeiro do Brasil” e as obras monográficas sobre o café de Frederico Leopoldo César Burlamaque (1860) e de Paulo Porto Alegre (1879).

A parte que trata sobre o café no livro do Frei José Mariano da Conceição Veloso tinha como objetivo apresentar e discutir algum melhoramento para o café cultivado em solo brasileiro, com o intuito de tornar o grão melhor beneficiado e, consequentemente, fazer com que a bebida fosse mais competitiva, e facilitando seu acesso no continente europeu, que naquela época valorizava muito mais o café vindo das possessões africanas, americanas (no Norte) e da Arábia, principalmente os de Moka (VELOSO, 1800).

Essa excelência na qualidade do grão de café e, consequentemente da bebida, de acordo com Veloso (1800) era típico do café produzido em Moka18, no Yêmen. O Brasil só passaria a experimentá-lo no fim do século XIX. Será mostrado, justamente, na presente tese,

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O Departamento Nacional do Café (DNC) foi uma autarquia Federal subordinada ao Ministério da Fazenda, que controlou o setor até 1946, quando foi extinto, dando lugar ao IBC, Instituto Brasileiro do Café. (CONSELHO NACIONAL DO CAFÉ, 2016).

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Moka é uma cidade do Iêmen, banhada pelo Mar Vermelho, de onde se retirava uma variedade de Coffea arábica, que foi distribuída para a Europa, especialmente Holanda e França, um fato de grande importância para a História do café no mundo (TAUNAY, 1939).

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como se deu esse desenvolvimento na qualidade, tanto do grão quanto da bebida do café, e as possíveis contribuições do periódico “O Auxiliador da Indústria Nacional” nesse processo de expansão e melhoramento.

O artigo “Compêndio de agricultura”, publicado em quatro números no ano de 1834 em “O Auxiliador da Indústria Nacional”, mostra que o periódico daria muita importância para a divulgação de assuntos sobre o desenvolvimento da indústria agrícola, principalmente pelas possibilidades utilitárias, práticas e econômicas ao Brasil (O AUXILIADOR, 1834). É evidenciada a ciência agrícola como “a primeira, a mais útil, a mais extensa e talvez a mais essencial de todas as artes”, apresentando variados elementos, de forma resumida, necessários ao manejo agrícola de qualquer espécie de planta, falando sobre a estrutura e a nutrição do vegetal, da sua relação com a terra e a sua composição elementar, da importância do estrume, da água, do ar, da luz do sol, da propagação dos vegetais dentre outros assuntos (O AUXILIADOR, 1834, p. 248).

Durante todo o período de circulação do periódico “O Auxiliador da Indústria Nacional”, de 1833 até 1896, foram publicados cerca de 145 artigos19, que tinham o tema agricultura nos seus títulos ou que tratavam exclusivamente sobre esse tema, fazendo alguma menção sobre a relação entre a agricultura e a química; a adubação e os diferentes tipos de terrenos; ao ensino agrícola, fazendo um paralelo entre as escolas estrangeiras e as possibilidades para o Brasil; as práticas nas lavouras, a indústria e a economia agrária; a experiência de outros países com a produção de alimentos, ervas, dentre outros cultivos, propostos como exemplo a ser seguido pelos brasileiros; da criação de um Instituto específico20 para a agricultura no Brasil.

Observou-se, ademais, que as edições de “O Auxiliador” deram ênfase, também, à divulgação dos conceitos sobre a ciência agrícola que eram veiculados na Europa, bem com, a importância da criação de escolas agrícolas no Brasil. Muitos exemplos de experiências com o ensino agrícola praticados em países como os Estados Unidos da América, Inglaterra, Alemanha e França, receberam destaque em “O Auxiliador da Indústria Nacional”.

O periódico estava preocupado com o ensino agrícola e divulgava artigos que definiam a agricultura de um modo geral, como a “arte de cultivar a terra, de modo que produza maior quantidade de vegetais, e de melhor condição, dos que o que produz espontaneamente” (BARBOSA, 1838, p. 34). Esse conceito foi observado em uma versão do artigo Catecismo

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Esse número pode ser consultado no Anexo A desta tese, que traz uma lista com os artigos sobre agricultura e os demais temas correlatos de interesse deste objeto, publicados no periódico “O Auxiliador”.

20O periódico “O Auxiliador” divulgou uma nota sobre a instalação do Imperial Instituto Fluminense de

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de Agricultura, que havia sido oferecido por Januário da Cunha Barbosa, em 1837, a partir da tradução da versão espanhola publicada em Londres, em 1826, que foi publicado no número 1, de 1838, em “O Auxiliador da Indústria Nacional”.

Além do ensino e os interesses da indústria agrícola, “O Auxiliador” publicou artigos traduzidos sobre os conhecimentos químicos apropriados pela agricultura, a partir das obras e pesquisas de Humphry Davy21, Boussingalt22, Justus Von Liebig23, indicando para os leitores do periódico a importância das interações entre o terreno e a planta, para a manutenção das lavouras, dentre elas, a cafeeira.

A revista difundiu assuntos como: as novas metodologias para o beneficiamento da produção, os cuidados com a manutenção dos terrenos e produtividade dos frutos, os processos de mecanização agrícola das lavouras cafeeiras, os conhecimentos sobre as primeiras pragas observadas nos cafezais, o ensino próprio para a agricultura e demais assuntos relacionados ao cultivo do café.

Observando a importância econômica que o café assumiu no cenário mundial no século XIX, reflexo do aumento do consumo da bebida e do interesse dos produtores agrícolas brasileiros pelo fruto do cafezal, cabe perguntar: qual o papel do periódico “O Auxiliador da Indústria Nacional” (1833-1896), como órgão de divulgação das questões relativas ao processo de desenvolvimento da agricultura cafeeira no Brasil e as possíveis contribuições para o seu cultivo e melhoramento?

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O inglês Humphry Davy (1778-1829), apesar de ser mais conhecido pelas suas determinações e caracterizações de novos elementos químicos no início do século XIX, também colaborou com o melhoramento no cultivo agrícola, com seus estudos práticos sobre química agrícola, publicando em 1813 o livro “Elements of Agriculture” (MILES, 1961; COSTA, 2010).

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O francês Jean Baptiste Boussingalt (1802-1887) foi um dos precursores da proposta da experimentação de campo, que ao final de uma rotação de cultura apresentou uma avaliação, mostrando que o estrume, pesado inicialmente e usado na cultura agrícola, havia contribuído para a composição da planta, adicionando a ela mais minerais do que a quantidade absorvida diretamente do solo (MALAVOLTA, 1981). Com essa proposta, ele passou a ser considerado por muitos como o pai da experimentação de campo (LOPES; GUILHERME, 2007). Foi Boussingault um pioneiro do estudo da química aplicada à agricultura, trabalhando como professor dessa disciplina no Conservatório de Artes e Ofícios de Paris, dedicando-se especificamente à fisiologia vegetal (ESPAÑA, 1998).

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O químico Justus von Liebig (1803-1873) foi uma grande referência na era da fertilização, da análise e da química do solo. Em 1842 publicou o livro “A Química e sua Aplicação na Agricultura e Fisiologia”, mostrando que o vegetal tira do solo os constituintes mínimos necessários ao seu desenvolvimento, o que implica na necessidade constante de reposição dos minerais incorporados pela planta (LIEBIG, 1842). Liebig já conhecia a composição elementar do solo, necessária ao bom desenvolvimento do vegetal, pois já havia determinado em 1840 que o crescimento da planta depende de um fator limitante, ou seja, um recurso no solo que está em menor quantidade, considerando-se que o aumento da produtividade da planta se dava em função de uma ação simultânea de substâncias em diferentes concentrações no terreno. Tal conceito ficou conhecido cientificamente como a Lei do mínimo (GRIMM et al, 1987; DARGER et al, 2008; GORBAN et al, 2010), que foi aplicada diretamente na agricultura da Europa naquele momento em que a população e, consequentemente, a demanda por alimentos crescia e as extensões de terras férteis, disponíveis para a plantação, diminuíam na mesma medida (DEAN, 1996).

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Partindo-se, portanto, da análise do periódico “O Auxiliador da Indústria Nacional”, o presente trabalho se constrói na perspectiva da pesquisa qualitativa, buscando as possíveis relações entre o conhecimento veiculado pelo periódico, pelos muitos artigos publicados e as possibilidades geradas para os agricultores brasileiros que usufruíram da capacidade de desenvolvimento do cultivo e das melhorias da qualidade do café, propostas a partir dos conceitos divulgados em “O Auxiliador”, apropriados e aplicados ao manejo do cafeeiro.

A coleta e a localização do material usado como fonte documental, mencionada no parágrafo anterior, foram realizadas exclusivamente pela web, pelo endereço: http://bndigital.bn.br/acervo-digital/auxiliador-industria-nacional/302295. Os arquivos foram salvos e armazenados para análise posterior, fato que Pimentel (2001) considera muito importante na organização da fonte documental, no início da pesquisa, para que a leitura seja processada, segundo os critérios de análises pré-estabelecidos que, no caso de nossa proposta, serão explicados no terceiro e quarto capítulo da tese.

O pesquisador, ao realizar uma leitura direcionada do texto, poderá examinar as possibilidades para torná-lo inteligível, a partir dos objetivos da pesquisa. Essa questão relacionada à coleta de dados, relatada acima, foi muito discutida por Ludke e André (1986, p. 40). Elas destacaram que “a escolha dos documentos não é aleatória. Há geralmente alguns propósitos, ideias ou hipóteses guiando a sua seleção”.

As referências bibliográficas consideradas primárias, ou seja, os artigos de “O Auxiliador da Indústria Nacional”, principalmente, foram todos explorados no início da organização do material, para que se pudessem selecionar aqueles que seriam utilizados diretamente na confecção da narrativa da tese, sendo necessário, para tanto, a demarcação de todos os números do periódico, cobrindo, praticamente todos os anos de circulação de “O Auxiliador”, 63 ao todo, no período de 1833 a 1896, já incluindo os dois breves momentos de pausa nas suas publicações (discutidos no segundo capítulo desta tese). Em seguida foram selecionados todos os artigos que tratavam dos temas: café (principalmente); agricultura; pragas na lavoura; Química; estrume; escolas/ensino voltado para a agricultura; mecanização das lavouras (principalmente a agrícola cafeeira).

Com o intuito de estruturar melhor as respostas aos questionamentos inicialmente propostos e verificar a possibilidade de formulação de novas hipóteses e, possivelmente reconduzir o trabalho proposto até a sua finalização, foi visto que seria muito importante analisar parte de todos os temas mencionados no parágrafo anterior e que, em certa medida, se relacionavam ou foram apontados diretamente pelos autores dos artigos sobre o café. Assim, além da análise e discussão do tema café, no periódico, também foram analisados e incluídos

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na tese os demais temas identificados, que de certa forma dialogavam com os artigos sobre o café.

Partindo da perspectiva de Bacellar (2009, p. 71), “justapor documentos, estabelecer constantes, identificar mudanças e permanências e produzir um trabalho de história”, persistiu-se na seleção de artigos das publicações de 1833 até 1896 de “O Auxiliador”, que tinham certa correspondência entre si, buscando dar visibilidade para o papel do periódico na difusão dos saberes agrícolas, especialmente aqueles voltados para o melhoramento das lavouras de café naquele período.

Estudos relacionados à importância dos periódicos na difusão de conhecimentos úteis à indústria agrícola no século XIX podem ser observados em diversos trabalhos de conclusão de curso de Pós-Graduação, como exemplo, a dissertação de mestrado de Capilé (2010), onde foi analisado o papel da “Revista Agrícola” do Imperial Instituto Fluminense de Agricultura (RAIIFA), no período de 1869 a 1891, na “divulgação de conhecimentos técnico-científicos que visavam o desenvolvimento da lavoura nacional, diminuindo ou eliminando os problemas” (CAPILÉ, 2010, p. XIV).

Outro exemplo está na tese de doutorado de Araújo (2010), que observou como se deu o processo de construção histórica da agricultura como campo científico na Bahia no período compreendido entre 1832 até 1911. Na tese, Araújo destaca o papel da “Sociedade de Agricultura, Comércio e Indústria da Província da Bahia” (SACIPBA) e do “Imperial Instituto Baiano de Agricultura”24 (IIBA), duas importantes associações científicas do século XIX, na fundação de um estabelecimento de ensino agrícola na Bahia. O autor utilizou como principal fonte documental para a tese os periódicos: “O Jornal da Sociedade de Agricultura, Comércio e Indústria da Província da Bahia” e “O Agricultor Bahiano” (ARAÚJO, 2010, p. 51).

O “Imperial Instituto Baiano de Agricultura” tinha um periódico específico, conhecido como “O Agricultor Baiano”, responsável pela difusão de conhecimentos agronômicos entre os lavradores e que “valorizou a necessidade de reformas no âmbito das técnicas agrícolas fundadas em princípios científicos, ao lado da insistência na reforma e ampliação do crédito agrícola e hipotecário” (ARAÚJO, 2010, p. 112).

Num outro trabalho, também de doutorado, foi discutido por Bediaga (2011) o papel do Imperial Instituto Fluminense de Agricultura (IIFA), que segundo ela: “serviu de locus na

24

O periódico “O Auxiliador”, ao falar sobre o ensino agrícola no Brasil, cita a importância do Imperial Instituto Bahiano de Agricultura, criado pelo “Decreto n. 2580 de 1° de Novembro de 1859, e de iniciativa de Sua Majestade o Imperador”, que fundou a Escola Agrícola em São Bento das Lajes, cujo objetivo era formar engenheiros agrônomos, em quatro anos de curso, com início em 1876. (O AUXILIADOR, 1888, n. 3, p. 61-62).

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institucionalização de áreas científicas relacionadas à agricultura, como química agrícola, silvicultura, pedologia, meteorologia agrícola, fitopatologia e zootecnia, até que elas constituíssem seus próprios espaços científicos” (BEDIAGA, 2011, p. xii). O Instituto fazia uso de uma Revista própria, a RAIIFA, mesmo periódico analisado por Capilé (2010), para realizar a divulgação científica na segunda metade do século XIX no Brasil, dando destaque especial para as culturas que mais colaboravam para a economia do Brasil naquele século, como exemplo, o café e a cana-de-açúcar.

Ainda sobre os trabalhos que analisaram periódicos do século XIX, podemos destacar a tese de doutorado de Vannucci (2016), cujo foco de estudo foi a revista “O Auxiliador da Indústria Nacional”, concentrando a sua pesquisa histórica nas invenções técnicas brasileiras no segundo reinado, difundidas pelo periódico e que tinham sua garantia de eficiência, pois tais invenções passavam pela análise de comissões técnicas especializadas, permitidas pelo governo imperial, recebendo concessões de privilégios de patentes, podendo ser preferencialmente comercializadas por algum tempo determinado (VANNUCCI, 2016, p. 6). Muitos dos equipamentos analisados por Vannucci (2016), publicados em “O Auxiliador”, foram exclusivamente planejados para o beneficiamento do café no Brasil oitocentista.

Sendo assim, nossa análise poderá permitir, como ocorreu nas referências citadas anteriormente, a caracterização dos diferentes perfis e dos objetivos dos autores dos artigos sobre o cultivo do café no Brasil do século XIX, se houve, ou não, a influência das publicações de “O Auxiliador” no melhoramento das lavouras cafeeiras no Brasil oitocentista.

Na tentativa de responder os questionamentos levantados inicialmente propomos uma divisão da tese em quatro capítulos. No primeiro, “O café no Brasil e no mundo”, apresentamos um breve histórico do café no Brasil, os aspectos iniciais do seu desenvolvimento a partir do século XVIII, especialmente até o fim do XIX, século que foi coberto pelas publicações de “O Auxiliador”. Ademais mostramos o seu movimento atualmente, bem como alguns dos fatores que permitiram sua consolidação como um dos nossos mais importantes produtos agrícolas de exportação. Registramos, nesse capítulo, também, o contexto do desenvolvimento e da industrialização do café, partindo-se da província do Rio de Janeiro, de onde ele teria se espalhado para as demais, dentre elas, São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo. Procuramos, além disso, destacar sua utilização como bebida, seus componentes e propriedades químicas, sensoriais e medicinais, caracterizar os principais problemas enfrentados pelas lavouras cafeeiras, fatores que possivelmente ameaçaram seu pleno desenvolvimento no século XIX.

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No segundo capítulo, “Os periódicos brasileiros em meados do século XIX”, realizamos uma breve revisão sobre o periodismo e a divulgação científica no Brasil, a partir da chegada da família real em 1808. Destacamos, nesse contexto, o periódico “O Patriota” por sua importância científica e influência no periódico que propomos analisar nesta tese. Falamos também sobre a Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional, sua participação na indústria brasileira e, principalmente, no seu mais importante meio de difusão científica, objeto desta pesquisa de doutorado, “O Auxiliador da Indústria Nacional”.

No terceiro capítulo, “Análise do periódico „O Auxiliador da Indústria Nacional‟”, procurou-se caracterizar os principais elementos abordados pelo periódico, que culminaram no início da formação das grandes lavouras de café no Brasil, bem como os processos responsáveis pela sua modernização ao longo de todo o período de circulação do periódico, destacando: as memórias sobre a produção cafeeira; a história do café tratada pelo periódico; os aspectos da mecanização e do beneficiamento do grão de café; a química aplicada à agricultura e ao cultivo cafeeiro; o surgimento e o enfrentamento das pragas relacionadas aos cafezais; os mecanismos relacionados ao uso de diferentes tipos de estrume na preparação e recuperação dos terrenos próprios para os cafezais; dentre outros assuntos relacionados, propagandeados em “O Auxiliador” e defendidos pela Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional como os mais importantes fatores capazes de fazer crescer a atividade industrial agrícola no Brasil.

No quarto capítulo, “Mudanças na cafeicultura e o papel de “O Auxiliador”, procurou-se destacar as contribuições do periódico para a produção cafeeira do Brasil no século XIX, discutidas no terceiro capítulo. Assim, se discutiu o melhoramento proporcionado pela mecanização da produção, a partir dos pedidos de privilégios e concessões do Governo Imperial, falou-se da recuperação de velhos cafezais a partir do uso do arado combinado com a estrumação dos terrenos destinados ao plantio do café. Discutimos, também, a presença marcante do café brasileiro nas exposições internacionais, a partir de 1870, quando passa, definitivamente, a ser reconhecido pela sua qualidade e sabor.

Para concluir, destacou-se um resumo dos assuntos principais, divulgados pelo periódico “O Auxiliador” para dar “ânimo” aos agricultores brasileiros, produtores de café, propagandeando os mais diversos assuntos relacionados ao tema, tais como: o aumento do consumo interno e externo do grão, as melhorias no beneficiamento pela mecanização da produção, as técnicas adotadas no cultivo, na preparação e na manutenção dos terrenos destinados ao cafezal, os cuidados com as pragas agrícolas, os estabelecimentos e o ensino próprio para a agricultura como um todo. Também se destacou o reconhecimento

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internacional da importância da Sociedade Auxiliadora, pelo recebimento de diversos prêmios, pela publicação do seu periódico.

Devido ao mapeamento dos artigos de “O Auxiliador” (Anexo A), necessários para a confecção desta tese e do número total de artigos encontrados sobre temas importantes para a compreensão da história da química, do estrume (fertilização do solo e das lavouras), das escolas agrícolas (ensino voltado para a agricultura teórica e prática), das pragas e da mecanização das lavouras, destacaremos também a importância da presente tese de doutorado, como fonte de consulta para pesquisas relacionadas aos temas citados, dentre outros assuntos que estiveram no centro dos debates da indústria agrícola e da Economia no século XIX.

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1 O CAFÉ NO BRASIL E NO MUNDO

1.1 Origem do café na História

O início da utilização dos grãos de café, da sua bebida e do seu cultivo no mundo, ainda levanta muitos questionamentos entre os mais diversos historiadores e comunidade acadêmica em geral. Sabe-se que a planta foi transplantada da Abissínia (Etiópia - no nordeste da África) para a Arábia (VELOSO, 1800; MARCONDES, 1896; MARTINS, 1990), como indicado num antigo manuscrito do Iêmen (sudoeste da Ásia), do ano de 575 d.C., que é, também, considerado como a primeira referência textual no mundo sobre o café (MARTINS, 2008).

A origem geográfica da rubiácea, de onde provém os grãos de café, é uma questão de disputa entre a Etiópia e a Arábia. Há uma lenda de que os frutos avermelhados do café eram utilizados no preparo de uma bebida que deixava os monges etíopes acordados. Acredita-se que esse tenha sido o ponto de partida do consumo da bebida que depois foi aperfeiçoada, contudo, até os dias de hoje, ainda se conserva a expressão de uma das mais importantes variedades desse fruto, o “café arábico” (SAVARIN, 1995).

De acordo com Martins (2008, p. 19):

Os etíopes iniciaram seu consumo na forma de fruto. Alimentavam-se de sua polpa doce, por vezes macerada, ou a misturavam em banha, para refeição. E produziam um suco, que fermentado se transformava em bebida alcoólica. Suas folhas também eram mastigadas ou utilizadas no preparo de chá.

Os Árabes, porém, cultivaram largamente essa planta, especialmente no Iêmen, que teria sido a primeira região a receber as sementes do café. Foi de lá, também, que veio o domínio e a disseminação das técnicas de cultivo, seu consumo na forma de infusão, o processo de torrefação dos grãos e sua produção em nível comercial, já no século XIV (MARTINS, 2008).

Em regiões orientais como a Pérsia e o Egito, o fruto do café já era muito conhecido, antes mesmo de ter sido popularizado e largamente consumido em alguns países europeus, principalmente a França e a Holanda (a partir do porto de Amsterdam) (CUNHA, 1844), por onde as mudas de café teriam acessado a Europa, uma vez que, essa região, no século XVII, controlava todo o comércio europeu (MARTINS, 2008).

A ligação da França com o café é marcada historicamente desde os tempos de Luiz XV. Já nessa época, Paris contava com cerca de 600 estabelecimentos próprios para o

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