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Na mesma tendência de difusão de conhecimentos úteis, as atividades industriais do Brasil no século XIX, a exemplo de “O Patriota”, o periódico brasileiro “O Auxiliador da Indústria Nacional” trouxe, como destacado em seu subtítulo, “Coleção de memórias e políticas, interessantes aos fazendeiros, fabricantes, artistas e classes industriosas no Brasil, tanto originais como traduzidas das melhores obras que neste gênero se publicam nos Estados Unidos, França e Inglaterra” (O AUXILIADOR, 1833, n. 1, p. 2), assim como, na Alemanha, Portugal, dentre outros países, não mencionados na capa da revista, mas que também,

estiveram presentes nas páginas de “O Auxiliador”, sendo, portanto, endereçadas aos fazendeiros, fabricantes, artistas e industriais de toda classe do Brasil no período de 1833 a 1896.

Segundo Barreto (2009, p. 322-323):

O Auxiliador da Indústria Nacional pode ser definido como um veículo informativo (com notas, notícias, reportagens) e opinativo (com editoriais, comentários, pareceres, artigos, colunas e cartas), que levava até a população leiga o acesso às descobertas científicas que se relacionavam com problemas da sua vida cotidiana, como saúde e higiene, nutrição, uso de fertilizantes, pesticidas, etc. bem como os meios de instrumentalização e assimilação deste novo universo cultural que deveria contribuir criativamente para o avanço científico-tecnológico da sociedade brasileira em geral.

O uso de “O Auxiliador da Indústria Nacional” como mecanismo de difusão de conhecimentos, de saberes científicos, técnicos e culturais, de incentivos para a Indústria Nacional, especialmente a de produtos agrícolas, foi uma iniciativa da recém-criada Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional (SAIN), que visava o estímulo e o melhoramento da indústria brasileira, seja ela agrícola ou fabril, pela publicação de novidades científicas dentre outros assuntos relacionados aos diversos ramos industriais que já eram praticados no Brasil (TAUNAY, 1945; DOMINGUES, 2001; SILVA; PENTEADO, 2017).

Os conhecimentos difundidos pelo periódico “O Auxiliador” tinham, nesse contexto, como destacado por Celina (2006), um importante papel educativo para com os seus leitores. Foram tratados dos mais variados assuntos, que nesta tese são apresentados no Anexo A, que objetivavam, dentre outros fatores, o melhoramento da produção agrícola brasileira, pelo ensino e a modernização da agricultura.

Na sessão de 1° de dezembro de 1860, presidida por Marquez de Abrantes, que teve seu conteúdo publicado em “O Auxiliador” (1861, p. 3-8) foi destacado, por exemplo, o dever da Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional na vulgarização do ensino agrícola e o papel do Estado no fomento das condições necessárias à difusão dos conhecimentos agrícolas e industriais.

Na mesma sessão de 1860, Burlamaque (1861) defendeu o uso de compêndios agrícolas por professores e alunos no Brasil, lotados ainda no ensino primário rural. Procurou- se fazer a diferenciação entre o ensino urbano, indicando que nesse último deveria ser adotado um compêndio de elementos de tecnologia. O autor destacou que a agricultura, já considerada naquele período como ciência ou o conjunto de várias ciências, interessante a todos, base da nossa prosperidade industrial, deveria ser menos ignorada, especialmente por aqueles que mais usufruem dela. No entanto, a plena ignorância na ciência agrícola é o que mais se

observava no Brasil do século XIX. Enquanto isso, nas nações europeias, havia um pleno desenvolvimento do ensino agrícola.

Burlamaque destacou (1861, p. 4-5) que:

Escolas teóricas e escolas práticas, fazendas normais, prêmios, exposições, sociedades, comícios, institutos, estações para a análise das terras, lições conferências, publicações de todo gênero; tudo finalmente se tem posto em prática para vulgarizar o estudo da agricultura como arte e como ciência, elevando-o mesmo a categoria de estudo universitário a par das mais altas ciências especulativas.

O tema “ensino voltado para agricultura e para toda a indústria no Brasil”, de modo geral, teve muita influência da Sociedade Auxiliadora que tratou de divulgar, no seu periódico, diversos artigos31 que, expressavam a opinião dos redatores, tradutores e demais colaboradores da SAIN, destacando, também, a experiência positiva que países mais desenvolvidos economicamente tiveram com a implantação do ensino industrial e agrícola.

A intenção de difundir conhecimentos científicos entre os brasileiros, as discussões sobre a implantação do ensino voltado para a indústria de todo tipo, especialmente a agrícola, o tratamento dado às questões relativas ao trabalho escravo, a mão de obra assalariada, os relatos sobre o que acontecia na Ciência mundial pela divulgação das diversas exposições científicas que ocorriam na Europa, o fomento dado aos produtores fabris e agrícolas, com propósito de modernizar a atividade industrial no Brasil, dentre outras características, valorizaram muito a criação da Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional (FREITAS, 2005).

Segundo Freitas (2005, p. 102):

Foi organizada pelo Deputado Ignácio Álvares Pinto de Almeida32, Secretário da Real Junta de Comércio, Agricultura, Fábricas e Navegação. Embora de iniciativa de particulares, nasceu sob a jurisdição do Governo, ligada ao Ministério dos Negócios do Império.

Depois de ter sido organizada, a SAIN teve sua primeira sessão envolvendo todos os seus membros, naquele início, ocorrida em 28 de fevereiro de 1828, com os primeiros estatutos aprovados e tornados públicos pelo Governo do Brasil, na Portaria de 5 de agosto de 1831. Logo após esses primeiros atos administrativos, a Sociedade Auxiliadora já poderia servir aos seus partícipes com algum tipo de estímulo, pois apresentava, já em 1831, 89 máquinas, 171 volumes de diversas obras e muitos jornais científicos (O AUXILIADOR, 1833, n. 1, p. 11).

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Ver Anexo A.

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O periódico “O Auxiliador” divulga essa organização da SAIN, publicando na seção de “Escavações Históricas” o artigo: “Quem fundou a Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional?” (O AUXILIADOR, 1878, n. 1, p. 18-19).

A Sociedade Auxiliadora continuou desempenhando esse papel de fomento aos produtores brasileiros e não mediu esforços para que nossa indústria se desenvolvesse o mais rápido possível, fazendo uso do periódico “O Auxiliador”, por exemplo, para noticiar, pela publicação de um “Relatório Sobre o Trabalho e os Progressos da SAIN”, a aquisição de uma máquina de Paris, além de diversos outros modelos, que aguardava receber, para que os fazendeiros e fabricantes tivessem a oportunidade de aproveitá-las nas suas atividades industriais (REBELLO, 1835, n. 8, p. 234).

No mesmo relatório foi informado sobre a troca feita pela SAIN, de uma saca de café, em Baltimore, nos Estados Unidos, por vários exemplares dos periódicos “O Agricultor Americano” e do “Agricultor do Sul”. Naquele ano, a SAIN também foi presenteada de diferentes formas, dentre as quais podemos citar os insumos para a produção de seda e do chá, modelos para a construção de pontes. Vieram, além disso, diversos textos para comporem o seu acervo, como exemplo, enciclopédias, manuscritos, dicionários, artigos de periódicos da Sociedade Central de Agricultura de Pariz, do Jornal dos Conhecimentos Úteis da Bélgica, dentre outros. Foi relatado também, que nos próximos anos, a SAIN ainda iria aumentar e diversificar muito mais a sua coleção (REBELLO, 1835, n. 8).

A relação da Sociedade Auxiliadora, com a aquisição e a proposição de insumos voltados para o melhoramento e a diversificação da produção industrial brasileira, será discutida, em maiores detalhes, no próximo capítulo, especialmente na parte que analisa os diferentes aspectos do cultivo do café em “O Auxiliador”, bem como, a compra e a distribuição de sementes de diferentes espécies de plantas, principalmente as de café, trazidas das regiões onde havia fazendeiros muito mais experientes e seus cafezais, cultivados há muito mais tempo se comparado ao Brasil e que, portanto, já se destacavam no cenário internacional como um produto de qualidade reconhecida, que muito interessava à economia.

A SAIN considerava “O Auxiliador” como seu:

[...] único livro [...] aonde se deve registrar o movimento progressivo da indústria moderna, em cada página, segundo patenteiam as luzes do século, se terá de ler melhoramentos de fábricas, de instrumentos, e de processos, ou algum útil descobrimento; o que convenientemente aproveitado sempre nos será de interesse, podendo as vezes nos trazer consideráveis vantagens [...]. Assim este periódico tendo como uma de suas primeiras obrigações, fazer com que seus leitores estejam ao fato de importantes novidades, e de notícias, que sendo de suscetível aplicação ao Brasil lhes podem vir a ser mui lucrativas, deve chamar a atenção pública, e ser digno de todo o favor. (MAIA, 1848, p. 3-4).

Muitos atos praticados pela Sociedade Auxiliadora, de extrema importância para a economia do Brasil, foram publicitados no seu periódico, como exemplo, a aplicação de vapor em diferentes operações na indústria de fabricação do açúcar, nas novas máquinas de

descascar o café, o arroz e de manipular a terra. Essas ações da SAIN para a desmistificação de certas atividades industriais, que antes pareciam ser impraticáveis no Brasil, mas que pelo periódico “O Auxiliador” se tornaram conhecidas dos homens industriosos, passaram a ser por eles desenvolvidas, como exemplo, a indústria de produção de seda, mel, galvanização, asfalto, soda, potassa, mármores artificiais, dentre outros produtos (MAIA, 1848).

A SAIN se orgulhava de ter publicado diversas sugestões no seu periódico, sobre conhecimentos úteis concernentes à “destruição de animais daninhos, tratamento de animais domésticos, fabricação de muitos objetos necessários às artes e ofícios”, e muitos dos que leram tais assuntos, adotando seus conceitos nas suas práticas, viram muitas das suas atividades industriais melhoradas (MAIA, 1848, n. 1, p. 6).

Lisboa (1849) introduziu algumas funções da Sociedade Auxiliadora no periódico “O Auxiliador”, destacando a importância dada pela SAIN à imprensa e ao seu principal meio de difusão de divulgação de conhecimentos.

Segundo Lisboa (1849, n. 1, p. 3-6):

A Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional, não podia, nem atualmente pode prescindir de uma publicação periódica, que sirva de nexo aos sócios que a compõem disseminados nos vários pontos do Império e especialmente na capital [...]. Que é a imprensa uma poderosa arma do progresso puramente científico [...] é o meio mais seguro e duradouro de espalhar conhecimentos úteis aos agricultores, aos manufatureiros, aos artistas [...]. A Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional deve ser a intermediária entre a teoria e a prática, entre a ciência e a indústria [...] ela precisa inspirar confiança e simpatia aos agricultores, aos manufatureiros [...] convencê-los de que [...] países muito inferiores ao Brasil empregam melhores meios de preparar o café.

“O Auxiliador” deveria ser o meio para manter os mais variados ramos da indústria brasileira em altos patamares, ainda não atingidos por muitos segmentos industriais de outros países. O periódico poderia garantir a aceitação espontânea de novos processos, mais apurados, seguros, fundamentados por um longo período de testes, que poderiam melhorar ainda mais a produção. “O Auxiliador”, portanto, deveria ser cheio desses assuntos nas suas páginas (LISBOA, 1849, n. 1, p. 3-6).

A SAIN, vinte e seis anos após a sua fundação, seguiu firme nos seus propósitos iniciais, voltados para o desenvolvimento e o progresso do Império, propagando pelo periódico “O Auxiliador”, todo melhoramento agrícola33

que se tinha notícia, todas as

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Em meados do século XIX, sendo o Brasil um país agrícola, um grande produtor de café, cana-de-açúcar e algodão, já se ouvia por aqui sobre a revolução agrícola que estava em andamento no mundo, onde sua ênfase era as técnicas de afolhamento, a mecanização das lavouras, fertilização do solo e as novas variedades de plantas de grande interesse comercial (CARRARA; MEIRELLES, 1996, p. 591). O afolhamento está associado ao que chamamos hoje de rotação de cultura, ou seja, uma divisão do terreno em folhas, onde cada parte se destina a

vantagens, determinadas pelas experiências na indústria. Diversos resultados, sejam eles bons ou ruins, que indicariam novos caminhos no melhoramento da agricultura e das artes, foram apontados no periódico (O AUXILIADOR, 1852, n. 6, p. 222-223), uma tarefa que dependia também do retorno dado pelos homens que usufruíam da Sociedade Auxiliadora, das suas publicações periódicas, dentre outros produtos (O AUXILIADOR, 1854, n. 7, p. 233).

A SAIN, assim como as demais sociedades científicas no Brasil, que começaram a aparecer a partir do século XVIII, manteve o pragmatismo das associações europeias, surgidas desde o século XVI, que fomentavam o desenvolvimento das atividades científicas pela sua “utilidade” (DOMINGUES, 2001).

A ideia da fundação da Sociedade Auxiliadora foi confeccionada muito antes da sua primeira sessão (1828) e da aprovação dos seus primeiros estatutos (1831), aqui já lembrados. Ela existe desde 1816 e exigiu todo um trabalho de convencimento da sociedade civil, por parte dos envolvidos, daqueles considerados como os principais integrantes da corte portuguesa para a aquisição das assinaturas, ou seja, apoio, na compra de máquinas rurais e fabris que seriam, posteriormente, entregues à população, sendo todos convidados a participarem do progresso do país (AZEVEDO, 1885).

A SAIN era, como se falou, uma sociedade civil contextualizada e complexa, dotada de capital privado, ou seja, tinha seu direito de autonomia administrativa assegurado. Contudo, ela estava sob a jurisdição do Ministério do Império, sendo transferida, a partir de 1860, para a competência do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas (MACOP), servindo, também, como um instrumento de consultoria pelo (ou do) Governo Imperial (DOMINGUES, 2001; SILVA; PENTEADO, 2017).

Apesar de se propor como uma comunidade científica brasileira, na exploração dos recursos da natureza e sua utilização prática, no progresso do país, a SAIN coligava membros de diversos segmentos da sociedade, como políticos, homens letrados e outros conectados ao mundo dos negócios (BARRETO, 2009).

No primeiro número de “O Auxiliador da Indústria Nacional” (1833, p. 10 – 11), é publicada uma lista com os nomes dos primeiros funcionários da SAIN, são eles: Visconde de Alcântara, Brigadeiro Francisco Cordeiro da Silva Torres, João Fernandes Lopes, Manoel José Onofre, João Francisco Madureira Pard, o conselheiro João Rodrigues Pereira de Almeida e Inácio Alves de Almeida, fundador da SAIN (O AUXILIADOR, 1833, n. 1, p. 10).

uma cultura agrícola distinta, que serão trocadas de acordo com o tempo de rotação para cada produto (BARROS, 2017).

Esse mesmo documento também revelou que, naquele momento, havia 49 sócios efetivos e seis honorários.

O número de sócios efetivos saltou de 49, em janeiro de 1833, para 184 em uma lista publicada em “O Auxiliador”, em dezembro de 1837 (p. 34 - 40). Um aumento significativo de associados, formado por representantes de diferentes segmentos da elite brasileira daquele período, por exemplo, a econômica, eclesiástica, cultural e política, dentre as quais estavam: médicos, deputados e senadores, fazendeiros, comerciantes, militares, religiosos, engenheiros, farmacêuticos, lentes (professores), juízes, tipógrafos, funcionários públicos. O número de associados pode até ser maior do que foi apresentado, pois só eram publicados no Periódico os nomes dos colaboradores que estavam com o pagamento da SAIN regularizado.

Domingues (2001), após uma análise da lista dos associados da SAIN, publicada em “O Auxiliador” (1939, p. 43-50) fez uma interpretação da posição social ocupada de cada membro da SAIN, agrupando cada sócio em cinco diferentes classes, a saber:

1) proprietários: englobando os fazendeiros, comerciantes e o que chamavam proprietários propriamente ditos, que eram a maioria e que não necessariamente eram senhores de terra, uma vez que os fazendeiros estavam discriminados; 2) profissionais (liberais): entre os quais agruparam-se, bacharéis, políticos e funcionários públicos; 3) profissionais especializados: tais como professores, naturalistas e médicos; 4) militares; 5) religiosos. O total de sócios naquele ano era de 217 efetivos e 14 honorários. Desses, encontravam-se, na primeira categoria, 93 sócios; na segunda, 89; na terceira, 26; na quarta, 14 e, na última, 10. [...] a classe dos proprietários era minoritária em relação ao conjunto das demais classes, o que não significava que eles não tinham voz. Ao contrário, pois as atividades da SAIN se faziam “pelo desenvolvimento econômico do país”, isto é, para a agricultura, coincidente, portanto, com os objetivos daquela categoria social. (DOMINGUES, 2001, p. 92).

Segundo Silva e Penteado (2017, p. 136), “o ápice no número de associados foi entre 1866 e 1877, com a marca de 1300 sócios, entre perpétuos, honorários, correspondentes e efetivos”.

Da Sociedade Auxiliadora partiu a proposição da criação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro em 183834 (DOMINGUES, 2001), uma Instituição que atuou fortemente na valorização da história e do “conhecimento territorial do País” (DANTES, 1988, p. 268), assim como também, a fundação do Imperial Instituto Fluminense de

34A “escavação histórica” divulgada no periódico “O Auxiliador” traz a proposta do “Marechal, Raimundo José

da Cunha Mattos, e do Cônego, Januário da Cunha Barbosa”, para a criação do Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico Brasileiro pela Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional. O artigo trouxe uma breve discussão sobre as bases de criação do Instituto, a saber: deveria se ocupar da „História e Geografia do Brasil”; “corrigir e metodizar os documentos históricos e geográficos interessantes à História do Brasil”; os “arquivos e biblioteca” da Sociedade Auxiliadora e do Instituto Histórico e Geográfico deveriam ser de uso comum; deveria também, abrir correspondência com “o Instituto Histórico de Paris, ao qual remeterá todos os documentos de sua instalação”, bem como, os de outra natureza, além de se ramificar por todas as províncias do Império, na época. Fato que ocorreu em 16 de agosto de 1838 (O AUXILIADOR, 1890, n. 3, p. 69-70).

Agricultura, em 186035, duas importantes associações científicas do Brasil surgidas ao longo do século XIX (DOMINGUES, 2001).

A emergência de substituir as noções usuais pelos conhecimentos científicos foi, em muitas oportunidades, discutida no periódico da SAIN. Tais conceitos científicos eram vistos até mesmo atenuados nos textos relacionados diretamente com a produção econômica (DOMINGUES, 2001).

Domingues (2001, p. 86-88) destaca que a SAIN:

Manteve uma estrutura dinâmica que permite considera-la representativa do processo de institucionalização das ciências naturais no Brasil dos imperadores [...] desenvolveria atividades para amarrar o conhecimento produzido e os objetivos do Estado de formar os alicerces econômicos da nação [...] Funcionava como uma espécie de órgão de consultoria do Estado, concedia licenças para desenvolver novas espécies agrícolas, para manufaturá-las, para fabricar máquinas ou explorar minérios, papel que nunca deixou de exercer durante o império com o objetivo de desenvolver a indústria agrícola.

A Sociedade Auxiliadora cumpriu um importante papel através do periódico “O Auxiliador”, pois proporcionou aos fazendeiros, fabricantes, artistas, dentre outras classes da elite brasileira, leitoras da sua revista, uma formação voltada para os mais diversos temas científico-culturais. Tal característica formativa, dentre outras funções da SAIN, passou por um processo de declínio, segundo Barreto (2009, p. 407), com a publicação do “Decreto 8.820, de 30 de dezembro de 1882”, que tirou da Sociedade Auxiliadora o papel de parecerista do Estado.

Segundo Costa (2007, p. 99), foi também a queda da Monarquia, no ano de 1889, sete anos depois, quando a SAIN perdeu, de forma definitiva, toda a assistência dada pelo imperador D. Pedro II, o que colaborou para o encerramento gradativo de todas as suas funções.

Um fato nesse processo de fechamento da SAIN, é que no mesmo ano em que a Sociedade Auxiliadora perde uma das suas principais fontes de financiamento, em 1889, ela é premiada com a medalha de ouro na Exposição Universal de Paris “pela publicação de sua utilíssima revista”, como está estampado na capa de “O Auxiliador” de 1892 (O AUXILIADOR, 1892, p. II).

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A Instalação do Imperial Instituto Fluminense de Agricultura, já citada nesta tese, surge num momento em que a agricultura era a atividade industrial protagonista da economia do Brasil. Sua instalação, diretoria e conselho administrativo, em “8 de julho de 1860”, cumpririam sua missão, a exemplo do que ocorria com os demais Institutos, observadas nos países europeus, se adotassem “os meios de vulgarizar o ensino da agricultura, e de promover os progressos em todos os seus ramos”, a partir da aplicação da: “instrução escrita, por meio de jornais; a instrução oral e prática, por meio do ensino teórico-prático ou simplesmente prático em escolas especiais; animação aos diversos ramos da agricultura e ao gênio da mecânica agrícola, por meio de exposições e de prêmios” (O AUXILIADOR, 1860, p. 277-279).

O periódico seguiu o curso do seu encerramento em 1896, depois de já ter tido sua impressão interrompida em 1892, publicando nos seus últimos anos, artigos cada vez menores ou apenas notas informativas sobre os assuntos de maior destaque na indústria em geral, dentre outros temas que também flertavam com os interesses econômicos.

Uma nota de quatro páginas, destinada ao leitor do periódico, publicada em 1896 em “O Auxiliador”, escrita por Domingos Sérgio de Carvalho, revela os detalhes da sua interrupção, na qual o autor aponta a falta de financiamento e o desinteresse do Poder Legislativo como os principais motivos (CARVALHO, 1896, n. 1, p. 1-4).

A tese de doutorado de Vannucci (2016), que discutiu as invenções brasileiras difundidas pelo periódico “O Auxiliador da Indústria Nacional” destaca que sua publicação:

É mantida por 60 anos contínuos (de 1833 a 1892), e é interrompida por dois períodos: um em 1846, devido a morte de seu redator, o Sr. Cônego J. da C.