PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
BRUNO ALEXANDRE CRUZ
“GERENCIAMENTO” DE RESULTADOS E SUA RELAÇÃO COM A
ADOÇÃO DA REVISÃO DA VIDA ÚTIL DO ATIVO: UM ESTUDO
EMPÍRICO COM AS EMPRESAS LISTADAS NO IBOVESPA
MESTRADO EM CIENCIAS CONTÁBEIS E ATUARIAIS
SÃO PAULO
2011
PUC-SP
BRUNO ALEXANDRE CRUZ
“GERENCIAMENTO” DE RESULTADOS E SUA RELAÇÃO COM A
ADOÇÃO DA REVISÃO DA VIDA ÚTIL DO ATIVO: UM ESTUDO
EMPÍRICO COM AS EMPRESAS LISTADAS NO IBOVESPA
Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em Ciências Contábeis e Atuariais, sob a orientação do Prof. Doutor Sérgio de Iudícibus
MESTRADO EM CIENCIAS CONTÁBEIS E ATUARIAIS
BANCA EXAMINADORA
____________________________________
____________________________________
DEDICATÓRIA
AGRADECIMENTOS
À Deus por dar-me condições de sempre estudar e trabalhar.
À minha mãe, Neusa Maria de Jesus Cruz por incentivar e me cobrar todos os dias, e as minhas irmãs Maria Amélia e Maria Clara por oferecer-me todas as condições de estudos e para que esta pesquisa pudesse atingir os prazos mínimos sugeridos.
Ás minhas tias, Angélica, Esmeralda, Lucia e Maria que me ajudaram a comprar os primeiros materiais de escola.
À amiga Lourdes Bastianello que me apoiou na carreira de contabilista e quem comprou meu primeiro livro técnico.
À minha namorada Rachel Nunes Linhares que me apoiou e não me deixou desistir nos momentos mais difíceis.
Aos Professores Sérgio de Iudícibus e Neusa Maria Bastos Fernandes dos Santos por me ensinarem a ter o “tempo” acadêmico necessário e a paciência de um pesquisador.
Aos meus amigos da Universidade de São Paulo, Clovis Naoki e Ahmed Sammer Al Khatib que torceram por mim.
Aos meus amigos de infância Bruno Tanaka, Orlando Salles e Rodrigo Marques que estão juntos comigo em todos os momentos importantes da minha vida.
À minha amiga Adriana Marques que me ajudou e que ainda torce bastante por mim. Aos gerentes amigos dos projetos de auditoria, Fabiano Ricardo Tessitore, Judival Aguiar, Alexandre Aleo e Adriana Satake pela compreensão e estimulo profissional.
À PricewaterhouseCoopers (PwC) por ter sido a e empresa a acreditar no meu trabalho e desenvolvimento profissional.
Aos colegas da PUC José Olimpio e Wilson que me ajudaram nas pesquisas e nos aspectos administrativos.
CRUZ, Bruno Alexandre.“Gerenciamento” de resultados e sua relação com a adoção da revisão da vida útil do ativo: um estudo empírico com as empresas listadas no IBOVESPA. 152f.Dissertação (Mestrado em Ciências Contábeis e Atuariais). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2011.
RESUMO
Gerenciamento de resultados, e sua relação com a adoção da revisão da vida útil do ativo: Um estudo empírico com as empresas listadas no IBOVESPA.
Sob a Teoria da agencia, Teoria da escolha contábil e premissas de gerenciamento de resultados, o objetivo da pesquisa é entender a relação entre o gerenciamento de resultados por meio de alteração na estimativa de vida útil do ativo imobilizado e ativo intangível de vida útil definida frente à introdução da revisão da vida útil no Brasil por meio do CPC 27 – “Ativo imobilizado” e ICPC 10 (Interpretação técnica nº 10 ) nas empresas de capital aberto no Brasil que publicaram suas demonstrações financeiras na data base de 31 de dezembro de 2009 e 2010.
As hipóteses consideradas nesta pesquisa estão fundamentadas basicamente em: (i) as empresas não financeiras listadas no IBOVESPA estão utilizando as taxas de depreciação recomendadas pela SRF, normalmente menores que as taxas apuradas por meio da revisão da vida útil como forma de obter melhorias nos indicadores contábeis. (ii) as empresas não financeiras listadas no IBOVESPA estão utilizando as taxas de depreciação após a avaliação da revisão da vida útil do ativo como forma de obter melhorias nos indicadores contábeis.
Nesta pesquisa utilizou-se estudo empírico quantitativo e qualitativo no qual se utilizou modelos de regressão univariada para estimar as acumulações discricionárias, que são a proxy do valor discrecionariamente alterado nos resultados contábeis.
O resultado da pesquisa indicou que as empresas não financeiras listadas no IBOVESPA estão utilizando as taxa de depreciação diferente do que é recomendado pela SRF, normalmente menores que as taxas da SRF como forma de obter melhoria nos indicadores contábeis, deflagrando assim gerenciamento de resultados com base nas acumulações discricionárias.
Quando analisada as empresas que adotaram a taxa de depreciação igual a sugerida pela SRF, verificou-se que os indicadores financeiros destas empresas não foram superiores em relação as empresas adotaram a revisão da vida útil com taxas diferentes da SRF. Portanto existem indícios de que estas empresas não estariam gerenciando resultados.
ABSTRACT
Earnings management and its relationship with the adoption of changing the estimated useful life of long lived assets: a empirical research with the companies listed on IBOVESPA
Under assumption of agency theory, accouting choice theory and premises of earnings management the objects of this research is to understand the relationship between earnings management by changing the estimated useful life of long lived assets and the introduction of the review of useful life of assets in Brazil under the CPC 27 – “Ativo Imobilizado” and the “ICPC 10” (“Interpretação Técnica 10”) by the public companies in their issued financial statements for the year ended December 31, 2010.
The foundations for the hypotheses considered in this research were based on: (i) if the companies listed on IBOVESPA that adopted the depreciation rates suggested by the Secretaria da Receita Federal (SRF) had boosted the main accouting performances and (ii) if the companies that adopted the revised depreciation rates under the ICPC 10 had boosted the main accouting performances.
The univariate regression model was used empirically to estimate this discretionary
Accruals, which are the proxy of changed discretionary value of accounting earnings. The
study showed that Brazilian companies that adopted different depreciation rates, instead of the ones recommended by the “Secretaria da Receita Federal” (“SRF”), obtained increased financial ratios than the companies that adopted the SRF depreciation rates. In addition, the qualitative samples analysis demonstrated the intrinsic relation between earnings management and lower levels of corporate governance.
Keywords: Earnings management – discretionary accumulation (Accruals) – corporate
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 – Estutura societária do Grupo ABC ... 48
FIGURA 2 – Resumo do método de pesquisa empírica Abordagens para o cálculo das Accruals totais ... 61
LISTA DE EQUAÇÕES
EQUAÇÃO 1 – Modelo de Healy ... 27EQUAÇÃO 2 – Accruals ... 36
EQUAÇÃO 3 – Hribar ... 37
EQUAÇÃO 4 – Accruals ... 38
EQUAÇÃO 5 – Modelo KS ... 39
EQUAÇÃO 6 – Modelo KS... 40
EQUAÇÃO 7 – Modelo KS ... 62
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 – Pesquisas Empíricas Internacionais sobre gerenciamento de resultados 29
TABELA 2 – Síntese dos Resultados Encontrados por MARTINEZ (2008) ... 30
TABELA 3 – Motivações para “Gerenciamento de Resultados Contábeis (Earnings Management) ... 31
TABELA 4 – Síntese dos Resultados Encontrados por FUJI (2004) ... 32
TABELA 5 – Síntese dos Resultados Encontrados por TUKAMOTO (2004) ... 32
TABELA 6 – DRE Marcopolo S.A ... 44
TABELA 7 – Nota da taxa de depreciação do imobilizado comparativa ... 45
TABELA 8 – Nota de variação da taxa de depreciação do imobilizado comparativa.. 45
TABELA 9 – Nota de variação da taxa de depreciação do imobilizado comparativa valorizada ... 45
TABELA 10 – Demonstração do resultado com ICPC 10 X taxa fiscal ... 46
TABELA 11 – Variação em índices financeiros ... 46
TABELA 12 – Resultado do exercício ABC Operacional em 31 de dezembro de 2010 48 TABELA 13 – Resultado do exercício ABC Não Operacional em 31 de dezembro de 2010 ... 49
TABELA 14 – Resultado do exercício ABC Holding em 31 de dezembro de 2010 ... 49
TABELA 15 – Resultado do exercício ABC Prejuízo em 31 de dezembro de 2010 ... 50
TABELA 16 – Resultado do exercício ABC Operacional em 31 de dezembro de 2010. 51 TABELA 17 – Resultado do exercício Consolidado ABC comparados com resultado pela SRF e ICPC 10 - 31 de dezembro de 2010 ... 51
TABELA 18 – Relação de empresas do IBOVESPA/Março 2011. Amostra de empresas que adotaram a vida útil do imobilizada em taxa diferente do recomendado pela SRF. ... 65
TABELA 19 – Relação de empresas que adotaram taxa de depreciação diferente daquelas sugeridas pela Secretaria da Receita Federal ... 67
TABELA 20 – Empresas que decidiram por utilizar a taxa de depreciação FISCAL .... 69
TABELA 21 – Número de empresas segregadas por nível de Governança Corporativa 70 TABELA 22 – Variáveis e resultados dos índices de correlação e t-test ... 72
TABELA 23 – Resultado das acumulações discricionárias para a população ... 73
TABELA 25 – Variação da Margem para as empresas que não adotaram a taxa sugerida pela SRF ... 77 TABELA 26 – Variação do ROA para as empresas que não adotaram a taxa sugerida
pela SRF ... 80 TABELA 27 – Variação da “Despesa de depreciação/ ativo imobilizado” para as
empresas que não adotaram a taxa sugerida pela SRF ... 82 TABELA 28 – Variação da “CAPEX/Despesas de Depreciação” para as empresas que
não adotaram a taxa sugerida pela SRF ... 84 TABELA 29 – Tabela de Accruals discricionários para as empresas que utilizaram a
taxa sugerida pela SRF ... 86 TABELA 30 – Variação da Margem para as empresas que adotaram a taxa sugerida
pela SRF... 87 TABELA 31 – Variação do ROA para as empresas que adotaram a taxa sugerida pela
SRF ... 88 TABELA 32 – Variação da “Despesa de depreciação/ ativo imobilizado” para as
empresas que adotaram a taxa sugerida pela SRF 89 TABELA 33 – Variação na “Despesa de depreciação/ ativo imobilizado” para as
empresas que adotaram a taxa diferente da sugerida pela SRF 90 TABELA 34 – Resultado dos Accruals discricionários para toda a população 91
TABELA 35 – Comparação entre Correlação PEASON população e amostras 92 TABELA 36 – Variação da “CAPEX/Despesas de Depreciação” para as empresas que
adotaram a taxa sugerida pela SRF ... 93 TABELA 37 – Segregação das empresas por nível de Governança Corporativa ... 94 TABELA 38 – Segregação das empresas por nível de Governança Corporativa com
Accruals calculados ... 97
TABELA 39 – Média das Accruals ... 98
TABELA 40 – Resumo do resultado dos testes de hipóteses para empresas que adotaram a taxa de depreciação diferente da sugerida pela SRF ... 102 TABELA 41 – Resumo do resultado dos testes de hipóteses para empresas que
SUMÁRIO
CAPITULO I1. INTRODUÇÃO
15 1.1. Problema e sua importância
15 1.2. Delimitação do Estudo
17 1.3.Objetivos
18 1.4. Metodologia de Estudo
18 1.5. Contribuições Esperadas
19 1.6. Estrutura do trabalho
19 CAPITULO II
2. ACCOUTING CHOICE E REVISÃO DA VIDA UTIL DO ATIVO
IMOBILIZADO
20 CAPITULO III
3. GOVERNANÇA CORPORATIVA
22 3.1.Introdução a governança
22 3.2. Gerenciamento de resultados
24 3.3. Incentivos para a prática de gerenciamento de resultados com base no
Accouting Choice 30
3.3.1. Incentivos relacionados à precificação de ativos 31
3.3.2. Incentivos Contratuais 32
3.3.3. Incentivos por meio influências externas 33
3.4. Gerenciamento por meio de Accruals 34
CAPITULO IV
4. MODELO UTILIZADO PARA O ESTUDO – ACCRUALS 36
CAPITULO V
5. IMPACTO DAS MUDANÇAS DA REVISÃO DA VIDA ÚTIL DO ATIVO IMOBILIZADO E OS ASPECTOS DE GERENCIAMENTO DE
RESULTADOS 40
5.1.Mudanças da taxa de depreciação 40
5.2.Adoção da taxa de depreciação igual ao sugerido pela Secretaria da Receita
Federal (“SRF”) 45
5.2.1. Empresas que adotam a taxa fiscal
45
5.2.2. Adoção Inicial da revisão da vida útil
5.3. Desenvolvimento de Hipóteses 52
5.3.1. Hipótese sobre a utilização da revisão da vida útil:
53
5.3.1.1.Hipótese sobre gerenciamento de resultados para benefícios em margem
operacional
53
5.3.1.2. Hipótese sobre gerenciamento de resultados para benefícios em retorno
sobre o ativo
53
5.3.1.3.Hipótese sobre gerenciamento de resultados para benefícios em relação
“despesa de depreciação/ ativo imobilizado”
54
5.3.1.4.Hipótese sobre gerenciamento de resultados para variação na relevância
do CAPEX sobre depreciação
55
5.3.2. Hipótese sobre a utilização das taxas da SRF 55
5.3.2.1.Hipótese sobre gerenciamento de resultados para benefícios em margem
operacional
55
5.3.2.2.Hipótese sobre gerenciamento de resultados para benefícios em retorno
sobre o ativo
56
5.3.2.3.Hipótese sobre gerenciamento de resultados para benefícios em relação
despesa de depreciação/ ativo imobilizado
56
5.3.2.4.Hipótese sobre gerenciamento de resultados para variação na relevância
do CAPEX sobre depreciação
57 CAPITULO VI
6. METODOLOGIA DE PESQUISA PARA REVISÃO DA VIDA ÚTIL DO IMOBILIZADO
58 6.1. Variáveis da pesquisa
59 6.2. Qualidade da Governança
61 6.3. Indicadores Econômicos
61
6.4. Fonte de dados 62
6.5.Amostras 62
6.6.População 62
6.7. Amostra de empresas que adotaram a vida útil do imobilizada em taxa diferente do recomendado pela SRF.
65 6.8. Amostra de empresas que adotaram a vida útil do imobilizado em taxa igual ao
recomendado pela SRF.
66 6.9. Mapeamento dos níveis de Governança Corporativa estratificado pelas
6.10. Composições de fatores a partir das variáveis de estudo
68 6.11. Estimação da proxy de gerenciamento
69 CAPITULO VII
7. TESTE DE HIPÓTESES
7.1. Testes de Hipóteses para as empresas que adotaram a taxa de depreciação em taxas diferentes das recomendadas pela SRF
72
7.1.1. Teste de Hipóteses para Margem Operacional ajustada (LL/Receita
Líquida)
73 7.2. Teste das Hipóteses sobre gerenciamento de resultados para benefícios em
retorno sobre o ativo
78 7.3.Teste de hipótese sobre gerenciamento de resultados para benefícios em relação
despesa de depreciação/ ativo imobilizado
80 7.4.Teste de Hipóteses sobre gerenciamento de resultados para variação na
relevância do CAPEX sobre depreciação
82 7.5.Testes de Hipóteses para as empresas que adotaram a taxa de depreciação em
taxas recomendadas pela SRF
84 7.6.Teste de Hipóteses sobre gerenciamento de resultados para benefícios em
margem operacional
85 7.7.Teste de Hipóteses sobre gerenciamento de resultados para benefícios em
retorno sobre o ativo
86 7.8.Teste de Hipóteses sobre gerenciamento de resultados para benefícios em
relação despesa de depreciação/ ativo imobilizado
87 7.9. Teste de Hipóteses sobre gerenciamento de resultados para variação na
relevância do CAPEX sobre depreciação
91 7.10. Análise qualitativa dos resultados encontrados e correlação com os níveis de
governança corporativa
92 CAPITULO VIII
8. RESUMOS DOS RESULTADOS IDENTIFICADOS
98 8.1. Empresas que adotaram a taxa de depreciação diferente daquelas sugeridas
pela SRF
100 8.2. Empresas que adotaram a taxa de depreciação igual aquelas sugeridas pela
CAPÍTULO IX
9. CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS
106 REFERÊNCIAS
109 GLOSSÁRIO
CAPITULO I
1. INTRODUÇÃO
1.1. Problema e sua importância
A informação contábil é uma das principais fontes de tomada de decisão para a maioria dos usuários, e as demonstrações contábeis, o principal meio de comunicação entre as empresas e usuários externos. Esse objetivo da contabilidade fica prejudicado pelas interferências da administração, quando esta utiliza o gerenciamento de resultados por meio de estimativas contábeis para alterar a percepção dos stakeholders frente às demonstrações financeiras. O tema earnings management (gerenciamento de resultados), discutido na
academia internacional há mais de 20 anos por meio de trabalhos e modelos, surge para explicar, identificar e mensurar as práticas de gerenciamento de resultados, KANG & SIVARAMAKRISHNAN, 1995.
No Brasil o gerenciamento de resultados é uma expressão utilizada para designar um conjunto de práticas adotadas pelos gestores e contadores com o intuito de obter resultados contábeis desejados, seja para obter benefícios próprios ou de terceiros. O gerenciamento de resultados dentro das demonstrações financeiras acaba por prejudicando substancialmente as análises por parte dos stakeholders e consequentemente na tomada de decisão.
Os efeitos do gerenciamento de resultados, ou earnings management, na literatura
internacional, podem impactar diretamente tanto nos aspectos macroeconômicos, quanto microeconômicos. Os aspectos macroeconômicos são afetados pela distribuição de renda e impostos do governo numa região, seja por incentivos fiscais para as empresas, ou mesmo na natureza de tributação. Os efeitos microecnômicos serão os estudados nesta pesquisa, em específico nos aspectos de avaliação dos stakeholders por meio de indicadores financeiros e contábeis.
esconder práticas irregulares de mercado em especial nesta pesquisa para empresas de capital aberto de elevada exposição no mercado brasileiro (IBOVESPA).
O presente estudo pretende verificar por meio do teste de hipóteses e estatística descritiva, se existem evidências de gerenciamento de resultados que possam influenciar diretamente nos indicadores de rentabilidade financeira utilizando-se como proxy
discricionária a aplicação do julgamento contábil da revisão da vida útil do ativo imobilizado e do ativo intangível com vida útil definida (CPC 27 e ICPC10) nas empresas listadas na
BM&F BOVESPA. O estudo toma como base a comparabilidade dos saldos das demonstrações financeiras de 31 de dezembro de 2009 e 2010, período das demonstrações financeiras em que foram feitos os estudos de revisão de vida útil, utilizando como proxy as
acumulações discricionárias. Portanto, o problema de pesquisa desta dissertação poderia ser descrito da seguinte forma:
Existem evidências de que houve gerenciamento de resultados por partes das empresas que atuam na economia brasileira, especificamente que fazem parte do IBOVESPA em março de 2011, em alterar as taxas de depreciação aquém daquelas sugeridas pela “SRF” (ICPC 10) em Demonstrações Financeiras comparativas dos anos de 2009 e 2010 com intuito de “viciar” os principais indicadores de rentabilidade observados pelo mercado?
Ao estudar a utilização de práticas contábeis como ferramenta de gerenciamento de resultados definiu-se utilizar a corrente anglo-saxônica (Schipper, 1989 P.92; Healy & Wahlen, 1999, p.368), que estuda gerenciamento de resultados e enfoca o extremo bad
earninngs managament, no qual a existência de critérios múltiplos de normas e práticas
contábeis possibilita aos administradores escolherem alternativas válidas com o objetivo de apresentar informações na forma desejada.
1.2. Delimitação do Estudo
A delimitação do estudo aqui apresentada tem como intuito limitar o contexto da pesquisa, uma vez que apresenta uma série de fatores qualitativos, tanto macroeconômicos quanto microeconômicos, e fatores quantitativos relacionados em específico às amostras utilizadas em relação aos estudos internacionais.
O estudo foi efetuado com as empresas brasileiras de capital aberto com títulos de valores mobiliários negociados em março de 2011, em que se considerou um total de 525 companhias listadas, destas excluíram as instituições financeiras, fundos de investimento, e seguradoras, tendo uma população de 370 empresas, sendo estas informações extraídas do banco de dados ECONOMATICA. Com base no relatório dos maiores volumes de negociação do mês de março de 2011 extraídos do ECONOMATICA, foram extraídas as empresas não financeiras listadas no IBOVESPA do mesmo período numa quantidade de 57 empresas.
A seleção das 57 empresas com base no banco de dados ECONOMATICA considerou os seguintes critérios nesta ordem:
1) Empresas que apresentaram os maiores volumes de negociação em março em reais mil; 2) Empresas que emitiram suas demonstrações financeiras na data base de 31 de
dezembro.
3) Mesmo que a empresa tenha adotado a taxa de depreciação societária igual a taxa fiscal (sugerido pela SRF), será avaliada ainda o fato da empresa apresentar gerenciamento de resultados, em casos em que a taxa de depreciação com a revisão da vida útil for maior que as taxas anteriormente praticas e conseqüentemente ter uma evidência de impairment.
4) Selecionou-se como indicador de seleção as maiores movimentações das ações de empresas não financeiras, pois entende-se que as empresas com maior volume de movimentação no mercado de ações sejam as consideradas como benchmark de
melhores práticas contábeis, melhores indicadores de governança corporativa e de rentabilidade a longo prazo por parte dos principais stakeholders. Ressalta-se que os
aspectos de governança corporativa serão tratados nesta pesquisa em tópico à parte. 5) Apesar de existirem outros modelos de detecção de gerenciamento de resultados como
6) Não foram discutidas questões teóricas sobre os princípios fundamentais e conceitos de contabilidade bem como o tratamento contábil para tal evento nos aspectos qualitativos, uma vez que partes destes assuntos já foram discutidos e debatidos em trabalhos anteriores por (MARTINEZ,2008; HEALY e WAHLEN, 1999, CARDOSO, 2005)
7) A opção por modelos de estimação de Accruals poderia excluir da amostra aquelas
empresas que praticam outras formas de manipulação, desta forma esta pesquisa utilizou uma das técnicas mais utilizadas no estudo de gerenciamento de resultados. A opção de utilizar o volume de operações ocorreu pelo fato das empresas selecionadas representarem via de regra a tendência dos indicadores financeiros da BM&F BOVESPA em especial IBOVESPA (Índice BOVESPA). Portanto, estas empresas influenciariam diretamente nas tomadas de decisões dos principais stakeholders de mercado,
logo seriam um benchmark de interesse no estudo. A população selecionada excluindo as
instituições financeiras totalizou em março de 2011 um volume de R$ 2,4 bilhões, sendo que a amostra testada nesta estudo teve um volume de negociação de R$ 1,7 bilhões aproximadamente 67% do total negociado na BM&F BOVESPA do mês de março de 2011.
1.3. Objetivos
Objetivo geral da pesquisa é estudar se as empresas que efetuaram a revisão da vida útil do ativo imobilizado o fizeram com indícios de gerenciamento de resultados, e se estas empresas que fizeram com o objetivo de gerenciar resultados apresentam classificações diferenciadas nos níveis de governança corporativa para os anos de 2009 e 2010.
1.4. Metodologia de Estudo
Esta pesquisa foi feita por meio de teste de hipóteses e estatística descritiva, sendo o seu principal objetivo descrever as características de determinado fenômeno com o estabelecimento de relações entre variáveis. O método de estudo descritivo qualitativo a ser discutido nos capítulos seguintes utilizará um dos modelos mais aplicados no estudo de gerencimento de resultados, no caso Modelo de Kang e Sivaramakrishan, (Modelo KS, 1995), em que serão pesquisados os índices de Accruals discricionários para as empresas listadas no
2009 e 2010. O modelo de estudo para a análise qualitativa abordou a mesma amostra de empresas utilizadas no método quantitativo e o resultado da pesquisa com as Accruals pelo
método de Kang e Sivaramakrishan (1995) foi comparado aos níveis de governança corporativa destas mesmas empresas na BM&F BOVESPA.
1.5. Contribuições Esperadas
Espera-se com esta pesquisa contribuir com o estudo contábil, que se trata de uma ciência desafiadora, principalmente com a consolidação do processo de convergência das práticas contábeis brasileiras e internacionais e em específico sua avaliação sobre as suas demonstrações financeiras nacionais.
Este trabalho apresenta uma abordagem diferenciada em relação aos demais trabalhos sobre o tema gerenciamento de resultados na academia brasileira e internacional, quanto aos aspectos de mudanças de regulamentação contábil no Brasil iniciados em 2007, com a Lei 11.638/07 (que altera a Lei das Sociedades por ações 6.404/76).
Um aspecto a ser destacado, é que este estudo contribui para a literatura contábil brasileira ao usar o “Modelo KS”, Kang E Sivaramakrisham (1995), com adaptações necessárias decorrentes de peculiaridades da estrutura das demonstrações contábeis brasileiras em 2010 em relação as estruturas norte americanas e européias existentes á época da formulação dos modelos nas academias internacionais.
1.6. Estrutura do trabalho
Este trabalho está estruturado da seguinte forma: a) Capítulo 1: Discussão do problema de pesquisa;
b) Capítulo 2: Abordagem do problema de pesquisa sob o accouting choice (escolha
contábil);
c) Capítulo 3: Governança Corporativa e o gerenciamento de resultados contábeis ; d) Capítulo 4: Apresentação do modelo de estudo - Accruals
e) Capítulo 5: Revisão da vida útil e aspecto de gerenciamento ;
f) Capitulo 6: Metodologia de pesquisa; g) Capitulo 7: Teste de Hipóteses; h) Capítulo 8: Resultados identificados;
CAPITULO II
2. ACCOUTING CHOICE E REVISÃO DA VIDA UTIL DO ATIVO IMOBILIZADO
Neste capítulo serão discutidos os aspectos de accouting choice, e a utilização do
estudo de “escolhas contábeis” por parte da administração para distorcer as informações na demonstração financeira.
Segundo Fields, Lys e Vincente (2001) uma escolha contábil (accouting choice) é uma
decisão da administração que visa influenciar a informação contábil de uma maneira específica, incluindo as demonstrações contábeis. As influências segundos autores podem ocorrer por diversos motivos, que vão desde a busca por incentivos contratuais, melhores performances financeiras a aspectos relacionados com covenants.
O uso do accouting choice passa a ser interessante para a administração quando estas
escolhas podem afetar o período de reconhecimento das receitas e despesas na contabilidade. Por exemplo, em períodos de inflação o método PEPS (primeiro a entrar primeiro a sair) fornece um maior custo de capital em relação ao método UEPS (último a entrar primeiro a sair), sendo quem em algumas práticas contábeis esta escolha é permitida, e os administradores utilizam esta possibilidade para gerenciar seus resultados reportando ao mercado um resultado superior ou inferior de acordo com os interesses da administração que muitas vezes podem não ir de encontro com os interesses dos acionistas. Este assunto será um dos aspectos a serem tratatados no capítulo relacionado com teoria da agência.
Fields, Lys e Vincente (2001) segregam a escolha contábil em três grandes objetivos ou motivações, sendo: contratos, precificação de ativos e influencia de partes externas, esta classificação também consiste nos trabalhos de Watts e Zimmerman (1990).
Com base nos incentivos pesquisados por Fields, Lys e Vincente (2001), esta pesquisa direcionará o estudo do gerenciamento de resultados com base nos icentivos da administração para a escolha contábil, sendo ele (a) incentivos contratuais; (b) precificação de ativos (c) influência de partes externas.
O impacto dos contratos de remuneração de executivos (particularmente os planos de bônus) em escolhas contábeis das empresas é uma das áreas mais exaustivamente investigadas de pesquisa empírica do accouting choice, sendo os aspectos relacionados com a
incentivo, para os administradores que tomam medidas baseadas no curto prazo, os bônus e contratos são freqüentemente interligados e são pagos com base em medidas de desempenho da contabilidade como o lucro líquido, ROA e ROE.
Para esta pesquisa serão utilizadas outras variáveis de indicadores, sendo (i) Variação na Margem Operacional 2009/2010 = LL/ Receita Líquida (ii) Variação no Retorno sobre ativo 2009/2010 = Lucro Operacional/ total de ativos (iii) Variação na Relevância da despesa depreciação sobre o ativo 2009/2010.
Outros incentivos citados por Fields, Lys e Vincente (2001) são os incentivos relacionados à precificação de ativos, assunto muito atrelado à revisão da vida útil do imobilizado, visto que as escolhas da administração quanto às práticas de contabilidade podem influenciar os preços das ações, de várias formas, sendo que os administradores podem maximizar ganhos em um determinado período, ou mesmo suavizar ganhos ao longo do tempo e também evitar perdas ou evitar quedas de salário (entre outras estratégias).
O mecanismo para influenciar os preços das ações em geral não é bem articulado, mas esses estudos têm suas raízes na associação entre ganhos e os preços das ações em IPOs e são
discutidos por Fields, Lys e Vincente (2001). Ressalta-se que esta pesquisa diferentemente da tratada por estes autores tratará como variáveis independentes quantitativas as Accruals, e a
variação dos indicadores de rentabilidade, logo não serão foco da pesquisa discutir variação de preço de ações.
CAPITULO III
3. GOVERNANÇA CORPORATIVA
3.1.Introdução a governança
Este capítulo busca relatar alguns elementos que podem reduzir os ruídos causados nos custos de agência e, conseqüentemente, avaliar o gerenciamento de resultados nas empresas com base nos princípios de governança corporativa. Assim apresentam-se a seguir os estudos feitos na literatura internacional e as principais características da teoria da agência e conceito de governança corporativa.
A governança corporativa é um dos meios de reduzir o os custos e conflitos de agência, tendo como presunção este conceito é importante entender as bases do custo de agência. Uma das mais importantes teorias relacionadas com compensação de executivos é a teoria da agência. Uma relação de agência é quando uma das quais “uma ou mais pessoas (o principal) contrata outra pessoa (agente) para realizar algum serviço em seu beneficio que envolve delegar ao agente alguma tomada de decisão. (Jensen & Meckling, 1976).
Uma das relações de agências mais notáveis, segundo Jensen & Meckling, 1976 na relação de agência é a situação empregado e empregador, outros exemplos segundos os autores incluem as organizações e seus lobistas, acionistas e administradores. No contexto das relações envolvendo acionistas e administradores as compensações recebidas por estes agentes esta baseada em performance. Uma das métricas para avaliar a performance são os indicadores de desempenho contábil.
A teoria da agência geralmente é discutida no âmbito das compensações e performances contábeis, em específico no dilema na qual o acionista e o administrador têm como responsabilidades trabalhar pelo mesmo objetivo, no entanto nem sempre pelo mesmo interesse.
desejos do principal por meio de recompensas como bônus e aumento salarial (incentivos positivos) ou ameaça de punição (incentivos negativos). O problema do policiamento e incentivos é que eles criam os custos para o principal. Este problema acaba por criar um paradoxo, em que só é racional para implementar mecanismos de policiamento e incentivos, se o aumento do retorno ao objectivo do principal supera o custo de policiamento.
Jensen e Meckling (1976) elaboraram as discussões sobre a teoria de agência e aspectos de governança com o livro Theory of the Firm: Managerial Behaviour, Agency Costs and
Ownership Strutcture. Como parte de uma teoria mais ampla, este livro explora ainda mais as
fontes dos custos de agência. Como Mitnik (1973), Jensen e Meckling (1976) identificam o monitoramento das ações dos agentes como fonte de custo de agência, juntamente com pelo menos duas outras fontes: (i) os custos suportados pelo agente (por exemplo, ligação contra a má-fé, (ii) limitações contratuais em sua capacidade para tirar o máximo partido das oportunidades lucrativas, renunciar a certos benefícios não pecuniários). Jensen and Meckling (1976) concluem em seu livro que os custos de agência são inevitáveis quando existe separação entre propriedade e controle, e que os custos de ineficiência são apropriados somente se comparados a um mundo ideal, onde os interesses do principal e agente poderiam estar alinhados.
Jensen e Meckling (1976) discutem que uma das formas de se minimizar os custos de agência seria por meio de aplicação de modelos de governança corporativa. Portanto, a governança corporativa seria é um dos meios de reduzir o os custos e conflitos de agência. Com base nas definições de Jensen e Mecking e conforme exposto anteriormente esta pesquisa aborda de forma qualitativa a relação conflituosa entre os principais, governo (SRF) que pretende recolher mais impostos dos agentes (administradores), e estes no caso administradores, que querem evitar as elevadas tributações por meio de baixos resultados tributáveis, mas ao mesmo tempo precisam demonstrar resultados contábeis satisfatórios aos demais “principais” no caso aos acionistas.
prazo dos acionistas; a existência de um sistema de divulgação dos resultados que assegure confiabilidade e transparência aos investidores externos.
Neste caso os princípios de governança corporativa contribuiriam para que os interesses tanto do governo, acionistas quanto dos administradores possam ser atendidos, sem prejudicar a continuidade da empresa ou mesmo colocar em risco os recursos esperados por cada principal.
A BM&F BOVESPA em 2000 efetuou a classificação das empresas listadas na bolsa em 5 grandes grupos sendo eles Novo Mercado, Nível 1, Nível 2, BOVESPA mais e Tradicional. A pesquisa qualitativa deste trabalho será uma vez avaliados o níveis de discrecionaridade na adoção da revisão da vida útil do imobilizado, por diversos interesses e a relação com o nível de governança corporativa estas empresas estão classificadas na BM&F BOVESPA.
A importância desta segregação em níveis de governança para pesquisa está no fato basicamente nos assuntos relacionados com a qualidade da divulgação das informações contábeis ao investidor e aos aspectos de transparência no que se refere à tomada de decisão por parte da administração, desta forma será possível justificar eventuais desvios de práticas frente à classificação da governança sugerida pela BMF& BOVESPOA no mercado destas empresas.
3.2. Gerenciamento de resultados
Gerenciamento de resultados tornou-se um tópico bastante pesquisado na literatura contábil, especialmente nos últimos anos após os escândalos contábeis em empresas como a Enron e WorldCom1. Esses escândalos foram a justificativa para a aprovação da lei Sarbanes-Oxley de 2002, que mudou consideravelmente o ambiente de contabilidade mundial. Nesta pesquisa o gerenciamento de resultados refere-se à manipulação intencional por meio de julgamentos contábeis, em específico revisão das premissas de vida útil do imobilizado para maximizar os ganhos dos gerentes ou os indicadores financeiros da empresa.
Gerenciamento de resultados segundo Healy e Whalen (1999, pag. 368 Accouting
Horizons/ 1999) é:
Healy e Whalen, (1999) definem earnings management como uma das formas de alterar dados contábeis ou mesmo transações que geram informações contábeis por meio do uso de julgamento.
Healy (1985) foi o primeiro a considerar o gerenciamento de resultados usando o que ele chamou de "discretionary Accruals". Estes são os acréscimos que são à discrição da
gestão e são considerados um proxy para o comportamento de gerenciamento de resultados.
As Accruals podem ser definidas com base em Healy (1985), conforme a seguir:
EQUAÇÃO 1 –Modelo HEALY 1985)
TAC = NDACt + DACt
Onde TAC= Total das Accruals operacionais
NDACt= Accruals não discrecionárias
DACt = Accruals discricionárias no ano t
Desde então, tem havido muita pesquisa usando "discretionary Accruals". No entanto,
as modelagens técnicas para estimar as acumulações discricionárias não sofreram muitos aprimoramentos desde o primeiro modelo Jones (1991), em que um modelo de regressão é usado com a mudança das vendas e o nível de propriedade bruta, instalações e equipamentos como variáveis independentes que explicam o nível não discricionário dos acréscimos.
Dechow et al. (1995) têm mostrado que os modelos de acumulações discricionárias sofrem a existência de erros de medição que podem ser significativos e podem afetar os resultados de pesquisa. O erro de medição nesses modelos surge porque as variáveis que explicam as acumulações não discricionárias têm sido omitidas até encerrar o prazo residual, que representa as acumulações discricionárias.
DeAngelo (1986) realizou um estudo das 64 empresas em que os gerentes das empresas compravam as ações e testou por meio de acumulações discricionárias que esses administradores sistematicamente subestimavam ganhos no período anterior as aquisições. A
proxy utilizada na regularização discricionária é a mudança no total de Accruals. Isso
efetivamente define o nível do ano anterior de regularização como a expectativa das Accruals
não discricionárias no ano corrente.
McNichols et al. (1988) examinaram se os gerentes manipulam resultados numa accrual
na ausência de gerenciamento de resultados. Os resultados mostraram que o componente discricionário da provisão para créditos de liquidação duvidosa é diminuição dos lucros para as empresas cujos ganhos são excepcionalmente altos ou baixos.
TABELA 1 – Pesquisas Empíricas Internacionais sobre gerenciamento de resultados
Autores/Assuntos Metodologias Resultados Comentários
HEALY (1985)
Examina se os gerentes
manipulam os lucros de modo a aumentar a sua remuneração na forma de bônus.
Testa a existência de gerenciamento dos resultados pela comparação dos valores
das acumulações (Accruals) com seu
valor médio no tempo.
Existe uma associação entre o valor dos
Accruals e os incentivos
dos gestores para reportar aumentos dos lucros.
Introduziu o primeiro modelo
para avaliação de gerenciamento dos resultados, tornando-
se referencial teórico para trabalhos posteriores.
McNICHOLS e WILSON (1988)
Examinam se os gerentes manipulam os lucros pelo uso de provisão para devedores duvidosos.
Testam a existência de gerenciamento dos resultados pelo uso de provisões de
devedores duvidosos em empresas financeiras.
As empresas gerenciam resultados pelo aumento da provisão de
devedores
duvidosos, quando o lucro projetado é muito elevado.
Este artigo oferece visão alternativa de pesquisa ao focalizar sua análise em uma conta
patrimonial particular de um setor específico.
JONES (1991)
Examina se as empresas que podem obter benefícios de proteção alfandegária adotam práticas de gerenciamento dos resultados.
Usa os resíduos da regressão
das acumulações totais em relação a
mudanças nas receitas e do ativo permanente como forma de
mensurar os Accruals.
Os resultados não rejeitam a hipótese de que os gestores efetuam práticas para reduzir os lucros, em função do efeito de criação da proteção alfandegária.
O modelo de Jones criou uma ferramenta mais robusta para identificar o valor dos
Accruals.
KASANEN e KINNUANEN (1996)
Examinam se existe gerenciamento do resultado para pagar cota regular de dividendos.
Testam, com base nos dividendos que se espera pagar, se a empresa define montante de lucro-alvo, ao qual procurará ajustar-se.
Os autores encontram evidências de que as firmas ajustam seus resultados de modo a proporcionar fluxo regular de dividendos para seus acionistas.
Demonstram que algumas
empresas se preocupam com o sinal que a queda nos dividendos poderia provocar sobre os acionistas.
BURGSTAHLER e DICHEV (1997)
Proporcionam evidências de que as firmas gerenciam seus resultados para evitar perdas e para sustentar resultados obtidos.
Utilizam distribuição de
freqüência (histograma) da variação de lucros para evidenciar gerenciamento dos resultados ao redor de
certos benchmarks.
Encontram freqüência incomum de pequenos lucros quando
comparada à freqüência Incomum de pequenos prejuízos.
Vários artigos
posteriores passaram a utilizar metodologias similares, em função de sua simplicidade
TEOH, WELCH e WONG (1998)
Examinam se as empresas manejam seus resultados de modo a obter melhores termos em sua primeira subscrição de ações.
Analisam o valor dos
Accruals para verificar
se as empresas gerenciam seus
resultados nosanos
anteriores e posteriores à sua primeira subscrição de ações.
As firmas analisadas apresentaram valor relativamente alto de
acumulações (Accruals)
correntes, quando comparadas com firmas do mesmo setor
Oferecem explicação para o fato de as firmas que efetuam subscrição de ações pela primeira vez terem desempenho abaixo do mercado nos anos subseqüentes ao lançamento.
No Brasil as pesquisas sobre o assunto foram inciadas por volta do ano 2000. Na tabela 2 apresentam-se algumas das hipóteses encontradas por Martinez (2008) sobre a abordagem dada em termos de hipóteses testadas sobre o assunto, sendo que esta pesquisa adota hipótese de número 3, num escopo mais reduzido, não de forma tão ampla como tratado por MARTINEZ (2008), que abordou o assunto com os elementos provisão em geral, provisão para créditos de liquidação duvidosa. Esta pesquisa aborda o assunto vida útil do ativo imobilizado, ex post.
TABELA 2 – Síntese dos Resultados Encontrados por MARTINEZ (2008)
Hipóteses da pesquisa Resultados/Evidências
Hipótese 1: Gerenciamento de resultados para
evitar perdas • • Evitam-se perdas anuais e trimestrais Evita-se reportar resultados negativos de EBTIDA • Evita-se reportar resultados negativos no lucro
operacional e LAIR.
• Empresas endividadas têm maior propensão a gerenciar resultados.
Hipótese 2: Gerenciamento de resultados para
sustentar o desempenho recente • Fraca evidência de gerenciamento para assegurar a continuidade dos resultados anuais e trimestrais • Empresas com alto valor de mercado têm maior
propensão ao gerenciamento de resultados • Empresas com seqüência de resultados positivos e
crescentes acima do que seria probabilisticamente esperado
Hipótese 3: Gerenciamento de resultados para
reduzir a variabilidade dos resultados • Contas de depreciação, provisão para devedores duvidosos e receita não operacional ajudam na redução da variabilidade de resultados
• Variações no ativo diferido, amortização de ágio/ deságio de investimentos e provisão para perdas em investimentos podem estar sendo utilizados para reduzir a variabilidade
Hipótese 4: Gerenciamento de resultados para
manter credibilidade perante os credores • Contas de depreciação e receita não operacional ajudam a minimizar resultados negativos • É nitidamente mais forte o gerenciamento de
resultados para evitar perdas nas empresas que possuem coeficiente de endividamento maior
Hipótese 5: Gerenciamento de resultados para piorar resultados correntes em prol de resultados futuros
• As empresas que, em média, possuíam maior a maior quantidade de acumulações discricionárias negativas, foram as empresas que possuíam, em termos médios, os maiores prejuízos.
Hipótese 6: O mercado é ludibriado no curto prazo com gerenciamento de resultados, porém no longo prazo o mercado identifica o procedimento.
• As empresas com valores de acumulações discricionárias mais altas (positivas), bem como mais baixas (negativas), tiveram desempenho, em termos de retornos anormais médios, pior do que as outras empresas no longo prazo.
Outros Resultados • Empresas que lançaram ADRs promoveram o gerenciamento de resultados para aumentar lucros um ano antes da emissão.
gerenciamento dos resultados. Fonte: Extraído de MARTINEZ (2008).
Alguns estudos sobre o assunto gerenciamento de resultados tem tomado destaque no Brasil nos últimos anos, dentre eles destacam-se: Martinez (1998), Tukamoto (2004), Fuji (2004), Almeida Et Al (2008) E Cardoso (2005).
Com base nos estudos de Martinez (1998), Fujii (2004) e Tukamoto (2004), que constituem as pesquisas iniciais sobre gerenciamento de resultados em empresas brasileiras apresentaram os resultados apontados no quadro abaixo:
Martinez (1998) e Fuiji (2004) e Tukamoto (2004) ainda citam algumas das motivações tratadas por ele para fins de gerenciamento de resultados, vide tabelas de 3 à 5.
TABELA 3 – Motivações para “Gerenciamento de Resultados Contábeis (Earnings
Management)
Fonte: Extraído de FUJI (2004).
Incentivos contratuais Estudos relacionados Contrato de dívida (Lending agreements) DHALIWAL (1980) Contratos de compensação de executivos HEALY (1985) Negociação de Convenções coletivas de
trabalho LIBERTY AND ZIMMERMAN (1986)
Contratos implícitos e Stakeholders Costs BROWEN, DUCHARME, and SHORES (1995)
Incentivos do Mercado de Capitais
Melhorar termos de lançamento num IPO. TEOH, WELCH and WONG (1998)
Busca de financiamento externo, com
lançamento de títulos DECHOW, SLOAN AND SWEENEY (1996) Evitar perdas e manter a continuidade dos
resultados
DEGEORGE, PATEL AND ZECKHAUSER (1999)
Pagar regulares dividendos aos acionistas KASANEN,KINNUANEN, NISKANEN (1996) Incentivos dos reguladores
Processos Políticos WATTS AND ZIMMERMAN (1990) Proteção de Mercado (restrições
TABELA 4 – Síntese dos Resultados Encontrados por FUJI (2004)
Objetivo da pesquisa Resultados/Evidências Verificar se no âmbito das instituições
financeiras atuantes no Brasil há indícios de gerenciamento de resultados, enfocando a conta “despesa com provisão para créditos de liquidação duvidosa”
Pela análise de distribuição de freqüência proposta por BURGHSTAHLER e DICHEV (1997), constatou-se que:
• Há indícios de gerenciamento de resultados para evitar reportar perdas.
• Os 50 maiores bancos buscam sustentar desempenho recente.
A análise específica da conta “despesa com provisão para créditos com liquidação duvidosa”, mostrou que há uma correlação positiva (0,75) entre ela e os resultados de instituições financeiras, assim como alta correlação positiva (0,91) com as acumulações discricionárias, sugerindo indícios de gerenciamento de resultados.
Fonte: Extraído de FUJI (2004).
TABELA 5 – Síntese dos Resultados Encontrados por TUKAMOTO (2004)
Hipóteses da pesquisa Resultados/Evidências
Hipótese 1: As companhias abertas brasileiras emissoras de American Depositary Receipts (ADRs) praticam menos gerenciamento de resultados do que as companhias abertas brasileiras não emissoras de ADRs.
As medidas estruturadas de gerenciamento de resultados não apresentaram médias estatisticamente diferentes nas comparações entre as amostras, implicando a não-verificação de diferenças no nível de gerenciamento de resultados entre as demonstrações contábeis das companhias emissoras de ADRs e as companhias não emissoras de ADRs.
Hipótese 2: As demonstrações contábeis segundo as Práticas Contábeis adotadas no Brasil (PCAB) são mais suscetíveis à prática de gerenciamento de resultados dos que as demonstrações em Generally Accepted Accouting Principles (US GAAP)
Não foi observada diferença nos níveis de gerenciamento de resultados entre as demonstrações conforme as Práticas Contábeis Adotadas no Brasil (PCAB) e as demonstrações em US GAAP das companhias abertas emissoras de ADRs.
Fonte: TUKAMOTO (2004)
3.3. Incentivos para a prática de gerenciamento de resultados com base no Accouting Choice
3.3.1. Incentivos relacionados à precificação de ativos
Os trabalhos realizados sobre accouting choice na literatura contábil estão relacionados
com as associações entre preços das ações e retornos sobre ações com as escolhas contábeis pela administração. Segundo por Fields, Lys e Vincente (2001) as motivações da administração estão relacionadas com o objectivo de influenciar os preços das ações e podem assumir várias formas; (i) maximizar ganhos em um determinado período para suavizar ganhos ao longo do tempo (ii) evitar perdas ou evitar quedas de salário (entre outras estratégias).
Segundo Fields, Lys e Vincente (2001) o mecanismo para influenciar os preços em geral, não, é bem articulado, mas esses estudos têm suas raízes na associação entre ganhos e os preços das ações em IPOs, Brown (1968) apud em Fields, Lys e Vincente (2001) .
Uma parte significativa da pesquisa de Brown (1968) apud em Fields, Lys e Vincente (2001) avalia também a eficiência do mercado, se na escolhas de contábeis têm implicações diretas de fluxo de caixa e estão associadas à alterações nos preços das ações.
Os resultados identificados por Fields, Lys e Vincente (2001) estão aparentemente incompatíveis com a eficiência do mercado e são explicadas de várias maneiras. Os resultados incluem a irracionalidade dos investidores, por exemplo, os investidores respondem mecanicamente a níveis ou alterações nos ganhos independentemente da fonte. Com base nas possibilidades dos investidores responderem a irracionalidade por ganhos e perdas os investidores observam os indicadores contábeis e econômicos para sua tomada de decisão. Dentro deste contexto o gerenciamento de resultados demonstra uma aparente justificativa para que os administradores obtenham melhorias nas performances de seus resultados por meio da valorização de seus ativos. A pesquisa sobre o gerenciamento e revisão da vida útil, adota como parâmetros de análises destes ganhos de desempenho de alguns indicadores de mercado como return on assets e CAPEX.
Os administradores com o intuito de obterem vantagens pessoais ou mesmo tentar alinhar os objetivos dos acionistas (principal) poderiam tomar medidas, dentre elas alterarem as taxas de depreciação dos ativos com o objetivo de aumentar lucros contábeis, ceteris paribus
3.3.2. Incentivos Contratuais
Os incentivos contratuais são uma das maneiras encontradas pelo mercado de reduzir as imperfeições na relação entre principal e agente. Os incentivos contratuais foram criados como uma das maneiras de alinhar os objetivos da administração com os objetivos dos acionistas. Seja por programas de stock options, direito de compra de títulos de dívida, ou
mesmo incentivos salarias. Recentes estudos no mercado de capitais (Healy, Wahlen 1999) envolvendo incentivos contratuais focaram na distância entre as expectativas de crescimento das empresas no mercado e a percepção de crescimento dos acionistas e stakeholders, isto é
no ano anterior observou-se uma elevada compra de ações por parte de membros da administração em períodos em que o lucro não estava elevado e no ano seguinte quando estes administradores mantinham as ações, as empresas geraram lucros (TEOH, WELCH and WONG, 1998b).
Alguns autores, (Teoh, Welch and Wong 1998b) estudaram o crescimento dos lucros em período pré IPO, e a relação do crescimento dos lucros em períodos de lançamentos de
planos de stock options. Todos estes estudos estão baseados em contratos entre agente e
principal, aos quais os aspectos de gerenciamento de resultados distorceram os contratos, e consequementemente, ao invés de reduzirem as imperfeições na relação entre agente e principal, criaram mais ruídos na relação e consequentemente “expropriação do capital” destas empresas por meio de pagamento de bônus, salários variáveis ou mesmo pagamentos baseados em ações.
Teoh et al (1998) estudou o gerenciamento de resultados por meio da reversão prévia de significativas estimativas contábeis, no caso específico de provisões. O estudo de Teoh et Al (1998) nesta abordagem é muito similar a esta pesquisa visto que o que se pretende investigar é o indicativo do gerenciamento de resultads de uma variável via de regra relevante nas demonstrações financeiras, neste caso a revisão da vida útil em última análise as mudanças nas taxas de depreciação das empresas. Teoh et al (1998) examinou as estimativas de depreciação e as provisões para créditos com liquidação duvidosos em períodos próximos ao de abertura de capital. Eles indentificaram o resultado de uma amostra de empresas antes e depois do IPO e verificaram que a administração alterou as estimativas da taxa de depreciação
em períodos anteriores a abertura de capital. Nesta pesquisa nãos será objeto de estudo avaliar diretamente se o crescimento dos lucros por conta do aumento da vida útil do ativo esta diretamente aos ganhos dos administradores por decorrência de bônus ou stock options, mas
3.3.3. Incentivos por meio influências externas
Os incentivos à escolha contábil por meio de influências externas podem ser definidas como aquelas que o mercado seja por meio de regulamentação ou indução faz a administração das empresas tomar decisões além daquelas que beneficiariam seus acionistas. Podem ser divididos em dois grupos (i) tendenciosas e (ii) compulsórias
Os incentivos tendenciosos são aqueles ao qual a administração toma decisões baseadas nas expectativas do mercado quanto a realização de lucros futuros ou mesmo lucros constantes (smoothing earnings), a administração tem a tendência de demonstrar lucros
elevados e sem grandes variações, o que dá à ação menor volatilidade e pagamento maiores bônus aos seus acionistas, que em longo prazo aumentam seus investimentos nas empresas. Estes incentivos estão diretamente atrelados ao objetivo deste estudo, visto a investigação está relacionada à tendência dos administradores gerenciarem resultados por meio de menores taxas de depreciação para gerarem maiores ganhos no lucro contábil, e consequementemente nos demais indicadores do balanço .
Os incentivos compulsórios são aqueles impostos por ações governamentais ou mesmo por força de norma. No caso brasileiro estas têm sido objeto de diferentes discussões no âmbito acadêmico após a adoção de quase a totalidade dos pronunciamentos contábeis pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) em 2011 e aprovação dos órgãos reguladores como Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Conselho Federal de Contabilidade (CFC), Ibracon (Instituito brasileiro dos auditores independentes), BACEN ( Banco central brasileiro). As discussões estão relacionadas com as diferentes tratativas entre os incentivos criados pelas insituições governamentais, no caso desta pesquisa as normas de depreciação para fins tributários, sugeridas pela Secretaria da Receita Federal e as instituições privadas ou conselhos normativos, como os apresentados anteriormente.
A pesquisa realizada toma este incentivo também como tema central de discussão acadêmica na identificação por meio de Accruals discricionárias da utilização destes
incentivos de forma ambígua, ou na forma de escolha contábl (accounting choice) para que os
3.4. Gerenciamento por meio de Accruals
Como apresentados em capítulos anteriores gerenciamentos de resultados segundo (Dechow e Skinner, 2000) compreende o ato dos administradores utilizarem o seu poder discricionário por meio de Accruals contábeis (estimativas contábeis em geral) de forma
presumida para fins privados ou pessoais. As normas contábeis internacionais e norte americanas, além das normas brasileiras de contabilidade exigem que a administração utlilize julgamento e desenvolva estimativas racionais para fornecer relatórios contábeis periódicos e com bases comparativas. No entanto, para atingir aumentos de preços das ações ou mesmo utilizar-se de bônus baseados em números contábeis estes administradores utilizam-se de práticas contábeis para aumentar os lucros contábeis e melhorar os indicadores financeiros.
Ainda que a discussão de gerenciamento de resultados seja amplamente discutida na literatura contábil a detecção dos itens de gerenciamento de resultados é considerada difícil uma vez que os modelos utilizados na literatura são compreendidos por métricas indiretas.
Segundo (Dechow e Skinner, 2000), uma das formas mais confiáveis de se indentificar o gerenciamento de resultados nas empresas é comparar a o resultado operacional da companhia com a reconciliação do resultado operacional no fluxo de caixa operacional. Se o lucro liquido de uma empresa é constante, mas seu fluxo de caixa é negativo, então a companhia pode ter indicativos do uso de gerenciamento de resultados. A lógica utilizada por Dechow está baseada na equação abaixo e representa a reconciliação do lucro líquido no fluxo de caixa, aos quais
EQUAÇÃO 2 –Básica das Accruals
Lucro=FluxodeCaixa+Accruals
Existe também uma segunda abordagem, denominada por (Hribar e Collins 2002) como abordagem do balanço, que correspondem a diferenças no capital circulante líquido. Conforme equação abaixo:
EQUAÇÃO 3 – (Hribar e Collins 2002 ) Equação de Accruals totais no método do balanço
TA = (Var AC – VarDisp) – (Var PC – Var Div) - dep
Na abordagem do balanço, “AC” é o ativo circulante, “Disp” são as disponibilidades (caixas e equivalentes de caixa); “PC” é passivo circulante; “Dív” é a Dívida (parcela da dívida de longo prazo que vence no curto prazo e outras dívidas de curto prazo). e “Dep.” corresponde às despesas de depreciação e amortização. Nesta abordagem, os valores das contas são extraídos do Balanço Patrimonial. Segundo Baptista (2008) a vantagem do modelo de balanço em relação ao fluxo de caiza é a de que se pode utilizar períodos mais longos, visto que a o modelo de fluxo de caixa tem sido utilizado no Brasil de forma obrigatória nos últimos dez anos. A pesquisa desta dissertação para identificação das Accruals totais utilizou
o método do fluxo de caixa e para as Accruals não discricionárias utilizou-se o Modelo Kang
CAPITULO IV
4. MODELO UTILIZADO PARA O ESTUDO – ACCRUALS
Para verificar a existência de gerenciamento de resultados, foram estimadas proxies
empíricas utilizando os modelos de Accruals discricionárias de
KANG-SIVARAMAKRISHAN (1995), por tratar-se de modelo considerado como mais avançado no estudo da prática de gerenciamento de resultados. Os Accruals discricionários são oriundos
do gerenciamento de resultados, o que depende dos ajustes contábeis dos gestores e os
Accruals não-discricionários são decorrentes da natureza do negócio. A seguir está
apresentado Modelo KS (KANG-SIVARAMAKRISHAN), de forma mais detalhada ao qual está justificada a utilização do modelo.
Importante esclarecer que as acumulações ou Accruals, de acordo com a literatura
internacional, representam a diferença entre o lucro liquido – oriundo da aplicação do Regime de Competência - e o fluxo de caixa liquido. Então, tem-se a seguinte equação:
EQUAÇÃO 2 – Básica das Accruals
Accruals totais = Lucro Liquido – Fluxo de caixa operacional liquido.
Os Accruals correntes dependem da receita e os Accruals não correntes (depreciação e
amortização) dependem do montante do ativo imobilizado e ativo diferido. O pesquisador ao optar por este modelo ira efetuar uma regressão múltipla, estimando os coeficientes para calcular as acumulações não discricionárias. Os Accruals discricionários, por sua vez,
representam a diferença dos Accruals totais menos os Accruals não discricionários. A seguir a
estrutura
Algumas vantagens podem ser atribuídas ao modelo em questão uma vez que é largamente utilizado pela literatura, o que se pressupõe o seu reconhecimento, é relativamente simples, pois utiliza poucas variáveis, o que facilita ao pesquisador encontrar com maior eficácia os dados necessários para calcular a regressão e é válido para a verificação do gerenciamento de resultados. Diante destas vantagens mencionadas cabe também destacar alguns limites relacionados aos modelos de identificação de gerenciamento de resultados em específico com o Modelo de Jones (1991), conforme MARTINEZ (2008, p 47):
a) Erros nas variáveis: Alguns itens que podem ser manipulados não são considerados nos modelo de JONES (1991). Por exemplo, o controle efetuado para com a variável receita ignora que as próprias receitas podem estar sendo manipuladas;
b) Variáveis omitidas: O modelo de JONES (1991) não controla variações nas despesas; c) Simultaneidade: uma vez que, no processo de estimativa tanto as variáveis
explicativas como as variáveis explicadas são conjuntamente determinadas, isso provoca problemas de auto corrrelação dos resultados da regressão.
Os limites mencionados sobre Modelo de JONES não o invalida para as pesquisas voltadas nesta área e como qualquer outro modelo empregado para estimar as acumulações discricionárias, há risco de erro de classificação entre as acumulações discricionárias e as não discricionárias. Portanto, a simplicidade do modelo em questão tornou-o mais viável para a pesquisa, no que tange ao número reduzido de variáveis necessárias para estimar as acumulações.
Para proporcionar maior robustez às estatísticas foram apurado novamente os Accruals
discricionários nesta oportunidade mediante a utilização do Modelo KS elaborado por KANG & SIVARAMAKRISHNAN (1995):
EQUAÇÃO 5–Modelo KS
As acumulações discricionárias (Ab_Acc) são computadas são computadas como resíduo da equação abaixo, nos seguintes termos:
EQUAÇÃO 6 –Modelo KS
O Modelo KS é aplicáve nas contas do balanço patrimonial em determinado exercício contábil, o que evita o problema de comparar valores em períodos inflacionários, diferentemente do modelo que JONES (1991), que estima os Accruals com base em números
do resultado. O uso da metodologia de Kang e Sivaramakrishan no Brasil torna-se interessante pois por mais que os aspectos de inflação anual no Brasil estão controlados na análise de grandes séries temporárias a conclusão pode ser diferente daquela desejada. À medida que o Modelo KS contempla simultaneamente, aspectos da teoria contábil e técnica econométrica, espera-se que os resultados sejam mais precisos.
Conceitualmente, um Ab_Acc positivo significa que a entidade está gerenciando o seus resultados para aumentá-los. Por outro lado um Ab_Acc negativo implica em que a empresa estaria tomando decisões no sentido de reduzir o resultado.
Ressalta-se que os modelos de Accruals são parciais e não conseguem captar todos os
possíveis Accruals numa demonstração financeira. Buscando adaptar-se ao objetivo do
trabalho o modelo de Jones (1991) que sugere como ativo permanente, usualmente formada por ativo imobilizado, ativo diferido (residual antes da lei 11.638/07), para este estudo denominou-se ativo permanente apenas o ativo imobilizado, foco do trabalho.
As estimativas das acumulações Discricionárias envolvem inicialmente que seja rodada a regressão para estimar os coeficientes que procedem as variáveis utilizadas. Esses coeficientes devem representar a melhor maneira de descrever o valor das acumulações totais para o contexto das empresas.
Calculados os coeficientes, a análise a ser efetuada é verificar o erro, sendo que a diferença entre o valor das acumulações totais e o valor estimado a partir dos coeficientes.
Para o cálculo desta pesquisa deve-se utilizar o modelo econométrico mais adequado, pois é o valor dos erros da regressão que extraímos aquele componente que serão os Accruals
discricionários de cada empresa. Para estimativa de erro utilizou-se o Modelo KS com regressão.
CAPITULO V
5. IMPACTO DAS MUDANÇAS DA REVISÃO DA VIDA ÚTIL DO ATIVO
IMOBILIZADO E OS ASPECTOS DE GERENCIAMENTO DE RESULTADOS
Neste capítulo serão apresentadas algumas informações extraídas das normas técnicas e da Secretaria da Receita Federal sobre o tema revisão da vida útil, bem como as motivações para se adotar ou não a revisão.
Em janeiro de 2010 a Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) emitiu a Interpretação Técnica 10, denominada ICPC 10, que trata da Interpretação sobre Aplicação Inicial ao Ativo Imobilizado e à Propriedade para Investimentos dos Pronunciamentos Técnicos CPC 27, 28,37 e 43.
A Interpretação busca esclarecer algumas normas emitidas no CPC 27 Ativo Imobilizado, especificamente citado nesta pesquisa por conta do tema. Parte destas Interpretações causaram polêmicas dentre os usuários das informações contábeis, especificamente relacionadas aos: (i) aspectos do assunto revisão da vida útil do ativo imobilizado e ativo intangível com vida útil definida, em específico as diferenciações entre as taxas de depreciação sugeridas pela Secretaria da Receita Federal (SRF) e as taxas a serem calculadas pela administração conforme ICPC 10; (ii) reconhecimento da mudança das taxas de depreciação como sendo mudança de estimativa contábil, sendo seus efeitos diferentemente do exige o CPC 23 – Políticas Contábeis, Mudança de Estimativa e Retificação de Erro.”
5.1. Mudanças da taxa de depreciação
Quando o ICPC 10 foi aprovado pela Deliberação CVM n.º 619/09 as empresas brasileiras, em especifico a pesquisa as companhias de capital aberto apresentaram a CVM uma série de dúvidas quanto aos impactos fiscais das possíveis alterações nas taxas de depreciação em relação àquelas taxas “exigidas pela SRF até então interpretadas pela grande maioria das empresas, vide parágrafo a seguir: