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POLÍTICAS PÚBLICAS DE ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL NO

INSTITUTO FEDERAL GOIANO - CÂMPUS URUTAÍ:

UM OLHAR DE GÊNERO

Goi âni a -GO 2016

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PRÓ-R EITOR IA DE PÓS -GRADUAÇ ÃO E PES QU ISA PROGR AM A DE P ÓS -GR ADUAÇ ÃO ST RICT O SENSU EM

EDUCAÇ ÃO

LUC IANA DE GO IS AQU INO TE IXEIR A

POLÍTICAS PÚBLICAS DE ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL NO

INSTITUTO FEDERAL GOIANO - CÂMPUS URUTAÍ:

UM OLHAR DE GÊNERO

T ese apr esent ada ao Pro gr a ma de Pós -Gradu ação St ri ct o sensu em Ed ucação da

Pont i fí ci a Uni versi d ade Cat ól i ca de

Goi ás, co mo requi si t o parci al par a a

obt enção do t í t ul o de Dout ora e m

Educação, sob a ori en t ação da Professor a Dout or a Lú ci a Hel ena Ri ncón Afonso.

Goi âni a -GO 2016

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Dedico est e t rabalho às guerrei ras: Ercíli a, Sara e C ila .

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Agradeço, prim ei rament e, aos meus familiares pel a confiança e apoio em todos os mom ent os.

Aos meus pai s por s erem exempl o s de seres hum anos.

Ao meu marido , pel o companheiri smo e incentivo que sem pre f izeram part e de nos sa rel ação.

Às mi nhas i rm ãs , pel o aprendizado e confiança de cad a dia.

Às mi nhas fil has , por s empre m e m ost rarem com o s er um a pessoa m elhor.

Às pess oas ami gas que m e aj udaram de i núm eras formas a concl uir m ais est a et apa de vida.

À ami ga J uli ana Fernandes , que me il uminou em vários momentos dest e trabalho com s uas s ugest ões.

Sou grat a à minha ori ent adora , profess ora Lúci a Rincón, que dedi cou s eu tempo, sua i nteli gênci a, sua s ensibili dade e sua pers pi cáci a à construção deste trabalho .

A es sas pessoas que s e fizeram luz em minha vida, meus s inceros agradecim entos .

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A vi são m at erialist a da hi stóri a não nos deu, é verdade, respost as pront as à questão das m ulheres, mas nos deu al go melhor: o método corret o e preciso de estudo e compreensão da quest ão .

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Na tese bus camos compreender o m ovim ento do real com o tot alidade históri ca e ent ender de que forma as Pol íti cas Públi cas de Assi st ênci a Estudantil (PPAE) se m ateri ali zam dent ro do IF Goiano - C âmpus Urutaí, consi derando as rel ações s oci ai s de gênero est abel ecidas . As P P AE est ão no bojo das políti cas públi cas como ações do Est ado que t êm como obj etivo superar desi gualdades de acess o, permanência e êxito na i nstit uição de ens ino por meio de program as de benefí cios soci ais e de acom panham ento dos /das estudant es. Abordamos o P rogram a Nacional de Assist ênci a Est udanti l (Pnaes), instit uído pel a Port aria Normat i va/M EC nº 39/ 2007 e regul am ent ado pel o Decreto nº 7.234/2010, no contexto do obj eto de es tudo . Investi gam os e analis amos as cont radi ções exist ent es como parte de um proc esso de construção de um a s oci edade m ais just a e de uma educação emancipat óri a. Na construção dess a t ese, apresent am os as cat egori as cent rais para a anális e propost a: Estado, políticas públi cas educacionais e a assist ênci a est udantil na soci edade neoli beral . Considerando que a investi gação se realizou em um instituto de educação profissi onal, ent endemos como important e procurar com preendê -lo, bem com o conhecer aspectos d a form ação para o t rabalho, condi ções para m el hor ouvir ( nas ent revistas e questionári os ) e ent ender as mulheres que al i buscavam sua form ação. As rel ações soci ais de gênero são apresent adas na form a com o foi const ruí do o conhecim ento sobre est e t em a, e também o acesso das m ulheres à educação como possi bilidade de empoderam ent o. Por fim, ap res ent amos e discutim os os dados da pesqui sa, à luz da t eoria estudada e orientada s pel as indagações feit as. Os dados confi rm am que as P PAE s ão import ant es ações do Est ado, cuj o int ent o é a superação das desi gualdades de aces so nas inst itui ções de ensi no. Veri fi camos por mei o de l evantament o hi stórico real izado sobre a assist ênci a estudanti l que el a se vi abil i za como resultado de di ferent es demandas , de l ut as estudantis , de movi ment os de di ri gent es instituci onais, da soci edade civil com o um todo, cada um fa z endo sua própri a hist óri a na form ação e na consoli dação das políticas públicas do país . Assim , com preendemos que a assi stência estudant il deve ser ent endi da como um di reit o e os recursos apli cados como investim ento, na form ação es colar. Ent e n dem os com es t e trabalho que, apes ar da conquis ta das m ulheres à educação t er acont ecido há mais de cem anos , estudando o IF Goi ano – Câmpus Urut aí tivem os a noção do quanto é di fí cil a mudança social , poi s a prim eira mulher a s e mat ri cul ar na instituição foi no ano de 1979, ou sej a, 26 anos depoi s da abertura do Câmpus, em 1953. Assim como, os regi stros revelaram que, nos últi mos dez anos, o núm ero de m ulheres est udant es é inferior ao dos hom ens. As m ulheres tiveram que superar des afi os para ingressarem na institui ção, dentre el as a fal ta de acesso à as sistência est udanti l. Veri fi cam os que as PPAE dent ro do IF Goi ano – Câmpus Urutaí ainda es condem diferenças e desi gualdades de gênero. Verifi camos tam bém que est ereótipos e expect ativas sobre as mulheres es tudant es interf erem no acess o e na perm anênci a da aluna no P AE . Concluímos que cons truções a res pei to do gênero geram expectativas e formas de condut as es tereotipadas para o masculi no e para o feminino, as sim se mant ém form as de desi gualdades estrut urai s, al ém de desi gua ldades nat uraliz adas no ambient e es colar.

Palavras -ch ave: Políticas educaci onais . Educação profi ss ional . R el ação soci al de gênero. Em poderam ent o.

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The thes is aim s to understand the real movement as hi stori cal total it y and understand how the Pu bli c Poli c y Student Assi stance m at eri alize withi n the IF Goi ano - C ampus Urut aí, considering the soci al rel at ions est ablis hed genre. The P ubli c Polic y Student Ass i stance are in the midst of publi c poli cies as st at e acti ons t hat aim to overcom e inequaliti es i n access , ret ention and success in educational inst ituti on t hrough soci al benefit programs and monitoring / the students. We approached the Nat ional Programm e of St udent Assistance (PNAES ) est abli shed b y R egulat or y Decree / M EC No. 39/2007 and regul at ed b y Decree No. 7.234 / 2010, in the cont ext of t he st ud y obj ect. We investi gat e and anal yz e t he cont radi ct ions as part of a process of bui lding a more just s ociet y and an em ancipat or y education. When devel oping this thesis, we pres ent the m ai n cat egori es fo r the propos ed anal ys is: St at e educational polici es and student assi stance in neoliberal s oci et y. Whereas research was conducted in a professi onal education institut e, we underst and how import ant to t r y to understand it and know aspects of training for wor k, conditions t o bett er hear (i n intervi ews and quest ionnai res ) and underst and wom en who their s ought his traini ng. The s ocial rel ati ons of gender ar e pres ent ed i n the way knowl edge on thi s topi c was built, as wel l as wom en's access to education as pos sibi l it y of em powerment. Finall y, we pres ent and discuss t he s urve y dat a, in the li ght of t he st udi ed theor y and guided b y the questions asked. The dat a confi rm t hat the P ubli c P oli c y St udent Assi stance are import ant actions of the state, whos e purpos e is to o vercome the inequaliti es of acces s, ret enti on and success in educational institutions. We verified through his tori cal surve y on st udent assi stance which i t is made possi ble as a res ult of different demands of student st ruggl es , movem ent s of institutional l eaders, civil s ociet y as a whol e, each m aki ng t hei r own hi stor y in the form ation and consol idation of public pol ic y of t he countr y. Thus, we understand that student assist ance shoul d be underst ood as a ri ght and the resources appli ed t o investm ent in s choo ling. We believe this work that, despit e the achi evem ent of wom en t o education have happened over a hundred years, stud yi ng IF Goiano - C ampus Urut aí had the idea of how diffi cult it is soci al change, as the fi rst woman to enroll in the i nstit ution was in 1979, i e 26 years aft er the openi ng of t he ca mpus in 1953. The records reveal ed that in the last t en years, t he num ber of fem al e s tudent s is lower t han that of m en. The wom en had t o overcom e challenges to join the instit uti on, among t hem the l ack of acces s t o student assist ance. We found that the Pub lic P oli c y Student As sist ance within the Goi ano IF - Campus Urut aí also hi de differences and gender inequal ities. W e also found t hat stereot ypes and expect ations of wom en students in the access and the s tudent 's st a y i n Public Polic y St udent As sistance . We concl ude that construct s about gender expect ations and generate forms of st ereot ypical behavi ors for m al e and fem al e, t hus m ai ntaining forms of st ructural inequali ties, and naturaliz ed inequaliti es i n t he s chool envi ronm ent.

Keywords : Educati onal p oli c y. Profes sional educati on. Soci al rel ations gender. Em powerm ent .

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Fi gura 1 - Gráfico das pessoas m atriculadas na educação profi ssional ... 82

Fi gura 2 - Gráfi co das pessoas conclui nt es de cursos profissi onalizantes .... 83

Fi gura 3 - M apa do Est ado de Goi ás ... 97

Fi gura 4 - Gráfico parti cipação por s exo das m odalidade de ens ino ... 105

Fi gura 5 - Gráfico percentual de dist ribui ção de vaga s para a Bol sa Morada (2014) ... 110

Fi gura 6 - Gráfico percentual de dist ribui ção de vagas para o Aux ílio Perm anênci a (2013 -2014) ... 110

Fi gura 7 - Gráfico percentual de dist ribui ção de vagas para o Auxílio Trans port e (2014) ... 111

Fi gura 8 - Gráfico da idade das respondentes ... 116

Fi gura 9 - Gráfico d o rendim ento m ens al das fam íli as das alunas ... 116

Fi gura 10 - Gráfi co do res pons ável pel a renda famili ar ... 117

Fi gura 11 - Gráfi co da dist ribuição percentual dos respons áveis pel os l ares brasil ei ros em 2010 ... 118

Fi gura 12 - Gráfico da dist ribui ção percentual dos respons ávei s pelos l ares brasil ei ros em 2010 nas áreas urbanas ... 118

Fi gura 13 - Gráfico da dist ribui ção percentual dos respons ávei s pelos l ares brasil ei ros em 2010 nas áreas rurai s ... 119

Fi gura 14 - Gráfico da dist ribui ção percentual de quando apenas um dos pais vive com os dependentes ... 119

Fi gura 15 - Gráfico da dist ribui ção das al unas que t eri am ou não condi ções de continu ar estudando (Bols a Moradi a) ... 120

Fi gura 16 - Gráfico da dist ribui ção das al unas que t eri am ou não condi ções de continuar estudando (Auxíl io P erm anênci a e Trans port e) ... 121

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Tabel a 1 - Núm ero de m atrícul as e concluintes , por sexo, no curso Técnico em Agropecuári a (1979 -1996 ) ... 100 Tabel a 2 - Núm ero de m at rí cul as por s exo no curso Técnico em Inform áti ca (1998 -2001) ... 101 Tabel a 3 - Núm ero de concl uint es , por sexo, do curs o de Tecnologi a em

Irri gação e Drenagem (2004 a 2013) ... 102 Tabel a 4 - Núm ero de m at rí cul as e concluintes, por s exo, curs os

superi ores (2004-2013) ... 103 Tabel a 5 -Quantidade de al unos e alunas por curso (2015) ... 104 Tabel a 6 - Núm ero de estudant es cont emplados / as nos program as de

assi stência estudanti l (2015) ... 106 Tabel a 7 - Núm ero de alunas res pondent es por curs o ... 115 Tabel a 8 - Opinião das alunas que parti ci pam da assi stência estudantil

sobre o grau de j usti ça nas regras ... 126 Tabel a 9 - Opinião das alunas s obre s e as regras para pl eit ear vag as nos

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Andi fes Associ ação Naci onal dos Di ri gentes das Institui ções Federais de Ensino Superi or

BM Banco Mundi al

Cefet Cent ro Federal d e Educação Tecnológi ca

CNE/C EB Cons elho Nacional d e Educação/Câm ara de Educação Bási ca

CF Constit ui ção Federal

Coagri Coordenação Nacional do Ensi no Agrí col a DA Diretóri o Acadêmi co

DAE Depart am ento de Assistênci a ao Estudant e DCE Diretóri o C ent ral dos Est udant es

Eafur Escol a Agrícola Federal de Urutaí Fi es Fundo de Financi am ent o Estudantil

Fonaprace Fórum Nacional de P ró - R eit ores de Assuntos C omunit ári os e Estudantis

IBGE Insti tuto Brasi lei ro de Geografi a e Est atís tica

IB IC T Insti tuto Brasi le i ro de Informação Ciênci a e Tecnologia IF Insti tuto Federal

Ifet Insti tuto Federal de Educação, Ci ênci a e Tecnologi a IF Goi ano Insti tuto Federal Goi ano

Inep Insti tuto Nacional de Estudos e Pesquis as Educacionai s Aní sio Teixei ra

LDB Lei d e Diret rizes e Bas es da Educação Nacional MEC Minist ério da Educação

OIT Organização Int ernacional do Trabalho PCN Parâm et ros Curri culares Nacionais PAE Programas de Assist ênci a Estudantil

Pnaes Política Nacional de Assistênci a Est udant il PNE Plano Nacional de Ed ucação

PNPM Plano Nacional de P olíti cas para Mul heres PPAE Políticas Públicas de Assist ênci a Estudantil

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REP Reform a da Educação Profi ssional

Reuni Reestruturação e Expansão das Uni versi dades Federais

Sinas efe Sindi cat o Naci onal dos S ervidores Federais d a Educação Bási ca, Profissi onal e Tecnológi ca

USP Universidade de S ão Paulo

UFMG Universidade Federal de Mi nas Gerais UFU Universidade Federal de Uberl ândia UnB Universidade de Brasília

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INTRODUÇÃO ... 14

CAPÍTUL O I – E STADO , POL ÍTICAS PÚBLICAS E ASSISTÊNCI A ESTUDANT IL NA SOCIEDADE NEOL IBERAL ... 25

1.1 APONTAM ENTOS SOBR E P OLÍT IC AS PÚB LIC AS ... 27

1.2 AS P OLÍT IC AS PÚBLIC AS E O ESTADO ... 32

1.2.1 Pol íti cas públi cas e s ociai s e fundo públ ico ... 40

1.3 FRAGMENTOS DA H ISTÓR IA DAS PO LÍT IC AS PÚBLIC AS DE ASS ISTÊNC IA ES TUDANTIL ... 43

CAPÍTUL O II – A E DUCAÇÃO PRO FISS IONAL E A FO RMAÇÃO PARA O TRAB ALH O ... 53

2.1 FRAGMENTOS DA HIS TÓR IA DA EDUCAÇ ÃO PR OFISS IONA L NO BR AS IL: DA INDUSTR IA LIZAÇ ÃO À CONSO LIDAÇÃO DA R EDE FEDER AL ... 53

2.2 FR AGM ENTOS DA HIS TÓR IA D A C ATEGOR IA TRABALH O ... 63

CAPÍTUL O II I – RELAÇÕES SOCI AIS DE GÊ NERO : O ACESSO DAS MULHE RES À E DUCAÇÃO E E MPO DERAMENTO ... 71

3.1 R ELAÇ ÕES S OC IA IS DE GÊNER O: CONC EITOS E C ONCEPÇÕES .... 71

3.2 FRAGMENTOS DA HIS TÓR IA DO AC ESSO DAS MULHERES À EDUCAÇ ÃO ... 77

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4.1 FR AGMENTOS DA H ISTÓR IA DA CONS TITU IÇÃO DO IF GO IANO: –

CÂMPUS UR UTAÍ E O AC ESSO DAS MULHER ES ... 89

4.2 R ECONST ITU IÇ ÃO DA H ISTÓR IA DA ASS ISTÊNC IA ESTUDANT IL PARA AS MU LHER ES NO IF GO IANO – CÂMPUS URUTA Í ... 108

4.3 AS ESTUDANTES E S UAS REVE LAÇÕES ... 115

4.3.1 Iguais ... M as Nem Tanto! ... 123

CONCLUS ÃO ... 131

RE FE RÊNCI AS ... 136

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INTRODUÇÃO

Convi vendo e o bs ervando com al unos e alunas com grandes difi cul dades para permanecer e concl uir seus curs os no Ins tit uto Federal (IF) Goiano - Câm pus Urut aí , despert ou -m e a curi osidade sobre a tem áti ca de pol íticas púb li cas de assi st ênci a para ess e públ ico. Assim , subm eti o proj eto ness a área de pesquisa para a P UC Goi ás , em 2013, quando ingress ei como doutoranda na área de Educação.

As s util ezas do processo de exclusão observadas no decorrer do trabalho no referido Ins t itut o e os est udos dos pri nci pais t eóri cos das Ciênci as Soci ais no curso de dout orado foram deixando evi dentes para mim as desi gualdades vividas pelos al unos , bem com o as sutil ez as usadas pelo raciocí nio capit alist a de dar conti nuidade a e las. Ness e process o, as desi gualdades rel aci onadas ao gênero provocaram em mim bast ante des conforto1.

Assim , propus com o problema para est a t es e ent ender de que form a as polí ticas públi cas de as sist ênci a est udantil (PP AE) se mat eri aliz am dentro do IF Goiano - C âmpus Uruta í considerando as rel ações soci ais de gênero es tabel ecidas . As PPAE est ão no bojo das políti cas públicas como ações do Est ado que têm como obj etivo superar desi gual dades de aces so, perm anênci a e êxito na institui ção de ensino por m ei o de program as de benefí cios soci ais e de acom panham ento dos/das estudantes.

Procurei docum ent os para conhecer como se deu a formação históri ca da as sist ênci a estudantil no Brasil e no IF Goi ano - Câm pus Urutaí , bem como recuper ei a históri a das mulheres n ess e Câmpus e de sua p resença nos program as de assist ênci a estudantil .

Abordei ent ão, cent ralm ent e, o P rogram a Nacional de Ass ist ênci a Estudantil (P naes ), i nstituí do pel a Port aria Norm ati va/ MEC nº 39/2007 e regul am ent ado pel o Decret o nº 7.234/ 2010, no cont exto do meu obj et o. Conform e o caput do arti go 1º d es se decret o (BRAS IL, 2010 ), o Programa "t em com o finali dade ampli ar as condi ções de perm anênci a dos jovens na educação superior pública federal " , minimiz ando assim, de

1 E m to d o es te tr ab al ho u so o p r o no me p e sso al no s i n g ula r q ua nd o me r e f ir o à

c o n s t r uç ã o d o t e ma d o ut o r a l , p o r s e r u ma c o n s t r u ç ã o mi n h a , e d e p o i s u t i l i z o o p r o no me p e s s o a l no p l u r a l , q u a nd o me r e f i r o à c o ns t r uç ã o d o t r a b a l ho j u nt a me n t e c o m mi n h a o r i e nt a d o r a .

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acordo com os incisos de I a IV do art i go 2º, os efeit os da s desi gualdades s oci ai s e regionais , as t axas de ret enção e evasão na educação superior e cont ribui ndo para a promoção da incl usão social pel a educação (BRAS IL, 2010) .

Im port ant e l em brar t ambém que o arti go 2º da Lei nº 11.892/ 2008 , que impl em ent ou a cri a ção d os Ins titut os Federais de Educação ( IF) , menciona que es tes s ão

[ . . . ] i n s t i t u i ç õ e s d e e d u c a ç ã o s up e r i o r , b á s i c a e p r o f i s s i o na l , p l u r i c ur r i c u l a r e s e mu l t i c a mp i , e s p e c i a l i z a d o s na o f e r t a d e e d u c a ç ã o p r o fi s s i o n a l e t e c no l ó gi c a na s d i f e r e nt e s mo d a l i d a d e s d e e n s i n o , c o m b a s e na c o nj u g a ç ã o d e c o n h e c i me nt o s t é c n i c o s e t e c no l ó g i c o s c o m a s s u a s p r á t i c a s p e d a gó gi c a s , no s t e r mo s d e s t a L e i ( B R A S I L, 2 0 0 8 ) .

De acordo com o arti go 7º d est a lei os IF s ão ent es públi cos que ofert am educação profis sional técni ca de n ível m édi o (inciso I), cursos de form ação inici al e continuada de t rabalhadores - capacit ação (incis o II), al ém de ativi dades de extensão e pesquis a (incis os III, IV e V) e educação s uperi or (i ncis o VI).

Dess a form a, em face de sua nat ureza m ultifacetada, os IF ti veram afi rm ada a possibil i dade de conceder apoio financeiro a t odos os seus estudant es, t endo como base o P naes . Dois anos depois, o arti go 4º do Decret o nº 7.234/2010 mostrou -s e bem claro nes te sentido : ―As ações de assi stência estudant il s erão ex ecutadas por instituições federai s de ensi no superior, abrangendo os Insti tutos Federais de Educação, Ci ência e Tecnologia, considerando suas es peci fi cidades [...] ‖(BR AS IL, 2010) .

Segundo o decreto, em seu artigo art. 5°, ―serão atendidos no âmbit o do PNAE S priorit ari am ent e est udant es ori undos da rede públi ca de educação básica e com renda famili ar per capit a de at é um sal ário mínimo e meio‖. O artigo 2° reforça a importância do PNAES referente a perm anênci a no ensino dos alunos oriundos de cam adas popul are s, represent ados pelos objet ivos do program a: I – dem ocrat izar as condi ções de permanênci a dos jovens na educação superi or públi ca federal; II – mi nimi zar os efeit os das desi gualdades s ociai s e regionai s na perm anênci a e concl usão da educação superi or; III – reduzir as t axas de ret enção e evasão; e IV – cont ri bui r para a promoção da inclusão soci al pel a educação (BRAS IL, 2010).

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Al gum as pergunt as nort earam os cam inhos percorri dos para a realiz ação dest a t es e: as PP AE escondem diferenças e desi gualdades soci ai s? As instituições faz em um l evant am ent o da demanda de estudant es do sexo femini no que não é atendida? A ofert a de program as para at ender ess as estudantes é m ensurada? Se o aces so para os estudant es de baixa renda é di fí cil, qual a real idade, então, para a estudant e de baixa renda? Será que es t ereótipos e expectat ivas sobre hom ens e mul heres int erferem no aces so a program as de as sist ênci a estudantil?

A es col a não pode incorrer no risco de an ali sar a igualdade/desi gualdade d e gênero som ente a parti r da m ensuração de result ados, como t em sido fort em ent e acentuado em muit as políti cas governamentais para a educação . Ess a quest ão deve s er est udada , também, s ob o prism a d a i gualdade de oportunidades . Pode -se levant ar o press upos to de que, em um espaço onde as e st udant es estão atualm ent e represent adas prat icam ent e nas m es mas proporções que os homens, devem s er concedidas as m esm as oportunidades de acesso aos program as de as sist ênci a est udantil.

Ent endo que as PP AE devem ser estudadas para que poss am ser mais efici entes e, para i sso, é im port ant e conhecer como s e efet ivam as propost as para todo o território nacional , nas inst itui ções d os est ados e muni cípi os. Acres cento que, quando s e fal a do acesso de mulheres à educação, exige -s e del as um esforço redobrado para colocar o conhecim ento adqui rido a s ervi ço de s eu proj et o em ancipatóri o .

Est a t ese foi realiz ada com abordagem mi sta de análi se, qual it ativo e quantit ativo, considerando que a conjugação des ses dois ti pos possi bilitou at ender às expectat ivas d o t rabalho. Sobre est a possibi lidade metodológi ca, diz em Dal -Farra e Lopes (2013) que,

D e fa t o , o s e s t ud o s q ua n t i t a t i vo s e q u a l i t a t i vo s p o s s u e m, s e p a r a d a me n t e , a p l i c a ç õ e s mu i t o p r o fí c u a s e l i mi t a ç õ e s d e v e r a s c o n h e c i d a s , p o r p a r t e d e q u e m o s ut i l i z a há l o n go t e mp o . P o r e s t a r a z ã o , a c o n s t r u ç ã o d e e s t ud o s c o m mé t o d o s mi s t o s p o d e p r o p o r c i o n a r p e s q u i s a s d e gr a nd e r e l e vâ n c i a p a r a a E d uc a ç ã o c o mo c o r p u s o r ga n i z a d o d e c o n h e c i me n t o , d e s d e q ue o s p e s q u i s a d o r e s s a i b a m i d e nt i fi c a r c o m c l a r e z a a s p o t e nc i a l i d a d e s e a s l i mi t a ç õ e s no mo me nt o d e a p l i c a r o s mé t o d o s e m q ue s t ã o ( D A L - F A R R A ; L O P E S , 2 0 1 3 , p . 7 1 ) .

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Segundo Mina yo2 (1994), al gum as diferenças s ão bási cas entre a pesquisa qualit ativa e a quanti tat iva. A pes quis a qualit at iva procura ent ender o fenôm eno como um todo, é indutiva e o pesquis ador procura ent ender o fenôm eno tal como ocorre. Já a pes quis a quantit ativa requer defini ção de variáveis e hi pót es es antes da col et a de dados e é basi cam ent e deduti va.

Mina yo (1994) esclarece que nas pesquis as com abordagem qualitativa é ess enci a l a abordagem de natureza s ocial , na medida em que as condições de vi da e de trabal ho quali ficam de form as diferenci adas a manei ra pel a qual as pessoas pensam, sent em e agem. Part e -s e da premiss a de que é i ndispensável que se com preenda m os determinant es soci ai s que conduz em a vida des sas pessoas . D es sa form a, as abordagens qualitativas buscam just ament e com preender a realidade que os núm eros indi cam , m as não revel am.

Sobre a abordagem qualit ati va , Volpat o (2010) diz ainda que ,

E x c e t o s o b r e o mé t o d o d e c o l e t a d e d a d o s , t a nt o a q ua l i t a t i va q ua n t o a q ua nt i t a t i va f a z e m c o i s a s mu i t o p a r e c i d a s . A mb a s b u s c a m e vi d ê n c i a s ( o b s e r vá v e i s , e mp í r i c a s ) , a p a r t i r d a s q ua i s c o n s t r o e m e xp l i c a ç õ e s e ge ne r a l i z a ç õ e s s o b r e o mu nd o [ . . . ] . P o r t a nt o , nã o s e p o d e d i z e r q ue t e mo s d ua s c i ê nc i a s , ma s s i m d ua s a b o r d a g e ns [ . . . ] , c o mp l e me n t a r e s p a r a a c o ns t r uç ã o d o c o n h e c i me nt o e mp í r i c o ( V O LP AT O , 2 0 1 0 , p . 4 6 ) .

As rel ações entre abordagens quali tativas e quantit ativas dem onst ram que: i ) as duas metodologi as não s ão incompatí vei s e podem ser integradas em um mesmo proj eto; ii ) uma pesquis a quantitati va pode conduzi r o investi gador à es col ha de um problem a parti cular a s er analis ado em toda s ua compl exidade por mei o de m étodos e técni cas qualitativas e vi ce -versa; iii ) a investi ga ção qual itat i va é a que m elhor s e coaduna com o reconhecim ent o de situações particul ares, grupos especí ficos e uni versos simbóli cos , como é o caso aqui propost o (M INAYO, 1994).

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M a r i a C e c í l i a d e S o uz a M i na yo é s o c i ó l o ga p e l a U F R , me s t r e e m A n t r o p o l o gi a S o c i a l p e l a U F R J e d o u t o r a e m S a úd e P úb l i c a p e l a F u nd a ç ã o O s wa l d o C r uz .

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Desenvol vi est a t es e buscando compreender o m ovim ent o do real com o totalidade hist óri ca, em s uas det erminações econômicas, cul turai s e sociopolíti cas. Considerei import ante inves ti gar analisando as contradi ções existentes , por ent ender que ess a maneira s e confi gura com o int ervenção , part e de um processo de cons trução de um a soci edade mais just a e de um a educação em ancipatória.

De acordo com Rodri gues (1986, p. 81) a proposta da educação em ancipatóri a ( . . . ) p o s s i b i l i t a a t o d o s a c o mp r e e n s ã o e l a b o r a d a d a r e a l i d a d e s o c i a l , p o l í t i c a e e c o nô mi c a d o mo me n t o vi v i d o p e l o s e d u c a nd o s , o d e s e n vo l v i me n t o d e s ua s ha b i l i d a d e s i nt e l e c t u a i s e fí s i c a s p a r a i n t e r ve nç ã o ne s s a r e a l i d a d e , e a p o s s e d a c u l t ur a l e t r a d a e d o s i n s t r u me nt o s mí n i mo s p a r a o a c e s s o à s fo r ma s mo d e r n a s d o t r a b a l ho ( . . . )

O método de análi se aqui propost o most rou -s e o mai s adequado, na medi da em que possibilit ou m el hor compreender as cont radi ções da soci edade capital ist a.

N a p e r s p e c t i va ma t e r i a l i s t a hi s t ó r i c a , o mé t o d o e s t á vi n c ul a d o a u ma c o nc e p ç ã o d e r e a l i d a d e , d e mu n d o e d e vi d a no s e u c o nj u nt o . A q ue s t ã o d a p o s t ur a , ne s t e s e n t i d o , a n t e c e d e a o mé t o d o . E s t e c o ns t i t ui - s e n u ma e s p é c i e d e me d i a ç ã o no p r o c e s s o d e a p r e e nd e r , r e ve l a r e e xp o r a e s t r ut ur a ç ã o , o d e s e n vo l vi me nt o e t r a n s fo r ma ç ã o d o s fe nô me no s s o c i a i s ( F R I G O T T O , 2 0 0 1 b , p . 7 7 ) .

O m étodo m arxista apont a que é necessário partir da vi são d o todo e por mei o de um a análi se chegar a conceitos cada vez mais simpl es, ou sej a, do supost o concreto al cançar abst rações cada vez m ai s apuradas, at é s erem atingidas as det erminações mais claras (M ARX, 2008). Na afi rm ação de M arx (2008), a essênci a do fe nôm eno que se es tuda não s e apresent a de im edi at o ao pesquis ador, por i sso é preciso a i ntervenção pel o proces so de análise (contí nua abst ração). O m étodo é dialéti co, pois conhece o concreto por m eio do pens am ent o cientí fi co, pass ando pel as interferênci as t eóri cas abstrat as para que se chegue à ess ênci a do real , e é m at eri ali st a porque o conhecim ento ci entí fi co é const ruído pel a apropri ação da reali dade obj etiva. C onhecer o obj eto históri co a que s e dest ina a investi gação soci al im pli ca , port anto, conhecer o processo históri co que o form ou e , ainda, a conjuntura em que el e se encontra no momento da pesquisa.

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No prefácio d a obra Contri bui ção à Críti ca da Economi a Políti ca , M arx trat a do m étodo de form a enfática:

O ú l t i mo mé t o d o [ d i a l é t i c o ] é ma n i f e s t a me nt e o mé t o d o c i e n t i f i c a me n t e e x a t o . O c o n c r e t o é c o nc r e t o p o r q ue é s í nt e s e d e mu i t a s d e t e r mi n a ç õ e s , i s t o é , u ni d a d e d o d i ve r s o . P o r i s s o o c o nc r e t o a p a r e c e no p e n s a me nt o c o mo o p r o c e s s o d e s í nt e s e , c o mo r e s ul t a d o , n ã o c o mo p o n t o d e p a r t i d a , a i nd a q u e s e j a o p o n t o d e p a r t i d a e f e t i vo e , p o r t a nt o , o p o n t o d e p a r t i d a t a mb é m d a i nt u i ç ã o e d a r e p r e s e nt a ç ã o . N o p r i me i r o mé t o d o ( he g e l i a no ) , a r e p r e s e n t a ç ã o p l e n a vo l a t i l i z a -s e e m d e t e r mi n a ç õ e s a b s t r a t a s , no s e g u nd o , a s d e t e r mi n a ç õ e s a b s t r a t a s c o nd uz e m à r e p r o d u ç ã o d o c o nc r e t o p o r me i o d o p e n s a me nt o ( M A R X , 1 9 8 2 , p . 1 4 ) .

Como est a é um a investi gação que busca o ent endim ent o da reali dade vivida por mulheres , dest aca mos a análi se de Everardo3 (2010) , que dis corre sobre a ins erção da perspectiva de gênero nos trabalhos ci entí fi cos . A autora indi ca o reconheci ment o de que há um conj unt o de idei as , repres ent ações e crenças fundadas na noção de que no am bient e soci al existem cois as própri as para hom ens e out ras para as mulheres. Ess a separação ent re papeis masculinos e femini nos é uma const rução soci al que i ndi ca a parti cipação hi erárquica e desi gual dos sexos dent ro das institui ções s ociais , políti cas e econômi cas, fundadas na divis ão sexual do t rabal ho.

Assim , conti nua a autora, os est udos sobre gênero concent ram -se em ent ender a const rução de condições culturai s sim bóli cas e subj eti vas respons áveis pel a reprodução de cert as form as de poder e opress ão, em que as m ulheres, de form a geral, fi guram como s ubordi nadas. P ara Everardo (2010), as pes qui sas sobre educação, cult ura e valor es, assim com o a ciência, com port am um vi és de gênero.

Ess e viés foi central nest a investi gação, a com eçar pelo dest aque a todas as autoras consult adas para a construção deste trabal ho, com seu s nom es com pletos em not as de rodapé, assim, não fi carão es condid as nos sobrenom es, geralm ente masculinos.

Os dados foram col etados a partir de levant am ent o bibli ográfico e docum ent al para s ubsidi ar um a revisão bibliográfi ca. Trabalhei t am bém com dados de várias fontes, pesquisando a históri a da i nstit uição e das

3

M a r i b e l R i o s E v e r a r d o é p e d a go ga , me s t r e e m p e d a go g i a e d o ut o r a e m A n t r o p o l o gi a p e l a U n i v e r s i d a d N a c i o n a l A u t ó n o m a d e M é x i c o .

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alu nas que fazem parte dos program as de assist ênci a estudant il . S egundo Marconi e Lakatos4 (2003, p. 174), E s s e ma t e r i a l - fo nt e ge r a l é ú t i l n ã o s ó p o r t r a z e r c o n h e c i me nt o s q u e s e r ve m d e b a c k - gr o u nd a o c a mp o d e i n t e r e s s e , c o mo t a mb é m p a r a e vi t a r p o s s í ve i s d u p l i c a ç õ e s e / o u e s fo r ç o s d e s n e c e s s á r i o s ; p o d e , a i nd a , s u g e r i r p r o b l e ma s e hi p ó t e s e s e o r i e n t a r p a r a o u t r a s fo nt e s d e c o l e t a . É a fa s e d a p e s q u i s a r e a l i z a d a c o m i nt u i t o d e r e c o l he r i n fo r ma ç õ e s p r é v i a s s o b r e o c a mp o d e i nt e r e s s e . O l e va nt a m e n t o d e d a d o s , p r i m e i r o p a s s o d e q ua l q ue r p e s q u i s a c i e nt í fi c a , é fe i t o d e d ua s ma n e i r a s : p e s q ui s a d o c u me n t a l ( o u d e fo n t e s p r i má r i a s ) e p e s q u i s a b i b l i o gr á f i c a ( o u d e fo nt e s s e c u nd á r i a s ) ( M A R C O N I ; L A K AT O S , 2 0 0 3 , p . 1 7 4 ) .

Além da revi são bi bl iográfi ca e da pesqui sa m encionada , l anç amos mão de dois tipos de instrum entos de col et a de dados : ent revist a e questionário (APÊNDIC ES A, B, C e D ). A entrevi sta, s egundo M arconi e Lakatos (2003) , faz parte da observação diret a intensiva e trata-s e de uma conversação efet uada face a face de m anei ra m et ódi ca, que proporci ona a i nformação necessári a. Nest a pesquis a, o s/as respondent es da ent revist a foram os/as s ervidores/ as e ex -al unos/as do IF Goi ano – Câmpus Urut aí. O procedim ento foi reali zado com o intuit o de remontar à históri a d a insti tui ção.

O questionário teve com o foco as 189 alunas dess e IF que parti cipam de program as de assist ênci a estudantil (PAE) e foi apl icado sob o ent endim ento de Marconi e Lakat os (2003) , i sto é, considerando que faz part e da observação di reta extens iva e que se t rat a de um instrum ento de col et a de dados constit uí do por um a s érie ordenada de pergunt as a s erem respondidas por es cri t o.

Todas as part ici pant es dos PAE foram convidadas a participar da pesquisa e o retorno que obt ivemos foi de 20% dos questionários . Com o veremos no decorrer des ta tese, os PAE para as mul heres est udant es s ó foram sist em atiz ados - e, cons equentem ente, m ateri aliz ados - a parti r do ano de 2012 . Assim , todas as respondentes ai nda s ão alunas do IF.

Mina yo (1994) afi rma que existe um crit é ri o chamado de ―exaustão‖ ou ―saturação‖, que delimita o número de entrevistas. Dessa

4 E v a M a r i a La ka t o s é gr a d ua d a e m A d mi n i s t r a ç ã o e J o r na l i s mo , d o u t o r a e m

F i l o s o f i a e l i vr e -d o c e n t e e m S o c i o l o g i a p e l a E s c o l a d e S o c i o l o g i a e P o l í t i c a d e S ã o P a u l o . M a r i n a d e A nd r a d e M a r c o ni é d o ut o r a p e l a U ne s p – F r a nc a e p r o fe s s o r a d e A n t r o p o l o gi a d e s s a u ni v e r s i d a d e .

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forma, efetuei a col eta de dados em núm ero s ufi ci ent e para permiti r cert a rei ncidênci a das informações, garantindo um máximo de di versifi cação e abrangênci a para a recons t itui ção do obj eto no conjunto do mat eri al . A aut ora afi rm a t ambém que a amost ragem , na pesquis a qualitativa, envolve aspectos rel aci onados à com preens ão do fat o s oci al a s er investi gado, não s endo priori dade o crit ério num érico .

Richards on (1989) afirma que a abordagem qualit ativ a s e di fere, em pri ncípio, do quantit ativo, por não em prega r um i nstrum ent al est atíst ico como bas e na anális e de um probl em a e nem pret ende r m edi r ou num erar. Na pesquis a qualit ati va , isto é, n aquel a que t rabalha predom inant em ent e com dados qualit ati vos, a i nform ação col et ada pelo/ a pesquisador/a não é expressa em números, ou as conclusões nel es baseadas represent am um papel m enor na anális e.

Após a apli cação dos questionários , procedeu-se ao l evantament o est atíst ico e à t abul ação dos result ados. As respostas ao quest ionário foram anali sadas e, para m elhor com preens ão, foram também apresent adas em tabelas e gráfi cos.

Busquei elucidar e refl eti r, com bas e nos est udos sobre rel ações soci ai s, com o s e m aterial izam as rel ações de gênero , que acont ecem no ambi ent e es col ar. M ais import ante do que promover um a dis cuss ão sobre dois pólos, é com preender como se imbricam as form as de rel ação e de opressão.

Trabalhamos a part i r da hi stóri a e da políti ca, prest ando at enção nas possívei s relações de desi gualdade, para podermos abri r caminhos para uma s oci edade mais i gualit ári a. P ara tanto, pens a mos e discuti mos as rel ações sociais de gênero com o cat egori a de anális e, como tem a acadêmi co e como uma quest ão polít ica.

O C âmpus Urutaí foi escol hido po r se tratar da es col a m ais anti ga do IF Goi ano e por contem pl ar de form a mai s com pleta as m odalidades de as sist ênci a estudantil , com o o programa Bols a M oradi a. A lém di sso, vivenciou as t rans form ações da educação p rofissi onal no decorrer do tempo. Es sas quest ões s erão mai s esclarecidas l ogo adi ante , quando fal armos da const rução de um a t ese doutoral .

Na const rução des t a t ese, desenvolvemos quat ro capít ul os. No prim ei ro apres ent am os as cat egori as centrais para a análise proposta,

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quais s ej am : Est ado, políti ca s públi cas educacionais e a assi st ência estudantil na soci edade neoliberal. Considerando que a investi gação s e realizou em um i nstituto de educação profi ss ional, ent endem os s er important e compreendê -l a, bem como a form ação para o t rabalho, como condi ção para m elhor ouvir ( nas entrevistas e questionários) e ent ender as mul heres que al i buscavam s ua formação. O res ult ado é o que apresent amos no segundo capít ulo. No terceiro capít ulo, as rel ações soci ai s de gênero s ão apresent adas na form a com o foi const ruído o conhecim ento que pude adqui ri r sobre es s e t em a - uma abordagem qu e eu desconhecia - e di s cutim os t ambém o acesso das m ulheres à educação com o pos sibil idade de empoderam ent o. Por fim, no últi mo capít ulo , apresent amos e dis cutimos os dados da pes quis a à lu z da teoria estudada e a parti r da orienta ção das i ndagações feitas .

A cons trução d e u m tema dou toral

Quando ingress ei na carreira docent e, pude conhecer mai s de pert o as contradições exist ent es na soci edade.

Como profissi onal formada em Administração d e Empres as e trabalhando com o anali sta de uma grande em pres a privada brasi lei ra , vivenciei na práti ca o mercado capit alist a nacional . Quando tornei profess ora e, na m es ma época , curs ei o m est rado na área do agronegócio, vi que o campo cient ífi co foi ess enci al para a minha carrei ra.

Em 2011, t rabalhando na Coordenação do Ensi no M édi o e Técnico e com o docent e efet i va do IF Goi ano – C âmpus Urut aí, percebi a enorm e lacuna de conhecim ent o que eu ti nha na área de educação e obs ervei também defi ciências do proces so educacional no Inst ituto . Isso l evo u a refl eti r que os ins titutos federais são um grande l aboratóri o para pesquisa na área de educação. Di ant e dessa refl exão, com ecei a procurar cursos de dout oram ento nes sa área.

A observa ção e a conviv ênci a com al unos e alunas com grandes difi cul dades para permanecer e m seus cursos e concluí-l os despertou em mim a curiosi dade sobre a tem áti ca de políti cas públ icas de assi stência para esse públi co. Assim, subm eti o proj eto a essa área de pesquisa na PUC Goiás, no Program a de P ós -Graduação St ricto sensu em Educação,

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onde m e ingres sei em 2013. S abi a que havi a o ri s co do não dist anciamento referent e ao objeto de estudo, porém, busquei a is enção que a análi se ci entífica sol ici ta na const rução do novo conheciment o , na apropri ação de teori a e práti ca, tom ando os cuidados i ndi cados , t anto na apli cação dos i nst rument os com o na anál ise dos dados.

Se eu achava que o mest rado ti nha sido es senci al para a minha carreira, renovei ess a ideia ao cursar o doutorado em Educação. Aprendi que, além de um fat or extrem am ent e import ant e, o est udo é uma constant e construção de conhecim ento pessoal e col etivo. Po sso dizer que é um a des cons t rução e uma reconst rução const ant e, porque vários conceitos e conhecim entos que eu tinha foram des construídos e reconst ruí dos, des cartados e des cobert os.

Como profi ssional em uma grande empres a, no iní ci o da m inha carreira, não pens ava , t am pouco percebia criti cam ente , a práti ca da educação. Hoj e, com o profes sora , reconheço que desconheci a a m anei ra com o o sist em a capit alist a manipula as pessoas e os diferent es int eres ses cri ando uma soci edade de fantoche s , m anobrados pel as mãos de quem det ém o poder . Es s as m anipul ações servem apenas para satisfazer aos interess es econômi cos das cl ass es dominant es , não aspi ra m ao desenvol vimento int el ect ual int egral e crítico que se faz t ão ne ces sário.

Atualm ent e, s ou um a profissi onal com uma consciênci a de uma soci edade de cl as ses . Sou profes sora (sempre em construção) de um a escol a públ ica, com uma grande respons abili dade nas m ã os: a form ação de seres hum anos.

O q ue s a b e mo s d a s v i d a s d a s mu l h e r e s ? D a s no s s a s mã e s ? D a s no s s a s vi d a s ? N a d a . S o me n t e u ma t r a d i ç ã o . O s e u no me e s e e r a c a s a d a . E q ua n t o s f i l ho s t i n ha m. H o j e j á nã o p o d e mo s d i z e r q ue s o mo s s ó e s s a t r a d i ç ã o e , s e c o n s e g u i m o s s e r e x t r a o r d i ná r i a s , a gr a d e c e mo s à mu l h e r c o m u m, a nô ni ma ( W O O L F5) .

Como profes sora pesquis adora, s en ti-m e des afiada a fazer uma análise da assi st ênci a estudantil no Insti tuto Federal Goi ano – Câm pus

5 Tr a d uç ã o p a r a o p o r t u g uê s d o fr a g me n t o d e u m p e n s a me n t o d e Vi rgi n i a Wo o l f ,

me n c i o n a d o na p ub l i c a ç ã o R e t a l h o s d e u m a h i s t ó r i a . E l a fo i u ma e s c r i t o r a , e n s a í s t a e e d i t o r a b r i t â ni c a , c o n h e c i d a c o mo u ma d a s ma i s p r o e mi n e n t e s f i g ur a s d o mo d e r ni s mo .

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Urutaí , privi legiando a perspectiva das relações s oci ais de gênero. Nes s e viés , consi dero o conceito de gênero apresent ado por Scott (199 5 ) um a categoria im port ant e para questionar as relações des i guai s de poder mani fest adas nas est ruturas soci ais em que as est udant es estão ins eridas.

Assim , esta tese t eve po r obj etivo es tudar a t em áti ca das políticas públi cas de as sist ênci a estudantil no IF Goi ano – Câm pus Urut aí, considerando as rel ações soci ais de gênero ali est abel ecidas.

Além dos novos est udos sobre educação, polít icas educacionais e mat rizes do conhecim ento, dedi quei -me a fazer um l evant am ent o bibliográfi co sobre os est udos desenvolvidos acerca d a tem áti ca da pres ença das mulheres nos Instit utos Federais e sobre a Assist ênci a Estudantil.

Os pri ncipais bancos de t eses e dis sert ações cons ult ados foram os da C apes, USP , UFMG, UFU, P UCRS, PUC RJ , PUC GO, U nB, Uni camp e d o IB IC T. O aces so a ess as bibli otecas virt uais e a port ais como o Sci elo foi de grande import ânci a para a aquisi ção de inform ações para a pesquisa, não só por que s eus acervos oferecem dados i m portant es , mas também pela m aior facilidade para o alcance des ses dados. Es se caminho permiti u ainda a l ocalização de arti gos e de comunicações efetuadas em congres sos e simpósi os.

Opt amos por utilizar cinco descri tores para as bus cas: 1) Política públi ca de assi stênci a estudantil ; 2) Gênero e rel ações sociais de gênero; 3) Educação p rofis s ional; 4) Mul her e educação; 5) Em poderam ento fem inino.

As produções acadêmi cas encontradas foram im ens as em multipli ci dade de aspectos, enfoques t eóri cos, abrangênci a e focos investi gati vos , porém, nem sempre com proximidade em rel ação às questões que ori entam est a invest i gação. Assim , adotam os o procedim ento de leitura dos resumos para realiz ar a s el eção dos trabalhos que pudess em t er um a rel ação estrit a com o obj eto.

Ness a últim a etapa encont rei vários t rabalhos , os quais li e arquiv ei em pastas por assunto /t em a. D essa form a, fiz eram part e das minhas referenci as t eóri cas e pude acess á-l os sempre que necess ário.

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CAPÍTUL O I – ES TADO , POLÍTI CAS PÚBL ICAS E AS SISTÊNCIA ESTUDANT IL NA SOCIEDADE NEOL IBERAL

Neste capít ulo apresent am os o ent endi ment o const ruí do s obre

al gumas cat egori as teóricas consideradas fundam ent ais para a

com preens ão de nosso obj eto de estudo , bus cando res posta para o problema colocado para es ta invest i ga ção.

Dis cutim os pri mei rament e as políti cas públi cas e s eu papel na soci edade, es peci al ment e a formação histórica da as sist ência es tudant il no Brasil e no IF Goi ano - Câm pus Urut aí. A import ânci a dess a discuss ão resi de no fat o de que essa assistênci a foi c riada com vi stas a garanti r o acesso, a perm anênci a e a conclus ão d os cursos por part e da popul ação estudantil que del a dependa . Além diss o, atua particul arm ent e com o inst rum ent o de correção de desi gualdades , com o a referente a gênero, recort e privi legi ado em noss o est udo.

Como apoio para a abordagem das PP AE, bus camos em alguns aut ores um m el hor entendim ent o sobre a rel ação ent re políti ca e Est ado.

No ent endimento de Brzezinski e S antos (2015), políti ca pode s er defini da como ciênci a do Est ado. Existem m uit os campos do conhecim ento que trat am o Est ado com o obj eto de est udo. A i mportânci a atribuí da a el e é tam anha que, mes mo aqueles que reconhece m a possi bilidade de outras ins titui ções s ociai s terem condi ções de mobilizar esforços políti cos, ai nda assim os percebem no int erior do Estado.

Para ent ender o pens am ento polít ico ocident al é preci so volt ar aos princi pai s filós ofos nos quais se aporta noss a cultura e um pouco na históri a s obre a constitui ção do Es tado. R ecorremos prim eiram ente a Hobbes (1979). P ara ess e fil ósofo , os hom ens em estado de natureza vivem em um a cons tant e guerra de todos cont ra todos, em que não há garanti as para ninguém, uma vez que não existem l eis ou qual quer forma de poder superior que evit e es s a si tuação . As sim, s urge a necessi dade do Est ado. Se os hom ens goz am do direit o ou da pos sibil idade de faz erem tudo quanto int entarem, o result ado inevitável seria a guerra. Para evit ar que se destruam uns aos outros p ela necessi dade de poder e de ri quezas, os indi víduos estabelecem ent re si um acordo, um cont rato soci al por meio do qual se constitui o Estado. O Est ado em Hobbes é abs oluto e seu

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poder é ilim itado. A soci edade civil só é possí vel com a pres ença do Est ado, ao qual os indivíduos devem est ar integralm ent e subm etidos (HOBBES , 1979).

Out ro pensador import ant e foi John Locke (1632 -1704), que tinha uma concepção de Est ado discordante da concepção de Hobbes. Locke postulava que deveria haver limit es no poder do Est ado. El e viveu em uma Ingl at erra post eri or às revol uções liberais do s éculo XV II, que consoli daram o domí nio da burguesi a e perm itiram o des envol vimento do modo de produção capit alist a naquele país . Ess e cont ex to tem grande infl uênci a em s eu pens am ent o. Locke afirm a que o s hom ens são l ivres quando est ão vivendo no est ado de natur eza; no entanto, existe a necessidade de im po si ção de l imit es à li berdade, para garanti r a propri edade. O estado de nat urez a não garant e a propri edade ou os direitos bási cos do homem , por iss o seri a preci so a cri ação de um Est ado que ex er cess e ess a função ( LOC KE, 1978).

Out ro im portant e filósofo foi o suí ço J ean -J acques Rous seau (1717 -1778). A t eoria de Rouss eau apresent a uma grande di ferença em rel ação às de Hobbes e Locke, no que se refere ao est ado de natureza e à

soci edade. Conforme Rouss eau é na s ociedade que est ão a

com peti tivi dade, a guerra e o caos, não no es tado de naturez a. Por mei o do cont rat o soci al s eria cri ado um Est ado que pres ervari a a li berdade e a igualdade comuns ao estado de naturez a . Em sua propost a , a s oci edade civil seri a governad a por um a assembléi a, que é a express ão da vont ade geral do povo. O Est ado seri a , ent ão, a sí ntes e das vontades i ndivi duais e seu objet ivo é o bem comum. O poder é ori gi nário do povo e deve s ervir aos seus int eress es, repres ent ado pel a ass embléi a. Ass im, o Est a do de Rouss eau é es sencial ment e democráti co (GRUPP I, 1986).

J á para o filós ofo al em ão Hegel (1770 -1831), um dos pens adores mais im portant es do século XIX, o Est ado é tudo ; não exist e nada fora do Est ado, que engloba a soci edade civil e a famíli a. É na obr a de Hegel que a soci edade ci vil aparece pela prim ei ra vez como antít ese do Est ado. O autor reconhecia a existênci a de int eresses conflitant es na sociedade civil , a zona dos i nteress es indivi duai s. Faz endo um contraponto à soci edade ci vil est ava o Est ado, onde os int eresses parti cul arist as daquela s eri am superados (CORR EIA, 2005).

(29)

Segundo Marx (1982 b ), o Est ado não t em uma exist ênci a independent e, desl i gada da base m at eri al da soci edade, m as , ao contrário, exist e em função del a. A soci edade civil , para o autor, com preende todo o intercâm bio m at eri al dos indi víduos em um a

det erminada et apa do desenvolvim ent o das forças produtivas.

Compreende , port ant o, toda a vi da com erci al e i ndustri al de uma et apa e ,

nessa m edi da, trans cende o Estado e a nação. Concordamos com M arx que rel at a que é na soci edade ci vil que nas ce a luta de cl ass es , caracteriz ada no capit ali smo pel o antagonism o ent re burguesia e prol et ariado, repres entando a disput a ent re capit al e t rabalho. Por i sso, a soci edade ci vil cont emporânea é marcada pelos conflitos de interess es das duas cl ass es . M arx (1982 b) afirm a que as formas de Estado e as rel ações jurídi cas s e bas eiam nas condições m at eri ais de vida, deri va m-se das rel ações travadas na est rut ura da soci edade.

Marx e Engels , ao trat arem da evoluçã o do Est ado e de suas políti cas s ob o capital ismo , escreveram que é el e um i nstrum ento repressivo sob o control e da clas se domi nante e estrutur ado para atender aos int eress es dos dominadores. P ara Marx e Engels (1982), o Estado no capit alism o não é m ais qu e uma sequela do des envolvim ent o econômico, em que a class e que domina opera as mudanças que l evam ao lucro e à acumul ação const ant e. M arx e Engel s (1982) es creveram que o Es tado seria ―[...] um comitê para gerir os negócios comuns de toda a classe burgues a‖ (MAR X; ENGELS , 1982, p. 23).

1.1 APONTAMENTOS S OBRE P OLÍT IC AS P ÚBLIC AS

Souza6 (2006) situa o surgim ento da políti ca pública , como área de conhecim ento , nos EUA. É um a subárea da ci ênci a polít ica que se preocupa com os ti pos de ações dos governos , mas sem est abel ecer rel ações com as bas es t eóri cas sobre o papel do Est ado. J á na Europa, a área surge como um des dobram ento dos trabalhos baseados em t eori as

6 C e l i n a M a r i a S o uz a é f o r ma d a e m D i r e i t o p e l a U ni v e r s i d a d e F e d e r a l d a B a hi a ,

me s t r e e m A d mi n i s t r a ç ã o P úb l i c a p e l a d e F G V e d o u t o r a e m C i ê nc i a P o l í t i c a p e l a

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explicati vas sobre o papel do Est ado e do governo. P ara além do campo em que a políti ca pública t em ori gem, a autora entende q u e

D e fi n i ç õ e s d e p o l í t i c a s p úb l i c a s , me s mo a s mi n i ma l i s t a s , g ui a m o no s s o o l h a r p a r a o l ó c u s o nd e o s e mb a t e s e m t o r no d e i n t e r e s s e s , p r e fe r ê nc i a s e i d e i a s s e d e s e n vo l v e m, i s t o é , o s go ve r no s . A p e s a r d e o p t a r p o r a b o r d a ge n s d i fe r e n t e s , a s d e f i ni ç õ e s d e p o l í t i c a s p úb l i c a s a s s u me m, e m ge r a l , u ma vi s ã o ho l í s t i c a d o t e ma , u ma p e r s p e c t i va d e q ue o t o d o é ma i s i mp o r t a nt e d o q ue a s o ma d a s p a r t e s e q u e i nd i ví d uo s , i n s t i t ui ç õ e s , i n t e r a ç õ e s , i d e o l o g i a e i nt e r e s s e s c o nt a m, me s mo q ue e x i s t a m d i fe r e n ç a s s o b r e a i mp o r t â nc i a r e l a t i va d e s t e s fa t o r e s ( S O U Z A , 2 0 0 6 , p . 2 5 ) .

Segui ndo o raci ocí nio de Souza (2006), s e admiti rmos que a políti ca públi ca é um campo holísti co, ist o é, um a área que sit ua diversas unidades em t otali dades organizadas, isso t em duas im plicações : a prim ei ra é que a área se torna t erritório de vári as dis cipli nas , teori as e modelos analí ticos ; apes ar d e possuir suas próprias model agens, t eorias e métodos e de s er formalm ent e um ramo da ci ênci a polí tica , el a pode ser obj eto analít ico de outras áreas do conhecim ento. A s egunda impli cação é que o carát er holístico da área não si gni fi ca que el a careça de coerênci a t eóri ca e metodológi ca, m as si m que com port a vári os ol hares.

Por último, as polít icas públi cas, após des enhadas e formul adas, desdobram-se em planos, program as, proj etos , bas es de dados ou sist em a de informação e pesquis as . Assim , quando são im pl em ent adas , fi cam subm etidas a sist em as de acompanham ent o e avaliação (S OUZA, 2006).

Souza (2006) apres ent a ai nda defi nições de políti cas p úblicas desenvol vidas por outros aut ores de perspectivas t eóri cas diferentes , defini ções que, em noss o ent endim ent o, para m el hor trat am ento das questões de gênero no campo da educação, merecem s er conheci das. Mead (1995) define políti ca públi ca com o um cam po , dent ro do estudo da polít ica, qu e analisa o governo frent e a grandes ques tões públi cas. Lynn (1980) conceit ua políti cas públicas com o um conj unto de ações do governo que produz em ou s e destinam a produzir efeit os es pecífi cos . J á Pet ers (1986) entende q ue polí tica públi ca é a soma das ati vidades dos governos , que agem diret am ent e ou por meio de del egação i nfluenci ando a vida dos indi víduos. Por último, a aut ora cit a D ye (1984) , que define política pública como ―o que o governo escolhe fazer ou não fazer‖ .

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Out ras defini ções , como a de Laswell (1936), enfatiz am o papel d ess a políti ca na solução de probl em as . Es se aut or mencionado des creve que decisões e anális es sobre políti ca públi ca corres pondem a responder às questões: quem ganha o quê, por quê e que dif erença faz (SOUZA, 2006).

Celina Souz a (2006) apresent a um dest aque em rel ação a es s as defini ções , ao dize r que m uitas del as i gnoram a natureza, o cerne da questão sobre políti ca públi ca, deixando de l ado o confronto em torno de idei as e int eress es , ou seja, por concent rarem o foco no papel dos governos , ess as definições deixam de lado o aspecto contraditório, conflit uos o e os li mites que cercam as decisões govern ament ais . Das diversas defini ções e modelos apresentados , a autora apont a como el ementos princi pais os seguint es :

. A p o l í t i c a p úb l i c a p e r mi t e d i s t i n g ui r e nt r e o q ue o go v e r no p r e t e nd e fa z e r e o q ue , d e fa t o , fa z . . A p o l í t i c a p úb l i c a e n v o l v e vá r i o s a t o r e s e n í v e i s d e d e c i s ã o , e mb o r a s e j a ma t e r i a l i z a d a a t r a vé s d o s go v e r no s , e n ã o ne c e s s a r i a me n t e s e r e s t r i n g e a p a r t i c i p a nt e s f o r ma i s , j á q ue o s i n f o r ma i s s ã o t a mb é m i mp o r t a n t e s . . A p o l í t i c a p úb l i c a é a b r a n ge n t e e nã o s e l i mi t a a l e i s e r e g r a s . . A p o l í t i c a p úb l i c a é u ma a ç ã o i n t e nc i o na l , c o m o b j e t i vo s a s e r e m a l c a n ç a d o s . . A p o l í t i c a p úb l i c a , e m b o r a t e n ha i mp a c t o s no c ur t o p r a z o , é u ma p o l í t i c a d e l o n go p r a z o . . A p o l í t i c a p úb l i c a e n v o l v e p r o c e s s o s s ub s e q üe nt e s a p ó s s ua d e c i s ã o e p r o p o s i ç ã o , o u s e j a , i mp l i c a t a mb é m i mp l e me nt a ç ã o , e xe c uç ã o e a va l i a ç ã o ( S O U Z A , 2 0 0 6 , p . 3 7 ) .

Out ro autor cuj a cl assifi caç ão de polí ticas públicas cons ideramos important e regi strar é Az evedo (2003) que, com aporte na l i terat ura de Lowi (1964), apont ou a existênci a de três ti pos de ss as políti cas: as redist ributivas , as di stributivas e as regul atóri as.

As pol íti cas públ icas re dist ributivas consist em em redi stri buição de ―[...] renda na forma de recursos e/ou de financiamento de equipamentos e serviços públicos‖ (AZEVEDO, 2003, p. 38). São exempl os des sas políti cas: os program as Bolsa -Escola, Bols a -Universit ária e out ros de assi stênci a estudantil , a ofert a de cest a básica, o program a R enda C idadã e a isenção de taxas de energi a e/ou água para fam íli as carent es. Es se tipo de polít ica vi sa redist ribuir recursos entre os

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grupos soci ais, com o é o caso dos program as de assi st ência est udantil . Para Az evedo (2003), do ponto de vista da justi ça soci al, o financi am ento des se tipo de políti ca deveria s er feito pel as cl as ses soci ai s de mai or poder aqui sitivo, de modo que ocorress e a redução das desi gualdades s oci ai s. Porém, em consequênci a d o poder de organiz ação e pres são dess as class es , o financi am ent o acaba s endo fei to pelo orçamento do ent e estat al, que ainda não é composto com o um sist em a tributário que arrecada conforme a proporção das rendas .

As polí ticas di stributivas s ão as que alocam bens ou servi ços a frações específicas da s oci edade at ravés de recurs os provenientes da col etividade como um todo. Por exempl o: impl em ent ação de hospit ais e escol as, const rução de pont es e est radas , revit alização de áreas urbanas et c (AZEVEDO, 2003).

Por último, existem as políti cas públicas regul atórias, que consist em na el aboração das l eis que autoriz a m os governos a fazer ou não determi nada política redist ributiva ou di stri buti va. S e as últim as atuam no campo de ação do poder executivo, a regulat óri a é, ess enci alm ent e, cam po de ação do poder legi slativo. Es se tipo de polít ica poss ui import ânci a cruci al, poi s é por el a que os recursos públi cos s ão liberados para a i mplantação das out ras pol íticas . Cont udo, o s eu result ado não é im edi ato, pois, na condi ção de l ei, não poss ui a mat eri ali dade dos equipamentos e serviços que at endem regularm ent e a popul ação. Assim , os grupos sociais tendem a i gnorá -l a e a não acompanhar o s eu desenvolvim ent o, permit indo que os grupos econômicos, principalm ent e os m ais organi zados e arti culados, façam press ão sobre os ges t ores (AZEVEDO, 2003).

Tal press ão pode s er fei ta de diferentes formas. Conform e des creve Chauí7 (2012), dois inst rum entos servem para que um a cl ass e soci al explore econômi ca e politi cam ent e out ra cl ass e: o Es t ado e a i deologi a. Por meio do Est ado , a cl as se dominant e exerce o poder s obre toda a soci edade. Des s a forma, um dos grandes instrum entos do Est ado são as políti cas públ icas , usadas m ajorit ari am ente em proveit o dos dominant es.

7 M a r i l e na d e S o uz a C h a u í é gr a d u a d a e m F i l o s o f i a , me s t r e e d o ut o r a e m F i l o s o fi a

p e l a U n i ve r s i d a d e d e S ã o P a ul o . At u a l me nt e é p r o f e s s o r a t i t u l a r d e s s a u ni v e r s i d a d e .

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Se est as foss em vist as como parciais, evidentem ente não seri am acei tas. Elas precis am convencer com o legítim as, just as e boas. Então, como discorre Chauí (2012 ), o papel especí fi co da ideol ogi a com o i nstrum ento da l uta de cl as ses , é impedir que a dominação e a exploração s ejam percebidas em sua realidade concret a (CHAU Í, 20 1 2).

Gorender (1998) , na int rodução da obra A Ideol ogi a Al emã , de Marx e Engels, dest aca que Marx utiliz a o t erm o i deologia no sentido de consci ênci a fals a, equivocada da realidade ,

P o r é m ne c e s s á r i a a o s h o me n s e m s ua c o n vi v ê nc i a e e m s ua a t i v i d a d e s o c i a l . C o ns c i ê n c i a q ue nã o r e s u l t a d e ma n i p ul a ç ã o c a l c u l i s t a , d e p r o p a ga n d i s mo d e l i b e r a d o , ma s d a n e c e s s i d a d e d e p e n s a r a r e a l i d a d e s o b o e n fo q ue d e d e t e r mi n a d a c l a s s e s o c i a l , no q ua d r o d a s c o nd i ç õ e s d e s u a p o s i ç ã o e f u nç õ e s , d a s s ua s r e l a ç õ e s c o m a s d e ma i s c l a s s e s e t c . ( G O R E N D E R , 1 9 9 8 , p . X X I I ) .

Estudando o t exto de M arx, entende -se que a pos se das riquez as mat eri ai s as segura ao possuidor a capacidade de regul ament ação e distribui ção dos val ores e concei tos de seu t em p o e, por conseguinte, a infl uênci a de suas id ei as (M ARX; ENGELS , 1998).

Assim , som ente a const rução de uma cons ciência coletiva sobre det erminado probl em a enfrent ado pela soci edade é fator det erminante na defini ção de um a política públ ica que at enda a es s a s ociedade com o um todo. Hoj e, o em bate para a formul ação e execução de polít icas públi cas com es se carát er s e dá frente a um a política neoliberal , cuj as ações e est ratégias governament ais frequentem ent e não s e propõe m a alt erar est rut uralm ent e as relações est abel ecidas na soci edade.

As polí ticas públi cas não podem ser pens adas com o meras concess ões do capit al ou como m era vitória dos t rabalhadores, mas sim com preendi das como produt os de relações cont raditóri as ent re di ferent es esferas da produção e reprodu ção soci al.

Em consonânci a com essa compl exidade, as pol íti cas educacionais - e ness e bojo as PP AE - traduzem -se em expressão das lutas soci ais. O Pnaes é um exempl o, pois t rouxe para a agenda públi ca as demandas repri midas há muit o apresent adas pel os/ as estudantes.

Referências

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