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A participação social como elemento da gestão democrática no âmbito das atividades complementares curriculares em contraturno na microrregião de Ivaiporã, Paraná

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE EDUCAÇÃO

ANDRÉIA PAULA BASEI

A PARTICIPAÇÃO SOCIAL COMO ELEMENTO DA

GESTÃO DEMOCRÁTICA NO ÂMBITO DAS

ATIVIDADES COMPLEMENTARES CURRICULARES

EM CONTRATURNO NA MICRORREGIÃO DE

IVAIPORÃ, PARANÁ

CAMPINAS

2020

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ANDRÉIA PAULA BASEI

A PARTICIPAÇÃO SOCIAL COMO ELEMENTO DA

GESTÃO DEMOCRÁTICA NO ÂMBITO DAS

ATIVIDADES COMPLEMENTARES CURRICULARES

EM CONTRATURNO NA MICRORREGIÃO DE

IVAIPORÃ, PARANÁ

Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas para obtenção do título de Doutora em Educação, na área de concentração de Educação.

Orientadora: Profa. Dra. Maria da Glória Marcondes Gohn

O ARQUIVO DIGITAL CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA TESE DEFENDIDA PELA ALUNA ANDRÉIA PAULA BASEI, E ORIENTADA PELA PROFA. DRA. MARIA DA GLÓRIA MARCONDES GOHN

CAMPINAS 2020

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE EDUCAÇÃO

TESE DE DOUTORADO

A PARTICIPAÇÃO SOCIAL COMO ELEMENTO DA

GESTÃO DEMOCRÁTICA NO ÂMBITO DAS

ATIVIDADES COMPLEMENTARES CURRICULARES

EM CONTRATURNO NA MICRORREGIÃO DE

IVAIPORÃ, PARANÁ

Autora: Andréia Paula Basei

COMISSÃO JULGADORA:

Profª. Drª. Maria da Glória Marcondes Gohn Profª. Drª. Andreia de Oliveira Silva

Profª. Drª. Angela Randolpho Paiva Profª. Drª. Cristiane Machado Prof. Dr. Pedro Ganzeli

A Ata da Defesa assinada pelos membros da Comissão Examinadora, consta no processo de vida acadêmica do aluno.

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RECONHECIMENTO E GRATIDÃO

“Ninguém escapa ao sonho de voar, de ultrapassar os limites do espaço onde nasceu, de ver novos lugares e novas gentes. Mas saber ver em cada coisa, em cada pessoa, aquele algo que a define como especial, um objeto singular, um amigo,- é fundamental. Navegar é preciso, reconhecer o valor das coisas e das pessoas, é mais preciso ainda” (Antoine de Saint-Exupéry)

O final deste ciclo espelha algo que outrora se afigurava como inalcançável. Um objetivo ou, muito além, um sonho, que parecia inatingível. Contudo, um feito que agora permanece real. Por isso, neste momento, é imprescindível voltar e agradecer àqueles que foram fundamentais neste processo, tanto àqueles que sempre estiveram ao meu lado, quanto àqueles que se revelaram ao longo desse tempo.

À Deus, por sempre me conceder sabedoria nas escolhas dos melhores caminhos, fé e coragem para acreditar, força para não desistir e proteção ao me amparar.

Meus respeitosos e sinceros agradecimentos à Profª Drª Maria da Glória Marcondes Gohn, pela competência, sensibilidade e ética profissional. Seus conhecimentos enriquecem a todos(as) nós! Obrigada pela acolhida, capacidade de escuta e firmeza com que orientou o processo de pesquisa.

Aos professores que constituíram a banca de qualificação: Prof. Dr. Pedro Ganzeli, Prof. Dr. Salomão Barros Ximenes, Profª. Drª. Maria Antonia de Souza e Profª. Drª. Eloisa de Mattos Höfling, e de defesa final: Profª. Drª Andreia de Oliveira Silva, Profª. Drª Angela Randolpho Paiva, Profª. Drª. Cristiane Machado, Prof. Dr. Pedro Ganzeli, pela leitura deste trabalho e pelas valiosas sugestões para redação final. Obrigada pela oportunidade de compartilhar e construir conhecimentos com vocês.

À Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), à Faculdade de Educação (FE) e ao Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE), pela oportunidade e apoio institucional despendido;

Aos docentes do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE), da Universidade Estadual de Campinas, pelas aulas que proporcionaram momentos de

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motivação para o estudo, interesse pela pesquisa, construção e compartilhamento de conhecimentos;

À Universidade Estadual de Maringá, em especial ao Campus Regional do Vale do Ivaí e ao colegiado do Curso de Educação Física, pelo afastamento das atividades docentes para a realização desta etapa de formação e desenvolvimento profissional;

Ao Núcleo Regional de Educação de Ivaiporã e aos gestores das escolas participantes da pesquisa pela receptividade, atenção e por gentilmente concederem as entrevistas que permitiram a realização e conclusão do presente estudo;

Aos colegas encontrados nesta trajetória, em especial, àqueles que, entre um desabafo e outro, uma gargalhada, um café, um pão de queijo e um almoço, construímos uma amizade. Amizade é uma virtude que torna as experiências vividas mais interessantes.

À minha família, em especial, minha mãe (Jandira), meu pai (Dauri), meus irmãos, cunhada e sobrinho (Andrei, André, Cleide e Bruno), que mesmo distante e incondicionalmente me apoiaram e incentivaram em todos os momentos desta longa caminhada. Minha gratidão e amor à vocês, que apostaram em mim mais do que ninguém e que, seguramente, são os que mais compartilham da minha alegria.

Ao Ricardo, meu amado companheiro de todas as horas. Por seu amor incondicional, carinho, compreensão e dedicação. Obrigada por sua presença ao meu lado sempre. Obrigada por dividir comigo teu caráter, tua bondade, tua sensibilidade e tua disponibilidade que me auxiliam a repensar minhas atitudes e convicções de mundo. Obrigada pelos momentos maravilhosos que dividimos e por ser uma inspiração pessoal e profissional. Obrigada por tornar meu mundo melhor, pelo presente de cada dia, pelo seu sorriso, por me fortalecer e por saber me fazer feliz. Te amo!

E, por fim, a todos que posso ter esquecido de mencionar, mas que fizeram e fazem parte desta incrível jornada da vida. Por isso, e muito mais, sou-lhes profundamente grata!

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RESUMO

BASEI, Andréia Paula. A participação social como elemento da gestão democrática no âmbito das Atividades Complementares Curriculares em contraturno na microrregião de Ivaiporã, Paraná. Orient. Maria da Glória Marcondes Gohn. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2020.

Esta pesquisa tem como foco a participação social como elemento da gestão democrática no âmbito das Atividades Complementares Curriculares na microrregião de Ivaiporã, Paraná. Estas atividades desenvolvidas por meio de programas de políticas públicas são indutoras da ampliação das oportunidades de aprendizagem de crianças e adolescentes em direção a ampliação da jornada escolar na perspectiva da educação integral e da melhoria da qualidade da educação. O objetivo consiste em analisar e compreender as configurações das Atividades Complementares Curriculares em contraturno na educação básica na microrregião de Ivaiporã, PR e quais os canais, as formas e os mecanismos da participação social enquanto elemento da gestão democrática e sua influencia no processo de gestão local da política educacional de ampliação da jornada escolar. Trata-se de uma pesquisa de caráter qualitativo, que teve como fonte de informações os documentos elaborados e divulgados que estabelecem as diretrizes para tais atividades em nível estadual. Subsequente, o trabalho dialoga com os gestores escolares e representante do Núcleo Regional de Educação de Ivaiporã, PR, que aderiram e desenvolvem as atividades de complementação curricular, tendo como referência um aporte teórico com bases nas discussões de políticas públicas, ampliação das oportunidades de aprendizagem, participação social e gestão democrática. Realiza-se uma análise crítica a partir dos dados empíricos coletados em que se evidencia a fragilidade destes processos no âmbito educacional. Conclui-se que a participação social é tida como elemento fundante da gestão democrática em níveis teóricos de planejamento, implementação e avaliação das políticas relativas as atividades. Todavia, em níveis práticos/efetivos se configura como pseudoparticipação ou participação parcial, caracterizando o grau de controle sobre a efetividade das ações apenas como informação e/ou como consulta obrigatória. É possível observar também que a concessão aos atores e segmentos da comunidade escolar da oportunidade/direito de participar é limitada aos canais, formas e mecanismos de participação necessários ao atendimento das exigências burocráticas nos processos decisórios para planejamento, implantação, implementação e avaliação desta política pública.

Palavras-chave: Políticas públicas educacionais. Gestão democrática. Participação social. Atividades Complementares Curriculares. Educação básica.

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ABSTRACT

BASEI, Andréia Paula. Social participation as an element of democratic management within the scope of Curricular Activities Complement in the micro-region of Ivaiporã, Paraná. Orient. Maria da Glória Marcondes Gohn. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2020.

This research focuses on social participation as an element of democratic management within the scope of Curricular Activities Complementary in the micro-region of Ivaiporã, Paraná. These activities developed through public policy programs are conducive to the expansion of learning opportunities for children and adolescents in the direction of expanding the school day in the perspective of comprehensive education and improving the quality of education. The objective is to analyze and understand the configurations of Curricular Activities Complementary in basic education in the micro-region of Ivaiporã, PR and which are the channels, forms and mechanisms of social participation as an element of democratic management and its influence in the local management process educational policy to extend the school day. It is a qualitative research, which had as a source of information the documents prepared and disseminated that establish the guidelines for such activities at the state level. Subsequently, the work dialogues with school administrators and a representative from the Regional Education Center of Ivaiporã, PR, who joined and developed the curricular activities complementation, based on a theoretical contribution based on discussions of public policies, expansion of learning opportunities, social participation and democratic management. A critical analysis is carried out based on the empirical data collected, showing the fragility of these processes in the educational field. It is concluded that social participation is seen as a fundamental element of democratic management at theoretical levels of planning, implementation and evaluation of policies related to activities. However, at practical / effective levels it is configured as pseudoparticipation or partial participation, characterizing the degree of control over the effectiveness of the actions only as information and / or as a mandatory consultation. It is also possible to observe that the granting to the actors and segments of the school community the opportunity / right to participate is limited to the channels, forms and mechanisms of participation necessary to meet the bureaucratic requirements in the decision-making processes for planning, implantation, implementing and evaluating this public policy.

Keywords: Public educational policies. Democratic management. Social participation. Curricular Activities Complement. Basic education.

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 01 Sexo dos entrevistados ... 131

Gráfico 02 Idade dos entrevistados ... 132

Gráfico 03 Tempo de atuação no cargo ... 133

Gráfico 04 Ano de implantação das ACCs ... 135

Gráfico 05 Número de matrículas na educação integral – Anos finais ensino fundamental – Paraná ... 137

Gráfico 06 Razões para desenvolver ACCs ... 138

Gráfico 07 ACCs desenvolvidas atualmente nas escolas ... 143

Gráfico 08 Principais mudanças nos critérios para as ACCs ... 155

Gráfico 09 Aspectos positivos e benefícios das ACCs ... 161

Gráfico 10 Aspectos negativos e dificuldades nas ACCs ... 163

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LISTA DE QUADROS

Quadro 01 Identificação e caracterização dos municípios pertencentes ao NRE de Ivaiporã... 35

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01 Núcleos Regionais de Educação no Estado do Paraná ... 33 Figura 02 Área de abrangência do Núcleo Regional de Educação de Ivaiporã 34 Figura 03 Escada de participação cidadã ... 84 Figura 04 Tipologia da participação na organização escolar ... 88 Figura 05 Reformulações nos Programas de Atividades de Complementação

Curricular ... 109 Figura 06 Percentual de matrículas no ensino fundamental segundo a rede de

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LISTA DE ABREVIATURAS

ACCs Atividades Complementares Curriculares

AETE Aulas Especializadas de Treinamento Esportivo APMF Associação de Pais, Mestres e Funcionários

BDTD Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações CAICs Centros de Atenção Integral a Criança

CIACs Centros Integrados de Atendimento a Criança CIEPs Centros Integrados de Educação Pública

CNPQ Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CUT Central Única dos Trabalhadores

DEB Departamento de Educação Básica EJA Educação de Jovens e Adultos

FATEC Faculdade de Tecnologia do Vale do Ivaí

FNDE Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação

FUNDEB Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação

GEPEFE Grupo de Estudos e Pesquisas em Políticas de Esporte e Lazer IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDEB Índice de Desenvolvimento da Educação Básica IDHM Índice de Desenvolvimento Humano Municipal

INEP Instituto Nacional de Estudo e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira LDBEN Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

ME Ministério do Esporte MEC Ministério da Educação

NRE Núcleo Regional de Educação ONG Organização Não-Governamental

OPNE Observatório do Plano Nacional de Educação

PACCC Programa Atividade Complementar Curricular em Contraturno escolar PDE Plano de Desenvolvimento da Educação

PDDE Programa Dinheiro Direto na Escola PEE Plano Estadual de Educação

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PMDB Partido do Movimento Democrático Brasileiro PME Programa Mais Educação

PNME Programa Novo Mais Educação PNE Plano Nacional de Educação PPP Projeto Político Pedagógico

PR Paraná

Precuni Programa Esporte Cidadão Unilever PSS Processo Seletivo Simplificado PT Partido dos Trabalhadores PVE Programa Viva a Escola QPM Quadro Próprio do Magistério SAE Sistema de Administração Escolar

SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas SEED Secretaria Estadual de Educação do Estado do Paraná SERE Sistema Estadual de Registro Escolar

SESC Serviço Social do Comércio

SUED Superintendência de Educação do Estado do Paraná UCP Faculdade de Ensino Superior do Centro do Paraná UEM Universidade Estadual de Maringá

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 17

CAPÍTULO I – POLÍTICAS PÚBLICAS, EDUCAÇÃO INTEGRAL E GESTÃO DEMOCRÁTICA ... 39 1.1 CONFIGURAÇÕES DO CENÁRIO SOCIAL: A REFORMA DO

ESTADO, A GLOBALIZAÇÃO E A DEMOCRACIA NAS ÚLTIMAS DÉCADAS ... 39 1.2 EDUCAÇÃO INTEGRAL, EDUCAÇÃO EM TEMPO INTEGRAL E A

AMPLIAÇÃO DAS OPORTUNIDADES DE APRENDIZAGEM:

CONCEITOS EM DEBATE... 52

1.3 A GESTÃO DEMOCRÁTICA NO ÂMBITO ESCOLAR: A

PARTICIPAÇÃO COMO EIXO PRINCIPAL ... 61

CAPÍTULO II - A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NO ÂMBITO DOS PROGRAMAS E DAS POLÍTICAS PÚBLICAS NO BRASIL: TRAJETÓRIAS HISTÓRICAS E CONCEITUAIS ... 67 2.1 ANTECEDENTES HISTÓRICOS DA PARTICIPAÇÃO SOCIAL NO

BRASIL ... 69 2.2 A MULTIPLICIDADE DE SENTIDOS DA PARTICIPAÇÃO ... 74 2.3 A PARTICIPAÇÃO SOCIAL SOB DIFERENTES ÓTICAS E

CLASSIFICAÇÕES ... 81

CAPÍTULO III - A EDUCAÇÃO INTEGRAL EM TEMPO INTEGRAL E AS ATIVIDADES COMPLEMENTARES CURRICULARES EM CONTRATURNO: CONHECENDO O CENÁRIO ... 95 3.1 AS DISPOSIÇÕES DA LEGISLAÇÃO NACIONAL E ESTADUAL ... 95 3.2 UM PANORAMA DOS ASPECTOS CONTEXTUAIS ... 104 3.3 PERCURSOS DA AMPLIAÇÃO DA JORNADA ESCOLAR EM

DIREÇÃO À EDUCAÇÃO INTEGRAL NO ESTADO DO PARANÁ ... 106 3.3.1 Programa Viva a Escola ... 109 3.3.2 Programa Atividades Complementares Curriculares em

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contraturno escolar ... 113

3.3.3 Programa Atividades de Ampliação de Jornada Permanentes e Periódicas ... 118

3.3.3.1 Programa Aulas Especializadas de Treinamento Esportivo – AETE ... 120

3.3.3.2 Atividades de Ampliação de Jornada Periódica – Educação Empreendedora/Atividade Empreendedorismo ... 122

3.4 A POLÍTICA DE EDUCAÇÃO INTEGRAL EM JORNADA AMPLIADA NO ESTADO DO PARANÁ ... 123

3.5 A GESTÃO DEMOCRÁTICA E A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NOS PROGRAMAS DE AMPLIAÇÃO DA JORNADA E NA POLÍTICA DE EDUCAÇÃO INTEGRAL... 126

CAPÍTULO IV – PARTICIPAÇÃO SOCIAL, GESTÃO DEMOCRÁTICA E AS ATIVIDADES COMPLEMENTARES CURRICULARES EM CONTRATURNO ESCOLAR: PESQUISA DE CAMPO ... 130

4.1 PERFIL DOS PARTICIPANTES ... 130

4.2 DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES COMPLEMENTARES EM CONTRATURNO NA PERSPECTIVA DOS GESTORES ESCOLARES 134 4.2.1 Implantação das ACCs nas escolas ... 134

4.2.2 Atividades em contraturno desenvolvidas nas escolas ... 142

4.2.3 Autonomia ... 146

4.2.4 Recursos para o desenvolvimento das ACCs ... 149

4.2.5 Principais mudanças nas diretrizes das ACCs ao longo dos anos 154 4.2.6 Aspectos positivos e benefícios das ACCs ... 160

4.2.7 Dificuldades e aspectos negativos na execução das ACCs ... 162

4.3 PARTICIPAÇÃO SOCIAL COMO ELEMENTO DA GESTÃO DEMOCRÁTICA NO ÂMBITO DAS ATIVIDADES EM CONTRATURNO ESCOLAR ... 168

4.3.1 Concepções dos gestores sobre participação social e gestão democrática ... 168

4.3.2 Canais de participação existentes nas instituições escolares ... 171

4.3.3 Participação e envolvimento dos alunos nas ACCs ... 177

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CONSIDERAÇÕES À GUISA DE CONCLUSÃO ... 189

REFERÊNCIAS ... 197

APÊNDICES ... 208

Apêndice A Modelo do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ... 208

Apêndice B Roteiro para entrevista semiestruturada com os gestores das escolas ... 211

Apêndice C Roteiro para entrevista semiestruturada com o gestor do Núcleo Regional de Educação de Ivaiporã, PR ... 215

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INTRODUÇÃO

Por que estudar as Atividades Complementares Curriculares em contraturno escolar em uma região específica do estado do Paraná? Por que a proposição de discutir gestão democrática definindo como elemento principal a participação social nesse contexto específico? Qual a sua aproximação com este “objeto” de estudo e a sua intencionalidade enquanto pesquisadora em escrever uma Tese sobre essa política pública estadual? Estes e inúmeros outros questionamentos me foram feitos desde as primeiras exposições do tema em diferentes espaços acadêmicos e de atuação profissional. Diante disso, é necessário apresentar esta Tese a partir de seu processo de construção, determinado por minha trajetória e pelas relações e interações criadas dentro e fora da universidade.

A escolha pelo tema de uma Tese de Doutorado nunca é neutra, pois se constrói na confluência das trajetórias pessoal e profissional. A fim de abordá-las, delimitarei um recorte a partir do ingresso no curso superior – embora reconheça que tais trajetórias começam a ser delineadas antes do ingresso em um curso superior e de formação profissional – por considerar que a partir desse momento são mais claras e significativas em minha trajetória as relações com o âmbito educacional.

Desde o ingresso no curso de graduação em Educação Física, os olhares mais atentos estiveram direcionados ao contexto escolar. O envolvimento crescente, naquele período, com o objeto de estudo da área – o movimento humano ou a cultura do movimento humano – era aguçado para as dimensões pedagógicas, políticas e culturais que permeiam esse espaço. Justifica-se, assim, uma aproximação com a área educacional e, mais do que isso, uma proximidade com as experiências e vivências oportunizadas às crianças e adolescentes no âmbito escolar. Concomitantemente a esses interesses, a atuação como professora na Educação Básica (ainda que por períodos curtos) e o desenvolvimento de pesquisas de Iniciação Científica direcionaram o olhar para esse campo.

Desse modo, minha trajetória pessoal e profissional delineou-se por meio do desenvolvimento de pesquisas na área educacional, envolvendo aspectos didáticos, pedagógicos e políticos que ampliavam o olhar de um campo específico de atuação – a Educação Física – para a grande área da Educação, o que também se refletiu

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nas escolhas profissionais de cursos subsequentes à graduação, como especialização e Mestrado e, posteriormente, como pesquisadora e docente no Ensino Superior.

Devido a esses interesses, esta Tese começou a ser gestada mediante o ingresso na carreira do magistério superior em uma instituição pública no ano de 2014, uma vez que começava a ser vislumbrado o caminho em direção ao Doutorado. Como professora de Educação Física, busquei a inserção em estudos sobre políticas públicas de esporte e lazer e sobre políticas educacionais. Para além disso, o contato com o cotidiano escolar por meio das atividades docentes de supervisão de estágios curriculares possibilitou maior proximidade com problemáticas que afetavam e afetam as escolas, os professores e os alunos. Dentre tais problemáticas, ressaltaram os projetos desenvolvidos em contraturno escolar enquanto estratégia político-governamental visando à Educação em tempo integral, proposta como meta no PNE (BRASIL, 2014).

Os dados estatísticos dos últimos anos, bem como as discussões no meio científico, indicam as contradições que perpassam a temática. Os dados do Censo Escolar do Ministério da Educação relativos à Educação em Tempo Integral apontam que entre os anos de 2010 e 2013, a soma das matrículas em tempo integral dos Ensinos Fundamental e Médio passou de 1.327.129 para 3.549.300, configurando um crescimento de mais de 160%.

Conforme o Censo de 2013, considerados todos os níveis de ensino, o percentual de escolas com alunos que permaneciam pelo menos 7 horas em atividades escolares era de 34,7% e de alunos que permaneciam pelo menos 7 horas em atividades escolares era de 13,4%. A Região Sul apresentava o maior índice nacional de alunos em tempo integral (14,9%), sendo de 47,5% a proporção de escolas com alunos em tempo integral (BRASIL/MEC, 2014). Esses dados apontam para a gradativa e significativa expansão das atividades de complementação ao currículo formal, inclusive nos anos subsequentes, de 2014 e 2015.

Todavia, se considerarmos os dados estatísticos de 2015 até os dias atuais, observaremos que o número de matrículas em tempo integral começou a declinar. Conforme o Censo Escolar 2018, divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) em 31 de janeiro de 2019, diminuíram as matrículas de estudantes com pelo menos 7 horas diárias de atividades

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escolares, somando-se a duração da escolarização com a duração da atividade complementar. No mesmo sentido, os dados do Censo Escolar 2019 demonstram que, embora o número de matrículas no Ensino de tempo integral tenha voltado a aumentar, trata-se de um crescimento irrisório se comparado ao percentual de matrículas nos anos anteriores, quando a implantação da ampliação de jornada escolar atingiu seu ápice.

A ampliação do número de matrículas foi observada e passou a ser estudada por pesquisadores da área, dentre os quais destacamos Cavaliere (2007) ao afirmar:

[...] é notável o crescimento, nos últimos cinco anos, de projetos no setor público de ampliação do tempo de escola ou de criação do tempo integral em escolas de Educação Básica. Há projetos federais, estaduais e municipais sendo desenvolvidos e não apenas nas capitais e grandes cidades, mas também nas de pequeno porte. (CAVALIERE, 2007, p. 1025).

Cabe observar que os municípios da região para a qual voltamos nosso olhar nesta pesquisa são municípios de pequeno porte.

Diante de dados que despertaram nosso interesse, no ano de 2015 constituímos um grupo de estudos – Grupo de Estudos em Políticas de Educação Física e Esporte (GEPEFE), na Universidade Estadual de Maringá (UEM), Campus Regional do Vale do Ivaí (CRV) – que, dentre outros projetos, iniciou o desenvolvimento de pesquisas voltadas à compreensão e análise das ações desenvolvidas pelo Programa Atividades Complementares Curriculares em Contraturno (PACCC) em escolas estaduais do Paraná, bem como realizou a orientação de trabalhos acadêmicos a partir de estudos de caso em algumas escolas pertencentes ao Núcleo Regional de Educação de Ivaiporã (NRE/PR), sendo que a delimitação do espaço geográfico justifica-se por configurar-se como a região de localização e abrangência do campus universitário em que desenvolvemos atividades profissionais e pelo interesse dos acadêmicos e pesquisadores em contribuir com as ações desenvolvidas nas escolas desta região.

O primeiro projeto de pesquisa institucional do GEPEFE, intitulado Gestão

da educação: mapeamento das atividades complementares nas áreas de esporte e lazer nas escolas estaduais paranaenses, foi desenvolvido no período de julho de

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oferecidas nas escolas públicas estaduais paranaenses caracterizadas como atividades complementares. O projeto resultou na organização e sistematização de um banco de dados com 1.553 escolas, de 342 municípios paranaenses, que ofertavam ACCs e disponibilizavam seus dados junto ao MEC.

A pesquisa apontou que as ACCs seguem uma tendência de ampliação da jornada escolar por meio da oferta de atividades paralelas às etapas da Educação Básica nas escolas públicas estaduais. Há o desenvolvimento de uma variedade de iniciativas, vinculadas a projetos de diversas naturezas, dentre os quais destacam-se aqueles oriundos do Esporte e Lazer, que representam um terço do total de matrículas dos projetos no estado. Foi possível verificar também que as ACCs se configuram como atividades paralelas, muitas vezes desconexas do Projeto Político-Pedagógico (PPP) e o gestor tem dificuldades em acompanhar a sistematização da rotina dos projetos, bem como de traçar um planejamento estratégico condizente com a proposta da SEED para as ACCs.

Como prosseguimento do projeto Gestão da educação, o GEPEFE encaminhou para o Edital Universal 01/2016 do CNPq a proposta de pesquisa complementar Parâmetros Internacionais de qualidade na educação: Uma análise

das atividades complementares do componente curricular Educação Física no estado do Paraná, cujo objetivo foi aprofundar o conhecimento sobre o processo de

tomada de decisão em gestão no que tange às políticas de ACCs nas escolas paranaenses a partir de indicadores de qualidade educacional de nível internacional. A pesquisa Parâmetros Internacionais de qualidade na educação, finalizada em agosto de 2020, configura-se como um importante estudo para a área, uma vez que a produção científica sobre as ACCs ainda se mostra bastante incipiente no estado. Como conclusões, a pesquisa apontou que: as ACCs se assumem como atividades paralelas desconectadas do PPP e centradas em seu próprio fim; o gestor tem dificuldades em acompanhar a rotina dos projetos e traçar um planejamento estratégico condizente com a proposta da SEED; os processos inclusivos são limitados ou inexistentes nos projetos; os recursos financeiros apresentam-se escassos e com pouca possibilidade de captação de novas fontes, o que resulta em graves fragilidades de infraestrutura e de materiais pedagógicos; e os recursos humanos apresentam formação compatível com a área de atuação, porém com limitações no âmbito da formação continuada.

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Já os trabalhos acadêmicos1 orientados no GEPEFE buscaram conhecer de forma mais detalhada as ações em escolas da região, por meio da realização de entrevistas com diretores e/ou professores abordando questões administrativas, burocráticas e didático-pedagógicas.

Nesse contexto, fomos instigados por algumas questões despertadas pelos documentos referentes às Atividades Complementares em relação às diretrizes orientadoras, pelas informações empíricas coletadas e pelas observações in loco realizadas nos trabalhos. Tais questões relacionam-se, por exemplo, à hegemonia e reprodução de projetos em determinados macrocampos, à realização de projetos de acordo com a experiência profissional dos professores responsáveis, ao desconhecimento e/ou omissão dos gestores quanto às diretrizes para o desenvolvimento dos projetos e à ausência de orientações de cunho pedagógico para as ações.

Para além dessas questões, as discussões relativas ao tema foram propulsoras de reflexões no que tange a questões ainda mais específicas que poderiam gerar impacto no desenvolvimento das ações nas escolas. Dentre elas destacamos a participação social como elemento da gestão democrática no desenvolvimento dos projetos de ACCs, uma questão em evidência nos documentos pertinentes às atividades, abordando a adesão da escola às atividades, a definição dos projetos a serem realizados, a aprovação dos projetos e sua finalidade de aproximação com a comunidade escolar. A temática também se configura relevante quando relacionada à melhoria da qualidade da educação e à consolidação da Educação integral e em tempo integral no estado.

O intuito de discutir e relacionar tais temáticas também está vinculado ao fato de acreditarmos que a participação social é um dos principais elementos para a efetivação da gestão democrática no âmbito educacional, assim como para o fortalecimento e consolidação das políticas de educação integral por meio da ampliação da jornada escolar. Para isso, é necessário conhecer o modo pelo qual essas questões são compreendidas e desenvolvidas nas instituições e posteriormente pensar medidas para garantir a participação efetiva de seus membros.

1

Trabalhos de Conclusão de Curso das acadêmicas Ana Paula de Queiros (2017), com o título

Planejamento e desenvolvimento das atividades complementares no macrocampo esporte e lazer em escolas públicas estaduais do município de São João do Ivaí, e Jéssica Latchuk Frederico (2017),

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Outro elemento fundamental para a definição do lócus empírico desta pesquisa foram as características da região geográfica, dentre as quais destacamos a predominância de municípios de pequeno porte, sendo que ao menos metade dos municípios pertencentes ao NRE de Ivaiporã estão classificados entre os mais baixos Índices de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) do estado. Devido ao fato de a educação configurar-se como um dos indicadores do IDHM, torna-se um importante instrumento para melhoria do Índice e as políticas públicas apresentam-se como estratégias imprescindíveis. Por outro lado, as políticas públicas de Educação configuram-se como comprometimento dos gestores com a educação das crianças e adolescentes e sua formação para a cidadania.

Diante de tais considerações, esta Tese se insere no campo das políticas públicas educacionais, tendo como propósito aprofundar e sistematizar reflexões e experiências que envolvem o tema da participação social e da gestão democrática. Com este escopo, buscamos compreender como se configuram as Atividades Complementares Curriculares em contraturno na Educação Básica no estado do Paraná, mais especificamente na microrregião geográfica de Ivaiporã, evidenciando os canais, as formas e os mecanismos da participação social enquanto elemento da gestão democrática e sua influência no processo de gestão local da política educacional de ampliação da jornada escolar.

As Atividades Complementares Curriculares em contraturno, seguindo uma tendência nacional, começaram a ser desenvolvidas no estado a partir de 2008, com o então denominado Programa Viva a Escola – Resolução n. 3.683, de 11 de agosto de 2008, da Secretaria Estadual de Educação (SEED) (PARANÁ, 2008a). Em 2011, o Viva a Escola foi revisto e as ACCs passaram a ser desenvolvidas em caráter permanente por meio do Programa Atividades Complementares Curriculares em Contraturno escolar – Resolução n. 1.690, de 27 de abril de 2011, da Secretaria Estadual de Educação (SEED) (PARANÁ, 2011a).

E no ano de 2015, após uma nova reconfiguração, as ACCs passaram a ser desenvolvidas pelo Programa Atividades de Ampliação de Jornada Permanente e Periódica – Resolução 3.823/2015, de 27 de novembro de 2015, da Secretaria Estadual de Educação (SEED). Após essa data, as atividades desenvolvidas em contraturno entraram em declínio e atualmente, no contexto estudado, sobressaem somente o Programa Aulas Especializadas de Treinamento Esportivo, o Programa

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de Educação Empreendedora/Atividade Empreendedorismo e o Programa Mais Aprendizagem (iniciado em agosto de 2019).

De modo geral, as Atividades Complementares Curriculares surgiram com a proposição de serem indutoras para a melhoria da qualidade de ensino por meio da ampliação de tempos, espaços e oportunidades educativas realizadas na escola ou no território em que está situada, em contraturno, a fim de atender às necessidades socioeducacionais dos alunos. Além disso, as ACCs delineiam uma trajetória em direção à ampliação da jornada escolar na perspectiva da progressiva implantação da Educação integral em tempo integral e da consolidação da Política de Educação integral do estado do Paraná.

Buscando conhecer as políticas de ampliação da jornada escolar e aprofundar as reflexões a partir das questões da participação social e da gestão democrática, Höfling (2001) corrobora nossas reflexões ao apontar:

Pensando em política educacional, ações pontuais voltadas para maior eficiência e eficácia do processo de aprendizagem, da gestão escolar e da aplicação de recursos são insuficientes para caracterizar uma alteração da função política deste setor. Enquanto não se ampliar efetivamente a participação dos envolvidos nas esferas de decisão, de planejamento e de execução da política educacional, estaremos alcançando índices positivos quanto à avaliação dos resultados de programas da política educacional, mas não quanto à avaliação política da educação. (HÖFLING, 2001, p. 39).

Assim, esta pesquisa torna-se relevante porque aborda a participação dos cidadãos na tentativa de solucionar problemas por eles enfrentados e/ou melhorar as oportunidades de aprendizagem das crianças e adolescentes. Entende-se que quando a sociedade participa ou, mais especificamente, a comunidade escolar toma parte das ações, ampliam-se as possibilidades de contribuir para a melhor adequação dos programas e projetos educacionais à realidade local. A participação social proporciona também a construção de conhecimentos por meio do processo de interação, estimulando a criatividade e inovação através da experiência coletiva.

Na tessitura deste estudo, os pressupostos teóricos que delineiam o eixo para a análise e que estão contidos na base da formulação do problema, das questões orientadoras e dos objetivos, são explicitados como:

a) Políticas públicas – entendidas como:

[...] o campo do conhecimento que busca, ao mesmo tempo, “colocar o governo em ação” e/ou analisar essa ação (variável independente)

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e, quando necessário, propor mudanças no rumo ou curso dessas ações e/ou entender por que e como as ações tomaram certo rumo em lugar de outro (variável dependente). Em outras palavras, o processo de formulação de política pública é aquele por meio do qual os governos traduzem seus propósitos em programas e ações, que produzirão resultados ou as mudanças desejadas no mundo real (SOUZA, 2006, p. 26).

b) Atividades Complementares Curriculares –

São atividades de livre escolha da escola, oferecidas no contraturno para alunos, obrigatoriamente, matriculados em turmas de escolarização (turmas regulares), que se enquadram como complementares ao currículo obrigatório, tais como: atividades recreativas, artesanais, artísticas, de esporte, lazer, culturais, de acompanhamento e reforço ao conteúdo escolar, aulas de informática, educação para a cidadania e direitos humanos, dentre outras (PARANÁ, 2011a, s.p.).

c) Gestão democrática – “A participação é o principal meio de se assegurar a gestão democrática da escola” (LIBÂNEO, 2004, p. 102).

[...] processo em que se criam condições e se estabelecem as orientações necessárias para que os membros de uma coletividade, não apenas tomem parte, de forma regular e contínua, de suas decisões mais importantes, mas assumam os compromissos necessários para a sua efetivação. Isso porque, democracia pressupõe muito mais que tomar decisões, ela envolve a consciência de construção do conjunto da unidade social e de seu processo como um todo, pela ação coletiva (LÜCK, 2009, p. 71).

d) Participação social – se refere ao modo como a sociedade é incluída nos processos de construção das políticas públicas e sociais (GOHN, 2011). Relacionada especificamente às políticas públicas, pode ser definida ainda como as “formas pelas quais distintos atores se aproximam da deliberação, formulação, monitoramento e avaliação das políticas públicas” (MARANHÃO; TEIXEIRA, 2006, p. 109).

Tais eixos teóricos e os estudos prévios sobre as ACCs contribuíram para a fundamentação dos seguintes questionamentos: O desenvolvimento das ACCs está fundamentado em princípios democráticos e participativos nos âmbitos teórico e prático?; Como são criados e quais são os mecanismos de gestão democrática nos processos de planejamento, implementação e avaliação das ACCs?; Em que medida as políticas educacionais em curso no estado, que visam a ampliação da

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jornada escolar, configuram-se como espaços institucionalizados de participação social e gestão democrática?; De que forma as ACCs contribuem para a região onde estão inseridas, considerando o Núcleo Regional de Educação?; Qual é a compreensão e relevância atribuída pelos gestores do Núcleo Regional de Educação e escolares à participação social e suas relações com a gestão democrática no âmbito das ACCs?; Qual é o papel e os interesses dos gestores escolares em efetivar a gestão democrática por meio de espaços de participação social no âmbito das ACCs?; A participação social tem influenciado a gestão local das Atividades de Complementação Curricular?

Com base nessas questões podemos enunciar a seguinte pergunta síntese: Como se configuram as Atividades Complementares Curriculares, em contraturno, na Educação Básica na microrregião de Ivaiporã, Paraná, e quais os canais, as formas e os mecanismos da participação social enquanto elemento da gestão democrática e sua influência no processo de gestão local da política educacional de ampliação da jornada escolar?

Considerando os documentos orientadores das ACCs, bem como a legislação educacional do Brasil, iniciamos esta pesquisa com as seguintes hipóteses: 1) a gestão democrática é uma prática efetiva nas escolas públicas estaduais; 2) a participação social é tida como elemento fundante da gestão democrática tanto em níveis teóricos quanto práticos no contexto das atividades em contraturno; 3) é concedida aos atores e segmentos da comunidade escolar a oportunidade de participar, a partir de diferentes canais, formas, mecanismos e mesmo intensidades, nos processos decisórios para planejamento, implementação, formatação e avaliação dessa política pública; 4) a participação social se configura como importante instrumento de aproximação da comunidade escolar no âmbito das ACCs, no atendimento às demandas da população e na melhoria de qualidade da educação.

No intuito de responder à questão central deste estudo elaboramos como objetivo geral: Analisar e compreender as configurações das Atividades Complementares Curriculares em contraturno na Educação Básica na microrregião de Ivaiporã, Paraná, bem como os canais, as formas e os mecanismos da participação social enquanto elemento da gestão democrática e sua influência no processo de gestão local da política educacional de ampliação da jornada escolar.

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 Identificar os pressupostos que sustentam as ACCs enquanto uma política pública educacional do estado do Paraná e como se anuncia a participação social como elemento da gestão democrática no âmbito dos documentos produzidos pela Secretaria de Educação do Estado do Paraná (SEED) que regulamentam e orientam a implementação das ACCs na Educação Básica e sua efetivação enquanto prática de gestão;

 Identificar os canais, as formas e os mecanismos de participação social e gestão democrática presentes nos documentos das Atividades de Complementação Curricular em nível estadual;

 Verificar a compreensão dos gestores locais – chefe do NRE, diretores e/ou coordenadores pedagógicos – sobre o processo de gestão democrática, os aspectos (político, administrativo, financeiro, pedagógico, etc.) em que ela se configura dentro das ACCs e quais são os mecanismos utilizados;

 Investigar como a participação efetiva de segmentos da comunidade escolar e atores envolvidos nas atividades de contraturno contribuem no processo de gestão;

 Identificar em que medida a participação social representa inovações na implementação, monitoramento e avaliação da política pública a nível local e possibilita relações entre as esferas governamentais e os agentes locais na organização e gestão das ACCs;

Discussões neste formato e a respeito desses temas no âmbito da gestão, nas instâncias de planejamento, elaboração, implementação e avaliação das políticas públicas, tornaram-se cada vez mais frequentes no cenário social e político do Brasil. Assim, a participação social tem se consolidado (especialmente a partir do final dos anos de 1980) como um dos princípios organizativos mais reconhecidos nacional e internacionalmente nos processos de elaboração e de deliberações democráticas nas políticas públicas locais.

No âmbito educacional, a participação social tornou-se um dos pilares da gestão democrática, possibilitando o envolvimento de profissionais e usuários no processo de tomada de decisões e no funcionamento da organização escolar, “proporciona um melhor conhecimento dos objetivos e metas, da estrutura organizacional e de sua dinâmica, das relações da escola com a comunidade, e

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favorece uma aproximação maior entre professores, alunos, pais” (LIBÂNEO, 2004, p. 102).

Nossa compreensão sobre gestão democrática está alicerçada em um processo político no qual as pessoas envolvidas com a instituição escolar identificam os problemas, realizam discussões, definem ações, acompanham, controlam e avaliam as soluções encontradas para os problemas. Processo sustentado pelo diálogo, pelo respeito às normas, pelo acesso às informações e fundado na participação efetiva de todos os segmentos da comunidade escolar.

Como a participação ocupa lugar central nesse processo, buscamos as contribuições de Milani (2008) ao afirmar:

[...] no Brasil, a participação é um elemento central nos processos de reforma democrática do Estado desde a Constituição de 1988. Esta estimula a participação popular na tomada de decisões sobre políticas públicas, como no caso do princípio de cooperação com associações e movimentos sociais no planejamento municipal (art. 29) ou de participação direta da população na gestão administrativa da saúde, previdência, assistência social, educação, estatuto da criança e adolescente (arts. 194, 198, 204, 206 e 227). (MILANI, 2008, p. 561).

Na mesma direção, encontramos no parágrafo primeiro da Constituição de 1988 a caracterização do Brasil como “Estado democrático e de Direito”, onde “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente” (BRASIL, 1988). Embora no contexto atual esse direito esteja ameaçado em inúmeros espaços democráticos de construção da cidadania, é um princípio constitucional que deve ser respeitado e assegurado.

Especificamente no âmbito educacional, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), promulgada em dezembro de 1996, reforça as orientações já estabelecidas pela Constituição de 1988 ao estabelecer a democratização do ensino público, participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola, participação da comunidade escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes (BRASIL, 1996).

De fato, a participação social constitui um enorme desafio para a consolidação dos diversos espaços democráticos de interação entre os atores das políticas públicas, tornando-se fundamental refletir sobre o papel e o lugar da sociedade civil, enquanto sujeito político na construção do Estado e os espaços para

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a construção de uma cultura de participação. Conforme Gohn (2006, p. 10) considera ao discutir o tema políticas públicas e os processos de emancipação, “a participação da sociedade civil é um indicador fundamental não apenas para a democratização da sociedade e das políticas públicas, mas para o crescimento qualificado e o desenvolvimento do País”.

Lück et al. (2000, p. 17), em seus estudos sobre a gestão participativa no contexto escolar, destaca:

[...] a participação, em seu sentido pleno, caracteriza-se por uma força de atuação consciente, pela qual os membros de uma unidade social reconhecem e assumem seu poder de exercer influência na determinação da dinâmica dessa unidade social, de sua cultura e de seus resultados, poder esse resultante de sua competência e vontade de compreender, decidir e agir em torno de questões que lhe são afetas.

Nesse contexto, cabe reconhecer que se trata de um processo de intervenção em diferentes instâncias e instituições, acerca das quais Ventosa (2016, p. 83) destaca que “não há dúvida de que o sistema escolar – do Ensino Fundamental à universidade – constitui uma das instâncias de educação mais influentes e eficazes na hora de educar para a participação”. Todavia, o autor destaca que a educação não formal e a informal também exercem um papel importante quando se trata de espaços formativos para o fomento da participação. Assim, como denominado por Santos e Avritzer (2002), a educação configura-se como uma peça chave para pensarmos os processos de participação social direcionados para a reinvenção da emancipação social em um contexto de globalização.

Ao discutir o setor educacional enquanto espaço para a participação social, Pateman (1992, p. 61) aborda o caráter pedagógico da participação, isto é, a participação “é educativa; educativa no mais amplo sentido da palavra, tanto no aspecto psicológico quanto no de aquisição de práticas de habilidades e procedimentos democráticos”, capazes de despertar nos indivíduos o interesse coletivo para as questões políticas.

Diante disso, compartilhamos o entendimento de que “a participação é parte integrante da realidade social na qual as relações sociais ainda não estão cristalizadas em estruturas. Sua ação é relacional; ela é construção da/na

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transformação social” (MILANI, 2008, p. 573). Conforme o autor, é imprescindível compreender que “as práticas participativas e suas bases sociais evoluem, variando de acordo com os contextos sociais, históricos e geográficos” (MILANI, 2008, p. 573).

Na mesma direção Lüchmann (2006, p. 20) afirma que “a agenda de discussão deste tema é ampla e complexa, cruzando elementos que perpassam a cultura política, os recursos, as motivações, as práticas e estruturas institucionais”. Para tanto, partimos do pressuposto de que a participação social constitui um enorme desafio para a consolidação da gestão democrática das políticas públicas, constituindo-se como processo, como lugares em construção.

Desenho metodológico da pesquisa

Para compreender a complexidade do processo de gestão democrática tendo a participação social como elemento essencial nas políticas públicas educacionais, especificamente nas Atividades de Complementação Curricular em contraturno escolar voltadas para a Educação Básica no estado do Paraná, buscamos respaldo metodológico na abordagem qualitativa.

Os métodos de pesquisa que abordam temas relacionados às ciências sociais, historicamente, têm se alternado entre duas posições. Conforme Alonso (2016, p. 8), de um lado se encontra a sociologia como ciência que busca a análise quantitativa de uma série de eventos a partir de dados estatísticos. E, de outro, a sociologia como interpretação, pautada em métodos qualitativos que busca a análise em profundidade de casos particulares.

Conforme Minayo (2013, p. 21), abordar um fenômeno de forma qualitativa implica em trabalhar com “[...] o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis”.

Alonso (2016, p. 8) contribui com esse entendimento ao apontar que a relação “[...] nas ciências sociais é sujeito-sujeito: o mundo social é constituído por

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sujeitos ativos (e não objetos passivos), [...] que são dotados de intencionalidade e que pensam a si mesmos. [...] produzem interpretações do mundo social”.

A abordagem qualitativa adotada também alcança, como esclarece Minayo (2013, p. 8):

[...] uma aproximação fundamental e de intimidade entre sujeito e objeto, uma vez que são da mesma natureza: ela se volve com empatia aos motivos, às intenções, aos projetos dos atores, a partir dos quais as ações, as estruturas e as relações tornam-se significativas.

Segundo a autora, a pesquisa qualitativa torna-se importante para compreender “[...] as relações que se dão entre atores sociais [...], para a avaliação das políticas públicas e sociais tanto do ponto de vista de sua formulação, aplicação técnica, como dos usuários a quem se destina” (MINAYO, 2013, p. 8).

Desse modo, a abordagem qualitativa possui como pressuposto o fato de que é impossível isolar os fenômenos sociais para estudá-los e configura-se como uma abordagem autoinfluente, ou seja, o sujeito pesquisado, dotado de intencionalidade, pode alterar sua conduta na presença do pesquisador, o que envolve um processo de dupla hermenêutica pelo fato de “o pesquisador interpretar a interpretação que os sujeitos constroem das práticas que desenvolvem” (ALONSO, 2016, p. 9).

Partindo da abordagem qualitativa, entendemos que a pesquisa se configura como um todo coerente, composto de etapas que, apesar de distintas, interagem. Dessa forma, a fim de alcançar os objetivos desta pesquisa, realizamos um trabalho exploratório de acúmulo e apropriação de informações, descritivo na sistematização e apresentação das informações e explicativo na compreensão e análise das informações, assim como nas relações estabelecidas entre elas e as possibilidades de produção de novos conhecimentos.

Com vistas a qualificar o grau de apreensão do objeto de estudo, analisar e compreender os canais, formas e mecanismos de participação social na gestão democrática das Atividades Complementares Curriculares e suas configurações nos recortes deste estudo, utilizamos um conjunto de técnicas e instrumentos de pesquisa. Trata-se de um “conjunto de preceitos ou processos de que as ciências se utilizam para apropriação e execução da pesquisa, como eixos orientadores para a

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coleta, interpretação e análise das informações” (MARCONI; LAKATOS, 2006, p. 62).

Recorremos, inicialmente, à pesquisa documental para analisar os documentos oficiais relativos aos programas de ACCs, como resoluções, instruções normativas, pareceres, decretos, orientações, entre outros. Essa técnica é utilizada quando dispomos de “fontes mais diversificadas e dispersas, sem tratamento analítico, tais como: jornais, relatórios, documentos oficiais, etc.” (FONSECA, 2002, p. 32). Conforme Marconi e Lakatos (2003, p. 174), “a característica é que a fonte de coleta de dados está restrita a documentos, escritos ou não, constituindo o que se denomina de fontes primárias”.

Posteriormente, e como principal fonte de informações, utilizamos a entrevista semiestruturada, configurando-se como outro aspecto fundamental para a compreensão do objeto de estudo. A entrevista é uma técnica que consiste em “gerar e manter conversações com pessoas consideradas chaves no processo de investigação” (LIMA, 2016, p. 28).

A produção de informações a partir de entrevista justifica-se pela compreensão de que “os sujeitos produzem interpretações do mundo social, seja sobre sua própria conduta, seja sobre a situação social em que se inserem para poder agir” (ALONSO, 2016, p. 9). Tais características apontam para a necessidade de proceder na pesquisa a partir de uma “dupla hermenêutica”, como destacado por Giddens (1978 apud ALONSO, 2016, p. 9), isto é, a necessidade de “interpretar a interpretação que os sujeitos produzem de sua prática”. Assim, “a entrevista permite captar experiências, valores, opiniões, aspirações e motivações dos entrevistados, escolhidos segundo os critérios e interesses do tema investigado” (LIMA, 2016, p. 27).

As entrevistas semiestruturadas permitem conhecer o que o sujeito expressa de pensamentos e sentimentos acerca do assunto, com liberdade para manifestar o que julga importante. Para isso, elaboramos um determinado número de questões principais e específicas, em uma ordem prevista, mas com a liberdade para incluir outras questões (LIMA, 2016).

A relevância da entrevista, conforme Minayo (2013, p. 109), reside no fato de que a fala dos sujeitos “[...] é reveladora de condições estruturais, de sistemas de valores, normas e símbolos, e ao mesmo tempo, tem a magia de transmitir, através

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de um porta-voz, as representações de grupos determinados, em condições históricas, socioeconômicas e culturais específicas”.

Para a realização das entrevistas visitamos o Núcleo Regional de Educação de Ivaiporã, Paraná, a fim de apresentar a pesquisa, obter informações e autorizações relativas às exigências éticas. Obtidos esses documentos, a pesquisa foi encaminhada ao Comitê de ética em pesquisa da Universidade Estadual de Campinas, registrada sob Certificado de Apresentação para Apreciação Ética/CAAE: 11693719.3.0000.8142, tendo obtido parecer favorável à sua realização, Parecer n. 3.358.664.

Posteriormente, fizemos contato com os gestores das escolas para o agendamento das entrevistas, que ocorreram no ambiente de trabalho dos participantes no período de julho a setembro de 2019. Todos os depoimentos foram gravados, transcritos e organizados para proceder à análise interpretativa.

Considerando o amplo universo que abrange as ações voltadas às ACCs e as limitações da abordagem qualitativa e dos instrumentos de coleta de dados para abordarmos o universo em sua totalidade, a pesquisa foi realizada em um contexto específico, o que traz à tona a questão da representatividade. À semelhança da pesquisa com abordagem qualitativa realizada por Paro (1992):

O que toma relevante um estudo dessa natureza não é, certamente, a representatividade estatística dos fenômenos considerados. Assim, por menor que seja a representatividade de uma parcela do conjunto em relação a esse todo, o importante é que ela valha pela sua "exemplaridade". O fato de, no caso em estudo, encontrar-se presente determinado fenômeno ou particularidade do real, não significa que tal ocorrência seja generalizada; nem se trata de prová-lo (Michelat, 1987, p. 199-203). Trata-se, isto sim, de procurar a "explicação" adequada para tal ocorrência, o que nos permitirá dizer apenas que, em acontecendo tal fenômeno, sua explicação é a que oferecemos ou na qual apostamos. Mas isto não quer dizer, por outro lado, que não se possa, a partir do caso examinado, fazer inferências e elaborar conclusões que tenham validade para o sistema como um todo, já que, no próprio caso em questão, não se deixa de examinar os determinantes estruturais que agem não apenas para aquele caso mas para o todo do qual ele faz parte (PARO, 1992, p. 257).

No Paraná existem 32 Núcleos Regionais de Educação, que abrangem os 399 municípios do estado, conforme pode ser observado na Figura abaixo.

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Figura 01 – Núcleos Regionais de Educação no estado do Paraná

Fonte: SEED/PR, 2020.

O espaço delimitado por esta pesquisa foi o NRE de Ivaiporã, localizado na mesorregião norte-central do estado, mais especificamente na microrregião de Ivaiporã. Este NRE abrange 14 (quatorze) municípios (Arapuã, Ariranha do Ivaí, Cândido de Abreu, Godoy Moreira, Grandes Rios, Ivaiporã, Jardim Alegre, Lidianópolis, Lunardelli, Manoel Ribas, Rio Branco do Ivaí, Rosário do Ivaí, São João do Ivaí e São Pedro do Ivaí, conforme apresentados na Figura 02 a seguir), com total de 50 escolas públicas estaduais de Ensino Fundamental e Médio.

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Figura 02 – Área de abrangência do Núcleo Regional de Educação de Ivaiporã

Fonte: SEED/PR, 2020.

Os municípios da área de abrangência do Núcleo Regional de Educação de Ivaiporã compõem uma região que apresenta baixos Índices de Desenvolvimento Humano no âmbito estadual, sendo que apenas três municípios possuem índices considerados altos (de 0,700 a 0,799) e nos demais municípios os índices são classificados como médios (de 0,600 a 0,699).

Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), do Ministério da Educação (MEC), da Secretaria da Educação do Estado do Paraná e do Núcleo Regional de Educação (NRE) de Ivaiporã, podemos observar no Quadro 01 informações acerca de número de habitantes, Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), número de Escolas Estaduais de Educação Básica (não foram considerados Centros de Educação de Jovens e Adultos e Escolas de Educação Especial), número de escolas que desenvolvem ACCs nos municípios pertencentes ao NRE de Ivaiporã e número de matrículas.

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Quadro 01 – Identificação e caracterização dos municípios pertencentes ao NRE de Ivaiporã

Município População IDHM Número Escolas Número Escolas ACCs Matrículas Matrículas ACCs Arapuã 3.561 0,676 3 2 390 54 Ariranha do Ivaí 2.453 0,670 1 1 232 37 Cândido de Abreu 16.655 0,629 5 5 2147 246 Godoy Moreira 3.337 0,675 1 1 388 34 Grandes Rios 6.625 0,658 3 3 862 239 Ivaiporã 31.816 0,730 8 8 2976 294 Jardim Alegre 12.324 0,689 5 5 1600 201 Lidianópolis 3.973 0,680 2 2 510 99 Lunardelli 5.160 0,690 2 2 714 157 Manoel Ribas 13.169 0,716 6 5 2246 261

Rio Branco do Ivaí 3.898 0,640 2 1 459 17

Rosário do Ivaí 5.588 0,662 4 3 803 130

São João do Ivaí 11.525 0,693 5 5 1312 168

São Pedro do Ivaí 10.167 0,717 3 3 890 147

Total: 14 130.251 0,680 50 46 15.529 2.084 Fonte: IBGE, 2010; MEC, 2015; SEED, 2019; NRE, 2019.

Quanto aos sujeitos participantes das entrevistas, devido à natureza qualitativa da pesquisa, a seleção considerou a possibilidade de ser representativa do conjunto, isto é, do âmbito de abrangência das ACCs, buscando-se a percepção desses atores sobre a temática investigada. Para isso, foram selecionadas aleatoriamente (por sorteio) duas escolas por município. As escolas desenvolvem atividades na educação básica – anos finais do ensino fundamental e ensino médio. No caso dos municípios cujo número de escolas que ofertavam ACCs fosse igual ou inferior a duas, não houve a necessidade de sorteio, apenas houve o convite aos gestores.

Participaram da pesquisa 25 gestores, sendo: a) um representante do NRE de Ivaiporã responsável pela coordenação das ACCs nas escolas; b) um gestor escolar e/ou representante por ele indicado de duas escolas por município, a fim de conhecermos a experiência da escola com relação às atividades em contraturno,

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bem como a percepção dos mesmos no que se refere à participação social como elemento da gestão democrática em nível local.

Por fim, cabe destacar o cuidado ético em todas as etapas da pesquisa (coleta, interpretação, análise e publicização das informações produzidas), preservando a identidade dos participantes da pesquisa, que receberam números como forma de identificação.

Estruturação dos capítulos da Tese

A Tese está estruturada em quatro capítulos, antecedidos por esta introdução, na qual são descritos elementos que visibilizam a trajetória de trabalho, o compromisso ético, a escolha do tema e suas interfaces com a trajetória pessoal e profissional da pesquisadora, bem como os pressupostos teóricos contidos na base da elaboração deste trabalho, as questões norteadoras da pesquisa e seus objetivos. Além disso, apresentamos até então uma reflexão acerca dos referenciais teórico-metodológicos da pesquisa, considerando sua natureza qualitativa. Há detalhamento acerca de seu desenvolvimento, considerando as técnicas e instrumentos utilizados e aportes teóricos para análise dos dados produzidos empiricamente.

O primeiro capítulo – Políticas Públicas, Educação Integral e Gestão

democrática – possibilita a problematização acerca da esfera pública, apresentando

conceitos de base desta Tese, como Estado, sociedade civil e políticas públicas, buscando estabelecer reflexões entre essas instâncias e abordar o desenvolvimento e as transformações evidenciadas nas últimas décadas com o fenômeno da globalização. Além disso, são tecidas discussões sobre as políticas públicas educacionais e as tendências com relação à gestão, democratização e ampliação das oportunidades de aprendizagem dos alunos por meio da Educação integral em tempo integral com vistas à melhoria da qualidade da educação.

O segundo capítulo – A participação social no âmbito dos programas e

políticas públicas no Brasil: trajetórias históricas e conceituais – busca o

aprofundamento do tema participação social a partir de perspectivas históricas e teóricas apresentadas sob diferentes paradigmas, teorias, níveis e classificações

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que permeiam a produção científica. Há apontamentos sobre os limites e possibilidades de potencializar a participação social e aprofundam-se as reflexões sobre o tema no campo educacional, mais especificamente nas políticas públicas educacionais.

O terceiro capítulo – A Educação integral em tempo integral e as Atividades

Complementares Curriculares em contraturno: conhecendo o cenário – possibilita

dar visibilidade ao lócus empírico da pesquisa. Para tanto, buscam-se aportes referentes à natureza dessas atividades enquanto política pública estadual e de atendimento à legislação e políticas nacionais. Também realiza o aprofundamento em torno de documentos, como resoluções e instruções normativas, e outros estudos que possibilitam visibilizar o “lugar de que se fala”.

O quarto capítulo – Participação social, Gestão democrática e as Atividades

Complementares Curriculares em contraturno escolar: pesquisa de campo

apresenta os resultados da pesquisa empírica, buscando o aprofundamento do tema a partir de experiências que vem sendo desenvolvidas em âmbito local e relatadas pelos gestores participantes da pesquisa.

Nas Considerações Finais apresentamos conclusões que foram tecidas ao longo desde estudo, as quais se traduzem como sínteses provisórias acerca do objeto de estudo, bem como aponta os limites da pesquisa. A tese proposta é retomada e problematizada a partir das aproximações com o tema, considerando os dados empíricos e sua articulação com os fundamentos teóricos, buscando responder ao problema de pesquisa e às questões orientadoras.

Por fim, nos Apêndices, é possível consultar os roteiros das entrevistas semiestruturadas aplicadas aos participantes da pesquisa e o modelo do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido utilizado.

A tese a nortear o processo investigativo que ora apresentamos foi a de que no contexto atual as políticas públicas educacionais voltadas para a ampliação da jornada escolar em direção à Educação integral em tempo integral configuram-se como políticas estatais, cuja essência radica-se na participação social e na gestão democrática, contando com formas, canais e mecanismos efetivos de participação social de todos os segmentos escolares que figuram como importantes estratégias de aproximação e de atendimento aos anseios da comunidade escolar em direção à melhoria da qualidade da educação e da formação cidadã.

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Os resultados obtidos com esta pesquisa poderão contribuir com a análise crítica das políticas públicas voltadas ao desenvolvimento de atividades em contraturno escolar e das concepções e fundamentos que sustentam essas políticas tanto no âmbito do planejamento, implementação, monitoramento e avaliação quanto nas implicações educacionais, sociais, culturais e econômicas dessas ações no contexto atual. Acreditamos que os resultados também serão importantes para refletirmos sobre os avanços e recuos da gestão democrática no ensino público, considerando que se passaram mais de três décadas da promulgação da Constituição de 1988 fundamentada nestes preceitos. Esperamos, além disso, que esta pesquisa proporcione reflexões que subsidiem adequações e/ou reformulações nas referidas Atividades realizadas pelas escolas e que, em última instância, possa resultar na melhoria da qualidade da educação no contexto pesquisado e em outros cujas características se assemelham.

Referências

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